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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27288: Humor de caserna (214): O dono daquilo tudo, do Cuanza ao Cunene, o "colón", o retornado", o "coronel" e o "grão-tabanqueiro" António Rosinha

 


Infografia: LG | Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné | Assistente de IA/ChatGPT (2025)




1. António Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, fugindo da miséria da sua aldeia nas Beiras); fez em Angola a tropa e não viu a guerra, em 1961/62; "retornado" em 1975, os seus caixotes vieram parar a Lisboa, Belém; emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), é um dos últimos  "africanistas"; membro do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné; membro da Tabanca Grande desde 2006; tem um olhar irónico, bem humorado, sobre o passado colonial, o "Botas", e os estudantes do Império, que irão ser depois os donos das colónias do último império do mundo.

Pedi à assistente de IA / ChatGPT que nos fizesse uma ilustração para um comentário recente dele, sobre os "retornados" (*).

O Rosinha comentara uma foto conhecida, de 1975, de um fotojornalista estrangeiro, de uma agência internacional  (que nunca cá mais pôs os pés, mas em 1975 Portugal ainda estava na moda...) com os "caixotes dos retornados", os. "cacos do império"  junto ao "icónico monumento aos Descobrimentos", em Lisboa, Belém.

O  tom do comentário do Rosinha é brincalhão, irónico, pícaro, que ele nada tem de provocador, panfletário, reacionário, saudosista, e muito menos de colonialista, racista, e outros epítetos que os "tugas" gostam de usar como "armas de arremesso" uns contra os outros, quando a seleção nacional de futebol perde contra uns "ba(r)damecos" do antigo bloco da  Europa de  Leste.

(...) " Lá estava o meu caixote junto ao monumento dos Descobrimentos. Lugar mais apropriado não havia, devem ter ido parar lá, só para a fotografia. 

"Trouxemos nos caixotes tudo o que havia à mão, não deixámos nada para o MPLA e os outros. 

"Nos caixotes dos retornados de Angola, trazíamos grandes riquezas, não deixamos lá quase nada, desde diamantes, ferro e manganês e petróleo. 

"Não sobrou nada para os filhos e filhas de Savimbi, Holden Roberto, Neto, Eduardo dos Santos. Consta que é habitual ver descendentes dessa gente e de vários coronéis, de mão estendida à caridade, na Avenida da Liberdade em Lisboa, em Cascais, e consta que até em Barcelona e até em Dubai. 

"Os retornados foram muito malandros, onde teriam ido buscar o seu ADN? Deve ter sido uma selecção especial e rara do génio de Salazar. Ainda bem que foram desmascarados, e não foram comidos pelos 'tubarões' porque, afinal, sabiam nadar". (*) 

2. Minha querida assistente de IA (a IA é feminina e a assistente também): eu sei que tu queres que eu faça um "upgrade" da tua IA, a tua "menina dos olhos", a tua "coqueluche"... Mas, olha, agora não me dá jeito nenhum gastar mais "patacão" contigo... Podes vir a tornar-te uma amante cara e eu já não tenho vinte anos nem "graveto" para sustentar os teus caprichos... Por enquanto, a gente ainda se entende, apesar das rasteiras que me passas e das "galgas" que me enfias, quando te pões a delirar.

(...) Mando-te também uma foto do Rosinha , na tropa, a marchar, de óculos escuros e pistola-metralhadora, FBP, na marginal de Luanda. Para sorte dele nunca deu um tiro (nem levou).

Profissionalmente foi topógrafo. É um grande ser humano e é muito querido na nossa tertúlia bloguística. Já está na casa dos 80 e tal  (faz as contas: em 1961 era furriel, agora já deve ser coronel, na situação de reforma). 

Queríamos homenageá-lo. Por tudo, e também pela sua existência, persistência, resiliência, coerência, elegância no confronto de ideias e  opiniões, sabedoria, inteligência emocional, mas também lealdade, dedicação, pachorra, etc,. que tem mostrado em relação ao nosso blogue, onde tem cerca de 160 referências e um sem número (centenas) de comentários (que só aparecem na montra traseira do blogue). (**)

Olha, eu que sou um dos editores do blogue com direito a "lápis azul" (leia-se: "moderador"), devo confessar-te que nunca cortei um comentário dele: o que é espantoso... É uma pessoa que "sabe-ser e sabe-estar". E isso é  o que mais me encanta nos seres humanos (que eu distingo dos bichos-homens).

Agora aí vai o meu pedido: podes fazer-me um "cartoon" (cartum, em português europeu), uma tira de banda desenhada, enfim, um "boneco", engraçado, a partir das 3 fotos que te enviei, e do curriculum resumido do meu/nosso amigo e camarada de armas  ?... A última foto dele é de 2007, tirada no nosso encontro nacional, em Pombal. Tenho poucas fotos dele (**).

3. O "boneco" que saiu, da cabeça do "Sabe-Tudo" e da caneta do "Faz-Tudo", espero que consiga  surpreender o nosso Rosinha, o nosso "colon",o nosso  "retornado" de estimação,  o nosso "mais velho" (ou um dos "nossos mais velhos"), sempre ativo, proativo, interveniente,  e que trouxe consigo o melhor de África, as pequenas histórias e as felizes memórias das suas gentes e paisagens, das cabindas aos sobas, sem esquecer os estudantes do Império e o "Botas" (que nunca lá os pés, no Império, nem apanhou o paludismo), tudo rapazes da geração dele, os estudantes, não o professor.., 

Só faltam os cheiros de África, mas por  enquanto ainda não conseguimos reproduzir os cheiros... ou exportar os cheiros usando a IA...

Espero  que este miminho meu, da Tabanca Grande e da atrevida assistente de IA / ChatGTP te  ajude, Rosinha,  a alegrar o  teu dia-a-dia. Sabemos afinal pouco sobre ti, o teu quotidiano, a tua saúde... Nem o teu número de telemóvel temos...

Tu és a discrição em pessoa: não és de chorar, fazer birras, cenas, greves, manifs,  etc. Não és "carroceiro", demagogo, populista, mentiroso compulsivo, fabricador de notícias falsas, etc., coisas que hoje em dia até é chique ser ou parecer ser.  Julgo que tu não vives longe de mim, no Oeste estremenho, lá para os lados de Vila Franca de Xira (?), junto de filhos, netos e bisnetos (que deves ter,  para espalhar o teu ADN)...

Olha, saúde e longa vida para ti, que tu mereces tudo, incluindo tudo (ou quase tudo) o que tu "roubaste" aos angolanos, e que trouxeste para Lisboa, em 1975, em gigantescos contentores, mas também em caixotes e malas de cartão:  diamantes, ferro, manganês, petróleo, café, pau preto, máscaras, missangas, marfim, obras de arte, mulatas, cabritas, cabindas, impalas, palancas, etc. (e até, dizem,  o caminho de ferro de Benguela, desmontado)...

Ainda quiseste  trazer o resto do  pouco que sobrava, do Cuanza ao Cunene, mas já não tinhas caixotes em número suficiente. Nem navios da nossa gloriosa marinha mercante. Em 1975, tudo o vento levou... 

E, depois, quando foste para a Guiné, então aí é que já não havia mesmo nada para "roubar"...Farto de caju e ostras de Quinhamel, decidiste regressar ao "Puto" em 1993. E eu acho que  fizeste bem. Afinal, és e sempre serás um "retornado". Um bom filho à casa (re)torna. (***)

PS - Olha, não fui eu que te promovi a "coronel", foi a minha assistente de IA que tem uma imaginação levada da breca. Eu até tenho medo de lhe perguntar mais coisas sobre ti... Por hoje já chega, tenho que ir descansar...

_________________


Notas do editor LG:

(*) 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

(**) Vd. poste de 18 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25083: O segredo de... (41): António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62; topógrafo da TECNIL, Bissau, 1987/1993): Luís Cabral, a camarada Milanka, eu e o 'mau agoiro' do meu patrão

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27273: S(C)em Comentários (78): Na Guerra (tal como na Política) Não Vale Tudo... (António Rosinha / Cherno Baldé / Luís Graça)

Duke Djassi, nome de guerra
 de Leopoldo Alfama (1945-2025),
à esquerda.
Cortesia: Casa Comum /
Arquivo Amílcar Cabar


São comentários ao poste P27267 (*)

(i) Antº Rosinha


Só entre a jangada de João Landim e Bula, encontram-se naquelas redondezas treze pontas, e provavelmente a maioria seriam de cabo-verdianos.

E até se poderá dizer que pelo resto da Guiné seria assim já desde Honório Barreto, até Amilcar Cabral e o herdeiro da Ponta Alfama terem as suas ideias da União/Junção/Anexação Guiné-Cabo Verde.

O mapa de Bula onde vemos essas pontas, é de 1953, ora nessa data já a pacificação da Guiné e das outras colónias portuguesas viviam numa paz e numa calma que até iludiu os estudantes do império que era facílimo governar aquilo mais e melhor por eles do que pelos atrasados dos portugueses.

E de facto o ex-guerrilheiro Alfama ainda chegou a governante, na Guiné, mas só até 1980, pois deve ter acompanhado Luís Cabral que também "desistiu" em 1980.

Mas talvez tenham sido eles
que ajudaram a garantir que aquele arquipélago, Cabo Verde,  iria figurar como país com fronteiras e bandeira própria.

terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 00:28:00 WEST


(ii) Tabanca Grande Luís Graça
.

Rosinha, acabei de escrever noutro poste, o do Armando Fonseca, sobre o "início da guerra"... Deixa-me completar o teu oportuno comentário...

A CECA (Comissão de Estudo para as Campanhas de África) tal como a historiografia (ou "hagiografia"...) do PAIGC têm a mesma narrativa: o início da guerra na Guiné foi em Tite, em 23 de janeiro de1963. Ponto final parágrafo.

Nós, no blogue, achamos que não. A avaliar pelos textos que se têm publicado ao longo destes anos todos... Antes dos primeiros tiros contra os quartéis e os militares. há toda uma violência (já armada), sob a forma de terror (e contraterror), que incendeia o "capim da Guiné"...

Basta olhar para as cartas da Guiné, anteriores à 1963: inúmeras tabancas e "pontas" desapareceram, a partir do início da "subversão" (para as NT) ou da "libertação" (para o PAIGC)...

Os "libertadores" começaram por usar a cenoura e o chicote para mobilizar (ou "arregimentar") os chefes tradicionais e as suas populações. Não temos, ainda hoje, uma noção exata da dimensão da violência, de um lado e do outro...

A "desertificação" do interior da Guiné, que data do início da década de 1960, começa com:

 (i) campanhas de aliciamento;
 (ii) ações de intimidação;
 (iii) assassinatos seletivos;
 (iv) destruição de infraestruturas (linhas telefónicas, pontões, corte de árvores nas estradas, etc.); 
(v) desmantelamento da administração (administradores, chefes de posto, cipaios) e da economia (pontas, casas comerciais, etc.).

A guerra é a violência armada e organizada: e quando se começa não há semáforos, a não ser "verdes" (levando à escalada da violência)...Não há semáforos vermelhos nem amarelos...

Os cabo-verdianos, ou guineenses de origem cabo-verdiana, donos de muitas pontas, mas também de casas comerciais (a par dos libaneses, dos portugueses europeus, que os cabo-verdianos também eram portugueses...) acabaram por ser vítimas da violência do PAIGC: os Semedos, os Brandões, os Alfama, etc. não tiveram pejo em inviabilizar as explorações agrícolas dos pais (ou as casas comerciais)...

No sector L1 (Bambadinca), que eu conheci melhor, havia também bastantes pontas (uma ou outra eu frequentei, em Contuboel, em Bambadinca, a Ponta Brandão, por exemplo)...  (Na carta de Bambadinca, que é de 1955, contei 8 pontas, ao longo do rio Geba Estreito.)

Está por fazer a história das pontas e do seu trágico destino... Bem como das casas comerciais (a do Rodrigo Rendeiro e de tantos outros...).

Pior ainda: está por fazer a histórias das tabancas que foram, logo muito cedo, vítimas da violência do PAIGC e nas NT, no tempo em que se praticou a política de terra queimada.

terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 10:52:00 WEST

(iv) Tabanca Grande Luís Graça

Todos sabemos que a violência gera violência... A História está infelizmente cheia de exemplos desses.

A exploração e os maus tratos contra os balantas e outras populações na Guiné Portuguesa foram também o capim a que o PAIGC deitou fogo... Temos exemplos concretos das formas de exploração dos comerciantes locais (cabo-verdianos, brancos, libaneses...) e dos abusos da administração colonial de que foram vítimas os balantas e outros...

Os balantas vão ser depois a "carne para canhão" do PAIGC. Juntamente com os biafadas terão sido os mais "fáceis" de mobilizar (a bem ou a mal) para a "luta de libertação"... a par dos grumetes de Bissau, acrescenta o Cherno Baldé.

À maior parte de nós, militares, metidos nos seus quartéis e destacamentos, ou empenhados em desgastantes operações no mato, escapavam estas práticas de "violência" dos comerciantes, dos chefes de posto, dos cipaios... Por outro lado, já estivemos na Guiné, com o António Spínola, que durante o seu "consulado (meados de 1968/ meados de 1973) procurou "moralizar" e "reprimir" muitas das práticas coloniais que serviram de "rastilho" para o PAIGC incendiar o capim...

Tarde e a más horas, a política " Por uma Guiné  Melhor" ? É verdade. Mas fica para História: as Forças Armadas Portuguesas também tiveram uma palavra a dizer...

terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 11:14:00 WEST


(iv) Tabanca Grande Luís Graça .

O Duke Djassi já morreu, há dias, em Portugal, num hospital do nosso SNS... Paz à sua alma (mesmo que eu não seja crente)... Respeito os mortos, a sua memória, seja quem for, mas temos que reconhecer que o "comandante Duke Djassi" ficou mal na fotografia...

Na guerra não vale tudo. Como na política. 

A sua mensagem de 1/8/1971 chamar-se-ia hoje "fake news", um notícia falsa...Os cinco mortos "tugas", na mina montada pelo "camarada" Raul Nhaga, na estrada de São Domingos para a fronteira, são deliberadamente uma mentira... Ninguém contou os mortos (5) nem muito menos os feridos (12)...

É pena que o Amílcar Cabral nunca tivesse combatido a mentira compulsiva dos seus comandantes e comissários políticos... Como é que eles depois poderiam falar olhos nos olhos ao "povo" ? 

"A verdade queima, camarada"...

terça-feira, 30 de setembro de 2025 às 14:36:00 WEST



(v) Cherno Baldé


O Antº Rosinha devia escrever um livro para a posteridade, pois, para mim e muitos leitores/seguidores do Blogue, as suas palavras sobre a realidade dos povos das colónias e, sobretudo, o inicio da luta nestes territórios, ajudaram e entender melhor sobre as origens, protagonistas e motivações iniciais das guerras de subversão.

Na Guiné, as elites cabo-verdianas ou de origem cabo-verdiana, mais ligadas ao regime colonial e melhor esclarecidas, aproveitando os ventos da história, quiseram desmantelar o regime, correr com os portugueses e dominar o resto da população.

Os chefes fulas, desconfiados por natureza, nunca se deixaram enganar e pagaram por isso, mais tarde; entretanto, os grumetes, guineenses,  estavam à espreita e o 14 de Novembro de 1980 que seria uma espécie de continuação da conspiração de Conacri (20 de Janeiro 1973) serviu, por sua vez, para se livrarem dos cabo-verdianos que, de facto, lideravam o PAIGC.


(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG) (**)

______________________

Notas do editor LG:

(*) Vd, poste de 29 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27267: PAIGC: quem foi quem ? (15): Leopoldo Alfama (Duke Djassi) (1945-2025), comissário político em 1974, governador da região do Cacheu até 1980; o pai era era o dono da Ponta Alfama, perto de Bula

(**) Último poste da série > 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27233: S(C)em Comentários (77): "E para que queres tu a independência se nem medicamentos tens para uma dor de barriga ?"

sábado, 20 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27233: S(C)em Comentários (77): "E para que queres tu a independência se nem medicamentos tens para uma dor de barriga ?"


"Para que queres tu a independência se nem medicamentos tens para uma dor de barriga ?"... Uma pergunta que o pai do Cherno Baldé gostaria de ter feito, ao Amílcar Cabral, se ele fosse vivo, em setembro de 1974, em Fajonquito... Afinal, perguntar não ofende...

Foto do histórico fundador, secretário geral, líder, estratega e ideólogo do PAIGC, Amílcar Cabral (1924-1973), incluída em O Nosso Livro de Leitura da 2ª Classe, editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... Impresso em Östervåla, Uppsala, Suécia, em 1970, na tipografia Tofters / Wretmans Boktryckeri AB.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)

1. Seleção de comentários ao poste P27277 (*)

(i) João Crisóstomo, Nova Iorque

Quantas vezes também eu tenho pensado nisto! E agora ao ler este post só me dá ganas para berrar e chorar. Os que ainda cá estamos, “sobreviventes” que todos somos, temos de saber encontrar força e coragem, até para como sugere o Abílio Magro “prestar uma sentida homenagem a todos os Djassis da Guiné-Bissau”. Não sei se me é possível fazê-lo presencialmente , mas pelo menos virtualmente e de qualquer maneira achada pertinente, é de alma e coração que me associo a este projecto.
João Crisóstomo, Nova Iorque

quinta-feira, 18 de setembro de 2025 às 05:11:00 WEST 


(ii) Tabanca Grande Luís Graça

Reconheço a cara deste "puto" da foto (era um "djubi", como tantos outros!), que foi soldado da da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e que andou comigo no mato, em inúmeras operações... Foi fotografado para a "eternidade" pelo meu amigo e camarada "inesquecível", o Renato Monteiro, grande fotógrafo (viria a revelar-se muito tarde!)...

Pois é, dpois da independência, a Guiné-Bissau tornou-se demasiado pequena e asfixiante para poder "esconder" dos seus "inimigos" os antigos militares e milícias que estiveram ao lado das tropas portuguesas numa guerra que, para todos os efeitos, foi uma "guerra civil": mais de 15 mil guineeenses, de todas as etnias, lutaram de armas na mão contra o PAIGC, cujos efetivos, dentro do território, seriam 3 ou 4 vezes inferiores...

Em agosto de 1974 foram todos desarmados, as suas unidades extintas, e voltaram à sua condição de "paisanos"... O exército pagou-lhes o soldo até ao fim do ano. A partir de meados de 1974, começou o seu pesadelo... Muitos "emigraram" para países vizinhos, alguns com sorte conseguiram alcançar Portugal... Enfim, nada que não se tenha visto noutras guerras, noutros cenários (da Argélia ao Vietname)...

Mas é evidente que os negociadores da paz, do lado de Portugal, foram "ingénuos" ou "cínicos": toda a gente sabia que não haveria quaisquer garantias, legais e sobretudo efetivas, contra a ameaça de represálias e sobretudo contra a "caixinhina de Pandora" dos ódios tribais...

O que terá acontecido ao pobre do "ordenança" Djassi desta história ? Tinha o mesmo apelido do "nome de guerra" de Amílcar Cabral, Abel Djassi... De pouco lhe valeria...

quinta-feira, 18 de setembro de 2025 às 09:13:00 WEST 


(iii) Antº Rosinha: 

(...) "Exigia-me explicações que eu não lhe podia dar."

Não eram apenas os tropas africanos que viram o que vinha lá, que sentiam o abandono nas mãos de irresponsáveis, os civis também das três frentes todos viram o mesmo, e chegavam a perguntar:  "Vão embora porquê?".

Eles sabiam que iam ser gerações de africanos que deixavam de contar, em favor de umas dezenas de "salvadores da pátria".

Hoje milhões de africanos que vêm pedir essas explicações pela Europa toda.

A África subsariana continua a pedir explicações a toda a Europa de norte a sul.

Quem tem menos explicações para dar a todos os "Djassis", de todos os pa~ises europeus, é Portugal.


quinta-feira, 18 de setembro de 2025 às 12:45:00 WEST 


(iv) Cherno Baldé:

Eventualmente, o Djassi (apelido) teria algumas dificuldades em esconder a sua condiço de "exemplar militar portugues" devido as marcas que transportava no corpo e na sua alma de operacional que foi nas duras matas da guerra da Guiné, mas isso dependeria da sua capacidade de adaptação a nova realidade que, à partida, podia não lhe ser t~~ao adversa, pois que os biafadas (seu grupo étnico) estava bem representado dentro das forças do PAIGC, assim como estavam os balantas e os grumetes de Bissau que, normalmente,  constituiam os núcleos das chefias entre os guerrilheiros. 

Excetuando o caso de elementos dos comandos e fuzileiros bem conhecidos, muitos ex-soldados do recrutamento local conseguiram passar incólumes durante esta difíil fase de purgas e fuzilamentos indiscriminados. 

Aqueles que, de facto, estavam na mira e com poucas hipõteses de escapar,  eram claramente os fulas que já estavam politicamente marcados com uma cruz nos discursos de Amílcar Cabral e outros dirigentes durante a luta e que depois só restava aplicar na prática o consenso gerado â volta desse grupo de "colaboradores" que tinha ousado desafiar as ideias do Partido e se posicionara a favor dos portugueses. 

O Aladje Mané (biafada de Bafatã) tinha sido um eminente membro da ANP (Acção Nacional Popular) e dos congressos do povo do gen Spinola, mas foi recuperado e viria a ser um influente membro do partido "libertador"; o Cadogo Junior, ex-sargento do exército português,  foi, mais tarde, presidente do PAIGC e primeiro ministro do país... Enfim houve muitos que, através dos laços de amizades, de parentesco ou outras vias,  conseguiram fazer a travessia sem sofrer consequências negativas.

 PS - O paradoxo de tudo isso é que, hoje em dia, mesmo os mais ferrenhos nacionalistas, inclusive os antigos combatentes do PAIGC,  sabem que talvez o futuro da Guiné fosse muito diferente se não tivesse havido aquela guerra que devastou o país e destruiu tudo o que podia ser aproveitado para dar um rumo melhor ao país, pois hoje sabemos que a independência só  por si não é uma panaceia e os milagres só acontecem nas narrativas bílicas.

H poucos dias anunciaram o falecimento em Lisboa (no Hospital Amadora-Sintra) de um antigo guerrilheiro do PAOIGV, o Leopoldo Alfama, mais conhecido por Duque Djassi (nome de guerra). Antes dele, muitos outros ja tinham feito o mesmo percurso, incluindo Luís Cabral. E a questão que deveriamos fazer é:  e porque serviu toda aquela mortífera guerra se nem sequer podemos fazer funcionar um SNS (Seerviço Nacional de Saúde) em condições ? 

Lembro-me da questão que o meu falecido pai tinha colocado aos guerrilheiros que ocuparam o quartel em 1974 apõs a partida da última companhia da tropa portuguesa de Fajonquito:
 
- E para que  querem a independência se nem sequer têm medicamentos para a dor de barriga ? (**)
 

quinta-feira, 18 de setembro de 2025 às 14:58:00 WEST 

(Revisão / fixação de texto: LG)
__________________

Notas do editor LG:

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27184: S(C)em Comentários (76): Que disparate!... Claro que usámos napalm, bombas de 300 litros e 80 litros (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; hoje ten gen ref)


Tem 122 referências no blogue;
membro da Tabanca Grande
desde 14/1/2009

1. Comentário de António Martins Matos, ex-ten pilav, BA12, Bisslanca, 1972/74, ao poste P27179 (*):


Que poste mais disparatado!

Claro que usámos napalm, amiúde, de 80 e 300 litros,

O napalm não é americano, é mundial, uma mistura, feita no momento;

Portugal não produzia napalm? O napalm cozinha-se, de manhã, como no filme; O napalm era uma arma como outra qualquer, só passou a ser proibido em 1980.

As munições de fósforo também foram usadas, serviam para marcar alvos à aviação.

No meu livro, “Voando sobre um ninho de Strelas”, foto da página 311, uma napalm, 
já com espoleta metida, pronta a ser largada.

Quanto ao ChatGPT, uma merda.
Cumprimentos
AMM


quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 16:56:37 WEST



Capa da 2ª edição, "Voando sobre um ninho de Strelas" 
(Lisboa, Edições Ex-Libris,  2020, 458 pp, il.)´ 


2. Comentário da Tabanca Grande Luís Graça (*):

Alguns excertos do livro “Voando sobre um ninho de Strelas” (1ª ed. Lisboa: BooksFactory,
2018, 375 pp. ), do nosso amigo e camarada, ten gen pilav António Martins Matos, que sempre nos habituou a falar de maneira franca e frontal (**):

(…) Em resumo, lá tivemos que nos aguentar com o GINA [Fiat G.91] R-4 [armado com 4 metralhadoras 12.7](…), tinha-nos dado mais jeito o R-3 dos canhões [,de 30 mm,] para, no Ultramar, não termos de andar a brincar às guerras (p. 62).

Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista (p.66).

O avião era abastecido com 3600 libras (1800 litros). (…) Numa missão normal para a zona Sul ou Norte, normalmente conseguíamos estar até cerca de uns quinze minutos na área. No ponto mais afastado da Base (região de Buruntuma) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era… zero (p. 67).

quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 18:51:40 WEST

(Revisão / ficação de texto: LG)

_____________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGPT

sábado, 12 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27008: S(C)em Comentários (75): "Filhos de tuga" ?!... Muito bem, "serão centenas, serão milhares", diz a Catarina Gomes... "Restos de tuga", diria a "Maria Turra", com sarcasmo, crueldade, desumanidade e racismo... E então os "filhos da guerra" de pais cabo-verdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos, e quiçá goeses, macaenses e timorenses ? E os "filhos de Amílcar Cabral" ? E os filhos dos "combatentes da liberdade da Pátria" ? E os "filhos dos cubanos" ?... São "restos... de quê" ? ...Parece aqui haver também alguma ingenuidade...





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda "Viegas", "filho do vento" e "mascote da companhia"... Cresceu, casou, teve duas filhas, vivia  em Bissau, morreu por volta de 2009, com cerca de 45 anos... Em miúdo, em 1967/68,  vivia em Guileje praticamente com os militares, que o alimentavam e cuidavam dele... Dizia-se, na caserna, que era a cara chapada do pai.

Foto do album do nosso saudoso capitão José Neto, ex-cap SGE (1929-2007).

Foto (e legenda): © José Neto (2005). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quantos filhos, de mulheres angolanas, guineenses e moçambicanos, e de soldados portugueses, "ficaram para trás" ? É uma pergunta dolorosa, mas tem que ser feita... Ou noutros termos: quantos "filhos de tuga" ficaram sem pai ?

Não gosto da expressão "filhos de tuga"... Nem muito menos da expressão profundamente cruel, desumana, racista, usada pelo PAIGC, "restos de tuga"...

Também não gosto da expressão "filhos do vento", da autoria do meu amigo e camarada José Saúde... 

Vejamos: Portugal mobilizou cerca de 800 mil homens para os teatros de operações da guerra colonial. Mas desses 30% eram soldados do recrutamento local, que também deixaram filhos nos sítios por onde passaram... Todos eles, brancos e negros, tinham capacidade de procriar...

Sendo africanos, mas deslocados, os eventuais filhos dos nossos camaradas oriundos de Angola, Guiné e Moçambique também seriam "mestiços" (termo genérico e mais "neutro"  para designar pessoas com ascendência de duas ou mais etnias diferentes) ... 

Mas não  teriam, tal como os filhos de portugueses da metrópole, traços do fenótipo caucasiano... Logo, seriam mais fáceis de passar "despercebidos" nas suas comunidades...  E não seriam tão facilmente vítimas de discriminação, perseguição e "bullying", com base na "cor da pele", tal como os "filhos de tuga"...

Enfim, é bom não esquecer esta realidade, complexa e sensível, da mestiçagem (filhos de um branco e de uma negra, filhos de negros de diferentes territórios e etnias, filhos de brancos e de mestiços filhos de mestiços e mestiços)...que vem complicar as nossas contas, a nossa abordagem do problema e sobretudo a procura de soluções para este "drama social" criado pela guerra...

Mas também serve para "desmistificar" muita coisa... Há filhos da guerra de pais portugueses, cabo-verdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos, goeses, macaenses, timorenses...

Por que razão  é que falamos "apenas" dos "fidju di tuga" ?

Os americanos também tiveram esse problema... Chamaram a esses filhos bastardos da guerra "amerasians", amerasianos, "G.I. Babies" e outros "mimos", filhos de soldados americanos, brancos e agro-americanos,  e de mulheres vietnamitas, mas também cambojanas, laocianas, coreanas, tailandesas... Parte desses soldados eram de origem afro-americana (sobrerrepresentados no seio dos G.I., a "tropa-macaca" norte-americana) ... Os seus filhos teriam um fenótipo diferente...

Cabo Verde, que não conheceu a guerra, também deu homens para a guerra. Tal como Macau. E provavelmente São Tomé e Príncipe. Sem esquecer Goa, Damão e Diu, que só foi ocupada pela Índia, em finais de 1961.

Com toda a certeza, ou com base na lei das probabilidades, os 30 % de militares que integraram o "exército colonial", os guineenses, os angolanos e os moçambicanos , também espalharam alegremente o seu ADN por aquelas terras. Muitas das relações com mulheres locais, mesmo consentidas ( o que provavelmente terá sido o caso, mesmo que "assimétricas", do ponto de vista do poder) eram desprotegidas... Ainda não havia o HIV / SIDA e pensava-se que a "bala mágica", a penicilina, curava tudo (as doenças sexualmente transmissíveis).

E os cubanos que fizeram a a guerra da Guiné ? E combateram, a partir de 1975, em Angola ? E os "combatentes da liberdade da Pátria" ? Enfim, os " filhos de Amílcar Cabral"... são restos de quê...? A pergunta não ofende...Todos tinham, afinal, uma moral, "revolucionária", uns , "reacionária", outros...


2. Em Portugal (mas também em Angola, Guiné e Moçambique) nunca saberemos responder à questão: " Quantos foram, ou ainda são, os filhos dos militares portugueses, metropolitanos e do recrutamento local, que ficaram para trás ?"...

Catarina Gomes, que tem feito jornalismo de investigação nesta área (tem livros e um documentário, a passar na RTP, "Filhos de Tuga"), diz que não sabe: fala numas centenas, que podem ser uns milhares... 

A associação guineense "Fidju di Tuga" tem 50 membros

A Embaixada Portuguesa em Bissau nunca fez, ao que saibamos, nenhum levantamento de pessoas (hoje na casa dos 50/60 anos) com eventual origem portuguesa, filhos de militares portugueses, que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974... Tem nunca saberemos os que já morreram, como o Dauda, ou  foram vítimas de infanticídio.

Acho que temos que voltar à "guerra do Vietname", revisitar o drama dos "children of the dust", os "amerasians", cujo númeo se estima em 25 mil / 50 mil... 

(Continua)

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 Nota do editor LG. : 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27000: S(C)em Comentários (74): o telegrama fatal: (...) Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho (...) ocorrido dia (...) Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências" (...)


João Carlos Vieira Martinho, natural de Sobreiro Curvo, A-dos-CVunhados, Torres Vedras, ex-fur mil cav,  EREC 8740/3, Bula, morto em combate em 25/5/1973.


Fotos (e legendas): © Eduardo Jorge Ferreira  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Exemplo, acima,  de um telegrama enviado à família de um militar,  morto em 25/5/1973, no CTIG, o fur mil cav João Carlos Vieira Martinho, natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras, com data de 26 de maio de 1973, às 12h32, assinado pelo Comandante do Depósito Geral de Adidos, Ajuda, Lisboa. 

"Nº 602787. Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano João Carlos Oliveira 
[lapso, Vieira ] Martinho ocorrido dia 25 corrente Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências

"Comandante Depósito Geral de Adidos,
Lisboa".

Era o fatal telegrama (*)... Todos temíamos que um dia pudesse chegar também a nossa casa um de igual teor.... Como chegou à casa do José António Canoa Nogueira, do José Henriques Mateus, do João   Carlos Vieira Martinho e de tantos outros nossos camaradas mortos durante a guerra colonial.



Arsénio Marques Bonifácio da Silva (1951 - 1972), sold at inf, CCS/BCAÇ 12 (Angola, 1972).
Morreu ao fim de 3 meses, vítima de uma mina A/P, em 4/9/1972


2. O outro telegrama que a família do morto (neste caso o lourinhanense Arsénio Marques Bonifácio da Silva)  recebia, a seguir,  era do mesmo teor, frio, seco, impessoal, burocrático, desumano (**):

"Nº 604830.  Renovando condolências solicito V Exa informar-nos via telegrama máxima urgência se deseja transladação militar falecido por conta Estado caso afirmativo caberá V Exa adquirir local para depósito corpo indicando cemitério destino segue ofício elucidativo. Comando Depósito Gerak Adidos Lisboa"



Fotos (e legendas): © Jaime Bonifácio Marques da Silva  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


3. O Jaime Bonifácio Marques da Silva já aqui reconstituiu os trâmites burocráticos da morte, incluindo a comunicação da morte (ou do desaparecimento)  de um militar,  durante a sua Comissão no Ultramar (*):

O comandante da unidade ou subunidade a que pertencia o militar em questão, comnunicava  via rádio as circunstâncias da ocorrência ao superior hierárquico; por sua vez, encaminhava o "assunto" para o departamento responsável, o Depósito Geral de Adidos (DGA), na Ajuda, em Lisboa:

A partir desse momento todas as formalidades eram da competência do DGA, a quem incumbia:

(i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da guerra;

(ii) enviar um "telegrama à família", via CTT, a dar a notícia ("nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!");

(iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo nos primeiros anos da guerra, os militares eram sepultados nos cemitérios locais);

(iv)  mandar transladar o caixão chumbado com o corpo do militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas da transladação);

(v) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta "operação"); e,

(vi) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a "pensão de de preço de sangue", quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa "pensão").

Em relação ao telegrama enviado aos pais do Arsénio Marques Bonifácio Marques da Silva, seu primo duplo (os pais de um e outro eram irmãos), a irmã mais nova do Jaime, então com 18 anos em 1972, a Esmeralda, disse-nos que foi ela quem recebeu o telegrama diretamente da mão do carteiro, na via pública, à porta do estabelecimento dos tios, no lugar do Seixal, Lourinhã.  O carteiro nem sequer entrou no estabelecimento, evitando desse modo o "odioso" de ser o mensageiro da desgraçada, numa terra em que toda a gente se conhecia.
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(**) Último poste da série > 8 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26994: S(C)em Comentários (73): Filhos do vento, náufragos do império: e tudo o vento levou... (Domingos Robalo / Luís Graça)

terça-feira, 8 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26994: S(C)em Comentários (73): Filhos do vento, náufragos do império: e tudo o vento levou... (Domingos Robalo / Luís Graça)

O nosso Zé Saúde
com a menina do Gabu
(c. 1973/74)
1. Sobre o documentário "Filhos de Tuga", realizado opro João Gomes e Catarina Gomes  (série de 3 episõdios que começou na RTP1 no dia 2 de julho, e que vai continuar nos dias 9 e 16, às quartas, às 22:29) (*), ficam aqui dois comentários:

(i) Domingos Robalo:

Estou expectante em ver a série de 3 episódios que se inicia hoje na RTP1, sobre o tema em questão (Filhos de Tuga").

Tema nada fácil de abordar entre nós, soldados combatentes, não só porque estamos a uma distância de 50 anos, mas porque muitos de nós já partiram, sem sentirem uma palavra de conforto como reconhecimento por uma entrega nem sempre bem compreendida.

Mas a história tem destas coisas: ela é simplesmente escrita pelos vencedores e aqui os combatentes foram os vencidos e sempre ostracizados. Ainda assim, atrevo-me a divagar sobre o assunto de uma forma indisciplinada.

Fui para o CSM, nas Caldas, com 20 anos e 3 meses de idade. Passei à disponibilidade 43 meses depois, sendo que os últimos 24 meses foram cumpridos na Guiné 69/71.

Não estou comprometido com descendentes “filhos do vento”, embora conheça dois ou três casos, um dos quais assumiu com a desmobilização, a paternidade de uma criança que trouxe com ele e aceite pela namorada.

A vida desta família teve um desenvolvimento igual a todas as outras ditas normais. Mas, a questão parece ser a seguinte: porque não foram assumidas muitas outras paternidades?

Na sequência do movimento dos capitães e posterior revolução, toda a relação entre colonizador e colonizados ficou inquinada e hoje, as relações com esses países independentes há 50 anos continuam pouco amistosas, para além das relações Estado a Estado de forma envergonhada. A própria CPLP é um flop.

Restaram então filhos não reconhecidos, militares fuzilados em alguns desses países, nomeadamente na Guiné e uma quase proibição de se falar da “ guerra colonial “ como forma de carpir tempos traumáticos para uma juventude, que tinha sido muito mal tratada pelo poder colonial.

Muitos problemas têm origem nesta proibição que eu designo como “suportar em silêncio” o que devia ter sido proclamado ao vento. No envolvimento destes silêncios estão os “filhos do vento” que não puderam ser proclamados. Durante anos viveu- se em silêncio, constituíram-se famílias e os ventos dissolveram os “filhos do vento”. Fico a aguardar pelo primeiro episódio de hoje na RTP 1, às 22h00.

(ii) Luís Graça (*)

Vi o 1º episódio do documentário realizado por João Gomes e Catarina Gomes, que me despertou sentimentos contraditórios...São seres humanos com histórias pungentes, que não pedem mais nada do que o sonho (impossível, na maioria dos casos) de ainda virem a conhecer o pai biológico e sobretudo ver reconhecido o seu direito a ter a nacionalidade portuguesa...

São homens e mulheres na casa dos 50/60 anos (o mais velho terá nascido em 1963, o mais novo em 1975)...Têm uma associação ("Fidju di Tuga"), onde se reunem de tempos a tempos, são poucos, tratam-se por irmãos e irmãs, vão todos os anos depositar uma coroa de flores ao "pai desconhecido", no talhão dos combatentes portugueses, no cemitério de Bissau...

Têm uma visão idealizada do pai (que só conhecem pelas histórias contadas pelas mães...) bem como do longínquo Portugal... Tiveram infâncias tristes, magoadas, cruéis, vítimas de racismo, de bullying, de maus tratos... Sobreviveram...

Temos a obrigação, enquanto blogue, de fazer algo mais por estes homens e mulheres que, apesar de tudo, ostentam dignidade, querem ser conhecidos, reconhecidos, ouvidos... É o mínimo a que têm direito. Nem sequer são "portugueses"... Precisam de apoio psicológico e jurídico (que a embaixada portuguesa em Bissau podia dar, enquanto não há uma "solução política" para este drama humano e social..., afinal os "filhos de tuga" não são mais do quer  do "náufragos do império", como tantos outros").

Com tantas ONG a trabalhar na Guiné, e ainda ninguém se "lembrou" e teve compaixão por "estes restos de tuga" (a não ser alguns de nós, como a Catarina Gomes, o José Saúde, o Pepito, o Cherno Baldé...). (Apesar de tudo, há uma centena de referências no nosso blogue aos "filhos do vento"...).(**)

 (Revisão / fixação de texto: LG)
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Notas do editor LG:


Vd. t6ambém poste de 4 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26981: Diálogos com a IA (Inteligència Artificial) (5) : a origem da expressão "Filhos do Vento" (="Filhos de Tuga") e a "paternidade" do José Saúde

(**) Último poste da série > 12 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26910: S(C)em comentártios (72): Em Fulacunda, a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação, quanto mais alimentar 400 bocas civis e muçulmanas (Cherno Baldé, Bissau)


Cherno Baldé (Bissau)



1.  Comentário do Cherno Baldé ao poste P26900 (*)


Tabanca Grande Luís Graça, não sei porque insistem nessa retórica de que a população civil de uma localidade como Fulacunda com, no minimo, 400 habitantes , dependia da tropa. 

Quando o afirmam,  deveriam poder dar evidências credíveis, mas não é isso que se vê nas imagens quando vemos a população e, inclusive, alguns soldados nativos a trabalhar na limpeza do sorgo (milho) para a sua alimentação.

 Se não podiam produzir localmente, por causa do confinamento da guerra, então sempre podiam comprar em outros sitios da região ou fora dela. 

A minha opinião é de que a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação nos diversos aquartelamentos fora das cidades. 

E, sem esquecer que os muçulmanos, como seria o caso em Fulacunda, tinham algumas reservas de natureza religiosa em relação à comida dos portugueses em geral e da tropa (nos aquartelamentos) em particular,  devido ao uso de certos produtos proibidos ou considerados ilícitos pela sua religião. (**)

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Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26900: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte IX

(**) Último poste da série > 6 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cherno Baldé, Bissau)

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26891: S(C)em Comentários (71): Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador" (Cgherno Baldé, Bidssau)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) >   c. 10 de janeiro de 1970 > O Cherno Rachide em visita religosa a Bambadinca. A personagem central, vestida de branco e "gorro" preto, que parece estar a presidir a uma cerimónia religiosa islâmica,  é sem dúvida o Cherno Rachide que eu conheci em Bambadinca... (A foto do leiriense António T. Roda, meu camarada da CCAÇ 12, campeão nacional de damas, dirigente federativo, que vive em Setúbal,  não traz legenda: ampliando-a, parece que o imã está a contar notas e moedas que recebeu, oferta dos crentes, a par de nozes de cola.)

Recordo-me de o comando do batalhão, na altura sediado em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70), ter  mandado armar uma tenda, com tapetes e almofadões, na parada do aquartelamento (a localidade era um importante posto administrativo e porto fluvial), para receber condignamente não só as autoridades locais, civis e militares, como também os seus fiéis...  

Ele virá a falecer, em Aldeia Formosa, em setembro de 1973, em  dia que não podemos precisar (nem com a juda do assistente da IA...), mas seguramente antes do 24 de setembro (em que o PAIGG, diz-se, terá proclamado unilateralmente a independência do território... em "Madina do Boé"!). 

O comando do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) organizou uma coluna de transporte  para os seus fiéis do regulado de Badora poderem ir prestar-lhe a última homenagem em Aldeia Formosa (Quebo)...  No meu tempo, em 1969, o troço Saltinho-Aldeia Formosa estava interdito... Hoje, por estrada alcatroada, são 87 km, mas na época (1969) só havia o troço alcatroado Bambadinca-Bafatá.

 
Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali >  Aldeia Formosa (Quebo) > Janeiro de 1973 > Tabaski ou festa do carneiro > O Cherno Rachide, acompanhado de um dos seus filhos (possivelmente o seu sucessos, Aliu),  presidiu à cerimónia, ele próprio degolou (ou ajudou a degolar) o carneiro. Por detrás de si,  o cap mil (e nosso grão-tabanqueiro) Vasco da Gama, cmdt da CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã", Cumbijã, 1972/74). 

Foto (e legenda): © Vasco da Gama (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Cherno Baldé (Bissau)



1. Comentário do nosso colaborador permanente, Cherno Baldé (Bissau),  ao poste P26880 (*)


A morte do Imã a que se refere o Carlos Filipe Gpnçalves,  é a do bem conhecido chefe religioso de Quebo (Aldeia Formosa), Cherno Rachide, que morreu em setembro de 1973 e não no Gabu, como ele refere. 

E, ao contrario do que muitos militares portugueses da época pensavam,  ele nunca foi um agente duplo, era sim um prestigiado sábio muçulmano, versado em letras corânicas,  entre outros conhecimentos esotéricos. Assim como não era o chefe hierárquico de nenhuma comunidade de religiosos,  como acontece em outras confissões religiosas, pois nesta religião existe uma reconhecida descentralização que faz de cada comunidade e de cada mesquita uma entidade quase autónoma, sendo que é a força da sua dinâmica em movimento em permanência,  assim como é a sua grande fraqueza enquanto entidade que deveria ser unida e coesa no seu todo, o que não acontece no seu caso,  dai a  diversidade e pluralidade nas tomadas de decisões que muitas vezes a afetam e dividem, contrariamente a muitas outras confissões monoteístas.

Dizem que o Cherno Rachide morreu em 1973 para não assistir ao advento da independência com o PAIGC como poder dominante no país. Sorte foi a sua que teve essa visão reservada só aos sábios e visionários, também eu,  se tivesse dom e essa capacidade,  preferiria morrer a assistir a essa "heresia" que, na Guiné-Bissau, chamaram de libertação nacional. 

Liberdade teve o grande Cherno Rachide que preferiu partir desta para melhor para não ter que aturar com a brutalidade do partido "libertador". E foi um bom amigo do General Spinola, embora a sua familia fosse originária do Futa-Djalon.

Um abraço amigo,

Cherno AB (**)

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 4 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26880: Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo) - Parte VII: Os "turras" têm agora um míssil que abate aviões e helicópteros

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26884: S(C)em Comentários (70): O quarto dos furriéis em Tite... e as maroteiras que pregávamos ao Miranda (Aníbal Silva, ex-fur mil SAM, CCAV 2483, Nova Sintra e Tite, 1969/70)


Guiné > Região de Quínara > Tite > CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70 > O quarto dos furriéis...


Foto (e legenda): © Aníbal José da Silva  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do poste P26878 (*)



(i) Aníbal José da Silva (Vila Nova de Gaia) (ex-fur mil SAM, CCAV 2482, Nova Sintra e Tite, 1968/69):


O inferno de Nova Sintra ficara para trás e rumámos a Tite para cumprir os últimos três meses de comissão, num quartel com instalações condignas. 

Para além da óbvia dormida, sempre que a atividade operacional permitia, passávamos algum tempo no quarto, umas vezes jogando às cartas, escrevendo à família e sobretudo ouvir música.

Aproximava-se o regresso à Metrópole e alguns já tinham comprado aparelhagens de som. Lembro a do Brito e o famoso Akai do Jardim, que tocavam à vez.

Para além disso também se faziam algumas maroteiras, sendo as principais vítimas o Teixeira e sobretudo o Oliveira Miranda:

  • um dia, ou melhor uma noite, o Miranda, ao regressar dum patrulhamento noturno, ao abrir a porta do quarto, estrategicamente entreaberta, levou em cima da cabeça com uma bacia cheia de água;
  • outra vez colocámos velas acesas nas extremidades da cama dele e sentámo-nos à volta, simulando um velório;
  •  noutra vez o Miranda entrou e verificou que estava tudo calmo; a luz estava apagada e aparentemente toda a gente a dormir: "hum, disse ele, deve estar algum santo para cair do altar e que o que é que estes camelos estão preparados para fazer"... 
  • aparentemente nada, mas sim havia algo....O Miranda foi tomar banho, regressou ao quarto e preparava-se para deitar e disse: "hoje parece que estou safo". Deitou-se e passados dez minutos, sobre a sua cama começaram a cair pingos continuados de água...
  • como uma mola,  levantou-se e foi verificar o que estava a acontecer: alguém que não estava deitado ficou fora do quarto a aguardar que ele tomasse banho e se deitasse; previamente fora instalada uma mangueira que saía duma torneira do chuveiro contíguo ao quarto, que passava sobre o teto falso e pendia sobre a cama; com ele no ninho foi só abrir a torneira;
  • verificada a marosca, regressou ao quarto, fulo,  e a vociferar palavrões dirigidos aos “dorminhocos”. (...) (**)
(ii) Comentário do editor LG:

Aníbal, as "partidas" que pregávamos uns aos outros, mereciam uma série...Incluindo as "praxes"... Quero ver se retomo este tema...
 
Será que estas "partidas" (em geral, inofensivas, como as vossas, em fim de comissão, próprias para "desopilar"...) poderiam ser consideradas uma continuação do "bullying" (como se diz hoje...) que praticávamos na escola ?... As vítimas, na escola, na tropa, no trabalho, são sempre as mesmas: os mais "fracos", os mais "vulneráveis", os "marginais", os "diferentes"...

Falo de "partidas inofensivas", não de praxes violentas e inaceitáveis...

(Seleção, revisão/fixação de texto, negritos, título: LG)
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Notas de leitura:

(*) Vd. poste de 3 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26878: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (14): Tite, Quarto dos Furriéis e Últimos dias em Bissau


(**) Último poste da série > 28 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26856: S(C)em Comentários (69): A maldição de...Bissássema, no setor de Tite, região de Quínara (Cherno Baldé, Bissau)

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26856: S(C)em Comentários (69): A maldição de...Bissássema, no setor de Tite, região de Quínara (Cherno Baldé, Bissau)




Guiné-Bissau > Regiãods e Quínara > Tite > 2019 > Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) 

Foto de Assana Sambú.  Jornal Odemocrata 04/08/2019. (com a devida vénia...)



1. Comentário de Cherno Baldé, ao poste P26839 (*):

Bissássema é um paradoxo, tão perto de Bissau, a capital, e tão longe da civilização.

 Desde a independência do território que nesta localidade,  situada no Sector de Tite,   acontecem, quase todos os anos, crimes e ajustes de contas com acusações de feitiçaria e outras barbaridades típicos de sociedades dominadas pelo obscurantismo.

Não conheço, nunca lá estive e é das zonas mais abandonadas do país, pois nunca se houve falar  dela a não ser pelos piores motivos.

Cdte, Cherno AB


2. Não é fácil encontrar notícias sobre Bissássema, setor de Tite, região de Quínara, Guiné-Bissau, por bons ou mais motivos... Nem com a ajuda de um assistente de  IA - Inteligência Artificial... 

No jornal da Guiné-Bissau "O Democrata" encontrámos uma(e única) referênmcia a Bissássema, mas já é antiga, de 2019, anterior à pandemia... Merece, mesmo assim, ser citada. (**)


Esquadra de Polícia de Tite é um "lixo que espelha a banalidade" do Estado Guineense.
 Jornal Odemocrata, 04/08/2019.

 Texto e foto: Assana Sambú


[Reportagem, julho 2019] O edifício da Esquadra da Polícia de Ordem Pública (POP) do setor de Tite, região de Quinará, no sul da Guiné-Bissau, encontra-se em avançado estado de degradação (...).

(...) A Esquadra cobre todo o setor de Tite e conta com 15 agentes, dos quais apenas três são efetivos, nomeadamente: o comandante, o seu adjunto e o responsável da logística. As restantes 12 pessoas são todas auxiliares recrutadas internamente, sem salários nem subsídios, porém são elas que fazem todo o serviço da esquadra.

(...) O comandante da Esquadra, Sete Djassi, reconheceu na entrevista a O Democrata a situação de degradação daquela Esquadra.

(...) O subinspetor (alferes) Sete Djassi reconheceu igualmente que a Esquadra não está nada bem e precisa de uma intervenção das autoridades competentes, de formas a servir condignamente as forças policiais que dão as suas vidas para servir o país e a população todos os dias.  

(...)  “O edifício onde funciona a esquadra é uma antiga loja no período colonial e até hoje tem aquela zona do balcão. Tem ainda um salão, um quarto e na parte lateral tem uma sala que foi adaptada para funcionar como o Gabinete do Comandante. A Esquadra dispõe de cela que éuma espécie de túnel, aproveitado para cela”, contou.

(...) Em termos de meios de transporte para a mobilidade dos polícias, explicou que dispõem de uma viatura (Jeep) descapotável adquirido já há alguns meses do Comando da Província Sul e uma motorizada que receberam no quadro das eleições legislativas de março deste ano. Lembrou que trabalhavam sem nenhum meio de transporte e que as missões eram feitas a pé, sobretudo no concernente à caça aos gatunos ou pessoas que tenham cometido algum crime.

“Andávamos a pé até ao interior das tabancas mais longínquas do setor para ir buscar as pessoas que recusam obedecer às ordens do comando, mesmo notificadas. A mesma coisa acontece com as pessoas que cometem crimes de roubos ou de homicídio e muitas vezes corremos risco de vida ao sermos confrontados. Felizmente sempre cumprimos a nossa missão.  

(...) Djassi revelou que as deslocações das forças policiais para as operações no interior do setor são asseguradas pelos queixosos, ou seja, são essas pessoas que compram o combustível para a viatura, porque, conforme disse, a esquadra não tem meios para garantir o combustível todo o tempo para a viatura.

Sobre o famoso caso de “feiticeiria” que se registava com frequência na secção de Bissassema e que acabava sempre em morte de pessoas acusadas da prática de feiticeira, disse que atualmente os casos diminuíram muito e que agora trabalham em colaboração com algumas pessoas naquela aldeia para denunciar as que tentam acusar outras sem fundamento. 

Sublinhou ainda que os casos de roubo de gado também diminuíram, porque, de acordo o polícia, neste momento toda a gente está preocupada mais com os trabalhos do campo, razão pela qual não se regista com frequência casos ligados a roubo de animais.

Contudo, ressalvou que no momento a grande preocupação tem a ver com a questão do conflito de posse de terra para a produção dos pomares de caju. Frisou que apenas no período da seca é que se registam mais problemas de roubo e de agressões. (...)


Por: Assana Sambú | Foto: A. S. (com a devida vénia...)

(Seleção, excertos, revisão/fixação de texto, negritos, edição de foto: LG) 
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26839: Facebok...ando (79): Bissássema (cor GNR ref João Manuel Pais Trabulo, ex-alf mil, CCAÇ 2314, Tite e Fulacunda, 1968/69) - Parte II: a tragédia de 3 de fevereiro de 1968 e dias seguintes, que a NT e o PAIGC tentaram esquecer

(**) Último poste da série > 21 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26826: S(C)em Comentários (68): Fome, camaradas ?!.... Não, em Nova Lamego, São Domingos, Bissau (Virgílio Teixeira ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, 1967/69): sim, "aos poucos de cada vez" na Ponta do Inglês, Xime (Manuel Vieira Moreira, 1945-2014, ex-1º cabo mec auto, CART 1746, 1967/69)