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terça-feira, 6 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25811: (De) Caras (216): "Da minha varanda continuo a ver o mundo" - II (e última) Parte (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)


Foto nº 11


Foto nº 12



Foto nº 13



Foto nº 14


Foto nº 15


Foto nº 16


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19



Foto nº 20


Foto nº 21

Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024> "Da minha varanda continuo a ver o mundo"...  São vizinhos do Valdemar que ele conhece e que estima, e que eles também o conhecem e estimam... E nenhum deles é identificável... São fotos tiradas ao longe e de perfil...

Mas podemos comentar: 
  • De como o telemóvel se tornou o novo grande órgão do corpo humano no séc. XXI... 
  • Ou de como estam0s todos a ficar autistas sociais... 
  • Ou de como a Rua de Coloride está mais bonita... e colorida;
  • Ou de com0 esta é a varanda do afeto contra a solidão...

Leitor: complementa a(s) legenda(s)... Mesmo que a imagem possa valer mais do que mil palavras...


Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Valdemar Queiroz: (i) minhoto de Afife, Viana do Castelo, por criação, lisboeta por eleição (ou necessidade, teve que se fazer à estrada e ir ganhar a vida, começando a trabalhar na idade da puberdade); 

(ii) ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70 (aqui por obrigação, em foto, tirada em Contuboel, 1969): 


(iv) estivemos juntos no CIM de Contuboel de 2 de junho a 18 de julho de 1969; 

(v) ele foi um dos instrutores da recruta das 100 praças do recrutamento local, que fomos receber para fazer a guerra, a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969 / março de 1971);  
(vi)  tem mais de 180 referências no nosso blogue, de que é um leitor e comentador assíduo; 

(vii) é portador de uma DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), 
que o impede saír à rua...



1. Mais umas "fotos" tiradas pelo telemóvel do Valdemar Queiroz, o mais famoso (e bem humorado e resiliente e apaixonado pela vida) fotógrafo da Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra...

(...) "Eu, agarrado a oxigénio, cá estou na minha varanda a ver passar a nova vizinhança de cabo- verdianos e guineenses e um ou outro dos antigos vizinhos já muito raros. Anexo umas fotos tiradas da varanda e ver os vizinhos passar." (*) (...)

 
Lembremos o que aqui escreveu, há um ano atrás, o Valdemar, a respeito do "bairro" ou "urbanização" onde mora desde o início dos anos 70 (**):

(...) Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente, na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente, vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas chapas apanhando pessoas descontraídas." (...)

(...) Os arruamentos, zonas verdes e prédios têm um bom aspecto devido tratar-se de propriedade horizontal a grande maioria e como tal havido uma boa conservação.

Os prédios nasceram em 1972/73, no caminho de uma vacaria e moinhos de vento, ainda quase todos para alugar, a receber casados de fresco vindos de Lisboa, com a estação dos comboios a 10 minutos, e a meia hora do Rossio.

Levou alguns anos a ficar tudo arranjadinho como agora se vê, e os novos habitantes, principalmente as mulheres, fazem grande motivo de vaidade por viver no 2.º andar, que até dá para estender a roupa a secar. E até me dizem 'o vizinho está melhor?' (...)


Valdemar Queiroz


2. O poste anterior teve já cerca de um quarteirão de comentários (*)... Selecionámos alguns:


(i) Eduardo Estrela (Cacela):


Obrigado, Valdemar,  pela partilha das fotos do mundo que a tua Rua de Colaride encerra. Daqui de Cacela vai um abraço fraterno acompanhado com uma malga de verde tinto. A imaginação e o querer fazem milagres e este brinde ninguém nos tira.

4 de agosto de 2024 às 09:20



(ii) João Crisóstomo (Nova Iorque):


"A imaginação e o querer fazem milagres e este brinde ninguém nos tira." diz e bem o Eduardo Estrela.

Há indivíduos que, mesmo no meio de grandes adversidades, qual ouro purificado no cadinho, nos espantam pela força da sua coragem que a todos serve de motivação e inspiração. Tu és um destes gigantes, um poderoso farol num mar imenso a espalhar luz a navegantes perdidos que têm a sorte de estarem dentro do teu radar.

É reconfortante verificar a admiração de todos, eu, o Luis Graça, o Eduardo... todos aqueles a quem os teus comentários, as tuas fotos, a tua vida impressionam de tal maneira que quase sentimos inveja pelas qualidades sobre-humanas de que dás provas cada dia.

Se um dia eu puder não deixarei de voltar à tua rua; e se um abraço real não for possível, quero pelo menos mesmo à distancia"beber" ( como ainda recenrenmente o papa Francisco dizia) da tua força e do teu legado.


Por este teu exemplo te estamos incomensuravelmente gratos.

4 de agosto de 2024 às 11:17


(iii) Antº Rosinha:

Aquelas plantas de jardim, quase parecem cajueiros. Tudo muito parecido com Bissau, para não esquecer o antigamente. Boa saúde.

4 de agosto de 2024 às 11:35


(iv) Carlos Vinhal:


O nosso mundo pode ser tão grande quanto a nossa imaginação permita.
Caro Valdemar, não podes ir ao mundo, vem o mundo até ti.
Continuação de boa disposição e a melhor saúde possível.
Um abraço do meio minhoto Carlos Vinhal

4 de agosto de 2024 às 11:5


(v) António José Pereira da Costa


Força, Valdemar! Tás a fotografar umas coisas em grande!

4 de agosto de 2024 às 13:42


(vi) Manuel Luís Lomba:

Aceita as minhas felicitações: não só superas a tua debilidade física, como demonstras a sua resiliência psíquica, à combatente: ainda vês o mundo e... ainda atentas nos seres humanos "de anca larga" - Eça de Queiroz dixit - e nas suas curvaturas anatómicas.

Obrigado pelo teu exemplo. Aquele abraço e sombra e frescura.

4 de agosto de 2024 às 13:57


(vii) Virgínio Briote:

Caro Valdemar!

Passei por aqui para te dar um abraço. Quando vi Afife, veio-me logo à lembrança Viana, Caminha, a magnífica Cerveira, Valença... que terras e que gentes, meu Deus!

Abraço e desejos de ver novas da tua rua.

4 de agosto de 2024 às 14:36

(viii) Abílio Duarte:


Espero que estejas bem, dentro do possível.

Eu quando falo com a família e amigos, sobre os meus tempos de exilio na Guiné, recordo somente os bons momentos que passamos. Principalmente Contuboel... a instrução aos fulas, as idas ao banho no Geba, os nossos almoços no Transmontano em Bafatá, e em Sonaco, os nossos mergulhos na piscina da dita. A nossa amizade, já ultrapassou mais de 5 décadas, e cá vamos andando.

4 de agosto de 2024 às 15:13

(ix) Fernando Ribeiro:

O nosso amigo Valdemar é como o poilão, que em Angola é chamado mafumeira. Suporta os mais violentos temporais, raios e coriscos, furacões e chuvas diluvianas, e mesmo assim permanece sempre de pé. Tal como o poilão, o Valdemar pode ficar com cicatrizes, como a sua horrível DPOC, mas enfrenta as adversidades com uma invejável disposição. Que nunca falte a seiva ao Valdemar.

4 de agosto de 2024 às 15:41


(x) Cherno Baldé (Bissau);

Caro Valdemar Embaló,


Eguê, a minha avó paterna, bem que dizia: "a velhice é uma m...da". Hoje estás confinado à tua janela, roendo lembranças de Gabu e da tua linda e educada lavadeira ou daquele improvável golpe de judó em Canquelifã contra o teu amigo Duarte. A vida sempre nos guarda surpresas, e agora passas o dia a fotografar passantes, sem saber se um deles será ou não originário de Piche ou Guiró-Iero-Bocar.

Vê lá se me envias o teu contacto, que eu recomendo ao meu sobrinho para uma visita surpresa pois Agualva Cacém e toda a linha de Sintra é uma região que já conquistamos aos Mouros do Ribatejo.

4 de agosto de 2024 às 16:32

(xi) Valdemar Queiroz:

Das minhas traseiras, 1º andar, ainda vejo o Palácio da Pena por cima de uns prédios, mas na parte mais alta desta zona, a cerca de cem metros temos uma vista extraordinário sobre todo a baixo Cacém e a Serra de Sintra. Alto de Colaride, mesmo à frente da minha varanda, faz parte do maciço da Serra da Carregueira.

4 de agosto de 2024 às 18:24


(xii) Joaquim Costa:

Tenho andado arredado das redes sociais, mas felizmente ainda vim a tempo de te dar um abraço. Ainda mantenho de pé a promessa de levar a montanha a Maomé! Os meu netos alfacinhas cada vez mais me arrastam para essa cidade grande. A minha casa, agora, é demasiado grande para uma pessoa só.


És uma força da natureza. Um grande abraço deste Minhoto que te estima.


(xiii) Carvalho de Mampatá:


Sou um 'piriquito' à tua beira (de 72/74) mas atrevo-me a falar contigo por esta via, para te dizer, graças ao nosso blog, como admiro a tua força e a força da mensagem que nos deixas. Vivo cá para cima, num recanto ainda rural de Gondomar, longe desse mundo da periferia de Lisboa cada vez mais rico na diversidade cultural que eu muito aprecio e que tu nos dás o prazer de registar com primor.

Um grande abraço com votos de que melhores dessa aborrecida DPOC.


4 de agosto de 2024 às 20:05

(xiv) Hélder Sousa:


Também, se me permites, aqui deixo um pequeno comentário, na senda do muito que se encontra nos antecedentes.

É de louvar a tua persistência em não te deixares dominar pelas dificuldades e conseguires encontrar motivos de ocupação, física e principalmente mental. É assim mesmo que se devem encarar e enfrentar as adversidades, pois só assim elas ficam reduzidas a uma menor dimensão.


Observar a "fauna humana" que circula pelas tuas redondezas (e também a flora...), acompanhado por raciocínios mais ou menos especulativos sobre os seus destinos, as suas vivências, anseios, dificuldades, etc. é um exercício que manterá os teu neurónios em funcionamento e não te deixarão "afundar".


Continua assim. É bom para ti e também para nós que sempre podemos usufruir dos teus comentários, da tua perspicácia e, porque não, da tua resposta pronta para "enquadramentos menos sérios",

4 de agosto de 2024 às 23:07


(xv) Paulo Santiago:


Grande resiliente. Abraço forte

5 de agosto de 2024 às 01:10


(xvi) Francisco Baptista:


Que a medicina te ajude e que continues a ter essa a resistência e vontade de viver que continuas a demonstrar. Bem sei que as tuas limitações são muitas mas tu tens inteligência e sabedoria para viveres com o pouco que a vida te proporciona.


5 de agosto de 2024 às 10:29


(Seleção, edição de fotos, revisão / fixação de texto: LG)

sábado, 29 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25701: Os nossos seres, saberes e lazeres (634): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Para falar francamente, não voltei a Belas só à cata dos fofos, a especialidade doceira da terra; depois da minha querida irmã ter sido vitimada por um AVC e viver num lar, procurava proporcionar-lhe passeios nas proximidades de Lisboa que lhe dessem satisfação, ela fora sempre uma andarilha, visitava amigas, adorava comboios e autocarros, o importante era sair de manhã e regressar a casa à noite. Já combalida, o cerimonial começava nos fofos de Belas com um galão, lá íamos de braço dado até à Quinta da Senhora da Assunção, havendo de bom tempo percorríamos lentamente o jardim. Em sua homenagem, da doce lembrança que dela guardo, por aqui andei em itinerância e do muito que gostei de ver achei que não era despiciendo partilhar convosco.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159):
Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve paço real, estamos perto da Venda Seca – 2


Mário Beja Santos

Já aqui se referiu que a vila de Belas foi realenga, possuiu nos seus arredores importantes vestígios do passado romano e árabe, foi sede de concelho e este faz parte da União das Freguesias de Queluz e Belas, o seu interior possuiu um eixo diário com um tráfego intenso, andar pelos estreitos passeios requer extrema cautela. Quando se fala em vila realenga, os fundamentos são sólidos. Respigo de um artigo que encontrei na net o seguinte, tem a ver com uma notícia publicada em 23 de setembro de 1728 na Gazeta de Lisboa: "A Rainha Nossa Senhora, foi ontem a Belas com a Senhora Infanta D. Francisca ver o Senhor Infante D. Carlos". Tratava-se da Rainha D. Maria Ana de Áustria, mulher de D. João V. O infante D. Carlos, seu filho, encontrava-se doente e procurava alívio, no ambiente saudável de Belas. Faleceu em 1730, com 14 anos. O infante D. Manuel de Portugal, irmão de D. João V, nascido em 1696, viveu alguns anos em Belas onde faleceu em 1766, reinando D. José I, que o visitava com regularidade. Foi cabeça de Marquesado e Condado, adstritos aos Senhores de Pombeiro e Castelo Branco. D. Manuel I, aquando Duque de Beja, doou os rendimentos da igreja de Belas às freiras do convento daquela povoação.
É neste espaço cheio de história que se vai dar uma passeata.

Igreja Matriz de Belas, mais um templo religioso que conheceu transformações umas atrás das outras, do período manuelino resta a sua porta principal
Interior da Igreja Matriz de Belas, de uma só nave
Moradia a carecer de obras, mas guarda uma certa imponência que convinha que não se perdesse na requalificação. Eram assim as casas de férias ou de habitação permanente em tempos que já lá vão, quando a cidade ainda parecia longe, a região era considerada de ar puro e Sintra não está longe.
Em contraste, numa das artérias de maior trânsito em Belas, vemos como se reconstrói mantendo o traçado genuíno de muitas décadas atrás, virando à direita, como parece ser a direção daquele carro, pode-se caminhar para a Venda Seca ou para a Rinchoa. Fico especado a pensar que a Rinchoa tem uma bela casa-museu, a de Leal da Câmara, onde me apetece voltar.
Esta é uma das entradas da Quinta do Senhora da Serra, construção heterogénea, mas cheia de pergaminhos, é uma propriedade que remonta à fundação da nacionalidade, há ali marcas do gótico e arcarias ogivais, aí pelo século XIV, a Quinta, que também foi designada por Paço Real, era usada pela família real. As obras e transformações sucederam-se, desde o reinado de D. Manuel até ao século XVIII, os jardins aprimoraram-se. A Quinta é hoje propriedade particular, uma prestigiada agência imobiliária mostra um pequeno filme para quem quiser comprar estes muito hectares e a construção histórica.
Pormenores do interior da Quinta do Senhor da Serra, imagens retiradas do site promocional da Porta da Frente, a propriedade está à venda por 14 milhões
Um pormenor do muro que fala dos tempos muito idos
Outro pormenor da Quinta do Senhora da Serra, o casarão ao fundo é também de tempos muito idos
Um pormenor do muro da Quinta, possui um património florestal valioso, custa ver como todo este magnífico espaço sofre da poluição sonora do corrupio do trânsito, a CREL está lá ao fundo, todas estas vias que acedem ao interior do termo de Sintra são fustigadas por viaturas de toda a espécies, andar nas ruas estreitas de Belas não é convite para ninguém. Mas já estamos habituados a tudo, veja-se o que se passa com um troço importante do Palácio de Queluz, com o IC 19 à porta.
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Notas do editor:

Post anterior de 15 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25642: Os nossos seres, saberes e lazeres (632): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 1 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 20 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25663: Os nossos seres, saberes e lazeres (633): viagem à China, de 1 a 12 de setembro próximo, com um cicerone de luxo, o nosso camarada António Graça de Abreu

sábado, 15 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25642: Os nossos seres, saberes e lazeres (632): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 1 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Houve inicialmente o intento de visitar a Casa Museu Leal da Câmara, na Rinchoa, o apetite por uma doçaria foi mais forte, avançou-se para um estabelecimento onde se vendem os fofos de Belas, é uma sensação estranhíssima andar por aquelas ruas estreitas, não é só a barulheira da CREL, o trânsito não dá tréguas, percorrem-se os passeios sempre a olhar para a rua, mais não seja para não levar com um espelho retrovisor no ombro. Satisfeita a guloseima, voltou-se à Quinta Nova da Assunção, visitada anos atrás, estava então de cara lavada, um miminho de cores, um recanto romântico seguramente idealizado por um comerciante com posses que partiu para as estrelas antes de ver tudo de pé e bem ajardinado; o jardim é um bálsamo, deve faltar dinheiro ou patrocínios para continuar os trabalhos de renovação e até de manutenção, aquela azulejaria que adorna os bancos de pedra corre riscos graves de perda irremediável. Há muito a visitar em Belas e nas redondezas, muita gente vinha fazer férias daqui até onde hoje fica Mira-Sintra, restam casas restauradas e outras na agonia. Belas teve marquesado, por aqui andou gente das famílias reais, resta a Quinta do Senhor da Serra, também conhecido por Paço Real, pelo que foi dado pesquisar na net aqui se celebram casamentos e batizados e eventos que tais.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (158):
Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve paço real, estamos perto da Venda Seca – 1


Mário Beja Santos

Há uma doçaria que faz muita gente viajar até Belas, que já foi concelho, que tem importantes ruínas pré-históricas e até romanas nas redondezas; povoação onde assentou alguma aristocracia, a residência dos marqueses de Belas, aqui conhecida por Paço Real ou Quinta do Senhor da Serra, esta é belíssima com os seus plátanos, teixos e buxos dentro de um enorme muro, num contraste brutal com a barulheira que vem da CREL, contudo Belas é irresistível para itinerâncias. Primeiro, ali no centro da vila, uma doçaria aprazível e com um descomunal tráfego incessante mesmo à porta, ali se manjam os fofos e se pode adquirir demais doçaria para pequenos-almoços, almoços, lanches e jantares. Depois, segue-se, sempre a fugir do ruidoso trânsito, desde autocarros a motocicletas, para a Quinta Nova da Assunção, um interessantíssimo projeto de um comerciante endinheirado que aqui construiu casa apalaçada, habitações para trabalhadores quinteiros e visitas e esplêndidos jardins, isto no século XIX. No gradeamento pode ler-se: “A Quinta Nova da Assunção foi mandada edificar por José Maria da Silva Rego, nos terrenos herdados do seu tio Gregório da Silva Rego (comerciante que fez fortuna no Brasil). A sua mulher (está lá escrito esposa, linguagem de mestre de obras, sempre se falou em mulher e marido), Maria da Assunção Vieira, deu nome à quinta inaugurada em 15 de agosto de 1863, dia da celebração da Nossa Senhora da Assunção. José Maria da Silva Rego viria a morrer um ano depois, antes do término das obras. Trata-se de um conjunto arquitetónico que compreende um palacete residencial, uma casa de fresco, lagos, fontes e estruturas de apoio ao enorme jardim. Em toda a propriedade tentou-se criar um ambiente eclético de harmonização entre o neoclassicismo e o romantismo. Esta simbiose é evidente sobretudo no excesso decorativo do interior do palacete, onde as pinturas a fresco, os estuques e a azulejaria preenchem os espaços com motivos zoomórficos-vegetalistas, exotismos orientalistas, temáticas pompeianas e mitológicas, bem assim como as iniciais do proprietário.”

A Quinta Nova da Assunção tem esta fonte decorativa restaurada, temos um envolvimento de lugares sentados com azulejaria primorosa, como se pretende mostrar. O jardim tem manutenção, é um encanto passear por ali, não se dirão mesmo da conservação da casa apalaçada no seu exterior e começa a haver deterioração nestes belos azulejos, fica sempre o mistério se se trata de ladroagem ou é mesmo falta de manutenção, o tempo é inclemente, responda quem souber.
Para quem gosta de estudar movimentos artísticos, o que aqui se vê é uma etapa do naturalismo, ainda não se chegou à Arte Nova, as molduras são tipicamente clássicas, já começam a desaparecer azulejos.
Um tema recorrente na época é a chinesice, a atração pelo exótico oriental, no caminhar para o fim do século ao chinesismo juntar-se-á o japonesismo, uma das linhas da Arte Nova, figurará nas artes decorativas até ao anúncio da Arte Deco, aí pelo ano 1925
O mínimo que se pode dizer é que estes assentos de pedra tão bem decorados mereciam melhor sorte, não conheço uma gama de azulejos tão enternecedores como estes neste termo de Sintra.
Haverá um dia em que este edifício com pretensões neogóticas será recuperado, talvez equipado, polo de atração, sabe-se lá se residência para artistas ou até mesmo casa-museu, custa a entender como se restaurou a casa apalaçada e se esqueceu esta dependência.
Há alguns anos, quando visitei pela primeira vez a quinta, a casa estava de cara lavada, disse-me quem a guardava que era alugada para séries televisivas, consta que tem salas maravilhosamente decoradas, o comerciante não se poupou ao trabalho de apresentar a mansão à altura dos seus proventos. O senhor que está por detrás desta porta disse gentilmente pode olhar, mas não passa daí. Não perco a esperança de lá voltar e conhecer os tesouros ali existentes.
Atendendo a que se estava no inverno, bem surpreendido fiquei com esta floração quando tudo mais está adormecido.
Foi para mim uma surpresa ver esta alameda tão bem adornada, uns belos bancos, funcionais, bem mantidos. Caminhei nos dois sentidos, mas confesso que foram estas as duas perspetivas que mais me tocaram.
Esta é a fachada principal, o senhor José Maria da Silva Rego deve ter exigido alguma imponência no traçado da casa, é bem curioso ver como tem os fundamentos deste plano inclinado, casa apalaçada de um só andar, assente numa sólida plataforma e o arquiteto encontrou solução de pôr esta escadaria com alguma nobreza. Vista a Quinta Nova da Assunção, vai-se agora cirandar por Belas, que tem muito mais coisas por ver.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 8 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25620: Os nossos seres, saberes e lazeres (631): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (157): Em Tavira, a Vila a Dentro, em profundo derriço com as suas imponentes muralhas (Mário Beja Santos)

sábado, 18 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24862: Os nossos seres, saberes e lazeres (601): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (129): O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
Antes de entrar no Convento da Cortiça procurei ler ao pormenor o plano de restauros e intervenções de que este magnífico espaço é alvo. O convento viveu um período de abandono que permitiu o vandalismo e alguma pilhagem, a despeito da rusticidade do espaço. A empresa responsável, digo-o com admiração, cuida primorosamente do convento e anexos, há mesmo voluntários a trabalhar nas hortas; desapareceram imagens, a inclemência do tempo e da natureza vão exigir mais restauros, mas não se pode percorrer este lugar sem sentir que houve aqui uma espiritualidade que atraiu homens a uma vida de despojamento e entrega a Deus, orando e subsistindo, seguramente contemplando com êxtase as belezas da serra, construíndo habilidosamente uma harmonia de materiais em que a cortiça, o madeirame e as pedreiras convergiram num diálogo que é impossível não maravilhar quem por aqui passa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (129):
O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (2)


Mário Beja Santos

Aqui se conclui a visita ao Convento da Cortiça, promessa concretizada de D. Álvaro de Castro para homenagear a simplicidade cristã, o despojamento, num contexto de ordem freirática e na linha dos ideais de S. Bento, reza e trabalha, vive alheado das vaidades do mundo. O local escolhido para implantar este convento quinhentista é quase um achado, já vimos o uso apurado da pedra em diálogo com a cortiça, seguimos da entrada para a igreja e percorremos até aos dormitórios, mostram-se agora imagens desta austeridade de vida, percorre-se espaços da organização conventual, caso da cozinha e refeitório, a enfermaria, o forno e o celeiro.

Há décadas que este espaço me impressiona, de tal modo que um dia, no mercado de Santa Clara, em plena Feira da Ladra, na loja do meu amigo Eduardo Martinho, um vendedor exigente de livros e de arte, encontrei este quadro a óleo que mostra um dos aspetos mais cativantes daquela vida conventual. Na ausência de um claustro, que seguramente a Ordem não prescrevia, temos belos pontos de ligação à volta de uma fonte. O óleo veio assinado, assinatura não identificada, é de alguém que seguramente cultivava o uso da espátula e das camadas grossas, torcendo e retorcendo para que tudo ficasse bem claro. Quando abro a porta de casa, é sempre um prazer olhar para cima e cumprimentar esta singeleza conventual da serra de Sintra.

Pormenores dos dormitórios, na segunda imagem não terei dificuldade em reconhecer que há um assento para contemplar a paisagem e especulo se o outro cubículo não seria um pobre guarda-roupa dos poucos trastes que os frades possuíam.
As imagens acima têm a ver com a cozinha e o refeitório, áreas funcionais bem demarcadas: o fogão, sob a grande chaminé, e o lavadouro, sob a janela que abre para o Claustro. No dia 3 de maio, dia de Santa Cruz, havia peregrinos que acorriam ao convento, traziam donativos que chegavam a incluir carne, que os frades comiam apenas duas vezes por ano: no Natal e na Páscoa, para cumprirem o ritual cristão. No refeitório, os frades comiam sentados no chão, com o prato sobre os joelhos. Mais tarde, o cardeal D. Henrique ofereceu-lhes uma pedra, mandada arrancar da serra propositadamente para este efeito. Vê-se inicialmente a sala do refeitório, seguem-se imagens com aspetos da cozinha e não resisti a registar o belo teto em cortiça das instalações.
Passei a correr pela Sala do Capítulo, local de reunião da comunidade e também espaço de confissão. Havia ali um nicho com a imagem de Nossa Senhora das Dores. O que mais me chamou a atenção foi esta pia-fonte, seguramente quando estiver bem restaurada maravilhará o mais indiferente dos visitantes.
Estamos agora no Átrio das Enfermarias, quando adoeciam, os frades beneficiavam de maior conforto. Nas enfermarias usavam camas, havia uma botica onde se guardavam medicamentos e roupas de cama e também onde dormia o frade responsável pelos enfermos. Junto a esta, existe um pequeno braseiro para aquecer águas, chás medicinais e queimar ervas aromáticas. Neste espaço havia a cela de penitência, para recolhimento e meditação, era escura, aqui apenas era necessário a luz interior para fazer esplender a fé.
Pormenor de um corredor com luz para o exterior
Cela do doente
Mais um pormenor de quarto de enfermaria com a natureza ao fundo
Pormenor de janela com a serra de Sintra à espreita
Claustro do Convento da Cortiça já intervencionado na nova etapa de restauros, fechei os olhos para recordar o quadro que guardo em casa que usa uma técnica expressionista que não deslustra o que estou a ver, antes de descer para as hortas e dar por finda esta inesquecível visita.
Pormenor da azulejaria da capela
Teto do celeiro
Antigo Forno
Caminho na mata da cerca do convento, sigo agora para as hortas e desejo a todos os futuros visitantes do Convento da Cortiça que aufiram da mesma alegria que eu aqui tive.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24841: Os nossos seres, saberes e lazeres (600): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (128): O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (1) (Mário Beja Santos)