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quarta-feira, 18 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26933: Historiografia da presença portuguesa em África (486): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1924 a 1925, de 1925 a 1926, é o fim da era do governador Vellez Caroço (40) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2925:

Queridos amigos,
1925 é um ano marcado por operações em Canhabaque, Vellez Caroço declarara estado de sítio em virtude de insubmissão do régulo, seguiram-se operações que se estenderam por vários dias de maio, delas o governador publicará um relatório bastante pormenorizado; como sabemos, a submissão foi sol de pouca dura, será necessário chegar a 1936 para dar os Bijagós como região pacificada; a estrela que tem acompanhado esta governação vai empalidecer, não por perda de firmeza na governação, vamos chegar a 1926 com gravíssimos problemas financeiros, caiu a I República, temos agora governos da Ditadura Militar, Vellez Caroço pede insistentemente ao ministro João Belo que tome as medidas necessárias, por fim ameaça demitir-se, e o ministro demitiu-o mesmo, tudo isto se vai passar no final do ano de 1926. Vellez Caroço, sem margem para dúvida, foi um dos mais brilhantes governadores da colónia da Guiné.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, de 1925 a 1926, é o fim da era do governador Vellez Caroço (40)


Mário Beja Santos

O ano de 1925 é fundamentalmente marcado pelas operações de Canhabaque, vamos ter acesso ao suplemento ao n.º 26, do Boletim Oficial n.º 9, de 30 de junho desse ano, está aí o relatório das operações redigido pelo próprio governador, o tenente-coronel Vellez Caroço.

Em números anteriores há já indícios da insurreição e da declaração de estado de sítio, como se viu no texto anterior. No Boletim Oficial n.º 21, de 23 de maio, o governador mandara publicar uma portaria em que se referia explicitamente ao estado de sítio nas ilhas de Canhabaque, Galinhas e João Vieira, mas o foco da rebelião era Canhabaque, houvera uma operação para destruir estas povoações e os indígenas refugiaram-se no mato e nunca fizeram a sua apresentação nos comandos militares. O governador convocou o Conselho Executivo, que deu o seu voto para que Canhabaque e João Vieira ficassem provisoriamente sujeitas a um comando militar, com sede em Meneque, e postos em Bine, Bane, In-Orei e Meneque, ficando igualmente proibido todo o comércio para o exterior; e mais: todo o coconote, arroz, gado e galinhas seriam apreendidos pelos agentes do Governo, enviados para Bolama e vendido em hasta pública; não seria permitida nova construção de palhotas aos indígenas enquanto não fizesse a sua apresentação incondicional.

Vejamos agora este documento marcadamente histórico, o referido relatório de Vellez Caroço que começa por fazer um historial dos acontecimentos. Em março de 1917 fora estabelecido o estado de sítio no arquipélago dos Bijagós, tinham-se recusado a entregar as armas e pólvora e também recusado a pagar o imposto de palhota; fora organizada uma coluna para os castigar, as nossas tropas tiveram muitas baixas, ocupara-se exclusivamente postos do litoral; os indígenas de Canhabaque nunca desarmaram, geraram um estado de coisas intolerável; em fevereiro de 1925 o Governador recebera um ofício da autoridade dos Bijagós anunciando que fora a Canhabaque a fim de proceder ao arrolamento para a cobrança do imposto, não teve qualquer sucesso; e Vellez Caroço escreve:
“Tive em Canhabaque três vezes as forças de auxiliares que o administrador propunha, tive um avião, tive artilharia, metralhadoras e duzentos homens de forças reguladas e, apesar disso, embora tivesse derrotado os rebeldes em todos os pontos onde em número apareceram a oferecer resistência, o facto é que eles ainda lá estão refugiados no mato, e que nas suas ciladas e emboscadas continuam causando bastantes baixas nos nossos soldados. Estou convencido que batidos como foram em todos os combates que nos ofereceram, destruídas por completo todas as suas povoações, pois nem só uma escapou, e feita agora a ocupação pelas forças militares em todos os pontos importantes da ilha, os rebeldes hão-de acabar por se entregar à discrição, visto que, dentro em pouco tempo, acossados pela chuva, sem terem coberturas ou abrigos e apertados pela fome, por lhes faltarem os géneros que lhes forem apreendidos, por lhe estar interdito o comércio com o exterior, não terão mais remédio do que submeterem-se.”

Posta esta exposição preliminar, Vellez Caroço relata os procedimentos adotados, seguiu para Bine um contingente militar, reconheceu-se a necessidade de fazer um desembarque em Canhabaque, foi recrutado um corpo de auxiliares indígenas, declarou-se o estado de sítio, realizaram-se voos sobre a ilha de Canhabaque, a ver se se atemorizavam os indígenas. São explicadas pormenorizadamente as operações em Bine, estavam presentes no contingente militar os auxiliares do régulo Monjur do Gabu, foi atacada a povoação de Bine, seguiram-se novas operações com mais auxiliares e ocupou-se Ambene e In-Hoda; houve depois operações em Meneque e Bane, seguiram-se operações em Canhabaque, o relatório refere a composição das colunas e a natureza do comando, e faz-se o histórico da operação a partir de 1 de maio, na marcha rompeu um nutrido fogo de longa sobre a coluna, Vellez Caroço acompanhado por um médico, Sant’Ana Barreto, dirigiram-se para a linha de fogo, foi uma hora de tiroteio e levou-se o inimigo de vencida, mas os rebeldes contra-atacaram, sendo repelidos, isto passou-se em Meneque, no dia seguinte as operações prosseguiram para Bane, mais tiroteio, os rebeldes fugiram; a 3 de maio, saiu uma coluna de Meneque em direção a Indena; mais fogo, as nossas tropas tiveram baixas, mas reagiram com firmeza, no fim do combate foi indiscritível a alegria de todo; enfim, a 12 dava-se ordem para a ocupação definitiva e no dia seguinte iniciou-se a evacuação dos auxiliares.

No resumo final, o governador refere que tivemos 22 mortos e 74 feridos. “A resistência foi tenaz. O estado de indisciplina era mais profundo. A propaganda dos comerciantes ambulantes, criaturas desonestas e sem noções de patriotismo e deveres cívicos, foi persistente e por largos anos exercido impunemente. Estou convencido de que acabou agora o seu reinado e ai daquele que for apanhado a permutar armas e pólvora com o indígena! Seja tudo Pró-Pátria!” O documento prossegue com um longo rol de louvores abarcando as forças intervenientes, de terra e mar, e mesmo louvado o médico pelo seu comportamento de destemor e bravura.

O ano de 1926 será vivido por Vellez Caroço com inúmeras inquietações no plano financeiro, há falta de dinheiro para pagar aos funcionários da administração, é grande o contencioso entre o Governo e o BNU, Vellez Caroço não se cansa de reclamar medidas enérgicas ao ministro das Colónias, no final do ano este governador é pura e simplesmente demitido.

Veremos com mais detalhe as situações por ele vividas no próximo texto. Já não se vivia na I República, era o Governo da Ditadura Militar.

Imagens publicadas na revista Ilustração Portuguesa, n.º 124, de 6 de junho de 1908, tem a ver com as operações militares no Cuor, fotografias de José Henriques de Mello, o primeiro fotógrafo militar português, estas operações no Cuor foram comandadas por Oliveira Muzanty, governador da Guiné, nunca até então a Guiné conhecera um contingente militar tão grande de tropa vinda da Metrópole e de Moçambique, marcou a derrota de Infali Soncó e Abdul Indjai recebeu como prémio o regulado, revelou-se um patife de todo o tamanho.
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Nota do editor

Último post da série de 11 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26908: Historiografia da presença portuguesa em África (485): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1924 a 1925, continuamos na era do governador Vellez Caroço (39) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26746: Historiografia da presença portuguesa em África (479): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1915 e 1916 (33) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Sai o governador Josué de Oliveira Duque, entra o governador José António Andrade Sequeira, é um regresso à Guiné, em breve irão sentir-se as consequências da Primeira Guerra Mundial, tudo se agrava com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal. O Boletim Official tem que ser passado a pente fino para encontrar matérias de algum suco no meio de tanto tédio administrativo. É assim que ficamos a saber que é recusada ao capitão Teixeira Pinto uma verba que em princípio ele teria direito, os acusados de terem incitado a insurreição dos Papéis e Grumetes da ilha de Bissau são amnistiados, bem queriam ser julgados para contar a verdade dos acontecimentos, todos eles ligado à Liga Guineense, que foi dissolvida, chamaram um advogado de prestígio, Loff de Vasconcelos, que irá escrever uma catilinária a arrasar os depoimentos de Teixeira Pinto, revelando as barbaridades e pilhagens feitas pelos irregulares do chefe de guerra Abdul Indjai. E há um belo documento emanado pelo comando militar dos Manjacos, tenente António Maria, vem publicado no Boletim Official n.º 30, de 22 de julho de 1916, belíssima peça.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1915 e 1916 (33)


Mário Beja Santos

Após as campanhas de Teixeira Pinto, o governador Josué de Oliveira Duque tem por fim do seu mandato, fica como encarregado do Governo o secretário-geral Sebastião José Barbosa, isto a 24 de agosto, dois dias depois toma posse alguém que regressa ao Governo, José de Andrade Sequeira, consta no Boletim Oficial n.º 35, de 28 de agosto. Nesse mesmo Boletim Official vem publicado o termo de posse dado ao Sr. Dr. José António de Andrade Sequeira, estão presentes as figuras gradas, o secretário-geral e Encarregado do Governo, a Comissão Municipal, magistrados judiciais, funcionários civis militares, corpo consular, corpo comercial e os mirones do costume.

No Boletim Oficial n.º 40, de 2 de outubro, vem publicada uma decisão da Direção-Geral da Fazenda das Colónias que envolve Teixeira Pinto, tinha sido pedida autorização para o abonar com a percentagem que lhe cabia sobre o imposto de palhota referente a 1914, na importância de 19.950$50, isto por ocasião em que batera os Manjacos e Balantas que se tinham sublevado. Ora o Ministro das Colónias indeferiu não haver portaria que desse ao Capitão Teixeira Pinto as atribuições dos direitos de administrador de circunscrição: “O mencionado capitão Teixeira Pinto não tem direito ao abono da referida percentagem, e que é por meio de recompensa honorífica que se devem galardoar, caso não tenham ainda sido premiados, os bons serviços que durante as operações o referido oficial haja prestado.”

Ficamos a saber através do Boletim Oficial n.º 41, de 9 de outubro, que tinham sido aprovados os estatutos do clube de Bolama, destinado a promover a convivência dos seus associados, proporcionando-lhes todas as distrações e divertimentos compatíveis com os seus recursos, como jogos lícitos, desportivos, leituras, palestras, música, soirées e récitas.

Voltamos a saber que há tensões, sublevações e insubmissões no Boletim Oficial n.º 44, de 30 de outubro, reza o seguinte que manda escrever o governador Andrade Sequeira:
“Sendo a região dos Balantas uma as mais insubmissas desta província;
Considerando que, pela organização social dos Balantas, só uma efetiva e conveniente ocupação militar, de tropas regulares, poderá levar esses povos ao respeito pela soberania nacional, integrando-os na nossa civilização;
Considerando que, assim, se faz sentir a necessidade de uma ação militar persistente e duradoura, que só se pode obter instituindo todo o território dos Balantas num comando militar;
Hei por conveniente desanexar das circunscrições respetivas toda a região dos Balantas e nomear seu comandante militar o Capitão de Infantaria Manuel Correia Dias, que acumulará as suas funções com as de comandante da 1.ª companhia.
Para efeitos desta portaria ficam sujeitos ao comandante militar dos Balantas todos os territórios da região Balanta que, até hoje, estavam sob as jurisdições dos comandantes militares de Bissorã, Porto Mansoa, Nhacra e Goli.”


O problema das armas e munições ir-se-á pôr durante este período e até ao conflito da Primeira Guerra Mundial. Veja o que se escreve no Boletim Oficial n.º 48, de 27 de novembro:
“Atendendo ao que me tem sido representado por vários comerciantes e indígenas, pedindo para se permitir a venda de espingardas ordinárias;
Considerando que a quase totalidade dos povos da Guiné tem por costume, uso e tradição, fazer largo dispêndio de pólvora, que consomem disparando tiros sempre que se trata de cerimónias fúnebres e outras solenidades;
Considerando que a abundância de animais ferozes, especialmente onças, jacarés e lobos, tem originado a perda de muito gado e até recentemente alcateias os últimos animais atacaram e feriram gravemente muitos indígenas da circunscrição de Geba;
Considerando que estando a província inteiramente pacificada não há o menor inconveniente, e antes toda a vantagem em permitir o uso e porte de espingardas ordinárias, cuja venda tem sido normalmente e sem restrições autorizada;
Hei por conveniente autorizar a venda de espingardas de pedreneira e espoleta nas seguintes condições:
Os comerciantes que para tal estiverem autorizados poderão ter nos seus estabelecimentos as espingardas que importarem e que ficarão relacionadas no Depósito de Material de Guerra.
As armas só serão vendidas aos indígenas que possuírem licença para as adquirir, licença que só poderá ser concedida pelos administradores de circunscrição e comandantes militares de territórios desanexados aos indivíduos que estiverem sob as suas respetivas jurisdições.”


E nesta portaria eram mencionadas diferentes formulações para obter licença, definindo os respetivos custos.

Assim chegamos a 1916. No Boletim Oficial n.º 10, de 10 de março, é anunciado que pelas 18 horas fora declarada guerra entre a Alemanha e Portugal. No Boletim Oficial n.º 17, de 22 de abril, surgem dois anúncios que desprovidos de qualquer comentário não dão para entender a sua substância. Há primeiro um agradecimento dos signatários, presos políticos, implicados na chamada rebelião de Bissau, e que tinham sido amnistiados, atos que eles não tinham pedido, o que tinham pedido era ser julgados, e agradeciam a todos os seus amigos e a outras individualidades que tinham patenteado sempre o maior interesse e simpatia pela sua justa causa. Assinavam António dos Santos Teixeira, Augusto Domingos da Costa, Vítor Francisco Robalo, Manuel Gomes Barbosa, Raimundo Ledo Pontes, Manuel Carvalho de Alvarenga e Lourenço Gomes.

Quem eram estes homens? Tinham sido considerados os incitadores da rebelião dos Papéis e Grumetes de Bissau, tinham escrito documentos acusatórios das pilhagens praticadas na ilha de Bissau pelas gentes de Abdul Indjai, o que tinha levado ao protesto do capitão Teixeira Pinto. Estes homens eram dirigentes da Liga Guineense, que fora dissolvida, e tinham chamado para a sua defesa um advogado de prestígio, com escritório em Cabo Verde, Loff de Vasconcelos, autor do segundo anúncio em que diz:
“Anuncia, para os devidos efeitos, que tendo acabado de cumprir a missão que o tinha trazido a esta colónia, contava retirar-se neste mês para Lisboa; como, porém, surgiu um incidente, que desejava liquidar, resolveu continuar manter aqui aberto o seu escritório, definitivamente, e assim oferece ao público os seus serviços permanentes.”


Loff de Vasconcelos irá escrever um texto arrasador, onde procura demolir ponto por ponto as acusações que tinham caído sobre estes comerciantes de serem instigadores da rebelião dos Papéis e Grumetes.

Documento que não deixa de se revelar muito interessante é o relatório escrito pelo tenente António Maria em Canchungo, em 15 de maio de 1916 e transcrito no Boletim Oficial n.º 30, de 22 de julho, é longo, transcrevem-se alguns parágrafos:
“Por toda a parte me diziam que ia encontrar em Basserel um posto muito bonito, já construído e 200 auxiliares, do que havia de melhor. Do posto nada existia, os bons auxiliares quando foram chamados para auxiliar o desembarque de alguns materiais e géneros, recusaram-se.
Fui alojado, com os dez soldados que trouxe, na tabanca dos irregulares, em algumas palhotas dos que andavam por fora, ficando os soldados em três e eu numa, que também servia de arrecadação do material de guerra e demais artigos.”


“O posto começou a construir-se com a exígua guarnição de dez soldados, sem ter recursos alguns. Era preciso chamar o gentio ao nosso convívio e obrigá-lo a entregar as armas e apagar o imposto e ainda a conter a onda desenfreada dos irregulares. Metodicamente vou conseguindo alguma coisa. O gentio, em pequena quantidade, vem ajudar-me no corte do mato.”

“Ao mesmo tempo trabalhava-se na construção do posto de Caió e estradas, sem desprezar a política indígena, atraindo o gentio. Fiz um mercado próximo do posto de Basserel, onde as mulheres começam a ir, protegidas por um europeu contra qualquer extorsão dos irregulares e assim vou pondo termo à fuga de mais gente, principiando a regressar os que tinham fugido.”

“Usei sempre de toda a prudência, inspirando o meu procedimento na mais elevada compreensão da justiça, para manter entre eles o prestígio da autoridade.
Tratei sempre os indígenas com bons modos e boas palavras, a fim de manter o amor e respeito do nome português, sem, contudo, abandonar a firmeza e energia para com os desobedientes.
As obras feitas foram: construção e reconstrução do posto de Basserel; construção do posto de Caió; construção da casa do comando e habitação do sargento em Canchungo; melhoramentos no posto de Xuruberique; rede de estradas em toda a região ligando o Jol e Brames; construção de pontes em Basserel, Jata e Caió, aonde podem atracar lanchas e pequenos vapores; pontes pelo interior e canoas nos rios aonde se não puderam fazer pontes para não impedir a navegação, etc. etc.”


Dá conta da cobrança de imposto de palhota, da receita administrativa, das despesas e o saldo que entregou ao seu sucessor. Julga ter servido a contento, se não de todos, pelo menos da maior parte.

Criou alguns inimigos, fundamentalmente irregulares, teve bons e maus auxiliares nos seus subordinados e indica o nome de alguns em que se pode depositar a máxima confiança, pelo que os recomenda ao governador.

Já estamos em guerra, vamos agora conhecer as medidas restritivas, os bens alemães estão arrestados, há proibições de exportação de géneros e de mercadorias, a Guiné vai conhecer as suas provações decorrentes da guerra.


O automóvel Ford chegou à Guiné, 1910
Uma montanha de amendoim, 1910

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 23 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26718: Historiografia da presença portuguesa em África (478): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26718: Historiografia da presença portuguesa em África (478): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Começou em agosto a Primeira Guerra Mundial, houve que acautelar os abastecimentos; estamos ainda no rescaldo da campanha no Oio, em 1915 Teixeira Pinto e Abdul Indjai recebem instruções de Josué Oliveira Duque para submeter Papéis e Grumetes de Bissau, Teixeira Pinto à frente de um pelotão de 30 praças indígenas e Abdul Indjai com 1500 irregulares; é dissolvida a Liga Guineense, acusada de estar ao lado da permanente hostilidade dos indígenas de Bissau e de não satisfazer os fins para que fora fundada, matéria que tem feito correr muita água, não esquecer a defesa feita pelo advogado Loff de Vasconcelos, que escreveu a denúncia de que os irregulares de Abdul Indjai saqueavam as empresas, uma devastação que deixou profundas marcas na ilha de Bissau. Às vezes interrogo-me se alguma vez iremos saber a verdade do que foi o procedimento da Liga Guineense e se não foi nestas operações da ilha de Bissau que Abdul Indjai se passou a considerar inatacável na prática das suas rapinas, que irá repetir no Oio, onde será preso e depois exilado em Cabo Verde.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32)

Mário Beja Santos

O governador é Josué de Oliveira Duque, manda transcrever no Boletim Oficial n.º 34, de 22 de agosto, o acervo de louvores pelas operações contra os Balantas insubmissos, organizara-se em 14 de abril uma coluna de comando do capitão João Teixeira Pinto. Ele agora é louvado nos seguintes termos: “Pelo inexcedível zelo e proficiência com que se houve na organização da coluna constituída com os pequenos recursos da província, e pela extraordinária coragem, patriotismo e abnegação, que revelou em todas as fases das operações, que constituíram, por assim dizer, um ininterrupto combate, sem tréguas, contra um inimigo valente e traiçoeiro, sempre com notável desproporção de forças, tanto mais notável que a coluna era composta, na sua quase totalidade, de elementos indígenas irregulares.” São também louvados os 2.ºs Tenentes da Armada Artur Arnaldo do Nascimento Gomes e Raúl Queimado de Sousa, respetivamente comandantes das lanchas canhoneiras Zagaia e Flecha; mas também vários sargentos e, curiosamente, é também louvado o administrador de Bissau, Vergílio Acácio Cardoso, pela muita coragem que mostrou durante o ataque ao posto militar de Bula, onde acidentalmente se encontrava; e não deixa de ser significativo a extensão do louvor a Abdul Indjai, “pela extrema ousadia e coragem que revelou durante as operações, coadjuvando, com os auxiliares sob a sua direção, o comando da coluna tão eficazmente que, segundo opinião do mesmo comandante, lhe deve, em grande parte, o bom êxito das operações”; em portaria complementar são louvados um primeiro artilheiro e um segundo fogueiro.

No Boletim Oficial n.º 36, de 5 de setembro, o governador impões restrições à venda de pólvora e armas, refere que fora proibida a sua venda por ponderosos motivos de ordem pública, atendendo que era de justiça que as casas comerciais não deviam manter por mais tempo tal proibição ou tal restrição, mas que se impunha cuidado e parcimónia nas suas vendas, e com restrições, determinava: até nova ordem era proibida no território da província a importação de armas e pólvora de comércio; mantida a proibição de venda de armas de comércio; a pólvora só podia se vendida nas localidades sede de administrações de circunscrições civis ou de comandos militares; a venda só podia ser feita em indivíduos munidos de uma licença de compra passada e assinada pelo administrador de circunscrição ou comandante militar.

O ministro das Colónias, Alfredo Augusto Lisboa de Lima entendeu publicar um louvor envolvendo o antigo governador, 1.º Tenente, Carlos de Almeida Pereira, nos seguintes termos: “Tendo sido levada a efeito na província da Guiné, em 1913, a ocupação da região do Oio, de longa data e submissa, apenas com os diminutos recursos militares da província, empresa esta que a muito se afigurava de impossível realização, pela resistência a opor pelo gentio, e sendo certo que para se atingir tal objetivo muito contribuiu a boa orientação que à administração da referida província soube imprimir o ex-Governador Carlos Pereira, porquanto, sem descurar os outros ramos da administração lhe mereceu especiais cuidados a ocupação militar da província, de que resultou, não só o alargamento da nossa soberania, mas ainda o aumento considerável das respetivas receitas, que a seu turno lhe permite o mais largo progredimento da mesma colónia: manda o Governo da República Portuguesa louvar o referido oficial pelos serviços que prestou pelo governador daquela colónia, demonstrados na inteligente, perseverante e dedicada atenção que prestou aos diferentes ramos da administração, tendo tido especial relevo, pelos brilhantes resultados obtidos, a ação que exerceu promovendo o alargamento da nossa autoridade em regiões, até então hostis, por uma cuidada e eficaz operação militar.”

O início da Primeira Guerra Mundial exigiu a tomada de medidas que zelassem pelo abastecimento de cada uma das províncias. No suplemento ao Boletim Oficial n.º 43, de 30 de outubro, o Governo publica a Portaria n.º 323, nos seguintes termos:
“Usando as atribuições conferidas pelo decreto de 3 de agosto último;
Hei por conveniente determinar:
1ª – Fica proibida a exportação da província da Guiné para países estrangeiros de géneros alimentícios, gados e combustíveis;
2º - Fica igualmente proibida e reexportação de açúcar importado das províncias de Angola, Moçambique e Cabo Verde.”


E assim chegámos a 1915, depois de uma longa monotonia de preceitos administrativos, encontra-se no Boletim n.º 34, de 21 de agosto, referência a nova insubmissão, desta feia em Bissau. Manda publicar Oliveira Duque a seguinte portaria:
“Tendo-se tentado, por meios suasórios, chamar ao convívio da civilização e à subordinação ao Governo os indígenas da ilha de Bissau, impondo-se-lhes apenas a entrega de armas em seu poder e o pagamento do imposto de palhota e até mesmo só esta última condição;
Tendo-se ultimamente tentado fazer o arrolamento, o que não permitiram em grande parte da ilha;
Não tendo pago a maior parte das povoações arroladas pagando apenas uma parte do imposto três dessas povoações;
Sendo frequentes os desacatos feitos na povoação a soldados da guarnição, e cada vez mais acentuadas as provas de desrespeito para com a nossa soberania, o que constitui uma situação que sem risco da nossa dignidade e até do sucesso público, não pode nem deve continuar;
Hei por conveniente determinar:
1.º Que seja organizada uma coluna de operações para submeter os indígenas rebeldes da ilha de Bissau com a seguinte designação: ‘Coluna de operações contra os Papéis e Grumetes revoltados da ilha de Bissau’, sob o comando do chefe do Estado-Maior, capitão João Teixeira Pinto;
2.º Que a constituição da coluna seja a seguinte: comandante, um pelotão de 30 praças indígenas da 2ª companhia indígena, um corneteiro e dois segundos sargentos, sob o comando do tenente de Infantaria Henrique Alberto de Sousa Guerra; uma metralhadora Hotckiss 6mm com dois soldados europeus e dois indígenas; serviço de saúde tendo à frente o capitão-médico Francisco Regala; 1500 irregulares compreendendo 200 cavaleiros sob as ordens do chefe de guerra Abdul Indjai, tenente de 2ª linha, tendo como imediato o alferes de 2.ª linha Mamadu Sissé.”

A composição da coluna incluía ainda duas lanchas canhoneiras, lanchas da capitania, etc.

Segue-se o teor da portaria n.º 296, ainda do Boletim Oficial n.º 34, de 21 de agosto:
“Pelas averiguações a que se tem procedido sobre as circunstâncias que motivaram o estado da permanente hostilidade por parte dos indígenas de Bissau, e que determinaram as operações acabadas de efetuar, vê-se que nesse estado teve uma principal, quase única influência, a Liga Guineense, com sede na vila de Bissau e estatutos aprovados em 24 de julho de 1911.
Considerando que a mesma associação não satisfez a nenhum dos fins para que se tinha fundado, pois que não fez propaganda de instrução, e se fundou uma escola, de há muito tempo que se acha fechada; não trabalhou nunca para o progresso da província, antes por todas as formas o entravou, e nem se coaduna esse desejo de progresso com o estado de guerra, que poderia ter evitado, e até ao contrário instigou:
Hei por conveniente dissolver a mencionada Liga Guineense, cuja existência tem sido inconveniente para o progresso da província, talvez por ter determinado os seus atos apenas a intenção de ser útil aos seus consócios, pondo de parte por completo os interesses da província.”

Composição da coluna de operações no Oio, comanda João Teixeira Pinto e regista-se a presença do tenente de 2.ª linha Abdul Indjai
Relação do oficial e praças que prestaram serviço no posto militar de Mansoa de 5 de fevereiro a 2 de julho de 1914
A compra de ratos vivos ou mortos
A clara predisposição, em novembro de 1914, de intervir, dá-se como pretexto os deveres com Inglaterra

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 16 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26694: Historiografia da presença portuguesa em África (477): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1913 e 1914 (31) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26506: Historiografia da presença portuguesa em África (467): "Campanhas de pacificação": contra os papéis e os grumetes, Bissau, 1915 - Parte II ("Ilustração Portuguesa", 2.ª série, n.º 514, 27 de dezembro 1915, páqg. 806)

 

Foto nº 1 > Guiné > Bissau >  1915 > "Salva de artilharia dada na fortaleza da Amura. O edifício ao fundo é o do comando militar".



Foto nº 2 > Guiné > Bissau >  1915 >  "Os oficiais que fizeram parte da coluna. Da esquerda para a direita: os srs. segundo tenente da marinha Queimado de Sousa, capitão médico R. Augusto Regala, capitão de infantaria Teixeira Pinto, segundo tenente da marinha José Francisco Monteiro, tenente de infantaria Henrique de Sousa Guerra" (há um erro no nome do capitão médico, Francisco Augusto da Fonseca Regala)


Foto nº 3 > Guiné > s/l (Bissau ) > s/d  (c.1915) > "O tenente de segunda linha,  régulo Madoul-N'djou" (erro no nome, era mais conhecido por Abdul Injai ou Indjai, ou Abdoul Ndaiye, de etnia uolofe, nascido em Ziguinchor, hoje Senegal).


Foto nº 2 > Bissau > 1915 > "O senhor cpitão Teixeira Pinto que comandou a coluna de operações contra os papéis e  grumetes e mais revoltados da ilha de Bissau" (referência aos portugueses reunidos na Liga da Guiné, mas também comerciantes estrangeiros)

1. Notícia da "Ilustração Portuguesa", Lisboa,  27/12/1915:

A Campanha de Bissau

Foi um triunfo para as armas portuguesas a vitória alcançada na África contra os 'papéis0, que desde longa data vinham causando graves prejuízos à nossa soberania.

A lenda de que essa raça era invencível está, felizmente, posta de parte, sendo preciso agira fazer ver aos 'grumetes', almas danadas dos 'papéis0, que Portugal quer restabelecer ali a obediência às suas autoridades, o que fará, custe o que custar,



Diretor: J. J. da Silva Graça; Propriedade: J.J. da Silva Graça, Lda; Ed lit. José Joubert Chaves. 

(Cortesia de Hemeroteca Municipal / Càmara Municipal de Lisboa; é de reconhecer publicamente o extraordinário trabalho dã Hemeroteca Municipal de Lisboa, em termos de arquivo, tratamento, digitalização e divulgação destes periódicos centenários, cujo conteúdo merece ser conhecido pelos nossos leitores, antigos combatentes na Guiné, 1961/74).

 
(Seleção, revisão / fixação de texto, edição e legendagem das fotos: LG)



Guiné > Bissau > s/d  [c. 1960] > Monumento a Teixeira Pinto  no Alto do Crim < Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, nº 112. (Edição Foto Serra, C.P. 239,  Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte, SARL)... 

(Teixeira Pinto, o "capitão-diabo",. tem 90 referências no nosso blogue; esta estátua foi derrubada a seguir à independência e levada para o forte do Cacheu).

Colecção de postais ilustrados do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.Selecção dos postais,  digitalização, edição de imagem e legendagam: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)



2. Excerto de Carlos Bessa - Guiné. Das feitorias isoladas ao 'enclave' unificado. In: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, ed. lit - Nova Históriaa Militar de Portugal. Vol. 3. S/l: Círculo de Leitores. 2004. 257-270.


(...) A Liga Guineense não parou de atacar Teixeira Pinto e o seu auxiliar Abdul Injai, mas o governador Oliveira Duque não lhe retirou o apoio. A 13 de maio de 1915 foi decretado o estado de sítio na ilha de Bissau e iniciou-se a campanha contra os papéis. 

Desta vez Teixeira Pinto aceitou a colaboração de um oficial, o tenente Sousa Guerra. Concentrou em Nhacra forte  coluna que entrou em Bissau a 1 de junho. Nesse dia, porém,  os irregulares foram atacados em Antim, fugindo aos milhares. Mas o ataque dos papéis e grumetes contra a cidade foi detido e evitou-se o massacre.

No dia dia 5, após violenta preparação de artilharia contra Bandim e Antim, Teixeira Pinto ocupou aquelas colinas, mas a 7 os papéis e grumetes refizeram-se e atacaram o acampamento.

Após nova preparação de artilharia, a coluna apoderou-se de Antula,a inexpugnável, sem resistência, a 10 de junho.

Com grandce perícia seguiu-se a  penetração nas aldeias, sendo Teixeira Pinto ferido e substituído por Sousa Guerra. As negociações de rendição com os papéis fracassaram e a conquista de Quinhanel abriu a pista para o Biombo no extremo da ilha, onde terminou a campanha após uma armadilha do régulo Cassande, que simulou uma rendição e disparou, mas veio a ser abatido e a prisão do régulo do Biombo  e a a rendição do de Tor.

Teixeira  Pinto mandou construir quatro postos militares: Bor, Bijemita, Safim e Biombo.

A Guiné estava pacificada e, mais do que isso, ficava unificado o "enclave" que os Franceses sempre esperaram vir um dia a pertencer-lhes, fomentando para isso a hostilidade dos guineenses, como vimos. 

A coluna foi dissolvida em 17 de agosto de 1915. Teixeira Pintio bem mereceu, portanto, a estátua  lhe foi erguida  numa das colinas de Bissau por ele conquistada. Tal só aconteceu pela sua energia excecional, determinação e raro conhecimento do modo de ser dos nativos, que permitiu dominá-los por vias apropriadas e pouco acessíveis  à guerra clássica" (Bessa, 2004, op cit, pp. 269/270),

(Seleção, revisão / fixação de texto, edição: LG)


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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26503: Historiografia da presença portuguesa em África (466): "Campanhas de pacificação": contra os papéis e os grumetes, Bissau, 1915 - Parte I ("Ilustração Portuguesa", 2.ª série, n.º 502, 4 de Outubro de 1915, pp. 447/448)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26503: Historiografia da presença portuguesa em África (466): "Campanhas de pacificação": contra os papéis e os grumetes, Bissau, 1915 - Parte I ("Ilustração Portuguesa", 2.ª série, n.º 502, 4 de Outubro de 1915, pp. 447/448)

 

Foto nº 5 > Guiné > s/l (Nhacra,  donde partiu a coluna que entrou em Bissau a 3 de junho ou) > 1915 > Ao centro, o Abdul [Injai], "chefe de guerra" (1); e à esquerda, "o capitão [médico], sr. Francisco Regala", de chapéu  e bigode (2)... Em primeiro plano, quatro músicos, três dos quais tocadores de cora (cujo papel deveria ser o de galvanizar os combatentes, irregulares, sob a chefia do Abdul Injai). (A numeração dos combatentes é da responsabilidade da revista, "Ilustração Portuguesa").


Foto nº 4A  > Guiné > s/l (Nhacra, donde partiu a coluna para atacar Bissau) > 1915 > Partida para a guerra contra os papéis e grumetes da ilha de  Bissau: os oficiais da coluna; o capitão de infantaria Teixeira Pinto, à esquerda (1); o capitão médico Francisco Regala, ao centro (2); e à direita, o segundo tenente de marinha, José Francisco  Monteiro (3).


Foto nº 4 ...Faltam aqui mais dois oficiais: segundo tenente da marinha Queimado de Sousa e ten inf Henrique de Sousa Guerra. De se



Foto nº 6 > Guiné > s/l  (Nhacra) > 1915 > Aparelhando os cavalos para a partida da coluna.


Foto nº 7 > Guiné > s/l (Nhacra) > 1915 > Partida de um grupo de irregulares que vão juntar-se às restantes forças.


Foto nº 1 > Guiné > s/l> 1915 > O veleiro Luso, transportando as forças irregulares que vieram combater os 'papéis'.

Foto nº  2 >  Guiné > s/l (Nhacra) > A coluna preparando-se para partir para a guerra.  


1. A propósito das "campanhas de pacificação" (um eufemismo...) (*),  reproduzimos aqui um pequeno texto e fotos das operações  de 1915 (13 de maio / 17 de agosto), contra os papéis e os grumetes da ilha de Bissau (apoiados direta ou indiretamente pelos franceses que nunca viram com bons olhos aquele "enclave" português na grande África ocidental francesa), operações em que participaram, entre outros, o cap inf Teixeira Pinto, o cap médico Francisco Regala, o tenente da marinha José  Francisco Monteiro, e o cap inf Sousa Guerra,  e o chefe das tropas auxiliares,  Abdul Injai (, de etnia Uolofe, nascido em Casamansa, hpoje Senegal.


"Para as as tropas portuguesas que operam na Guiné tem sido assaz trabalhosa a sua campanha contra o gentio que estrangeiros e portugueses desnaturados e antipatriotas têm açulado contra a nossa soberania.

Mas,apesar das rudes marchas por terrenos empestados, não afrouxou o ardor dos nossos soldados que parece animarem-se ainda mais quanto maiores forem os perigos a que se expõem.

A insubmissa ordem dos 'papéis' tem sentido os resultados da sua rebeldia  no castigo eficacíssimo que as nossas tropas lhes têm aplicado, obrigando-os a uma pacificação tão desejada para aquela nossa colónia que, apesar de insalubre, possui uma agricultura invejável pela sua enorme riqueza.

A campanha continua ainda muito acesa em vários pontos, mas espera-se, pelos reforços que para lá têm sido enviados, que dentro em breve as tropas portuguesas dominem a região, o que decerto constituirá mais  uma brilhante  vitória para o prestígio nacional".

Fonte: "Ilustração Portuguesa".   2.ª série, n.º 502, 4 de Outubro de 1915, pp. 447/448.  Diretor: J. J. da Silva Graça; Propriedade: J.J. da Silva Graça, Lda; Ed lit. José Joubert Chaves. 

(Cortesia de Hemeroteca Municipal / Càmara Municipal de Lisboa; é de reconhecer publicamente o extraordinário trabalho dã Hemeroteca Municipal de Lisboa, em termos de arquivo, tratamento, digitalização e divulgação destes periódicos centenários, cujo conteúdo merece ser conhecido pelos nossos leitores, antigos combatentes na Guiné, 1961/74).
 
 (Seleção, revisão / fixação de texto, edição e legendagem das fotos: LG)


2. A notícia é dada em outubro de 1915, já a campanha tinha terminado, em 17 de  agosto, com a vitória inequívoca do hábil e destemido cap inf Teixeira Pinto (a quem os guineenses hoje devem possivelmente o facto de terem um país que não foi engolido pelo colonialismo francês; hoje seria parte integrante do Senegal e/ou da Guiné-Conacri).

A "Ilustração Portuguesa" (fundada em 1903, com uma II série a partir de 1906) era uma edição semanal do jornal "O Século", republicano. Custava 10 centavos o número avulso  A assinatura anual era de 4$80 centavos (Portugal, colónias portuguesas e Espanha). 

Recorde-se que, com a proclamação da República (em 5 de outubro de 1910), o escudo (=1000 réis) passou a ser a nova moeda. Estava dividido em 100 centavos. 10 centavos eram portanto 100 réis. O escudo irá sofrer uma grande desvalorização com I Grande Guerra.

Foi a primeira publicação a fazer grande uso da fotografia, recorrendo não só a fotógrafos profissionais (como o Joshua Benoliel, o primeiro grande fotojornalista português), como amadores: muitas das fotos da I Grande Guerra e da guerra em África são dos próprios participantes no conflito (no caso destas fotos de Bissau, 1915, desconhece-se o seu autor).

Entretanto, e a propósito dos oficiais portugueses acima retratados, recorde-se o nome do cap médico Francisco Regala, já aqui referido no nosso blogue, por um seu bisneto (**), e nosso leitor:  Francisco Augusto Monteiro Regalla "combateu em 1915 na coluna de operações em Bissau" e fez parte, durante algum tempo, da guarnição da Fortaleza da Amura...  

Francisco Regala nasceu em Aveiro, em 1871, e morreu em 1937, com o posto de coronel médico. Foi autarca no Mindelo, São Vicente, onde está sepultado. Era uma figura muito querida dos mindelenses

Enfim, apontamentos sobre a  historiografia da presença portuguesa (nem sempre "pacífica"...) em África (***)...
  
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Notas do editor:


sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26445: Notas de leitura (1768): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, continuação dos acontecimentos em 1917-1919 (12) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Dezembro de 2024:

Queridos amigos,
Desde a governação interina de Manuel Maria Coelho, em 1917, até à chegada de Velez Caroço, em 1920, parece que a Guiné está a sofrer um enguiço, carências, desacatos, medidas de governação contraditórias, rebeliões, autos de vassalagem de curta duração, uma Carta Orgânica da Guiné, aprovada, depois revogada, depois reposta com emendas; de território Felupe aos Bijagós, não param as tensões. Parece que a Guiné é espelho do que se vive na metrópole, onde se sucedem os governos, há o golpe de Sidónio Pais, que acabará assassinado no final do ano de 1918. O pomo das grandes discórdias passa por Canhabaque, os Bijagós resistem, submetem-se e voltam a rebeliar-se; o major Ivo Ferreira, que sucedeu a Manuel Maria Coelho, não combate mas manda combater, mas chama a si o resultados, zanga-se com o encarregado do Governo, Josué d'Oliveira Duque volta à governação, sucede-lhe o capitão Sousa Guerra, os órgãos legislativos e administrativos estavam praticamente paralisados. Abdul Indjai é destituído de régulo do Oio, fez tantas e tão poucas que se tornou uma criatura insuportável. As coisas vão mudar de feição, chegou o tenente-coronel Velez Caroço, vai procurar pôr a casa em ordem, como vamos ver.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, continuação dos acontecimentos em 1917-1919 (12)

Mário Beja Santos

Não é demais insistir que este poderoso acervo documental organizado por Armando Tavares da Silva nos ajuda a compreender este período histórico da I República e que serve de excelente contraponto ao Boletim Official da Província da Guiné Portuguesa, no que este é omisso no campo sociopolítico económico e cultural. Voltemos a 1917, Manuel Maria Coelho foi exonerado e na mesma data foi nomeado o tenente-coronel Carlos Ivo de Sá Ferreira, este pretendeu nomear para secretário-geral o tão problemático Graça Falcão, o ministro das Colónias Ernesto de Vilhena opôs-se, quem veio para ocupar o cargo foi Sebastião Barbosa, uma presença regular na administração. O novo governador desloca-se a Canhabaque, faz alterações nos dois postos militares existentes, envolve-se depois na constituição de um comando militar em S. Domingos, mas o governador, face ao agravamento da situação dos Bijagós aqui regressa, é recebido a tiro no posto de Bini, irá nomear o alferes Alberto Soares para comandante do posto militar de In-Orei, quando este ali chega foi confrontado com uma epidemia de beribéri e um inimigo fortemente hostil. Quem com ele colabora é Abdul Indjai, há perdas num violento combate, só em dezembro os rebeldes vão desistir dos seus atos de guerra. Armando Tavares da Silva dá minuciosamente conta das operações dos Bijagós que levaram ao ato de vassalagem do povo de Canhabaque.

É Ivo Ferreira que eleva Bolama à categoria de cidade, aprova os estatutos de uma nova associação do tipo recreativo, o Club Fraternidade de Farim, manifesta-se interessado no projeto de um caminho de ferro partindo de Bolama, ou pelo menos S. João, seguindo por Bafatá até à fronteira norte. É neste intervalo de tempo que ocorre a revolução de 5 de dezembro de 1917, um golpe chefiado por Sidónio Pais, forma-se uma junta revolucionária, a pasta das Colónias passa para Tamagnini Barbosa. Ivo Ferreira fará uma extensa visita a vários pontos do interior, fica como encarregado do Governo o coronel Guedes Quinhones, Ivo Ferreira demora-se na região do Geba pela necessidade de resolver várias questões da política indígena, caso do régulo Monjur, do Gabu, e Abdul Indjai, do Cuor. Entendeu-se dividir o território de Geba em pequenos regulados e destituir Abdul Indjai do Cuor. Regressado a Bolama, o governador envolve-se em atritos com Guedes Quinhones. Entretanto, o novo ministro das Colónias nomeou novo governador o coronel Josué d’Oliveira Duque. O autor observa a situação problemática vivida:
“Tinha sido atribulada e sinuosa a presença de Ivo Ferreira na Guiné. Sobrepusera-se e ultrapassara no tempo a governação interina de Manuel Maria Coelho, e correspondera a um período de quase dois anos em que o governador efetivo, Andrade Sequeira, se mantivera em Lisboa, sem ser demitido e sem mesmo pedir a demissão. Como resultado primeiro da sua governação, Ivo Ferreira, que não tomara parte em qualquer operação militar, ufanava-se, com a ocupação de Canhabaque, de ter conseguido a pacificação completa da Guiné. Mas teria esta, de facto, sido atingida?”

Oliveira Duque chega à província, um decreto revogou a Carta Orgânica da Guiné, são tomadas disposições legais para a vida administrativa e financeira da colónia. Em outubro de 1918 realiza-se uma operação contra os Felupes de Varela; são tempos de uma apreciável concessão de terrenos, assiste-se a um crescente aumento da população de Bissau, devido à afluência de numerosas companhias nacionais e estrangeiras, o que motiva o novo ciclo de urbanização de Bissau. A agitação continua em Portugal, culmina com o assassinato de Sidónio Pais em dezembro de 1918. Tamagnini Barbosa para a presidente do ministério, afasta da Guiné Oliveira Duque, virá a ser nomeado governador Sousa Guerra, capitão de Infantaria.

Um dos acontecimentos mais marcantes de 1919 é a campanha contra Abdul Indjai, sucediam-se as queixas pelas suas extorsões, raptos, pilhagens descaradas. Desde a chegada de Oliveira Duque que era reconhecida a inconveniência de Abdul Indjai continuar no regulado do Oio, segue-se um período de elevada tensão que o autor descreve ao pormenor, seguir-se-á a deportação de Abdul para Cabo Verde, daqui o antigo régulo do Oio fará exposições ao ministro das Colónias, irá morrer na cidade da Praia, em junho de 1921. Também em 1919 é declarada em vigor a Carta Orgânica da Guiné, mas com alterações, nomeadamente tendentes a restringir a possibilidade de os governadores alterarem as Cartas Orgânicas.

Não obstante a contínua sucessão de Governos na metrópole, Sousa Guerra mantém-se no Governo da Guiné e manifesta a sua preocupação com o desenvolvimento, escrevendo mesmo ao ministro que devia ser feito o aproveitamento das riquezas da Guiné, fez propostas de criação de colónias agrícolas com o fim de repovoar o Rio Grande através de concessões gratuitas a colonos europeus e cabo-verdianos, e a demarcação de reservas territoriais para os indígenas, em regime de culturas obrigatórias, com prémios pecuniários e aquisição de reprodutores para melhoria da pecuária. Sousa Guerra também fez alteração da divisão administrativa. Face à carestia de vida aumentou os vencimentos do funcionalismo, os critérios não terão sido os melhores, houve greve, aumentaram as taxas fiscais, houve que fazer alterações ao orçamento, pensou-se mesmo em revogar as portarias que tinham alterado os vencimentos, depois de muitas peripécias a situação ficou esclarecida com a aprovação dos vencimentos dos funcionários. Sucedem-se os Governos na metrópole, negociantes e proprietários de Bissau enviam telegrama pedindo ao ministro que mantivesse Sousa Guerra no Governo da província, mas ele foi exonerado em novembro de 1920, Sebastião Barbosa volta novamente a ser Encarregado do Governo. Entrara-se num período ziguezagueante, a situação só ficará esclarecida em junho de 1921 com a nomeação do tenente-coronel de Infantaria Jorge Frederico Velez Caroço.

Como se fará referência a propósito do Boletim Official da Província da Guiné, Velez Caroço tem estratégia militar e administrativa, procurou pôr em funcionamento os órgãos legislativos e executivos da colónia, anulou várias nomeações que Sebastião Barbosa tinha feito para os Conselhos Legislativo e Executivo; começa a visitar o território, para se inteirar da situação nas principais circunscrições. Observa a autora: “Devem ter sido inúmeros, importantes e desagradáveis os conflitos que Velez Caroço veio encontrar entre o funcionalismo nos diversos locais que já visitara, pelo que se vê na necessidade de mandar publicar uma portaria em que lembra as palavras que tinha proferido no ato de posse. Nela afirmava que, admitindo conflitos entre os funcionários por diferenças de critério ou erradas apreciações dos atos de serviço, não tolerava o uso de uma linguagem despejada ou o emprego de termos injuriosos". E acrescentava que a correção e porte exigia ao funcionalismo era extensivo às relações sociais e ao convívio com as outras classes. Ficando clara a maneira como o governador encarava este problema de ordem, reafirmava que não se afastaria uma linha do cumprimento dos seus deveres, aplicando sem tergiversar o rigor dos regulamentos.

Armando Tavares da Silva
Tenente-coronel Velez Caroço
Abdul Indjai
Selos da Guiné Portuguesa de diferentes períodos
Guiné Portuguesa, aldeia Mancanha, bilhete-postal de 1910
Bissau, um trecho da Avenida, bilhete-postal, 1920
Rua General Bastos, Bissau, 1920

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 24 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26421: Notas de leitura (1766): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, os acontecimentos posteriores à campanha de Teixeira Pinto, 1917-1919 (11) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26432: Notas de leitura (1767): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (3) (Mário Beja Santos)