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quinta-feira, 10 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15840: Memórias de Gabú (José Saúde) (61): Companhia de milícias guineenses jurou bandeira. Dia de ronco.



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

As minhas memórias de Gabu

Companhia de milícias guineenses jurou bandeira
Dia de ronco

A plateia estava bem composta e o dia era para celebrar a passagem a pronto de uma companhia de milícias africanos, sendo que o pessoal de Gabu correspondeu em pleno a um acontecimento que resvalou para uma jornada de ronco.

Na parada do quartel novo de Gabu, Nova Lamego, os pelotões marcharam, apresentaram armas, juraram bandeira e comprovaram fieldade ao exército português. Na retaguarda os civis não perderam a oportunidade em assistir ao evento e as mulheres grandes, as bajudas e os homens, alguns ostentando o traje da sua condição de régulos, lá fizeram a festa.

Afirmo, seguramente, que as vestes das mulheres transmitiam coloridos encantadores, próprios, aliás, de uma África próspera em esplêndidos encantos. As bajudas, essas meninas deslumbrantes, mostravam, vaidosas, a sua “mama firme” e lançavam piropos sobre o enviesado marchar dos rapazes da tabanca que, esporadicamente, lá trocavam o passo.


Recordo, com alguma intensidade, o inolvidável momento. O quartel encheu-se de gentes que aplaudiram o “esforço” ofertado à Pátria pelos soldados guineenses. A tropa, para eles, era sinónimo de uma maior estabilidade quer ela se tratasse pelo angariar de uns magros pesos ou mais uma “mão-cheia” de arroz que tanta falta fazia no seio familiar.

Citei, intencionalmente, a palavra Pátria porque naquele tempo poucos ousariam contradizer os poderes políticos instalados. Batiam-se palmas aos discursos escutados pelos “maiorais” e apelava-se ao sentido nato da defesa integral de uma Nação que se confrontava com três frentes de guerra no Ultramar.

Mas tudo era, ou parecia, absurdo. Sintetizando o conteúdo da mensagem que o bom do soldado lusitano conheceu, rompemos as amarras do tempo e falemos abertamente que a tropa nativa formava um esquadrão que via no exército da Metrópole um meio para satisfazer uma imensidão de caridades que o seu extrato social carecidamente impunha. 


Ora, é lógico que elogiemos a sua camaradagem, bem como aquela doada por uma população que demonstrava a sua inequívoca gratidão. A guerra, por outro lado, partilhava instantes insólitos e de autênticas disparidades. Com eles, camaradas guineenses, aprendi uma imensidão de circunstâncias que me ajudaram a conhecer o teor de uma peleja onde a imprevisibilidade de um adensado mato se apresentava literalmente como um verdadeiro enigma. 

Sendo o dia de ronco, e com a entrada do quartel franqueada ao povo, deixo nesta temática, que por ora trago à estampa, três fotos: a primeira comigo (à direita), com o alferes Santos, oficial de dia, ao meio, e à esquerda um camarada furriel miliciano mecânico, que não recordo o seu nome. As outras fazem parte do convívio com a população. 


Remato a narrativa com a pertinente questão que ainda hoje nos ocorre à memória e que, por vezes, serve de diálogo: Qual terá sido o futuro daqueles mancebos que naquele dia, 14 de março de 1974, juraram bandeira sob a proteção de uma Pátria distante e sabendo-se que no mês seguinte, em Lisboa, a ditadura caiu e a Revolução dos Cravos estourou, dando-se o memorável 25 de Abril e, naturalmente, a entrega das antigas colónias ultramarinas aos movimentos que ao longo dos anos lutaram no terreno em defesa da sua liberdade?

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE FEVEREIRO DE 2016 > Guiné 63/74 - P15717: Memórias de Gabú (José Saúde) (60): A fuga

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9402: As minhas memórias (Fernandino Vigário) (2): História do Batalhão de Caçadores 1911

1. Mensagem do nosso camarada Fernandino Vigário (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), com data de 24 de Janeiro de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal uma boa noite.

Cá estou de novo, em anexo vou contar algo sobre a história do Batalhão de Caçadores 1911, e conto aquilo que sei, a minha condição de soldado raso nunca permitiu saber muito sobre aquela guerra, as poucas informações que tinha vinham do pessoal de transmissões e administrativos, e muita coisa já me esqueceu.

Um forte abraço
Fernandino Vigário


AS MINHAS MEMÓRIAS - 2

Batalhão de Caçadores 1911 - GUINÉ 1967 - 1969


COMANDANTES DO BATALHÃO

- Ten Cor Inf.ª Álvaro Romão Duarte - De 04DEZ66 a 14AGO67
- Major Inf.ª Rogério Castela Jaques - De 15AGO67 a 26OUT67
- Ten Cor Inf.ª Domingos André - De 27OUT67 a 04ABR68
- Major Inf.ª Rogério Castela Jaques - De 05ABR68 a 17JUL68
- Major Inf.ª Vitorino Azevedo Coutinho - De 18JUL68 a 21AGO68
- Major Inf.ª Rogério Castela Jaques - De 22GO68 a 30OUT68
- Ten Cor Inf.ª Renato Nunes Xavier - De 31OUT68 a 14JAN69
- Major Inf.ª Rogério Castela Jaques - De 15JAN69 até ao fim de comissão



HISTÓRIA do BATALHÃO DE CAÇADORES 1911

Atividade operacional na Guiné

Ao Batalhão de Caçadores 1911, desembarcado em 2 de Maio de 1967 em Bissau, foi-lhe destinado o aquartelamento de Brá, com a missão de reserva do Comando-Chefe.

Como a preocupação dominante do Comando do Batalhão era preparar os seus quadros e tropas o melhor possível para a guerra que íamos travar, providenciou-se que todas as Companhias operacionais incluindo a CCS fizessem na área da ilha de Bissau as seguintes atividades:
- Intensa educação física;
- Tiro em todas as ocasiões disponíveis na carreira de tiro;
- Exercício de embarque e desembarque das LDM no ilhéu do Rei em terrenos lodosos, e instrução sobre o mesmo por oficiais da Marinha;
- Colaboração na atividade operacional do BArt1904 no Sector de Bissau com relevo em patrulhamentos e emboscadas noturnas.

Durante a estadia do Batalhão em Brá, as três Companhias operacionais realizaram no interior da província 15 operações.

Quando o Comando do Batalhão foi informado no Quartel-General que ia para o sector de Teixeira Pinto foi-lhe prestada a seguinte informação: O sector de T. Pinto não é um sector de “roncos” é um sector difícil e de importância capital, se conseguirem evitar que o inimigo penetre e domine o sector será o maior ronco da Guiné.

O Batalhão, seguiu para Teixeira Pinto onde desembarcou a 15 de Agosto de 1967 e sem o 1.º Comandante Álvaro Romão que não deixou saudades.

O Major Castela Jaques que à data era 2.º Comandante, foi nomeado Comandante do Batalhão, e em pouco tempo mostrou de que cepa era feito. Deu um prémio ao Capelão Abel Gonçalves e enviou-o para Jolmete, um hotel de ver estrelas!

Em 27OUT67 o Batalhão recebe um novo Comandante, o Tenente Coronel Domingos André, um grande militar e um ser humano cinco estrelas que viria a ser um verdadeiro e único Comandante digno deste nome, tive oportunidade de conversar com ele, sabia respeitar e era respeitado: este sim, quando partiu deixou saudades.

Durante os nove meses em que atuamos no sector de T. Pinto o Batalhão cumpriu com determinação as missões que lhe foram impostas.


Atividade exercida junto das populações (Acção Psicológica)

O inimigo durante o período de Agosto de 1967 a Maio de 1968 intensificou o seu esforço de subverter o povo manjaco com a finalidade de os empenhar ativamente na luta utilizando especialmente:
-Emigrantes manjacos do Senegal e da Gâmbia para a propaganda e mentalização do seu povo.
-Jovens raptados ou recrutados voluntariamente para atuarem depois de devidamente instruídos militarmente junto da população onde vivem os seus familiares, de quem recebem toda a proteção e auxílio.
-A técnica de intimidação e de comprometimento para forçar a colaboração dos chefes das Tabancas para a organização político-administrativa inimiga nas regiões do Sector.

O Comando do Batalhão 1911 desenvolveu uma intensa acção psicológica no Sector a saber, 110 operações de contato com a população visando especialmente:
- Apoiar a ação dos professores das escolas atribuindo livros e cadernos aos alunos de forma a elevar o nível cultural das camadas jovens.
- Executar e promover medidas de propaganda que conduzissem a uma mentalização adequada das populações, com vista a manter a adesão dos elementos não subvertidos, e conquistar aqueles que o inimigo tenha influenciado ou atraído para o seu campo.

A população do Pelundo fechada e hostil foi captada pelas nossas tropas com as quais trabalhou e colaborou na construção de abrigos e da mesquita.
A população do Cacheu igualmente foi captada e colaborou no reordenamento e auto-defesa, especialmente em Morocunda.
A população de Mata e Bianga colaborou sempre e forneceu os seus produtos apesar das intimidações do inimigo.
A profunda humanidade com que tratamos sempre a população permitira manter o povo manjaco fora do conflito e até receber de alguns elementos manifestações francas e sinceras.

Durante o período de nove meses em Teixeira Pinto, se a memória não me atraiçoa o Batalhão fez sete colunas de reabastecimento e escoltas a Có, e oito ou nove a Jolmete, e dezenas de operações nas matas com uma atividade bastante intensa.

Eu como soldado condutor da CCS nunca fiz operações através das matas: fui várias vezes a Có e Jolmete em colunas de reabastecimento, a minha primeira vez, o meu batismo foi algo imprevisto, e com certa dificuldade: foi no fim de Agosto ou princípio de Setembro de 1967 época das chuvas, eu conduzia um Unimog com atrelado carregadíssimo, sem qualquer experiência de conduzir com este, mesmo assim a viagem estava a correr bem sem perturbações e sinais do inimigo: a malta da picagem lá ia na frente como sempre, a determinada altura não muito longe de Jolmete, num piso sinuoso, com muita água, talvez perto de bolanha a minha viatura ficou atolada no lamaçal, fiquei bloqueado e senti-me frustrado, e por mais tentativas que fizesse ainda a enterrava mais, inexperiente perdi o controlo com aquela situação foi necessário ligar o guincho e com ajuda dos colegas lá conseguimos retomar percurso normal.

Se a memória não me atraiçoa sempre que fizemos as colunas de reabastecimento alguns quilómetros depois do pelundo em locais estratégicos e considerados perigosos, iam ficando pela picada um ou outro pelotão a montar segurança, as forças que estavam em Có vinham ao nosso encontro o que acontecia pela zona do Barril ou aí perto, os que estavam em Jolmete vinham a uma zona que não me recordo o nome, mas era zona de água talvez bolanha, ou perto dela onde eu atolei o Unimog no lamaçal.

Agora vou falar dos meus Anjos da Guarda: por sinal eu falo neles na minha apresentação, trata-se dos camaradas Sapadores e outros que nas picadas que eram bastante perigosas, tinham a tarefa de localizar esse inimigo invisível terror dos condutores e não só, que eram as minas anticarro: houve outro Anjo da Guarda que me acompanhou naquelas colunas a Có e Jolmete, fiz esses trajetos várias vezes, e nunca estive debaixo de fogo do inimigo, e ele existiu de facto, e várias vezes, não faço a mínima ideia a que distância estive do local onde houve contactos com o inimigo, nem a distância que separava a primeira da última viatura, mas devia ser longa, normalmente eu ia nos últimos lugares da coluna e a uma distância de quarenta a cinquenta metros da viatura que ia à minha frente e não presenciei nada de tiros.

Resumindo, nas colunas em que eu participei sempre que houve contactos com o inimigo foi com os ditos pelotões que ficavam a montar segurança, ou com os primeiros da coluna, eu tive a sorte e a felicidade de escapar, e devem ter sido poucos os que fizeram estas colunas sem cair debaixo de fogo do inimigo, daí eu falar no meu Anjo da Guarda!

Só depois da chegada a Teixeira Pinto é que me inteirava do que se tinha passado através de relatos dos colegas e camaradas que tinham tido os contactos com o inimigo.

Em 8 de Maio de 1968 o Comando do Batalhão ao deixar Teixeira Pinto, onde foi rendido pelo BCaç 2845, estava convicto de que tinha cumprido com honra as missões de evitar que o inimigo penetrasse e dominasse o chão manjaco.

Em 26 de Junho de 1968 foi destinado ao Batalhão 1911 o Sector de Bissau com sede em Stª Luzia e até à data do embarque, realizou uma intensa atividade operacional no Sector que se cifra numa média de centenas de ações mensais.

Durante a comissão deste Batalhão na Guiné, foram integrados no mesmo para atividade operacional as seguintes unidades:
- CART 1526 - CCAV 1649 - CCAÇ 2313 - CART 1614 - CART 1615 - CART 1617 - CCAV 1650 - CCAÇ 1622 - CART 1660 - CART 1689 - CART 1690 - CART 1692 - CART 1743 - CCAÇ 2435 - CCAÇ 2436 - PEL DAIMLER 1137 - PEL DAIMLER 2042 - PEL PANHARD 1143 - PEL MORT 2006 - 8.ª CMILICIA - 9.ª CMILICIA -10.ª CMILICIA – 20.ª CMILICIA

A média mensal de operações do Batalhão 1911, foi de 32 o que representa uma atividade bastante elevada.



SÍNTESE DA ATIVIDADE


O Batalhão tem mais 6 baixas por acidente.
Há muito mais para contar, faço votos para que quem o saiba o faça, exemplo: oficiais, furriéis, pessoal das transmissões, e administrativos, estes eram mais privilegiados na informação.

Carlos Vinhal um forte abraço, extensivo a toda a tabanca.
E um muito especial para o Padre Abel.

Fernandino Vigário
Ex-Sold. Condutor CCS/BCaç 1911
1967 /69
____________

Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9321: As minhas memórias (Fernandino Vigário) (1): Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9321: As minhas memórias (Fernandino Vigário) (1): Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

1. Mensagem do nosso camarada Fernandino Vigário* (ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 1911, Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69), com data de 2 de Janeiro de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal , uma boa noite.
Recebi hoje teu E-mail que fala das dúvidas do Carlos Pinheiro e sobre esse assunto eu já disse o que sei.

Aproveito para enviar uma história passada comigo e um Alferes Capelão que, creio, estava no QG, não sei o seu nome nem o conhecia. Entre missas e funerais eu conheci vários, havia um que, se não estou em erro, com o posto de Tenente,  corpo franzino mas espírito de oficial militar, não dava grande confiança aos soldados.

Vai também duas fotos, uma sou eu no jipe, a outra sou eu mais três amigos e vizinhos que estavam no QG. O outro elemento não faço a mínima ideia quem seja.

Um forte abraço
Fernandino Vigário



AS MINHAS MEMÓRIAS - 1

Um Alferes Capelão que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário

Caro amigo Carlos Vinhal.
Olá amigos e camaradas.
Estou de volta, e às voltas com a minha memória: como não tenho nada escrito vou tentar reconstituir uma história passada comigo e um alferes Capelão. Hesitei se a devo contar ou não, mas resolvi contar nem que seja para ficar em arquivo.

Eu, Fernandino Vigário,  ex-Soldado Condutor,  estava em Bissau no quartel conhecido por "600". Já no fim da comissão, numa manhã de Domingo (não me recorda a data, mas deve ter sido num dos primeiros meses de 1969), fui escalado para transportar um Alferes Capelão,  ainda bastante jovem a três ou quatro destacamentos limítrofes de Bissau, Safim e outros, onde estavam destacados Pelotões de Companhias do meu Batalhão 1911.

Transportar um Capelão,  para ir celebrar a Eucaristia aos ditos destacamentos, foi serviço que eu fiz várias vezes, e nem sempre foi o mesmo. O que aconteceu nesse Domingo com um bastante jovem, devia ter a minha idade ou pouco mais, que eu não o conhecia, nem nunca soube o nome porque só fiz um único serviço com ele.

Neste Domingo de manhã, depois de darmos os bons dias e trocarmos algumas palavras de circunstância, iniciámos a viagem que nos iria levar aos ditos destacamentos. O Capelão.  além de jovem era simpático e extrovertido, falava pelos cotovelos, e para espanto meu, ainda na estrada de Sª. Luzia ao cruzarmos com uma mulher ainda jovem, cabo-verdiana, por sinal bem jeitosa, atira a seguinte frase:
- Ena pá! Que gaja boa. Uff, que brasa!

Percorridas mais umas dezenas de metros, e de novo ao avistar outra mulher cabo-verdiana,  repete os comentários. Eu,  perante este cenário e vindo de um Padre, olhei-o de soslaio, meio petrificado e a pensar no que é que viria a seguir. Seria aquilo verdade?

Como eu falava pouco, na verdade sou um pouco introvertido e reservado, havia também a hierarquia, alferes e soldado,  a separar-nos, o Capelão resolve puxar por mim.
- Então, condutor, não dizes nada, o gato comeu-te a língua... pra começar diz-me lá o teu nome?
- Fernandino Vigário, meu Capelão, mas todos me tratam por Vigário.
- Vigário? Oh pá, mas és Vigário ou és vigarista?

Hesitei um pouco, mas logo respondi:
- Meu Capelão, eu sou Vigário de nome, mas sei que há por aí uns Vigários com obras feitas. Olhe, alguns até vieram parar a Bissau.
- Pois é, condutor, para quem falava pouco já estás a falar de mais, eu vou ter que te ensinar o Pai-Nosso.

Tive que me fazer um pouco palonço, não senti a rigidez militar e respondi:
- Meu Capelão, não é necessário! Eu na minha parvónia aprendi a Doutrina toda, foi o meu pai que me ensinou. Até fiz a comunhão solene!
- O teu pai ensinou-te a Doutrina mas foi às avessas, agora quem te vai ensinar sou eu.
- Meu Capelão, peço desculpa se o ofendi, mas não vejo onde o tenha feito, e longe de mim ofender quem quer que seja.
-Bem condutor, aceito as tuas desculpas e não se fala mais nisso, afinal hoje é Domingo, é o dia do Senhor, e de ouvir a Santa missa.

PS - Sou católico praticante, e nada me move contra a igreja e os Padres, antes pelo contrário, porque sempre os respeitei e ao contar esta história não pretendo denegrir nem esta, nem os padres, e estou convicto que aquele jovem Capelão tenha dado um bom padre, para mim aqueles comentários sobre mulheres eram fruto da sua juventude.

Um forte abraço para toda a Tabanca.


Malta amiga, maiatos, num Café de Bissau > A partir da esquerda: 1.º Cabo Op Cripto/QG Domingos,  Sousa da CCAÇ 1743, (?), 1.º Cabo Escriturário/QG e eu Fernandino Vigário
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9229: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (40): Comprei um computador pequeno e lentamente fui aprendendo a navegar na Net (Fernandino Vigário)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7580: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (20): Coluna auto de Aldeia Formosa ao Saltinho

1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2011:

Camarigo Carlos Vinhal, cordiais saudações guinéuas.
Comentando “estórias” da sorte e das vicissitudes do Soldado Alzira que fez parte dos efectivos da CCaç 2381, Guiné 1968/70, e que teve
presença efémera no Teatro Operacional.

Com um forte abraço do tamanho do Rio Corubal.
Arménio Estorninho
Ex-1º Cabo Mec. Auto, C.Caç.2381 “Os Maiorais”


AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUERRA (20)

Coluna auto de Aldeia Formosa ao Saltinho

Situações passadas durante uma coluna, efectuada no segundo semestre do ano de 1968 no troço Aldeia Formosa – Contabane – Saltinho - Aldeia Formosa. Com a valia de imagens de parte do que eu vi, em que o seu uso foi devidamente autorizado, pelo ex-Capitão Carlos Nery, Cmdt da CCaç 2382 e pelo ex-Fur Mil Mec José Luís Reis, CCaç 2701, Saltinho 70/72, que foi meu colega de Curso na Escola I. C. de Silves.
Sendo o dispositivo das forças de 01 GRCOMB da CCaç1792, 01 GRCOMB da CCaç 2381, 01 Esq do Pel Mort 1242, 01 Sec Fox 2022 e 02 Sec do Pel Caç Nat.

A deslocação ao Aquartelamento do Saltinho tinha o fim da entrega de uma viatura, de um motor e de equipamento diverso.
A operação deu-se num dos primeiros dias do mês de Agosto, quando eram cerca das 07h e 30m, saindo de Aldeia Formosa pela estrada que tinha inicio na pista de aviação e na coluna seguiam 06 viaturas. A escolta militar dispunha-se de forma em que na frente seguiam 02 Secções a picar, 02 Secções nos flancos conjuntamente com guias Caç Nat e os restantes distribuíam-se na protecção às viaturas.
A progressão decorria cadenciadamente com as viaturas a trilharem a picada, que desde o abandono de Contabane pelas NT e população, a mesma não era usada. Assim, havia forte suspeição da existência de engenhos explosivos.

Foto 1 - Guiné> Região de Tombali> Contabane> 1968 > Parte da Tabanca de Contabane, verificando-se a estrada que passa de permeio e em direcção ao Saltinho.
Com a devida vénia para a Enfª Pára-quedista Ivone, por ter obtido este recorte fotográfico e assim como ao Camarigo ex - Cap. Carlos Nery, Comandante da CCaç 2382, por autorizar a extrair a foto do P6489 e facilitando o seu uso.

Deu-se a passagem por Contabane, que apresentava um estado de destruição das instalações militares e da Tabanca, após o ataque IN, em 22/06/68. Tendem ficado quase reduzidos a escombros, ainda se viam de pé a Mesquita e algumas moranças. Ao tempo, a defesa era composta pela CCaç 2382 e por Caçadores Nativos, que após os acontecimentos efectuaram a total evacuação para Aldeia Formosa.

Foto 2 – Guiné> Região de Tombali> Contabane> 1968 > Como eu vi as moranças incendiadas e reconhecendo-se a Mesquita.
Com a devida vénia, para a Enfª Pára-quedista Ivone e para o ex - Cap. Carlos Nery, pela autorização de extrair a foto do P6479 e facilitando o seu uso.

Antes de chegarmos ao Saltinho, ao prosseguirmos por uma clareira deu-se um estrondo seguido de um matraquear de batidas e com imenso fumo na frente de uma viatura. Fica no ar uma suspeição, que a viatura teria accionado uma mina AP. A coluna fez alto.
Foram tomadas as providências, seguindo próximo da viatura imobilizada fui dos primeiros a chegar junto e verificando que o Soldado Alzira era quem a conduzia.
Logo, chega o Cabo Enfermeiro, não havia feridos mas dois militares estavam todos sarapintados de negro. Os picadores que seguiam na frente de imediato compareceram, para tornarem precauções e confirmaram não haver necessidade.

Foto 3 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Vista para a margem oposta ao Quartel, Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal.
Foto gentilmente cedida pelo o ex-Fur Mil Mec José Luís Reis, CCaç 2701.

Como estávamos próximo do Saltinho, parte do dispositivo da coluna estacionara enquanto a outra parte seguira para o objectivo e feita a entrega, suponho, que à CCaç 2406. Iniciando-se o retorno com o reagrupamento, chegamos a Aldeia Formosa. A coluna realizou-se sem outro qualquer outro incidente, não sendo detectado engenho explosivo e nem havendo contacto com o IN.

Foto 4 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Belo recorte que eu apreciara do Rio Corubal, tende pela dirt. a Ponte submersível, pela esq. a Ponte Craveiro Lopes e na margem direita o Aquartelamento do Saltinho.
Foto gentilmente cedida pelo ex-Fur Mil José Luís Reis, CCaç 2701.

A causa da avaria foi, ter-se desapertado os parafusos da chumaceira da cabeça de uma biela do motor obrigando esta a desprender-se da cambota. No movimento de rotação, a cambota levou a biela ao impacto no bloco, partindo-o. Da fenda emanava óleo que em contacto com as peças mecânicas da zona do motor que estavam a alta temperatura, dai adviera uma fumarada e que exalava imenso cheiro a óleo queimado.

A viatura estava distribuída a um Soldado, que no momento não a conduzia, devido a que o Soldado Alzira tinha-lhe solicitado para o substituir na condução e aquele não se fazendo rogado cedeu-lhe o lugar (tendo-me apercebido da situação).
Lembrando, que numa coluna auto o lugar do condutor era deveras dos mais perigosos, dadas entre outras situações as minas AC e/ou os fornilhos.

Foto 5 – Guiné> Região de Bafatá> Mampatá – Saltinho> 1970 > Sentado na cabine o Fur Mil Mec José Luís dos Reis, de pé o Fur Mil Pires e a clicar para recordar, ambos são da CCaç 2701.

E agora a moral da “estória". Pela situação de avaria da viatura, teria de haver relatório e quem a conduzia não estava habilitado para o efeito. A fazer-se participação da ocorrência, seriam levantados processos disciplinares a ambos os militares por indisciplina e uso com prejuízo da fazenda militar.
Tendo eu feito ver a ambos o acontecimento, que o mesmo iria proporcionar uma situação gravosa, por isso teríamos de dar a volta ao texto. Assim, fazíamos um pacto em que eu nada vi e o relatório da avaria era feito de forma de quem tinha a viatura distribuída era quem a conduzia. Tudo acertado e ficamos mais amigos.
Da minha parte o segredo ficara até hoje, ao Comandante da CCaç 2381 ao tempo, Capitão Jacinto Aidos (hoje Coronel na Reserva) que desculpe o seu subordinado pelas “trocas e baldrocas” e dado que aquela avaria se daria em qualquer momento.

O Soldado Alzira ficou feliz, como gostava de cantar o fado e então era o ex-1.º Cabo Franklin (paz à sua alma) dando os seus belos acordos de guitarra portuguesa e havendo festa rija. Eu, com a minha guitarra dava uns toques e só atrapalhava o andamento da música.

Foto 6 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal, zona balnear do Saltinho em que o ex-Fur Mil Mec José Luís dos Reis, CCaç 2701, está a saltar para a fotografia.

27 de Agosto/68:
Durante uma coluna Aldeia Formosa – Nhala - Buba, foi accionada uma mina AC por uma viatura que ficou destruída,  provocando ainda um ferido às NT.
Quando se procedia à reparação do pontão de Uane, foi deflagrada uma mina AP por um elemento das nossas forças, que o feriu gravemente. Tratou-se do Soldado Alzira, que pisara e accionara a dita mina, tendo-lhe causado a perda de um pé.

Solicitada a evacuação por meios aéreos (Helicóptero Alouette III), chegado, o piloto disse que  não havia condições (tecto) naquele local para a evacuação dos feridos (TEVS) e que a mesma só seria possível em Nhala. Dado que se estava em época das chuvas, nas bolanhas as viaturas ficavam em atoleiro diversas vezes o que retardava a progressão da coluna.
Era premente a evacuação do ferido devido à perda de sangue, tendo por isso 01 GRCOMB da CCaç 2382, que dava apoio logístico, vindo de Nhala ao encontro da frente da coluna e imediatamente regressara levando os feridos.

E assim, se salvou o Soldado Alzira, que posteriormente foi evacuado para a Metrópole. Ficou grato à Companhia irmã, a CCaç 2382 e à Força Aérea por assim ter saído daquele inferno.
É do conhecimento, que o Alzira continua alegremente a cantar o Fado pelas Casas de Lisboa.

Com um forte abraço do tamanho do Rio Corubal.
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto,
CCaç 2381 “Os Maiorais”
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7369: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (19): Factos mais importantes da CCAÇ 2381 no Subsector de Aldeia Formosa

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6918: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (18): Encerramento do mês do Ramadão

1. O nosso Camarada Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 1 de Setembro de 2010: 

Camaradas, saudações guinéuas.

Sendo oportuno escrever relativamente ao encerramento do mês do Ramadão, em que no dia seguinte ocorrerá a celebração da chamada “Eid-ul-Fitre” festa e fim de jejum, o qual se baseia no calendário lunar de 354 dias adoptado pelos Muçulmanos, que ocorre no nono mês e que o último dia coincide com o aparecimento da Lua Nova. Este período foi escolhido por nele o Profeta Maomé receber as primeiras relevações do Alcorão, pode variar o mês e difere assim do calendário gregoriano solar de 365 dias.

De acordo com o Livro Sagrado do Alcorão, a participação na cerimónia é considerada obrigação a qualquer muçulmano e apenas em condições ponderosas não precisam de tomar parte no evento.
Encerramento do mês do Ramadão
Na Guiné, após o final do Ramadão (1970) no dia seguinte efectuara-se um acto religioso de encerramento e por conseguinte o local escolhido foi o Parque Teixeira Pinto, em Bissau. Dessa efeméride que eu presenciara, captara uma série invulgar de slides dos quais poderão pelo seu conteúdo serem do interesse dos amigos e irmãos da Guiné. Na cerimónia estavam presentes Autoridades Religiosas e Tradicionais, bem como Militares e Civis, (no calendário Gregoriano já se passaram 40 anos e no Islâmico 41 anos). Penso que poderá ser oportuna a retrospectiva da cerimónia, em que os slides serão instruídos com pesquisas inerentes.
Solicitando que sejam Postados no Blogue, de forma que coincida com a última semana do mês do Ramadão, que teve o seu início a 11 de Agosto e terá o final a 09 de Setembro de 2010 (do calendário Gregoriano).

Foto 1 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; A batucar para se obter silêncio e a fim de observar-se para a hora da Oração.

Foto 2 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Chegada a hora da Oração do meio da tarde “Salat’ul Assr” e segundo o Profeta Muhammad deve-se fazer o chamamento das pessoas para o acontecimento. Foto 3 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; No ofício Islâmico feita a chamada, são todos iguais e não há lugares reservados. Foto 4 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Chefes Religiosos, estando presente o Grande Marabu Cherno Rachid, de Aldeia Formosa e enverga uma estola rosa. Preparam-se citando Iqámah, Cad Gámatis Salah (a Oração está pronta), posicionam-se com a mão direita sobre a esquerda “wuquf,” recitam o 1º Capitulo do Alcorão (Sura Al Fatiha) e seguido de outra passagem. Foto 5 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Em Congregação “Jamah” os Crentes seguem os movimentos do Imã, inclinam a cabeça em ângulo recto e pondo as palmas das mãos nos joelhos “Ruku,” dizem Subhána Rabbiyal Azim (Glória a Deus Omnipotente) e recitam uma passagem do Alcorão. No palanque estão o Governador António de Spínola e, Autoridades Militares e Civis. Foto 6 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Os Crentes estão de pé e de braços caídos, recitando Sami Alláhu Liman hamidah, Râbbaná Lâkal Hamd (Deus escuta quem louva, ó Nosso Senhor louvado sejas). Foto 7 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Os Crentes sentados a ouvir o Imã a recitar um Sermão e aguardam para a Oração. Foto 8 - Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; O Chefe Religioso Cherno Rachid, está a acomodar-se para a Oração. Aquando eu clicava para os slides, duvidei do Chefe Religioso que se levantara e devido à sua atitude de altivez (tratara-se de concordância ou de discordância).
Foto 9 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Oração em Congregação “Jamah,” os Crentes sentados sobre as pernas “Juluç,” dizem Subhana Rabiyal ála (Glória a Deus Omnipotente) e repetindo três vezes. Depois reclinam-se para prostração “Sujud” e repetindo também estes movimentos durante a Oração “Adán.”

Foto 10 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Em Oração os Crentes citam Alláhu Akbar (Deus é Grande), com os bicos dos pés, os dois joelhos, as duas mãos, a testa e o nariz de maneira a tocarem o chão (em posição de prostração “Sujud”).

Foto 11 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Em Oração do meio da tarde “Salat’ul Assr”e no acto de posição de prostração “Sujud”

Foto 12 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Oração em Congregação, os Crentes em disciplina seguem os movimentos do Imã e sem anteciparem nenhum gesto dos actos. Na esquerda do slide vimos dois altifalantes, os quais facilitavam a sincronia das orações e por conseguinte também dos gestos.

Foto 13 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Terminado o Ciclo da Oração “Rakad”com os Crentes na posição de sentado “Juluç,” dizem Subhana Rabi e ficam atentos ao Sermão. O Imã colocara-se à frente dos Crentes, recitando “Fátiha” e seguido de outra passagem do Alcorão.

Foto 14 - Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Espontânea colocação de um manto, sobre as cabeças de vários Imãs.

Foto 15 – Guiné> Bissau> Parque Teixeira Pinto> 1970; Os Imãs sob um manto fazem as preces finais e segue-se “Assalá Alaikum warahmatlláh” a paz e a misericórdia de Deus estejam convosco. Terminado o ciclo, todos os Crentes levantam-se e dizem Alláhu Akbar (Deus é Grande)

Foto 16 – Guiné> Bissau> Avenida Teixeira Pinto> 1970; “Mindjeres garandis e bajudas,” ostentam neste dia os seus melhores trajes.

Foto 17 – Guiné> Bissau> Avenida Teixeira Pinto> 1970; “Péssoal vem di manga di ronco” e ostentam os seus melhores trajes.


 

Foto 18 – Guiné> Bissau> Avenida Teixeira Pinto/Rotunda da Sacor> 1970; Homem Garandi nha manga di djubis, vindos da Festa e com as suas melhores vestes.

Como leigo, mas tentei ser preciso e com siso, e, não melindrar qualquer sensibilidade.

Foi minha intenção dar tanto quanto possível um contributo, como sinal de amizade e reconhecimento mútuo. Tentando apresentar a cronologia dos slides de forma acertada, ao que for menos bem submete-me e “járami ánâni” obrigado está bem. Com abraços para todos e extensíveis a Bissau, Arménio Estorninho 1º Cabo Mec Auto Rodas da CCAÇ 2381

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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

23 de Agosto de 2010 >

Guiné 63/74 - P6889: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (17): Fotos da disposição dos edifícios do aquartelamento de Empada

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6889: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (17): Fotos da disposição dos edifícios do aquartelamento de Empada

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 22 de Agosto de 2010:

Camarada e amigo Carlos Vinhal,
Renovadas saudações guinéuas.

Estando a preparar um trabalho sobre fotografias, a fim de mostrar o Aquartelamento de Empada e o seu perímetro, e, de como se apresentava no pretérito ano de 1969, deparei-me com a leitura do texto inserido no Poste 6866, da autoria do ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, José Pinto Ferreira, CCS/Bcaç 237 que se enquadra nos acontecimentos havidos no principio da subversão na Região de Quinara, nas Penínsulas de Cubisseco e de Pobreza (Darssalame, Caur, Cubisseco, Iangué, Pobreza, Canchungozinho e Empada).

Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”


AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUERRA (17)

Fotos da disposição dos edifícios do aquartelamento de Empada

Assim, tendo a CCaç 2381, em 01/05/69 assumido a responsabilidade do Subsector de Empada e para melhor se compreender no mesmo a situação do In, necessário se tornara ainda que sucintamente, estudar a evolução do desenvolvimento da subversão no seu início. Para isso foi estudada toda a documentação existente na Unidade e no Posto Administrativo, além de terem sido ouvidos os elementos da população de há muito radicados em Empada e que foram protagonistas ou, pelo menos, testemunhas dos factos.

Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap. Inf. José dos Santos C. Curto. E, também da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap. Inf. Carlos F. Delfino.
“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
Entre outros fora o guerrilheiro Nino que escolhera refugiar-se no mato, ouvia-se dizer por ele ser de Empada e que ali tinha familiares não se lhe oferecia a flagelações.

Logo que eclodiu o terrorismo através de vicissitudes e peripécias várias. Assim, como nas Tabancas não controladas pelas NT, eram efectuadas operações com o fim de identificar elementos suspeitos de serem simpatizantes do PAIGCC. Da documentação existente tomou-se também conhecimento que houve destruição da nossa parte de Tabancas que apoiavam o In, destruição de Tabancas que nos apoiavam por parte do In, os campos foram-se a pouco e pouco estremando, refugiando-se a população que nos era favorável em Empada e arrebatando o inimigo para fora do nosso alcance as restantes populações, refugiando-se e organizando-se nas zonas da Península da Pobreza (Darssalame, Iangué, Aidará, Cã Beafada e Cã Balanta).

O In organizava-se fortemente nas regiões antes referidas, criando uma organização politico-administrativa suficientemente forte para controlar totalmente a população, doutriná-la e mentalizá-la, enquanto abria escolas, embora de baixo nível, e procurava dar à população uns rudimentos de assistência sanitária, com estabelecimento de enfermarias, que, embora de fraco valor intrínseco, não deixava de constituir elementos preponderantes de uma propaganda insidiosa.

Sabe-se que o In em Iangué se encontrava preso de um forte e estranho fanatismo, que o levava a lançar-se contra as NT sem qualquer receio de morte. Grupo In de 04 elementos ataca com pistola-metralhadora, avançando a peito aberto. Supondo-se que tal fanatismo se deve ao facto do responsável político da Pobreza “Né Né”  ter sido criado e educado por um antigo Chefe de Posto, aposentado, que se julga ter sido Pastor Protestante e foi tomado como tendo ligação com os terroristas. Contam-se “estórias” havidas sobre este e outros elementos, mas não consta quem as autorizou e/ou provocou. Em principio “Né Né” refugiou-se no mato como Aníbal, deve ter jurado “Ódio eterno aos Portugueses.” Este facto é subjectivo mas atribui-se-lhe grande valor.

Constatando-se que a área do Subsector de Empada coincide em linhas gerais, com a do Posto Administrativo, fácil nos é apreciar recorrendo aos arrolamentos existentes antes da subversão e verificar a situação desfavorável em que ficamos.
Segundo dados de 1963 o número de contribuintes era de 2388 e o total de habitantes com mais de 16 anos 8827. Por conseguinte quando efectuado este estudo existiam do nosso lado 437 contribuintes, sendo o número de habitantes das condições anteriormente expressas de 2798.

Verificamos assim facilmente que apenas 1/6 dos contribuintes e 1/4 da população estão controlados por nós. Por outro lado embora a área efectivamente patrulhada pela Unidade seja de 1/3 da área total, tendo o In se refugiado nas zonas agricolamente ricas e onde pode facilmente subsistir e apoiar outras regiões.
A população de Empada é na sua maioria de etnia Biafadas, apresentando no entanto também Mandingas, Fulas, Manjacos e algumas famílias dispersas de Balantas, Bijagós, Papéis e Mancanhos.

Assim, foram apresentados dados sobre um estudo feito em Empada, em 1969 e que serve para um melhor conhecimento do início da subversão (1963) nas penínsulas de Cubisseco, da Pobreza e área de Aidará, na Região de Quinara.

Do Aquartelamento de Empada – Região de Quinara, ano de 1969, o que me oferece apresentar são uma resenha de fotos da existência e da disposição dos edifícios contidos, bem como a sua zona limítrofe.

Foto 1 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Porta de Armas do Aquartelamento e casernas dos Praças.

Foto 2 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de Messes e Camaratas de Oficiais e Sargentos, e Comando. Ao fundo no centro/esquerda, vimos o Rio Buba e a zona do Cais.

Foto 3 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas virada ao exterior e Escola Primária.

Foto 4 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas, edifício prisional em construção e Enfermaria Militar. Ao fundo caminho para a Pista e Cais, e ao lado uma Tabanca.

Foto 5 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de casernas, cantina, arrecadações, balneários e no extremo direito o refeitório dos Praças.

Foto 6 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, foto tirada no lado oposto dos edifícios mostrados na foto 5.

Foto 7 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Um dos sete abrigos tipo, dispersos pelo Aquartelamento e perímetro da Povoação.

Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > No perímetro do Aquartelamento, a Capela Campal, o espaldão de morteiro 81 mm e um abrigo

Foto 9 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Limite da Aquartelamento com duas fiadas de arame e pequena Tabanca.

Foto 10 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Parque da Oficina Auto e no exterior moranças ladeando a dita avenida.

Foto 11 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Posto de Assistência Médica e dada pelos Militares Enfermeiros e outros.

Foto 12 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Avenida que em tempos fora iluminada e apresentava-se ladeada por moranças.

Assim, foram compiladas transcrições de documentos, ouvida a população e feita esta crónica, quanto às fotos do Aquartelamento de Empada, a muitos irá avivar a memória recordando alegrias e tristezas ali passadas.

Nomeadamente a Cart 2673 “Leões de Empada,” que renderam a CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada,” em 24 de Fevereiro/70 passaram um mau bocado tendem sofrido várias baixas.

Camaradas estive onde vocês estiveram, andei por lugares que também andaram e apresento o que vocês encontraram à chegada. Não nos encontramos e deve-se ao facto de eu antecipadamente seguir para Bissau em 15 de Janeiro/70.

Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6865: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (16): A chegada à Guiné e a terras de Ingoré