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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Guiné 61/74 - P23360: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (5): A principal fonte de energia (c. 85%) ainda é a proveniente da biomassa (lenha, carvão vegetal...)


Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 7 de junho de 2022 > Molhos de lenha, à beira da estrada, no K3. A lenha e o carvão são levados para Bissau para que não falte na época das chuvas na casa das famílias... 90% das famílias de Bissau ainda os utilizam como combustível nas suas cozinhas. Apesar do grande potencial do país em matéria de energias renováveis... 

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P23350 (*):

Em relação a foto acima reproduzida, e baseando-se em dados oficiais do Ministério da Energia e Recursos Naturais de 2018, estimava-se que o perfil energético da Guiné-Bissau fosse o seguinte: 
  • 70-72%: Lenha; 
  • 14-15%: Carvão vegetal com utilização de fogões tradicionais e melhorados; 
  • 10-12%: Electricidade e produtos petroliferos 
  • 1-4 %: Renováveis (energia solar). 

De notar que estes dados não são muito diferentes dos dados apresentados no estudo,  citado por Luis Graça,  da ONGD ALER,  de 2017 [Vd. excerto abaixo publicado, no ponto 2].

Apesar de haver varios projetos em carteira para a instalação de centrais fotovoltaicas no país, todavia ainda só funcionam em Contuboel, Bambadinca e Bissorã com alguns problemas técnicos e de gestão e, sobretudo, muitas queixas dos beneficiários,  seja pela quantidade/quantidade, seja pelas tarifas praticadas, num contexto de muita pobreza e onde quase sempre se esperava acontecer uma distribuição gratuita, à moda da Suécia dos anos 70/80. (**)

Cherno Baldé

2. Excerto de artigo> 4 de dezembro de 2017 > ALER - Associação Lusófona de Energias Renováveis > Notícia > Geogios Xenakis > Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca “Bambadinca Sta Claro”
 
(...) Geograficamente localizada na costa ocidental da África, a República da Guiné Bissau é um pequeno país de 36.125 km2, com uma população total de 1,45 milhões de habitantes, 60% dos quais concentrados em áreas rurais (Recenseamento Geral da População e Habitação-RHPH de 2009). 

A vila de Bambadinca, com 6,4 mil habitantes está localizada na região de Bafatá, 120 quilómetros a leste da capital Bissau.

A taxa de acesso à eletricidade da população na Guiné-Bissau é muito baixa: segundo o Plano de Ação no Sector das Energias Renováveis[1], em 2010 a taxa era apenas 11,5%, enquanto que na região da África subsaariana esta taxa cresceu de 23% em 2000 para 32% em 2012 [2].

 Bambadinca era abastecida por geradores diesel até 2007 que, entretanto, se tornaram obsoletos deixando 95% da população da vila sem energia elétrica.

Neste contexto complicado, a TESE-Associação para o Desenvolvimento implementou entre 2011 e 2015 o projeto “Bambadinca Sta Claro” em parceria (...). (***)

No âmbito do Programa Comunitário de Acesso a Energia Renovável de Bambadinca – “Bambadinca Sta Claro” uma mini-rede decentralizada foi construída na vila de Bambadinca, tendo sido desenvolvido e implementado o modelo de gestão para garantir a sustentabilidade do sistema.

A solução técnica trata-se de um serviço de energia decentralizado (off-grid) constituído por uma componente dedicada à produção de energia elétrica e uma rede de transporte e distribuição dedicada à entrega da energia à comunidade. 

A produção é conseguida de forma híbrida, graças a painéis fotovoltaicos e a geradores diesel (Central Fotovoltaica Híbrida – CFH). O consumo noturno é satisfeito através de baterias e se for necessário pelos geradores, como backup. A CFH tem três grupos idênticos, de uma potência total de 312kWp. O sistema garante o fornecimento de energia 24h a Bambadinca, conseguindo uma baixa utilização dos geradores.

Para garantir a sustentabilidade económica e social do projeto, a gestão é sustentada por uma parceria público-comunitária e neste contexto foi criado o Serviço Comunitário de Energia de Bambadinca (SCEB). A comunidade local tem sido envolvida no projeto desde o início, tanto na elaboração do modelo de gestão como na definição das tarifas e dos modelos de faturação. Em paralelo, foram implementadas campanhas de eficiência energética e de segurança elétrica, a fim de sensibilizar a população em termos de comportamentos a adotar a respeito de gestão do consumo e de segurança.

O SCEB tem atualmente mais de 650 clientes, entre residenciais, comerciais e instituições, garantido eletricidade 24h/dia, principalmente graças a uma fonte de energia renovável. 

O acesso à energia permite aos habitantes de Bambadinca aceder de novo a várias oportunidades económicas e sociais em termos de empregabilidade e educação. O sucesso do “Bambadinca Sta Claro” demostra a viabilidade dos projetos de eletrificação decentralizada com energias renováveis na Guiné-Bissau, em consonância com as políticas do sector nas áreas de desenvolvimento de energias renováveis e de acesso à energia.

Georgios Xenakis | Responsável Setorial Energia e Coordenador de Projetos

[1] Plano de Ação Nacional no Sector das Energias Renováveis (PANER, 2010)

[2] Africa Energy Outlook, 2014.
___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 14 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23350: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): Por terras de Farim - II (e última) Parte: gentes e lugares


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20250: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (4): outras características socioculturais que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST




Para saber mais sobre este grave problema de saúde pública, a infeção por HIV/SIDA nos nossos países, vd o relatório, disponível desde abril de 2018, no sítio da CPLP: Epidemia da VIH nos Países de Língua Oficial Portuguesa – 4ª Edição




1. Reproduzem-se, com a devida vénia, e as necessárias adaptações (, incluindo fixação / revisão de texto),  mais alguns excertos de um importante relatório sobre a Guiné-Bissau, relativamente às "doenças sexualmente transmissíveis" (*), com destaque para o HIV / SIDA.

A fonte consultado é o relatório da CPLP sobre a Guiné-Bissau, e que corresponde ao capítulo 4 (da pag. 272 à pag. 337) do relatório final. A autora é a consultora brasileira Helena Lima. 

Para não sobrecarregar o poste, eliminaram-se alguns parágrafos bem como as citações e as referências bibliográficas. O texto original, em pdf, pode ser aqui, consultado:



Vd. Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita, no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único, dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa, 2018 [documento em formato pdf, 643 pp. Disponível em: https://www.cplp.org/id-4879.aspx]



2. Listagem de mais algumas características socioculturais do país e de comportamentos de risco da população, que facilitam a propagação do HIV/SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis:



(i) Sexualidade precoce:

A sexualidade precoce, antes dos 15 anos, é comum nas meninas da Guiné Bissau, cerca de 27% [,dados de 2010]. 
Cerca de 7,1% das meninas casaram-se com menos de 15 anos 
e 37,1% com menos de 18 anos. 

Dados de 2011 mencionam que 13% das meninas de 15 a 24 anos 
tiveram sua primeira relação sexual 
com um homem 10 anos mais velho que ela, 
sendo 38% deles já casados.

(ii) Contraceção: 

O baixo uso de preservativo pelas mulheres (3,2% em 2010) é compreendido à luz da desigualdade de género, sendo que o poder está do lado dos homens.


(iii) Dependência da mulher:

A dependência da mulher para sua sobrevivência, ou seja, em tudo, inclusive nas decisões sobre sua própria saúde, 
aliados ao medo do repúdio e divórcio 
ao se notificar o parceiro sobre o resultado positivo 
de um teste de HIV/SIDA, 
são fatores de aumento da vulnerabilidade feminina à infecção.


(iv) A poligamia:


É legitimada pela religião muçulmana:  por lei, o homem pode ter até 4 esposas, desde que possa sustentá-las. Também há a poligamia informal, incluindo pessoas de todos os credos e etnias, sem distinção. 

A percentagem de pessoas entre 15 e 49 anos que estão numa união poligâmica é de 44,0% entre as mulheres e 25,8% dos homens. 

Nos homens casados, durante o período de aleitamento materno das suas mulheres, procuraram parceiras ocasionais, comadres e/ou outras esposas legítimas.
 

(v) Permissividade sexual na sociedade balanta;

Existem, entre os balantas,  normas e práticas socioculturais 
que instigam a promiscuidade e liberdade sexual dos jovens. 
A prática cultural e sexual “Pnanhga” que consiste 
na entrega sexual de uma rapariga/mulher a outrem 
durante a sua hospedagem, 
é disso um exemplo.(...)

(vi) Gerontofilia:

 O fenómeno de gerontofilia e as suas consequências na promiscuidade sexual: sendo social e tradicionalmente aceitável o casamento entre gerações diferentes, essa prática aumenta os casos de infidelidade entre os envolvidos, sobretudo nas mulheres (que por norma são sempre bastante novas em relação aos maridos). 

Assim, a promiscuidade é bastante frequente nas famílias dos centros urbanos, chegando a ser também banalizada em certas tradições de grupos étnicos. Por exemplo, na etnia Beafada a infidelidade não é reprovada, mesmo que seja de uma mulher casada e, por consequência, caso tenha terminado em filho, consideram uma sorte para o marido legítimo da mulher.


(vii) Tio do noivo como deflorador da noiva, mantendo relação sexual com a mesma na noite de núpcias:

Essa prática é algumas vezes mencionada como realidade 
na etnia Balanta, porém não praticada na atualidade. 
É uma contradição que merece ser melhor estudada e compreendida, 
por ser uma prática que vulnerabiliza.



(viii) Circuncisão masculina:

Um aspecto que pode ser melhor explorado é a constatação que 79,9% dos homens entre 15-49 anos declaram ter sido circuncidados. Integrar as ações de saúde aproveitando esse momento – lugar – tempo em que o homem passa pela circuncisão pode ser estrategicamente interessante para auxiliar na promoção de saúde e aumento do autocuidado seguindo as referências de saúde ocidentais, aspectos quase negligenciados entre os homens da Guiné-Bissau.(...)

(ix) Planeamento familiar:

Em estudo recente (2014) foi demonstrado que mulheres 
em idade fértil 58,2% não conheciam um único método 
de prevenção à infecção pelo HIV/SIDA. 
O fato de não haver conteúdos sobre anticoncepção nem explicações sobre uso do preservativo no manual de formação dos agentes comunitários de saúde (2011) tem relação direta com esse fato. 


A taxa de contracepção em Guiné Bissau é estimada
 entre 10% e 14% (dados de 2015).

O planeamento  familiar é considerado “primo pobre” 
na implementação de uma política que permita 
às mulheres alguma liberdade de escolha 
de método contraceptivo adequada 
ao seu caso e às suas necessidades.


(x) Levirato:

Uma prática relacionada às modalidades de luto e tratamento de heranças e legados é o Levirato. Nesse sistema de casamento, o irmão do falecido é obrigado a casar com a esposa (viúva) do irmão falecido, tendo ele ou a viúva HIV/SIDA  ou não, sem que se mencione o assunto SIDA de modo explícito.


(xi) “Negação/ Medo" do HIV/SIDA: 

  A negação/medo faz com que a comunicação social seja truncada 
e os estigmas prevaleçam.
 “Como se” não houvesse impacto com a gravidez 
antes dos 15 anos, 
com a poliinfecção de mulheres e homens, 
com SIDA, blenorragia e outras DST.


(xii) Analfabetismo, infoexclusão:

A maioria da população com 15 anos ou mais é analfabeta e 60% das mulheres não são alfabetizadas. A alta taxa de analfabetismo dificulta todas as ações de prevenção, assistência e adesão aos tratamentos.

No país, há pouco acesso às ferramentas de comunicação social: o uso de computadores entre jovens de 15-24 anos é de 17,2% para os homens e 10,3% para as mulheres; o uso de internet segue a mesma proporção: homens 16,8% e mulheres 9,4%. Cerca de 30,5% dos homens ao menos uma vez por semana tem acesso à comunicação social impressa, radiofônica ou televisiva, e apenas 11,7 das mulheres.

(xiii) Economia informal ou paralela

As mulheres guineenses, que compõem 51,5% da população do país, estão no setor informal. Ou seja, com o trabalho e sem direitos laborais, a sua vulnerabilidade aumenta – ao precisar interromper o trabalho, não têm direito a licenças ou qualquer remuneração.


(xiv) Não há um único médico psiquiatra 

num país de 1,8 milhões de habitantes:

A ausência de profissionais de saúde mental no país é um fator extremamente importante, um ponto de vulnerabilidade programática que precisa ser cuidado o quanto antes. 

Em 2015 havia apenas um profissional, um enfermeiro com formação em psiquiatria, para todo o país.

(Continua)
______________

Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

11 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20228: Guiné-Bissau, hoje: factos e números (3): em bom crioulo nos entendemos (ou não ?): mandjidu, kansaré, muro, djambacu, baloba, balobeiro, ferradia, tarbeçado, doença de badjudeca, rónia irã... O Cherno Baldé, nosso especialista em questões etnolinguísticas, explica para a gente...

9 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20223: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (2): prevalência do HIV/SIDA; comportamento de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST

4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20204: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (1): população e morbimortalidade; etnias, idiomas e religiões; doenças sexualmente transmissíveis

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20228: Guiné-Bissau, hoje: factos e números (3): em bom crioulo nos entendemos (ou não ?): mandjidu, kansaré, muro, djambacu, baloba, balobeiro, ferradia, tarbeçado, doença de badjudeca, rónia irã... O Cherno Baldé, nosso especialista em questões etnolinguísticas, explica para a gente...


Foto nº 1


Foto nº 2 

Guiné > Região de Bafatá >Setor L1 > Bambadinca > Destacamento de Nhabijões  > 1970 > O furriel miliciano Henriques, da CCAÇ 12 (, Luís Graça, fundador e editor deste bloge) junto a uma "baloba" (Foto nº 1), um dos locais de culto dos irãs (espíritos da floresta). 

A população era maioritariamente balanta, animista. Era conhecida a sua colaboração com o PAIGG, sobretudo com as populações e os guerrilheiros de Madina/Belel, no limite do Cuor, a Noroeste de Missirá, mas também com os do subsetor do Xime. O reordemanento desta população, considerada até então sob duplo controlo e pouco colaborante com (e senão mesmo hostil a) as NT, iniciou-se em 1969, sob a iniciativa do Comando e CCS do BCAÇ 2852 (1970/72), tendo sido continuada pelo BART 2852 (1970/72). Foi criado um destacamento para apoio a (e defesa de) o reordenamento (Foto nº 2)

No seu diário de então, o furriel Henriques consideraca este reordenamento (um dos maiores, se não o maior, de então, no CTIG) como um exemplo de "etnocídio",  pela destruição do habitat socioecológico das populações "reordenadas".

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Uma "ferradia": o ferreiro e o seu ajudante (que alimenta a forja)...Tradicionalmente em África, o ferrador e o caçador são dotados de dons sobrenaturais, diz-nos o Cherno Baldé, o nosso especialista em questões etnolinguísticas.. Em muitas comunidades animistas, o ferreiro e o balobeiro são a mesma pessoa ou ambos possuem o poder de curar e de fazer a ligação com o além  ou as forças ocultas como os Irãs ou os espíritos do mato e da floresta.
Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. No poste P20223 (*), o editor Luís Graça comentou que íamos precisar da preciosa ajuda nosso assessor para as questões etnolinguísticas, o Cherno Baldé... 


Há termos em crioulo ou noutros idiomas, que ele tem de nos explicar, para melhor se compreender um recente relatório da CPLP sobre o HIV/SIDA e outras doenças sexualmente transmissíveis, na parte que respeita à Guiné-Bissua (**)...


Eis alguns desses termos:


"mandjidu" (em manjaco), prática interdita;

"kansaré" (papel), entidade sobrentaural que pode castigar ou fazer mal (?);

"muros, djambacus e balobeiros" (crioulo), curandeiros tradicionais;

"balobas" de "ferradias" (crioulo), locais ou práticas (?);

"tarbeçado" (crioulo);


doença de "badjudeça" (crioula);

cerimónia de "rônia iran" (crioulo), (?)






Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > Poilão, árvore sagrada, habitada pelos irãs... Mais uma chapa do famoso poilão de Maqué. Tirada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 (Os Leões Negros), na sua viagem  de 2006 à Guiné e à região do Óio.

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2007). Todos os direitos reservados.
 [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Pronta resposta do Cherno Baldé [, Bissau], com data de ontem (*):


Em resposta ao pedido do Luís Graça, aqui vai um pequeno resumo sobre o significado das expressões em Crioulo da Guiné no texto (*).


(i) “Mandjidu”


Refere-se àquilo que está interdito e a interdição vem sempre de forças ocultas, do desconhecido, por isso, de evitar a todo o custo, pois não se sabe o que pode acontecer em caso de violação dessa interdiçãoo.


Uma forma muito prática de proteger a propriedade privada dos individuos, da família e/ou da aldeia em relação ao comportamento indesejado de terceiros, sejam eles pessoas ou animais domésticos:um simples pau enfeitado com um pedaço de tecido vermelho e colocado em lugar visível é suficiente para interditar um campo de amendoim ou plantação de cajueiros.


Uma nota interessante é que esta interdição também se aplica às pessoas (mulheres) e propriedades (terrenos e casas).


(ii) “Kansaré”

É um ritual animista consagrado aos mortos, baseado na compreensão de que não há mortes naturais, mas sim mortes provocadas por forças do mal.

O "Kansaré" é o elemento móvel da "Baloba", feita de paus e coberta de tecidos vermelhos, é carregado por quatro jovens possantes e que caminham, supostamente, dirigidos pelo espírito do morto com o objectivo de desmascarar o(s) autor(res) da morte. O(s) membro(s) da comunidade assim descoberto(s) e acusado(s) de feitiçaria perde(m) todos os seus direitos, inclusive o direito à vida e os seus bens e haveres confiscados em benefício da comunidade como forma de vingar a morte do defunto e fazer o seu "choro", aplacando assim a dor da família que perdeu um dos seus.


Muitos antropólogos, africanistas e investigadores viram nessas práticas animistas uma forma subtil de regulação económica e social dentro das sociedades " primitivas" e/ou práticas escamoteadas de ajustes de contas e de eliminação de rivais e elementos não desejados, muitas vezes bem sucedidos, e cujas riquezas provocam inveja aos restantes elementos da comunidade e que necessitam de ser redistribuídas colectivamente a fim de nivelar (por baixo) os membros dessas comunidades.


(iii) «Muro»


O mesmo que "mouro" (árabe ou berbere do Norte de África), termo utilizada para referir-se aos "marabus" -chefes religiosos - de confissão muçulmana.

No meio urbano da Guiné tem o mesmo significado que "Djambacus", provavelmente de origem mandinga e "Baloba", do grupo dos Brames (Papel/Manjaco/Mancanha).


(iv) «Balobas»


Sao os locais, entre alguns povos da Guiné-Bissau, chamados animistas do grupo dos Brames (Papel / Manjaco / Mancanha), reservados às cerimónias dedicadas aos Irãs e que são feitas, normalmente, mediante o uso de aguardente e sangue de animais imolados em sua intenção.


A referência feita às "ferradias" remete-nos para as oficinas tradicionais onde se trabalha(va) o ferro. Na África profunda e multissecular, de uma forma geral, o ferreiro assim como o caçador, são facilmente assimilados àqueles que praticam artes secretas e/ou mágicas e logo possuidores do dom imanado do espírito dos Irãs.


Em muitas comunidades animistas, o ferreiro e o "balobeiro" são a mesma pessoa ou ambos possuem o dom da cura e do poder de contacto e intermediação com forças ocultas como os Irãs ou espíritos do mato/floresta.

Nesses casos um simples metal (o ferro), por eles confeccionado, pode servir de guarda a fim de um indivíduo se proteger dos espíritos maus. Uma prática muito frequente dentre os habitantes originários dessas etnias do litoral guineense.


(v) "Tarbeçado"


Parto anormal quando a criança vem numa posição invertida com os pés primeiro em lugar da cabeça, uma expressão, provavelmente, de origem balanta.

(vi) "Doença de badjudeça"

Quer dizer período menstrual ou quando aparecem, nas meninas, os sintomas das primeiras mentruações. De origens diversas.



(vii) «Rônia Irã»


Segundo alguns investigadores, tem origem na palavra em português arcaico “erronear”, ou seja, deambular de um lado para outro.

Durante o período em que estas cerimónias são feitas, sobretudo entre os Papéis, há grupos de mulheres que viajam de aldeia em aldeia, de sítio em sítio, carregados de objectos diversos, para cumprir determinados rituais e cerimónias tradicionais, de acordo com um calendário e trajecto pré-definido.


Ao que parece, as "Balobas" (ou não seriam os "balobeiros" ?) e os seus Irãs estão, de certa forma, hierarquizados ou, para usar uma expressão moderna, especializados em determinadas matérias do mundo espiritual ou dos mortos e cada aldeia ou família teria o seu próprio percurso em função da tradicão e/ou das suas necessidades espirituais ao serviço das almas dos seus mortos em diferentes épocas.

Todas estas expressões ou conceitos antropológicos acima apresentados, sendo de origem étnica ou tribal, já fazem parte do léxico corrente em crioulo.


PS - Uma Nota sobre o ponto V:


Quando disse que é uma expressão, provavelmente, de origem balanta, queria referir-me ao conceito intrínseco pois que, entre eles o fenómeno é seguido de algumas cerimónias feitas para exconjurar as forças maléficas do fenómeno anormal, e não à origem da palavra que é claramente crioula, resultante da corruptela da palavra portuguesa "atravessado".
________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20223: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (2): prevalência do HIV/SIDA; comportamento de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST



(**) Vd. Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita, no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único, dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa, 2018 [documento em formato pdf, 643 pp. Disponível em: https://www.cplp.org/id-4879.aspx]

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20223: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (2): prevalência do HIV/SIDA; comportamento de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST



Guiné-Bissau > Bissau > HIV / SIDA > Dístico colocado sobre a estátua Maria da Fonte, na rotunda do Império, praça dos Heróis Nacionais, em Bissau. Foto de DW - Deutsche Welle / B. Darame. Com a devida vénia...



1. Mais alguns dados sobre a Guiné-Bissau, relativamente às "doenças sexualmente transmissíveis" (*), com destaque para o HIV / SIDA.


A fonte consultado é o relatório da CPLP sobre a Guiné-Bissau, e que corresponde ao capítulo 4 (da pag. 272 à pag. 337) do relatório final. A autora é a consultora brasileira Helena Lima.

Fonte: Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita, no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único, dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa, 2018 [documento em formato pdf, 643 pp. Disponível em: https://www.cplp.org/id-4879.aspx]


(iii) Doenças sexualmente transmissíveis (DST)(Continuação

HIV / SIDA

Prevalência de HIV entre mulheres grávidas: 5%

Prevalência de HIV entre grávidas 15-24 anos: 3,4%

Prevalência nacional geral: 3,3% | Meio rural: 2,3% | Urbano: 3%


Prevalência por género: Homens: 1,5% | Mulheres: 5%


% de recém-nascidos filhos de mães HIV + que nascem infectados pelo HIV: 26%


Número de pessoas vivendo com HIV (2013): 41 mil


Crianças < 15 anos vivendo com HIV: 6.100


Órfãos por causa da doença: 10.614




(iv) Comportamentos de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST:




Tráfico de mulheres e violência de género



Alguns problemas estruturais vulnerabilizam a população de Guiné Bissau para os agravos diversos relacionados  com a sexualidade, como tráfico de mulheres e as diversas modalidades de violência baseada em género. 

O modelo patriarcal legitima as práticas socioculturais e tradicionais sobre grupos étnicos que compõem o país.



Circuncisão feminina e masculina



A Mutilação Genital Feminina (MGF), embora proibida por lei, é praticada em ambiente doméstico. 

Estima-se que as mutilações genitais tenham atingido 44,9% das mulheres entre 15-49 anos e cerca de 49,7% das crianças 
entre 0 – 14 anos.

A circuncisão masculina é socialmente incentivada e tem apoio no serviço público de saúde. 

Em inquérito de 2014, alguns dados apresentados sobre a situação dos inquiridos perante a circuncisão / MGF, por sexo:  
64,1% dos homens confirma a circuncisão, contra 35,9% que ainda não foi circuncisada. 

Para o sexo feminino 37,2% respondeu 
que sim foi submetida a MGF,
contra 62,8% que responde que Não.


Casamento precoce



Em relação ao casamento precoce, 7,1% referem-se a crianças com menos de 15 anos e 37,1% entre menores de 18 anos.



Contracepção


Em relação à taxa de contracepção, 
dados de 2014 apontam que 84% da população não usa método algum contraceptivo.


Os homens nunca são responsabilizados por eventual esterilidade, esta é uma questão meramente feminina e de mulheres, em alguns casos são sancionadas pelo divórcio. 

Essa verdade não é diferenciada por zonas ou espaços rurais/urbanos, 
é uma realidade cultural. 



A religião, a cultura e a tradição obrigam as mulheres a procurarem formas de conseguir despistar os maridos para poderem usufruir dos métodos contracetivos, porque,  segundo estes, elas são casadas para se procriar. 



Para se livrarem dos maridos, muitas das vezes, elas inventam desculpas em levar as crianças para as vacinas e/ou consultas e aproveitam para fazer controlo 
do implante dos métodos.




Planeamento familiar, gravidez e aborto 
entre os manjacos e os papéis



Segundo inquérito de 2014,  entre os manjacos, as mães não deixam os filhos fazer o planeamento e, quando aparecem grávidas, não as deixam fazer o aborto, porque é uma prática tradicionalmente interdita ("mandjidu") (...) 



Similaridade em Quinhamel, entre os papéis, onde se testemunhou um grau de liberdade das raparigas em ambientes noturnos e, quando aparecem grávidas, as mães não as exigem, temendo represálias de defuntos e/ou "kansaré". 



Segundo a crença dos papéis, se uma mãe se zangar com a filha grávida, ela não poderá tocar na criança após a nascença, porque representa uma rejeição a priori, o que faz com que as mães tenham que se consentir com a gravidez das filhas. 



Ainda neste mundo animista, segundo um técnico entrevistado em Caió, uma localidade de elevada taxa de prevalência do VIH, os homens desta localidade contraem matrimónio com mais de cinco mulheres, o que se associa a um elevado índice de promiscuidade, sobretudo nas deslocações de mulheres ao Senegal e das oportunidades sexuais que se lhes assistem.



Curandeiros tradicionais, muros, djambacus e balobeiros





Outras experiências demonstram que 
as mulheres casadas em dificuldade de gravidez recorrem sempre aos "murus" ou "djambacus" para receberem tratamentos tradicionais ou ainda as "balobas" de "ferradias",  fazendo pedidos e consequente promessas, em detrimento de aconselhamento e/ou tratamento médico.



Relativamente ao HIV/SIDA, segundo as perceções de alguns técnicos de saúde 
e ativistas de organizações 
que lidam diariamente com esta pandemia, 
uma larga percentagem de pessoas infetadas recusa a existência, considerando-a "tarbeçado", doença de "badjudeça".

De acordo com certas tradições animistas,  a doença é igualmente interpretada como falta de cumprimento de alguns rituais, 
caso de se tornar "djambakus" 
e/ou cerimónia de "rônia iran".


Fonte: Excertos do supracitado relatório. 
Com a devida vénia...

(Continua)

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20204: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (1): população e morbimortalidade; etnias, idiomas e religiões; doenças sexualmente transmissíveis



1. Infelizmente, os problemas de saúde materno-infantil e de saúde sexual e reprodutiva, hoje, na Guiné-Bissau (, país que amamos e onde temos amigos, ) continuam a ser muito graves...  

Há progressos, mas estamos ainda longe de ter os indicadores de saúde que desejaríamos para o povo da Guiné-Bissau, e que os guineenses merecem ter. O seu perfil sociodemográfico deve ser melhor conhecido, até porque alguns de nós continuam a lá ir com alguma frequência e/ou estão ligados a organizações não-governamentais que cooperam com a Guiné-Bissau, em diversos domínios, da saúde à educação.

De resto, a Guiné-Bissau integra, desde 1996, a CPLP -Comunidade de Países de Língua Portuguesa. E o nosso blogue tem como missão também construir pontes entre Portugal e a Guiné-Bissau.

Recentemente estivemos a ler o relatório da CPLP abaixo citado. Tem dados interessantes sobre a Guiné-Bissau e os estados-membros da CPLP.  Está escrito em português do Brasil: por exemplo, "fulani" em vez de fula, "soropositivo" em vez de seropositivo, "testagem" em vez de rastreio ou despiste... É, em todo o caso, um diagnóstico que tem muito  mérito, embora eventualmente  se ressinta do escasso tempo em que foi realizado o trabalho de campo, confinado a Bissau, e feito em menos de 4 dias, de 24 e 27 de agosto de 2015.  A autora do relatório é a Profª. Dra. Helena Maria Medeiros Lima, Pós Doutorada em Educação - Psicologia da Educação,  Bióloga e Doutora em Saúde Pública,  Psicóloga e Mestre em Psicologia Social.

Vamos reproduzir, aqui, com a devida vénia,  alguns excertos, dando início a esta nova série, "Guiné-Bissau, hoje: factos e números".

O relatório sobre a Guiné-Bissau corresponde ao capítulo 4 (da pag. 272 à pag. 337) do relatório final.

 Fonte:  Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita,  no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único,  dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP -  Comunidade de Países de Língua Portuguesa,  2018 [documento em formato pdf,  643 pp. Disponível em:  https://www.cplp.org/id-4879.aspx]


(i) População e morbimortalidade:

A população total da Guiné Bissau é estimada em 1.852.284 habitantes, sendo 895.836 (49,5%) de homens e 911 588 (50,4%) de mulheres. É uma população considerada jovem, com média de idade de 19,9 anos, sendo homens: 19.4 anos e mulheres: 20.4 anos.

É uma população constituída por 64% de pessoas com menos de 25 anos, sendo a expectativa de vida ao nascimento é de 50.23 anos, sendo 48,21 para os homens e 52,31 para as mulheres.

A baixa esperança média  de vida tem a ver com  a alta mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias diversas, decorrentes tanto da escassez de alimentação como falta de condições de saneamento básico.

Em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis e a SIDA [, no Brasill, Aids], os homens têm maior letalidade, uma vez que não procuram os serviços de saúde (mesmo que solicitados a realizar testes e exames), e quando chegam ao médico, já apresentam quadros graves e de difícil tratamento medicamentos.

 (...) Cerca de 49,3% da população total de Guiné Bissau é urbana, sendo que as mulheres representam mais da metade da população (cerca de 51%),  e a taxa de fecundidade é considerada relativamente alta (4,23 crianças por mulher).

A taxa de contraceção [, uso de meios contracetivos], de 14,2% , é considerada baixa. A fecundidade, especialmente feminina, é um valor cultural intrínseco, e não ter filhos ou ter poucos filhos não é bem valorizado pelas famílias. Há relatos e estudos que afirmam que muitas mulheres fazem uso de métodos anticoncepcionais escondidas dos respectivos parceiros.

A mortalidade infantil teve patamares de 200 crianças mortas por cada 1.000 habitantes em 2005, despertando fortes reações sociais. Atualmente está estimada em 89,21 mortes/1000 nascidos vivos, e mesmo assim é o 5º país do mundo em mortalidade infantil.

A taxa de mortalidade materna é bastante elevada, sendo a 7ª no mundo, com 749 mortes/ 100 mil partos.

(ii)  Etnias, idiomas e religiões:

São pelo menos dez grupos étnicos a compor a população guineense, estimadas as seguintes proporções: Fula 28.5%, Balanta 22.5%, Mandinga 14.7%, Papel 9.1%, Manjaco 8.3%, Beafada 3.5%, Mancanha 3.1%, Bijagó 2.1%, Felupe 1.7%, Mansoanca 1.4%, Balanta Mané 1%.

Essa marcada diversidade étnica tem reflexos na linguagem, especialmente nos idiomas, e na cultura, em relação aos diversos e arraigados hábitos das etnias.

Em relação aos idiomas, o mais prevalente é o Crioulo, falado por cerca de 90.4% da população. O segundo idioma mais falado, sendo também idioma oficial da Guiné Bissau, é o Português, falado por cerca de 27.1%, seguido pelo Francês 5.1%, Inglês 2.9%.

A religião predominante é a Muçulmana: 45.1% [44,7%] da população; depois vem o Cristianismo com 22.1% [25,4%], os Animistas 14.9% [23,9%], e os cristãos evangélicos, com 5,8%.

A poligamia é legalizada, e o homem pode ter até quatro esposas, desde que possa sustentá-las. Os valores muçulmanos de não-aceitação da homossexualidade, do não-uso de drogas, de submissão da mulher e da condição de dependência financeira que as esposas ficam dos respectivos maridos precisam ser trabalhados tanto no setor preventivo como no âmbito da assistência em saúde pública e direitos reprodutivos, pois são valores que estão presentes na população junto a outras tantas influências culturais e religiosas e que podem, ao proibir e punir, abrir espaços de vulnerabilidade específica que precisam ser compreendidos e trabalhados.


(iii)  Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)

As Doenças Sexualmente Transmissíveis, segundo gestores e profissionais de saúde entrevistados, estão prevalentes em Guiné Bissau, sem, contudo, uma estatística específica.

As doenças mais prevalentes seriam o corrimento [, gonorreia ou blenorragia,] entre as mulheres, em particular mulheres jovens.

Em 2015 foram identificados e tratados 500 casos de DST,  porém não há notificação oficial sobre rastreio e tratamento das DST.

O dado mais recente em relação à sífilis é a estimativa que, dentre 5.666 mulheres grávidas testadas em consulta  pré-natal, 123 tiveram serologia positiva, ou seja, uma taxa de 2,1% . Mas não há notificação obrigatória da sífilis, e não há dados noutras outras populações.

A rastreio da sífilis é realizada durante a consulta pré-natal, porém há rupturas de estoques de testes, poucos testes disponíveis e dificuldades diversas em se obter a penicilina para o tratamento preconizado.

  (Continua)