28 de Abril de 2007 > 2º encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > Restaurante
O Manjar do Marquês > Uma grande parte do grupo (faltam sempre alguns/algumas), fotografado depois do almoço.
Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > Restaurante
O Manjar do Marquês. Antes do almoço, o Vitor Junqueiro, na sua qualidade de nosso anfitrião e organizador do encontro, fez o discurso de boas vindas.
Num gesto de grande simbolismo e beleza, que nos tocou a todos, fez-se rodear e acompanhar pela sua família: três lindas filhas, duas encantadoras netas, um genro e o namorado de uma das filhas, qualquer deles simpatiquíssimos e amáveis...
Verdadeira caixinha de surpresas (2), o Vitor fez questão de ser condecorado por dois dos seus camaradas de Guiné: o A. Marques Lopes, o mais graduado de todos nós, coronel DFA na reforma, e que foi gravemente ferido em combate na Guiné; e o Luís Graça, na qualidade de editor do blogue...
A condecoração, sobre a qual ele foi lacónica, tem a ver com a sua brilhante folha de serviços como militar. Foi-lhe atribuído, segundo o que retive, pelo Chefe do Estado Maior do Exército e era para lhe ser entregue no dez de Junho de 1974... A cerimónia acabou por ser adiada trinta e três anos... Simbolicamente, a medalha por bons serviços foi-lhe entregue no dia 28 de Abril de 2007, por dois camaradas seus, na sua terra, na terra que ele muito ama... Um gesto carregado de grande significado e de alguma emoção.
Fotos: ©
David Guimarães (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do nosso tertuliano nº 3, David Guimarães:
Caros Luís, Vítor Junqueira e ex-camaradas.
É evidente que o dia de Sábado [ 28 de Abril de 2007,] foi diferente, bastante diferente de outros e ficamos sempre com vontade de outro Sábado melhor... Melhor, digo eu, em quantidade de pessoas, que quanto à qualidade chega (somos amigos, mais uma vez isso ficou comprovado)....
O resto que eu poderia dizer por aqui, seria jogo de palavras mais ou menos finas que eu aprendi na vida civil e começaria a dizer mais isto e mais aquilo até que chegaria à conclusão que... no Sábado tínhamos conquistado Pombal... Mas isso é outra coisa...
A Nossa História verdadeira foi o encontro que valeu a pena ... Um bem haja ao Vítor que tudo programou (e bem) no que respeita ao encontro . Pena foi o dia não ter mais horitas e ele acabava por me convencer o que eu não supunha... que Pombal era a melhor terra de Portugal.... Neste dia foi para nós e ainda bem... Ele soube muito bem comandar a operação, sem algum reparo e sem nenhum ferido...
Um bem haja novamente ao Luís que fez com o blogue esta maravilha de encontro... E a todos os ex-camaradas, obrigado, e que amanhã mais outros venham... Tenho a sensação que temos que alugar um quartel qualquer para uma próxima confraternização, mas se for preciso que assim seja, pois que eles sirvam para isso agora... Pelo menos teremos bons espaços... E pronto...
Na minha máquina saíram essas fotografias, que junto... Bom, estamos parecidos com o que somos, disso não me vou queixar a quem me vendeu a máquina... Estamos aí...Um grande abraço a todos com amizade,
David Guimarães
2. A pretexo, o Vitor não só comentou como acrescentou um conto, como só ele sabe contar. Neste caso, uma estória... com mu(o)ral ao fundo...
David,
No rescaldo do nosso Encontro, recebi vários e-mail com apreciacões sobre o Convívio, a maioria delas bastante positivas.
Há certas coisas que eu sei fazer. E acho que as faço bem. Porém, em matéria de organização de eventos, esta foi a minha primeira vez! Senti-me tão periquito como num certo episódio em que me ofereci para abater um leitão, que já não me lembro, nem isso é importante, se me foi oferecido ou à messe. Ninguém tinha ideia nenhuma de como é que se matava o bicho, a não ser a tiro. O que não convinha, pois a carne ficaria muito escura por o animal não ser devidamente sangrado. Eu já tinha visto fazer o seviço. Mandei chamar o fígaro da companhia e, quando chegou à minha presença, ordenei-lhe que fosse buscar a tesoura de cortar cabelo e a desinfectasse muito bem.
Num instante, eu tinha na mão a arma letal. Sem a menor hesitação, cravei um dos seus ramos na barbela do javardito, até aos copos. Não houve sequer um estremecimento, o animal caíu para o lado e assim se quedou, morto, como se tivesse sido fulminado. Saboreei a admiração que li nos olhos da minha pequena assistência, meia dúzia de praças que assitiam ao acto, para além do Russo, cozinheiro, e do básico seu ajudante.
Era a glória na arena, num fim de tarde perfeito. Impante de orgulho, qual matador de touros após lide afortunada, virei as costas à cena nem me dando ao trabalho de retirar o instrumento corto perfurante do pequeno cadáver que jazia a meus pés. Peito inchado, queixo erguido, porte marcial, encaminhei-me para a messe antecipando um jantar majestoso a interromper uma sequência interminável de ranchos à base de batata cozida com cavala de conserva, ou dobrada liofilizada com arroz. Iria derramar a minha incontestada superioridade sobre as cabeças baixas em sinal de respeito e admiração dos camaradas que comigo compartilhavam a mesa. Iria fazê-los sentir que naquela noite, se lhes era permitido deleitarem-se com a pele estaladiça e saborosa de um belo leitão à bairrada, a mim o deviam. Seria uma espécie de promoção
honoris causa!
Não tinha avançado mais do que um dezena de passos quando ouço à minha rectaguarda um escarcéu do camano. Eu já tinha reparado que o filho da puta do porco jazente parecia observar-me com um olho aberto e outro fechado. O que eu não podia imaginar é que o cabrão estava a fazer-se de morto! Assim que achou que a distância entre nós era segura para lhe permitir a fuga, pôs-se de pé e aí vai ele direito à orla da mata.
Pimentel, o barbeiro, vendo a sua única tesoura encaminhar-se a tal velocidade para a floresta, entrou em pânico e desatou a correr atrás do bichinho. Mas este, com a ligeireza e manha próprias da espécie, não tardou a esfumar-se completamente no meio do mato. A vergonha era tanta que, se o chão pudesse oferecer-me um buraco para eu me esconder, eu ter-me-ia enfiado lá dentro.
Mas para grandes males, o remédio possível. O que não era adimissível era passarmos a andar todos guedelhudos por falta de tesoura. Mandei equipar uma secção e lá fui em busca do jantar andante. Fez-se noite, a hora do tacho já lá ia e do fugitivo nem rasto. O pessoal resmungava, com razão, e o mal-estar palpva-se. Mandei retirar. De volta e já perto do arame farpado, o fugaz reflexo de um raio de luar despertou a atenção de um dos homens. Baixou-se por uns instantes e, ao erguer-se, levantou o braço ostentando como se fosse um troféu, um dos mais belos que já vi, a nossa bendita tesoura!
Aliviado, fui em busca da janta que o Manuel dos Santos, corneteiro e
barman, me tinha resguardado com todo o desvelo. Levantei a tampa da marmita e ... és capaz de adivinhar o que era o menu?
Pois meu querido amigo David Guimarães, eu acho que no passado sábado voltei a tentar matar o porco com a tesoura!
Obrigado pelas palavras de ânimo e pelas fotografias.
Até ao próximo (encontro), se não for antes. Um abraço do,
Vitor Junqueira
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Notas de L.G.:
(1) Vd. último post desta série > 3 de Maio de 2007 >
Guiné 63/74 - P1725: Tertúlia: Encontro em Pombal (10): O nosso bom gigante J. Mexia Alves (Vitor Junqueira)
(2) (...) "Do meu curriculum consta que fui trabalhador rural, vendedor ambulante, empregado de balcão, operário da construção civil, contrabandista, marinheiro e médico. Mas nunca fui Bufo, nem agente infiltrado ou pide à paisana. Considero-me um homem de palavra, a quem a Pátria sempre tratou como filho e nunca como enteado. Deu-me mais do que eu merecia.Quanto aos dois anos que passei na Guiné, foram de facto os melhores da minha vida só comparáveis àqueles em que andei lá por fora" (...).
Vd. post de 27 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74: P1215: Vitor Junqueira: Irmãos de sangue, suor e lágrimas (Vitor Junqueira)
Vd. também post de 31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1224: Blogue: não ao politicamente correcto (Vitor Junqueira)