1. Mensagem de Arménio Estorninho (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381,Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2011:
Camarigo Carlos Vinhal, cordiais saudações guinéuas.
Comentando “estórias” da sorte e das vicissitudes do Soldado Alzira que fez parte dos efectivos da CCaç 2381, Guiné 1968/70, e que teve
presença efémera no Teatro Operacional.
Com um forte abraço do tamanho do Rio Corubal.
Arménio Estorninho
Ex-1º Cabo Mec. Auto, C.Caç.2381 “Os Maiorais”
AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUERRA (20)
Coluna auto de Aldeia Formosa ao Saltinho
Situações passadas durante uma coluna, efectuada no segundo semestre do ano de 1968 no troço Aldeia Formosa – Contabane – Saltinho - Aldeia Formosa. Com a valia de imagens de parte do que eu vi, em que o seu uso foi devidamente autorizado, pelo ex-Capitão Carlos Nery, Cmdt da CCaç 2382 e pelo ex-Fur Mil Mec José Luís Reis, CCaç 2701, Saltinho 70/72, que foi meu colega de Curso na Escola I. C. de Silves.
Sendo o dispositivo das forças de 01 GRCOMB da CCaç1792, 01 GRCOMB da CCaç 2381, 01 Esq do Pel Mort 1242, 01 Sec Fox 2022 e 02 Sec do Pel Caç Nat.
A deslocação ao Aquartelamento do Saltinho tinha o fim da entrega de uma viatura, de um motor e de equipamento diverso.
A operação deu-se num dos primeiros dias do mês de Agosto, quando eram cerca das 07h e 30m, saindo de Aldeia Formosa pela estrada que tinha inicio na pista de aviação e na coluna seguiam 06 viaturas. A escolta militar dispunha-se de forma em que na frente seguiam 02 Secções a picar, 02 Secções nos flancos conjuntamente com guias Caç Nat e os restantes distribuíam-se na protecção às viaturas.
A progressão decorria cadenciadamente com as viaturas a trilharem a picada, que desde o abandono de Contabane pelas NT e população, a mesma não era usada. Assim, havia forte suspeição da existência de engenhos explosivos.
Foto 1 - Guiné> Região de Tombali> Contabane> 1968 > Parte da Tabanca de Contabane, verificando-se a estrada que passa de permeio e em direcção ao Saltinho.
Com a devida vénia para a Enfª Pára-quedista Ivone, por ter obtido este recorte fotográfico e assim como ao Camarigo ex - Cap. Carlos Nery, Comandante da CCaç 2382, por autorizar a extrair a foto do P6489 e facilitando o seu uso.
Deu-se a passagem por Contabane, que apresentava um estado de destruição das instalações militares e da Tabanca, após o ataque IN, em 22/06/68. Tendem ficado quase reduzidos a escombros, ainda se viam de pé a Mesquita e algumas moranças. Ao tempo, a defesa era composta pela CCaç 2382 e por Caçadores Nativos, que após os acontecimentos efectuaram a total evacuação para Aldeia Formosa.
Foto 2 – Guiné> Região de Tombali> Contabane> 1968 > Como eu vi as moranças incendiadas e reconhecendo-se a Mesquita.
Com a devida vénia, para a Enfª Pára-quedista Ivone e para o ex - Cap. Carlos Nery, pela autorização de extrair a foto do P6479 e facilitando o seu uso.
Antes de chegarmos ao Saltinho, ao prosseguirmos por uma clareira deu-se um estrondo seguido de um matraquear de batidas e com imenso fumo na frente de uma viatura. Fica no ar uma suspeição, que a viatura teria accionado uma mina AP. A coluna fez alto.
Foram tomadas as providências, seguindo próximo da viatura imobilizada fui dos primeiros a chegar junto e verificando que o Soldado Alzira era quem a conduzia.
Logo, chega o Cabo Enfermeiro, não havia feridos mas dois militares estavam todos sarapintados de negro. Os picadores que seguiam na frente de imediato compareceram, para tornarem precauções e confirmaram não haver necessidade.
Foto 3 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Vista para a margem oposta ao Quartel, Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal.
Foto gentilmente cedida pelo o ex-Fur Mil Mec José Luís Reis, CCaç 2701.
Como estávamos próximo do Saltinho, parte do dispositivo da coluna estacionara enquanto a outra parte seguira para o objectivo e feita a entrega, suponho, que à CCaç 2406. Iniciando-se o retorno com o reagrupamento, chegamos a Aldeia Formosa. A coluna realizou-se sem outro qualquer outro incidente, não sendo detectado engenho explosivo e nem havendo contacto com o IN.
Foto 4 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Belo recorte que eu apreciara do Rio Corubal, tende pela dirt. a Ponte submersível, pela esq. a Ponte Craveiro Lopes e na margem direita o Aquartelamento do Saltinho.
Foto gentilmente cedida pelo ex-Fur Mil José Luís Reis, CCaç 2701.
A causa da avaria foi, ter-se desapertado os parafusos da chumaceira da cabeça de uma biela do motor obrigando esta a desprender-se da cambota. No movimento de rotação, a cambota levou a biela ao impacto no bloco, partindo-o. Da fenda emanava óleo que em contacto com as peças mecânicas da zona do motor que estavam a alta temperatura, dai adviera uma fumarada e que exalava imenso cheiro a óleo queimado.
A viatura estava distribuída a um Soldado, que no momento não a conduzia, devido a que o Soldado Alzira tinha-lhe solicitado para o substituir na condução e aquele não se fazendo rogado cedeu-lhe o lugar (tendo-me apercebido da situação).
Lembrando, que numa coluna auto o lugar do condutor era deveras dos mais perigosos, dadas entre outras situações as minas AC e/ou os fornilhos.
Foto 5 – Guiné> Região de Bafatá> Mampatá – Saltinho> 1970 > Sentado na cabine o Fur Mil Mec José Luís dos Reis, de pé o Fur Mil Pires e a clicar para recordar, ambos são da CCaç 2701.
E agora a moral da “estória". Pela situação de avaria da viatura, teria de haver relatório e quem a conduzia não estava habilitado para o efeito. A fazer-se participação da ocorrência, seriam levantados processos disciplinares a ambos os militares por indisciplina e uso com prejuízo da fazenda militar.
Tendo eu feito ver a ambos o acontecimento, que o mesmo iria proporcionar uma situação gravosa, por isso teríamos de dar a volta ao texto. Assim, fazíamos um pacto em que eu nada vi e o relatório da avaria era feito de forma de quem tinha a viatura distribuída era quem a conduzia. Tudo acertado e ficamos mais amigos.
Da minha parte o segredo ficara até hoje, ao Comandante da CCaç 2381 ao tempo, Capitão Jacinto Aidos (hoje Coronel na Reserva) que desculpe o seu subordinado pelas “trocas e baldrocas” e dado que aquela avaria se daria em qualquer momento.
O Soldado Alzira ficou feliz, como gostava de cantar o fado e então era o ex-1.º Cabo Franklin (paz à sua alma) dando os seus belos acordos de guitarra portuguesa e havendo festa rija. Eu, com a minha guitarra dava uns toques e só atrapalhava o andamento da música.
Foto 6 – Guiné> Região de Bafatá> Saltinho> 1970 > Ponte Craveiro Lopes sobre o Rio Corubal, zona balnear do Saltinho em que o ex-Fur Mil Mec José Luís dos Reis, CCaç 2701, está a saltar para a fotografia.
27 de Agosto/68:
Durante uma coluna Aldeia Formosa – Nhala - Buba, foi accionada uma mina AC por uma viatura que ficou destruída, provocando ainda um ferido às NT.
Quando se procedia à reparação do pontão de Uane, foi deflagrada uma mina AP por um elemento das nossas forças, que o feriu gravemente. Tratou-se do Soldado Alzira, que pisara e accionara a dita mina, tendo-lhe causado a perda de um pé.
Solicitada a evacuação por meios aéreos (Helicóptero Alouette III), chegado, o piloto disse que não havia condições (tecto) naquele local para a evacuação dos feridos (TEVS) e que a mesma só seria possível em Nhala. Dado que se estava em época das chuvas, nas bolanhas as viaturas ficavam em atoleiro diversas vezes o que retardava a progressão da coluna.
Era premente a evacuação do ferido devido à perda de sangue, tendo por isso 01 GRCOMB da CCaç 2382, que dava apoio logístico, vindo de Nhala ao encontro da frente da coluna e imediatamente regressara levando os feridos.
E assim, se salvou o Soldado Alzira, que posteriormente foi evacuado para a Metrópole. Ficou grato à Companhia irmã, a CCaç 2382 e à Força Aérea por assim ter saído daquele inferno.
É do conhecimento, que o Alzira continua alegremente a cantar o Fado pelas Casas de Lisboa.
Com um forte abraço do tamanho do Rio Corubal.
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto,
CCaç 2381 “Os Maiorais”
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7369: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (19): Factos mais importantes da CCAÇ 2381 no Subsector de Aldeia Formosa
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Achei muito interessante o teu relato da coluna de Aldeia Formosa para o Saltinho, tanto mais que, quando estive em diligência na CCAÇ2701(1970/72), o itinerário já tinha sido abandonado. Gostei especialmente das fotos do teu antigo colega de curso José Luís Reis, que tive o prazer de conhecer no Saltinho. Ainda hoje acho que o Reis conseguia ser mais maluco do que eu. Hei-de escrever cá no blogue sobre o meu grupo de caça à lebre, do qual fez parte o Reis, que com os seus dotes de improvisação e conhecimentos "electro-mecânicos", foi peça importante no lançamento da "modalidade"
Mário Migueis
Irmão Maioral. Creio que te esqueceste de um dado muito importante ao contares o acidente do Alzira (alcunha). Havia uma GMC em Aldeia Formosa batizada com o nome de Alzirinha. Ora o Alzira apaixonou-se pela alzirinha e mais uma vez se desenfiou da coluna ( Não tinha viatura distribuída alinhando como atirador) e pediu ao condutor da dita para o deixar conduzir a GMC. Quando se dá o rebentamento da viatura da frente o Alzira ao saltar abaixo da Alzirinha pisou a " víuva negra" que lhe arrancou uma perna.
e... acabou-se a guerra para Alzira. A alzirinha, essa ainda foi vista no activo em 1973 em Aldeia Formosa.
Olá Camarigos, saudações guinéuas.
Ao Mário Migueis, digo que não fiz mais que um pequeno comentário sobre alguns acontecimentos e que foi-me dada a oportunidade de conhecer Contabane e o Saltinho.
Quanto ao n/amigo Zé Luis, tenho que ir à vila de Porches para o forçar a escrever e já fez a leitura do Poste porque tem um computador, mas não é para toda a obra.
Irmão Maioral Zé Teixeira, o que escreves reforça a minha crónica.
Eu era da ferrugem, não pretendi foi alongar-me sobre a apetência do "Alzira" para conduzir viaturas mesmo não tendo nenhuma distribuida e como em regra acontecia aos voluntários teve a sua sina.
Com um abraço
Arménio Estorninho
Olá Camarigos, saudações guinéuas.
Ao Mário Migueis, digo que não fiz mais que um pequeno comentário sobre alguns acontecimentos e que foi-me dada a oportunidade de conhecer Contabane e o Saltinho.
Quanto ao n/amigo Zé Luis, tenho que ir à vila de Porches para o forçar a escrever e já fez a leitura do Poste porque tem um computador, mas não é para toda a obra.
Irmão Maioral Zé Teixeira, o que escreves reforça a minha crónica.
Eu era da ferrugem, não pretendi foi alongar-me sobre a apetência do "Alzira" para conduzir viaturas mesmo não tendo nenhuma distribuida e como em regra acontecia aos voluntários teve a sua sina.
Com um abraço
Arménio Estorninho
o meu pai foi 1 cabo Correia no pel mort 1242 entre 67e69
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