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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22881: Colóquio - O Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial: Perspetivas Locais e Globais - levado a efeito no passado dia 23 de Novembro de 2021, em que participaram os ex-Alf Mil Cav Ernestino Caniço, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 e Francisco Gamelas, CMDT do Pel Rec Daimler 3089 (Ernestino Caniço)


Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/DEZ 1971, com data de 31 de Dezembro de 2021:

Caros amigos:
Realizou-se em 2021.11.23 no auditório da Universidade do Minho o Colóquio “O Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial: Perspetivas Locais e Globais”.

No programa em anexo, constava uma sessão subordinada ao tema “Vivências e Testemunhos Cruzados do Regimento de Cavalaria N.º 6 na Guerra Colonial”, integrando uma Mesa Redonda com Antigos Combatentes mobilizados pelo Regimento de Cavalaria Nº 6.
Uma vez que o nosso contacto com o Sr. Comandante do RC 6 (Coronel Miguel Freire) partiu do Blogue, foi-me solicitado pelo Carlos Vinhal que fizesse um apanhado e considerações sobre o evento.[1]

O objetivo desta sessão é ajudar a compreender, pelo testemunho pessoal, a dimensão humana, mas também a técnico-militar, do que foi cumprir o serviço militar com uma mobilização num pelotão de reconhecimento Daimler para um dos teatros de operações.
A participação de ex-combatentes no painel, foi precedida de entrevistas moderadas pelo Sr. Comandante do RC 6 e pelo Professor Francisco Mendes da Universidade do Minho.
Compete-me realçar que na receção para as entrevistas em que participei eu e o camarada e amigo Francisco Taveira, fomos acolhidos com elevação, nomeadamente com tratamento principesco por parte do Sr. Comandante do RC 6, Coronel Miguel Freire.



Os ex-combatentes que participaram no painel foram apresentados por ordem cronológica de prestação do serviço militar pelo Sr. Comandante do RC 6:

- O antigo Tenente Mário Sampaio Nunes que foi Comandante do Pel Rec 1166. Este pelotão esteve em Moçambique, entre fevereiro de 1967 e março de 1969, e o então Alferes Sampaio Nunes comandou o pelotão, em rendição individual, entre dezembro de 1967 e fevereiro de 1969, por passagem à disponibilidade por doença do anterior comandante de pelotão. Hoje é um oficial do exército reformado, com 77 anos de idade.

- O antigo Alferes Ernestino Caniço que foi Comandante do Pel Rec 2208 e que esteve na Guiné entre janeiro de 1970 e dezembro de 1971. Hoje é um médico reformado, mas ainda a exercer, com 77 anos de idade.

- O antigo Alferes Francisco Gamelas que foi Comandante do Pel Rec 3089 e que esteve na Guiné entre novembro de 1971 e outubro de 1973. Hoje é um engenheiro reformado, com 72 anos de idade.

- O antigo 1.º Cabo Bernardino Lima que foi Condutor/Apontador de Daimler no Pel Rec 3083 que esteve na Guiné de novembro de 1971 a outubro de 1973. Hoje é um fiel de armazém reformado, com 71 anos de idade.

Podemos considerar a sessão um putativo sucesso, face ao surgimento de alguns indícios, como os comentários enaltecedores de representantes de instituições militares e civis.

Não posso deixar de enfatizar a presença maioritária (e intervenções) dos estudantes de história da Universidade do Minho, com o anfiteatro repleto, demonstrando um interesse (para mim inesperado) da juventude por esta temática.

Permito-me por fim evocar uma frase do Sr. Comandante do RC 6, Coronel Miguel Freire: "Foi para mim um imenso orgulho e engrandecimento humano ter privado com cada um de Vós, por ocasião da preparação do nosso Colóquio de 23 de novembro".

Renovo os votos de um ótimo 2022, já com algum remanso do “Cobicho”

Um abraço,
Ernestino Caniço

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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 10 DE SETEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22531: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (88): O Regimento de Cavalaria n.º 6 de Braga, juntamente com a Universidade do Minho, está a organizar um colóquio e uma exposição (a acontecer em 18NOV21) sobre o esforço de mobilização do RC6 em PelRec Daimler para os três Teatros de Operações. Procura-se antigos CMDTs Pel Rec Daimler para possível colaboração no evento

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22531: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (88): O Regimento de Cavalaria n.º 6 de Braga, juntamente com a Universidade do Minho, está a organizar um colóquio e uma exposição (a acontecer em 18NOV21) sobre o esforço de mobilização do RC6 em PelRec Daimler para os três Teatros de Operações. Procura-se antigos CMDTs Pel Rec Daimler para possível colaboração no evento

1. No passado dia 1 de Setembro de 2021, recebemos do Exmo. Senhor Comandante do Regimento de Cavalaria nº 6 a seguinte mensagem:

Exmos Senhores Luís Graça e Carlos Vinhal,

Chamo-me Miguel Freire e presentemente sou o Coronel Comandante do Regimento de Cavalaria Nº 6 (RC6), em Braga. O RC6, juntamente com a Universidade do Minho, está a organizar um colóquio e uma exposição (a acontecer em 18NOV21) sobre o esforço de mobilização do RC6 em PelRec Daimler para os três Teatros de Operações. Temos vindo a fazer um trabalho de pesquisa quer no Arquivo Geral do Exército, quer no Arquivo Histórico-militar. Mas temos tido alguma dificuldade a chegar ao contacto de antigos combatentes pertencentes a estes pelotões. O blog que têm é uma ferramenta extraordinária. Tomei a liberdade de vos contactar por mail e não pelo blog para saber se seria possível contar com o vosso apoio para divulgar este evento fazendo um convite para os antigos combatentes que tenham servido nestes pelotões para nos contactarem. Gostaríamos de poder contar com os seus testemunhos não só na preparação da exposição como na preparação e participação de comunicações. Se aceitarem dar-nos este apoio eu envio um pequeno texto para ser difundido no blog a convidar antigos combatentes dos Pel Rec Daimler a quem possamos entrevistar/conversar sobre o emprego destes pelotões. Assim que tivermos o cartaz oficial do evento também usaríamos o vosso blog para difundir o evento, para que o maior numero de antigos combatentes ou os seus familiares pudessem estar presentes ou assistir pela internet. Claro que isto é extensível a militares de outras unidades (BCav, BArt ou BCaç) nas quais os Pel Rec tenham sido integrados.

Disponibilizo o meu contacto pessoal caso queiram falar sobre este projeto. Tinha muito gosto em fazê-lo.

Obrigado pela atenção e fico a aguardar uma resposta.
Um abraço


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2. No dia 3 enviámos ao Comandante do RC6 a seguinte mensagem:

Exmo. Senhor Comandante do RC 6

Estamos a acusar a mensagem de V. Ex.ª e a disponibilizar o nosso Blogue para divulgação desta e de outras iniciativas que ache convenientes.

Numa primeira pesquisa no Blogue achámos 4 ex-Alferes Milicianos que comandaram os Pel Rec Daimler: 2046; 2206; 2208 e 3089. Tenho ainda um amigo/camarada que não fazendo parte da nossa tertúlia também comandou um Pel Rec Daimler na Guiné (2209).
Se o senhor Comandante nos disponibilizar um texto para conhecimento e sensibilização para participação destes nossos camaradas no referido evento, endereçá-lo-emos com todo o gosto aos 5 camaradas, assim como daremos o devido destaque no Blogue.
Numa primeira fase, ficámos na dúvida se a mensagem que nos enviou é publicável ou até passível de envio para conhecimento aos nossos 5 camaradas comandantes dos Pel Rec Daimler.

Ficamos ao inteiro dispor do senhor Comandante
Cordiais saudações
Carlos Vinhal
Coeditor


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3. Neste mesmo dia endereçámos aos nossos camaradas:
Jaime Machado, CMDT do Pel Rec Daimler 2046; J. L. Vacas de Carvalho, CMDT do Pel Rec Daimler 2206; Ernestino Caniço, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 e Francisco Cardia Taveira, CMDT do Pel Rec Daimler 2209, a mensagem que se segue:


Estimados camaradas de armas, nobres Cavaleiros

Atendendo à vossa qualidade de ex-Comandantes de Pelotão de Reconhecimento Daimler, estou a encaminhar uma mensagem enviada ao nosso Blogue pelo senhor Comandante do actual RC6, agora sediado em Braga.
Peço a vossa melhor atenção e, se para tal tiverem disponibilidade, prestem a colaboração que o senhor Coronel Miguel Freire solicita.
Somos, neste caso sois, a memória viva de um passado que querem estudar. Falemos agora antes que outros comecem a falar por nós.
Têm os contactos do senhor Coronel para o caso de quererem comunicar com ele. O vosso camarada Francisco Gamelas já está em contacto com o senhor CMDT do RC6.
Digam-me qualquer coisa.

Aquele abraço enorme, especialmente para o Jaime Machado e Vacas de Carvalho que há muito não dão "sinal de vida".
Sempre ao vosso dispor
Carlos


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4. Sabemos já que o Camarada Jaime Machado contactou o senhor Coronel Miguel Freire por esta mensagem que ele nos enviou para conhecimento:

Caro Senhor Coronel Miguel Freire
Fui comandante do Pel. de Reconhecimento Daimler 2046.
Prestei serviço militar na Guiné-Bissau entre maio de 1968 e abril de 1970.
Resido em Matosinhos.
Estou ao seu dispor para o que achar útil.

Os meus melhores cumprimentos
Jaime Machado


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5. Nota de CV:

Se entre os nossos leitores houver alguém que tenha comandado um Pel Rec Daimler  em qualquer dos três TO ou conheça algum antigo Comandante dessas Unidades de Cavalaria, por favor entrem em contacto com o senhor Comandante do RC6 de Braga através dos endereços e telefones fornecidos.

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22269: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (87): senhoras de Bolama mandam celebrar missa do 7º dia por alma dos aviadores italianos, mortos no acidente aéreo de 6/1/1931

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16726: (De)Caras (52): Um bravo do meu pelotão, o 1.º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos: evocando aqui uma delicada escolta a uma coluna que, em 16 de maio de 1973, foi do Pelundo a Jolmete resgatar 6 cadáveres (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73)



Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > Alguns dos  bravos do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Da esquerda para a direita, (i) José Eduardo Alves, (ii) Gonçalo Garcia Pedroso (condutor da viatura Daimler, aqui referida nesta crónica), (ii)  David da Silva Miranda (1º cabo mecânico, de óculos escuros), (iv) Lino Pereira Barradas, (v) Manuel Lucas dos Santos (1º cabo, assinalado com um retângulo a verde, o protagonista da história que se conta a seguir, natural de Açor, Góis), e (vi) José Gabriel Caloira.


Lisboa > Cais da Rocha Conde dfe Óbidos > 11 de outubro de 1973 > Regresso no T/T Niassa > O resto dos bravos do pelotão, que acompanharam o seu comandante no regresso a casa: da esquerda para a direita, Manuel Teque da Silva, Ademar Peres Marques, Luís Soares da Silva e Fernando Cândido Silva.


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Janeiro de 1972 >  A “oficina” do Pelotão Rec Daimler 3089.  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. O pelotão chegou  a ter duas ou três Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão. O pelotão conseguia ter as cinco viaturas operacionais, do princípio ao fim da comissão, foi um ponto de honra para o seu comandante. Estavam equipadas com a metralhadora MG 42, e circulavam sem a torre giratória. O problema das Daimlers não era o motor mas o sistema de transmissão... A boa conservação das viaturas e das MG 42 era fundamental para a sua operacionalidade e fiabilidade...


Guiné  > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Fevereiro de 1973 > O 1º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos, no regresso de uma viagm a Caió


Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Esta crónica chegou-nos à caixa do correio em 6 de junho passado. Faz sentido publicá-la agora,  depois da edição do último poste relativo ao álbum fotográfico do autor, Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73). 

É um texto inédito, escrito a pensar no nosso blogue, a partir da reconstituição de memórias do ex-1º cabo cav, Manuel Lucas dos Santos. Datado de junho de 2016, não faz parte dos textos (poemas e crónicas) do  livro recente do Francisco Gamelas:  "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp.+ ilust; preço de capa 12,50 €). (*).

Entenda-se também este texto como uma homenagem a todos os camaradas da arma de cavalaria (Pel Rec, EREC...) que alinhavam com os infantes em  colunas  como esta, a seguir descrita, delicada, não isenta de riscos e com momentos de grande tensão (**).

Nesta crónica há uma referência ao condutor Pedroso, o Gonçalo Garcia Pedroso (vd. foto acima), outro dos bravos do Pel Rec Daimler 3089. Iam duas Daimlers na coluna, uma à frente e outra atrás.

Segundo esclarecimento adicional do autor da crónica, e depois de voltar a falar com o Manuel Lucas dos Santos, ele confirmou a data e acrescentou o seguinte:
(i) estas seis mortes (civis ou na maior parte civis), foram contados um a um por ele;
(ii) resultaram de um ataque do PAIGC ao aquartelamento no momento em que população e militares assistiam a uma sessão de cinema ao ar livre;
(iii)  o capitão da companhia de Jolmete foi depois transferido para a companhia africana (, a  CCAÇ 16, ) que estava em Bachile...

O Manuel Lucas dos Santos, há uns largos anos, encontrou-se com o antigo capitão de Jolmete, num casamento, e tiveram ocasião de recordar estes tristes acontecimentos. Acresce ainda dizer que o troço Pelundo-Jolmete era "picada", não era alcatroado, e estava-se já no início da época das chuvas...

Nessa altura estava no Pelundo o BART 6521/72:
(i) mobilizado pelo RAL 5 (Penafiel);
(ii) partiu em 22/9/1972 para o TO da Guiné;
(iii) regressou em 27/8/1974;
(iv) esteve sediado  no Pelundo;
(v) cmdt: ten-cor art Luís Filipe de Albuquerque Campos Ferreira.

Em Jolmete esteve a 3ª C /BART 6521/72 (de 27/9/19721 a 27/8/1974). Teve 2 cmdts: cap mil art Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca; e  cap mil inf  Edmundo Graça de Freitas Gonçalves. Na Tabanca Grande, temos poucos camaradas deste batalhão.

Desconhece-se, por outro lado, as razões que terá levado comandante de batalhão a integrar a coluna a Jolmete e pedir o apoio do Pel Rec Daimler 3089, que estava adido a outro batalhão, o BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73). (LG)


2. Sob o signo do medo

por Francisco Gamelas (com Manuel Lucas dos Santos)

Cedo, por volta das oito da manhã, acabados de regressar do pequeno almoço, depois de já termos feito a escolta da coluna que seguia para Bissau até ao Pelundo, entrou na caserna um mensageiro com uma convocação: o nosso Comandante [, do BCAÇ 3863,] requer a presença do 1º Cabo que substitui o Alferes Gamelas. 

Corria o dia 16 de maio de 1973. O nosso Alferes estava em Bissau à procura de peças para as Daimlers, no cemitério de viaturas semidestruídas que ali havia. Depois da saída do mensageiro, olhei os meus camaradas e comentei: quem é que andou a fazer merda ontem à noite? Ninguém se acusou. 

Respirei fundo, agarrei coragem e lá fui para o covil, como rês a caminho do matadouro. Boa coisa não seria. À porta semiaberta do gabinete, enquanto fazia a continência, pronunciei a fórmula da praxe: dá-me licença meu Comandante? O Tenente Coronel já se encontrava sentado à secretária, de semblante pensativo e preocupado. Não parecia zangado, apenas apreensivo, respondendo em voz baixa, como era seu timbre, mas de forma suave: entre nosso Cabo. Fique à vontade. 

Por detrás das lentes dos óculos os seus olhos miúdos começaram por me sondar durante alguns segundos. Deveria ser visível a minha inquietação e o Comandante ponderava as suas palavras. Ontem, no Jolmete, sede duma companhia do Batalhão do Pelundo, deu-se uma flagelação muito forte do inimigo. Houve vários mortos cujos corpos é preciso resgatar para seguirem para Bissau. 

Com uma breve pausa avaliou o efeito das suas palavras. Não sei o que viu no meu semblante, mas, depois da surpresa, uma inquietação, filha do medo, ia tomando conta do meu espírito. O Comandante continuou. O Senhor Comandante do Pelundo solicitou-me ajuda para ir ao Jolmete resgatar os cadáveres. Perguntou se haveria possibilidade das Daimlers poderem fazer parte da escolta. Pareceu-me bastante preocupado, nosso Cabo

A preocupação dele era visível. Fez outra pausa para me olhar bem nos olhos espreitando uma reacção. Desde quando estes gajos gastavam tanto latim para darem as suas ordens? Nosso Cabo, tenha prontas duas Daimlers para integrarem a escolta ao Jolmete dentro de vinte minutos, seria tudo quanto era necessário para que a ordem se cumprisse sem mais delongas. 

Estas falinhas mansas eram como facas afiadas a penetrarem de mansinho pelo ventre da minha inquietação. Permaneci calado. O nosso Cabo não acha que os devemos ajudar? Perguntou, sem parar de me fitar. Desta vez, o tom já foi mais incisivo, ainda que permanecesse dentro do cordial, mesmo com uma certa dose de intimidade, o que me desconcertava. O Comandante estava a fazer de mim alguém suficientemente importante para ter voto na matéria, o que me inquietava porque nunca tal tinha acontecido, nem seria normal acontecer. Não era este o ADN do relacionamento comando versus subordinados. 

O cerco apertava-se e não tinha como fugir a dar uma resposta. Quem sou eu, meu Comandante, para fazer avaliações. O Pelotão Daimler fará o que o meu Comandante determinar. Um muito leve sorriso acompanhou uma pequena, mas visível descompressão do seu semblante. Estava satisfeito com o evoluir da situação, o mesmo será dizer, que estava satisfeito com os resultados da sua estratégia de abordagem. O Senhor Comandante do Pelundo [, BART 6521/72,]  pode então contar com a ajuda das Daimlers na deslocação ao Jolmete? 

Foi uma pergunta a meio caminho duma afirmação. Limitei-me a articular o óbvio: o meu Comandante sabe que o Pelotão Daimler só está ao serviço deste Batalhão. Contudo, se o meu Comandante entender prestar uma ajuda solidária ao nosso Comandante do Pelundo, o Pelotão Daimler está pronto para cumprir a sua parte.

Desta vez o sorriso foi franco e a descompressão evidente. Óptimo, nosso Cabo. Vou então dizer ao Senhor Comandante do Pelundo que pode contar com duas esquadras dentro de uma hora no Pelundo - e levantou-se para dar por terminada a conversa. 

Ainda arranjei coragem para articular: o meu Comandante desculpe, mas gostaria de fazer um pedido... E ele: Diga lá nosso Cabo. O tom permanecia cordial.  Pretendia que o Senhor Comandante do Pelundo nos garantisse um rebenta-minas a abrir a coluna. Ser uma Daimler a fazer esse papel não seria justo e era um desperdício de uma metralhadora, em caso de problemas. O Comandante, já de pé, olhou-me como que admirado e retorquiu: Compreendo. Tem toda a razão. O nosso Cabo pode contar com a viatura rebenta-minas. 

Fiz a continência, e, de novo, articulei a fórmula aplicável: o meu Comandante dá-me licença que me retire? Resposta:  Dentro de uma hora esteja pronto para partir para o Pelundo, nosso Cabo. Por instruções do nosso Capitão das Informações, que teve a “gentileza” de me informar que era provável haver contacto com o inimigo, a Daimler da frente – a minha - foi reforçada com uma segunda metralhadora e respectivas fitas de munições, para além de mais umas quantas granadas. Que não fosse por falta de fruta que perdêssemos a contra-dança. 

Chegámos ao Pelundo cerca das dez e trinta, onde já nos esperava, no meio da parada, o Tenente Coronel Comandante do Batalhão, que imediatamente se acercou de nós. Obrigado por terem vindo nosso Cabo. E a estupefacção continuava. Este comportamento não era nada normal. Já almoçaram? Perguntou o Comandante. Às dez e meia da manhã ainda ninguém almoçou, pelo que, meio a sorrir respondi: não meu Comandante, viemos com ração de combate. Retorquiu: Vou já mandar preparar um bom almoço para vocês,

E assim foi. Dentro de umas dezenas de minutos, estávamos todos a almoçar, como raramente tivemos oportunidade de o fazer ao longo de toda a comissão. Contudo, a inquietação era mais que muita. Todos os sinais indicavam que a deslocação iria ser bastante perigosa. Se tivermos que morrer, morreremos de bandulho cheio, comentei sarcástico. 

Cerca do meio dia, começámos a organizar a coluna. Ao deparar com o Comandante, perguntei-lhe pela viatura rebenta-minas, que, essa sim, era a minha grande preocupação. O Comandante, apontando com o braço, disse sorridente: olhe ali nosso Cabo. Lá estava uma Berliet atulhada de sacos de areia até acima. Até aqui tudo bem. Siga a marinha e alma até Almeida. Percebi que o Comandante também iria integrar a coluna, o que, por não ser comum, somava alguns pontos a seu favor. 

Pusemo-nos em marcha pelas doze e trinta. Connosco, seguiam na coluna mais seis unimogs com soldados armados. Entre eles seguia o Comandante do Pelundo. A ligação ao Jolmete fazia-se por uma sequência de picadas, em alguns percursos apenas visíveis nos trilhos das rodas das viaturas, onde o vermelho da terra se deixava ver. Nesses trilhos elas seguiam sozinhas, sem necessitar do volante. O resto era vegetação, com capim da altura de um homem a roçar nas laterais. Digamos que poderíamos ser “pescados à mão”. Pedroso, deixa a Berliet afastar-se um bocado, disse para o camarada condutor quando iniciámos a marcha - a nossa Daimler seguia em segundo lugar na coluna. Se houver merda, teremos, assim, mais algumas hipóteses de reagir. 

O trajecto era de cerca de vinte e cinco quilómetros, que foi percorrido debaixo de uma enorme tensão, a baixa velocidade. O que nos corria nas veias era pura adrenalina. Sem qualquer peripécia no percurso, lá chegámos ao nosso destino em pouco mais de uma hora.

O cenário que encontrámos era desolador: destruição e caos, com semblantes fantasmáticos a espreitar pelos cantos. Os seis corpos já estavam alinhados nas macas à nossa espera. Vim a concluir que a Berliet, afinal, não carregava só sacos de areia, também trazia as "salgadeiras" para os cadáveres. Mau sinal. Não iríamos ter rebenta-minas no regresso, quase de certeza. Não seria lógico que a viatura com os corpos voltasse a fazer de rebenta-minas. Foi o que aconteceu. 

Depois dos caixões fechados e do Comandante ter terminado a observação do local e falado com os seus oficiais, regressámos ao Pelundo. Desta feita já não vai haver viatura rebenta-minas, nosso Cabo, teve a “gentileza” de me informar o Comandante. Pedroso, sempre a abrir. Quem quiser que nos siga. Apesar do repto, demorámos a chegar quase o mesmo tempo que tínhamos gasto na ida. A Berliet não poderia acompanhar um ritmo mais enérgico. 

Por volta das cinco e meia estávamos em Teixeira Pinto, sãos e salvos, já depois do grosso da coluna ter ficado no Pelundo. Agora, era só esperar que os níveis de adrenalina descessem, que a serenidade possível recuperasse os seus níveis normais. Entretanto, no que respeita ao horrendo observado no Jolmete, não houve borracha eficaz que o apagasse. Até hoje.

Quanto aos “estranhos” comportamentos dos Comandantes, continuam a fazer-me cócegas nos neurónios. Digamos que, com o medo à mistura, comum a todos nós, a alma humana tem destes comportamentos desalinhados.

Aveiro, junho de 2016
Francisco Gamelas
___________

Comentário do autor

Este episódio foi-me contado pelo então 1º Cabo do meu Pelotão Daimler Manuel Lucas dos Santos – o narrador da crónica - que, na minha ausência, assumia o seu comando (o meu 1º Sargento estava destacado no Cacheu com duas esquadras do pelotão). 

Durante estes últimos anos, em que, quase sempre, nos nossos almoços anuais este episódio vinha à baila, comecei a dar-lhe alguma importância, mas, sem verdadeiramente compreender as motivações do comando para os seus tão incomuns comportamentos. Até que parei para reflectir.

Será que as Daimlers seriam solicitadas se o Tenente Coronel do Pelundo  [BART 6521/72] não integrasse a coluna?  Obviamente que não: nunca o foram, assim como a enormidade de seis unimogs com tropa armada. Nas minhas colunas para o Cacheu e para Bissau, iam dois.

 E a atitude do Tenente Coronel de Teixeira Pinto [BCAÇ 3863], como se explica? No caso de existirem sarilhos graves com as Daimlers e os seus ocupantes, eles teriam que constar no relatório da acção e alguém em Bissau [leia-se: o gen Spínola] iria perguntar o que é que as Daimlers estavam lá a fazer. Não acredito que fosse a decisão favorável de um 1º Cabo em participar na escolta que ilibasse o Comandante de sérias responsabilidades.

Visto deste prisma, o episódio passa a ter algum interesse, pelo que aqui to deixo à tua apreciação para eventual publicação no teu blogue. (**)
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Notas do editor:

sábado, 15 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16602: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte XIII: No fim viemos (quase) todos... e demos vivas à peluda



Foto nº 53 A >  Lisboa > 11 de outubro de 1973 > Dia em que desembracámos no paquete Niassa (tíhamos ido no paquete "Angra do heroímso"), numa viagem de cinco dias. Na foto, os elementos do Pel Rec Daimler 3089 que regressaram comigo: da esquerda para a direita,  José Eduardo Alves,  Gonçalo Garcia Pedroso, David da Silva Miranda, Lino Pereira Barradas, Manuel Lucas dos Santos, José Gabriel Caloira, Manuel Teque da Silva, Admar Peres Marques, Luís Soares da Silva e Fernando Cândido Silva.



Foto nº 53B > ... da esquerda para a direita,  José Eduardo Alves,  Gonçalo Garcia Pedroso, David da Silva Miranda, Lino Pereira Barradas, Manuel Lucas dos Santos, José Gabriel Caloira...


Foto nº 53 C > ...Manuel Teque da Silva, Admar Peres Marques, Luís Soares da Silva e Fernando Cândido Silva.

Foto nº 53 >  Lisboa > 11 de outubro de 1973 > O regresso do Pel Rec Daimler 3089: faltam o Alberto da Conceição (que também vaijou connosco mas não ficou netsa foto de grupo), o José Matos (evacuado para a metrópole na primeira metade da comissão), o Manuel Ferreira (que substitui o José Matos, e que ficou ainda lá, a completar o tempo de serviço) e o 1º sargento  Rui Baixa (que ficou na Guiné).


Foto nº 54 > Lisboa > 11 de outubro de 1973 > Vista sobre a multidão que aguardava nos aguardava  no Cais da Rocha do Conde de Óbidos.


Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)



Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Último poste com fotos do álbum  do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73), autor de "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). (*).


Sabemos que o nosso camarada tem prontos para editar dois livros de poesia, estando em contacto com editores. É sabido que não é fácil publicar poesia em Portugal, em editores de prestígio. Muitas vezes a única solução é a edição de autor. Desejamos bom sucesso ao Francisco para este novo projeto. (LG)


Finalmente a peluda

por Francisco Gamelas


Por fim, a terra mãe que nos recupera, 
acabando com as razões da saudade.
Com esta doce sensação de liberdade
sabem bem os abraços à nossa espera.

Agora, quem espera já não desespera.
Está iminente o retomar da dignidade.
A felicidade pode mesmo ser verdade
e, a  carícia que nos afaga, ser sincera.

Não mais o sobressalto do medo
e o uso como carne para canhão.
Acabou o obrigatório e vil degredo.

Voltámos a a ser donos da nossa opinião
e, se necessário, fazer dela um  segredo.
Conquistaremos o direito a dizer não ?

Maio de 2015

in: GAMELAS, Francisco - "Outro olhar - Guiné 1971-1973". Aveiro, 2016, ed. de autor, p. 127. (Com a devida vénia).

_________________

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16486: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte XI: A jangada de João Landim, no Rio Mansoa...



Foto nº 51A


Foto nº 51B

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Foto nº 51 > Junho de 1973 > O rio Mansoa em João Landim e a  jangada que fazia a sua travessia. Primeiro entravam as viaturas, depois as pessoas. Bissau ficava a cerca de quinze quilómetros e  para a "peluda",  o fim da comissão, faltavam, ainda quatro longos meses. A Helena regressaria mais cedo a casa,  o Francisco só chegará a Lisboa a 11/10/1973, no T/T Niassa, com os seus rapazes do Pel Rec Daimler 3089.


Foto nº 52 >  Rio Mansoa, João Landim > Junho de 1973 > Veículo da segurança ao local, pertencente à CCAV 3420 (Bula, 1971/73, que era comandada pelo cap cav Salgueiro Maia.


Guiné > Região do Cacheu > Junho de 1973  > A famosa jangada de João Landim que "de há séculos" atravessava o Rio Mansoa, levando durante a guerra colonial milhares de homens, armas e  viaturas, da "ilha de Bissau"  para o o centro, para o norte e para o nordeste,  para a região do Cacheu e para região do Oio, e vice-versa,,, Era um ponto estratégico, razão por que havia lá um  destacamento das NT.

Finalmente, e já nos finais do séc. XX e princípios do séc. XXI, foi construída uma ponte, com financiamento e tecnologia da União Europeia...  Tendo arrancado em 1998, só  foi inaugurada em 2003 devido às vicissitudes da guerra civil de 1998/99. Com  780 metros de comprimento, era então o maior empreendimento realizado na Guiné-Bissau. (LG).

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).

Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação,  reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €).

Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal :
franciscogamelas@sapo.pt.

O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


A jangada do Mansoa

por Francisco Gamelas

De repente, o rio.
Largo.
A jangada,
já atracada,
a nossa espera. Amargo
o teu sorriso. Também sorrio.
Escoltaram-nos até aqui
as panhards do Salgueiro Maia, 
ali de Bula.
Estranha, a chula
que se ensaia
no balanço da jangada em frenesi.
Do outro lado,
quase Bissau.
Já não é precisa a escolta.
O meu amor vai e já não volta,
o que não é mau.
Fico, assim, mais sossegado.
Leva no ventre
o nosso primeiro fruto
a crescer.
Vai-nos doer,
mas não é caso de luto.
Entre 
o agora e o meu regresso
apenas quatro meses
de suplício,
que mais parece um vício,
às vezes
que lhe tento fugir, sem sucesso.

João Landim,
local de passagem 
sobre as águas do Mansoa,
Não é à toa
que as pessoas em viagem
vacilem até ao fim.
Jangada velha, gingona.
corrente forte,
dependente do tempo e da maré.
Mas a vida é como é.
Para tudo é preciso sorte,
até a jangada se manter à tona.

Maio de 2015

In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné, 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, pp. 120-121 (Com a devida vénia...)




Guiné > Região do Cacheu > Mapa de Bula (1953) >  Escala 1/50 mil >  Pormenor: Rio Mansoa e passagem em João Landim (**)

14 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10667: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (2): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

12 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10656: Álbum fotográfico de Leonel Olhero (1): Bula (Fernando Súcio / Leonel Olhero)

7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

12 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9032: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (45): Destacamentos - Pedaços

12 de julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16319: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VI: Em louvor dos camaradas da 35ª CCmds e das nossas velhas e gloriosas Daimlers


Foto nº 56 A >  Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto. Cacheu > Eu, à direita, com o Alferes Comando Alfredo Campos  


Foto nº 56


Foto nº 57A  .


Foto nº 57 > Foto nº 57 > Março de 1972 > Estrada Teixeira Pinto - Cacheu > Eu com o então Alferes Comando ui Andrade [que empunha uma Kalash,]


Foto nº 58A 


Foto nº 58 > Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu.  Eu, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando  Paquete  e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam.


Foto nº 58B >  Alferes Comando Alfredo Campos, a quem convidamos para integrar a nossa Tabanca Grande.


Foto nº 58C > Furriel  Mil Comando Paquete, da 35ª CCCmds, que infelizmente já não está entre nós. Segundo informação do Ramiro de Jesus, também ele ex-fur mil comando da 35ª CCmds, natural de Aveiro (e, portanto, meu conterrâneo), o Paquete,  depois do regresso à metrópole, morreu atropelado por um comboio em Vila Franca de Xira.


Foto nº 57B > Outro camarada da 35ª CCmds, Alferes Comando Rui Andrade  (mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª CCmds, ferido em combate, graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia)

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > 35ª CCmds e Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73)  (*).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50€). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt.
O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


2. Mensagem do Francisco Gamelas, com data de 5 do corrente:

Bom dia,  Luís.

Sobre a questão da 35ª  CComandos, naturalmente, confirmo o que o então furriel Ramiro de Jesus (também residente em Aveiro, portanto meu conterrâneo) escreveu sobre a sua companhia. [O Ramiro Jesus, fur mil comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73),  é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012][, foto à esquerda]. (**) 

Sobre a 38ª, se o António Graça de Abreu a menciona [, no seu "Diário da Guiné"], provavelmente terá sido esta que substituiu a 35ª às ordens do CAOP 1, após este se ter retirado de Teixeira Pinto, tanto quanto me recordo, na mesma altura em que a 35ª foi fazer a segurança do General em Bissau. 

Com a saída do CAOP1 e da 35ª de Teixeira Pinto, deixaram de existir ali tropas especiais. Tempos houve - antes da minha chegada - que em Teixeira Pinto estavam sediados Fuzileiros, Paras e , segundo creio, também Comandos. 

Por curiosidade, junto envio uma foto [nº 58]  onde estou no centro, nas costas de uma Daimler, tendo do meu lado esquerdo o então Furriel Comando Paquete e à minha direita o então Alferes Comando Alfredo Campos, comandante do Pelotão da 35ª a que ambos pertenciam. 

A foto foi tirada em Março de 1972, durante a protecção aos trabalhos de desmatagem das margens, ou da pavimentação, da estrada entre Teixeira Pinto e o Cacheu. 

A 35ª e o meu Pelotão Daimler eram os responsáveis pela protecção a estes trabalhos. 

Na foto nº 57 figuro eu com o então Alferes Comando  Rui Andrade, mais tarde, após a evacuação do Capitão comandante da 35ª, ferido em combate [, cap QEO comando Ribeiro da Fonseca, hoje cor ref], foi graduado em Capitão para assumir o Comando daquela companhia [57]. 

Na foto 56 figuro eu com o então Alferes Comando Alfredo Campos. Ambos, o Campos e o Rui, eram meus especiais amigos do peito daqueles tempos. [O Ramiro de Jesus era também do pelotão do alf Campos].

Um abraço.
FG


Guiné > Zona leste > Estrada Bambadinca - Bafatá > 1969 > Coluna da CCAÇ 12, a caminho de Bafatá, vendo-se ao fundo uma AM (autometralhadora) Daimlerdo Pel Rec Daimler 2046, instalado em Bambadinca, e que era comandado nesse tempo pelo alf mil cav Jaime Machado, nosso grã-tabanqueiro. Em primeiro plano,  malta  do 2º Gr Comb da CCAÇ 12.  A viatura, de matrícula ME-31-37, de pneus completamente carecas, fazia habitualmente escolta ao nosso tranquilo "passeio" até  Bafatá... O PAIGC nunca ousou atacar-nos neste troço (alcatroado, o primeiro do CTIG),pelo menos no tempo da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Giiné]


3. Comentário de LG:

Obrigado, Francisco... A confusão foi minha... O António Graça de Abreu esteve no CAOP1, em Teixeira Pinto, de 26/6/1972 a 1/2/1973... Nesse período apanhou a 35ª CCmds e a 38ª CCmds. 

Quando o CAOP1 muda para Mansoa (em 3/2/1973), ele vai com a malta da 38ª CCmds (onde se incluía o nosso grã-tabanqueiro, o 1º cabo comando Amílcar Mendes, herói de Guidaje...). Portanto, deves ter ainda apanhado a 38ª CCmds, em Canchuingo, o alf Paiva, e outro malta...

Peço desculpa a todos pela confusão. E obrigado pelas novas fotos com as tuas Daimlers e os teus/nossos camaradas da 35ª CCmds, vão dar outro poste ...

Confesso que tenho uma grande "ternura" pelas Daimlers e o seu pessoal... Em Bambadinca apanhei "cavaleiros" excionais como o Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046 (1968/70) e o Zé Luís Vacas de Carvalho (Pel Rec Daimler, 2206, 1970/72). E vou confessar um "pecado moratl": um dia, completamente "apanhado do clima", e já mais para o fim da comissão, conseguiu convencer um dos homens do J. L. Vacas de Carvalho a ir ao Xime... beber uma bejeca...

A estrada estava em construção, e nós montávamos segurança à empresa TECNIL, mas havia sempre risco de minas e emboscadas. Eram 12/14 km para lá e outros tantos para cá... E ainda levei o Tchombé, que era a nossa mascote, um puto de 4/5 anos, adotado por nós... Eu, o Tchombé e o condutor... Loucuras, quem não as fez, com 23 anos, no teatro de operações da Guiné?

Julgo que nunca contei esta ao Zé Luís... E espero que ele me perdoe... Ou será que o condutor era ele mesmo? Não juro, nem acredito, mas era menino para "alinhar"... Tem alma e voz de fadista... Mas, não, não era ele... o condutor... O apontador da metralhadora foi dispensado; não cabíamos todos na "lata de sardinhas"... Estou a imaginar a "porrada" que levaria se as coisas tivessem dado para o torto... Mas nessa altura o troço em construção, Bambadinca-Xime (mais tarde alcatroado) era todo nosso, e os "gajos" do PAIGC, donos da margem direita do Rio Corubal,  pensavam duas vezes antes se meteram com os "nharros" (brancos e pretos) da  CCAÇ 12...

 As "vossas" Daimlers podiam ser um "bocado de lata", mas davam-nos sempre um grande "conforto" nas nossas colunas logísticas... Ou até na simples e rotineira viagem a Bafatá, por estrada alcatroada (30 km), que era o nosso dia de glória ("comer o ovo a cavalo com batatas fritas" na Transmontana, "dar dois dedos de conversas com as libanesas", "mudar o óleo no Bataclã!, "rezar na catedral", "fazer umas compritas na Casa Gouveia!", "dar um mergulho na piscina municipal", enfim, "respirar a civilização cristã e ocidental da Princesa do Geba"...).

E como eram "bailarinas" as vossas Daimlers, nunca as vi atascadas, nem nunca nos deixaram mal, mesmo com os pneus carecas... Glória às nossas velhas Daimlers!...

Ab. Luis


4. Comentário do Jaime Machado (Pel RecDaimler 2046, Bambadinca, 1968/70)

Caro Luis

As tuas doces palavras fazem-me recuar no tempo. Tudo o que escreves me volta à memória.
Será estranho dizer que quase tenho saudades desse tempo? Pudera, quem não gostaria de voltar aos 23 anos?

Faria tudo na mesma,  tenho pena do que deixei por fazer.
Ai as minhas Daimlers, que vaidade, que orgulho, que saudade.

Um abraço do Jaime.
____________

Notas do editor:

(*) Ultimo poset da série > 5 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16272: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte V: (Des)encontros... E em louvor das velhas Daimlers, que a sorte protege... quem tem olhinhos!

(**)  Vd. poste de 9 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10356: Tabanca Grande (358): Ramiro Jesus, ex-Fur Mil Comando da 35.ª CComandos (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

terça-feira, 5 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16272: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte V: (Des)encontros... E em louvor das velhas Daimlers, que a sorte protege... quem tem olhinhos!



Foto nº 26 > Fevereiro de 1973 – Chegada de Caió. Na segunda fotografia é visível o 1º cabo apontador Manuel Lucas.


Foto nº 25 > Fevereiro de 1973  A chegada de Caió


Foto nº 25  > Fevereiro de 1973  A chegada de Caió


Foto nº 29 > Outubro de 1972  – Uma nativa manjaca que encontrei a caminho da bolanha

.
Foto nº 30 > Outubro de 1972  – Uma nativa manjaca que encontrei a caminho da bolanha.


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73)


Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) [foto atual à direita] (*).

Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust;  p.reço de capa 12,50 €).

Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.


Poema >"Tarefas do Pelotão Daimler"


Rolando sobre a estrada
a abrir e a fechar
colunas civis ou militares,
éramos a força esperada,
metralhadora pronta a cantar
ao desafio os seus cantares.

Impunham algum respeito
estas massas de ferro circulante
armadas e brutas
nem que fosse pelo efeito
grotesco de velho ruminante
sobrevivente de esquecidas lutas.




Nos caminhos com tapete de alcatrão
rumo ao Cacheu e ao Pelundo,
por vezes até ao João Landim,
exibíamos o nosso vozeirão,
rouco, feroz e profundo,
num faz de conta de interim.

Nas visitas dos senhores do pdoer
às terras das redondezas
éramos presença obrigatória
não fosse chegar e não ver
o aparato a garantir certezas
dum final feliz para a sua estória.

Durante a noite, após o pôr do sol,
todos os dias do ano
fazíamos a ronda ao povoado
em passo de caracol«.
Por vezes, e não seria por engano,
a inquietação subia pelo grupo apeado.

Em situações menos comuns,
aataques e flagelações a aldeamentos,
recuperação de mortos e feridos,
pesem embora todos os zuns zuns,
lá íamos acudir aos sofrimentos
dos irmãos de armas combalidos.

O pelotão era da arma de cavalaria.
Foi integrado, adjunto à CSS,
num batalhão de infantaria.
A sua relativa independência,
graças à sua competência,
foi mantida sem grande stress.

"A sorte protege os audazes".
Assim rezava a divisa dos comandos.
A sorte protege quem tem olhinhos,
respondiam, entre dentes, mordazes,
os soldados de costumes brandos,
para quem os tomavam por anjinhos.

In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné 1971-1973. 
Aveiro, 2016, ed. de autor, pp. 29-31
(Reproduzido com a devida vénia).

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terça-feira, 28 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16242: (De)Caras (43): A minha lavadeira Aline... "herdou-me" (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto 1971/73)


Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > Outubro de 1972 > "A minha lavadeira Aline com a Maria Helena, nas traseiras da nossa".

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A minha lavadeira Aline

por Francisco Gamelas

A Aline “herdou-me”.
(Para uma nativa, um nome estranho.
Deveria ser investigado.)
Eu estava designado
no testamento,  num desenho
a propósito: um periquito. Contou-me

o alferes que fui substituir
que também tinha sido “herdado”.
A Aline era uma instituição.
Geração após geração
houve sempre o cuidado
de se lhe atribuir,

desde o seu tempo de bajuda,
o alferes das Daimlers.
Bonita tradição.
E por que não
se, entre todas as mulheres,
ganhou o posto sem ajuda?

Fui eu quem ganhou
com a  “herança” da Aline.
Presença bem esmerada,
roupa sempre limpa e asseada,
é a manjaca que define
o seu sentir  do que “herdou”.

Francisco Gamelas.
ed. de autor, Aveiro, 2016,  p. 53


Texto e foto dr Francisco Gamelas , ex-alf mil cav,  cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73). Engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. Preço de capa 12,50 €.

Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.
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Nota do editor:

Último poste da série >  b22 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16226: (De)caras (41): O cor inf ref José Severiano Teixeira nunca comandou o Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama, pelo que nunca poderia ter sido ele o oficial que puniu, em 1960, o 1º cabo mil Domingos Gomes Ramos, hoje herói nacional da Guiné-Bissau... E mais me disse que nessa época, em Bissau, constava que o Amílcar Cabral oferecia 80 contos (!), para se alistarem no PAIGC, a cada um dos militares guineenses do 1º Curso de Sargentos Milicianos (1959), a que pertenceu o nosso Mário Dias (Joaquim Sabido, advogado, Évora)