1. Título: Caça ao Leopardo.
Criador: Olaria de Manuel Francisco (?)
Data de Criação: 1650/1675.
Localização física: MNAz, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, Portugal.
Dimensões físicas: 150 cm x 189.5 cm.
Proveniência: Quinta de Santo António da Cadriceira, Turcifal, Torres Vedras.
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. O Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, é um dos mais importantes (e visitados) museus de Portugal (*):
(i) possui uma coleção ímpar no contexto internacional (completíssima e rica amostra do azulejo português mas também holandês: as encomendas que vinham para Portugal tinham particularidades, nomeadamente em termos temáticos);
(ii) o azulejo é, desde há 5 séculos, uma forma artística altamente diferenciadora da nossa cultura;
(iii) o edifício só por si, um antigo mosteiro, vale uma visita,
Trata-se do Mosteiro da Madre de Deus que foi fundado em 1509 pela rainha D. Leonor (1458-1525), irmã de Dom João II e mulher de Dom Manuel I, e fundadora das misericórdias portuguesas.
Em finais do século XVII, o rei D. Pedro II (1648-1706) mandou, entretanto, proceder a um restauro profundo do edifício. É hoje considerado um dos melhores conjuntos do barroco nacional.
2. A "Caça ao Leopardo", do 3º quartel do século XVII, é uma das peças mais emblemáticas, fascinantes, do Museu.
Como de resto acontecia com toda a azulejaria figurativa, foi concebido a partir de uma ou mais gravuras sobre a caça ao leopardo por europeus, sendo um belíssimo exemplo da capacidade das nossas oficinas para adoptar e reformular modelos que vinham de fora (por exemplo, gravuras com temas exóticos associados â fauna e flora do Novo Mundo, da África ou da Ásia). Neste caso, os caçadores são os próprios indígenas do Novo Mundo que usam como armadilha para atrair a presa um espelho (que obviamente eles não usavam, não fabricavam, nem tinham tecnologia para tal)...
Segundo o especialista e investigador do Museu (e seu atual diretor interino), João Pedro Monteiro, o uso do azulejo (vocábulo que vem do espanhol azulejo, do árabe hispânico al-zuléig.) não é exclusivo de Portugal mas foi no nosso país que, ao longo de uma produção de cinco séculos, "assumiu uma especial importância no contexto universal da criação artística», tornado-se portanto um elemento identitário da nossa cultura.
Por três razões, que ele enumera:
(i) "uso continuado ao longo de cinco séculos";
(ii) "modo de aplicação, como elemento estruturante das arquitecturas, através de revestimentos, muitas vezes monumentais, no interior e exterior dos edifícios" (palácios, mosteiros, conventos, quintas);
(iii) " e enquanto suporte da renovação do gosto e de registo de imaginários".
Não é uma "arte pobre", bem pelo contrário, o azulejo podia chegar a representar um quarto dos custos de construção de um edifício. E não é por acaso que atingiu "o seu apogeu no reinado de D. João V, quando a chegada do ouro do Brasil permitia custear os mais ricos edifícios barrocos».
Caro leitor, se és um antigo combatente, aponta aí na tua agenda uma visita (obrigatória) a este Museu, de acesso gratuito para ti (*)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 2 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25592: Manuscrito(s) (Luís Graça) (250): A "macacaria", o azulejo polícromo, burlesco e satírico, do séc. XVII