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terça-feira, 15 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26047: Efemérides (444): 15 de outubro de 1969, perdas, inesquecíveis, uma saudosa amizade e porquê

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de hoje, 15 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Cada um se arroga o direito de ter o seu dia de memória, com ou sem textura de religiosidade. Exatamente há 55 anos, uma mina anticarro ceifou vidas e deixou gente marcada por diferentes tipos de mazelas, desde traumatismo craniano a fratura no calcâneo. Lição mais amarga não podia ter, permiti-me viajar pela noite escura, a tragédia podia ter sido maior se a força do PAIGC que ali nos aguardava não tivesse percebido que os tiros às escuras é metralha de dois bicos. Recebi enorme solidariedade do batalhão de Bambadinca, é inquebrantável a gratidão que dela guardo. E nasceu uma grande amizade por alguém que me tratou dos olhos. Sempre que voltava a S. Miguel, era inevitável um encontro com o Zé Luís, podíamos estar até 2 ou 3 anos sem qualquer contacto, em nada diminuía a euforia do encontro. E foi assim durante décadas até ele partir para as estrelas, e hoje junto-o na minha memória ao lado daqueles camaradas que tanto sofreram com a explosão de Canturé, no regulado do Cuor, em 15 de outubro de 1969.

Um abraço do
Mário



Efeméride: 15 de outubro de 1969, perdas, inesquecíveis, uma saudosa amizade e porquê

Mário Beja Santos

Aí por fevereiro de 1969, comecei a dar tombos nas viagens quase diárias entre Missirá e Mato de Cão, ou no sentido inverso, uma dor aguda, por detrás do joelho direito, levava-me à queda, parecia que logo me recompunha, a dor suavizava; o maqueiro bem me punha emplastros, mas fazendo notar que havia algo de anómalo na curva interior do joelho; conversa com o médico do batalhão, David Payne, confesso-lhe que se repetem com mais frequência as quedas, passa-me requisição para ir à consulta de ortopedia a Bissau, aproveito para pedir para ir ao estomatologista e ao oftalmologista, pedido aceite.

Parto no início da segunda semana de março, fico surpreendido com a rapidez do atendimento, trato uma cárie dentária, o médico ortopedista, face ao resultado do raio-x, informa-me que tenho uma exostose, uma enorme cartilagem, dali já não saio, vou ser operado; na véspera de entrar no HM 241, consigo uma desistência e vou ao oftalmologista. É um homem de estatura avantajada, voz abaritonada, cedo descubro que vem dos Açores, o acento é tipicamente micaelense. Palavra puxa palavra, falo-lhe da minha estadia entre outubro de 1967 e março de 1968, as belíssimas lembranças que trouxe, ainda não faço a mínima ideia como elas se vão cinzelar na minha existência, estamos entusiasmados na conversa, é nisto que ele propõe que jantemos juntos, vamos matar saudades da terra. Apresenta-se, é o único oftalmologista na Guiné, tem que fazer algumas horas no hospital civil, chama-se José Luís Bettencourt Botelho de Melo, tenente-médico, tinha acabado de montar consultório quando foi chamado para estas lides na Costa Ocidental de África; interrogo-me, olhando esta fotografia, devia estar mesmo uma noite mais do que acalorada para haver todo aquele suor na camisa, alguém nos tirou a fotografia, ambos de boa disposição e já com a promessa de encontros futuros. Não iria acontecer tão cedo.

A 20 de março, apoiado nas canadianas, vou a um determinado guichet buscar uma guia de marcha, um sargento desbocado, quando houve falar em Missirá, no Cuor, diz sem rebuço que houve mortos e feridos na flagelação da véspera, ardera o quartel. Transido, peço ao condutor que me leve de novo ao HM 241, consigo encontrar o régulo Malã Soncó, tem o peito estilhaçado, fala dos mortos e dos outros feridos; nova viagem até ao Quartel-General, suplico uma partida do que é que entre pelos ares, mandam-me para Bissalanca, um helicóptero deposita-me no Cuor, aviso todos que temos de ter o quartel pronto antes que cheguem as chuvas, o que aconteceu.

Ando duríssimo, os meus caçadores nativos recalcitrantes, andam pelos matos fechados desde 1966, sonham com a boa vida, é nisto que vou amolecendo quanto às medidas de precaução, acho que tudo me é permitido, como andar pela noite escura nas picadas. E assim contribuí que em plena noite, à entrada de Canturé, uma mina anticarro despedaçasse a parte dianteira de viatura, o soldado-condutor Manuel Guerreiro Jorge entrou logo em agonia, eu saí disparado, felizmente com a G3 na mão, não vale a pena falar mais do que aconteceu, bem me pesa na consciência o resultado de um ato inequivocamente negligente.

Com a cara queimada e óculos perdidos, volto novamente à oftalmologia, o José Luís tratou-me dos olhos e nasceu um ritual de encontros que se irão prolongar até que dolorosos esclarecimentos obrigaram o seu internamento, era sempre uma festa ir até S. Miguel. Havia que o avisar com alguma antecedência. Ainda hoje, paro no Largo da Matriz, em Ponta Delgada, a olhar onde era o seu consultório ou percorro a rua Bruno Tavares Carreiro, ali bem pertinho, imagino que lhe vou bater à porta, fazemos sala e depois partimos para uma iguaria e para conversa que puxa conversa e que nos despedimos com a quase certeza de que em breve haverá novo toque de reunir. E voltaremos a falar do 15 de outubro. Escreveu alguém que a fotografia é um documento fascinante porque nos permite apreciar um instante que existiu. Ela permite infindáveis perguntas, estas duas fotografias têm resposta numa amizade inesquecível, que nasceu na tormenta da guerra.

Escrevo estas recordações exatamente 55 anos de factos ocorridos que iriam solidificar uma amizade para a qual não há qualquer veleidade em responder quanto ao seu porquê.


Março de 1969
15 de outubro de 1969, o meu amigo Humberto Reis parece que não acredita no que está a ver
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Nota do editor

Último post da série de 19 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25762: Efemérides (443): Hoje, no dia do 139º aniversário natalício de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), e na inauguração do seu Museu, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, o Papa Francisco deu-nos a graça e a honra da Sua Benção (João Crisóstomo)

domingo, 23 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25677: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo da BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte II

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O ten cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o alf médico Vilar e o alf mil Paulo Santiago, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho) e depois instrutor de milícias (no CIM de Bambadinca)  com um crocodilo juvenil  do rio Geba... 

Foto tirada em novembro ou dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. 

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijões, a partir do "planalto" do Mato Cão.  Foto do último cmdt do Pelotão, alf mil  Luís Mourato Oliveira.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em 1 de julho de 1971, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, junho 1970/maio 1972), era a seguinte dispositivo das NT no Sector L1 (Zona Leste), no que diz respeito aos Pel Caç Nat 52, 54 e 63

  • Pel Caç Nat 52 >  Fá Mandinga;
  • Pel Caç Nat 54 > Bambadinca;
  • Pel Caç Nat 63 > Missirá (reforçado por 1 Pel Mil 202 / CMil 1) e a seguir Mato Cão

Maio 71

Op Triângulo Vermelho - 4 e 5mai71

Na região de Enxalé-Cuor, sector L1, foi feito um patrulhamento por forças de 3 GComb/CArt 2715 (Xime), CCaç 12 (Bambadinca), CCP 123 (Bissalanca) e 1 Pel Caç 54 (Bambadinca). 

O lN flagelou as NT, causando 2 mortos e 9 feridos e sofrendo 4 mortos.

Destruídas 12 tabancas, 20 moranças e meios de vida. Capturado 1 elemento armado com esp "Mauser" e documentos diversos.

Agosto 71

28ago71

- Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos flagelou com LROCK, RPG-2 e ARMAUTLIG, de Mato Cão, o barco “Manuel Barbosa” causando 8 feridos graves, e 9 feridos ligeiros.

- Pelas 14,50 horas uma Secção do Pel Caç Nat 52 iniciou a progressão em meio auto com destino a Finete onde se juntaria uma Secção do Pel Mil  201.

- Às 15,10 horas, em [BAMBADINCA 4C2-84], a viatura Unimog 411 de matrícula “ME-18-93” accionou uma mina A/P reforçada, com a roda da frente do lado direito, ficando completamente destruída e provocando ferimentos na quase totalidade dos elementos das NT que nela seguiam, nomeadamente no 2º cabo atirador Nhaga Maque do Pel Caç Nat  52 que veio mais tarde a falecer em Bambadinca como consequência dos ferimentos recebidos.

- Após o accionamento da mina o sold cond Manuel Castro Ribeiro Silva   da CCS/BART 2917 mas destacado no Pel Caç Nat 52, assumiu o Comando da Secção, instalando os seus companheiros e montando um dispositivo de segurança à viatura com os elementos mais válidos após o que se deslocou a Bambadinca, transportando aos ombros um dos feridos, a fim de avisar as NT sedeadas neste aquartelamento.

- Imediatamente se deslocou de Bambadinca uma Secção da CCAÇ 12 (acompanhada de um enfermeiro e macas) que se encarregou do transporte dos feridos de Finete, para onde as milícias desta tabanca, que imediatamente acorreram ao local do acionamento da mina os tinham já transportado, para Bambadinca.

- Num reconhecimento feito posteriormente não foi detectada a colocação de mais qualquer engenho explosivo, tendo-se no entanto detectado em [BAMBADINCA 4C7-74], vestígios de instalação em emboscada de um Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos, o que vem confirmar declarações de milícias em Finete que dizem ter ouvido alguns tiros.

Novembro  71

2-7nov71

Op Tareco Vilão I

(Desenrolar da acção)

- No dia 2 de novembro pelas 8,30 horas os 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca) deslocaram-se em meios auto de Bambadinca  para o Porto (fluvial) de Bambadinca de onde em meios fluviais [barco sintex], prosseguiram para Mato Cão, onde chegaram cerca das 21,00 horas.

- Substituíram então, no local, os Gr Comb  da CCAÇ 12 empenhados na Op Tudo Vale , montando uma rede de emboscadas nos trilhos de acesso mais provável do IN ao Destacamento de Mato Cão, garantindo a segurança com a colaboração do Pel Caç Nat  63, do pessoal que procede à instalação daquele Destacamento.

- No dia 3 pelas 13,30 horas, um Grupo IN estimado em cerca de 40 elementos flagelou com RPG-2 e Arm Aut Lig de [BAMBADINCA 1H97-61], apoiados por RPG-7 e Mort 82, o estacionamento de Mato Cão,  causando 2 feridos graves e 8 ligeiros.

- As NT reagiram imediatamente obrigando o IN a retirar, com baixas prováveis.

- Feito reconhecimento à área de instalação IN,  detectaram-se vestígios de IN ter aproximado e retirado na direcção de Chicri, tendo-se encontrado vários vestígios de sangue.

- No dia 6 pelas 16,55 horas, um Grupo IN não estimado flagelou da direcção de Chicri o estacionamento de Mato Cão e as forças de segurança ao mesmo, durante 5 minutos com Mort 82 e LRock.

- As NT reagiram prontamente pelo fogo de Mort 81 obrigando o IN a retirar.

- Posteriormente o 20º Pel Art (Xime) bateu os trilhos prováveis de retirada.

- Não foi feita uma conveniente batida imediata por, após os tiros de artilharia, ter anoitecido sendo a visibilidade muito fraca.

- No dia 7 pelas 6,45 horas quando o Pel Caç Nat 63 explorava o contacto havido ao anoitecer do dia 6 reconhecendo a mata a Norte de arame farpado detectaram a cerca de 600 metros do mesmo, numeroso Grupo IN estimado em 50 elementos que ali se encontrava emboscado.

- As NT imediatamente abriram fogo, tendo o IN,  ao sentir-se descoberto, reagido com RPG-2, RPG-7, Mort 60 e Arm Aut Lig  ao mesmo tempo que um outro Grupo IN localizado mais para Norte e a uns 500 metros do primeiro, começou a flagelar o estacionamento de Mato Cão  com Mort  82 e RPG-7.

- As NT imediatamente exploraram o contacto manobrando pelo fogo e movimento obrigando o IN a retirar.

- Apesar da pronta e enérgica reacção do Pel Caç Nat  63,  o IN conseguiu ao fim de cerca de um minuto quebrar o contacto em virtude do Pelotão ter esgotado as munições de MorT 60 e dilagrama que transportava consigo, cujo consumo foi maior do que seria de prever num contacto deste tipo em virtude do LGFog. 8,9 cm não ter funcionado.

- Remuniciado, o Pel Caç Nat 63 prosseguiu na batida tendo encontrado abandonado no terreno um morto, armado de pistola CESKA ZBROJOVKA m/1927, de origem checa, identificado por documentos que possuía como sendo Mário Campos, e uma granada de RPG-7.

- Foram ainda detectados vestígios e vistos elementos IN arrastando mais cinco corpos de elementos feridos ou mortos pelas NT.

- Entretanto, primeiro, os Mort 81 do Destacamento e posteriormente o 20º Pel Art /BAC 7  (10,5 cm) (Xime) batiam os itinerários previsíveis de retirada tendo o Pel Caç Nat  63 verificado que alguns dos impactos de artilharia se situavam sobre o trilho seguido pelo IN e nas suas imediações encontrava-se muito sangue.

- Neste contacto as NT sofreram 3 feridos graves e 9 (um civil) ligeiros sendo um ferido grave e 3 ligeiros proveniente do contacto directo com o IN e os restantes como consequência da flagelação ao estacionamento.

- No dia 7 pelas 14,30 horas, os 2 Gr Comb  da CCAÇ 12,  após serem substituídos no local pelas NT empenhadas na Op Tareco Vilão II II, iniciaram progressão em meios fluviais [Barco Girassol] para Bambadinca, permanecendo o Pel Caç Nat  63 e uma Secção do Pel Mil  202 em Mato Cão, onde chegaram cerca das 16,00 horas

Fonte: História do BART 2917, de 15nov1969 a 27mar1972, mimeog, 182 pp. (Cópia, em formo digital, gentilmente cedida por Benjamim Durães)



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá, guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"... A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


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sexta-feira, 21 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25670: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte I




1. A partir da História do BART 2917 (de 15/11/69 a 27/3/72) podemos obter mais alguns dados informativos sobre os 3 Pel Caç Nat que operaram, no setcor L1 (Zona Leste, região de Bafatá)



I. O dispositivo inical das NT na zona de ação do BART 2017, em junho de1970 era o seguinte (referem-se apenas os Pel Caç Nat) (*):
 
  • Pel Caç Nat  52 > Bambadinca
  • Pel Caç Nat  54  > Missirá
  • Pel Caç Nta 63 >  Fá Mandinga

Havia um Gr Comb na Ponte Rio Udunduma, que era rendido  de 3 em 3 dias numa escala que incluía 5 Gr Comb: 4 da CCAÇ 12 (Bambadinca) e 1 um do Pel Caç Nat 52 (Bambadinca)

 Posteriormente foram introduzidas as seguintes alterações ao dispositivo inicial, nas datas a seguir indicadas:

  • em 18 out 70, o Ple Caç Nat 52 vai para Fá Mandinga;  
  • em 19 out 70,  desloca-se o Pel Caç Nat 63 para Missirá;
  • em 20 out 70,  o Pel Caç Nat 54 vem para Bambadinca.
 
Em 2 de julho de 1971, nova rotação destas subsunidades africanas:
  • Pel Caç Nta 52 > Missirá:
  • Pel Caç Bat 54 > Fá Mandinga;
  •  Pel Caç Nat 63 > Bambadinca 

De 26 de julho  a 9 de setembro de 1971, o Pel Caç Nat 54 é destacado para Bafatá,  regressando depois a Fá Mandinga. Nessa altura, é o Pel Caç Nat 63 a ir para Bafatá, donde regressa, a Bambadinca , em 26 de outubo de 1971.
 
E parece ser o Pel Caç Nat 63 que vai "inaugurar" o destacamento de Mato Cão.  


II. Estas três subunidades, ao tempo do  BART 2917, foram comandadas por:

  • Pel Caç Nat 52: 


(i) até Até 24.jul 70, alf mil at inf  Mário António Gonçalves Beja Santos; 

(ii) de 24.jul 70 até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, alf mil at inf Alferes Miliciano Atirador Nelson Alberto Wahnon Reis.



  • Pel Caç Nat 54:

(i) até 18 nov 70, alf m,il at inf Correia (desconhece-seo o nome completo); 

(ii) de 18. nov 70 até para além do regresso do BART 2917 à Metrópole, alf mil Hélder P. R. Martins;


  • Pel Caç Nat  63:

(i) até 1 jul 71, alf mil at art Jorge Pedro Almeida Cabral (1944-2021);

(ii) de 11 jul 71 até 27 mar 72, alf mil at Manuel David Coelho, da  CART 2714 (que estava em Mansambo);

(iii)  em 2 jul 71 o alf mil Arsénio Pires, inicialmente nomeado como Comandante do Pel Caç Nat  63, foi colocado na CART 2714, em substituição do alf mil at Manuel David Coelho.


O "alfero Cabral" (1944-2021), no meio, entre dois dos seus homens do Pel Caç Nat 63


III. Outras transferências de pessoal:

  • em 30 jun.71 foi transferido da CART 2716 (Xitole) para o Pel Caç Nat 52, o fur mil at  Atirador Paulo Ferreira CRUZ [ou Paulo Pereira Cruz];
  • em 16 set 71 foi colocado no Pel Caç Nat  63 o fur mil at Jorge Abreu Batista  da CART 2715 (Xime):
  • em 23 set 71 foi colocado no Pel Caç Nat 63 o fur mil at  Sérgio Oliveira Carvalho Pinto, da CART 2714 (Mansambo);

  • António Branquinho (1047-2023)
    em 24 set 71 por ter terminado a sua comissão de serviço no CTIG  marchou para Bissauo fur mil at António Júlio Abrunhosa Branquinho (1947-2023),  do Pel Caç Nat  63, a fim de aguardar transporte para a Metrópole;
  • em 7 dez 71 foi colocado no Pel Caç Nat 63 o fur mil at Loureiro,  da CART 2714 (Mansambo), onde se encontrava desde 19 out 71;
  • em 15 dez 71 regressou à CART 2715 (Xime) o fur mil at Jorge Abreu Batista. (encontrava-se destacado no Pel Caç Nat 63 desde 16. set 71).

IV. Recomplementos 

JULHO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- Alferes Miliciano Atirador Nelson Alberto Wahnon Reis 80063969;

- Furriel Miliciano Atirador Manuel Augusto Castro Silva 12709969;

- Soldado Atirador Francisco Lopes 82054167;

- Soldado Atirador Tiburcio Gomes Ofany  82055367;

- Soldado Atirador Mama  Obralé 82036266;

- Soldado Atirador Ogo Baldé 82023766;

  • Pel Caç Nat  54

- 1º Cabo Atirador Roberto Pina Araújo 82022165;

- 1º Cabo Atirador Armando António Silva 82038664;

- 1º Cabo Atirador Dino Vieira 82074665;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador João S. Guilherme 16335969;

- 1º Cabo Atirador Joaquim S. Freitas 17722969;

- Soldado Atirador Jango Candé 82055065;


AGOSTO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- Soldado Atirador Paté Mané 82060167:

  • Pel Caç Nat 54

- Furriel Miliciano Atirador Alfredo J. S. Freitas 14037769;

- Furriel Miliciano Atirador José Mário  C. Ferreira 06205370;

- Furriel Miliciano Atirador José A. L. Pires 10684269;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador António S. Barroso 05674470;

- 1º Cabo Atirador António M. S. Araújo  17925969;

SETEMBRO DE 1970


  • Pel Caç Nat 52

- Furriel Miliciano Atirador João  M.M. Branco 07125668;

- Soldado Atirador Mamassali Baldé 82063867;

- Soldado Atirador Bacar Baldé 82057465;

- Soldado Atirador Mango Baldé 82057165

- Soldado Atirador Seco Umaro Baldé 82055266;

- Soldado Atirador Tunca Sanhá 82037066;

  • Pel Caç Nat 63

- Furriel Miliciano Atirador Carlos E. C. Nunes Amaral 14288269;

- 1º Cabo Atirador Sanassi Baldé 82052865;

- Soldado Atirador Indouque Queta 82052265;


OUTUBRO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- 1º Cabo Atirador Fodé Mané 82023866;

- Soldado Atirador Adulai Embaló 82049567;

- Soldado Atirador To mango Baldé  82057465;

  • Pel Caç Nat 63

- 1º Cabo Atirador José Sangá 82016164;

- Soldado Atirador Braima Candé  82014060;

- Soldado Atirador Holdé Embaló 82035565;

NOVEMBRO DE 1970

  • Pel Caç Nat 52

- 1º Cabo Atirador António A. F. Rocha 05955270;

- Soldado Atirador Sambaro Baldé 82095264;

  • Pel Caç Nat 54

- Alferes Miliciano Atirador Hélder P- R. Martins  07543668;

- 1º Cabo Atirador Fernando Vasco Menoita 00762170;

DEZEMBRO DE 1970

  •  Pel Caç Nat 54

- Soldado Atirador Adi Jop  82077770

- MARÇO DE 1971


  • Pel Caç Nat 54

- Soldado Atirador Sambaro Embaló 82092068;

- 1º Cabo Atirador Manul Augusto Gaspar12528870;

  • Pel Caç Nat 63

- Soldado Atirador Braima Jau 82035066;

ABRIL DE 1971

  • Pel Caç Nat 54

- 1º Cabo Atirador Amílcar Prazeres Pereira  11702470;

  • Pel Caç Nat  63

- 1º Cabo Atirador Cralos José Pereira Simplício  12687370.

(Continua)

(Seleção, revisão/ fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25600: O armorial militar do CTIG - Parte I: Emblemas dos Pelotões de Caçadores Nativos: dos gaviões aos leões negros, das panteras negras às águias negras...sem esquecer os crocodilos

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25333: (De) Caras (204): É-se um Soncó para toda a vida (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Pode demorar mais de meio século, mas os Soncó encontram-se, é mais do que uma questão de sangue, foi a intensidade das ligações que as circunstâncias proporcionaram, ainda hoje me interrogo o que teria Mamadu Soaré Soncó visto em mim, que confiança eu lhe merecia, para me ter suplicado vezes sem conta que queria vir comigo para Portugal, queria estudar, se eu tinha ajudado os meninos a ter escola em Missirá, ele queria ir mais longe. Não foi possível satisfazer o pedido de Mamadu, mas ele sabia que numa outra ocasião nos encontraríamos, como aconteceu num domingo de março de 2024. São as imagens deste encontro e as do que antecede que deposito nas vossas mãos.

Um abraço do
Mário



É-se um Soncó para toda a vida

Mário Beja Santos

Toca o telefone, sem demora Abudu Soncó anuncia que Mamadu chegou a Portugal, perguntei que Mamadu, pois, o Soncó, aquele a quem davas aulas, que queria vir contigo para Portugal, em 1970. Veio muito doente, assim que nos telefonámos perguntou por ti, tem urgência em ver-te. Mora na Damaia. Negociámos a data, almoço num domingo de março, e vejo chegar o casal acompanhado de Abudu. Sentados à mesa (os doentes crónicos não estão sujeitos às regras do Ramadão), lembrámos muita coisa, fiquei informado de que Mamadu é um diabético em estado grave, com elevado colesterol a pedir medidas severas, está a fazer uma bateria de exames. Quando lhe ofereci os meus livros, lembrei aquele episódio que está registado no nosso blogue e que aparece no segundo volume do meu Diário da Guiné. Mamadu apareceu-me em Bambadinca, que queria falar comigo, terá sido na primeira semana de julho de 1970. Que queria vir comigo para Portugal, que eu sabia que ele era afeiçoado aos estudos, não me deixaria mal, era só uma questão de pedir licença no barco para vir comigo, estamos a falar de um jovem que teria entre 12 a 13 anos. Enterneceu-me tudo quanto me estava a dizer. Talvez fosse possível eu trazer um filho de um ano, inteiramente impossível trazer um jovem numa embarcação exclusiva de militares, Mamadu não se rendeu, disse-me categoricamente que ficava na minha companhia e esperava que eu reconsiderasse, pedisse ao comandante do barco para vir comigo. E à cautela apresentava-se todas as noites naquele quarto de quatro camas, e dormia num colchão que trazia, a meus pés, os meus camaradas alferes da CCAÇ 12, ao princípio ficaram atónitos com a intrusão, depois habituaram-se à presença do Mamadu, que saía logo de manhã da camarata e só regressava à noite. E não quero reproduzir o que foi a nossa despedida, momentos antes da coluna me levar ao Xime, uma despedida lancinante, ele, mortificado, viu-me partir só com promessas, que nunca foram cumpridas. É assim o destino, mais meio século depois um Soncó procura alguém a quem o régulo do Cuor, quando partia em novembro de 1969 para Bambadinca me pediu para jurar que nunca esqueceria os Soncó. Mal ou bem, cumpri ou estou a cumprir. E que no Cuor, os Soncó não me esqueçam como eu não os esquecerei até que a luz se apague na minha vida.
Estou de braço dado com a Djassió Soncó, à minha direita está o marido, Quebá Soncó, um dos irmãos do régulo do Cuor, o meu guia, o nosso relacionamento nem sempre é dos mais felizes, mas na verdade ele conhece o regulado a palmo, mesmo quando denota temor é de uma lealdade sem mácula. Depois da independência, apareceu morto no cárcere em Bafatá. São os pais de Mamadu Soaré Soncó, que conheci em menino, a quem dei efemeramente aulas de português, o resto é para contar depois. O que tem de especial esta imagem? Há a convicção geral dos civis que se incorporam nesta coluna dita de abastecimento que vamos para Bambadinca. A Djassió aperaltou-se para ir visitar família. Os picadores receberam a incumbência de picar bem até Canturé, depois viram à direita, pela estrada que liga Jugudul- Porto Gole-Enxalé-Missirá-Gambiel-Bafatá, uma via que está interdita há anos. Pois hoje, vamos até ao Enxalé, depois de montar segurança em Mato de Cão. Consigo neste momento ver o ar de pânico da Djassió quando viram em Canturé e lhe digo que hoje vai visitar a família no Enxalé… Como aconteceu. No regresso, a malta do PAIGC em Madina não deixou de se manifestar contra, lançou umas morteiradas à distância, rimos a bom rir, mas a malta do PAIGC apareceu dias depois e flagelou Missirá, felizmente com poucas consequências.
No final do Ramadão de 1968, Missirá a jogar com uma equipa de Bambadinca, juntaram-se voluntários do Pel Caç Nat 52, do Pelotão de Milícias n.º 101 e dois civis. Com que saudade olho para a direita e vejo o furriel Casanova, o soldado Ieró Djaló, que me arranjou uma embrulhada na Operação Anda Cá, em 22 de fevereiro de 1969, quando deixou fugir um prisioneiro; à minha esquerda está o Teixeira das Transmissões e depois o Barbosa, segue-se um jovem que esqueci o nome, tenho de perguntar ao Abdul, ele guarda uma memória de elefante. Mas de pé, mesmo à ponta esquerda, aquele jovem chama-se Mamadu Soaré Soncó.
Em pleno Ramadão, comprei 14 metros de tecido e mandei fazer a minha fatiota com um lindo bordado, manga di ronco! E fez-se uma fotografia, a braço o régulo Malã Soncó, um verdadeiro príncipe, na plena aceção da palavra, temos novamente Quebá Soncó e depois o chefe da tabanca, Mussá Mané, este dava-me cabo da cabeça com os pedidos insistentes para fazer colunas para suprir as faltas de arroz. E eu todos os dias percorria aquelas terras férteis que a guerra as tornara infecundas…
Fotografia tirada no vestíbulo da minha casa, abraço Mamadu Soaré Soncó, já lá vão mais de 50 anos, a Sónia Intchasso, quem diria que é sexagenária, guarda um olhar doce e veio visitar-me formosa e segura, e depois o Abdu Soncó, um irmão que Deus me deu, vive aqui desde 1996, estou sempre a pedir-lhe que se naturalize, os seus problemas do foro cardiovascular não lhe permitem voltar à Pátria, cheguei àquela idade em que nos inquietamos muito pela sorte daqueles que amamos profundamente.
Exigência de Mamadu, traja de branco, é sinal que foi a Meca, é fotografia que ele quer mandar para o Cuor e arredores, o Branco de Missirá está vivo e apresenta-se.
Sónia Intchassó na varanda onde almoçámos, em todo o seu esplendor, veja-se a etiqueta e o modo natural como estende as suas mãos, as Mandingas gostam de caprichar.
Outra exigência de Mamadu, sei lá o que lhe passou pela cabeça, sei lá quem o ajudou a arranjar esta foto, trouxe este pano de pente e mandou bordar o meu nome e pôr fotografia. Fiquei a gaguejar, agradeci muito, o Mamadu impôs a fotografia, para que conste, para que se veja no Cuor.
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Nota do editor

Último post da série de 15 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25174: (De) Caras (203): Nota solta (José João Domingos, ex-Fur Mil At Inf)

segunda-feira, 21 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23098: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (22): Lugares da Guiné

Carta Geral da Província da Guiné
© Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 18 de Março de 2022, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra os locais da Guiné por onde peregrinou.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

22 - LUGARES DA GUINÉ

A CART 2520 enquanto sediada no Xime exerceu uma grande actividade fora do arame farpado, tanto a nível de Companhia ou de pelotão e conjuntamente com a CCAÇ 12 e os Pelotões de Caçadores Nativos 52 e 54, originando para os operacionais um enorme trabalho e também um grande desgaste físico e psicológico. O 3.º pelotão a que pertenci, percorreu praticamente todos os cantos, trilhos e picadas da zona operacional. Por mero acaso fui tomando alguns apontamentos numa pequena pasta onde guardava a minha correspondência e que actualmente a conservo quase religiosamente.

A partir destes curiosos apontamentos, da minha memória e com recurso à carta do Xime e de outros locais, elaborei uma lista que vou partilhar com os camaradas da nossa Grande Tabanca, ou melhor, da Tabanca Grande, dos lugares da Guiné por onde andei, incluindo também os lugares da segunda fase da nossa passagem pelo Ultramar quando a nossa Companhia assentou arraiais em Quinhamel:

Bissau - Início da comissão em 30 de Maio de 1969, alguns dias. Em Junho e Julho de 1970 várias vezes e em Março de 1971
Brá - Primeiras dormidas na Guiné antes da partida para o Xime
Xime - Base da CART 2520 durante o 1.º ano, Junho de 1969 a Junho de 1970
Bambadinca - Um sem número de deslocações com a finalidade de alguns reabastecimentos, ir buscar e levar correio e outros serviços
Mansambo - Primeiras 3 semanas para o treino operacional com o 3.º pelotão
Bafatá - Várias idas com a finalidade do Vaguemestre comprar vacas para nossa alimentação
Ponte Rio Udunduma - Por inúmeras vezes como mini destacamento e de passagem para Bambadinca
Enxalé - Mais de dois meses como destacamento e para segurança da população
Finete - Patrulhamento até ao Enxalé
Mato de Cão - Patrulhamento a partir de Finete até ao Enxalé
Mato Madeira - No percurso entre Finete e Enxalé
Malandim - Zona do Enxalé, patrulhamento
Gambana - Nas proximidades do Enxalé, patrulhamento
Madina Colhido - Inúmeros patrulhamentos e montagem de emboscadas e de seguranças aos barcos que passavam no rio Geba
Ponta Varela - Em operações
Ponta do Inglês - Três passagens em Operações
Foz do Corubal - Uma passagem em Operação
Ponta Coli - Dezenas de seguranças para a passagem de colunas da nossa Companhia e de outros militares
Ponta Luís Dias - Passagem durante Operação
Mouricanhe - Em Operação
Chacali - Em patrulhamento
Chicamiel - Em Operação
Poidon - Em patrulhamentos
Háfio - Em operações
Darsalame/Baio - Em Operações
Buruntoni - Em Operações
Colicumbel - Em patrulhamentos
Lantar - Proximidades do Xime em patrulhamentos
S. Belchior - Em operações
Malafo - Patrulhamento
Bissilão - Em Operações
Gundagué Beafada -Em operações
Amedalai - Ponto de passagem obrigatório para colunas a Bambadinca
Samba Silate - Em patrulhamento, passando por Amedalai
Taibatá - Colunas de apoio à população
Demba Taco - Colunas de apoio à população
Quinhamel - Base da CART 2520, tendo divergido para Safim, João Landim e posteriormente para o Biombo
Safim - Base do 3.º pelotão - Junho, Julho e parte de Agosto de 1970
João Landim - Permanência de dois meses com uma secção
Nhacra - Breve passagem
Biombo/Ondame - Entre Setembro de 1970 e Março de 1971 como destacamento
Blom - Tabanca nas proximidades do Biombo
Blimblim - Tabanca nas proximidades do Biombo
Dorce - Tabanca nas proximidades do Biombo
Ponta Biombo - Patrulhamentos e momentos de descontração
Ilondé - De passagem
São Vicente da Mata - De passagem
Cais de Pigiguidi - Chegada a Bissau e "Adeus Guiné"

José Nascimento

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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

segunda-feira, 11 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22620: Notas de leitura (1388): Um acontecimento científico de renome: A Missão Geoidrográfica da Guiné (1947-1957) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Jamais em tempo algum naquele período que levei de idas quase diárias de Missirá a Mato de Cão, uma espécie de patrulhamento com segurança da entrada do Geba estreito, para evitar eventuais ataques à roquetada por parte do PAIGC, que aconteceu entre agosto de 1968 e novembro de 1969, associei a existência de um medidor hidrológico em belíssimo estado, o que apodrecera fora o passadiço em madeira entre a estrada e aquela peça para a qual eu olhava como boi para palácio, uma estranhíssima relíquia de outras eras, eu estava ali era para ver passar bairros militares e civis em completa segurança. Pois aquele medidor estava ali por obra e graça desta missão geoidrográfico, seguramente que aquelas tabelas de marés seriam essenciais para a circulação marítima e muitos outros conhecimentos. Admirador e devedor de Teixeira da Mota, modestíssimo seguidor do seu amor pela Guiné, trago-vos ao conhecimento este trabalho do investigador Carlos Valentim.

Um abraço do
Mário



Um acontecimento científico de renome:
A Missão Geoidrográfica da Guiné (1947-1957)


Beja Santos

O investigador e oficial da Armada Carlos Manuel Valentim escreveu no n.º de outubro-dezembro de 2006 dos Anais do Clube Militar Naval um artigo intitulado “Teixeira da Mota na Missão Geoidrográfica da Guiné (1947-1957)”. Esta missão foi de um excecional valor científico, trouxe um conhecimento em profundidade que permitiu um mapeamento como jamais existira da geoidrografia guineense, foi a alavanca para cartas geográficas que mantêm um valor incalculável. O trabalho desta missão iniciou-se no pós-guerra, prendia-se com a necessidade de modernização em bases científicas para assegurar um desenvolvimento racional ao Ultramar português, era a proposta para o trabalho da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, designação que seria reformulada com a revisão constitucional de 1951. Marcello Caetano, enquanto Ministro das Colónias, apostara na ocupação científica do Ultramar, era um imperativo para cimentar a soberania portuguesa. É a altura de falar de Avelino Teixeira da Mota.

Em novembro de 1947, Teixeira da Mota cessara as funções de Ajudante de Campo do Governador Sarmento Rodrigues e passou a prestar serviço na missão geoidrográfica da Guiné Portuguesa. Deixara o cargo altamente prestigiado: foi o motor da organização e primeira fase da publicação do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, contribuíra para um inquérito etnográfico, base de uma nova carta geográfica e etnográfica da colónia. O governo condecorou-o com a Medalha de Prata dos Serviços Distintos ou Relevantes do Ultramar. Teixeira da Mota irá ficar ligado à missão geoidrográfica até 1957. Apaixonara-se por aquela parcela de território africano, vai recolhendo elementos essenciais para futuros trabalhos com destaque para a sua monografia (ainda hoje em alguns pontos incontornável) da Guiné Portuguesa, publicada em 1954. Prestará serviço no navio hidrográfico Mandovi, Teixeira da Mota é 2.º Tenente. Toma posse do lugar mas vai participar na 2ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, que se realizou em Bissau em novembro de 1947. Como diz Carlos Valentim, a Hidrografia era um mundo à parte na Marinha: “O trabalho hidrográfico nos territórios ultramarinos de África associava um saber científico e técnico, baseado em disciplinas como a Matemática, a Geofísica, a Cartografia, a Biologia Marinha, a Geodesia, a Topografia, a uma aura de aventura, proporcionando um contato profundo com o meio marinho, no oceano ou próximo da costa, nos estuários e nos canais navegáveis, e em terra, por vezes em períodos longos de exploração, em contactos estreitos com as populações locais”. Era um ramo da investigação que tinha pergaminhos na Guiné, estavam inventariados trabalhos hidrográficos e geográficos entre os finais do século XIX e 1916.

Em novembro de 1947 o 1.º Tenente Pereira Crespo, que será o último Ministro da Marinha do Estado Novo, assumirá as funções de comandante do Mandovi, o navio encontrava-se praticamente reparado, houvera uma transformação completa dos seus equipamentos que custara ao Estado 8 mil contos. Carlos Valentim elenca os aspetos práticos do abastecimento, da guarnição branca e indígena, logo nesta primeira fase. Teixeira da Mota continua a produzir os seus trabalhos aproveitando fundamentalmente o período da época das chuvas, contacta com os membros do Institut Français de l’Afrique Noire, prestigioso centro de investigação científica da África Ocidental Francesa, aquando das reparações do Mandovi nos estaleiros de Dacar. Em 1950, Teixeira da Mota publica a sua primeira obra de fôlego, sobre a toponímia de origem portuguesa usada para denominar vários locais na costa ocidental de África, a comunidade científica internacional endereça-lhe público louvor. A monografia sobre a Guiné Portuguesa espelha o seu conhecimento e estudo sobre África. Como observa Carlos Valentim, era o corolário de quem aprendera a viver em África, no meio das populações africanas, a estudar a cultura e as sociedades com o rigor da observação e encará-las de um modo que diferia da maioria dos outros europeus. Entretanto o Mandovi irá ser substituído por outro navio hidrográfico, o Pedro Nunes, será o seu comandante quem lhe dará o último louvor em novembro de 1957 quando Teixeira da Mota findou a sua prestação de serviço na missão geoidrográfica.

A última parte do artigo de Carlos Valentim é um levantamento sumário dos trabalhos da missão. Logo à partida: medição de uma base geodésica em Bissau; desenvolvimento da base e reconhecimento de uma triangulação formada por figuras fechadas que ligam geodesicamente Bissau e Bolama; determinação de declinação magnética, inclinação, e componente horizontal em Bissau e Bolama; sondagem parcial do porto de Bolama e observação das marés em Caió, Bolama e Bissau. Escreve Pereira Crespo: “A realização de trabalhos hidrográficos na Guiné é tarefa dura, difícil e demorada. Todas as condições e todos os elementos se parecem conjugar para dificultar tais trabalhos. Mau clima, má visibilidade, costas baixas, que em virtude das marés – 5 a 6 metros – ou se transformam em enormes zonas de lodo, ou em denso arvoredo semimergulhado. Correntes impetuosas. Más condições de mar motivadas pelo vento e correntes. E principalmente a preocupação permanente da segurança do navio e embarcações, navegando em zonas baixas, rodeadas de perigos, e por cartas que são certamente das mais erradas do mundo”. E conclui Carlos Valentim: “Durante dez anos, os levantamentos topográficos e hidrográficos, triangulações e sondagens, trabalhos em terra e no mar, fizeram da missão geoidrográfica da Guiné um empreendimento científico/técnico – modelo para o conjunto dos territórios ultramarinos que Portugal dominava.”

Navio hidrográfico Mandovi (1945). Imagem extraída do blogue “Os Rikinhus”, com a devida vénia.
Navio hidrográfico Pedro Nunes. Imagem extraída do blogue “Os Rikinhus”, com a devida vénia.
Avelino Teixeira da Mota
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Nota do editor

Último poste da série de4 DE OUTUBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22596: Notas de leitura (1387): Imagens à procura de comentários: Augusto Trigo e a CART 1746 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22558: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte XIII: o fatídico dia 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos, no Mato Cão


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67)  > Estrada que atravessava a bolanha depois de Mato Cão  quando se vinha de Missirá para Enxalé



Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) > Ao meio, o furriel de transmissões, à direita de costas, o capitão Pires e à esquerda o fur mil op esp António dos Santos Mano, que irá morrer em 6/10/1966, na sequência de uma mina A/C, na estrada Missirá-Enxale.


Guiné > Zona Leste> Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 1439 (Enxalé, Missirá, Porto Gole, 1965/67) >Embora não possa pôr as mão no fogo sobre a sua exactidão, creio que foi este o Unimog  da coluna de 6 de outubro  que vinha a Missirá  a Enxalé. Eu estou nesta  foto ( em pé, o 3º da esquerda) que me parece ter sido tirada um dia quando eu estava em Missirá  antes do Zagalo .   

Fotos ( e legendas): © João Crisóstomo (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



João Crisóstomo
(a viver em Nova Iorque desde 1977)


1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)


CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé,
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história”
como eu a lembro e vivi
(João Crisóstomo, luso-americano,
ex-alf mil, Nova Iorque) (*)


Parte XIII: Um dia fatídico, 6 de outubro de 1966, duas minas A/C, dois mortos


Depois de 9 Set 1966 (o ataque a Enxalé):

Haverá com certeza muito a lembrar sobre a vida e actividades da CCaç 1439 depois do ataque a Enxalé. Recordo apenas de ter ficado surpreendido e consternado que o IN tivesse tido a coragem de vir atacar a própria Sede da Companhia, onde, pensávamos, estávamos bem seguros.

Lamentavelmente nem eu (mea culpa, mea culpa) nem ninguém mais teve o cuidado de pôr algo em papel para memória desses dias que se seguiuram e portanto nada mais me resta do que continuar esta “história da CC1439” como se tudo continuasse como antes e este ataque não tivesse acontecido. 

De facto, as várias minas de que fomos vítimas, a seguir, o ataque a Missirá e outros acontecimentos levam-me a concluir que este ataque a Enxalé é evidência de que o IN se sentia cada vez mais à vontade para se aproximar das NT, intensificar os seus ataques e aumentar o seu campo de acção. Foi isso que senti e mais tarde vim a confirmar ao ler o primeiro livro de Beja Santos ,“ Diário da Guiné, na Terra dos Soncó”.


Dia 23 de Setembro de 1966

Copio à letra o relatório:

(...) " Um grupo de combate da CCaç 1439 participou na Op Girândola que consistiu numa acção ofensiva na mata de Belel. As NT detectarm um acampamento IN o qual se encontrava abandonado. Foram destruidas as casas de mato e culturas, No regress as NT foram emboscadas duas vezes não tendo sofrido qualquer baixa." (...)

Não posso dizer as datas, mas sei que entre as muitas lacunas deste relatório contam-se muitas “patrulhas de reconhecimento” que fazíamos, e que não chegavam a receber o termo pomposo de “operações”. Umas fáceis e outras “menos fáceis”. 

Lembro de várias vezes termos permanecido , como que emboscados junto de picadas suspeitas de serem usadas pelo IN. Lembro de ter uma vez descansado ao fim do dia com a minha cabeca em cima de uma pedra antes de tomarmos posições para passar a noite junto a uma picada ; não sei se foi nesta mesma ocasião ou foi noutra em que fiquei numa depressão de terreno ( talvez fosse mesmo terreno de bolanha, não sei) e eu fiquei com água pela cintura, quase louco de frio,  esperando que o dia chegasse depressa e não aparecesse ninguém na picada.

Um destes casos, que não constam deste relatório, aconteceu nos dias 4 e 5 de Outubro. E creio que o efectivo das NT neste dia não era de um simples pelotão mas bem maior . A razão de eu lembrar este caso e não outros deve-se ao seu relacionamento com o dia fatídico de 6 de Outubro.



Guiné >Zona Leste> Sector L1 > Bambadinca > Estrada Enxalé-Missirá > Sítio do Mato Cão > 6 de Outubro de 1966 > Cratera povocada por uma mina A/C cuja explosão provocou a morte do Soldad Manuel Pacheco Pereira Junior, da CCaç 1439. Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3kg) ficaram no Cemitério de Bambadinca, Talhão Militar, Fileira 2, Campa 1, Guiné-Bissau. NO regresso de Missirá, a mesma coluna accionou outra mina A/C que decepou a perna do Fur Mil Op Esp António dos Santos Mano, acabando por morrer.

Foto (e legenda): © Henrique Matos (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Dia 6 de Outubro de 1966, um dia fatídico

Copio à letra o que consta no relatório: e escreverei depois “a minha versão” como as coisas se passaram, baseado na minha memória, por vezes bem fresca sobre casos como este, e também na memória de outros com quem tenho falado sobre o assunto.

(...) "As NT acionaram dois engenhos explosivos quando se efectuaram duas colunas, uma vinda de Missirá (para) Enxalé, e outra ao encontro da primeira. Os engenhos explosivos encontravam-se em pequenas poças de água, embora se tivesse os cuidados julgados necessaries na picada da estrada.

"Resultados dos dois engenhos explosivos:

Dois Unimogs destruidos
Uma espingarda G3 perdida em virtude de ter sido projectada para o Rio Geba.

Baixas sofridas pelas NT:

Furriel Mil António dos Santos Mano ( morto em combate) (**)

Soldado 203/65 Manuel Pacheco Pereira Jr. ( morto em combate) (***)

Furriel Mil ( Mec Auto) Octávio Albuquerque da Silva ( ferido)

1º cabo 7316565 Manuel Abreu Velosa 

1º cabo 3456665 José Firmino Quintal 

Soldado 9311265 Ernesto Camacho Rodrigues 

Sold 7317965 Manuel Correia

Sold 5974165 Francisco de Freitas Timóteo 

Sold 1011265 Manuel de Sousa Mendes

1º Cabo 9271565 José Ilídio Andrade Gouveia .

Soldado 8356465 Manuel Alves Junior

Sold 9805565 Agostinho Gerardo 

Sold cond auto  2630164 José Maria Mendes 

Sold cond auto5140464 Jerónimo Gonçalves Sadio 

Caç Nat Contratado Pucha Nanan, ferido

Foi detectado na região de Mato Cão uma armadilha antipessoal a qual foi destruida. Foi distinguido nesta acção o soldado telefonista 2642365 Júlio Martins Pereira, louvado pelo Cmdt Militar e condecorado.

Este foi um dia fatídico e traumático para todos e que todos mais ou menos lembram imediatamente quando se fala dele.

O Alferes Zagalo estava destacado neste momento em Missirá e precisava de reabastecimentos. Sabendo que o pessoal em Enxalé estava exausto e não podia fazer uma coluna para o abastecer, resolveu vir ele mesmo a Enxalé buscar o que precisava. A sua coluna constava de um jipe e um Unimog, com todo o pessoal que estes podiam transportar.

Antes de chegar a Mato Cão o Unimog pisou uma mina anticarro escondida numa poça de água. O jipe tinha-se desviado para evitar essa poça, precaução que o Unimog não teve.

Os resultados podem-se avaliar pelas fotos e pelo número de mortos e feridos. Entre estes o Furriel Mano. Como o Unimog vinha superlotado , ele vinha em cima do Unimog mas com a perna de fora e veio a falecer no local antes da chegada do helicóptero.

Houve ainda um outro morto, José Moreira, caçador nativo “contratado” e uma dezena de feridos, alguns deles com muita gravidade que foram evacuados para Bissau. A situação era desesperada e nem meios de comunicações para pedir auxílio tinham. Pelo que o soldado de comunicações Júlio Pereira que felizmente não estava ferido, pegou na sua G3 a tiracolo e foi a correr vários quilómetros , sujeitando-se a ser apanhado pelo IN em direcção a Finete, na margem do Geba, oposta a Bambadinca.

Aqui ,com a ajuda do pessoal amigo desta tabanca, conseguiu passar o Geba numa canoa e chegar a Bambadinca onde lhe facultaram um rádio para chamar os helicóperos e avisar Enxalé do sucedido.

 Em Enxalé esperávamos passar esse dia como um dia de descanso .O pessoal da Companhia tinha acabado de regressar duma dura saída ao mato ( embora nada conste no relatório) e estávamos todos exaustos. E de manhã ouvimos ao longe um estrondo, mas não fazíamos idéia do que fosse. Passado o que me perece ter sido mais de um hora recebemos notícia de que a coluna do Zagalo tinha sofrido uma mina, havia feridos e que os helicópteros já estavam a caminho.

Ficamos todos preocupados, incluindo o capitão Pires. Quando este disse que era preciso ir ao encontro da coluna para ajudar o Zagalo, eu ofereci-me. Ele aceitou logo e disse-me: “Eu sei que o pessoal está todo estafado. Pega em todo o pessoal de serviços que ficaram no quartel (nos dois dias anteriores) e vê se arranjas mais alguns voluntários. Se não arranjares voluntários, diz-me que eu arranjo-os."

Assim fiz e depois de ter dados instruções a todo pessoal de serviços, antes de perguntar a outros por voluntários,   eu chamei o meu pelotão, certo de que haveriam alguns que iriam comigo. Foi para mim uma sensacão tremenda quando, logo após eu ter dito o que precisava, eles barafustavam como se eu os tivesse ofendido; que não havia um nem dois e que iam todos . “O que é que o nosso alferes está a pensar da gente?” ouvi o “Figueira” a dizer para os outros .

E assim fomos, picadores à frente, um Unimog vazio a seguir e o resto da coluna atrás , caminhando tão ligeiro quanto possível. A região de Mato Cão é uma passagem muito perigosa: a estrada passa perto do Geba e do lado esquerdo há uma colina. Era sempre com o coração nas mãos que aí passava.

Por isso ao passar a bolanha que precede Mato Cão, já perto deste eu disse ao furriel Lopes: "Olha, Lopes, isto é mesmo um bom sítio para uma emboscada; eles sabem ( o IN) que a gente (ao ouvir o rebento duma mina) não deixa de vir e são capazes de estar à nossa espera. Pega na tua secção, sobe e faz um reconhecimento pela esquerda". 

Ele assim fez e a coluna continuou; e depois, logo passada a bolanha, de repente houve um grande estrondo e o Unimog deu um salto pelos ares. A mina, como o que sucedeu com a coluna do Zagalo, estava dentro duma poça de água e não foi detectada pelos picadores.

Imediatamente nos deitámos nas redondezas do buraco e do Unimog destruido, prontos a responder, mas nada sucedeu. E depois de algum tempo respirei fundo; ao fim e ao cabo podia ter sido muito pior, pensei eu: perdeu-se o Unimog, mas o importante é que não há mortos nem feridos. E não me recordo do que sucedeu a seguir, e o que foi o resto do dia, mas imagino (agora) o que terá sido para todos quando soubemos da morte do furriel Mano e dos vários feridos.

De volta no Enxalé, no dia seguinte fez-se a formatura geral de manhã. E parecia estar tudo certo, até que quando foi chamado o nome do Manuel Pacheco ( conhecido de todos como o Açoriano por ser dos Açores e o único soldado que não era madeirense) ele não respondeu. Perguntei se alguém o tinha visto ou se alguém sabia onde ele estava e foi então que alguém disse : "Quando o vi ontem a última vez ele estava a caminhar junto do Unimog… com certeza por não ter ouvido as intruções do furriel Lopes a cuja secção ele pertencia, ele estava junto do Unimog quando a mina rebentou"…

Imediatamente voltamos ao local (recordo que o Alferes Henrique Matos que estava naquele dia em Enxalé decidiu ir connnosco ) . Reproduzo o testemunho que sobre este momento ele deixou neste blogue, referindo-se ao Manuel Pacheco: no dia 10 de maio de 2008, poste P 2830 (***):

(...) "Quando digo pulverizado é o termo que melhor descreve a situação, pois sou um dos que andou à procura de restos do corpo e apenas encontrámos pequenos fragmentos de ossos com que fizemos um embrulho que pesava poucos quilos. Tem a sua campa em Bambadinca, como se pode ver na relação do Marques Lopes (...). A G3 dele nunca mais se viu, pensando-se que terá voado para o Geba que passa a não muitos metros de distância."

Mais informa ainda no poste P15998 (**), referenciando o lugar da sua sepultura: (...) "Era natural de São Miguel, Açores. Os restos mortais (cerca de 3 kg) ficaram no cemitério de Bambadinca, talhão militar, fileira 2, campa 1, Guiné-Bissau".

Como já está dito foram momentos tristes e difíceis estes,  em que com todo o respeito fomos juntando o que restava do nosso querido ‘Açoriano'. Lembro também o momento em que os seus restos sairam depois do Enxalé, num caixão normal, como se dentro estivessem uns restos mortais completos.

Durante esta busca pelos seus restos mortais e pela G3 que desapareceu , e que deve ter sido projectada com tanta violência que atingiu o Geba , mesmo ao lado da estrada, veio-se a descobrir uma mina antipessoal. A nossa sorte foi que alguém viu um fio, suspeitou e …lá estava uma mina, que foi destruida no mesmo momento.

16 e 27 de Outubro:

O relatório menciona a seguir três operações neste mês de Outubro de 1966:

Operação Grude a 16 de Outubro, 
Operação Grisu a 16 de Outubro 
Operação Giesta, a 27.

As três são descritas como “patrulhas de reconhecimento fluvial e terrestre ao longo do Rio Geba.” Sem qualquer acontecimento digno de nota. Mas há com certeza engano nas datas pois, tendo nós os forças divididas/destacadas em Missirá e Porto Gole, além de não podermos deixar Enxalé sem protecção, não me parece que fosse possível fazer duas operações no mesmo dia.

(Continua)

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