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sexta-feira, 4 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26982: (in)citações (275): Jorge Ferreira, "um dos nossos mais velhos"... "Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... É só preciso ter cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (Luís Graça)


1. O Jorge Ferreira faz hoje 87 aninhos! É da colheita de 1938... É capaz de ser "um dos nossos mais velhos", a par do António Rosinha, do George Freire, do Mário Arada  Pinheiro , do Alberto Nascimento (cito de cor) ...  Falo dos nossos grão-tabanqueiros que ainda continuam ativos, saudáveis, produtivos e proativos!...  Enfim, o Jorge é uma figura sempre presente na Magnífica Tabanca da Linha e, de vez em quando, telefonamo-nos. E na Tabanca Grande a idade é um posto. 

Tenho por ele uma grande estima e carinho. É um vê-cè-cê, um veteraníssimo, ainda do tempo da farda amarela, que honra a nossa Tabanca Grande. E merece, hoje, um destaque especial.

Tive o privilégio de o apresentar à Tabanca Grande em 19/9/2016 nestes termos (**):

(...) o Jorge, veteraníssimo camarada que esteve um ano em Buruntuma, entre novembro de 1961 e julho de 1962, quando ainda a guerra não tinha começado oficialmente, tem um livro lindíssimo sobre aquela terra e as suas gentes que ficaram no nosso coração (...)

Conhecemo-nos há dias, pessoalmente, embora já desde meados de junho que temos vindo a falar ao telefone. (...)

Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum: 

(i) a frequência do ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde ele se licenciou depois de ter vindo da Guiné, (e onde eu frequentei o 1º ano da licenciatura em ciências sociais, em 1975/76, na mesma altura em que lá esteve o cap cav Salgueiro Maia); 

(ii) vários amigos do Instituto de Informática do Ministério das Finanças e da DGOA - Direção Geral de Organização Administrativa);

(iii) a paixão pela fotografia, etc...

 Trabalhou, depois do regresso, em maio de 1963, da Guiné , nos serviços mecanográficos do exército até 1972 onde teve, entre outros, como colega o Manuel Barão da Cunha, conhecido escritor da guerra de África, bem como o seu irmão Francisco.

O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 , tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido. 

 É um homem culto e viajado. e que cultiva a memória. No seu blogue, diz com modéstia que não é "um fotógrafo profissional nem mesmo um amador". Descreve-se apenas como um" caçador de imagens" (...) "que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do [seu] quotidiano". 

Retomou a fotografia depois de enviuvar há 5 anos, fazendo do seu blogue também uma tocante homenagem à sua companheira de uma vida, Gabriela, e mãe do seu filho  (...)

2. Em plena pandemia, há 5 anos atrás, quando estávamos a olhar o mundo através do vidro embaciado da janela, trancados em casa, à espera que o pesadelo da pandemia de covid-19 passasse, escrevi ao Jorge as seguintes quadras (estava "desenfiado" na Quinta de Candoz, a quase 400 km do meu poiso habitual). É uma forma de lembrar quão resistentes, afinal, temos sabido ser,  e graças também ao nosso humor, às nossas tabancas, às nossas tertúlias (físicas e virtuais)...

Reitero os votos que sempre lhe faço, desde que nos encontrámos, em 2016: Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... Cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (***)


Ao Jorge Ferreira (e aos demais aniversariantes da nossa Tabanca Grande que foram obrigados a cantar "os parabéns a você", sozinhos em casa):


Amigo Jorge Ferreira,
És dos nossos veteranos,
Mas não caias na asneira,
De dizer que fazes anos.

Não há copos p’ra celebrar,
Nem na Tabanca da Linha,
Mas logo que a crise passar,
Abre o Resende a cozinha.

Em Buruntuma, as bajudas
Foram todas retratadas,
Fossem belas ou feiudas,
Solteirinhas ou casadas.

Desse tempo tens saudade,
Até marcos tu puseste,
Não te pesava a idade,
Grande alfero lá do Leste.

Retificaste a fronteira
C’o a Guiné-Conacri,
E juraste p’la bandeira:
 “Sou eu quem manda aqui”.

Saia um  peixinho da bolanha,
Feito à maneira, no forno,
Quem não tinha arte e manha,
Apanhava com um corno.

Paludismo, hepatite,
E até bilharziose,
Não faltava o apetite,
Cada um c’o sua dose.

De Paunca até Pirada,
Do Gabu até Bolama,
Não me queixo, camarada,
Dormi no mato e na cama.

Tive farda de caqui,
E chapéu colonial,
Mas só de amores morri
Pl' aquela terra, afinal.

Convivi com  o Sané,
Senhor de Canquelifá,
Percorri meia Guiné,
Fiz amigos como os de cá.

Em resorts de muitas estrelas,
Deixei pedaços de mim,
Não me lembro das caravelas,
Mas a história foi assim.

Buruntuma, hás de ser grande,
Não importa em que ano ou dia,
Seja o povo quem mais mande,
Em passando a pandemia.

Hoje o Jorge é menininho,
Vai ter ronco na tabanca,
Toda a gente, preta ou branca,
Lhe vai dar um miminho.

Luís Graça, 
Tabanca de Candoz, 4 de julho de 2020 (****)
___________

Notas do editor LG:

(****) Vd. poste de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74- P21140: E as nossas palmas vão para... (20): o veteraníssimo Jorge Ferreira, que hoje faz anos, e foi o etnofotógrafo da Buruntuma de 1961/63 que não existe mais...

sábado, 3 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26760: No 25 de Abril eu estava em... (40): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte V



Guiné > Bissau > QG / CTIG > s/d (c. 1973/74) > Carlos Filipe Gonçalves

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1

 Carlos Filipe Gonçalves (n. 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente): ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74... Radialista, jornalista, historiógtrafo da música da sua terra, e escritor, vive na Praia, Cabo Verde. É membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 790. Tem c. 20 referências no nosso blogue.


1. Continuação do seu depoimento sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque) e também na página do Facebook da Tabanca Grande.


No 25 de Abril eu estava em... (40): Em Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte V (*)


por Carlos Filipe Gonçalves,
ex-fur mil amanuense
(natural do Mindelo,
vive hoje na Praia, Cabo Verde)


Ainda, extractos das "Recordações - Guiné 73/74" nos meses de Junho, Julho de 1974. 

Atenção, neste trabalho procurei ter depoimentos de todos os lados envolvidos, consultei outras fontes, que dão uma outra dimensão e visão dos acontecimentos, conforme as situações. Eu, como disse em poste anterior, sou o militar que lá esteve, viu e ouviu e agora restitui, numa posição de repórter/jornalista, cumprindo o dever da imparcialidade

Estes encontros entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC, quanto a mim marcaram o final da guerra e foram algo «espectacular»,  noticiado pela imprensa na metrópole. 

No seu livro o autor John Woollacott (in “A luta pela libertação nacional na Guiné-Bissau e a revolução em Portugal”, 1983) refere sobre tais encontros, que:

(...)  “a iniciativa era normalmente tomada, embora nem sempre, pelos comandantes do PAIGC, que saíam do mato para conversações. Trocavam-se opiniões acerca da guerra e das negociações enquanto se bebiam uns copos e, à medida que a confiança e as amizades cresciam, os inimigos de ontem convidavam-se mutuamente para 'jantares e convívios intermináveis'. Realizavam-se jogos de futebol entre equipas de ambos os lados. (…) Os soldados tiravam fotografias de braço dado com os seus parceiros guerrilheiros.”

Manecas Santos, comandante do PAIGC numa entrevista à rádio DW (Deutsche Welle), diz:

“Foi interessante que, após o 25 de Abril, tanto os nossos soldados como os portugueses fizeram o possível para se encontrarem no terreno. Em Maio e Junho já estávamos a nos encontrar no terreno.”

A 1 de Julho de 1974 realizou-se a 1ª Assembleia Geral do MFA, com cerca de 1000 militares na qual se aprovou uma moção histórica que exigia:

 “ (…) se reconheça imediatamente e sem equívocos a República da Guiné-Bissau e o direito à autodeterminação e independência dos povos de Cabo Verde, única política susceptível de conduzir à paz verdadeira; exigir que sejam imediatamente reatadas negociações com o PAIGC, não para negociar o direito à independência, mas tão-só os mecanismos conducentes a transferência de poderes.”

O Comandante do PAIGC Manecas Santos na entrevista à rádio DW comentou mais tarde aquela reunião, desta forma:

“O general Spínola teve uma tentativa, não sei se de continuar a guerra, mas de arranjar instrumentos de pressão ameaçando com a continuação da guerra. Neste momento, no entanto, houve um manifesto escrito pelos oficiais portugueses na Guiné, assinado por mais de mil oficiais portugueses que se encontravam aqui, a dizer que a guerra havia acabado.”

Aguardávamos (nós,  da tropa) com impaciência o desfecho das negociações, entre delegações do Governo português e do PAIGC que decorreram nos meses de Maio e Junho. Na cabeça de nós todos reinava o seguinte pensamento: não tenho nada a ver com isto, quero é ir embora para casa! Aliás, «Para a peluda já!» é a palavra de ordem que circula entre os militares. Mas ocorre a marcação de mais rondas de negociações!

Entretanto, corre a informação: o PAIGC reforçou as suas posições no mato e vai suspender o cessar-fogo que vigorava desde a confraternização tropa/guerrilheiros. Sobre esta situação de tensão, o tenente-coronel Jorge Sales Golias (referido anteriormente) recordou:

(...)  o PAIGC “se mostrava dialogante e ao mesmo tempo lançava comunicados de guerra, mesmo depois do cessar-fogo. Tão depressa confraternizava com as NT (Nossas Tropas) como lançava ultimatos a unidades portuguesas. O primeiro foi a Cuntima, dando 48 horas à Unidade de Cavalaria local para retirar e o segundo foi a Buruntuma.”

 O referido militar explica que:

 “Em Cuntima, acabámos por ir ao encontro do Comandante da Guerrilha, Baiô Camará, já em território do Senegal. Fomos recebidos com aspereza e com alguma arrogância (…). Em Buruntuma foi diferente. A renitência do Comandante local levou-nos a negociar a retirada, que foi feita pouco depois, mas com uma digna cerimónia de transferência de poderes.” 

Esta descrição demonstra que ao mesmo tempo que decorrem negociações, há movimentações no terreno, com o início de retirada da tropa portuguesa! Outra versão deste «quiproquó» é que “o PAIGC simulou um ataque ao quartel de Buruntuma, no Leste.” 

O combatente do PAICG Bobo Keita recorda:

“As tropas portuguesas não estavam com vontade de combater. Em conversa com o comandante do quartel (de Buruntuma) ele disse-me que queriam ir embora, mas não tinham meio de transporte. Respondi que não havia problemas, arranjei-lhes dois dos nossos camiões, que os transportaram para uma outra zona.” 

Comentário nosso, esta descrição parece fantasiosa, uma vez que há regras rígidas no funcionamento da tropa, as operações têm de ser planeadas com a devida informação de todas as estruturas de comando… mas, naquela situação… tudo é possível!

Entretanto, o PAIGC tem posições firmes sobre o futuro e não aceita as soluções «spinolistas» que andam no ar, como a ideia de uma «comunidade lusíada» e rejeita liminarmente uma divisão do poder com os partidos que surgiram depois do 25 de Abril.

Num encontro realizado a 1 de Julho de 1974 na zona da bolanha de Nenecó (junto da fronteira com o Senegal, a norte de Bigene) entre PAIGC e COP3 (Comando da tropa portuguesa na zona norte) elementos do PAIGC informam claramente;

 “Que, se o general Spínola visitar a Guiné, (isso) dará origem ao reinício da luta. Que o cessar-fogo por parte do PAIGC é da responsabilidade dos combatentes, dado não terem recebido directivas do S. G. nesse sentido, pelo que poderão recomeçar a luta quando o entenderem.” 

Note-se que a acção do general Spínola durante a guerra foi relevante a tal ponto que,  anos mais tarde,  o comandante do PAIGC Manuel Santos lhe fez o seguinte elogio:  “(…) foi, de longe, o melhor comandante-chefe português que passou aqui na Guiné.”— com José Luiz Ramos e 10 outras pessoas.

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26744: No 25 de Abril eu estava em... (39): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte IV

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26329: Tabanca da Diáspora Lusófona (28): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte II

 


Foto nº 13  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > Natal de 1968 >  



Foto nº 14  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) >  Nova Lamego > Natal de 1967


Foto nº 15  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s(l > s/d > Equipa de futebol




Foto nº 16A e 16 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma
 > c. abril 68 / mai 69 >: Equipa de futebol... O Eusénio é sehundo de pé, a contar da esquerda para a direita.




Foto nº 17 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > 1969 > Equipa de futebol dos condutores... (Mas a melhor era a das transmissões, diz o Zé Rosa Neto...). O Eusébio é o primeiro da esquerda, na primeira fila.




Foto nº 18 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Nova Lamego
 > 1967 >  "Quem se recorda destes jovens ? *ara ajudar a indificá-los aqui vão os seus nomes:e, primeiro plano da direita, Anibal, Santos, Eusebio, Pereira, Lemos;  em baixo Pires, Monçáo, Guimarães,  Fafe"

Fotos (e legendas): © João E. Abreu (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Eusénio Abreu

1. Estamos a selecionar, editar e publicar,  com a devida vénia,   algumas das fotos do nosso camarada João Eusébio Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742, "Os Panteras" (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) Tem cerca de duas dezenas de fotos disponíveis "on line" na sua página do Facebook (Joáo E. Abreu).

 É amigo do Facebook da Tabanca Grande. Temos em comum o amigo (e camarada) Abel Santos (ex-sold at inf,  também da CART 1742), que muito tem contribuído para que os "Panteras" de Nova Lamego e Buruntuma  não sejam votados ao esquecimento. Já trouxe com ele mais quatro camaradas da CART 1742:


(i) 
António Joaquim Oliveira, ex-1.º cabo quarteleiro (membro da Tabanca Grande nº 760);

(ii) Jaime da Silva Mendes, ex-sold at inf, natural de Braga (senta-se à sombra do nosso poilão mnp lugar nº 762);

(iii) José Rosa Neto, ex-1.º cabo radiotelegrafista, grão-tabanqueiro nº 823;

(iv) José Horácio Dantas, ex-1.º cabo at art, apontador de bazuca, natural de Lama, concelho de Barcelos (grão-tabanqueiro nº 765);


Já  convidámos o João Eusébio Abreu a entrar para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Ficaríamos honrados cokm a sua presença. Precisaamos que nos responda para o nosso email: 

 Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:


Regúlo da Tabanca da Diáspora Lusófona: João Crisóstomo, Nova Iorque:

crisostomo.joao2@gmail.com
___________

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26325: Tabanca da Diáspora Lusófona (27): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte II




Foto nº 7 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma >  c. abril 68 / mai 69  > "Eu e meus companheiros Manuel Filipe (já falecido) com o Jose Carlos junto ao duche da colónia de ferias em Buruntuma.  CArt 1742, 1967/69". (O João é o direita, de bigode e chapéu.)



Foto nº 8 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma >  c. abril 68 / mai 69  > "Os condutores da CArt 1742, em  Buruntuma, preparando um bom petisco". (O João é o segundo,  da esquerda para a direita,  de bigode e chapéu.)







Foto nº 9 e 9A > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma >  c. abril 68 / mai 69  > "Este menino na foto sou eu junto ao monumento da CCAÇ 1588 que fomos render em abril de 1968". (No monumento estão inscritos o nomes dos mortos da CCAÇ 1588,  "Os Cruzados" (1966/68).  (Mortos: 2 furrieis mil; 1 cabo; 6 soldados; 4 milícias).



Foto nº 10  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma >  c. abril 68 / mai 69  > "Quem se lembra deste grupo da  CART 1742 ?... Da esquerda para a direita: José Carlos Figueira, Avelar (falecido), João Eusébio Abreu, Manuel Filipe Silva Andrade (já falecido), e os restantes são camaradas não identificados, com exceção do Vieira (na ponta, em primeiro plano)"


Foto nº 11 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma >  c. abril 68 / mai 69  > "Grande amigo guinense,  Cupertino Gonçalves, 1º cabo de obus Buruntuma 1968/69... O que será  feito deste nosso colega ?"






Foto nº 12A e 12 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma  > 1968 >  "Aqui está o Gabriel Mateus Bagaço, do Pelotão de Morteiros 1191. Falecido num ataque em Buruntuma."

Fotos (e legendas): © João E. Abreu (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.
 Com a devida vénia, estamos a selecionar, editar e publicar algumas das fotos do nosso camarada João Eusébio Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69). 

Nascido na Madeira, emigrou para o Canadá, como tantos outros camaradas nossos (madeirenses e açorianos, em especial),  regressados da guerra colonial. Vive em Mississauga, Ontário. 

 Já o convidámos a entrar para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Só precisamos do seu OK e do seu endereço de email. Já é amigo do Facebook da Tabanca Grande. Um amigo comum é o Abel Santos, também da CART 1742, que muito tem contribuído para que os bravos "Panteras" não sejam votados ao esquecimento. Já trouxe com ele mais quatro camaradas da CART 1742. "Falta agora o Eusébio"...


A CART 1742, mobilizada pelo RAL 5 (Penafiel), era comandada pelo cap mil inf Álvaro Lereno Cohen. Partiu para o CTIG em  22ju167; desembarcou em 30jul67 e regressou à metrópole em 6jun69.

Em traços largos, a sua atividade operacional pode sintetizar-se da seguinte maneira:

(i) de início, ficou colocada em Bissau, substituindo no serviço de guarnição a CArt 1646 e sendo integrada no dispositivo do BArt 1904, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área;

(ii)  em 14set67, foi rendida na guarnição de Bissau pela CCaç 1497 e foi deslocada para Nova Lamego, a fim de substituir a CCav 1963, na função de intervenção e reserva do sector, ficando na dependência do BCav 1915, depois do BCaç 1933 e ainda do BCaç 2835;

(iii) na zona leste, tomou parte em operações realizadas nas regiões de Ganguiró, Canjadude, Cabuca e Sinchã Jobel, entre outras e ainda em operações conduzidas em outros sectores da zona Leste, bem como em escoltas a Béli e Ché-Ché;

(iv) em 13abr68, após ser substituída na intervenção pela CArt 2338, iniciou o deslocamento por fracções, em 13, 17 e 23abr68, para Buruntuma, a fim de render a CCaç 1588; assumiu em 27abr68 a responsabilidade do respetivo subsector, com destacamentos em Camajabá e ponte do rio Caium, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2835 e depois do BArt 2857.

(v) em 29mai69, foi rendida no subsector de Buruntuma pela CArt 2338 e recolheu, em 1jun69, a Bissau, a fim de efetuar o embarque de regresso.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26324: Tabanca da Diáspora Lusófona (26): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte I

 


Foto nº 1A e 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s/d > Ponte Caium > "Um banho na piscina da Ponte Caium, os piores 2 meses passados da comissáo. Ainda reconheço o alferes Pinheiro, ja falecido,  o Furriel Viola,  o Enfermeiro Gouveia e também o 1º cabo Silva que durante umas férias se esqueceu de voltar à Guiné".


Foto nº 2 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1967 > Nova Lamego, quartel de baixo: no braço, o crachá dos "Panteras".



Foto nº 3A e 3 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1968 >  Camajabá > O João E. Abreu com o Vítor Tavares


Foto nº 4 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s/l  >  s/d >   O João E. Abreu com um crocodilo juvenil, talvez nas imediações do rio Corubal, no Boé.


Foto nº 5A e 5 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1968 >  Natal de 68 em Buruntuma.





Foto nº 6 e 6A> Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1967  > "Jangada a atravessar o rio Corubal a caminho de Madina de Boé, fins de 1967."

Fotos (e legendas): © João E. Abreu  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O João E. Abreu é um luso-canadiano que eu gostaria de ver integrar a Tabanca da Diáspora Lusófona (*) e, claro, a Tabanca Grande. Fica desde já convidado. 

É sempre com alegria que descobrimos mais um  camarada da Guiné espalhado pelas sete partidas do mundo. Nesta caso,  de origem madeirense, como de resto sugere o seu próprio apelido. Fez parte da CART 1742.

Deixou no passado dia 27, às 21:10, o seguinte comentário, na nossa página do Facebook

"Ponte Caium:  aqui passei os piores dias da minha comissão, ainda hoje passados 55 anos do meu regresso ainda sonho com os ruídos que vinham do mato durante a noite, Soldado Condutor Auto. CART 1742, 1967/69."

É amigo da página do Facebook da Tabanca Grande. Temos três amigos em comum,  incluindo o nosso grão-tabanqueiro Abel Santos, (ex-sold at art, CART 1742, "Os Panteras", Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69).



O Abel Santos, que está connosco desde 14/7/2012 (e te 95 referências no blogue),  e é viznho do Carlos Vinhal, já trouxe consigo mais quatro "Panteras" (*):

(i) José Rosa da Silva Neto, ex-1.º cabo radiotelegrafista;

(ii) José Horácio da Cunha Dantas, ex-1.º cabo at art, apontador de bazuca, natural de Lama, concelho de Barcelos;

(iii) Jaime da Silva Mendes, ex-sold at inf,

(iv) e o António Joaquim de Castro Oliveira, ex-1.º cabo quarteleiro.

Espero que ele nos ajude a trazer, para o blogue da Luís Graça & Camaradas da Guiné, o João E. Abreu dem que só sabemos o seguinte:

 (i) vive em Mississauga, Ontário, Canadá;

(ii) natural de São Martinho, Madeira, Portugal;

(iii) faz anos a 22 de outubro;

(iv) é casado desde 31 de agosto de 1970.

2. Com a devida vénia, selecionámos e editámos algumas das fotos do seu álbum. 

Ficamos a saber, por esta amostra (I Parte),  e para já, que o sold cond auto João E. Abreu esteve em (ou passou por) Nova Lamego, Ponte Caium, Camabajá,  Buruntuma e Madina do Boé, o que não é pouco. 

Há uma resumo da história da CART 1742 (**)

(Seleção e reedição das fotos: LG)
______________


(**) Vd. postes de:

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25799: (In)citações (268): Horizontes da Memória (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), com data de 30 de Julho de 2024 com mais um texto, desta feita alusivo aos Horizontes da Memória.

Horizontes da Memória

Programa audiovisual de história do dr. José Hermano Saraiva, o plágio do título serve a minha liberdade de “heresias” e os meus devaneios das tardes deste verão, no disfrute dos 0,35€ diários da minha pensão de combatente...

Neste mês de julho de 2024 faz 60 anos que o Benguela, cargueiro de transporte de gado - com o currículo de navio negreiro, tinha transportado milhares de angolanos e moçambicanos para os trabalhos forçados nas roças de cacau e nas obras públicas de S. Tomé e Príncipe -, desatracou do Cais da Rocha do Conde de Óbidos cheio como um ovo, 900 militares ou carne para canhão na Guerra da Guiné (o meu batalhão mais uns pelotões independentes), partilhavam na harmonia possível os seus três porões com viaturas auto, armamento, obuses de artilharia e bombas de avião. Singrou nos caminhos marítimos de Bartolomeu Dias, Vaco da Gama, Nuno Tristão, etc., portugueses de antigamente, fomos desestivados na ponte-cais de Bissau, carregamos ao ombro o “saco-chouriço” com todos os nossos bens e o Forte da Amura foi o nosso destino.
N/M Benguela - Com a devida vénia a Dicionário de Navios Portugueses

Cumprido um ano de “intervenção às ordens de Comando-chefe”, a fazer a guerra por Bula, Morés, Talicó, S. João, Fulacunda, Cafine, Cacine, Cufar, Buba, Jncassol, Porto Gole e por outros lugares menores onde o inimigo andasse, fomos parar a quadrícula de Buruntuma, tabanca fronteiriça no extremo Leste, onde sobrevivemos quase outro ano – se até aí atuamos como “tropa especial” e móvel sem o ser, de camião, de lanchas LDM e de avião Dakota, à média duma operação por semana, naquela fronteira com a GConacry chegamos a dar batalha três vezes ao dia, o inimigo abundava do outro lado, e sempre com o mesmo à-vontade, a lançar granadas de mão, a metralhar com a G3, a Breda, a bazuca, os morteiros e o canhão s/r 10,7 NATO, - é que o Domingos Ramos, comandante da Frente Leste do inimigo tinha sido nosso camarada, ele tinha tirocinado em Pequim e nós na Fonte da Telha era a nossa diferença…

A guerra é a mãe de tudo, profetizou Heráclito de Éfeso. Faz 60 anos que fomos para a Guiné, não acabamos com a sua guerra, mas a sua guerra acabou com muitos de nós, o MFA não foi gerado com esse propósito, mas nasceu come ele e realizou-o há 50 anos – acabou com a guerra da Guiné para a malta do Portugal europeu, mas legou uma ainda mais mortífera aos guineenses. Amílcar Cabral queixava-se de sermos seus ocupantes ilegais há 500 anos, os seus naturais queixam-se dos 500 anos que andamos a iludi-los…

Para nós, a guerra do Ultramar começou em 1961, para os nossos antepassados começou com a gesta do infante D. Henrique, os 500 anos da sua longevidade alimentaram-se do sangue dos homens e do coração das mulheres, a mesma classe castrense da sustentabilidade desses 500 anos foi que sustentou os 50 anos de longevidade do regime político contra o qual virou as armas – que esconjurou o regime, superou o mantra da guerra civil, que criou a via pacífica e que entregou o destino do país ao Povo são realidades e verdades históricas.

O dia 25A aconteceu “inteiro e limpo”, funcionou como catarse do stresse da guerra da Guiné, também surfei as ondas da euforias, a emergência das derivas e o desvario do PREC encurtou-me essa felicidade, li bastante sobre a guerra civil espanhola, ainda visionei prédios com o andar destruído por granadas lançadas pelo vizinho de cima, deixar em paz a caçadeira Benelli das caçadas às perdizes nas ladeiras do Douro e nas planícies do Alentejo e ter de regressar à G3 nessa contingência foi um grande pesadelo, o 25N dos corajosos foi a terapia das disfunções aos ideais do 25A e esconjurou a perda da felicidade adquirida.

As celebrações das efemérides da mudança de regime pelas armas quando exorbitantes são divisionistas, sem prejuízo de merecedoras, mas numa justa medida. O regime anterior celebrava o 28 de maio, não raro com pompa e circunstância, mas sem decreto de feriado nacional, o regime democrático tem o dever de celebrar condignamente as datas do 5 de outubro, do 25 de abril e do 25 de novembro, mas sem decretos de feriados nacionais. Para quando a celebração das datas institucionais nacionais? Estamos à espera sentados. O Norte fundou a nossa nacionalidade no Castelo de Faria, em 25 de abril de 1127, independência do reino e de Portugal foi conquistada no Castelo de Guimarães em 24 de junho de 1128, os portugueses usaram a mobilidade para a sua dilatação até Coimbra, naturalmente, Lisboa é uma das conquistas do Norte – e há demasiado tempo os conquistadores se deixaram oprimir pelos conquistados…

O 5 de outubro foi um golpe de Estado, celebra a queda do regime, a monarquia fundou e construiu Portugal ao longo de quase 800 anos, em 1910 já era constitucional e evolutiva, na esteira das monarquias inglesas e nórdicas, nações das mais avançadas do mundo. As valas da desgraça foram cavadas pela primeira República, o Estado Novo nem será o seu pior legado, o 25 de Abril foi um golpe de Estado à imagem e semelhança do de 5 de outubro, aquele foi patriótico, de reação ao ultimato inglês ao Mapa Cor-de-Rosa e este iniciou-se corporativo, de reação à equiparação dos capitães milicianos aos direitos e sinecuras da estática classe dos capitães do QP.

Neste mês de julho de 2024 há outras efemérides: a do encontro do MFA da Guiné no mato do Oio com o PAIGC de Conacry, no contexto da sua manobra da capitulação militar; e a Lei 7/74 da Descolonização, que Freitas do Amaral explicitou e o general Spínola promulgou… A Quarta Comissão da ONU havia atestado a sua semana de vilegiatura pelos 2/3 da Guiné libertados e que o PAIGC os governava como Estado aos seus pares de Nova Iorque, o MFA não encontrou ninguém dele em Bissau, aquele partido armado era tão prestável para os encontros a tiro e aquele partido-armado demorou duas semanas a disponibilizar um delegado e em Morés, - sítio indelével na minha memória, foi uma operação de dar e levar muita porrada, escorraçamos uma grande manada de vacas, os jatos F84 (ou 86?) matavam-nas à rajada e nós varejávamos as laranjeiras com os canos das G3, o inimigo foi expropriadas das laranjeiras, mas aquelas rustáceas do Morés ainda esperam que cumpramos as ordens aéreas e terrestres do seu abate à catana ou com fogueiras aos pés.

As respetivas manifestações recomendam parcimónia, deixemos Salazar, Caetano, Tomás e os outros estar bem mortos, a paráfrase da cantautora Ana Lua Caiano tanto serve a razão como o erro. A antropologia política e social à parte (é bicicleta do Luís Graça), chamo os consequentistas à colação: o 25A foi um acontecimento de libertação, o MFA foi o ator principal da segunda maior derrota dos 800 anos da História de Portugal (a primeira foi em Alcácer Quibir), o 25 de Novembro da maioria foi o 25 de abri-2 para todos, todos, todos!

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Nota do editor

Último post da série de 24 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25678: (In)citações (267): Compensações às colónias (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24807: Notas de leitura (1629): "Memórias de um Combatente na Guiné de 69/71", por Diogo Aloendro; 5livros.pt, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2022:

Queridos amigos,
Um relato memorial de quem passou a sua comissão militar na região de Nova Lamego, conta os antecedentes, como se formou antes de ir para a guerra, desvela como aqueles pontos da região Leste passaram da acalmia à turbulência. É uma narrativa serena, não há para ali prosápias nem arroubos heroicos, o que o António Henriques de Matos desejava era preparar os seus soldados para terem a quarta classe, foi um sucesso completo. Manifesta um pleno orgulho em ter concluído em regime noturno o curso liceal e a licenciatura em economia, depois da vinda da Guiné, trabalhou num banco prestigiado mais de 40 anos, chegara a hora de pôr por escrito a sua vida militar e as suas recordações do Gabu.

Um abraço do
Mário



Memórias de um combatente na Guiné (1969-71), por Diogo Aloendro

Mário Beja Santos

Diogo Aloendro é pseudónimo de António Henriques de Matos, fez parte do BCAÇ 2893, pertenceu à CCAÇ  2618, e escreveu agora as suas memórias, 5livros.pt, 2021. Dá-nos conta da sua vida de furriel atirador desde a recruta nas Caldas da Rainha, a especialidade em Tavira, a passagem pela Amadora, a ida para Chaves formar batalhão, e depois toda a sua comissão na região de Nova Lamego. Deixa-nos belos parágrafos de profundo afeto por quem o tratou bem em Lisboa, para onde emigrou aos quinze anos, não esqueceu as vicissitudes da sua formação militar, as novas formas de camaradagem, largados na Serra do Caldeirão com alguns instrumentos de orientação e rações de combate, chuvas inclementes, e guardou memória de um episódio de terem andado por sítios inóspitos, ali estava todo encharcado e apareceu alguém a convidá-lo a entrar para secar a roupa e descansar um pouco, uma senhora convidou-o a ir ao quarto do filho e vestir um pijama. Observou que o quarto estava impecavelmente arrumado e com a cama feita, tinha numa das paredes uma moldura de um soldado, vestiu o pijama, entregou à dona de casa a farda encharcada, comeu um caldo à mesa com o casal. O filho tinha falecido havia dois anos, morto em combate na Guiné.

São parágrafos tocantes:
“O quarto mantinha-se tal qual ele o deixou na última noite que ele lá dormiu. Não estávamos preparados para tamanha desgraça. Levaram-nos o nosso filhinho que era tudo o que tínhamos Como poderemos suportar esta dor, sabe explicar-nos?
– Ninguém sabe explicar – desabafava a mulher – numa voz sofrida. Ninguém sabe, acrescentava, como que a pensar alto. Soletrava estas frases com os olhos tristes já sem lágrimas para verter, enquanto o seu homem a aconchegava no ombro pedindo-lhe, carinhosamente, força e ânimo para o ajudar também a ele, a suportar o desgosto.”


Ele não podia aceitar dormir na cama do filho, acabou por ir descansar num barracão onde havia palha no chão. E na manhã seguinte juntou-se aos seus camaradas para continuar a subir e descer na Serra do Caldeirão. Concluída a especialidade, foi enviado para Beja, depois para o Regimento da Infantaria 1, na Amadora, mobilizado para a Guiné foi formar batalhão em Chaves. Continuava a estudar, queria concluir o sétimo ano.

Em novembro de 1969 chega à Guiné. Descreve Nova Lamego, é ali que está a sede do batalhão:
“Era uma pequena cidade implantada ao longo de uma rua principal, que se confundia com uma estrada, à imagem do que aconteceu na formação das nossas aldeias e vilas. Aqui se encontravam algumas casas de betão, a sede da Administração, composta pelo Comando Administrativo. Para além deste edifício, havia uma casa comercial, um cineteatro e o quartel militar, um edifício colonial de dois pisos, que servia de instalação ao Comando do batalhão. Contíguo a este edifício na parte de trás, existia uma vasta área onde se localizavam as casernas e alguns espaços, como sendo um campo para jogar futebol de salão. Nestas casernas se instalaram duas companhias. Vivia-se então um estado de acalmia.
Não fossem as preocupantes notícias, trazidas pela tropa que aportava a Nova Lamego, onde se vinham abastecer, ou de passagem para os respetivos aquartelamentos, nada se passava naquele paraíso”.

Lê, escreve e estuda. Tendo ficado órfão de pai aos oito anos de idade, dedica-lhe uma elegia, uma conversa em voz alta no fulgor das recordações de quando era petiz, gostaria muito de um dia ir à Angola visitar-lhe a campa.

Cabe-lhe fazer patrulhamentos à volta de Nova Lamego, há um pelotão que está destacado em Canssissé, este a cerca de 40 km da sede do batalhão. Fazem-se patrulhamentos diários, o objetivo era impedir as movimentações dos guerrilheiros, recorda que Madina do Boé fora abandonada em fevereiro de 1969, ficara uma grande área a descoberto para infiltrações. Surgem situações inesperadas, por vezes caricatas, barulhos dentro da mata, pensa-se inicialmente que vai haver confronto com grupo guerrilheiro, afinal é um grupo de javalis que passa a tropel. Descreve minuciosamente esses patrulhamentos, perto e longe de Nova Lamego, os contactos com o inimigo são esporádicos. O comandante do pelotão entra em depressão, foi hospitalizado depois de uma emboscada, é ele que assume interinamente as funções de comandante.

Decide dar aulas aos soldados que ainda não possuem a quarta classe, constituíam a maioria, é por essa altura que o pelotão do Matos é destacado para Cansissé, descreve a povoação e o sistema defensivo, as casernas dos soldados eram feitas de lona, a situação era um pouco melhor para furriéis e alferes. Não perde oportunidade de descrever as alegrias no recebimento do correio. E dá a compreensível importância às aulas para se chegar ao exame da quarta classe. “Achei mais apropriado ter apenas uma sessão diária de duas horas em simultâneo para ambos os alunos, logo após o pequeno-almoço, o rancho da manhã. Tinha inscrito catorze alunos para a quarta classe e dois cabos e um soldado propunham estudar para fazerem o primeiro ciclo, ou seja, o primeiro e o segundo ano, a fazer num só ano. Do nosso pelotão de trinta soldados, vinte e sete e três cabos, pelo menos, catorze, não tinham a quarta classe”. E dá-nos conta de como implantou o método mais adequado e obteve apoio do batalhão para adquirir livros. A vida em Canssissé podia não ser o paraíso, mas não havia flagelações, não se esquece de nos contar as desinteligências e até homicídios entre civis. Fizeram-se obras, apareceu o heliporto. E de Canssissé regressam a Nova Lamego. Continua a estudar e irá fazer exames no Liceu Honório Barreto.

A vida calma naquela região do Leste da Guiné vai conhecendo sobressaltos. Chegou a hora do pelotão do Matos provar uma mina anticarro, felizmente sem danos mortais. As coisas parecem complicadas em Pirada e Buruntuma. Foi o que aconteceu quando o pelotão do Matos foi até Cabuca, tudo parecia estar a correr bem, não picaram no regresso, uma mina anticarro rebentou no rodado da GMC.

Já se passou um pouco mais de um ano da sua comissão, como muitos outros autores ele vai acelerar a prosa, descreve sumariamente a ação psicológica nas tabancas à volta de Nova Lamego, os patrulhamentos, há depois o ataque a Nova Lamego, aparecem os mísseis, e o Matos vai dar instrução a pelotões de milícias em Contuboel, experiência que lhe agradou imenso. Ainda voltou a Cansissé, a comissão está praticamente no fim, já estão no Cumeré a aguardar embarque.

Concluída a viagem, frente ao Cais da Rocha do Conde de Óbidos, sente a diferença do que vivera dois anos antes:
“Não voltaram ao cais os familiares dos camaradas que lá perderam a vida. O desespero, os gritos e desânimo de quantos, há dois anos se vieram despedir, contrastava com a alegria incontida, em cada abraço que se multiplicavam no cais da nossa esperança”.

Igreja de Nova Lamego, Foto Serra, Bissau
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24799: Notas de leitura (1628): "Dos Sonhos e das Imagens, A Guerra de Libertação na Guiné-Bissau", por Catarina Laranjeiro; Outro Modo Cooperativa Cultural, 2021 (2) (Mário Beja Santos)