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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26075: In Memoriam (515): Marco Paulo (1945-2024): "Nosso cabo, não, meu Alferes, sou o Marco Paulo" (.... nome artístico de João Simão da Silva, nascido em Mourão, ex-1º cabo escriturário, QG/CCFAG, Amura, Bissau, 1967/69)


Foto do artista quando jovem.
Fonte: Página oficial do Facebook
de MarcoPaulo,
com a devida vénia.

1. Morreu hoje, aos 79 anos, o popular cançonetista (e apresentador de televisão) Marco Paulo (1945-2024), depois de um longa e corajosa  luta contra o cancro. 

Não é habitual pronunciarmo-nos aqui sobre a atualidade noticiosa, seja social, desportiva, política, etc.  Somos um simples blogue de antigos combatentes da Guiné. Morrem todos os dias poetas, escritores, artistas, músicos, cientistas, investigadores, médicos, enfermeiros, políticos, gestores, empresários, militares, desportistas, etc., gente de maior ou menor talento, mais conhecida ou menos conhecida, etc.. Mas todos,  eles, portugueses, homens e mulheres, merecedores de um simples ou mais elaborado RIP (Requiescant in Pace). 

o somos um jornal noticioso, e a dar notícias necrológicas temos que nos cingir aos amigos e camaradas da Guiné que animam (ou animaram em tempos) este blogue.


(...) "É com profunda tristeza que a família informa o falecimento de Marco Paulo, que partiu pacificamente, hoje, dia 24 na companhia dos seus entes queridos. Aos 79 anos terminou a sua batalha contra o cancro, em paz e rodeado de todos os cuidados e o amor da família, amigos e fãs.

"Hoje, despedimo-nos do homem lutador, sorridente e generoso, que ao longo de 58 anos marcou gerações e milhares de pessoas, tornando-se um nome incontornável da música portuguesa.

"A sua voz inconfundível e o seu talento permanecerão para sempre na memória daqueles que o acompanharam ao longo dos anos.

"Teremos saudades!" (...)

Associamo-nos às manifestações de dor pela perda deste homem que foi, além disso, nosso camarada.

2. A comunicação social, por estes dias, encarregar-se-á de fazer-lhe as homenagens que lhe são devidas, e ajudar a fazer o luto pela sua perda.  Nada, por outro lado,  como a morte para obtermos consensos nacionais sobre figuras de referência...

 A nós cabe-nos lembrar aqui o ex-1º cabo escriturário João Simão da Silva, nosso camarada, alentejano de Mourão, de origem humilde, que começou a trabalhar a cedo, aos 14 anos (como muitos de nós), que imitava o espanhol Joselito, que tinha uma voz fabulosa, que queria viver só para (e de) a música... e que fez, como militar,  uma comissão de serviço na Guiné, no CG/CCFAG, na Amura, Bissau, em 1967/69. Como simples 1º cabo escriturário (especialidade tirada em Leiria em 1967) na "secção de justiça", ou seja, na "guerra do ar condicionado" (como diziam, com algum despeito, os gajos do mato...).

Alguns camaradas nossos conheceram-no, embora superficialmente. Bissau era uma pequena cidade. Um cidadezinha colonial,  traçada a guerra e esquadro... E não havia muitos cabos escriturários na Guiné (um por companha). Ele era de rendição individual, presumimosque tenha embarcado em meados de 1967 para o CTIG e regressado em meados de 1969.. 

A voz e o seu talento (e, seguramente, alguma cunha) safaram-no de ir para o mato , "matar ou morrer"... Mas ele tinha medo que a Guiné cortasse, de vez, a sua já promissora carreira artística... 

Nenhum artista português, como ele, vendeu tantos discos, mais de 5 milhões... No bom tempo da indústria discográfica. Mas isso não é o que interessa aqui, agora.  Tinha (ou tem) uma página (oficial) no Facebook. Mas já agora refira-se que Marco Paulo era nome artístico, sugerido ou imposto pelo seu produtor, Mário Martins (Valemtim de Carvalho) e do seu letrista, Eduardo Damas (1922-2005). 

O Marco Paulo tem no nosso blogue nove referências. Vamos reproduzir alguns excertos (limitando-nos à sua passagem pela Guiné, ou por Bissau, se é que alguma vez saiu de Bissau).

Recorde-se que ele em 1966 ele  já era conhecido do público pela sua participação em festivais, incluindo o festival da RTP da  Canção de 1967 (e depois 1969). E em Bissau deu alguns espetáculos para militares, cantava em festas de aniversários dos seus camaradas e terá também trabalhado nalgumas casas de diversão noturna, do "Nazareno" ao "Chez Toi". 

E quando vinha de férias á metrópole,  o seu produtor, Mário Martins, da Valentim de Carvalho,  punha-o a gravar um disco. Daí o facto de ele nunca ter sido esquecido do público e ser reconhecido em Bissau já como figura pública, já como Marco Paulo. Só o Hugo Guerra o não reconheceu... Mas tropa era tropa, naquele tempo...

Lendo posteriormente comentários de camaradas nossos, vemos que ele também era conhecido em Bissau como o "Paulinho da Amura".

Em entrevista ao "Expresso" (20 de setembro de 2019) contou, sobre o seu tempo de tropa e de Guiné:

(i) esteve na tropa em Beja, Leiria e Estremoz: "tive muito más notas na recruta, sempre fui mau aluno, distraía-me tanto a cantar, já na tropa era a mesma coisa, estava na tropa e distraía-me muito, estava sempre a cantar";

(ii) quanto à experiência na Guiné, "não foi traumatizante para mim, porque nunca cheguei a estar no mato, fiquei sempre na cidade"; esteva na Amura, "no escritório a tratar de papéis"; "cantava nos aniversários dos meus camaradas, de qualquer festa, convidavam-me"; era reconhecido como figura pública: "já tinha discos, já passava na rádio, já era o Marco Paulo, já não era o João Simão”.

Pelos apontamentos biográficos que lemos,aqui e acolá,  podemos reter mais o seguinte:

(iii) aos 14 anos entrou para o rancho folclórico de Alenquer onde esteve dois anos como cantor até ir viver para o Barreiro (julgamos que o pai era das finanças, andou por vários sítios);

(iv) já no Barreiro, em 1963, começou a ter aulas de canto com Corina Freire;

(v) foi que foi descoberto pela fadista  Cidália Meireles (o seu programa de televisão  "Tu Cá, Tu Lá" comnheceu um grande sucesso);

(vi) em julho de 1966, no Festival da Canção da Figueira da Foz,  ficou em 3º lugar,  com "Vida, Alma e coração";

(vii) o produtor (Valentim de Carvalho)  convidou-o para gravar um disco;

(viii) em 1966, saiu o seu primeiro EP com os temas "Não Sei", "Estive Enamorado", "O Mal às Vezes é Um Bem" e "Vê" (não terão tido grande sucesso comercial, mas deve tê-los cantado em Bissau);
 
(ix) em 1967 participou  no Festival RTP da Canção (canção "Sou Tão Feliz" de António Sousa Freitas e Nóbrega e Sousa);

(x) Faz uma "tournée" na  Madeira cantar com Madalena Iglésias, e a partir daí torna-se  profissional...


(i) Hugo Guerra (ex-alf mil, hoje cor DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(...) Dezembro 1968 . Tinha vindo a Bissau ao hospital fazer uma desintoxicação de Gandembel.

Com mais dois camaradas descíamos a Avenida  [da República],que vinha do Palácio do Governo em direcção à baixa, mais concretamente aos Correios. 

Eis senão quando, qual emboscada do IN, aparece a Polícia Militar, que no cumprimento da sua espinhosa missão me ataca com todas as armas de que dispunha e me passa um raspanete por eu ter mais botões desabotoados do que os permitidos no RDM. Logo a mim que me considerava um dos poucos da tropa-macaca que tinha experiência in loco do famoso corredor de Guileje...

Fiquei urso, mas os rapazes até tinham razão e lá abotoámos os botões. Chegados aos Correios, no meio da barafunda total,  estava um esganiçado e aperaltado 1º cabo, com a camisa desabotoada até ao umbigo.

Depois do que me acontecera pouco antes, aquela situação caía como sopa no mel... Afiando as garras, tivemos este diálogo:

 –  Ó nosso cabo, ouça lá!

  – Ó nosso cabo não, meu Alferes, sou o Marco Paulo... (Desconhecia em absoluto quem era semelhante personalidade.)

  – Marco Paulo,  uma merda, ou abotoa esses botões todos ou temos chatice!  – respondi eu.

Claro que o obriguei a estar em sentido até acabar o castigo e comecei a aperceber-me duns sorrisos à socapa dos camaradas que estavam por ali….

Satisfeito com a minha façanha do dia, viemos para fora e só então fiquei a saber que tive muita sorte por ele não ter dito nada…..senão ainda levava uma porrada e era enviado pra Gandembel, aliás para onde regressei passados 2 ou 3 dias depois.

Ao longo dos anos ainda sorrio quando me lembro desta estória …de Natal. (...)


(ii)  José Diniz Carneiro de Souza e Faro, ex-fur mil art, 7.º Pel Art
 (Cameconde, Piche, Pelundo e Binar, 1968/70),

(...) "Era um local simpático [o 'Chez Toi', mais tarde 'Gato Preto'], com bailarinas recrutadas nas 'boites' de Lisboa. Um dos fadistas era o Marco Paulo, já com muito sucesso. Uma das bailarinas era a Luísa,  uma mocinha atraente que encontrei em Lisboa,  na 'Cova da Onça' (Av da Liberdade). 

De facto no início de 1970 (março a  a junho) existia o 'Chez Toi' onde eu e os meus camaradas da BAC 1 nos juntávamos para umas bebidas, era o tempo de partida para a Metrópole (17 de junho no Carvalho Araújo).

 Nessa altura,  creio, foi quando mudou de nome e o gerente era um locutor da Emissora Nacional que esteve na Índia (Goa),  de nome Oliveira Duarte (?), ex-sargento." (...)

 
(iii) Ribeiro Agostinho, ex-soldado radiotelefonista / condutor auto e escriturário da CCS/QG/CTIG, 1968/70)


(...) " Certo dia fui convidado por um amigo da tropa, de Aveiro, de nome Alfaro, que nunca mais vi, a não ser numa reportagem na TV há vários anos, para o substituir no Restaurante 'O Nazareno', frequentado pela elite de Bissau e onde actuavam o Marco Paulo, o Conjunto das Forças Armadas, o Fernando Milho, entre outros. O programa acontecia ao sábado à noite sempre com este elenco.

Aceitei o convite e o Alfaro foi-me apresentar aos donos do 'Nazareno'. Ali fiz muitas noites de sábado, tendo como companhia alguns amigos leceiros
 [. de Leça da Palmeira...],  que me iam ajudar a passar o tempo. 

Depois do fecho, íamos todos a cantar, pelas trevas das ruas de Bissau, nada do reportório do Marco Paulo mas do Fernando Milho (fadista lisboeta), de quem nunca mais ouvi falar:

"Bairro Alto com seus amores tão dedicado
Quis um dia dar nas vistas
E saiu com os trovadores mais o fado
P'ra fazer suas conquistas." (...)


 (iv) No poste  P19080, de 7 de outubro de 2018, reproduzimos alguns excertos  de uma entrevista dada do cantor Parco Paulo,  ao Correio da Manhã, em 9 de Junho de 2007:


(....)" – Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?

– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. 

A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins, fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.

Chegou a sentir medo?

– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!”... 

Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.

– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?

– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos. (...)


(v) Também nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, pode ler-se uma entrevista (não sabemos a data precisa)  com o Marco Paulo (MP),  conduzida pelo grande jornalista e escritor Luís Osório (LO), a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos até então vendidos. Eis alguns excertos relativos ao tempo em que o Marco Paulo (MP) esteve na Guiné:

(...) " LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar?

MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grandes sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. 

Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.

LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?

MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. 

Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.

LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?

MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. 

Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)


(vi) Também no blogue do Luís de Matos  (ex-fur mil, da CCAÇ 1590, "Os Gazelas", Mansoa, Bissorã e Olossato, 1966/68; autor do livro Diário da Guiné: 1966/68)http://luisdematos.blogspot.com/2007/7/, já removido ou descontinuado)  há uma referência ao Marco Paulo, aquando da chegada a Bissau, a 11 de agosto de 1966


(...) "Findo este trabalho, o capitão deu folga a todo o pessoal para conhecer a cidade. Logo na primeira noite, juntei-me a um pequeno grupo para irmos dar uma volta, para conhecermos um pouco da noite guineense. 

"O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o BCAÇ 1894, disse-me que há um nosso camarada, já 'velho',  o que equivale a dizer que não é 'periquito', que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão. 

"Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. 

"Não conseguia deixar de pensar que me podiam cortar a cabeça com uma catana. É que a gente ouvia contar cada estória!. Mas ao mesmo tempo, tinha uma certa confiança no tal camarada mais velho. Se ele estava ali e continuava vivo, é porque o local e as pessoas eram de confiança. Há-de ser o que Deus quiser. Coração ao largo, pensei cá prós meus botões" (...)_

(Seleção, revisão / fixação de texto, parênteses retos: LG)
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Nota de L.G:

Último poste da série > 19 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26059: In Memoriam (514): José Luiz Gomes Soares Fonseca (1949 - †2024), ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366 / BCAB 3846 (Susana e Varela, 1971/73)

terça-feira, 13 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24396: Efemérides (395): Leça da Palmeira comemorou, mais uma vez, o 10 de Junho e homenageou os seus Combatentes caídos em Campanha (Núcleo de Matosinhos da LC / Carlos Vinhal)

10 de Junho de 2023 - Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira - Talhão dos Combatentes


Realizou-se em Matosinhos - Leça da Palmeira, a cerimónia de comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira.

Pelas 10H15 iniciou-se a cerimónia com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo de seguida içada a Bandeira Nacional pelo representante do Presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, Sr. Fernando Monteiro e pelo Vogal da Direção, José Oliveira.

Ao mesmo tempo que o grupo de sócias e sócios do Núcleo entoava o Hino Nacional, o clarim dos Bombeiros de Matosinhos e Leça da Palmeira, solicitado para o efeito, fez os toques adequados àquela cerimónia.

Pelas 10H30 foi dada continuidade ao programa no cemitério local - Talhão Militar da Liga, onde se encontravam posicionados o porta-guião, o clarim e uma Guarda de Honra composta por sócios combatentes.

Procedeu-se à chamada dos combatentes leceiros mortos na Guerra do Ultramar pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral, seguida da deposição de duas coroas de flores no Talhão pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral e pelo representante do Presidente da União de Freguesias.

A cerimónia continuou com o Toque de Homenagem aos Mortos e foi guardado um minuto de silêncio com cântico de um salmo pelos sócios presentes para o efeito, terminando com a evocação religiosa pelo Rev. Padre Francisco Andrade.

Posteriormente foi lida pelo Vice-Presidente do Núcleo uma mensagem do Presidente do Núcleo, em virtude de não poder estar presente, e o Sr. Fernando Monteiro fez uma alocução alusiva ao ato.

Tanto a mensagem lida como a alocução feita realçaram a importância de homenagear a memória de todos aqueles que, ao longo da nossa História, tombaram no campo da honra, nomeadamente na Guerra do Ultramar.

Para terminar, foi cantado o Hino da Liga dos Combatentes na presença de dezenas de sócios, seus familiares, combatentes e público em geral que estiveram presentes nesta atividade cívica e patriótica.

Fez-se cumprir assim, mais uma vez, a tradição de uma iniciativa de um grupo de combatentes leceiros (que são presentemente sócios da Liga) que, antes da existência do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, a realizavam anualmente em Leça da Palmeira, no dia 10JUN.
Grupo de sócios do Núcleo de Matosinhos da LC que emprestou a sua voz na entoação do Hino Nacional durante o hastear da Bandeira Nacional no edifício da Junta de Freguesia.
Guarda de Honra composta por alguns dos Antigos Combatentes presentes
Hastear da Bandeira pelo senhor Fernando Monteiro e pelo Vogal do Núcleo, Combatente Francisco Oliveira
O Combatente Ribeiro Agostinho faz a chamada dos Combatentes leceiros falecidos em Campanha
O Combatente Ribeiro Agostinho, Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Núcleo, deposita uma coroa de flores no Talhão dos Combatentes.
Minuto de silêncio e entoação do salmo pelo grupo coral presente.
Evocação religiosa que esteve a cargo do Pároco de Leça da Palmeira, Rev. Francisco Andrade
O senhor Fernando Monteiro, em representação da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, durante a sua alocução.

Texto e fotos do Núcleo de Matosinhos da LC
Edição e legendagem das fotos da responsabilidade do editor

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24382: Efemérides (394): 10 de junho de 2023: XXX Encontro Nacional de Combatentes, em Lisboa, Belém, junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24393: Blogoterapia (312): Noites de Santo António em Leça da Palmeira, marcadas pela saudade lá longe em Bissau (Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelefonista / Condutor Auto e Escriturário da CCS/QG/CTIG, 1968/70)

Marchas Populares 2019 - Com a devida vénia a lisboa.pt

Nesta noite de Santo António, noite que eu vivia intensamente na minha Leça da Palmeira, nas Icas, Aldeia Nova e Corpo Santo, quis a tropa que eu lembrasse hoje outras épocas marcadas pela saudade. Eram marcantes os bailes em Leça da minha terra e a saudade quando estava longe.

Quando em Bissau, em 1969, passei por momentos fortes de grande saudade, e hoje recordo esses momentos vividos com companheiros que já cá não estão e outros que estão mas que não vejo, por serem emigrantes ou outros motivos.

Certo dia fui convidado por um amigo da tropa, de Aveiro, de nome Alfaro, que nunca mais vi ,a não ser numa reportagem na TV há vários anos, para o substituir no Restaurante O Nazareno, frequentado pela elite de Bissau e onde actuavam, o Marco Paulo, o Conjunto das Forças Armadas, o Fernando Milho, entre outros. O programa acontecia ao sábado à noite sempre com este elenco.

Aceitei o convite e o Alfaro foi-me apresentar aos donos do Nazareno. Ali fiz muitas noites de sábado, tendo como companhia alguns amigos leceiros que me iam ajudar a passar o tempo. 

Depois do fecho, íamos todos a cantar, pelas trevas das ruas de Bissau, nada do reportório do Marco Paulo mas do Fernando Milho (fadista lisboeta), de quem nunca mais ouvi falar:

"Bairro Alto aos seus amores tão dedicado
Quis um dia dar nas vistas
E saiu com os trovadores mais o fado
P'ra fazer suas conquistas."


Nesta noite de Santo António deu-me saudades dessas noites de sábado que eram Noites de Santo António à Fernando Milho.

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24203: Blogoterapia (311): A sombra do jagudi (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18291: Convívios (839): XII Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, dia 3 de Março de 2018 em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)


No próximo dia 3 de Março, os Combatentes do Concelho de Matosinhos da Guerra do Ultramar (Angola, Guiné e Moçambique, 1961/74) vão realizar o seu XII Almoço/Convívio em Leça da Palmeira.

O programa do dia começa às 11h30 com uma Missa de Sufrágio pelos camaradas e amigos falecidos em campanha, e já na vida civil, na Igreja dos Franciscanos, em Leça da Palmeira.

O almoço será servido às 13 horas no Tryp Porto Expo Hotel, junto à Exponor, com o mesmo preço do ano passado, 20,00€.

Antes do almoço proceder-se-á à habitual foto de família para memória futura.

Passa palavra e traz o teu camarada e amigo. Traz a tua boina e as tuas insígnias.

As inscrições, extensivas aos nossos familiares, deverão ser feitas impreterivelmente até ao dia 28 de Fevereiro (quarta-feira) para o email combatentesdematosinhos@gmail.com ou para os números 916 032 220 (Vinhal) e 969 023 731 (Agostinho).

A partir da data limite, as inscrições ficarão sujeitas à aceitação por parte do hotel.

A comissão organizadora
Abel Santos
José Francisco Oliveira
Ribeiro Agostinho
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18224: Convívios (838): 35º almoço-convívio dos "magníficos" da Tabanca da Linha, desta vez abrilhantado com a presença de mais de uma dúzia de "periquitos", incluindo cinco "bandalhos" do Bando do Café Progresso, Porto... As primeiras fotos

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16057: In Memoriam (257): José Eduardo dos Santos Alves, o "Leça" (1950-2016), ex-sold cond auto, CART 6250, Mampatá (1972/74): homenagem da Tabanca Grande


José Eduardo dos Santos Alves, o "Leça" (1950-2016)
Sold Cond Auto, CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá", Mampatá, 1972/74 (*)


Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de junho de 2009 >  Aspeto parcial dos participantes no encontro que totalizou cerca de centena e meia de presenças


Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de junho de 2009 > A Maria da Conceição Alves, à esquerda, assinalada com um rectângulo a amarelo; a seu lado, a Isaura Resende (esposa do nosso camarada Manuel Resende) e a Lígia Guimarães (esposa do David Guimarães), e por detrás desta a Cyndia, a neta do Valentim Oliveira,


Leiria > Monte Real > Ortigosa > Quinta do Paul > IV Encontro Nacional da Tabanca Grande > 20 de junho de 2009 > Dois casais idos de Leça da Palmeira, da esquerda para a direita: o José Eduardo Alves, a esposa Maria da Conceição, e depois a Elisabete e o marido Ribeiro Agostinho.

Fotos (e legendas): © Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné  (2009). Todos os direitos reservados


Tabanca de Matosinhos > Almoço de 4ª feira > 23 de abril de 2009 > O casal Alves, a Conceição e José ("Leça") que ainda recentemente foram e voltaram à Guiné de carro; ao lado, à esquerda, o nosso autarca de serviço.. o Carvalho de Mampatá.

Foto (e legenda): © Blogue da Tabanca de Matosinhos  (2009). Todos os direitos reservados


1. Deixou, há dias, a "terra da alegria" (como diria o poeta Ruy Belo) o nosso camarada José Eduardo Alves (1950-2016), também conhecido pela sua alcunha da tropa, o "Leça". Nasceu em Cabeceiras de Basto e morreu em Leça da Palmeira, Matosinhos, para onde veio com 12 anos para marçano. Deixa viúva a nossa amiga Maria da Conceição. Tinha ainda um filho, que vive na Suíça.  

Deixou-nos a todos, tristes e inconsolados. Morreu cedo demais, já que, sendo um camarada e amigo da Guiné, ele merecia tudo, ou seja, muita saúde e longa vida. No momento da partida (derradeira), cabe-nos lembrar e honrar o homem bom, simples e solidário que ele foi, amigo do seu amigo, camarada do seu camarada. A Tabanca de Matosinhos, a nossa Tabanca Grande e os "Unidos de Mampatá", a antiga CART 6250, perdem um bravo soldado, um dos melhores de todos nós.

Na singela homenagem que lhe quisemos fazer, juntamos aqui alguns fotos mais antigas, alguns comentários de camaradas que o conhecerem melhor e ainda um pequeno texto que ele escreveu em tempos para o blogue, mostrando todo o seu amor à Guiné e ao seu povo.

O "Leça" ficará sempre connosco, na nossa memória, no nosso blogue, enquanto a gente por cá andar e tiver ganas de continuar a partilhar memórias e afetos, à sombra do nosso mágico e fraterno poilão, tendo por pano de fundo a Guiné que conhecemos entre 1961 e 1974, nas duras condições de uma guerra (*)...  LG


2. Viajar por (e sentir) a Guiné

por José Eduardo Alves (1950-2016)

Camaradas,

Depois de me ter remetido ao silêncio, mas sempre ativo nas leituras do blogue, hoje acho que está na hora de escrever sobre a viagem que fiz à Guiné este ano [de 2010], e vou fazê-lo porque há sempre alguém que gosta que se fale destas aventuras.

O ano passado também tinha ido à Guiné, mas apanhei a “caravana” nos últimos dias da sua preparação e, pelo caminho, em conversa com alguns dos Camaradas que já lá tinham ido mais vezes, ouvi dizer: “Vais ter uma desilusão,  pois quem lá conhecias já morreu tudo!”

Mas, felizmente, não foi assim e ainda encontrei bem viva muita gente do meu tempo. Fiquei então com vontade de lá voltar e voltei este ano, mais bem preparado e com mais coisas para dar aquelas crianças, que necessitam de tudo (, muito do que nós esbanjamos).

No ano passado tínhamos ido até Mampatá,  quatro homens da minha Companhia - a CART 6250: o [António] Carvalho, o Zé Manuel [Lopes], o Francisco Pereira Nina e eu. Todos ficamos surpreendidos pelo grau de abandono do nosso antigo quartel.

Este ano só fui eu. Como não podia deixar de ser, voltei ao velho quartel de Mampatá, e encontrei em curso obras de recuperação, vendo-se já diferente e renovada a sala do soldado (de pedra e cal), o paiol (que o ano passado nem se via) estava limpinho, a antiga enfermaria (que já não tinha telhado) está a ser recuperada para enfermaria local, os balneários dos soldados estão transformados numa escola, que eu apoiei no que pude e vou continuar a ajudar.

Mas não parei aí e,  como levava uma encomenda, e um pedido do nosso camarada e amigo Vasco da Gama,  para Cumbijã, segui viagem e visitei a Fonte de Iroel (que data de 1946) [, a 2 km de Mampatá, e de que não existe uma única imagem no nosso blogue!], Colibuia e Cumbijã.

Cumbijã, onde um dia encontramos a CCAÇ 18 e outras NT que lá estavam encurraladas. Quem conhece a zona entende o porquê deles estarem encurralados, é que a estrada Mampatá - Nhacobá  não tem saída para lado nenhum.

Depois visitei Guileje, Gadamael e Cacine, regressando a casa por Mampatá, Nhala, Buba, seguindo pelo Quebo, Bissau, S. Domingos, Casamança, Gâmbia, Senegal, Mauritânia, Marrocos, Espanha e, finalmente, Leça da Palmeira (onde vivo).

Vou continuar a trabalhar para levar mais alguma coisa àquelas crianças. Vou lá quando puder e penso que não é uma forma de neocolonialismo.

Vou dizer algumas palavras que ouvi a uma Guineense: "Ó Leça, só vieste agora, foste embora zangado e vieram estes (…), para o vosso lugar. Vocês entregaram isto a um (…) armado, que era uma minoria e cujos cabecilhas nem eram Guineenses, eram de outro país.”

Penso eu que, se calhar, o governo Português ainda um dia há-de pedir desculpas à parte daquele povo que ensinou a pegar e usar uma arma, depois tirou-lha e abandonou-a à mercê de uma sorte cobarde, traiçoeira e macabra.

Agora, quero levar luz eléctrica a Mampatá, especialmente para a dita enfermaria e posto de rádio, que foram inauguradas pelo sr. Pepito, no dia em que nós lá estivemos (...).

Se alguém quiser contribuir com objectos, equipamentos e medicamentos, tudo o que nos entregarem será bem aceite. Lembrem-se que muita coisa que para nós já não tem valor, nem aplicação faz falta àquele bom povo da Guiné. Nós, eu e a minha esposa [, Conceição,], pedimos mais precisamente roupas de criança e material escolar, assim como medicamentos (dentro do prazo de validade, como é evidente).

É a minha esposa que se ocupa da recolha, selecção e embalagem destas coisas, foi uma vez à Guiné e quer lá voltar. (...) (**)


3. Algumas das mensagens de camaradas que conheceram melhor o José Eduardo Alves (*):


(i)  António Carvalho [Carvalho de Mampatá]

Sempre optimista e esperançoso, a nada se vergava ele, José Eduardo, mesmo quando perdeu uma filha, há alguns anos, logo se reergueu com novo ânimo. Por sorte, também a esposa Conceição o acompanhava nas jornadas de solidariedade para com o povo da Guiné, especialmente da área de Aldeia Formosa e Mampatá, que visitava, todos os anos, desde 2009. Mas a morte não escolhe só os maus nem só os bons, leva-nos a todos, quando calhar. Cada vez ficamos mais reduzidos, até que o último morrerá também, inexoravelmente.

Para toda a família, a minha homenagem


(ii) Um seu conhecido e amigo [que, por lapso, não se identificou]

Não estive convosco na Guiné, estive em Angola e é fácil de entender o espírito de grande camaradagem entre vós. Há uns anos atrás criei um slogan que diz:

AS ARMAS TAMBÉM UNEM OS HOMENS

Neste momento, quero dizer que conheci o Eduardo há poucos anos, mas além de grande trabalhador, era um homem de carácter e amigo.

O seu grande coração dividia-se pela Guiné. Falava deste país com uma alegria e vaidade por bem conhecer.

Neste ano da Misericórdia que o Papa Francisco bem instituiu, o nosso amigo Eduardo e a sua esposa Conceição, muito bem lá cabem. Que Deus lhe dê coragem para enfrentar este desenlace, bem como a seu filho que os amigos tenham o discernimento adequado para os ajudar. Enfim, vamos dar as mãos para ultrapassar este momento tão difícil, mas a vida é isto e não para.


(iii)  Manuel Carvalho

Homem de carácter e de forte personalidade mas simples e amigo do seu amigo.Gostava de olhar olhos nos olhos e cumprimentos de mão bem apertados.Sempre preocupado com o seu semelhante e passou os últimos anos da sua vida a ajudar os seus amigos da Guiné.
Que Deus o tenha num bom lugar que bem merece.
Um dia nos encontraremos por aí.
Para a esposa e filho as minhas sentidas condolências.


(iv) José Manuel Matos Dinis

Tive oportunidade de conviver com o casal numa deslocação à Guiné, e eram de facto pessoas simpáticas e solicitas. Agora o Zé acabou a caminhada, como um dia vai acontecer-nos.
Aproveito para apresentar as minhas condolências pelo infeliz evento.
Um beijo para a D. Conceição com votos de coragem e resignação nesta hora, e para o Zé fica um abraço a aguardar agenda.


(v) António Murta

O José Eduardo Alves, o "Leça", foi meu contemporâneo em Mampatá, mas só o conheci verdadeiramente (e à sua esposa), no encontro da CArt 6250 em julho do ano passado. Era a simplicidade em pessoa mas de carácter firme.

À sua esposa e restante família, envio as minhas sentidas condolências. Aos seus amigos e camaradas, especialmente o Zé Manel e o Carvalho de Mampatá, envio um abraço solidário.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P14977: O segredo de... (21): O que custa(va) ser periquito numa terra como a Guiné (Ribeiro Agostinho, ex-Soldado da CCS/GG/CTIG)


Messe de Oficiais do Quartel General em Sta. Luzia, hoje transformada em Hotel. Ainda dá para ver parte de uma mangueira das muitas que ladeavam os arruamentos.
Foto e legenda: © António Teixeira (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Ribeiro Agostinho (ex-Soldado Radiotelefonista / Condutor Auto e Escriturário da CCS/QG/CTIG, 1968/70), com data de 30 de Julho de 2015:

Boa noite Camarigos
Após vista de olhos, habitualmente diária, acabei de ler a história do António Medina, que me fez lembrar uma passagem também secreta, na época, que vou agora descrever, e que se acham que interessa, podem publicar.

Quando cheguei à Guiné, em rendição individual, desembarquei e fui apresentar-me nos Adidos em Brá.
Na secretaria foi-me dito que a Companhia, à qual ia destinado, tinha regressado à Metrópole havia dois dias (18-08-1968 no UÍGE), estávamos a 20-08-1968.
Então o Sargento da Secretaria perguntou-me se eu tinha carta de condução pois poderia ficar lá como condutor do Comandante, o que eu de imediato aceitei.

Foi preciso ir ao QG, a Santa Luzia, para pedir a minha colocação e lá fomos os dois. Em conversa com o chefe da Secretaria do QG, o Sr. Major Vilas Boas Mouzinho de Albuquerque, apercebendo-se de que eu tinha estado na Secretaria do Comando do RI 6 no Porto, disse que precisava de mim lá e que se arranjaria um condutor para o Sr. Comandante dos Adidos, outro que não eu.
Acabei por cumprir toda a comissão na secretaria do QG, que só foram 16 meses, pois soube contornar os obstáculos, como manda a tropa, desenrascando-me da melhor forma, mas isso contarei noutra oportunidade. Agora vamos ao tal segredo.

Um belo dia estava eu à porta da Secretaria, no corredor do QG, quando ia para entrar e vejo chegar, pela porta principal, um periquito (camuflado novinho ainda sem lavagem) cheio de pompa.
Fiquei ali parado a vê-lo passar cheio de cagança e reparo que era Capitão. Eu que trabalhava sem boina, fui ocupar o meu lugar na secretária, num gabinete só meu, com vista para a parada e refeitórios da CCS e da PM, por trás do balcão onde trabalhavam outros colegas que atendiam quem vinha do corredor.

Ainda não me tinha sentado quando ouço perguntar pelo soldado que estava há pouco ali à porta, pensei logo de quem se tratava, do periquito, pois eu não lhe bati a pala.
O Sargento que chefiava a parte do balcão, chama-me e eu apareço por trás da parede divisória dando de frente com o Sr. Capitão, que de pronto dispara:
- Oh pá, não me conheces? Não me respeitas?

Eu, já em sentido, peço-lhe desculpa e digo-lhe a todo o momento estamos em contacto com patentes superiores às nossas e é normal proceder assim.
Ele virou-me as costas a remoer qualquer coisa e foi-se.
Retomei o meu trabalho, que era o registo de toda a correspondência que entrava no QG, à excepção da Secreta, que era tratada pelo meu chefe directo, o Sr Major Mouzinho de Albuquerque, do qual tenho saudade e de quem gostaria de saber, pois me despedi dele com um grande abraço, deixando-o a chorar. Era da Póvoa de Varzim, mas não mais soube dele.

Estava eu a retomar o trabalho no registo de correspondência e de novo ouço a perguntar algo ao balcão, e o Sargento indica que é ali atrás que deve dirigir-se. Aparece-me outra vez, de repente, o periquito. Desta feita para me perguntar se eu tinha alguma correspondência relativa a ele próprio. Perguntei-lhe o nome e respondi-lhe que não tinha nada relacionado com ele, ao que ele me pergunta como é que eu sabia. Eu explico-lhe que normalmente fixo o que escrevo e com aquele nome não tinha passado lá nada. Ele replica que tinha urgência em tratar do assunto e de novo lhe digo que logo que apareça, eu despacho para a repartição a que vier destinada.
Ele lá sai a falar sozinho e eu, de imediato, procuro a correspondência que tenho na secretária e encontro um envelope que era mesmo o que ele queria e escondo-o no fundo da gaveta. Primeiro irei despachar todos os outros e depois vou pensar o que irei fazer com o dele.

Ainda estou a pensar no caso, quando de repente me aparece o Major, meu chefe, e o periquito de novo. O Major com todo o respeito, como era seu hábito, cumprimenta-me, pois estava noutro gabinete e pergunta-me se eu não teria a dita correspondência que o nosso Capitão pretendia.
- Meu Major, pois se o nosso Capitão ainda há pouco esteve aqui e eu lhe disse que não tenho.

Lá me recomendou que mal chegasse, despachasse de imediato, pois o nosso Capitão tinha muita urgência.
Mais tarde, com calma, lá analisei o assunto e como não havia registos que me comprometessem até ter chegado ali esse envelope, e como o assunto que já nem sei de que se tratava, não era tão importante, e só me comprometeria se o registasse, não o fiz. Rasguei pura e simplesmente.
O que custa ser periquito numa terra como a Guiné.

Foi caso único aquele rasgar de correspondência, mas atrasei vários casos, de alguns oficiais que entravam por lá dentro e ao deparem com um soldado disparavam com o: Óh pá tens aí este processo, ou esta correspondência, ou isto, ou aquilo?... Se tivesse passado, dizia que já estava em tal repartição. Se não tivesse passado, quando me chegasse às mãos, ficava mais uma ou duas semanas à espera, dependendo de onde me chegasse essa correspondência, se da Província se da Metrópole.

O respeito é muito bonito e alguns não tinham mesmo categoria nenhuma, apesar de terem galões a pesar nas suas responsabilidades. Mas depois dessas entradas desses oficiais, quando viravam costas, normalmente a seguir vinham com a cunha do meu Chefe, ao que eu já estava habituado e ao que sabia dar a volta.

Mais um segredo que fica contado. Façam o que entenderem.

Um abraço a cada um de vós.
Ribeiro Agostinho
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14962: O segredo de... (20): Fernando Brito (1932-2014), ex-1º srgt, CCS/BART 2917 (1970/72): quadro, em "folha de capim", do seu infortunado filho (, morto mais tarde num trágico acidenrte, em 2001), pintado pelo caboverdiano Leão Lopes, em Bambadinca, 1971 (Cláudio Brito, neto)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12728: Convívios (560): VIII Almoço de confraternização de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 1 de Março de 2014, em Leça da Palmeira



VAI-SE LEVAR A EFEITO NO PRÓXIMO DIA 1 DE MARÇO DE 2014, EM LEÇA DA PALMEIRA, O VIII ALMOÇO/CONVÍVIO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ DO CONCELHO DE MATOSINHOS

Como vai sendo hábito, as inscrições estão abertas também aos nossos camaradas ex-combatentes da Guiné dos concelhos limítrofes.
De salientar que este ano, para que se inicie uma aproximação entre todos os ex-combatentes do nosso Concelho, as inscrições são abertas aos três teatros de operações: Angola, Guiné e Moçambique.
Assim, receberemos com prazer todos os nossos conterrâneos que combateram em África na Guerra do Ultramar que queiram confraternizar connosco.

O programa terá este alinhamento:

11h30 - Concentração do pessoal junto à marginal da Praia de Leça, onde se fará a foto de família.

12h00 - Missa de sufrágio na Capela do Sagrado Coração de Jesus, mais conhecida por Capela do Ruas, sita na Rua António Nobre, pelos camaradas caídos em campanha e pelos que, regressados vivos e sãos, ao longo da vida nos foram deixando.

13h00 - Almoço no Restaurante Luso-Brasileiro, sito na Trav da Agra.
Custo do almoço - 19 €uros.

Passa palavra e inscreve-te

Os organizadores do Encontro
Ribeiro Agostinho
José Oliveira
António Maria
Abel Santos
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12691: Convivios (559): Tabanca do Centro, Leiria, Monte Real, 31 de janeiro de 2014: 4º aniversário, 33º encontro, 80 convivas: um caso de sucesso, um futuro "case study" a ser seguido pelas academias militares de todo o mundo (Miguel Pessoa / Luís Graça)