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quinta-feira, 9 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24130: Prova de vida (7): A. Marques Lopes (ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCÇ 3, Barro, 1967/68), o hoje cor inf ref, DFA, que não esquece o duelo de morte com a professora de Samba Culo, em 7 de julho de 1967


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967/69) > O A. Marques Lopes em 1967, com duas beldades locais. Em 21 de Agosto de 1967, seria ferido com gravidade na estrada de Geba para Banjara na sequência da explosão de uma mina A/C e, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. Voltou ao CTIG , em Maio de 1968, para acabar a sua comissão,  tendo sido colocado então  CCAÇ 3, em Barro.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Com 265 referências no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, o A. Marques Lopes é um histórico da Tabanca Grande, foi um dos primeiros dez a entrar, em 14 de maio de 2005, já lá vão 18 anos... Foi, além disso, um dos nossos mais ativos colaboradores, como autor, nos primeiros anos do blogue. 

Fez ontem mais  um aninho, já fizemos um oferenda ao irã do poilão da nossa tabanca para que ele o proteja e o ajude conservar-se entre nós por mais uns aninhos, pelo menos até aos 100, que é uma idade bonita para a gente arrumar as botas e... o computador (!) e fazer as pazes com o mundo.(*)

Homem da escrita, publicou com grande sucesso um livro notável com as suas memórias da juventude. Satisfaz-nos saber que já chegou ao Brasil: "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", foi publicado em 2015, sob a chancela da Chiado Editora (hoje Chiado Books), e sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira. Tem 582 pp., que se devoram num ápice.

 Já lhe mandámos os parabéns e um abraço fraterno, com votos de melhoras: como muitos de nós, lá vai lidando com as suas mazelas (fez uma cirurgia ao estômago, de que está recuperar), mas garantiu-me, ao telefone, que tem ganas de chegar aos 100. Continua a trabalhar as suas memórias da Guiné, terra que o continua a fascinar. 
 
2. Ontem também foi dia de fazer "prova de vida" (**)...O mesmo é dizer, de  lembrar e de saudar o aniversariante, agora mais ausente do nosso blogye. Como ele faz sempre anos no Dia Internacional da Mulher, a 8 de março,  também não podíamos  deixar de evocar esta efeméride... 

Com discrição, mas não sem emoção, temos falado aqui sobre o papel da mulher, na Guiné e na nossa terra, no tempo da guerra do ultramar / guerra colonial. Honra-nos a presença, na Tabanca Grande, de alguns dessas mulheres, camaradas, muito poucas, e companheiras e amigas, algumas mais.

Muito em particular, não podemos deixar de evocar  o papel pioneiro das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas, para quem temos sempre uma dívida  de enorme gratidão.  Na realidade, foram as as únicas camaradas de armas, no feminino, que tivemos. (Isto, sem esquecer as outras umlheres, "paisanas", que ficaram na nossa retaguarda e que nos apoiaram, de uma maneira ou de outra: mães, esposas, noivas, irmãs, amigas, namoradas, colegas, madrinhas de guerra e, por que não ?!, senhoras do Movimento Nacional Feminino).

Mas, no caso do inimigo de há meio século atrás, também não podemos deixar de lembrar aquelas que  foram não só enfermeiras, como também professoras e até combatentes nas suas fileiras.  Do lado do PAIGC, houve por certo mulheres que lutaram, mataram e morreram nesta guerra. Não sabemos quantas, não temos estatísticas,

A propósito corre-nos relembrar a história da professora de Samba Culo.   O nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, alf mil da CART 1690 (Geba, 1967/68)  
estava no sítio errado, em Samba Culo, em 7 de julho de 1967, uma sexta-feira.  Tal como a jovem professora, da "barraca" de Samba Culo. que morreu nesse dia com uma rajada de G3.  

Foi um duelo de morte, coisa que era raro acontecer naquela guerra de guerrilha e contraguerrilha.  O A. Marques Lopes foi mais rápido a puxar pelo gatilho. Mas a  morte da professora marcou-o, para o resto da vida, como ele nos confessou, aqui no blogue (***). E como transparece no seu livro de memórias, em que conta a história  de vida do seu "alter ego", o António Aiveca. Essa pungente história de Samba Culo pode ser lida nas páginas 391 e ss. (os nomes são fictícios):

(...) Quando avançaram todos rapidamente, quase em corrifa, Aiveca  e os seus entraram de rompante na barraca. Os do Lindolfo, do outrro lado, já tinham começado às rajadas. Viu logo que era uma escola. Uma rapariga que estava ao pé do quadro,  tirava uma kalashnikov que estava lá pendurada . Levantou a mão esquerda ao alto para ninguém disparar.

- "Tá quieta! Firma lá!", gritou-lhe.

Mas ela não. Com a arma já empunhada meteu o dedo no gatilho. Disparou instintivamente. Ela caiu para trás e as balas da kalash furaram o capim do tecto.

Ficou extático de olhos esbugalhados fixados nela. A cabeça  escaldava-lhe e o coração parecia querer soltar-se. Os soldados puseram-se à volta dela a observar e comentar. A sua rajada acertara-lhe  na barriga e no peito. Era bonita  e devia ter vinte e poucos anos. 

(...) Veio a si quando ouviu a confusão ao lado. Os soldados à volta da rapariga morta, uns riam-se desabridamente, outros gritavam. Levantou-se e chegou-se a eles. O que viu quase lhe fez sair os olhos das órbitas. O Cosme  estva em cima da rapariga puxando-lhe a saia para cima e com a mão já nas cuecas. Atirou-se a ele.

- "Eu dou cabo de ti, grande cabrão!" (...)

(...) (pp. 391/393).


Capa do livro "Cabra-cega: do seminário para a guerra colonial", de João Gaspar Carrasqueira (pseudónimo do nosso camarada A. Marques Lopes) (Lisboa, Chiado Editora, 2015, 582 pp. ISBN: 978-989-51-3510-3, Colecção: Bíos, Género: Biografia).


3. Trinta anos depois, em 2008, o A. Marques Lopes (cor inf ref, DFA)  voltou lá, a Samba Culo, na margem esquerda do Rio Canjambari,  no antigo regulado de Banjara, para fazer contas com os fantasmas do passado.  E deixa-nos, em prosa poética, um texto que é revelador dos valores e princípios de um grande ser humano e de um militar português com sentido de honra e consciência  moral.

Há muito que elegemos esta história como uma das  melhores, já aqui publicadas, no nosso blogue.  A maioria dos nossos leitores, mais recentes, não a conhece, nomeadamente nesta versão em prosa poética (***). Não  voltamos a reproduzi-la, mas a título de prova de vida do seu autor, vamos recordar as circunstâncias em que decorreu o "duelo de morte" entre o A. Marques Lopes (que comandava um Gr Comb da CART 1690,  no decurso da Op Inquietar II,  4-7 de julho de 1967) e a professora de Samba Culo. 

(...) Na Op Inquietar II conseguiu-se o objectivo: a base de Samba Culo foi mesmo destruída... Mas há coisas que não vêm relatadas: diz o relator que "junto à base de patrulhas pelas 14h20, um grupo IN que seguia em coluna por um trilho,  detectou as NT abrindo fogo e tendo ferido um soldado, pondo-se em fuga pela reacção das NT. Pelas 14h45 saiu um grupo de combate em patrulhamento ao longo do Rio Canjambari e regressou sem contacto".

Não foi assim. O que sucedeu foi o seguinte: o IN encostou-nos ao Rio Camjambari, não podendo nós cambá-lo, porque era muito fundo, nem podendo dali sair porque estávamos cercados. O comandante da operação disse-me:

- Ó Lopes, a minha companhia já está aqui instalada, por isso, você, que tem um grupo autónomo, vá ver se consegue furar o cerco. 

E lá fui, não só uma mas duas vezes, sem sucesso. Na segunda vez, fiquei sob fogo cruzado do PAIGC e da companhia do comandante, tendo um soldado meu levado um tiro nas costas, dado pelos dos nossos.

Quando o comandante me disse, pela terceira vez, para tentar furar o cerco, disse-lhe que não ia. Que chamasse os T6, o que ele acabou por fazer, e foi assim que dali saímos. Mas o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o "Bigodes", o Armindo Correia Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conacri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. 

Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência. Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida. (...) (****)

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Itálicos / Negritos:  LG]


Guiné > Região do Oio > Carta de Farim (1954) (Escala 1/50 mil) > Detalhe > Posição relativa de Samba Culo, na margem esquerda do Rio Canjambari, a sudoeste de Canjambari, afluente do rio Farim, e aonde havia, em 1967, uma "barraca" do PAIGC, com uma escola.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24127: Parabéns a você (2150): Cor Art DFA Ref António Marques Lopes, ex-Alf Mil Art da CART 1690/BART 1914 (Geba, Banjara e Cantacunda, 1967/69)

(**) Último poste a série > 15 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23785: Prova de vida (6): Nem todos os balantas eram... "turras" (Manuel Joaquim, ex-fur mil arm pes inf, CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67)

(***) Vd,. postes de:


29 de novembro de 2005 > Guiné 63/74 - P301: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

(****) Vd. poste de 7 de junho de 2005 > Guiné 63/74 - P49: Samba Culo II (Marques Lopes)

terça-feira, 15 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15858: Inquérito 'on line' (45): Apanhei um "pifo de caixão à cova", apanhei!...No regresso da Op Inquietar I, em 13 de junho de 1967... (A. Marques Lopes, cor inf DFA, ref)

APANHEI UM PIFO DO CACHÃO PARA A COVA, APANHEI!

Texto e fotos: A. Marques Lopes (2016)

[A. Marques Lopes, coronel DFA ref, ex-alf mil (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)]

Tínhamos regressado da Operação Inquietar I, para irmos destruir a base do PAIGC em Samba Culo [, de 9 a 13 de junho de 1967].

Três dias de mato sob sol e chuva e obrigados três vezes a furar um cerco por ordem do Capitão Maia, quando estávamos cercados e encostados ao rio Canjambari.

Um soldado meu levara um tiro nas costas dado pela Companhia dele.

Maia era o nome dele e não Lindolfo, como o designei no meu livro “Cabra-cega, do seminário para a guerra colonial”. Foi o General Moreira Maia, Comandante da Região Militar do Norte, que me disse um dia, era eu já Tenente-Coronel, que não se lembrava nada disso. Mas eu lembrava-me bem.

Estávamos cansadíssimos e lixados.
Disse ao rapaz do bar:
- Olha, é uma grade de cervejas para mim e para os nossos furriéis.

Ele trouxe-as e bebemos tudo.

Mas a mim não me chegou. Mandei vir whisky e bebi. Mandei vir gin e bebi. E caí para o lado depois de vários. Pegaram-me nos braços e pernas e levaram-me para a cama.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de março de 2016 >  Guiné 63/74 - P15854: Inquérito 'on line' (44): Como é que eu apanhei um "pifo" de uísque Dimple (José Carlos Gabriel, ex-1.º cabo op cripto, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74)... ou de "tintol" (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

terça-feira, 7 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P49: Samba Culo II (Marques Lopes)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1968) e actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

Na Op Inquietar II conseguiu-se o objectivo: a base de Samba Culo foi mesmo destruída... Mas há coisas que não vêm relatadas: diz o relator que "junto à base de patrulhas pelas 14H20, um grupo IN que seguia em coluna por um, detectou as NT abrindo fogo e tendo ferido um Soldado, pondo-se em fuga pela reacção das NT. Pelas 14H45 saiu um grupo de combate em patrulhamento ao longo do R Canjambari e regressou sem contacto".

Não foi assim. O que sucedeu foi o seguinte: o IN encostou-nos ao Rio Camjambari, não podendo nós cambá-lo, porque era muito fundo, nem podendo dali sair porque estávamos cercados. O comandante da operação disse-me:

- Ó Lopes, a minha companhia já está aqui instalada, por isso, você, que tem um grupo autónomo, vá ver se consegue furar o cerco. 

E lá fui, não só uma mas duas vezes, sem sucesso. Na segunda vez, fiquei sob fogo cruzado do PAIGC e da companhia do comandante, tendo um soldado meu levado um tiro nas costas, dado pelos dos nossos.

Quando o comandante me disse, pela terceira vez, para tentar furar o cerco, disse-lhe que não ia. Que chamasse os T6, o que ele acabou por fazer, e foi assim que dali saímos. Mas o que mais me impressionou nesta operação foi o seguinte: Samba Culo tinha uma escola; quando lá chegámos, vi escrito no quadro preto, em perfeito português: "Um vaso de flores". Tinha desenhado, a giz, por baixo, um vaso de flores.

E o que nunca mais esquecerei na minha vida: quando atacámos a base, uma jovem dos seus 18 anos ficou com a barriga aberta por uma rajada de G3. E mais (coisas terríveis desta guerra!): o Bigodes, o Armindo F. Paulino (que foi, depois, feito prisioneiro pelo PAIGC e que acabou por morrer em Conakri), quis saltar para cima dela. Tive que lhe bater. 

Esta é uma situação que nunca me sai do pensamento... e da minha consciência. Tinham muitos livros em português, que era o que estavam a ensinar aos alunos (miúdos ou graúdos?). Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico! Lembranças que se me pegaram para toda a vida.

«6. Op Inquietar II. 4 a 7 de Julho de 1967"

"Situação particular:

Há notícias que o IN tem un acampamento em Canjambari, além de outros espalhados pela mata do Óio. Tem-se revelado durante operações realizadas e implantado engenhos explosivos nos itinerários.

"Missão:
Executar uma acção em força sobre o acampanento IN de Canjambari em coordenação com forças do AGRP 1976.

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1685; 1 Gr Comb CART 1690; 1 Secção CMIL 3

Desat B - CART 1689: 1PEL.(-) /CMIL 3

Dest C - 1 PEL EREC 1578.

"Desenrolara da acção:
04JUL67

Concentração das forças em Banjara pelas 17H00.

05JUL67
Pelas 00H00 iniciaram o movimento em direcção a Samba Culo (050.0p.) seguindo o itinerário Banjara-Gendo-Tambicó-Samba Culo. Pelas 07H00 atingiram Gendo. Um pouco à frente desta antiga tabanca, pelas 08H00 foi detectado um grupo IN o qual tentaram cercar e capturar, só não o conseguindo por alguns elementos da Milícia na testa da coluna, que não entenderam a manobra, terem aberto fogo, pondo-os em fuga.

Entretanto foram avistadas 2 casas de mato (010 OP), que foram destruídas bem como diversos utensílios domésticos. Retomado a progressão e cerca das 11HOO foi detectado um núcleo de 10 casas de mato (050 OP), incluindo uma escola com vinte carteiras, tendo sido totalmente destruídas pelo fogo. Retomado a progressão e ainda perto deste último acampamento, as NT emboscaram um grupo IN não estimado, do qual foi capturado um elemento portador de uma faca de mato.

Reiniciado a progressão, Tambicó (Base de patrulhas) foi atingida às 14H00. Junto a base de patrulhas pelas 14H20, um grupo IN que seguia em coluna por um, detectou as NT abrindo fogo e tendo ferido um Soldado, pondo-se em fuga pela reacção das NT.

Pelas 14H45 saiu um grupo de combate em patrulhamento ao longo do R Canjambari e regressou sem contacto. Pelas 15H20 um grupo IN estimado em 30 a 40 elementos atacou a base de patrulhas com mort 60, LGF, PM e Armas Automáticas, durante 15 minutos sem consequências.

Os T6 que nessa altura sobrevoavam a base de patrulhas para protegerem o heli na evacuação do ferido, fizeram umas rajadas sobre o grupo IN. Nessa altura foi evacuado em HELI para o HM 241 o soldado ferido na acção IN anterior.

Pelas 17H00 saiu um outro grupo de combate para fazer o reconhecimento do itinerário Tambico - Samba Culos. Percorridas apenas algumas dezenas de metros, foi emboscado por um grupo IN de cerca de 60 elementos armados de mort 60, LGF, PM e Armas Automáticas, tendo ferido 2 soldados, evacuados mais tarde para o HM 241, por heli.

Juntamente com a emboscada o IN flagelou a base de patrulhas com 2 granadas de mort 60. Perante a reacção das NT o IN furtou-se ao contacto com baixas prováveis.

06JUL67

Cerca das 11H20, orientado pelo PCV iniciou-se a progressão em direcção ao acampamento de Samba Culo (050.OP.), tendo atingido pelas 15H20. O IN, que estava instalado do lado Sul do acampamento e que tinha reagido fortemente impedindo o Dest B de entrar no acampamento, reagiu à manobra de envolvimento e assalto ao acampamento com Mort 60 e PM, tendo ferido dois soldados, evacuados posteriormente para o HM 241 por heli.

O IN, apercebendo-se do cerco que se preparava, furtou-se ao contacto tendo as NT assaltado e destruído o acampamento composto por 30 casas de mato, sendo algumas cobertas a zinco. Foram destruídos também alguns utensílios domésticos.

Já no regresso o guia conduziu as NT a uma arrecadação de material, que o Dest B conquistou tendo capturado todo o armamento lá existente. Capturado o material foi destruída a arrecadação ouvindo-se então fortes rebentamentos de cartuchos e granadas que se prolongaram por 50 minutos.

Retomado a progressão de regresso para Banjara as NT por alturas de Farim 8H8-44, accionaram uma armadilha tendo ficado ferido um elemento do Dest B.

07JUL67

As NT atingiram Banjara pelas 05H00 após o que regressaram a quartéis. A operação terminou às l6H530.

"Resultados obtidos:

-Foi capturado armamento IN;
-Foram mortos, feridos e feitos prisioneiros elementos IN;
-Foi destruído diverso material e utensílios donéstico;
-Foram destruídos cerca de 10.000 munições e diverso material explosivo algum do qual se supõe encontrar-se enterrado, dado a violência das detonações".

Guiné 63/74 - P48: Samba Culo I (Marques Lopes)

Texto de A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1968), actualmente coronel (DFA) na situação de reforma:

Samba Culo era outra base conhecida do PAIGC na zona da CART 1690. Não vem nos mapas existentes agora, talvez porque não haja lá população. Além dessa base, havia várias casas de mato nessa região, elementos de apoio importantes para dormida e descanso dos guerrilheiros.

Sobre a Operação Inquietar I: foi um fracasso, pois não conseguiu o objectivo, que era a destruição da base, tendo sido destruídas, no entanto, várias casas de mato; a história do ferido mencionado é que se tratou de um soldado da CCAÇ 1689, que levou um tiro no bolso onde tinha uma granada de fumos, provocando o rebentamento desta; tentando apagar o fogo que se ateou nas calças do camuflado com as mãos, ficou com estas totalmente queimadas (os ossos dos dedos ficaram à vista). Com a única coisa que eu tinha - manteiga das rações - tentei minorar-lhe o sofrimento. Gritava pela mãezinha e dizia:
- O meu alferes é tão bom!... Enfim, só visto. Sei que ficou bom, embora com cicatrizes, e vive no Porto.

Sucedeu-me aqui uma coisa que eu nunca pensei que fosse possível: na noite de 10 para 11 de Junho de 1967 consegui dormir debaixo da chuva torrencial de um tornado, numa clareira completamente a descoberto. O cansaço já era muito. A retirada está exemplificada na fotografia que também envio em anexo: é pessoal do meu grupo de combate, que teve de se apoiar uns aos outros, tal era o cansaço, e porque o PAIGC vinha atrás de nós...

4. Op Inquietar I. 9 a 15 de Junho de 1967.
“Situação particular:
"Há notícias de que o IN tem um acampamento em Canjambari, além de outros espalhados pela mata do Óio. O IN tem-se revelado durante operações realizadas e implantado engenhos explosivos nos itinerários.

"Missão:

Executar uma acção em força sobre o acampamento IN de Canjambari em coordenação com as forças do Agrupamento 1976.

"Força executante:

Dest A - CCAÇ 1685 ; 1 Gr Comb CART 1690; 1 PEL MIL/CMIL 3

Dest B - CCAÇ 1689; 1 Sec. (+) CMIL3

Dest C - CCAÇ 1501 - (1 Gr Comb); CCAÇ 1499 (1 Gr Comb); 2 Secções CMIL 2; 1 Secção CMIL 4

"Desenrolar da acção:

9JUN67

Os destacamentos A e B deslocaram-se em meios auto de Fá para Banjara. À alta da viaturas militares para os transportar houve necessidade de recorrer a requisição de viaturas civis, utilizadas apenas no troço Fá - Sare Banda. A concentração das forças em Banjara foi morosa, pois teve que se fazer por escalões. Iniciada pelas 07H00 terminou pelas l6H00.

10JUN67
Pelas 02H00 os destacamentos A e B iniciaram juntos o movimento para Casa Nova que atingiram pelas 06H00. Pelas 06H50 as NT abriram fogo sobre 2 elementos desarmados tendo abatido l e ferido outro num braço, quando tentavama fuga. Interrogado este revelou a existência de una tabanca nas proximidades, localizado depois em Banjara 2A4. Pelas 13H50 atacaram este objectivo que o IN abandonou precipitadamente. As NT destruíram 10 casas de mato, depois de terem passado revista e capturado uma longa, roupas e utensílios domésticos.

Pelas 12H30 as NT atingiram Gendo, utilizando o prisioneiro como guia, onde pararam para comer. Em exploração das declarações prestadas pelo guia os Cmdts dos Dest A e B que estavam juntos decidiram seguir a corta nato para Samba Culo, durante a noite, se até iniciarem a progressão não fossem detectadas. Pelas 13H00 ouviram um tiro isolado do lado NW, que lhes pareceu de reconhecimento. Pelas 14H40 um Gr IN estimado em 15 a 20 elementos flagelou durante cerca de 20 minutos com armas automáticas, PM, LGF, e Mort 60, a po sição onde as NT se encontravam, mas sem consequências.

O Comandante do Dest B deidiu então, como medida de decepção desviar-se ara Banjara 5A5 e daqui progrediu durante a noite em direcção a Samba Culo.

Pelas 17H30 as NT já se encontravam em andamento quando ouviram o rebentamento de duas granadas de mort. 60 no local onde estacionaram. Cerca das 18H00 as NT avistaram 2 elementos dos que seguiam em direcção às NT. Ao detectá-los, internaram-se no mato. Momentos depois ouviu-se o lançamento de 1 granada de Mort., tendo as NT avançado imediatamente sobre a posição onde se supunha estar instalada a arma.

Assaltado o acampamento foram capturadas 2 longas, destruídos numerosos artigos e utensílios domésticos, roupas, alimentos, catanas, bicicletas e destruídas 50 casas de mato, acampamento de Cambaju, situado em Banjara 3CL.

O Cmdt Dest B decidiu então atravessar a bolanha do R Cambaju, para passar a noite em Banjara 3EL e progredir depois sobre Samba Culo.

11JUN67

Pelas 05H00, debaixo de chuva torrencial as NT progrediram ao longo do R Cambaju, seguindo o Dest B à frente. Pelas 08H00 o Dest B capturou l elemento IN, que explorado levou as NT a destruir outro acampamento. Cerca das 12H00 o PCV entrou em contacto com o Dest B, que lhe solicitou que sobrevoasas o Dest C que necessitava da sua presença e voltasse depois. Em vão
o PCV tentou contactar de novo com o Dest A e B. No resto da manhã e durante a tarde de 11JUN, pelo que não foi possível reabastecê-los como estava previsto, apesar de todos os esforços de ligação do PCV, dos T-6 e HELI.

Finalmente pelas 17H50 conseguiu o PCV contactar com o Dest B, que pedia a evacuação de um ido, evacuado momentos depois por um heli no seu regresso a Bissau. Depois de feito o reabastecimento do Dest C verificou-se que os Dest A e B se encontravam por região do ponto 38 (Banjara 2D4) e dado o estado precário do pessoal, pediu autorização para retirar o que
lhes foi negado.

12JUN67

Pelas 08H00, como o PCV não aparecesse e os Dest A e B não tivessem sido reabastecidos os Cmdt dos Destacamentos decidiram progredir para SW, tendo atingido Banjara pelas 09H00 altura em que surgiu o PCV e lhes comunicou que de Bafatá saíra uma coluna com os reabastecimentos e com as instruções a cumprir durante o dia 12 e na noite de 12/13JUN. O Dest A recebeu ordem de montar emboscadas sobre o itinerário Banjara-Mantida e o Dest B re-
cebeu ordem de montar emboscada por região de Bantajã, mas que não resultaram.

13JUN67

Iniciado o regresso, os Dest A e B chegaram a Fá pelas 12H50.»