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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19068: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLV: Quando as nossas viaturas blindadas Daimler tinham nomes de mulheres, Vera, Luisa...


Foto nº 10


Foto nº 9


Foto nº 8


Foto nº 2


Foto nº 2A


Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 1


Foto nº 3


Foto nº 6


Foto nº 4


Foto nº 7

Guiné > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e Dão Domingos, 1967/69) >  Viaturas blindadas Daimler

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 90 referências no nosso blogue.


  Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T102 – OS BLINDADOS DAIMLER

PELOTÕES DE AUTO METRALHADORAS LIGEIRAS Nº 1129 e nº 1143
– NOVA LAMEGO, CACHEU E SÃO DOMINGOS


I - Anotações e Introdução ao tema:

Este tema pretende mostrar as fotos e protagonistas, das chamadas AML, que também eram conhecidas por Carros Blindados Ligeiros, as quais fui observando ao longo da minha estadia, primeiro em Nova Lamego, onde existiam 2 Pelotões, e que também as vi no Quartel do Cacheu, e em São Domingos, onde apenas existia uma unidade.

Em Nova Lamego, era um Blindado que não passava despercebido, pois em cada coluna que saia da Sede do Batalhão, iam sempre acompanhadas por pelo menos 2 unidades, em especial nas colunas para o Cheche e Madina do Boé.

Muitas se ficaram pelos caminhos, na sequência de rebentamentos de minas, e emboscadas a colunas, elas ficavam em parte nas estradas, e algumas iam encher o ‘cemitério de viaturas’ na sede em Nova Lamego.

Tive grande cumplicidade com todos os elementos destes pelotões, conhecia os camaradas todos, mas só me lembro de um condutor, o Fiúza, que aparece a segurar um cadáver de um terrorista morto, na sequência da morte do alferes Gamboa, numa emboscada entre Nova Lamego L e Piche, por onde passei algumas vezes.

Sinto a tal nostalgia destes pequenos blindados, pois lembra-me sempre as colunas para Madina, e as lembranças do passado trágico.

Existia no início, em Setembro de 67 e talvez até Dezembro de 1967, o Pelotão [Pel Rec Daimler] 1129, julgo que são aqueles que aparecem nas primeiras fotos em Nova Lamego. Duas são festas de confraternização, e podem ter tido como motivo, a sua despedida do sector, mas não tenho certeza nenhuma.

Depois julgo que teriam saído da zona ou do Sector, e aparece o Pelotão  [Pel Rec Daimler] 1143. Eu julgo que deverá ter chegado a quando da nossa saída de Nova Lamego em Fevereiro de 68, e o Alferes que comandava este Pelotão deve chamar-se Nobre.

Esse camarada, que eu o conheci em Nova Lamego, por pouco tempo, acabei por encontrá-lo em Vila do Conde, nos anos 70 ou 80, não sei. Conheci-o perfeitamente, e um dia, passados muitos anos, talvez há uns 10 anos atrás, cheguei à conversa com ele, disse que o conhecia de Nova Lamego, das Daimler, e que foi ainda comandado algum tempo pelo BCAÇ1 933, como consta na HU, mas ele, não sei por que razão, insistiu que esteve em Nova Lamego, na mesma época do que eu, não me conhecia, e insistiu que pertenceu ao outro Batalhão que nos foi render. Face a tantas evidências, não sei porquê, ficamos cada um com a sua opinião. Não sei se está complexado por pertencer à Igreja cá do Local, e ser um daqueles – não sei o nome - que também dão a hóstia no fim da missa, é ajudante do prior, mas a mim não, só fui umas vezes, ele só disse que se chamava Alferes Nobre, mais nada.

Alguns blindados têm nomes escritos, não sei se são de origem, ou foram baptizados pelos seus condutores e a tripulação. Uma tem o nome de Vera e outra de Luísa.

Este último está no cemitério de viaturas, pois foi danificado por minas A/C.

Algumas destas fotos podem já ter sido publicadas, no âmbito de outro tema, mas não encontro nada a este respeito, pelo que peço desculpa pela sua repetição infundada.

Todas estas fotos foram cedidas para a publicação de um livro sobre ‘Os Grandes Veículos Militares Nacionais’, editado em Abril deste ano, e já esgotado e com nova edição a sair até ao final do ano. Foi um orgulho para mim ter fornecido essas e outras fotos para o livro, de um total de cerca de 40 foram editadas 7 das minhas, a maior participação individual no livro.

II – As Legendas das fotos:

F01 – Festa de confraternização entre os elementos do Pelotão Daimler.

Encontro-me eu, de camisa branca, sentado em cima de uma Daimler, o alferes, comandante do Pelotão, cujo nome não sei, o 3º de óculos da esquerda para a direita, o soldado condutor Fiúza, em pé no extremo direito de braços abertos, entre outros militares. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 67.

F02 – Junto de uma Daimler – a Luisa – que tinha sido atingida por uma mina A/C. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 67.

F03 – Outro aspecto da confraternização referida na foto F01, com a malta das Daimler. Além dos já referidos, está de novo um casal, é o sargento do Pelotão e a esposa dele. Foto captada em Nova Lamego, em Novembro de 67.

F04 – Junto a uma Daimler de nome Vera, nas oficinas mecânicas do Batalhão. Nova Lamego, 1967.

F05 – Cemitério de viaturas, entre as quais algumas Daimler. Nova Lamego, 1967.

F06 – Um blindado Daimler, fazendo a segurança na pista de Nova Lamego, a um avião Dakota e à sua tripulação. Foto captada em Nova Lamego, no 4º trimestre de 1967.

F07 – O soldado Fiúza, condutor de Daimler, junto ao cadáver de um guerrilheiro morto, segurando a cabeça com a ajuda de outro militar. Penso que foi este soldado que esteve na operação que deu origem a esta morte do IN. Foi na sequência da emboscada onde o IN numa emboscada causou a morte ao nosso camarada ex-alferes Gamboa. Foto captada em Nova Lamego, em 14 de Dezembro de 1967.

F08 – Junto a um blindado Daimler no Quartel do Cacheu, no 1º semestre de 68.

F09 – Junto a um blindado Daimler no Quartel do Cacheu, no 2º semestre de 68.

F10 – Junto a um blindado Daimler e Posto Administrativo da cidade de Cacheu. Foto captada no Cacheu, no 1º semestre de 1969.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

Nota final do autor:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘juízos de valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.

terça-feira, 19 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16317: Controvérsias (132A): Quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto... A morte do comandante Mamadu Cassamá,e as viaturas blindadas, em Copá, em 7/1/1974 (confrontando duas versões, a do guineense Bobo Keita, "o comandante dos tanques anfíbios" e a do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera)

1.  Depoimento de Bobo Keita, comandante do PAIGC (1939-2009) sobre a morte de Mamadú Cassamá(*), em Copá, em 7/1/1974:


"Mamadú Cassamá morreu no ataque a Copá. Tomei parte nesse ataque, juntamente com o camarada Paulo Correia. O Mamadú era dos que ainda acreditavm na 'força' dos amuletos... Avançou muito e foi até aos arames  que circundavam o quartel,  Pegou nos arames e fez força para os arrancar. Foi localizado e um tiro cverteiro silecncoiu-o de vez. O Mamadú Cassamá era o camdante daqule zona".

In: Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes. p. 244.


Bobo Keita, já antes, noutra passagem se tinha referido a Copá e à utilização de viaturas blindadas;(p. 193):

"Para o assalto a Copá, que fica a uns trinta quilómetros da cidade senegaleas de Wassadou,  peguei em dois dos meus tanques (sic), constitui um comando e fomos à emboscada.  A operação em Copá contou com Quemo Mané, comandante de infantaria. Copá também não foi fácil para os tugas, Alinhámos um número razoável de combatentes, menor que Guileje e Guidaje, e o objetivo era o de isolar os colonialistas. A tomada do quartel não nos interessava, queríamos somente convencê-los  de que não tinham mais nenhuma escapatória e que deviam partir da nossa terra".

Infelizmente, Norberto Tavares de Carvalho, nas longas conversas com Bobo Keita, não explorou devidamente o fato de este ter sido nomeado, ainda em vida de Amílcar Cabral, " comandante dos tanques anfíbios" (sic) ou   "chefe dos blindados",  em substituição do Inocêncio Cani (1938-1973), antigo comandante da marinha do PAIGC, que iria ser o carrasco do  líder do PAIGC, em 20/1/1973 (vd. pp. 165 e ss.)...

No início do cap. XII, pode ler-se (p. 177): "Depois do funeral do Amílcar, realizado no dia 1 de fevereiro de 1973 em Conacri, fui tomar conta dos tanques anfíbios (sic)", tendo seguido depois  "de Boké para o Leste em março de 1973".

Em conclusão: o PAIGC já tinha viaturas blindadas anfíbias e vai usá-las contra Copá, em janeiro de 1974, de acordo com o testemunho (insuspeito) do nosso camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá (*). 

Mas fica a dúvida por esclarecer:  o PAIGC  tinha duas ou mais "viaturas blindadas" de tipo anfíbio  ? Eram mesmo do PAIGC ? Ou eram emprestadas pelo Sékou Touré ? Seriam do tipo  BRDM-2 ? Se sim, por que é que o Bobo Keita não se faz transportar nelas,  na "viagem triunfal" até Bissau,  em setembro de 1974 ?

2.Excerto de: Ramón Pérez Cabrera - "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), p. 1979


[Com a devida vénia...Sublinhados nossos] [Extensas partes do livro podem ser consultadas, em modo de pré-visualização, no portal da Kilibro]


3. Aristides Ramón Pérez Cabrera (n. 1939) não é nem jornalista nem historiador, e muito menos um investigador independente.  É um "homem de partido", é um homem do regime castrista, que chegou ao comité central do Partido Comunista, pelo que se não pode esperar do seu livro "La historia cubana en África", publicado em 2003, uma obra isenta, objetiva, imparcial, crítica, etc. Tal como muita da tralha "chauvinista", "trauliteira e patrioteira" que todos  nós escrevemos e continuamos a escrever sobre o glorioso passado dos nossos países europeus (nós, os portugueses, os espanhóis, os franceses, os ingleses, os alemães, os italianos, os suecos, os russos, etc.).

Muito menos foi, tanto quanto sei, o nosso Cabrera,  um combatente "internacionalista" que tenha arriscado o coirão nas bolanhas da Guiné ou nas savanas do sul de Angola... Os elementos que juntou para escrever "La historia cubana en África" e as informações que publicou, devem ser tomadas com as naturais reservas... É um trabalho de pesquisa bibliográfica e de recolha de testemunhos, que tem alguém interesse documental.  

Não tendo formação (científica) em história, é natural que corra o risco de descambar para o panegírico, a propaganda, a tirada patrioteira, sem grande preocupação com o rigor factual e o respeito pela verdade, o contraditório, a triangulação, a exploração  de outras fontes documentais, etc.

É o caso, por exemplo,   do nome do comandante das forças que atacaram Copá em janeiro de 1974... O homem que morreu em 7/1/1974 não era Mamadou Cassamba (sic), mas sim Mamadu Camassá... E não terá morrido a tripular uma das "quatro" (sic)  viaturas  blindadas BTR (ou BRMD) que o PAIGC não devia ter na altura, mas sim de um tiro certeiro, talvez no coração ou noutro órgão vital... disparado pelo nosso António Rdorigues ou algum outro dos bravos de Copá.

O Ramón Pérez Cabrera estava a milhares de quilómetros de distância, provavelmente em Havana, não viu o horror e o heroísmo desses dias em Copá, nem cita fonte idónea... Inclino-me mais facilmente para aceitar, como versosímil,  a versão do  Bobo Keita, que afirma ter estado em Copá nessa noite, tal como o comandante da Frente Leste, o Paulo Correia, valente guerrilheiro balanta, com várias  e importantes funções políticas a seguir à independência, que irá morrer muito mais tarde, em 1986, fuzilado, depois de barbaramente torturado  pelos esbirros do 'Nino' Vieira, na sequência de uma inventona....

Enfim, tudo indica que o  Cabrera, ingénua ou deliberadamente,  terá inventado um versão "heróica" para a morte (estúpida) de um comandante de guerrilha que nem sequer devia ter "carta de condução" de BTR (ou BRDM)... 

Aliás, o Bobo Keita, velha glória do futebol no tempo dos "tugas", não parece ter grande consideração pelo seu camarada Mamadu Cassamá: dele diz, com ironia, que  "era dos que ainda acreditavam na 'força' dos amuletos", a exemplo do próprio 'Nino' Vieira (leia-se, dos "mésinhos" que tornavam o "corpinho de bó" impenetrável às balas do "tuga")...

Moral da história: quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto...  LG

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Vd. poste anterior:

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16315: Controvérsias (132): Blindados do PAIGC? Não os vi em Jemberem, ninguém os viu em Bissau, Gadamael, Cacine, Mansoa, etc... aquando da transferência dos nossos aquartelamentos, o que seria normal e expectável se o PAIGC os tivesse... (Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CART/BART 6520/73 e CCAÇ 4641/73, Jemberem, Mansoa e Bissau, 1974)

1. Comentário, ao poste P16309 (*), do nosso camarada Joaquim Sabido

[foto à direita, abaixo: Joaquim Sabido, ex-alf mil art, 3.ª CArt/BArt 6520/73 e CCaç 4641/73, Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974);  foto à esquerda: Joaquim Sabido, hoje, advogado, a viver em Évora;  é nosso grã-tabanqueiro desde 24/8/2010; tem uma dezena de referênciasno nosso blogue]



No meu modesto entendimento, este tema encontra-se estreitamente ligado à questão da "guerra perdida vs. guerra ganha".

Naturalmente que não podemos nunca deixar de equacionar que a situação não se poderia eternizar. Por vezes, há camaradas que aqui vêm quase pedir contas àqueles que, como eu, nos encontrávamos no TO do CTIG a 25 de Abril de 74 e que entregámos o território. Sinto-me quase na obrigação de pedir desculpa por ter nascido mais tarde e, por isso, de lá estar no ano de 1974 e não antes.

Quanto à temática dos blindados no terreno. Nunca dei conta de tal e, à época da alegada aparição de viaturas blindadas, estávamos, precisamente, em Jemberém. O buraco a que se chamava quartel, era mesmo em cima de uma estrada que foi alcatroada e que ia até Cadique (isso eu sei) e diz-se que fazia ligação com a Guiné Conakry (isso eu não sei).

Mas blindados só se eram como os que alegadamente o Sadam teria no Iraque.

De facto, o pessoal até dizia que os ouvia o IN noite dentro a circular. Isto apesar de lhes explicar e demonstrar que aquilo que efectivamente escutavam, com maior nitidez durante a noite, como é óbvio, tratava-se, a final da maré a encher ou vazar no braço de mar que ia ter ou que vinha do Cacine e que se situava a cerca de 3 kms do aquartelamento.

Estou certo de que se tratava, mais de um mito "urbano". No mato nunca tal foi avistado.

Nem, posteriormente, em Bissau, ouvi a nenhum dos elementos do PAIGC com os quais contactei - por razões de passagem de testemunho da guarda ao Palácio do Governador e outras actividades de segurança na cidade - falar desse material de guerra.

Senão atentemos que, por exemplo, quando lhes foi entregue Gadamael, Cacine, Mansoa ou até mesmo Bissau, apareceu algum desse equipamento? Não seria de bom tom, se tivessem esses blindados, que os viessem apresentar? Parece-me que a resposta só pode ser que sim, que apareceriam com eles.

Então no relato do tal cubano [, Ramón Pérez Cabrera,] não se diz que se deram ao trabalho de resgatar o blindado inutilizado pela mina? Teriam lá também o reboque do ACP?

Num dos almoços do BART 6520/73, é que o meu Camarada Eiras (de Bragança e fur mil de transmissões da minha 3.ª CART) me recordou uma situação por ele vivida em Bissau, e que passo a relatar:
No quartel onde ele se encontrava colocado,  depois de termos regressado de Jemberém, e estando ele na parada,  acompanhado do seu adjunto também em Jemberém, o cabo das transmissões, foi abordado por dois elementos do PAIGC, e que lhes disseram de imediato: "Vocês estavam em Jemberém, não estavam?" A resposta não podia deixar de ser afirmativa.

Acontece que um desses elementos que até nem falava português, apenas o crioulo, disse através do outro que o cabo de transmissões, uma vez no cais de Jemberém, tinha tido a arma apontada à cabeça quando se encontrava em cima de uma Berliet - numa situação de reabastecimento e no transbordo da LDP (era só o que lá chegava).

Isto porque o nosso cabo de transmissões era facilmente reconhecido e identificável devido a umas malhas brancas que, aos 21 anos, já tinha no cabelo.

Concluíram dizendo que não dispararam nem nos atacaram ali, porque tiveram medo e não eram muitos, estavam a recrutar pouco. Afinal também tinham medo.

E estamos a falar de uma base importante na região, esta que eles tinham ali ao nosso lado. Que ao que se dizia até tinha hospital.

E cubanos também, meu caro Pereira da Costa. Sendo certo que entendo perfeitamente o que dizes e a vossa posição. E, pessoalmente, agradeço pelo 25 de Abril. Apesar dos níveis de adrenalina a que aquela terra, a guerra e o embrulhanço nos levavam, não podíamos manter a situação por muito mais tempo. Por esse andar já lá tinha ido o meu filho e um dia deste ia o meu neto. Não!

Concluindo: blindados nem vê-los. Estávamos à espera que entrassem por ali dentro e levassem as três fiadas de arame farpado que por lá tínhamos. Mas não.

Um grande abraço para todos e continuo a partilhar e a concordar com as opiniões expendidas nos textos (as quais já tive oportunidade de escutar atentamente e de viva voz) do nosso camarada e amigo AMM (*).

Joaquim Sabido


Uma das raras fotos de viaturas blindadas, alegadamente ao
ao serviço do PAIGC no final da guerra. Foto (pormenor) do
Arquivo Mário Pino de Andrade / Casa Comum /
Fundação Mário «Soares.
 Clicar aqui para ver o original
2. Comentário do nosso editor LG (*):

No Arquivo Amílcar Cabral, tratado e disponibilizado para o grande público pela Fundação Mário Soares, no portal Casa Comum, não há qualquer referência a viaturas blindadas entregues pelos russos no porto de Conacri... Estamos a falar de 10 mil documentos, que abrangem todo o período da guerra de "libertação",,,

Até finais de 1971, a ex-União Soviética só fornecia armas automáticas, RPG 7, munições, fardamento, medicamentos e coisas assim... E mesmo assim era preciso negociar com o "ciumento" Sekou Touré... que não perdoava a Amílcar Cabral o crescente prestígio e protagonismo a nível internacional e o leque de alianças e apoios (que ia da Suécia à China)...

Felizmente para nós, parte do armamento e das munições deviam ser "obsoletos"... São os próprios e "insuspeitos" cubanos que dizem que 40% das granadas lançadas contra Copá em janeiro de 1974 não rebentavam!... (As culpas tanto podiam ser dos fabricantes como, mais provavelmente, das condições de transporte, armazenamento e operação).

BRDM para o Amílcar Cabral? Devem ser fantasias dos burocratas da 2.ª Rep, para justificar o seu ordenado ao fim do mês e as horas de tédio (e de algum cagufe) passadas em Bissau... A gente sabe como funcionava a nossa "intelligentsia" na Guiné, incluindo os "broncos" da PIDE/DGS... que tinham a 4.ª classe mal tirada...

O PAIGC nunca teve, ao que parece, este tipo de veículos... Os russos terão oferecido, em 1969, 10 BRDM-1 (5 toneladas e meia + 4 tripulantes e depósito de 150 litros de gasolina)... "Sucata" que o Sekou Touré poderá ter disponibilizado, depois da morte de Amílcar Cabral, aos homens do PAIGC... que ele precisava de controlar... Mas aquela viatura devia gastar 100 aos 100!...

Como é que vocês queriam vê-la a passar o "arco de triunfo" em Bissau? Ou a passar a ferro as 3 fiadas de arame farpado de Jemberém?

Quanto às BRMD-2 (versão posterior, melhorada, 7 a 8 toneladas!), era muito menos provável que os guerrilheiros do PAIGC alguma vez lhes tenham posto a vista em cima... a não ser, já reformados, em 1998, quando a Ucrânia ofereceu à Guiné-Bissau quatro veículos desses, se calhar a cair de podres... É que até a caridade tem um preço!

Angola teve 50 destes veículos, mas já em plena guerra da chamada "2.ª independência"... E Angola tinha petróleo e diamantes, contrariamente à pátria de Amílcar Cabral...

O BRMD-2 era um "besta" de 7 a 8 toneladas, com uma tripulação de 4 elementos (condutor, adjunto, comandante apontador de metralhadora pesada...) e um depósito de 290 litros de gasolina, 5,75 metros de comprido, 2 metralhadoras (uma pesada e outra ligeira)... Onde é que o PAIGC tinha gente com unhas para manobrar um "anfíbio" destes? E sobretudo logística? E depois era um alvo fácil para a nossa aviação...

Ler aqui mais dobre o BRDM-2 (em inglês):

(...) O BRDM-2 (Boyevaya Razvedyvatelnaya Dozornaya Mashina, Боевая Разведывательная Дозорная Машина, literally "Combat Reconnaissance/Patrol Vehicle"[5]) is an amphibious armoured patrol car used by Russia and the former Soviet Union. It was also known under the designations BTR-40PB, BTR-40P-2 and GAZ 41-08. This vehicle, like many other Soviet designs, has been exported extensively and is in use in at least 38 countries. It was intended to replace the earlier BRDM-1, compared to which it had improved amphibious capabilities and better armament. (...)
_______________

Nota do editor:

16 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16309: Controvérsias (131): Blindados do PAIGC ? Quem os viu de ver e não de ouvir ?... (António Martins de Matos, ex-tenente pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen pilav ref)

sábado, 27 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11481: Álbum fotográfico de Carlos Fraga (ex-alf mil, 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1973) (4): Mansoa, vila e quartel


Foto nº 25 > Mansoa > Daimler destruída na estrada Jugudul-Porto Gole numa emboscada à 2.ª Companhia. Segundo me disseram foi atingida por um RPG que engatou na viseira (tenho um slide - foto nº 43 - com esse pormenor onde se vê o local do impacto mas nessa também se vê na do lado direito) e as munições terão explodido e rebentado com a Daimler de dentro para fora. Vê-se que está queimada e as chapas separadas decorrente da explosão.



Foto nº 43 > Mansoa > Daimler destruída na estrada Jugudul-Porto Gole numa emboscada à 2.ª Companhia. Visível o orifício feito na viseira pela granada de RPG.



Foto nº 51 > Mansoa > A ambulância do quartel.



Foto 9 nº 79 > Mansoa > Bar de oficiais de Mansoa. Da esquerda para a direita, os alf mil Rocha (2ª Comp), Guerra (Pel Rec Daimler), Martins (transmissões), e creio que Torres, da 2ª Comp. Há uma história engraçada com esse bar. O cabo Flores (barman) decidiu enfeitar o bar. Resolveu pendurar umas lâmpadas: 3 lâmpadas uma vermelha, outra verde e outra amarela, ou seja, as cores principais da bandeira portuguesa. Eu sugeri-lhe que pendurasse essas 3 e mais uma negra, 4 ao todo com o que ele concordou. Acontece que o verde, vermelho, amarelo e preto são as cores da bandeira do PAIGC. De forma que eu divertia-me imenso comigo mesmo a ver as cores do PAIGC no bar de oficiais de Mansoa. Não contei aos meus colegas oficiais a «malandrice» subtil mas divertia-me comigo mesmo.

[ Observação do nosso camarada António Graça de Abreu, alf mil,  CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74: "Na foto dos alferes no bar, o que está fardado é o alf Tomé, das Transmissões do nosso CAOP 1, e meu companheiro de quarto, em Teixeira Pinto e em Mansoa".]



Foto nº 80 > Mansoa > Soldados da 2ª companhia a passar no tempo, na jogatana. [Identificação feita pelo Jorge Canhão, presume-se].


Foto nº 50 > Mansoa > Torre da igreja de Mansoa. Segundo me contaram num ataque a Mansoa a torre foi atingida por um disparo de canhão e o que se vê é a marca que ficou mesmo após a reparação.

Fotos (e legendas): © Carlos Alberto Fraga (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico
do Carlos Fraga,  recentemente admitido como
membro da nossa Tabanca Grande (nº 611).

Ele esteve em Mansoa, nos últimos meses de 1973, como alf mil, indo depois comandar uma companhia em Moçambique, já depois de 25 de abril de 1974.

Estas fotos, com a devida legendagem fornecida pelo Carlos Fraga, constam de um CD que chegou ao nosso conhecimento através de dois camaradas da mesma companhia, a 3ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72, o Agostinho Gaspar e o Jorge Canhão. Mantivemos a numeração original das imagens (a do autor, e não do Jorge Canhão).

Recorde-se o que o Jorge Canhão escreveu sobre o Carlos Fraga: "Sobre o ex-alferes miliciano Carlos Alberto Fraga aqui vão os dados que pediste, pois mesmo agora estive em contacto telefónico com ele, que vive em Faro. Ele fez parte da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72 (cerca de 4 meses, até fim de 73 aproximadamente), como adjunto do comandante da companhia, pois estava a tirar um estágio para capitães. Foi depois graduado em tenente, e foi como capitão comandar uma companhia em Moçambique, acabando o tempo de tropa nos Açores. Por esse motivo, não tinha pelotão atribuído na companhia, podendo ir em qualquer um deles."
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9375: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (5): ): "Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda [, em 31 de março de 1974]"...

1. O nosso camarada e amigo, António Graça de Abreu (AGA), era um homem bem informado  (e melhor formado) lá no CAOP1, e por onde andou no TO da Guiné: Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, entre meados de 1972 e as vésperas do 25 de abril de 1974... 

Não admira por isso que haja, pelo menos, uma referência aos "blindados" do PAIGC (leia-se: dos seus "amigos soviéticos")(*), que terão sido utilizados, sem grande efeito prático (a não ser eventualmente psicológico) num ataque ou flagelação a Bedanda,
em 31 de março de 1974... 

Eis aqui esse excerto do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos, por gentileza e generosidade suas, um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp). (**)

Sobre os famosos blindados do PAIGC (que, na prática,  não jogaram nenhum papel efetivo nesta guerra, pelo menos a ponto de desequilibrar os pratos da balança...), escreveu-me há tempos [ 13 de janeiro de 2010,] o Nuno Rubim o seguinte:

(...) "Luís, junto te envio cópia de um documento emanado pela 2ª Rep / Com-Chefe Guiné sobre os BRDM 2. Também existem no AHM [, Arquivo Histórico Militar,] referências ao modelo 1.

"Há uma carta do A. Cabral para o Pedro Pires (Dez 72 ) a 'sugerir' a utilização dos blindados nos ataques a alguns dos nossos aquartelamentos fronteiriços no Sul. Na Net encontrarás farta documentação sobre essas viaturas [...].

O nosso camarada António Rodrigues, em comentário ao blogue do Sousa de Castro, CART 3494 & Camaradas da Guiné, poste P136, de 9 do corrente, diz que estas viaturas blindadas já tinha usado antes, em Copá, no nordeste da Guiné (Aliás, já o tinha escrito, antes no nosso blogue, em poste de 23 de novembro de 2010):

(...) "Eu e os meus camaradas, enfrentamos essas mesmas viaturas [ duas,] durante o forte ataque desencadeado pelo PAICG a Copá, na noite de 7 para 8 de Janeiro de 1974, tendo uma delas derrubado o arame farpado e penetrado dentro de Copá cerca de 10 metros. António Rodrigues  1ª. CCAV / BCAV 8323 Copá 73/74" (...).

Diz-se neste Poste que o PAIGC a 31 de Março de 1974 apareceu com viaturas blindadas no ataque a Bedanda (Cubucaré).

Na realidade, ainda não se sabe com rigor que tipo de viaturas se tratava... É mais provável  que se tratasse de veículos de reconhecimento, anfíbios (tipo BRDM),  ou de viaturas de reeconhecimento para transporte de tropas (tipo BTR)... De qualquer a sua utilização na Guiné de viaturas blindadas, por parte do PAIGC (mas também pelas NT), estava muito condicionada por diversos fatores adversos: geografia, hidrografia, clima... Os especialistas da guerra colonial Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes escreveram o seguinte sobre as "viaturas de combate" do PAIGC:

(...)" Em fevereiro de 1974, foram referenciadas viaturas pesadas paraa rebocar morteiros de 120 mm no Norte da Guiné, zona de Canquelifá, junto à fronteira com o Senegal. Dias mais tarde foram detectadas, em ataque à guarnição portuguesa de Bedanda, no Interior-Sul do território, viaturas blindadas provavelmente  BRDM, BTR, PT-76 ou PT-34, todas de origem soviética". (In: Afonso, A.; Gomes, C. M. - Guerra colonial: Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d, p. 259).

2. Aqui vai o excerto do Diário do AGA (com a devida vénia):


 (...) Cufar, 3 de Abril de 1974

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC.

Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPG, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar.

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém.

Bedanda é uma povoação grande, a maior do sul da Guiné depois de Catió. Terá uns cinco mil habitantes e ontem já se falava em abandonar o aquartelamento. A população africana saiu da vila, ficando por próximo.

Bedanda levou com mais de sessenta foguetões e centenas e centenas de granadas de RPG, morteiro e canhão sem recuo. Foi medonho, há muita coisa destruída, mas tiveram sorte, contam-se apenas dois feridos, um furriel e um negro que levou um tiro nas costas. A tropa passou mais de doze horas metida nas valas.

Espera-se novo ataque a Bedanda. As NT já foram remuniciadas e há promessa de se enviarem mais militares para defender a terra. Os guerrilheiros também devem ter ido descansar e reabastecer-se.

Todas estas flagelações, apesar de serem destinadas aos vizinhos do lado, deixam marcas em todos nós. São horas, dias, meses a ouvir continuamente o atroar dos canhões da guerra. Eu ando um bocado desconexo, excitado, “apanhado”. Quase não tenho dormido, são as sensações finais, o cansaço, o desamor à mistura com o alvoroço do regresso a casa. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd.poste de 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição e adaptação de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)

(**) Último poste da série > 14 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9352: Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (4): Os foguetões 122 mm que vi, ouvi e contei ao longo de quase dois anos...