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domingo, 19 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27332: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (6) José João Marques Agostinho (Reguengo Grande, 1951 - Bula,1973): era 1º cabo at cav, CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)





Guião da CCAV 8353/72 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)




Guiné > Zona Oeste > Regiãode Cacheu > Carta de Bula (1953) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bula, Binar, Capunga, Pete... E a nordeste, Choquemone, Pelabe, Dungor...O lourinhanense, 1º cabo at cav José João Marques Agostinho morreu entre Dungor e Choquemone,  no  dia 5/5/1973, sábado.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


I. Continuamos a reproduzir, com a devida vénia, alguns excertos do livro recente do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp.189-190. (*)




JOSÉ JOÃO MARQUES AGOSTINHO
(24.12.1951 - 05.05.1973)

Localidade do falecimento - Guiné
1º Cabo atirador cavalaria nº E – 151117/ 72
Naturalidade - Reguengo Grande
Local da sepultura - Cemitério do Reguengo Grande, Lourinhã



1. REGISTO DE NASCIMENTO

José João Marques Agostinho nasceu a 24 de dezembro de 1951, às vinte e duas horas e vinte minutos no lugar e freguesia de Reguengo Grande. 


Filho legítimo de Francisco Ribeiro Agostinho de 26 anos, casado e com a profissão de moleiro, natural de Roliça, concelho de Bombarral e de Maria Augusta Ferreira Marques de 21 anos de idade, casada, doméstica e natural de Reguengo Grande e domiciliados no lugar de Reguengo Grande. (...)


A declaração do registo de nascimento foi feita pelo pai, às dez horas do dia vinte e um, de janeiro de 1952 no Posto do Registo Civil de Reguengo Grande. Teve como testemunhas João Ferreira Marques, solteiro, maior, jornaleiro, Maria do Carmo Hipólito casada, doméstica e Narcisa Silva Boavida Rocha, casada, doméstica e todos residentes em Reguengo Grande.


O Registo foi lavrado, em substituição do Conservador, por Diamantina do Carmo Salvador, não tendo o declarante e as testemunhas assinado por não saberem escrever. Registo realizado a 21 de janeiro de 1952 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã

2. REGISTO MILITAR

Recenseamento: o José João Marques Agostinho foi recenseado pelo DRM 5 em 1969 com 18 anos. Solteiro, com a Profissão de Pintor de construção civil, tinha como habilitações literárias o exame do 2º Grau (4º classe do ensino primário).


Inspeção Militar: apresentou-se a 22 de julho de 1971. Tinha 1.57 de altura, pesava 68 kg. Foi “apurado para todo o serviço Militar”, tendo sido alistado na mesma data e sendo-lhe atribuído o Número mecanográfico: E – 151117 /72. 


A 2 de janeiro de 1973 marcha para Estremoz a fim de se apresentar no Regimento de Cavalaria 3, para onde foi transferido, para frequentar a IE/4º T/72, sendo colocado na CCAV 8353/72,  com o nº 1785/72 (OS 8). 

A 21 de fevereiro termina com aproveitamento a IE /4º T/72 (OS 84) e, a 25 de fevereiro de 1973, finaliza com aproveitamento e com a classificação de 15.30 valores a Escola de Cabos na especialidade de Atirador de Cavalaria (OS 48).

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado a 26 de fevereiro de 1973, é nomeado por imposição para servir no CTIG, nos termos da alínea c) do artº 20 do Dec.49107, de 07.07.69, com destino à CCAV 8353 / RCAV 3 (OS 50).


Embarque: a 16 de março de 1973, pelas 07H00, fazendo parte da CCAÇ 8353, marcha para Lisboa a fim de embarcar para o CTIG por via marítima (OS 73). É promovido nesta data ao posto de 1º Cabo.


Desembarque: a 22 de março de 1973 desembarcou na Guiné, desde quando conta 100% de tempo de serviço.


Data do falecimento: 5 de maio de 1973.


Causas da morte: ferimentos recebidos em combate.


Local do acidente: Entre Dungor e Choquemone


Abatido ao efetivo: a 5 de maio de 1973 foi abatido ao efetivo da CCAV 8353 por ter falecido por ferimentos recebidos em combate.


Despacho do Comando Militar: 23 de maio de 73, por despacho do Exmo Brigadeiro Comandante Militar do CTI Guiné foram considerados como adquiridos em combate os ferimentos sofridos e que motivaram a sua morte em 5 de maio. (Nota nº 7372, de 30 de maio, SJD/QG/CTI Guiné).


Local da operação: Dungor – Choquemone


Tempo de serviço:1972, 69 dias.1973, 124 dias


Local da sepultura: Cemitério Paroquial de Reguengo Grande


Unidades onde prestou serviço: BCAÇ 8, 24.10.1972. RCAV 3, 03.01.1973


Contagem do tempo de serviço: 1972, 69 dias. 1973,124 dias

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores

Medalha: segunda classe de comportamento (Artº 188º do RDM) é lhe atribuída em 24 de outubro de 1972

3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

(No seu processo, consultado no AGE, não consta o Auto de Averiguações ao acidente que lhe provocou a morte.)


Fonte: Excerto de 


II. Até à data, o único representante do da CCAV 8353/72 na nossa Tabanca Grande é  o Armando Ferreira, ex-fur mil cav, ribatejano de Alpiarça, reconhecido artista plástico,  escultor e pintor (vd. página no Facebook).

IIa. Excerto da ficha unidade:

Unidade Mob: RC 3 - Estremoz
Cmdt: Cap Mil Cav António Mota Calado
Divisa: "Primus lnter Pares"
Partida: Embarque em 16Mar73; desembarque em 22Mar73 | Regresso: Embarque em 30Ag074

Síntese da Actividade Operacional


Após a realização da IAO, de 26Mar73 a 22Abr73, no CML, em Cumeré, seguiu em 23Abr73 para Bula, a fim de efectuar o treino operacional sob orientação do BCav 8320/72. 

Em 09Mai73, assumiu a função de intervenção e reserva do BCav 8320/72, com a sede em Bula e, a partir de 23Mai73, assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Bula, em substituição da 1ª Comp/BCav 8320/72. 

Em 16Dez73, destacou dois pelotões para realização dos trabalhos do reordenamento da Ponta de S. Vicente e promoção socioeconómica das populações.

Em 24Mar74, substituída pela 2ª Comp/BCav 8320/72, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Capunga, João Landim e Mato Dingal, mantendo-se integrada no dispositivo e manobra do BCav 8320/72.

Em 17Abr74, rendida no subsector de Pete pela 3ª Comp/BCav 8320/72, seguiu para Ilondé, a fim de ser integrada nas forças de reserva à disposição do Comando-Chefe, em substituição da 2ª Comp/BCaç 4516/73, tendo então efectuado escoltas a colunas de reabastecimento a Farim.

Em 29Abr74, foi deslocada para Bissau, a fim de reforçar o dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações e de manutenção da ordem pública, sob dependência do COMBIS, e onde se manteve até ao seu embarque de regresso.

Observações Tem História da Unidade (Caixa n." 107 - 2ª Div/ 4ª Sec, do AHM).

 Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 522.


IIb. Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira. Faz homenagem aos 4 mortos e 13 feridos da emboscada do dia 5/5/1073.


A CCAV 8353/72 veio substituirm en Bula,  a companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73). 

 Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético, a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"...

O vídeo foi colocado no You Tube, 42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, a nordeste de Bula, entre Dungor e  Choquemone, de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, 13 feridos e 4 mortos (a seguir listados):

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar).

Esta ação de 5/5/1973, é referida no livro da CECA, sobre a atividade operacional dos anos de 1971/74, nos seguintes termos:

Acção - 05Mai73

Forças dos Pel Mil 291, 293 e 341 (BCav 8320/72) realizaram patrulhamento conjunto com emboscada na região do Choquemone, 01-A. Tiveram três contactos com o ln, sendo o último à tarde, de que resultou no segundo, 3 mortos e 1 desaparecido do Pel Mil  293. 

Naquela altura acorreram em auxílio forças de 1 GCombl /  1ª C/BCav8320/72 e 2 GComb  / CCav 8353/72, que realizavam um patrulhamento em Ponta Mátar, l Pel (-) / ERec 3432 e APAR (apoio de artilharia). 

Quando as NF se dirigiam de Ponta Mátar para a região da emboscada, em Petabe,  o 2° GComb / CCav8353/72 estabeleceu contacto com o ln em Bula 2H2.80, sofrendo 4 mortos, 5 feridos graves e 3 ligeiros.

Na batida feita posteriormente foram recolhidas peças de equipamento e fardamento, munições de armas ligeiras, géneros alimentícios e detida l mulher. O ln teve baixas prováveis comprovadas por grandes manchas de sangue.

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 300/301    (Com a devida vénia...).

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
 

domingo, 5 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27287: Casos: a verdade sobre... (57): a emboscada de 1 de outubro de 1971, em Bangacia (Duas Fontes), Galomaro, Sector L5, ao tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares / J. F. Santos Ribeiro / Vasco Joaquim / Paulo Santiago)

 



Foto nº 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72)  > Rascunho, manuscrito, com a lista dos efetivos escalados para o patrulhamenmto noturno, em coluna auto, às tabancas em A/D (auto-defesa) de Bangacia (ou Duas Fontes).  A rúbrica no rascunho parece ser do comandante da CCS, cap inf Joaquim Rafael Ramos dos Santos. este manuscrito, ou fotocópia,  quase ilegível,  já tinha sido publicada no poste P10480 (*). Foi  agora recuperada e reeditada a imagem.

Segundo as ordens superiores, a coluna dessa  fatídica noite de 1/10/1971 seria constituída por 3 secções, duas da CCS/BCA 2912 e 1 da CCAÇ 2700 (Dulombi) (que tinha 1 Pelotão de reforço a Galomaro), mais  alguns milícias (Pel Mil 288) e, ao que parece, ainda alguns elementos  do Pel Caç Nat 53 (vd.  depoimento do Paulo Santiago, mais abaixo).  Considerando o visto (o OK) do comandante, fariam parte desta força, nesse dia, os seguintes militares: 
  • 2 furriéis (um, o Gomes, o outro, de  apelido é ilegível) (nenhum deles parece ser da CCAÇ 2700);
  • 3 atiradores;
  • 3 caçadores nativos (do Pel Caç Nat 53 ?)
  • 3 milícias (do Pel Mil 288 / CMil 30)
  • 3 sapadores
  • 1 mecânico auto
  • 2 condutores
  • 1  (ilegível) (maqueiro, cabo aux enf ? ou alguém do Pel Op Info Rec ?)
  • 1 transmissões
Sabemos, por comentário do ex-alf mil at inf Luís Dias CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), que este Gomes era o ex-fur mecânico, Mário Gomes, da CCS,  um dos sobreviventes da emboscada:

(...) "Lembro-me desse triste acontecimento, que teve lugar uns meses antes da nossa chegada à Guiné, para render o BCAÇ 2912. Alguns anos depois, um dos sobreviventes, o então furriel mecânico, Mário Gomes, que faz o favor de ser meu amigo, contou-me em pormenor o que havia sucedido.

De facto, o capitão da CCS não ficou lá muito bem na fotografia, como se costuma dizer, mas no inquérito realizado chegaram à conclusão que a sua fuga foi "uma retirada estratégica" (coisas de malta do quadro)" (...) (sexta-feira, 5 de outubro de 2012 às 23:57:10 WEST) (Comentário ao poste P10480) (*)



Foto nº 2 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72)  >  O estado em ficou uma das duas viaturas, na sequência da emboscada sofrida, à noite pelas NT, em Bangacia (Duas Fontes). Tudo indica que os atacantes tiveram tempo para tudo: executar pelo menos um prisioneiro e um moribundo; levar 5 espingardas automáticas 3 G; roubar 2 relógios, revistar os bolsos dos mortos (donde recolheram mais de 300 pesos!), além de  destruirem as 2 viaturas... 

Esta barbaridade do Paulo Maló & Companhia tem de ficar escrita preto no branco... Na guerra não vale tudo, camaradas!... 

E o "Tchutchu" bem como o "Abel Djassi" também terão feito vista grossa a estas barbaridades: infelizmente acabaram os dois por serem vítimas dos Inocêncio Cani, Mamadu Indjai, Paulo Maló... 

O comunicado do "Tchutchu" é de um cinismo atroz: diz ao "chefe" que manda um prisioneiro, quando o desgraçado tinha sido executado, sem dó nem piedade, pelo Paulo Maló & Companhia.. (Não sabemos se foi ele o carrasco, mas cinco meses, na emboscada do Quirafo, ele já era comandante de bigrupo e usou os mesmos métodos contra os moribundos, e só deixou fazer um prisioneiro, porque era "tuga", o nosso saudoso amigo e camarada António Baptista, o " morto-vivo";  e em 2007 era coronel e quadro superior das Alfândegas).


Fotos (e legendas): © António Tavares (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 3 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72)  >   Uma foto "dramática" da tabanca de Bangacia (ou Duas Fontes), em fim de tarde.




Foto nº 4 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72)  >   Vista da porta de armas e demais instalações do quartel de Galomaro, que foi construído de raiz pelo BENG 447. Na foto há um "x" a sinalizar uma das casernas do pessoal, talvez a de transmissões.

Fotos (e legendas): © J. F. Santos Ribeiro  (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O António Tavares (ex-fur mil SAM,  CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), tem um emocionado, duro  e contundente  apontamento sobre esta tragédia, com data de 1 de outubro de 2012, que vamos recuperar, com vista à tentativa de apurar a "verdade dos factos", o que 54 anos depois é difícil, para mais não havendo possibilidades de recurso ao "contraditório" e à "triangulação de fontes": os quatro depoimentos que aqui publicamos não são de nenhuma das vítimas, sobreviventes  da emboscada, mas camaradas próximos).(**).

 Por outro lado, é bom lembrar umas das nossas regras de ouro: a guerra já foi há mais de meio século, estamos aqui para partilhar memórias (e afetos), não estamos aqui  para julgar (e muito menos criminalizar e punir) ninguém


Patrulhamento auto por todas as A/D da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72): o fatídico dia 1/10/1971

por António Tavares


O original deste “manuscrito”  (Foto nº 1) tem 41 anos.

Manuscrito que nada tem a ver com uma obra escrita à mão mas um assassinato... escrito à mão!

Manuscrito que traduz uma das ordens dadas (1970/72) nas matas do leste do CTIG. Poderes incompetentes! Poderes que receberam e foram ensinados, na Academia Militar, para praticá-los bem.

Manuscrito que levou ao encontro da morte cinco jovens emboscados em Duas Fontes (Bangacia) na noite de 1 de outubro de 1971.

Manuscrito que no Hospital Militar 241 (Bissau) originou mais três mortes dos quatro feridos graves evacuados na manhã de 2 de outubro.

Manuscrito igual a outros anteriores em que só mudavam os nomes.

Manuscritos que levaram diariamente militares (só praças e furriéis...) em patrulhamentos auto, noturnos, às tabancas em A/D da CCS (e que  no regresso traziam informações).

Recordo que certa noite numa das tabancas em A/D sentíamos e ouvíamos os rebentamentos e o Homem Grande da tabanca dizia-me:

−  Vai embora… vai embora!...

Chegados ao quartel confirmámos que tinha havido um ataque na ZA de Nova Lamego.

Manuscrito escrito antes ou depois de ter havido informações de que havia indícios de que o IN andava na zona de acção das nossas tropas nesse dia 1 de outubro de 1971. Movimentação de indígenas (população e milícia) foram vistos dentro do quartel antes da partida da coluna auto.

Coluna auto pronta a partir (às 20h00) e retardada para integração do capitão. Elemento que foi o último a subir para um dos Unimog
 mas o primeiro a chegar ao quartel depois de ter ouvido o tiro do IN,  sinal de que as NT estavam debaixo da área de fogo do PAIGC. Estes, bem posicionados,  só tiveram de aguardar as viaturas e fazer fogo, felizmente atabalhoado,  contra  as NT. Caso contrário o número de mortos teria sido  maior.

O oficial, a chorar e desarmado, chega ao quartel com a justificação de que vinha pedir auxílio. Entretanto, no local,  os guerrilheiros do PAIGC matavam, feriam e tentavam levar um prisioneiro. Prisioneiro que foi arrastado e,  uns metros à frente morto, à queima-roupa, e encostado a um poilão. Sentado com as pernas e braços cruzados e uma bala na boca, a fazer de cigarro,  assim o encontraram.

Tudo testemunhado e narrado por quem viu nas Duas Fontes (Bangacia) e confirmado no quartel pelos camaradas que trataram dos corpos.

Manuscrito que marcou tragicamente a família do BCaç 2912 e a história da Guerra Colonial.

Manuscrito inserido na página 39 do Livro "Guineídas - Memórias de uma Comissão – BCaç 2912 CCS – X Encontro - Tavira”.

Os corpos de:

  • Alfredo Tomás LARANJINHA,
  • José Peralta OLIVEIRA,
  • Leonel José Conceição BARRETO,
  • José Guedes MONTEIRO e
  • Rogério António SOARES

depois de recolhidos em Duas Fontes/Bangacia e arranjados em Galomaro,  seguiram (em coluna auto) para Bambadinca e acompanhados, por um camarada da CCS,  até Bissau onde embarcaram no T/T “Carvalho de Araújo” até Lisboa. O mesmo T/T “Carvalho Araújo” que os havia transportado há dezassete meses e uns dias ao chão do Teatro de Operações da Guiné

Foram sepultados nas suas terras. Paz às suas almas!

António Tavares
Foz do Douro, 01 Outubro 2012

 
2. Excerto do depoimento do nosso camarada José Fernando dos Santos Ribeiro (ou J. F. Santos Ribeiro, como consta da lista da Tabanca Grande),  ex-1º cabo trms, CCS / BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72), aquando da sua apresentação à Tabanca Grande 


Emboscada em Bangacia (Duas Fontes)

por  J. F. Santos Ribeiro




Era o fim da tarde, preparava-se um Grupo (de Combate) para partir, para um emboscada, a realizar na picada entre Galomaro e Dulombi.

Mais precisamente no aldeamento de Bangacia (Duas Fontes). Aldeamento que tinha como população feminina, as mulheres de pele negra (fulas) mais lindas que eu alguma vez vi. Tinham feições de brancas... mas bonitas!


Nesse dia, além do grupo destacado por escala (dos sapadores, onde alinhava o "Vermelhinho", nosso camarada, de Matosinhos, que tinha essa alcunha pela cor da sua tez, devido às "bazucas", whisky e vinho que ingeria), foram também por castigo o Laranjinha e mais outro camarada (do qual não me lembra o nome).

Como já tinha acabado o meu serviço nas Transmissões e o jantar no refeitório, encaminhava-me para a cantina, juntamente com outros companheiro... quando ao longe começamos a ver "balas tracejantes" a rasgar o céu.

Antevimos, de imediato, a desgraça que estava a acontecer para os lados das Duas-Fontes.. Ficámos em estado de alerta. Passados, sei lá, duas horas ou mais... começaram a chegar ao aquartelamento, a chorar, os companheiros que haviam saído sem serem feridos ou mortos, na emboscada em que o Pelotão havia caído...

Primeiro o "Vermelhinho" e outros... mais adiante o capitão da CCS, todos sem arma e o pânico espelhado no rosto.

Formou-se, rapidamente, um pelotão de homens que avançaram (sujeitos a serem de novo emboscados) até ao sítio onde se desenrolou o combate, encontrando deitados no chão, entre outros, o Oliveira das Transmissões e o Laranjinha da "ferrugem"... com a boca cheia de cartuchos da "costureirinha" e trespassados à bala.

Pelas suas posições, verificou-se que tinham sido feridos e, posteriormente, deitados no chão onde, cobarde e selvaticamente, foram mortos a tiro!

Durante os primeiros seis a sete meses de comissão, em Galomaro, foram "umas férias", o que deu origem a "facilitanços"... O ior deles foi o Grupo passar a levar as armas metidas debaixo do banco do Unimog e, assim, foram apanhados de surpresa na emboscada. (...)

 
 


Guiné > Zona Leste >  Região de Bafatá > Carta de Duas Fontes ( 1959) / Escala 1/50 mil : Posição relativa de Galomaro, Duas Fontes (Bangacia), Cansamba... Bafatá ficava a norte, Dulombi  a sudeste.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



3. Outros depoimentos (c0mentários ao poste P2529) (**):

(i) Timóteo Santos (ex-fur mil, CCAÇ 2700, Dulombi, 1970/72) 

Sobre a referida emboscada ao patrulhamento de corpo bom "giria que se dizia na altura", depois do cap.Jaoquim Rafael Ramos Santos ter fugido e deixar os feridos espalhados pelo chão o IN veio ao saque juntou os corpos uns aos outros e fez a matança a sangue frio. 

O prisioneiro que dizem ter feito foi executado a sangue frio antes da tabanca. Que esperavam de um comandante de batalhão caduco, um major de operações alcólico e um 2º comandante que só via cabelos grandes. Nunca gostei de criminosos de guerra. Aos historiadores estarei sempre pronto a dar o meu contributo. Timoteo Santos ex.Fur.mil 2700 70/70.


(...) Informo que a fotografia das urnas que estão referidas como pertencentes a esta emboscada, não está correta a legenda: as mesmas referem-se aos mortos que a CCAÇ 2700 teve com uma mina que destruiu uma viatura a caminho de Jifim numa operação.

Timoteo Santos

timoteomemoria@gmail.com

sábado, 19 de fevereiro de 2011 às 01:50:00 WET
 

Vasco Joaquim

(ii) Vasco Joaquim, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)

(...) Era habitual nas patrulhas noturnas  sairmos de noite para o mato em viaturas com faróis acesos. Certamente era para dar a entender ao IN onde nos encontrávamos. Foi isso que aconteceu na noite de 1/10/1971. 

Os sobreviventes estiveram por sua conta e risco e foram aparecendo no aquartelamento a conta-gotas. Como diz o Timóteo, em comentário anterior, não tinhamos comando. Eu, na altura 1º cabo escriturário,  e todos os outros e não só, fazíamos essas patrulhas noturnas. 

O nosso comandante só depois de sofrermos os mortos aos 17 meses de comissão,  requereu forças militares especiais (companhia de paraquedistas) para a zona.

Sei que estes mortos que tivemos, CCS/BCAÇ 2912 e  e CCaç 2700,  poderiam ter sido evitados se tivéssemos tido
 comandantes que tivessem responsabilidade de comando.

Entre as tropas da CCS houve mesmo,  na época, recusa de avançar para o mato como antes se fazia.

O governador e comandante-chefe António Spinola chegou mesmo a ir a Galomaro por motivos que se englobavam com as tropas estacionadas.

O BCaç 2912 e companhias operacionais 2699. 2700 e 2701, junto com a CCS,  sabem bem o que sofremos  e o desprezo a que estávamos votados, numa zona de guerra onde o PAIGC tudo fazia para mostrar a sua supremacia. (...)

domingo, 14 de agosto de 2016 às 23:41:00 WEST  


PS - Por esquecimento deixei de dizer que foi vivido por mim, na altura 1º cabo escriturário, Vasco de Jesus Joaquim, e que fui incumbido te transcrever as mensagens dos mortos na emboscada, afim de que a noticia fosse transmitida às famílias através do Serviço de Transmissões.

domingo, 14 de agosto de 2016 às 23:41:00 WEST 



Paulo Santiago


(iii) Paulo Santiago (ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)


(...) Não foi emboscada a uma coluna, tratava-se de um patrulhamento... E agora reparem nas horas,20.30: fazer um patrulhamento noturno, montado em viaturas, deu em tragédia,

Culpados? Octávio Pimentel, comandante do BCAÇ 2912 (Galomaro) que mandou executar,e o cap Santos, comandante da CCS, que executou sem normas de segurança, acabando por abandonar os mortos e os feridos, e regressar a pé ao quartel,com a desculpa de vir em busca de ajuda.

Não estive lá, mas estava uma secção do Pel Caç Nat 53, comandada pelo fur mil Martins, e o sold Iero Seide foi ferido 
com alguma gravidade, sendo evacuado para o HM 241.Também
o 1º cabo Mamadú Sanhá foi ferido ligeiramente


(Revisão / fixação de texto: CV/LG)
_______________



(...) Em 1970/72 estive em Galomaro, dentro e fora do arame farpado tendo viajado por Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego, Saltinho e muitas tabancas.

Tive sorte de nunca ter dado um tiro apesar de ter estado sob fogo e tido muitos sustos!

Amiga G3, saíste da minha mão virgem e limpa conforme te recebi e com toda a certeza que me agradeceste o descanso que te dei durante 23 meses embora muitas vezes estivesses engatilhada para me ajudar!

Amiga G3, foi desumano o transporte para Bambadinca dos nossos amigos defuntos caídos na emboscada da noite de 01-10-1971... e no regresso trazer 6 urnas para reserva... 

Amiga G3, vamos pertencer a uma Tabanca Grande, diferente das outras onde estiveste mas é bom recordar a História e Estórias dos ex-combatentes.(...)

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27276: Notas de leitura (1845): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte III: "A minha Pátria é o Hélder" (Luís Graça)




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Fonte: Excertos de Bártolo Paiva Pereira - "O capelão militar na guerra colonial". Edição de autor, Vila do Conde, 2025, pp. 13-18.


1. São as páginas talvez mais pessoais, mais sentidas, do autor:  com 26 anos, minhoto, solteiro, sacerdote católico, acabado de ordenar (há ano e meio), "soldado sem instrução", oferece-se para o serviço religioso do exército em 1961, já em plena guerra de Angola, 

Graduado em alferes capelão, segue com o BCAÇ 321 para Angola em outubro de 1961. Descobre uma nova "família", a sua terceira (depois da família biológica e do seminário).  E descobre que a sua Pátria é o Hélder... 

No dia 27 de maio de 1962, sete meses depois de chegar a Angola, participava voluntariamente numa operação, em Cabinda. "Caímos numa emboscada, na localidade de Sanda Massala, norte de Cabinda. À minha frente, o Hélder, cai atingido e logo morreu" (pág. 17). 

Se calhar foi ali, nesse dia, que o padre Bártolo descobriu verdadeiramente o que era a Pátria. Não, não é uma figura de retórica, a Pátria são  as pessoas, as pessoas que têm uma identidade, um rosto, uma história de vida:

(...) "A minha Pátria andava mal definida no coração (...). O meu patriotismo nunca me levou às terras carismáticas do mundo e dos homens. Nem aos Lugares Santos. Nunca visitei o cemitério de Vimieiro. Nem me sai da cabeça a cova, onde enterrámos o Hélder" (...) (pág. 17).

(...) A cova onde enterrámos o Hélder foi logo ali, após o inimigo nos deixar. O seu corpo, mais tarde, foi recuperado por camaradas, que cumpriram  um dever militar" (...) (pág. 18). 

Mas o autor não acrescentou que os restos mortais do  1º cabo Hélder Tavares Amaral, foram inumados em Sanda Massala (no cemitério local ?), Cabinda, Angola, a 8 mil km da sua terra natal, Vila Cortês da Serra, Gouveia.

Foi o único morto do batalhão... Comenta o antigo capelão,citando o filósofo alemão Peter Sloterdijk: "A ossatura simboliza o fim que cada ser vivo traz já consigo". E acrescenta, agora da sua lavra: "Em teatro de operações, deixar 'essa ossatura' brada aos céus. Aconteceu, infelizmente, com muitos cadáveres. no início da guerra, onde tudo era mais precipitado que arrumado" (pág. 19).

(Continua)






Excertos da caderneta militar do nosso camarada Bártolo Paiva  Gonçalves Pereira (pág. 35)

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Nota do editor LG:

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27269: O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64) - Parte I: aquele terrível mês de setembro de 1963



Portugal > s/l> s/d >  "Soldados prontos para o embarque... mas não para a guerra"...


Guiné > s/l > s/d > Pel Rec Fox 42 (196264) > O  "Alenquer" é o primeiro da esquerda... Comendo uma "bucha", no mato...


Guiné > s/l > s/d > Pel Rec Fox 42 (196264) > O  "Alenquer" é o primeiro da direita. Uma pausa junto à Fox para comer...



Armando Fonseca, ex-sold cond cav, Pel Rec Fox 42, Bissau, Mansoa, Porto Gole, Buba, Bedanda, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64; também conhecido como o "Alenquer", integra a nossa Tabanca Grande desde 22 de setembro de 2010; tem cerca de 20 referências no nosso blogue. Julgamos que nasceu em 1941. Natural de Alenquer, vive na Amadora desde 1965, depois do regresso à "peluda". É autor da série "O Alenquer retoma o contacto" (de que se publicaram 7 postes, em 2012).
 

Fotos (e legendas): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


I. O Armando Fonseca (conhecido como o "Alenquer"), ex-soldado cond cav,  Pel Rec Fox 42 (1962/64), foi dos primeiros militares de cavalaria a chegar à Guiné, quando  "oficialmente" ainda não havia guerra, diz a CECA...

 As suas impressões desses primeiros tempos (que vão de maio de 1962 a julho de 1964) são um testemunho precioso.  São anos que ainda não estão bem documentados no nosso blogue (e nos livros da CECA)... 

Com a sua Fox, ele  percorreu boa parte do CTIG, funcionando como uma espécie de 112, as ordens do Comando Milita,  em Bissau.. 

Vamos recuperar e reconstituir, por ordem cronológica, parte dos seus apontamentos já publicados.


 O início da guerra  (Armando Fonseca,  ex-sold cond, Pel Rec Fox 42,  mai 62 / jul 64) 

Parte I:  aquele terrível  mês de setembro de 1963



1. Chegado a Bissau a 28 de maio de 1962 no N/M António Carlos, não cito aqui os arrepios da partida visto que todos nós vivemos esse suplício, o navio fundeou ao largo e fui transportado para terra numa lancha, onde nos esperavam GMC para transporte até ao Quartel General onde fiquei instalado.

As camas e as respectivas roupas ainda não tinham sido desembarcadas. Dormi as primeiras noites numa cama de campanha apenas com uma manta para me defender dos mosquitos mas com o calor intenso que se fazia sentir, ou se morria de calor ou se era comido pelos mosquitos.

No terceiro dia lá apareceu a cama e a roupa, e a promessa de mosquiteiro que nunca chegou a aparecer, se quis evitar de ser comido pelos bichos tive que ir comprar tecido e mandar fazer um mosquiteiro num alfaiate da cidade.


2. O Pel Rec Fox 42  levava como missão reforçar a defesa da cidade, incluindo o aeroporto, e então o meu primeiro serviço foi exactamente piquete ao aeroporto. Fazia 24 horas de serviço dia sim dia não, garantindo a segurança das partidas e chegadas dos aviões, quer fossem civis ou militares.

Antes das aterragens ou dos levantamentos lá ia passar revista a toda a pista observando se havia algo de anormal e só depois os aviões entravam na pista.

Às vezes no dia aparecia outro biscate para fazer,  inclusive atender a algumas escaramuças que apareciam na cidade, visto que, àquela data,  o comando do PAIGC era nos arredores da cidade, no Pilão, que se situava entre esta e o Quartel General (em Santa Luzia).

Permaneci assim,ais de um ano,  até aos finais de agosto de 1963, altura em que fui sorteado para ser deslocado com a guarnição do meu carro para Mansoa, porque o BCAÇ  512 que aí se encontrava e tinha distribuídas companhias em Mansabá e em Bissorã, as quais tinha que abastecer: já estava com graves problemas nas deslocações das suas colunas e então pediu o reforço de um carro de cavalaria para acompanhar essas colunas.


3. Cheguei então a Mansoa em 28 de agosto e comecei de imediato a fazer escoltas: quase todos os dias saía para Mansabá ou Bissorã, e quando assim não era, havia que escoltar pessoal que se deslocava para a capinagem das bermas das estradas  ao longo desses percursos.

Na madrugada do dia 3 de setembro chegou ao quartel a notícia de que Porto Gole tinha sido atacado e lá fomos pelas seis da manhã escoltar um pelotão da CCAÇ  413 para ver o que se tinha passado.

 Ao chegarmos encontrámos um cenário desolador, haviam:

  • cinco moranças totalmente queimadas,
  • dois cipaios mortos, 
  • tendo os guerrilheiros levado preso o chefe de posto e um colono branco (**)

Já não regressámos a Mansoa e no dia seguinte começou a ser erigido ali um aquartelamento visto que tinha deixado de haver a segurança, até aí feita pelo chefe de posto e pelos cipaios, e aquele era um ponto crucial para apoio aos barcos que pelo Geba se deslocavam de Bissau para o interior (Xime, Bambadinca, Bafatá)

Permaneci ali até haver condições para as tropas de caçadores terem um mínimo de segurança. Durante esse período a alimentação baseou-se quase sempre em bolachas e conservas, até haver condições para começar a matar uns carneiros e umas galinhas que por lá havia.


4. No dia 9 regressei a Mansoa, sendo retomada a rotina de escoltas e agora também a Porto Gole porque ninguém dava um passo sem que a autometralhadora não fosse à frente da coluna.

No dia 13 um pouco antes do almoço ouviu-se ao longe um rebentamento e passado algum tempo apareceram dois homens a informar que o rebentamento tinha sido na tabanca de Cutia e que havia lá feridos.

Seguimos para lá e deparámos com dois feridos graves:
  • um tinha um buraco na cabeça;
  • e o outro tinha uma perna e as duas mãos cortadas;
  • o primeiro foi levado para o hospital;
  • e o segundo, a família não deixou que o levassem, porque quiseram que ele morresse junto deles.

Em 22 fomos chamados para socorrer uma viatura civil e uma ambulância de transporte colectivo que estava a ser atacada entre Mansoa e Mansabá. Fomos lá e quando chegámos,  já o IN tinha abandonado o local levando todo o dinheiro e os géneros que seguiam nas viaturas.

A partir desta data, além das deslocações militares que chegavam a ser duas por dia, apareceram também as colunas civis que já não se deslocavam sem escolta militar.

No dia 24 saímos de Mansoa pelas cinco da manhã para ir tirar umas árvores que o IN tinha colocado na estrada que ligava Porto Gole a Enxalé e a deixara intransitável.  Ás oito horas com 44 árvores cortadas e retiradas, encontrámos uma companhia que vinha de Enxalé ao nosso encontro e que a cerca de um quilómetro tinha sofrido uma emboscada.  

Havia um pelotão com vários feridos ligeiros e um furriel com uma perna cortada, o qual, ao fim de cinco horas, sem o socorro que a situação exigia, veio a falecer.(***)

Além dos feridos havia ainda um "granadeiro",  atascado na bolanha que nos deu muito trabalho a retirar.

Quando regressámos a Porto Gole,  era já noite e apenas com o pequeno almoço das quatro da manhã no estômago; depois de comermos alguma coisa, regressámos a Mansoa que distava cerca de 27 quilómetros.

 (Continua)


(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, títulos: LG)
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(*) Vd. poste de 22 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7023: Tabanca Grande (245): Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42 (Guiné, 1962/64)


(**)  Este episódio, grave, não é referido pelo livro da CECA,  respeitante á  atividade operacional no CTIG no período de 1963/1966.


(***) Fur mil at inf José Inácio da Ascensão da Costa Pinheiro, CCAÇ 412, mobilizado pelo BCAÇ 10, Chaves; natural de Sousel:  morreu em 25 de setembro de 1963, em Porto Gole, na sequência de ferimentos em combate; está sepultado no cemitério da sua terra natal.