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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24712: Notas de leitura (1620): "Tertúlias da Guerra Colonial"; edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2022:

Queridos amigos,
Do conjunto de intervenções que deram origem à publicação da responsabilidade da Associação dos Pupilos do Exército, optei por aquelas que são assinadas por Carlos de Matos Gomes e Alcindo Ferreira da Silva, a primeira sem a ver com as observações sobre a quadrícula, a presença da Companhia do mato, os seus méritos e deméritos, a lógica do Regime em fazer suprir as ausências da administração por um contingente militar a quem se multiplicavam as missões e as obrigações, acabando por implicar essa unidade, em zonas de média e alta intensidade bélica, a um recuo nos patrulhamentos e operações, delegando-se nas Forças Especiais, a realização de grandes atos ofensivos. E veremos seguidamente o testemunho de quem foi fuzileiro especial e combateu em pleno mato, em Ganturé e Gampará.

Um abraço do
Mário



O modo dos portugueses fazerem a guerra no mato (1)

Mário Beja Santos

Tertúlias da Guerra Colonial é uma edição da Associação dos Pupilos do Exército, 2021, o presidente da associação convidou um conjunto de oficiais das Forças Armadas que ao longo de quatro sessões, sempre através da plataforma Zoom, analisaram as quatro dimensões tidas como mais interessantes para as tertúlias: Antecedentes políticos e fundamentos; Combater no mato; Efeitos colaterais e entimentos coloniais; Do 25 de Abril à descolonização. Estas quatro sessões realizaram-se em outubro e novembro de 2020. É da temática combater no mato que vamos aqui resumir as comunicações de Carlos de Matos Gomes sobre a quadrícula do Exército e a Marinha na guerra no mato da Guiné por Alcindo Ferreira da Silva.

Carlos de Matos Gomes observa que a quadrícula constituía a base do dispositivo militar português nesta guerra: malha de unidades, organicamente e hierarquizadas, cobrindo o território de acordo com a intensidade da atividade dos guerrilheiros, da densidade populacional, da importância económica ou tática.

 Lembra também que desde 1959 existiam estudos no Ministério do Exército para a criação de um novo tipo de unidades e de novas táticas para fazer face à evolução da situação em África. Esta quadrícula foi o dispositivo territorial exclusivo do Exército, gozou de várias designações: Regiões Militares, Comando Territorial, Zonas de Intervenção Operacionais (estas comandadas por oficiais generais e coronéis, delas dependiam os setores que por sua vez integravam batalhões e na base da quadrícula situava-se a Companhia).

A opção por este dispositivo respondia a uma dupla necessidade: a de reconquistar e manter os locais onde haviam ocorrido ações violentas de sublevação; e a de instalar órgãos de soberania e de administração até aí inexistentes.

 Era a dupla necessidade de ocupar militar e administrativamente parcelas do território onde, até ao início das ações violentas não havia presença de órgãos do Estado, nem de administração, nem serviços públicos. O autor recorda que em 1961, no norte de Angola, não existia um só quilómetro de estrada alcatroada, não existia uma rede de telecomunicações com o mínimo de eficácia e não existia uma só unidade militar. Pode mesmo tomar-se os acontecimentos da Baixa do Cassanje, janeiro de 1961, prelúdio da violentíssima sublevação dos Dembos, como prova de ausência do Estado, não assegurando as funções elementares de garantia da justiça e segurança das populações. “Não foi por acaso que as ações violentas da guerra ocorreram em zonas onde a administração do Estado estava pouco presente, ou era quase inexistente, como acontecia no norte de Angola e no norte de Moçambique”.

A Companhia de quadrícula tinha demasiado tarefas, sobre ela recaía: administrar pessoal e equipamento, incluindo a defesa e o abastecimento da tropa; órgão de soberania e de administração do território, por ausência de outro, providenciando serviços mínimos de saúde, de educação e até de justiça, agindo segundo as normas da ação psicológica; e, acima de tudo, realizar operações militares, nomadizar, fazer patrulhamentos ofensivos. “Desde cedo foi percebido pelos comandantes dos teatros de operações que só era possível cobrir todas estas tarefas em zonas de baixa intensidade operacional, onde não fosse provável a ocorrência de situações de envergadura por parte do inimigo. Onde o pelotão/grupo de combate não era suficiente, e em boa parte dos teatros de operações deixou de ser nos primeiros anos da guerra, a atividade operacional ficava circunscrita às imediações do aquartelamento e quase se reduzia às colunas logísticas de reabastecimento, era uma atividade que se limitava à presença e à ação psicológica”.

Esta implantação territorial na quadrícula de companhia, observa o autor, teve o mérito de aproximar os seus militares das populações africanas, a quem proporcionaram significativas melhorias das condições de vida, mas desviavam o Exército da função principal de combater, o que fez com que as ações militares de alguma envergadura tivessem de ser assumidas pelas forças de intervenção, maioritariamente constituídas pelas tropas especiais. E há os efeitos perversos: “A reduzida capacidade operacional das companhias da quadrícula provocou o aumento de efetivos de unidades de intervenção, quase sempre especiais, mais caras e mais difíceis de obter. A quadrícula de companhia tornou ainda o Exército, no seu todo, como uma força defensiva, fixa ao território, sem mobilidade, com as suas unidades vulneráveis, e exigiu um esforço excessivo e pouco remunerador para manter este dispositivo. No final da guerra, em especial na Guiné e em Moçambique, a quadrícula de companhias consumia-se em boa parte para manter uma ocupação ineficaz do território, os seus quartéis constituam alvos fixos e remuneradores para os guerrilheiros”.

O regime de Salazar viu nesta solução de administração militar uma série de vantagens: era barata, pois os recursos das Forças Armadas substituíam o que competia com uma administração civil; solução que também agradava os militares, pois era moralmente mais recompensador dedicarem-se a tarefas de apoio social do que à guerra. “Em Angola, onde os efetivos em 1960 eram de cerca de 70 mil homens, o general Fraser, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas sul-africanas, numa reunião com as autoridades portuguesas, calculava que um máximo de 30 mil homens seria suficiente, desde que empregues naquilo que as Forças Armadas poderiam fazer, combater o inimigo, e desde que existisse um bom governo civil”.

E há o chamado sentimento de dever, a razão por que se luta, que o autor assim resume: “Na guerra colonial, curiosamente de forma muito semelhante ao que aconteceu com a participação de Portugal na Grande Guerra, as tropas nunca souberam com clareza por que combatiam. As respostas que davam nos inquéritos referem o cumprimento de um dever (resignação); defender o que é nosso (a adoção de um discurso vazio, que era contrariado por parte dos militares quando reconheciam que a guerra aproveitava a uns poucos que com ela enriqueciam à custa do sacrifício dos soldados). Mas as tropas, também como na Grande Guerra, foram, no geral, mal instruídas, e o seu nível quer de motivação quer de instrução sofreu uma contínua degradação ao longo dos anos de guerra”. O autor explana ainda a opinião dos Aliados, a situação em Moçambique e conclui assim: “A guerra colonial era, por motivos históricos e de conjuntura nacional, uma guerra perdida à partida, no sentido em que a vitória seria manter no último quarto do século XX uma entidade política com uma pequena cabeça na Europa, espalhado por três continentes e pelos três oceanos do planeta. Mas a guerra travada no mato, nas florestas, nas chanas, nas bolanhas de Angola, de Moçambique e da Guiné sofreu dos condicionamentos gerais da participação de Portugal na Grande Guerra. O mato de África não foi um lugar de glória nem de boa memória”.

Vamos de seguida ver uma exposição sobre a Marinha na guerra no mato da Guiné.

(continua)
Alferes Marques Vieira, 1971. Imagem carregada por Kai Archer, com a devida vénia
Viagem num rio da Guiné. Imagem retirada de GUINÉ BISSAU - Memórias, com a devida vénia
Fuzileiros a caminho de uma operação na Guiné. Imagem retirada de fuzileiros especiais 12 - 1970 / 1971 - guiné, com a devida vénia
Parte do armamento apreendido na Operação - Cocha, na base do PAIGC zona de Cumbamory, pelo destacamento de Fuzileiros Especiais. Imagem retirada de fuzileiros especiais 12 - 1970 / 1971 - guiné, com a devida vénia


Fixação do texto e edição de imagens: Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 25 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24697: Notas de leitura (1619): "PAIGC A Face do Monopartidarismo na Guiné-Bissau", por Rui Jorge Semedo; Nimba edições, 2021 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16674: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (105): As tábuas do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gordalina: o desfecho da história... (Rui Ribolhos Filipe, historiador e arqueólogo, filho de José Filipe, antigo fuzileiro, DFE 12, 1971/73)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita, o cor inf ref Carlos Gordalina e o antigo fuzileiro, do DFE 12, José Filipe


Foto nº 2 > José Filipe e o filho  Rui Ribolhos Filipe, com as tábuas do cor inf ref Carlos Gordalina



Fotos: © Rui Ribolhos Filipe  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Rui Ribolhos Filipe, nosso leitor, filho de um camarada nosso, José Filipe, do DFE 12 [Guiné,  1971/73]


Data: 16 de outubro de 2016 às 15:32
Assunto: As Tábuas do Coronel Gordalina - O Desfecho


Caro Luís e camaradas da Tabanca Grande,

Após a nossa busca pelo coronel Carlos Gordalina, com a preciosa ajuda da Tabanca Grande (*), eis o desfecho.

No passado sábado dia 15 [de outubro] encontramo-nos (eu e o meu pai) com o sr. coronel Gordalina na sua casa em Lisboa. O motivo,  como sabemos, era entrega de duas tábuas que pertenceram a uma caixa de transporte do tempo da Guerra do Ultramar.

Foi com grande surpresa e alegria que,  ao abrir o embrulho, o sr. coronel deparou-se com algo que havia preparado há  mais de 40 anos: duas belas pranchas de madeira exótica com nº de transporte (929) / nº de caixa (3 de X) / Posto / Nome / Nº Mec. e  DGA (Depósito Geral de Adidos),
pintados a branco.

Como vieram parar a um sitio ermo como a estrada militar Carnide-Lumiar, perto do desaparecido paiol de Vale do Forno,  é um mistério. Em todo o caso ficamos a saber que o sr. coronel esteve nas
três frentes, Moçambique, Angola e Guiné. Nas mudanças entre colónias e metrópole, acompanhado da esposa, era usual preparar caixas de madeira para fazer transportar os bens pessoais.

A má experiencia quando não havia cuidado no manuseamento das caixas mnos portos, despachante ou navios, levou o nosso coronel a adquirir boas madeiras exóticas (abundantes nas colónias) de boa espessura para construir "caixas-fortes" bem resistentes.

Durante a nossa conversa [, na sua casa, em Lisboa,]  chegou-se à conclusão de que as caixas vinham de camioneta até à residência do sr. coronel. Depois de tirados os pertences, e visto serem demasiado grandes para serem guardadas em casa, as caixas ficavam para a transportadora. O coronel também disse que em ocasião alguma deitaria fora algo com o seu nome tão visível.

É muito possível que a caixa de onde as nossas tábuas vieram, ter estado guardada em algum armazém e em alguma limpeza ter sido despejada no local onde foi encontrada.

O sr. coronel Gordalina agradece a todos os quantos tornaram possível o retorno destas memórias!

Em anexo as famosas tábuas com os dois achadores e no momento da entrega com o coronel de infantaria Carlos Gordalina e José Filipe,  antigo fuzileiro,  DFE 12 [,Guiné, 1971/73].

Grande abraço,
Rui Filipe


2. Comentário do editor LG

Rui (e José Filipe, nosso camarada):

Tudo está bem acaba bem... Obrigado, ao Rui e ao pai, nosso camarada, pelo empenho que puseram nesta história...

Tive também "feedback", pela minha prima Maria da Glória Gordalina, da Gândara dos Olivais, Leiria, de que o nosso coronel (e  primo dela)  ficou muito sensibilizado pelo vosso gesto (e o nosso apoio).

Tínhamos prometido publicar  a história e o seu desfecho. Aqui está.

Aproveito para convidar o Rui a integrar a nossa Tabanca Grande: afinal, descubro agora, por pesquisa na Net, que ele é historiador e arqueólogo, e tem-se particularmente interessado por  história militar e pela batalha do Vimerio. Trabalhou inclusive, na minha terra Lourinhã, como responsável pelo Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (entre 2008 e 2013). Nasceu em Lisboa, em 1978.

Diga-se de passagem que só uma pessoa com a dupla formação (e sensibilidade) em história e arqueologia, como o Rui,  é que se daria ao cuidado de nos contactar por causa de duas tábuas de um caixote que pertenciam a um oficial do exército português do tempo da já tão esquecida guerra do ultramar. Afinal, Rui, e camaradas, constatamos, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Abraço. LG

PS - Obrigado a todos,  pelos contributos dados para a localização do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gortalina, a começar pelo nosso colaborador permanente, o José Martins. O nosso camarada ex-alf mil, Vasco Ferreira, também nos indicou ter estado em Cadique, na Região de Tombali, em 1973, na CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) , quando fazia parte do comando [do batalhão] o major Gordalina. Mas tarde, após o 25 Abril, o Vasco encontrou o major Gordalina no Porto, na altura era o 2º comandante da região militar do Porto no quartel situado, na Praça da República.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16553: Em busca de... (272): Major inf (hoje possivelmente cor inf ref) Carlos Graciano de Oliveira Gordalina... O meu pai, antigo fuzileiro do DFE 12, encontrou há anos umas tábuas de madeira exótica (talvez alguns salvados) com o seu nome pintado a branco... Sabemos que este oficial foi secretário da direção da Liga da Multissecular Amizade Portugal - China, em 2011/14 (Rui Ribolhos)



1. Mensagem do nosso leitor Rui Ribolhos, com data de 21 de setembro passado:

 Caro Senhor,

Parabéns pelo vosso Blog! Sou filho de combatente e deparei-me com o vosso blog, quando procurava um nome de oficial.

No vosso Blog de terça-feira, 5 de janeiro de 2010 com o título Guiné 63/74 – P5595: Fichas de Unidades (6): COP 4 - Comando Operacional nº 4 (José Martins),  aparece o nome Major de Infantaria Carlos Graciano de Oliveira Gordalina.

Como posso entrar em contacto com este oficial, ou familiar? O seu número mecanográfico  era 51396011.

Agradecia qualquer ajuda ou alguma pista onde posso ir à procura.

Os melhores cumprimentos continuação de bom trabalho.

Rui Filipe

2. Esclarecimento do nosso colaborador permanente José Martins, com data de 23 de setembro p. p.:

Bom dia Luís e Carlos:

Esta malta mais nova, como aconteceu conosco, está na idade em que "tudo é eterno".

Há muita malta do nosso tempo, alguns um pouco mais velhos, ou já partiram ou já passam dos 70 ou 80 anos. Porém alguns ainda andam (?) por cá.

Quanto ao nosso consulente, sugiro que tente contactar   a Liga da Multissecular Amizade Portugal - China, da qual o militar procurado, Carlos Graciano de Oliveira Gordalina, foi secretário da direção de 2011 a 2014.

Desejo sorte na procura deste nosso camarada.

Para vós um abraço e desejos de um bom fim de semana.
Zé Martins

3. Nova mensagem de Rui Ribolhos , a quem foi dada esta informação do nosso Zé Martins:
Data: 23 de setembro de 2016 às 14:37
Assunto: Em busca de oficial

Caro Senhor Luís Graça,

O meu maior agradecimento pela preciosa ajuda. Já enviei mail para a dita liga e aguardo agora resposta.

A busca por este oficial prende-se com as coincidências desta vida. O meu pai foi Fuzileiro Especial na Guiné (DFE 12). Num dos seus passeios habituais pela zona em busca de madeira para usar no assador, encontrou algumas tábuas de madeira.

Como carpinteiro de paixão, verificou tratarem-se de tábuas de madeira exótica e no ato de as revirar verificou que duas tinham pintado a letras brancas: MAJ. GORDALINA Nº MEC 51396011 D.G.A. (noutra surgia CAP. rasurado e depois MAJ.)

O meu pai reconheceu tratar-se de um possível camarada que havia enviado/recebido pertences durante a Guerra de ou para a Metrópole. Não pensando mais no assunto e recolhendo-as na sua garagem por lá ficaram algum tempo.

Em conversa com o meu pai pensamos que seria interessante entregar as ditas a seu dono/camarada, partindo do principio que não fora ele a ver-se livre delas para ter espaço em casa!! e acreditando nós que serviram de reaproveitamento das mesmas ao longo dos anos por outras pessoas.

Assim cheguei a si e agora veremos o desenlace desta pequena história.

Realmente pensei que já podia não estar entre nós, mas vamos ver!

Poder-se-ia pensar porquê dar-se a este trabalho? ... Mas penso que é uma forma de preservar a memória de uns e de todos.

Pode partilhar este mail com o resto dos camaradas de armas, se achar de interesse. Conto-lhe depois o resultado

Cumprimentos,
Rui
___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de agosto de  2016 > Guiné 63/74 - P16426: Em busca de... (271): José Manuel de Medeiros Barbosa, natural de (e residente em) Bafatá, meu camarada em Angola, radiotelegrafista, Lumege, 1972/74 (José Alexandre Barros Ferreira)

domingo, 9 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8877: O Nosso Livro de Visitas (118): Um fuzileiro do Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE) nº 12, há 30 anos na Austrália (António Lourenço)





1. Mensagem e foto enviadas para os e-mails dos editores, por um Camarada nosso na diáspora, António Vieira, com data de ontem:
 Caros Colegas,
Excelente reunião de contactos e histórias que vocês conseguiram reunir. Fiquei surpreendido pelo excelente trabalho que conseguiram, em reunir os filhos da Escola de Fuzileiros.

Chamo me António Lourenço, sou emigrante na Austrália há 30 anos e gostaria de partilhar a minha história, mas principalmente encontrar os meus colegas do DFE 12, destacado na Guiné 1972/74, em Guantore e Cafine.

Qualquer contacto por favor partilhem no meu facebook, ou no meu e-mail: antonio.lourenco.estreito@gmail.com

Saudações de colega,
António Lourenço
____________

Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

5 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8860: O Nosso Livro de Visitas (117): Samuel Vieira, guineense da diáspora, engenheiro informático no Brasil, elogia o nosso blogue

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7290: (De) Caras (7): Titina Silá poderá ter sido morta por forças do Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 8 (Comandante Alcindo Ferreira da Silva)




1. Mensagem de Alcindo Ferreira da Silva, um camarada nosso, comandante da Marinha, professor, especialista de ensino à distância, com obra publicada:

Data: 15 de Novembro de 2010 21:54
Assunto: Blog Luís Graça e Camaradas da Guiné

Caros senhores

Um amigo chamou-me a atenção para a uma notícia sobre a morte da guerrilheira Titina Salá [, foto à direita,] em 30 de Janeiro de 1973 no decorrer de um encontro com botes de fuzileiros no rio Cacheu publicada no vosso blog. (*)

Como me encontrava por esses lados na data referida, a curiosidade levou-me a consultar os meus arquivos dessa época.

Na altura encontravam-se sediados em Ganturé dois Destacamentos de Fuzileiros Especiais. O DFE8 e o DFE12, pelo que a ter acontecido esse encontro teria de ser com estas unidades.

Consultando os arquivos e notas que guardo, não encontro qualquer referência a contacto com o IN no dia 30 de Janeiro.

No entanto nos dias 31 de Janeiro e 1 de Fevereiro, durante o decorrer da Acção Salisburia há referências que podem ter  alguma coisa a ver com o acontecimento relatado.

No dia 31 pelas 1630 duas parelhas de botes do DFE8 interceptaram e atacaram um bote de borracha com 8 elementos armados perto da clareira do Jagali. O pessoal que seguia no bote lançou-se ao rio e, ao mesmo tempo, a parelha de botes que seguia à frente foi atacada da margem sul do rio Cacheu. Os botes reagiram e com a protecção da segunda parelha recolheu-se o bote abandonado e retirou para fora da clareira pedindo e regulando o fogo de obus enquanto eram flagelados com fogo de morteiro. 

A LFG Sagitário chegou ao local cerca de 20 minutos depois e bateu com fogo as duas margens do rio. O pessoal dos botes desembarcou de seguida, mas foi mandado retirar porque eram poucos homens e tinham esgotado quase todas as munições.

No relatório da operação referem-se baixas prováveis no IN. Uns dias depois receberam-se notícias de teria morrido nesse recontro várias pessoas entre as quais um cubano de nome Alexandre, instrutor/mecânico de Armamento que se dirigiria para o Morés.

No dia 1 de Fevereiro, na mesma zona num patrulhamento ofensivo realizado pelos DFE8 e DFE12 foram detectadas marcas da presença de muito pessoal e capturado material diverso e uma canoa de 6 metros abandonados .

Se a morte de Titina Salá se verificou realmente no dia 30 de Janeiro numa acção dos fuzileiros isso só poderia ter acontecido num disparo sobre qualquer movimento suspeito na margem, acções essas que, por serem muito frequentes, não eram registadas.

Com os melhores cumprimentos
Alcindo Ferreira da Silva




Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > Ganturé-Bigene > "NRP Sagitário: 20-12-71. Feliz Natal".O fotógrafo estava lá... 

Uma foto muito feliz do Cmdt A. Rodrigues da Costa, gentilmente disponibilizada pelo ex-1º Tenente RN Manuel Lema Santos, que esteve connosco na Tabanca Grande até há poucos meses, e que é webmaster do sítio Reserva Naval.

Foto: © Manuel Lema Santos  (2006) (com a devida vénia ao Cmdt A. Rodrigues da Costa). Direitos reservados.


2. Comentário de L.G.:

Caro comandante Alcindo Ferreira da Silva (se é que o posso tratar assim), caro camarada, ex-combatente da Guiné, caro colega das lides pedagógicas: Estou-lhe grato pelos esclarecimentos que, de pronto, nos quis prestar. 

Qualquer dos cenários sobre a morte da Titina Silá que nos apresentam,  são verosímeis:   (i) a 30 de Janeiro de 1973, vítima de disparos efectuados sobre a margem sul do rio; (ii) 31 de Janeiro, por volta das 16h30, quando os dois botes do DFE 8 interceptam um bote do PAIGC com 8 elementos armados...

É possível a partir daqui apurar mais pormenores. O meu muito obrigado. Em nome da nossa Tabanca Grande. E do direito que todos temos, portugueses e guineenses, à informação e ao conhecimento, objectivo,  sobre a realidade (histórica) da guerra da Guiné (1961/74). 

Espero que apareçam mais antigos camaradas da Marinha que nos possam adiantar mais esclarecimentos sobre as circunstâncias da morte desta importante dirigente do PAIGC, ainda hoje envolta na penumbra da lenda. No fundo, o que ficará para a posteridade (se deixarmos morrer todas as testemunhas deste acontecimento, de um lado e do outro)  é a letra da canção, é o mito, é a construção social da heroína: " “Titina na riu di Farim, Titina nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa lança bumba…” (...)

3. Comentário, a este poste,  do Nelsom Herbert, com data de 16/11/2010:

(...) A versão do ataque de 31 de Janeiro pelo destacamento de fuzileiros não difere da contada pelos guerrilheiros sobreviventes que acompanhavam na altura Titina Sila... Surpreendidos pelo fogo intenso dos fuzileiros, os ocupantes do bote ou canoa tiveram que se atirar ao rio... alguns feridos, caso da Titina Sila... que terá ainda chegado viva, mas gravemente ferida às margens do rio...

V
a-se ver que a data foi mesmo 31 de Janeiro..."instead of" [em vez de]  30 de Janeiro ! (...)

________________

Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 14 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7281: (De) Caras (6): Titina Silá (1943-1973), morta duas vezes, pelos fuzos e pelo esquecimento... (Nelson Herbert / Luís Graça)