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Silvério Dias |
1. O nosso leitor Poeta Todos os Dias deixou, hoje, um comentário ao poste
P10366 (*):
Olá amigos!
Que comoção!
Ao fim de quase meio século, poder escrever:
"sempre ao vosso lado",
quando "lá"
o dizia de viva e sentida voz.
Sou o "velho" 1º Sarg Silvério Dias,
vivo na Graça de Deus
e tendo a meu lado a "senhora tenente"
que me acompanha em 53 anos de matrimónio.
O que tenho para recordar?
Um rol infinito de que procurarei ir dando conta.
Para já, o reencontro!
Página principal do bogue do
Silvério Dias, "Poeta Todos os Dias"... e onde se lê: "Sou beirão; ex-militar; Índia, Moçambique e Guiné. Na velhice, o vício da poesia, e o amor que me une às boas tradições beirãs"...
2. Comentário de L. G.:
Camarada, em nome da Tabanca Grande, os amigos e
camaradas da Guiné que já são mais do que um batalhão, damos as boas vindas ao nosso primeiro Dias e à "nossa tenente!" [, foto à direita,] que, durante alguns anos foram o rosto do Programa das Forças Armadas (PFA), na Guiiné..
É caso para dizer, depois deste nosso reencontro, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... É Grande, no sentido de nela caberam sempre... mais dois!... Ficamos à espera de novas. O mail é o seguinte: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Descobrimos que o camarada Silvério Dias criou, em 2011, e mantém até agora um bogue que dá pelo nome de Poeta Todos os Dias... Já tem mais de 26 mil visualizações. Aqui, para ilustração, um poema que ele publicou em 30 de dezembro de 2011:
Heróis do meu País
São dez mil, identificados,
Na pedra fria do Bom Sucesso!
Todos eles foram chorados,
A quando da ida, sem regresso.
São os mártires do meu país,
Vítimas do chamado Ultramar.
Por lá andei e Deus quis
Conceder-me a Graça de voltar.
Perdi amigos; chorei a perda;
Hoje, quando a dúvida se instala,
Mando, mentalmente, "à merda",
"Ilustres" a quem "bati a pala".
Onde mora o brio, o amor à farda?
O juramento feito à Bandeira?
Será que uma geração bastarda
Se rendeu, à bandalheira?
3. Já agora, aqui vão, ao sabor dos (a)casos da Guiné, mais alguns versos, com a devida vénia a autor [, Silvério Dias,. foto à esquerda,] e reforçando o convite para se juntar à nossa Tabanca Grande:
Silvério, "O nascido na selva"
Significado bem original
Do nome que me foi dado.
Corrijo, algo errado.
Foi na serra que fui gerado!
13/1/2014
P.F.A. Noturno
"2001 Uma Odisseia no Espaço"
É referência que agora faço.
Abertura, "Programa das Forças Armadas"
Que na Guiné de então,
Unia todos os camaradas
Em "encontros" ao serão.
...no espaço do tempo, já lá vai meio século!
Testemunho Público
Também eu, estive lá!...
O MEU TESTEMUNHO
Ao Ilustre, António Ramalho Eanes
Do Presidente e General, falará a História.
Daquele Capitão que "promovi" a Major, *
No meu raro momento de glória,
Me pronuncio eu, em tom maior!
Servi-lo, uma honra na circunstância.
Foi fácil obedecer, vindo o exemplo
De quem, esquecendo a importância,
Desceu até nós, face ao momento.
Momentos que na Guiné partilhámos,
Sabendo ambos qual era o Dever.
Cada um por si, bem o prestámos,
À Causa que se viria a perder.
Ficou o elo, bem firme em mim,
Da admiração pelo Homem-Militar
Para prosseguir, agora e sem fim,
Até que esta minha vida durar.
Na mente, guardo o conceito,
Reservado às figuras duma existência.
A saber: Deus, meu pai e "Este Eleito",
Pelos exemplos, associados à evidência.
* Na cerimónia, impôs que fosse eu, a
colocar um dos galões.
Era, ao tempo, 2º Sarg.do Exército.
25/11/2013
Ao Soldado Desconhecido
Da CART 1802, "Pioneiros da Nova Sintra"
O Alentejo os viu nascer.
Do mesmo, um dia partiram
Para certo destino, a saber,
Sem saberem, ao que iam...
Defender a Pátria, a mensagem.
E com espingardas vos armaram.
Bilhete, só de ida na bagagem,
Pois quantos foram e não voltaram!...
Teu número de condenado, 1802-
Como "fato de riscas", o camuflado-
Trabalhos forçados, te deram depois,
Desde esse dia, malfadado.
Do mesmo lugar de antanho,
Donde partiram as caravelas,
Eis que partem, sem arreganho.
No coração, mil mazelas.
Falar da viagem, a odisseia,
É o dizer, de agonia prolongada,
Feita de enjoos, à mão cheia,
Da novidade não programada.
A chegada a lugar estranho,
De calor tórrido, pegajoso,
Terra à vista, de mau amanho,
Sem vestígios de algo vistoso.
Nova viagem, novo atropelo,
Na barca cinza, de nome lancha.
Todos ao monte, como em novelo
Que desordenado se desmancha.
Pé firme em terras de Farim.
Aqui ficarás, nobre Zé soldado,
Até que um toque de clarim,
Te remeta, a qualquer outro lado.
E foste, como "um pau mandado"
Tropeçando aqui, levantado além,
Por vezes mal comandado,
Tu cumpriste, forte e bem!
Comendo o pão do diabo,
Por ele amassado e com teu suor,
"Temperaste"o que te era negado,
Por falhas, de vulgar superior.
Soubeste traduzir, "bolanha",
Num momento, todo ele sacrificado,
Quando em prova de esforço, tamanha,
Tiveste de passar, p'ró outro lado.
E foste, de novo "baptizado"
Na pia baptismal da picada.
Causou danos, mas bafejado,
Subtraíste o corpo à rajada.
Alguém ficou. Por ti chorado
Em dia fatídico de má desdita,
Sem honras devidas a um finado
Que, longe dos seus, já não palpita.
Quantas palpitações, tantos medos,
Sofridos, em constante desalento...
E os dias parecendo quedos,
Pois decorriam, de modo lento...
Do teu Mundo do Alentejo,
À terra que te viu nascer,
Juntaste nomes de sobejo
Que te obrigaram a conhecer:
Fulacunda, Jabadá, S.João...
São hoje recordações a rever.
Lá deixaste parte do coração,
Não por amor, mas p'lo sofrer.
Construíste, um lugar novo.
Nova Sintra, assim registado.
E, por seres homem do povo,
Como "pioneiro" serás recordado!
O regresso. Missão cumprida.
Dela esquece, a má memória.
Ao longo da tua vida,
Constarás, da nossa História,
Lembrando o Homem-soldado
Que obrigaram a lutar,
Por um ideal mal contado
Que o futuro veio revogar.
Porque tens a alma pura,
Perdoa a quem te fez mal.
Acabada a ditadura,
Temos um novo Portugal.
Embora, com outras sequelas.
Pois parece ser nosso Destino,
Viver sempre em más novelas,
Quando se é pequenino!
"Pioneiros de Nova Sintra"
Em comissão na Guiné, de 1967-69.