Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu Pai é o que está na cadeira de rodas com o prato na mão. Esteve lá 8 meses. Antes passou pelo anexo de Campolide, em Lisboa, onde fez 18 operações" (Marisa Neves).
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que está no lado direito, de camisola acastanhada, sentado na cadeira de rodas" (MN)
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que está de frente, de camisola acastanhada" (MN)
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o que vem com duas muletas, de camisola branca" (MN)
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai é o de camisola castanha, sentado na cadeira de rodas, em primeiro plano " (MN)
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai sentado na cadeira de rodas, e com um camarada ao lado" (MN)
Alemanha Ocidental > Hospital Militar de Hamburgo > c. 1970 > "O meu pai, junto a um lago, amparando-se a m camarada" (MN)
Antiga Alemanha Ocidental (ex-RFA - República Federal Alemã) > Hamburgo > Hospital Militar de Hamburgo > Álbum fotográfico de António Dias das Neves (1947-2001) (*)
Fotos (e legendas): © Marisa Neves (2011) Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Depois de ter ficado sem as duas pernas, devido ao acionamento de uma mina A/P, a norte de Bula, no decurso da tão mediatizada Op Ostra Amarga, 18 de Outubro de 1969, o sold at cav António Dias das Neves, da CCAV 2486/BCAV 2868 (1969/70), foi evacuado para a metrópole, longe dos holofotes da televisão e do voyeurismo dos jornalistas franceses... e daqui para a Alemanha
Sabemos que passou esteve no Hospital Militar da Estrela, anexo de Campolide, desde finais de 1969. Deve ter ido no ano seguinte para o prestigiado Hospital Militar de Hamburgo, na Alemanha onde recebeu, com sucesso, duas próteses que lhe permitiram refazer a sua vida como civil... na sua terra natal, Ramada, Odivelas.
"O meu pai fez bastantes amigos durante os 8 meses que esteve em recuperação no hospital de Hamburgo. Sei que fartou-se de passear, pois tenho alguns postais de vários sítios da Alemanha que o meu pai mandava para a minha avó", escreve-nos a sua filha Marisa Neves.
"Sei também que o meu pai foi um caso de sucesso na adaptação das próteses, sei que fizeram bastantes arquivos documentados para próximos doentes".
"As pessoas que acompanham o meu pai nas fotos, infelizmente não sei quem são, só ele poderia dizer ou a minha avozita que infelizmente faz agora dia 6 de Novembro [ de 2011] num ano que me deixou. O meu pai sempre foi um homem de coragem e de orgulho".
Em 1979 nasceu a sua primeira filha, Marisa Neves. Estas fotos, recebidas originalmente sem legenda, documentam a parte final, germânica, do seu calvário da Guiné...
Sobre a hospitalização do seu pai, a Marisa disse-nos o seguinte:
Há um ponto que não conseguimos (ainda) esclarecer com a Marisa. Diz ela que, de acordo com a caderneta militar, o pai foi "evacuado para o HMP em 6/11/71"... "por despacho de 30/12/70 de sua Excia o Secretário de Estado do Exército" (?)...
3. Sobre o programa de reabilitação dos deficientes da guerra colonial no Hospital Militar de Hamburgo (****), iniciado em 1963, publicamos uma "nota histórica", excerto da revista ELO, da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, julho de 2013, pág. 9, com a devida vénia:
Pequeno historial
Em 1963 uma delegação alemã visitou Portugal. Integrava essa mesma delegação o General médico, Diretor do Serviço de Saúde Militar da República Federal da Alemanha, que foi convidado pela Cruz Vermelha Portuguesa, através do então Movimento Nacional Feminino, a visitar o Hospital Militar Principal, onde já se encontravam um número significativo de deficientes vindos dos conflitos das ex-colónias portuguesas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Na sua maioria, esses mutilados eram vítimas de rebentamentos de minas. Esta visita deu origem à assinatura de um protocolo em que os médicos militares alemães aplicariam a sua ampla experiência adquirida com mutilados das primeira e segunda guerras mundiais, no tratamento dos mutilados portugueses. O referido protocolo também estava relacionado com a presença da Força Aérea Alemã na base de Beja e dependências em Alverca.
Em 1964, os primeiros deficientes de guerra foram internados no Serviço de Cirurgia do Hospital Militar de Hamburgo (nessa data chamava-se Standortlazarett, depois Bundeswehrlazarett) e eram levados diariamente para tratamentos para o hospital de acidentados em Hamburgo – Hospital de Bergedorf.
Em 1966, foi colocado no Hospital Militar de Hamburgo o então Capitão-de-Fragata, médico, Dr. Franz Traut, especialista em ortopedia de guerra, que criou o Serviço de Ortopedia e também foi o responsável pela instalação de uma casa ortopédica dentro do Hospital Militar.
Para complementar o processo, disponibilizou duas enfermarias, uma com seis camas e outra com quatro, destinadas aos deficientes das Forças Armadas portugueses. Criou também o Serviço de Fisiatria e chamou a fisioterapeuta, Srª. Frauke Maltusch, docente no Hospital Universitário de Eppendorf, em Hamburgo.
Os mutilados eram transportados de e para Portugal nos aviões militares de transporte alemães – a princípio Noratlas, depois Transal, sempre acompanhados por um oficial médico ou sargento enfermeiro portugueses. Os custos inerentes a todo o processo, eram suportados pelo Estado alemão.
Em 1975 e em virtude dos conflitos coloniais terem terminado, o número de camas foi reduzido para seis.
Em 1986, o então Capitão de Mar-e-Guerra, médico, Dr. Franz Traut, passou à situação de reforma (os médicos alemães eram obrigados a passar à reforma aos 60 anos) e foi substituído pelo Coronel médico, Dr. Joachim Niehaus.
Este acordo terminou em 1991 e os últimos deficientes militares regressaram a Portugal, em setembro de 1991. A partir desta data, apenas aqueles que necessitavam de tratamentos que não encontravam resposta em Portugal, eram autorizados a irem para o Hospital Militar de Hamburgo.
Atualmente, a chefia do Serviço de Ortopedia e Cirurgia de Acidentados é exercida pelo Coronel Médico, Dr. Bernhard Klein, o qual já efetuou diversas deslocações a Portugal, tendo visitado o então Hospital da Força Aérea e a ADFA.
O Dr. Franz Traut, a fisioterapeuta Frauke Maltusch e outros elementos ligados aos Deficientes das Forças Armadas (DFA), em 1981, foram condecorados pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Garcia dos Santos, em cerimónia pública no Estado-Maior do Exército.
Em 1977, o General Ramalho Eanes, na qualidade de Presidente da República, visitou os Deficientes da Forças Armadas no Hospital Militar de Hamburgo.
_____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8910: In Mermoriam (94): António Dis das Neves (1947-2001), sold at cav, CCAV 2486 (BULA, 1969/70), "O meu Herói" (Marisa Neves)
(**) 16 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8914: Álbum fotográfico de Antóno Dias das Neves: a parte final, germânica, de um doloroso calvário... A reabilitação no Hospital Militar de Hamburgo (Marisa Neves)
(***) Vd. poste de 25 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22845: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XV: Dezembro de 1966: a Op Harpa em que é ferido com gravidade o Quebá Soncó, que depois irá para o hospital de reabilitação de Hamburgo, na Alemanha (****) Último poste da série > 8 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22788: Memória dos lugares (433): Tabatô, a tabanca da utopia, a 10 km, a nordeste de Bafatá - Parte IV
Sabemos que passou esteve no Hospital Militar da Estrela, anexo de Campolide, desde finais de 1969. Deve ter ido no ano seguinte para o prestigiado Hospital Militar de Hamburgo, na Alemanha onde recebeu, com sucesso, duas próteses que lhe permitiram refazer a sua vida como civil... na sua terra natal, Ramada, Odivelas.
"O meu pai fez bastantes amigos durante os 8 meses que esteve em recuperação no hospital de Hamburgo. Sei que fartou-se de passear, pois tenho alguns postais de vários sítios da Alemanha que o meu pai mandava para a minha avó", escreve-nos a sua filha Marisa Neves.
"Sei também que o meu pai foi um caso de sucesso na adaptação das próteses, sei que fizeram bastantes arquivos documentados para próximos doentes".
"As pessoas que acompanham o meu pai nas fotos, infelizmente não sei quem são, só ele poderia dizer ou a minha avozita que infelizmente faz agora dia 6 de Novembro [ de 2011] num ano que me deixou. O meu pai sempre foi um homem de coragem e de orgulho".
Em 1979 nasceu a sua primeira filha, Marisa Neves. Estas fotos, recebidas originalmente sem legenda, documentam a parte final, germânica, do seu calvário da Guiné...
Sobre a hospitalização do seu pai, a Marisa disse-nos o seguinte:
"Em relação aos hospitais, infelizmente não sei datas concretas, acho que ele foi, primeiro, para Bissau [ HM 241] e depois veio para Portugal [ HMP] . A seguir foi transferido para Alemanha. Sei que esteve algum tempo na Alemanha em tratamentos e recuperação para adaptação das próteses".
E, ao que parece, adaptou-se bem, do ponto de vista funcional, às suas novas pernas artificiais, segundo o testemunho da filha.
Há um ponto que não conseguimos (ainda) esclarecer com a Marisa. Diz ela que, de acordo com a caderneta militar, o pai foi "evacuado para o HMP em 6/11/71"... "por despacho de 30/12/70 de sua Excia o Secretário de Estado do Exército" (?)...
Admitamos que é um erro de transcrição, dela ou do burocrata do exército... Não é crível que tenha ficado mais de dois anos no HM 241, em Bissau (contando o período que medeia entre a data dos ferimentos em combate, 18/10/1969, e a alegada mas improvável data de evacuação para o HMP, 6/11/71)... É mais provável que a data seja 6/11/1969... Por outro não se entende a referência ao "despacho" do Secretário de Estado do Exército, de 30/12/70.
Por outro lado, foi-lhe contado 100% o tempo de serviço militar no TO da Guiné, desde 1/3/169 (data de desembarque da CCAV 2486) ate´31/12/1970.
Foi condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª Classe.
Fonte: Revista de Cavalaria: Anais da Cavalaria Portuguesa, Ano de 1971, pág. 96
2. De qualquer modo, o que importa é sublinhar a novidade destas fotos do álbum da filha de uma camarada nosso, já falecido, integrado na Tabanca Grande a título póstomo (poste P8910) (*), em 2011, quando aqui foram publicadas (poste P8914) (**) eram as primeiras de camaradas nossos, feridos gravemente na guerra de África, e n0meadamente amputados, que foram beneficiários do programa de tratamento e reabilitação do Hospital Militar de Hamburgo...
Não sabemos quantos por lá passaram, pro Hamburgo, por causa das próteses...Um deles foi o Quebá Soncó, que também perdeu uma perna, no dia 7 de dezembro de 1966, ao serviço da CCAÇ 1439 (***).
O mesmo se passa com o CMRA - Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitção, inaugurado em 1966 ... Não sei se a ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas tem informação estatística, ou dados históricos, adicionais, com referência aos utentes portugueses do Hospital Militar de Hamburgo, entre 1964 e 1974.
Segundo Pedro Marquês de Sousa ("Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 144), dos cerca de 28 mil feridos graves evacuados durante a guerra (nos 3 teatros de operações), "resultaram cerca de 14 mil deficientes (5120 com grau de deficiência superior a 60%)"...
Desses 14324 feridos graves e deficientes, 1852 estão classificdos na categoria de "amputados" (12,9%), dos quais 480 em Angola, 540 na Guiné, 697 em Moçambique e 135 na instrução e serviço militar. (Algumas centenas destes amputados deverão ter sido tratados e recuperados no Hospital Militar de Hamburgo, acrescentamos nós.)
À Marisa já aqui deixámos, em 2011, o nosso profundo reconhecimento por querer partilhar, connosco, com os camaradas do seu pai, este cantinho da sua intimidade, o álbum fotográfico do seu querido pai e seu grande herói (**).
Pequeno historial
Em 1963 uma delegação alemã visitou Portugal. Integrava essa mesma delegação o General médico, Diretor do Serviço de Saúde Militar da República Federal da Alemanha, que foi convidado pela Cruz Vermelha Portuguesa, através do então Movimento Nacional Feminino, a visitar o Hospital Militar Principal, onde já se encontravam um número significativo de deficientes vindos dos conflitos das ex-colónias portuguesas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Na sua maioria, esses mutilados eram vítimas de rebentamentos de minas. Esta visita deu origem à assinatura de um protocolo em que os médicos militares alemães aplicariam a sua ampla experiência adquirida com mutilados das primeira e segunda guerras mundiais, no tratamento dos mutilados portugueses. O referido protocolo também estava relacionado com a presença da Força Aérea Alemã na base de Beja e dependências em Alverca.
Em 1964, os primeiros deficientes de guerra foram internados no Serviço de Cirurgia do Hospital Militar de Hamburgo (nessa data chamava-se Standortlazarett, depois Bundeswehrlazarett) e eram levados diariamente para tratamentos para o hospital de acidentados em Hamburgo – Hospital de Bergedorf.
Em 1966, foi colocado no Hospital Militar de Hamburgo o então Capitão-de-Fragata, médico, Dr. Franz Traut, especialista em ortopedia de guerra, que criou o Serviço de Ortopedia e também foi o responsável pela instalação de uma casa ortopédica dentro do Hospital Militar.
Para complementar o processo, disponibilizou duas enfermarias, uma com seis camas e outra com quatro, destinadas aos deficientes das Forças Armadas portugueses. Criou também o Serviço de Fisiatria e chamou a fisioterapeuta, Srª. Frauke Maltusch, docente no Hospital Universitário de Eppendorf, em Hamburgo.
Os mutilados eram transportados de e para Portugal nos aviões militares de transporte alemães – a princípio Noratlas, depois Transal, sempre acompanhados por um oficial médico ou sargento enfermeiro portugueses. Os custos inerentes a todo o processo, eram suportados pelo Estado alemão.
Em 1975 e em virtude dos conflitos coloniais terem terminado, o número de camas foi reduzido para seis.
Em 1986, o então Capitão de Mar-e-Guerra, médico, Dr. Franz Traut, passou à situação de reforma (os médicos alemães eram obrigados a passar à reforma aos 60 anos) e foi substituído pelo Coronel médico, Dr. Joachim Niehaus.
Este acordo terminou em 1991 e os últimos deficientes militares regressaram a Portugal, em setembro de 1991. A partir desta data, apenas aqueles que necessitavam de tratamentos que não encontravam resposta em Portugal, eram autorizados a irem para o Hospital Militar de Hamburgo.
Atualmente, a chefia do Serviço de Ortopedia e Cirurgia de Acidentados é exercida pelo Coronel Médico, Dr. Bernhard Klein, o qual já efetuou diversas deslocações a Portugal, tendo visitado o então Hospital da Força Aérea e a ADFA.
O Dr. Franz Traut, a fisioterapeuta Frauke Maltusch e outros elementos ligados aos Deficientes das Forças Armadas (DFA), em 1981, foram condecorados pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, General Garcia dos Santos, em cerimónia pública no Estado-Maior do Exército.
Em 1977, o General Ramalho Eanes, na qualidade de Presidente da República, visitou os Deficientes da Forças Armadas no Hospital Militar de Hamburgo.
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 15 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8910: In Mermoriam (94): António Dis das Neves (1947-2001), sold at cav, CCAV 2486 (BULA, 1969/70), "O meu Herói" (Marisa Neves)
(**) 16 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8914: Álbum fotográfico de Antóno Dias das Neves: a parte final, germânica, de um doloroso calvário... A reabilitação no Hospital Militar de Hamburgo (Marisa Neves)