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Em 1964, o Ramadã (ou Ramadão, existiem as duas grafias em português) ocorreu entre 25 de janeiro e 23 de fevereiro, seguindo o calendário lunar islâmico. O mês é sagrado no Islão: acredita-se que foi durante este período que o Alcorão foi revelado ao profeta Maomé. O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico. É um período de jejum, oração, reflexão e comunidade para os muçulmanos em todo o mundo. Coincidiu com a ocupação e instalação de Guileje. Já em 1973 (ano da retirada de Guileje), o Ramadã coneçaria a 17 de setembro e terminaria a 16 de outubro.
Fotos (e legendas): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Armando Fonseca, ex-sold cond cav, Pel Rec Fox 42, Bissau, Mansoa, Porto Gole, Buba, Bedanda, Guileje e Aldeia Formosa, 1962/64; também conhecido como o "Alenquer", integra a nossa Tabanca Grande desde 22 de setembro de 2010; tem cerca de 20 referências no nosso blogue. Julgamos que nasceu em 1941. Natural de Alenquer, vive na Amadora desde 1965, depois do regresso à "peluda". É autor da série "O Alenquer retoma o contacto" (de que se publicaram 7 postes, em 2012).
I. O Armando Fonseca (de alcunha, o "Alenquer", terra donde é natural, mas que vive hoje na Amadora desde 1965), ex-soldado cond cav, Pel Rec Fox 42 (1962/64), foi dos primeiros militares, da arma de de Cavalaria, a chegar à Guiné, quando "oficialmente" ainda não havia guerra.
Cumpriu o serviço militar desde abril 1961 até julho 1964 (3 anos e 3 meses). Esteve 26 na Guiné, desde maio de 1962 até julho de 1964. Chegou ao CTIG em finais de maio de 1962.
Nos primeiros 16 meses esteve em Bissau, fazendo segurança ao aeroporto em Bissalanca.
É depois colocado, em outubro de 1963, em Mansoa, às ordens do BCAÇ 512, para fazer segurança às colunas logísticas a Mansabá e Bissorã. Conhece então a guerra pura e dura, apanha as primeiras minas. Com a sua Fox inutilizada, regressa a Bissau a 18 desse mês.
Vai para o Sul, região Quinara (Buba) e de Tombali (Aldeia Formosa, Guileje, Bedanda). Em 4/2/1964, dá-se início à construção do aquartelamento de Guileje.
Nesse tempo ainda se ia de Bissau a Bafatá, passando por Mansoa e Mansabá (a estrada ficará depois interdita). Levou 10 horas o percurso em 21/1/1964. Depois, no dia seguinte, para chegar ao Saltinho à hora do almoço, levou-se a manhã inteira.
Chegam a Aldeia Formosa ao fim do dia, acompanhados do Pel Rec Fox 888 mais um companhia de caçadores, que deve ter sido a CCAÇ 526 (que lá estava desde maio de 1963) ou então já a CART 495.
Recorde-se a lista das 11 subnunidades que passaram por Guileje, entre fevereiro de 1964 e maio de 1973:
- CART 495 (Fev 1964 / jan 1965)
- CCAÇ 726 (Out 1964 / .jul 1966)
- CAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966);
- CCAÇ 1477 (Dez 1966 / jul 1967)
- CART 1613 (Jun 1967 / mai 1968);
- CCAÇ 2316 (Mai 1968 / jun 1969)
- CART 2410 (Jun 1969 / mar 1970)
- CCAÇ 2617 ( Mar 1970/fev 1971)
- CCAÇ 3325 (Jan 1971/dez 1971)
- CCAÇ 3477 (Nov 1971 / dez 1972)
- CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973)
Infografia: Nuno Rubim (2006) | Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64)
Parte III: o início da construção do quartel de Guileje, em 5 de fevereiro de 1964
No dia 21 de janeiro pelas 07h30 o Pel Rec Fox 42 saiu de Bissau, com destino indefinido, passando por Mansoa e Mansabá até chegar a Bafatá por volta das 17h30.
A marcha foi vagarosa e cheia de precauções devido às possibilidades de sofrer emboscadas ou de encontrar minas, mas chegámos sem anormalidades, pernoitando aí para prosseguir no dia seguinte.
A marcha foi vagarosa e cheia de precauções devido às possibilidades de sofrer emboscadas ou de encontrar minas, mas chegámos sem anormalidades, pernoitando aí para prosseguir no dia seguinte.
No dia seguinte, 22, às 07h30, lá seguimos rumo a Sul agora acompanhados por pessoal da CCav 154 que estava sediada em Bafatá, chegando ao Saltinho pela hora do almoço.
O percurso foi muito vagaroso visto seguirem à frente dos carros camaradas a pé com detectores de minas e até picando a estrada com sabres para ser certificada a ausência de minas.
Entretanto a meio do percurso houve um pequeno ataque, seguido por largada de abelhas, que deixou todos desnorteados, uns para cada lado, com camaradas mordidos pelas abelhas. Mas, depois de tudo reorganizado, seguimos a viagem.
Depois do almoço, saímos do Saltinho com destino a Aldeia Formosa e, entretanto, veio ao nosso encontro o Pelotão de Reconhecimento Fox 888 que estava sediado naquela localidade junto com uma companhia de caçadores da qual já não me lembro o número.
À nossa chegada não havia pão e muito menos vinho, mas lá comemos qualquer coisa e fomos procurar acomodarmo-nos para aí permanecer algum tempo.
Mas no dia 23, logo pelas 07h45, lá íamos outra vez, agora a caminho de Buba para aí pernoitar.
Depois do almoço, saímos do Saltinho com destino a Aldeia Formosa e, entretanto, veio ao nosso encontro o Pelotão de Reconhecimento Fox 888 que estava sediado naquela localidade junto com uma companhia de caçadores da qual já não me lembro o número.
À nossa chegada não havia pão e muito menos vinho, mas lá comemos qualquer coisa e fomos procurar acomodarmo-nos para aí permanecer algum tempo.
Mas no dia 23, logo pelas 07h45, lá íamos outra vez, agora a caminho de Buba para aí pernoitar.
Durante a tarde foram feitas duas saídas aos arredores em reconhecimento e no dia seguinte foi então o regresso a Aldeia Formosa com mantimentos para aquele destacamento, visto que o transporte era feito de barco até Buba e depois por terra para abastecer os destacamentos daí dependentes.
Durante as saídas para os reconhecimentos nos arredores de Buba, o alferes de minas e armadilhas aproveitou para efectuar algumas operações nos caminhos que se julgava serem percorridos pelo IN.
A dormida em Buba foi no chão com uma manta por colchão, visto aquele destacamento não estar preparado para receber mais um pelotão e os condutores das viaturas que se destinavam a trazer as cargas.
Durante os dois dias que se seguiram não houve nenhuma saída mas no dia 27 de janeiro lá fomos até Guileje fazer um reconhecimento, onde nada existia além de laranjeiras carregadas de frutos e algumas bananeiras com bananas que, mesmo muito verdes, depois de uns dias embrulhadas em papel dentro da mala do carro, já marchavam.
Havia também alguns ananases mas muito poucos. Nesta altura Guileje não passava de um matagal com algumas árvores de fruto pelo meio.
Durante as saídas para os reconhecimentos nos arredores de Buba, o alferes de minas e armadilhas aproveitou para efectuar algumas operações nos caminhos que se julgava serem percorridos pelo IN.
A dormida em Buba foi no chão com uma manta por colchão, visto aquele destacamento não estar preparado para receber mais um pelotão e os condutores das viaturas que se destinavam a trazer as cargas.
Durante os dois dias que se seguiram não houve nenhuma saída mas no dia 27 de janeiro lá fomos até Guileje fazer um reconhecimento, onde nada existia além de laranjeiras carregadas de frutos e algumas bananeiras com bananas que, mesmo muito verdes, depois de uns dias embrulhadas em papel dentro da mala do carro, já marchavam.
Havia também alguns ananases mas muito poucos. Nesta altura Guileje não passava de um matagal com algumas árvores de fruto pelo meio.
Foram passando os dias com algumas saídas a Buba a escoltar as viaturas que iam buscar mantimentos até que; no dia 4 de fevereiro pelas 02h30 da manhã lá vamos a caminho de Guileje agora para montar um aquartelamento onde ia ficar instalado um pelotão ( da CART 495) e alguns milícias fulas com as suas famílias.
Nos dias que se seguiram foi a preparação do aquartelamento, a capinagem, a montagem de tendas e depois o inicio das construções e a preparação dos terrenos onde mais tarde foi feita a pista para as avionetas aterrarem e levantarem voo.
Durante esta permanência, no dia 13 de fevereiro foi o meu pelotão deslocado a Bedanda para deitar fogo, através das balas incendiárias das metralhadoras instaladas no meu carro, a umas casas de mato que se encontravam muito perto do rio que separava a zona onde estavam as nossas tropas e o reduto do IN.
O rio era a baliza, nem os militares passavam para lá nem o IN se aventurava a passar para cá, no entanto, haviam constantes ataques de morteiro, de ambas as partes.
Os dias foram passando com algumas idas a Aldeia Formosa e a Buba e, a partir de certa altura, chegou informação de que o IN iria dinamitar a ponte sobre o rio Balana e então nunca mais se juntaram os dois pelotões Fox do mesmo lado do rio: quando nós passávamos para um lado, o Pel Rec Fiox 888 passava para o outro.
Já veio descrito em postes anteriores o trágico final do destacamento de Guileje (retirado pelas NT em 22 de maio de 1973) e aparece agora descrito o início da formação deste mesmo destacamento (5 de fevereiro de 1964).
Os dias foram passando com algumas idas a Aldeia Formosa e a Buba e, a partir de certa altura, chegou informação de que o IN iria dinamitar a ponte sobre o rio Balana e então nunca mais se juntaram os dois pelotões Fox do mesmo lado do rio: quando nós passávamos para um lado, o Pel Rec Fiox 888 passava para o outro.
Já veio descrito em postes anteriores o trágico final do destacamento de Guileje (retirado pelas NT em 22 de maio de 1973) e aparece agora descrito o início da formação deste mesmo destacamento (5 de fevereiro de 1964).
Segue-se depois Ganturé e Gadamael...
(Continua)
(Revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)
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Nota do editor LG:
(*) Vd. postes anteriores da série >
30 de setembro de 2025 Guiné 61/74 - P27271: O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64) - Parte II: outubro de 1963: os primeiros grandes sustos com as minas A/C
30 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27269: O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64) - Parte I: aquele terrível mês de setembro de 1963