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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26326: Manuscrito(s) (Luías Graça) (264 ): Volta sempre, Irmão Sol




Praia da Areia Branca >  Varanda do GAPAB - VIGIA > 29 de dezembro de 2024 > Pôr do sol no Mar do Serro

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Volta sempre, Irmão Sol

por Luís Graça


O pôr do sol não tem metafísica nenhuma... 

Depois de ti,  Galileu Galilei... 

Mas uma dia a Terra irá cansar-se de tanto girar à volta do Sol...  

Convinha teres alguma teoria sobre isso, Galileu... 


São Francisco chamava-lhe Irmão Sol... 

Era um rapaz mais velho do que tu...

Mas geocêntrico. 

Bolas, o Sol estava a quase a 150 milhões de quilómetros

de distância de ti, Galileu...

E do Franscisco.

Sem nenhum de vocês o saberem.

Mesmo assim, aquecia-te, dava-te luz, desafiava-te, Galileu. 

E quiseram com ele atear uma fogueira, 

para te queimar, pobre Galileu.

E encheu de encanto e magia, 

místicos como o Francisco... 

Á borla, nesse tempo... 


Ainda não há eólicas no Mar do Serro, 

nem painéis solares no Paimogo da minha infância.

Nem plataformas petrolíferas.

Nem porta-drones do Mal... 

Mas, até quando, Galileu ?

Deixa dormir o teu/nosso Irmão Sol, Francisco.

Até amanhã. 

E que volte sempre.

E que nos proteja do inverno nuclear.

_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26302: Manuscrito(s) (Luís Graça) (263): Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26302: Manuscrito(s) (Luís Graça) (263): Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém



O arroz doce da "chef" Alice | Luís Graça (2024)


Jardim da Nita (1947-2023), Madalena, V. N. Gaia |  Luís Graça (2024)





Quinta de Candoz |   Luís Graça (2008)

Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém

por Luís Graça


Eu poderia ter escrito:

Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…

... e ter mandado um cartão
para os meus amigos
com votos de boas festas
nas mais desvairadas línguas do mundo:
Feliz Natal
Merry Christmas,
Joyeux Noël,
Feliz Navidad,
Buon Natale,
Frohe Weihnachten,
God Jul …

Mas não,
não escrevi nem mandei.
Neste Natal não mandei cartões de boas festas a ninguém.
Nem neste ano nem no ano passado.
Não me perguntem porquê…
Estou amuado com o mundo,
com os senhores deste mundo e do outro.
Mas este mundo e o outro
estão-se literalmente nas tintas para comigo
e para com os meus amuos.

Pensando bem,
os meus amigos (incluindo os meus camaradas da Guiné)
deviam merecer um cartão de ocasião,
um bilhete postal,
um 'cartanito', como dizem os alentejanos,
com os meus votos de boas festas
e como prova de vida e pedido de desculpas.
Eles não me levariam a mal,
esboçariam até um sorriso de condescendência,
quiçá até de compaixão…
Coitado,
está radioativo, protésico,parkinsónico,
quiçá alzheimareado!...

Queridos amigos e camaradas:
não é fácil não cair nos chavões
repetidos até exaustão, até à náusea,
nesta época dita natalícia
em que a natureza, a vida, os bichos,
os homens e até os deuses renascem…
Mas por outro lado
também é insuportável o silêncio,
a muralha da China do silêncio às costas do mundo.
Mesmo que haja excessivo ruído e poluição estética
nestes dias que antecedem o Natal e o Ano Novo,
mesmo que haja crise das comunicações,
é nos difícil não-comunicar.
É quase impossível não-comunicar.
É mesmo impossível não-comunicar.

De uma maneira ou doutra
acabamos por dizer aos outros, em geral
e aos amigos, em particular,
que estamos vivos,
que consumimos logo existimos,
que comunicamos logo pensamos,
que pensamos neles
e logo lhes mandamos um cartão, 
um simples email ou um poste no blogue.
Afinal, já não se mandam cartões de Natal pelo correio,
toda a gente tem agora uma caixa de correio eletrónico,
toda a gente está ao alcance de um clique,
já ninguém é infoexcluído,
toda a gente tem um telemóvel
e sabe mandar pelo Whatsapp
um cartão de boas festas natalícias.

No fundo, queremos sentir e fazer sentir
que os nossos amigos estão vivos,
que eles e nós estamos ainda vivos,
que somos uns felizardos por estarmos vivos…
É talvez a altura do ano
em que a solidão dói mais, custa mais,
custa mais a passar,
se é que algum dia passa.
Como se fora uma simples dor de dentes, ou de ouvidos…
Mas não é uma dor que passe com analgésicos.
Estás só, nos dois grandes momentos fulcrais da vida,
no alfa e no omega,
no princípio e no fim, 
no nascer e no morrer.
E, episodicamente, ao longo da vida,
tens a ilusão de estar acompanhado.
Afinal, estás só nas grandes decisões que tomas
ou que tomam por ti:
no nascer e no morrer,
no ir à guerra e matar
no ter um filho,
no assumir a paternidade…

Por isso hesitei
entre a palavra e o silêncio,
entre o pavor da palavra
e o horror do silêncio.
Gostaria de ter a certeza
que os amigos também se entendem através do silêncio,
também sabem deixar espaços em branco
para que o jardim da amizade se construa e se consolide
no silêncio dos dias e no pesadelo das noites,
em que não damos ou não queremos dar
sinais de vida uns aos outros.

Gosto, ou já gostei noutros natais,
da ideia, algo pueril,  de que o Natal deveria ser todos os dias.
Mas, por outro lado, recuo
ante a perspetiva de 365 dias de felicidade bovina,
365 dias todos seguidos,
sem um dia de discórdia,
de conflitos,
de chatices,
de problemas,
de incidentes,
de acidentes,
de stresse,
de adrenalina,
de ameaças,
de desafios,
de alegrias e tristezas,
de vitórias e derrotas,
enfim, de pequenos altos e baixos…

Como bom cristão
ou bom budista,
ou bom muçulmano
ou outra qualquer filiação do catálogo das religiões,
que não sou, 
ou como simples agnóstico,
manifestaria o desejo
de nos podermos organizar nesse sentido,
ou seja, de virmos a ter Natal todos os dias.
Não no calendário ,
mas em nós mesmos,
nos nossos corpos e almas,
nas nossas casas,
colmeias,
casulos,
redes neuronais,
casernas,
ilhas,
ilhotas,
arquipélagos,
empresas,
guetos,
depósitos de velhos a que chamamos lares de 3ª idade,
bairros,
cidades,
países,
mundos…
Nas nossas covas da moura, nas nossas mourarias,
ou nas nossas moradias de um milhões de euros.

Dito isto, hesitei...
hesitei entre o silêncio e a palavra,
sabendo que a comunicação é uma armadilha,
mas mais forte é o apelo dos sons, dos cheiros,
dos sabores, das cores e dos tons
o amor e da amizade
neste princípio de Inverno de 2024,
na despedida de mais um ano,
em que inexoravelmente ficamos mais velhos
e estamos mais sós,
irremediavelmente sós
tão sós como os milhões, biliões, trilióes de estrelas do universo
mas continuamos a ser animais, de sangue quente,
mamíferos, primatas, territoriais, sociais,
circadianos e heliocêntricos.
Animais que deixam peugada, 
muitas peugadas, 
existenciais e ecológicas,
físicas e simbólicas.

Não sei se foi mais um annus horribilis,
mas não foi um ano fácil,
lá isso não foi.
Como o não foi o 2023,  e por aí fora,
e como o não será  o de 2025,
para todos nós, homens e mulheres
que procuramos manter habitável e amigável o planeta,
a começar por aqueles que não têm motivos,
grandes, pequenos, assim-assim,
para sorrir, dar gargalhadas,
ter esperança e ter alegria.
Não foi fácil viver e sobreviver em 2024.

Penso naqueles,
para quem o ano de 2024 não foi pai nem mãe,
mas padrasto e madrasta,
mesmo que o ano, coitado,
não tenha personalidade jurídica,
nem coração nem razão,
contrariamente ao nosso patrão,
ou ao polícia do nosso bairro,
e o calendário seja o bombo da festa das nossas frustações…
Penso naqueles que vão morrer em 2025,
de uma lista onde estamos todos, de A a Z.

Neste Natal gostaria de poder enviar-vos daqui,
uma palavra
que fosse doce, quente, amiga, solidária,
fofa, calorosa, vistosa, feliz,
em forma de bolo-rei 
(gosto mais do bolo-rainha porque não tem frutas cristalizadas),
ou de pires de arroz doce com canela
ou de aletria (para os do Norte)
ou de prato de rabanadas,
acabadas de fritar.
Ou ainda de girândola de foguetes,
do estuário do Tejo à baía do Funchal.

Mas sinto-me colado ao teclado,
vidrado, bloqueado, cristalizado,
enquanto lá fora a neve coze as pencas do Norte
que irão ser comidas na Consoada
com o bacalhau com todos.
Ou chegam grandes paquetes
com gente que pagou uma nota preta para fugir
do Natal da tundra e do deserto e da estepe
com velhos e louros e novos,
que vêm ver a feérica cidade-presépio mais a sul,
que não é seguramente
a cidade do Menino Jesus da minha infância.

Talvez antes
eu devesse convidar-vos
para se sentarem à mesa comigo
nesta consoada ou na passagem de ano.
Mesmo simbolicamente que fosse.
À mesa somos verdadeiramente companheiros,
porque partilhamos do mesmo pão
e bebemos do mesmo vinho.
Na guerra, sim, somos ou fomos camaradas.
Fico na dúvida sobre o que é
física, mental, emocional,
social e espiritualmente mais correto.
Já não acrescento o politicamente correto
porque não queria estragar a quadra que é natalícia
e que deve ser festiva
e que deve ser de paz para todos os homens de boa e má vontade.

Neste ano (nem nos passados anos) 
não vos mandei um cartão de boas festas
com os dizeres:
Neste Natal
tornem o mundo mais bonito
com o vosso sorriso,
com as vossas gargalhadas,
com as vossas emoções à flor da pele…


Não tive coragem,
confesso que não tive coragem nem lata.
Ou sobretudo lata.
Não tive lata, falta de vergonha ou de pudor,
Ou se calhar não quis,
não tive pachorra, não pude,
fiquei sem internet, estive com gripe, ou houve greve dos correios…
Poderia invocar outra desculpa qualquer,
que seria sempre uma desculpa,
esfarrapada…

Este ano (nem nos anos passados) 
não mandei um cartão de boas festas
nem para aqueles que cuidam da minha saúde,
e para quem quem tenho uma dívida de gratidão,
da minha médica  de família aos meus enfermeiros,
do  meu urologista à oftalmologista que me operou às cataratas,
da minha neurologista à minha hematologista,
do meu ortopedista ao meu personal trainer,
da minha audiologista ao meu otorrino,...
sem esquecer a senhora ministra da indústria da doença.

Mesmo não podendo ou não querendo,
ou não querendo e não podendo  ao mesmo tempo,
acabei, afinal, por vos mandar, a todos e a todas, 
os meus votos de boas festas de Natal e Ano Novo.
Atabalhoadamente...

Que sejam, ao menos, quentes e boas
…como as castanhas assadas.

Madalena, 24 de dezembro de 2007.
Revisto:  Funchal, 31 de dezembro de 2008  | Madalena, 23 de dezembro de 2024.| 

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terça-feira, 26 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26195: Manuscrito(s) (Luís Graça) (262): Porto Santo e a África aqui tão perto - Parte VI: Casa Colombo - Museu de Porto e dos Descobrimentos Portugueses



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Mural de Cristóvão Colombo, pintado a spray no edifício da Câmara Municipal do Porto Santo, da autoria de artista de arte urbana Mr. Dheo, natural do Porto e com obra espalhada por mais de dezena e meia de cidades de todo o mundo.



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses






Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > Casa Colombo - Museu da Madeira e dos Descobrimentos Portugueses > 4 de outubro de 2024 > A Odisseia dos Mares > Painel sobre o Tratado de Tordesilhas


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


1. Pois é... já lá vai o tempo em que os dois então poderosos vizinhos ibéricos pegavam no globo terrestre e, qual  "melancia", cortavam-no ao meio.. E toma lá, dá cá... A gente sabe como é que acabou a história: sobrou para nós, "os últimos soldados do império"... 

Foi isso que eu pensei quando em 4 de outubro me pus a ler estes painéis sobre a "Odisseia dos Mares", no Museu de Porto Santo, na Vila Baleira... Aliás, Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses...

Pois é, o Fernando Medina, o anterior presidente da Câmara Municipal de Lisboa,  queria criar na cidade um Museu dos Descobrimentos. É preciso distrair os turistas quando nos vêm "visitar" e deixar cá uns euritos... Que a cidade, em boa verdade, em matéria  de museus e monumentos nacionais e outras "atrações turísticas", não pode competir, nem de longe nem de perto com as rivais (Londres, Paris, Madrid, Roma, Amesterdão, Berlim....). (A culpa, dizem, foi do terramoto de 1755 que tudo levou, mais a beatice e a incultura  da maior parte dos nossos reis e rainhas que nunca foram grandes nem exigentes colecionadores de arte, muito menos profana.)

Caiu-lhe o Carmo e a Trindade em cima, ao pobre do Medina: "seu saudosista, seu imperialista, seu esclavagista, seu negreiro, seu colonialista, seu racista, seu filho daquele e daquela"... Enfim, quem tem ideias que não sejam "politicamente corretas", como esta pouco ortodoxa do "Museu dos Descobrimentos", está sujeito a levar  no "toutiço" dos historiadores, dos curadores de museus, dos dirigentes de associações de afro-descendentes, dos jornalistas, e por aí fora, sem esquecer os novos censores das redes sociais...

Mas os madeirenses (incluindo os porto-santenses) não deixaram cair a ideia em saco roto...e logo em 2023 decidiram, sem complexos,  remodelar e ampliar o museu local de Porto Santo, inaugurada em 1989 e reestruturado em 2004, passando a Casa-Museu Cristóvão Colombo,  a chamar-se Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses.

Afinal, foi aqui (e em Ceuta) que tudo começou...Para o bem e para o mal, para a glória e para a perdição...(Em boa verdade, o que seríamos nós, Luís Vaz de Camões, enquanto povo, se toda a gente tivesse dado ouvidos ao teu  "homem do Restelo" ?!...)

Pensando bem, até  já havia um núcleo museológico, baseado na casa onde, segundo a tradição,  o  descobridor do "Novo Mundo" viveu e casou com uma das filhas do capitão donatário da ilha, o Bartolomeu Perestrelo, filho de mercadores italianos. (Eu sempre o tratei, ao Colombo,  por idiota por  ter chamados "índios" aos desgraçados que foram "descobertos" para começarem logo a ser "dizimados"; e idiota por se ter enganado na leitura das cartas  de navegação e pensado que tinha chegado às "Índias"; se, calhar, mais do que idiota, mas isso é outra história, outra conversa,...).

A Casa Colombo - Museu do Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses apresenta uma nova museografia (nunca conheci a anterior), tendo  sido enriquecida com novos conteúdos e recheios, estes fruto da  doação mecenática de obras de oficinas nacionais e europeias (Alemanha, Espanha, Flandres, França), africanas, asiáticas e sul-americanas.

Do interessante espólio entretanto adquirido destacam-se peças que vão desde o século IV até ao século XVIII (tais como pratos, taças, travessas, terrinas, vasos, garrafa, bilha, azulejos, elmo, imagens devocionais em escultura e pintura, mobiliário, gravuras, mapas e moedas),  enfim, obras executadas nos mais diversos materiais com o porcelanas, faianças, cobres, marfins, madeiras exóticas, tartaruga, madrepérola, ferro, etc.. 

Em suma, é um pequeno grande espaço de cultura, de memória e de aprendizagem, que vale uma visita,e que aconselho  a quem, dos nossos amigos e camaradas, for passar uns dias à "Ilha Dourada". Os antigos combatentes têm acesso gratuito à Casa Colombo... 


PS - Contrariamente ao que aprendemos, nos anos 50, na escolinha primária do livro único, a ilha de Porto Santo não foi "descoberta" em 1420 pelos portugueses João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo, mas sim "reconhecida" por eles... Já vinha assinalada pela cartografia castelhana por volta de 1385. E em 1417 navegadores castelhanos tinham passado pela ilha (desabitada).... 

Vinte e seis anos depois, em 1446, os portugueses chegavam à Costa da Guiné... Podemos dizer, isso, sim, sem euforia (muito menos com arrogância) mas com orgulho, que foram os nossos antepassados quem abriu a grande autoestrada marítima que deu "novos mundos ao Mundo", unindo terras, ilhas,  mares, continentes, povos e civilizações... E tudo começou há mais de 600 anos... Porto Santo é, pois, uma referência emblemática, incontornável...

Como todas as odisseias humanas, reais ou míticas ou mitificadas (como a de Ulisses), a nossa "odisseia dos mares", os nossos "Descobrimentos", também tiveram efeitos perversos, é bom não esquecê-lo... Mas assumamos tudo isso, de maneira crítica, frontal  e...descomplexada!

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26116: Manuscrito(s) (Luís Graça) (261): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte V: o Pico da Ana Ferreitra e a magia da geologia

 












Porto Santo > Pico Ana Ferreira, geossítio nº 4  > 2 de outubro de 2024


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É o geossítio (PSt04) que vale o percurso de jipe (pela parte Norte da ilha,  4 pessoas, custando 40 euros por pessoa, num total de 3 horas com guia).

É o ponto mais alto da ilha, no lado ocidental (288 m). Fica-se estarrecido com o "piano", o conjunto de "colunas prismáticas", nascidas do "génio" do vulcão, ou,  em linguagem menos poética, resultante do fenómeno, que em geologia e geomorfologia se chama ... disjunção prismática.

Não há muitas, no nosso planeta, formações geológicas exibindo disjunções prismáticas como esta... Só não percebo por que é que ainda não foi classificada como "monumento natural", e não há maior cuidado com a sua proteção.

Cite-se mais algumas famosas a nível mundial:


Este geossítio no Pico Ana Ferreira durante anos foi uma pedreira. Extraía-se pedra para a construção e obras públicas.  Até que alguém deu conta desta obra-prima da natureza, que é um regalo para a fruição estética... e uma referência obrigatória para a educação ambiental e o turismo na ilha.

Lê-se no  "site" oficial da Geodiversidade da Região Autómoma da Madeira:

(...) "Nesta antiga pedreira do Pico de Ana Ferreira observa-se uma disjunção prismática com colunas quase perfeitas, de elevado valor estético. 

"Esta estrutura, de cor cinza clara, foi originada pelas tensões de contração que se geraram durante o arrefecimento do magma no interior de uma conduta vulcânica.

"A rocha resultante do magma consolidado - mugearito, por ser mais resistente do que as rochas encaixantes, sobreviveu à ação erosiva, enquanto o material à sua volta foi desaparecendo ao longo do tempo." (...)

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Nota do editor:

2 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26109: Manuscrito(s) (Luís Graça) (260): Ao fim da tarde, ao pôr do sol no Atlântico, lembramos neste dia todos os nossos mortos queridos

Vd. poste anterior > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (259): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV

sábado, 2 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26109: Manuscrito(s) (Luís Graça) (260): Ao fim da tarde, ao pôr do sol no Atlântico, lembramos neste dia todos os nossos mortos queridos







Lourinhã > Praia do Areal Sul >2 de novembro de 2024 > Pôr do sol

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Hoje é Dia dos Fiéis Defuntos, Dia de Finados ou Dia dos Mortos, segundo o calendário litúrgico da Igreja Católica. Mas outras igrejas cristãs também celebram o dia dos mortos: além dos católicos,os anglicanos, os ortodosos, os metodistas...


Em todas as comunidades humanas, há rituais de celebração da morte e dos mortos... Sem quaisquer preocupações metafísicas, acabo de tirar essas fotos do pôr do sol  na minha terra, banhada pelo Atlântico.  Num fim de tarde, magnífico, e com um mar sereno... e tentando abstrair-me do facto de há 150 milhões de anos a duna onde me sento,  não existir, nem esta praia, nem este mar, nem a terra que me viu nascer, nem as Berlengas aqui à minha direita... 

É impossível, contudo,  neste sábado, dia 2 de novembro de 2024, e a esta hora mágica do fim de tarde, até por força das nossas tradições e da nossa cultura, não nos lembrarmos de todos os nossos entes queridos, que conhecemos em vida,  da família aos vizinhos, dos colegas de escola e de trabalho aos camaradas de armas, dos amigos aos compatriotas mais ilustres, enfim, de todos aqueles que da lei da morte já se libertaram (citando o maior de todos os nossos vates, o Luís Vaz de Camões, cujo quinto centenário de nascimento começámos a celebrar este ano)... 

Estão também no nosso pensamento  os membros da Tabanca Grande que já se despediram da Terra da Alegria... São já 150, nestes últimos 20 anos da nossa existência.  O último dos quais,  a nossa querida Regina Gouveia (1945-2024).

À boa maneira romana, rogamos a todos os deuses de todos os panteões, criados por todas as culturas humanas, para que os nossos queridos mortos possam descansar em paz, e que o sol continue a iluminar e a aquecer o nosso planeta, a nossa frágil casa comum... (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (259): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26092: Manuscrito(s) (Luís Graça) (259): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte IV - Nem os "profetas" escaparam... à guerra colonial

 

Foto nº 30 > Porto Santo > 1 de outubro de 2024 > Ponta da Calheta e vista da cota norte


Foto nº 31 > Porto Santo > 1 de outubro de 2024 > Ponta da Calheta... e os sinais geológicos da origem vulcànica da ilha...



Foto nº 32 > Porto Santo > 1 de outubro de 2024 > Ponta da Calheta... A vida que náo desiste...


Foto nº 33 > Porto Santo > 3 de outubro de 2024 > Miradouro das Flores > O Ilhéu de Baixo ou da Cal


Foto nº 34 > Porto Santo > 3 de outubro de 2024 > Miradouro das Flores > Nove quilómetros de praia que precisam de proteção contra o lobi do cimento armado (a construção, o imobiliário, a hotelaria, o turismo... )


Foto nº 35 > Porto Santo > 3 de outubro de 2024 > Outubro de 2024  > Um pequeno bosque de pinheiros raquíticos no sítio dos Morenos, na costa  Norte


Foto nº 36 > Porto Santo > 3 de outubro de 2024 > Outubro de 2024  > O dragoeiro ou "sangue-de-dragã", uma espécie  A espécie é originária da região biogeográfica atlântica da Macaronésia (Madeira, Canárias e Açores). Este foi plantado por mão humana, numa praça da Vila Baleira. Está extinta em Porto Santo, como espécie selvagem.



Foto nº 37 > Porto Santo > 3 de outubro de 2024 > Outubro de 2024  > Adro da igreja de Na. Sra. da Piedade, a igreja matriz, cuja construção remonta a  1430/1446. Foi várias vezes pilhada e destruída pelos corsários. Reconstruída totalmente em 1667.


1. Não sei se houve algum concelho do país (continente e ilhas) sem mortos na guerra do ultramar / guerra colonial... Escapou, por certo,  a ilha das Berlengas, por que não tinham habitantes permanentes (na época, só faroleiro).

Nem o minúsculo território de Porto Santo (com pouco mais de 42 km2 e c. 3500 habitantes em 1960) escapou à fatalidade de uma guerra prolongada e distante para a qual foram mobilizados c. de 800 mil portugueses (sem contar com os africanos, c. de 200 mil). 

Pois dos naturais de Porto Santo (porto-santenses e não portos-santenes...) houve pelo menos um morto, se bem que por doença, o 2º srgt iuf, Tibúrcio Alencastre Pestana, em Moçambique, em 13/8/1970.

Na visita que eu fiz à ilha, como turista (a reboque de duas canadianas!), de 29 de setembro a 6 de outubro passado, não me dei conta de qualquer pedaço de memória dessa guerra.  Há referência ao início da nossa expansão marítima, a alguns dos seus principais atores e beneficiários (a começar pelos capitães-donatários das ilhas:  João Gonçalves Zarco, ficou com o Funchal,  o Tristão Vaz Teixeira, com o Machico, e o Bartolomeu Perestrelo, com o Porto Santo...). 

Não faço ideia quantos porto-santenses foram mobilizados, entre 1961 e 1974.. Mas a ilha tem o seu martirológio, a sua lista de vítimas, por ataques de piratas e corsários bem como de epidemias e fomes... 

No Museu de Porto, de acesso grátis para antigos combatentes (Casa Colombo -. Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses) fiquei a saber coisas que não sabia, a começar pela estranha alcunha, "Os Profestas", que foi dada aos seus habitantes, e que já vem do séc. XVI, ou seja, do início do império...

Também a fiquei a saber mais detalhes da brutal incursão de que a ilha foi vítima, em 1617, por parte de corsários argelinos... Com uma costa tão extensa e aberta, a sul, e localizada a uns escassos 500 km da costa ocidental africana, e a mil do sul da Europa, sofreu, nomeadamente até ao séc. XVII, as incursões, pilhagens, raptos e assassínios de piratas e corsários que agiam sob várias bandeiras... A mais trágica terá sido, de facto,  a de 1617.

Foi sempre uma ilha de extrema pobreza, sofrendo os efeitos de uma dupla colonização: até ao reinado de Dom José I, vigorou o miserável sistema de "colonia" na exploração da terra, em que os colonos eram os porto-santenses e os senhorios os madeirenses...A colonia foi extinta, em Porto Santo, pelo menos "de jure", por alvará régio de 13 de outubro de 1770.

Contrastando com a Madeira, é uma ilha paupérrima, em termos de recursos materia
is, a começar pela flora, são escassas as árvores (vi palmeiras,  pinheiros, alguns dragoeiros...),. Mas a ilha, mais antiga que a Madeira, é uma joia para os geólogos...e os amantes da natureza.

A ilha do Porto Santo começou a formar-se há 19 milhões de anos, tendo emergido  há  8 milhões de anos.      A Madeira, por sua vez,  data da mesma época (há 19 milhões de anos, no Mioceno) mas só emergiu durante a  transição do Mioceno para o Plioceno, há cerca de  5 milhões de anos. O que não é nada, sabendo que os dinossauros do Jurássico,  evoluíram entre 200 e 146 milhões de anos, passeando-se entre a Lourinhã e Nova Iorque. (Estás a ver, João Crisóstomo, irás fazer o mesmo percurso, não a pé, obviamente, mas de avião,  150 milhões de anos depois...).

Para saber mais sobre a Porto Santo e os porto-santenses:


(I) População (de alcunha, os "profetas"...)




(ii) Segurança...



(iii) Economia....




Fonte:  Casa Colombo -. Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses) ... (Seleção, sublinhados a vermelho: LG) (com a devida vénia..)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26034: Manuscrito(s) (Luís Graça) (258): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte III: uma ilha... "fotogénica", mas com dupla "insularidade"

 


Foto nº 20 > Porto Santo >  Um dos icónicos moinhos de vento da ilha, no Campo de Cima. (O primeiro terá sido construído em finais dp séc. XVIII.) 


Foto nº 21 > Porto Santo > Anoitecer, na baía. Vista do porto de abrigo. É aqui que atratca todos os diuas o "ferryboat "Lobo Marinho", que faz a ligação diária com o Funcal.


Foto nº 22 > Porto Santo _ Miradoiro da Portela. Vista  da Vila Baleira e praia,


Foto nº 23 > Porto Santo > Serra de Fora > Terras que há dera,m cereal (1)...


Foto nº 24 > Porto Santo > Serra de Fora > Terras que lá deram cereal (2).... 


Foto nº 25 > Porto Santo > Resaurante  "Teodorico" > O bolo do caco


Foto nº 26 > Porto Santoo >Vila Baleira  > Caf+e Bar "O Rapaz" > A cerveja Coral (que vem da Madeira)


Foto nº 27 > Porto Santo > Serra de Fora > O "Teodorico", um dos restuarantes de referència da ilha


Foto nº 28 >  



Foto nº 29 Porto Santo > Vila Baleira > Casa Colombo (3)

Região Autónoma da Madeira, Porto Santo > 29 set - 6 out 2024

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  A ilha é fotogénica: dá para tirar umas belas "chapas"... Maz lembrar o canto da sereia... Eu imaginei-me náufrago numa ilha como esta. Que não tem nada para um desgraçado de um ser humano poder sobreviver. Hoje vem tudo da Madeira. A sua dupla ou tripla insularidade assusta-me. 

Mas há gente que aqui nasce, estuda, trabalha, vive, se casa, faz filhos, envelhece, adoece e morre. Há gente que emigra, mal acabada a escolaridade obrigatória. Mas também há gente que vem para aqui trabalhar, como imigrante. Das mais diferentes partes do planeta: falei com "miúdos" da Argentima, do Brasil, de Marrocos, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, do Comgo0 Kinshasa, de São Tomé e Príncipe, de Angola, de Moçambique, do Nepal, do Banglasdesh, etc.  A qualidade do turismo foi afetada com a pandemia, a perda de recursos humanos e o inevitável recurso a mão-de-obra temporária estrangeira... 

Desde há mais de cinco séculos que é (ou foi) uma ilha sofrida e de sofrimento. O turista, que vem aqui passar as suas "férias de sonho", não quer saber nada do seu parto violento, a sua origem vulcânica, a sua desertificação, a sua secura, a sua terra estéril,  os dramas e tragédias mas também as lições de coragem da sua gente... (Confesso que só falei com meia dúzia de porto-santenses de origem, do homem do táxi, do jardineiro do hotel, ou  das funcionáras do museu...).

Merece ser conhecida, com mais detalhe, o rol de tragédias que marca a história dos desgraçados que colonizaram a ilha. Gente de coragem e tenacidade. É a ilha mais próxima da nossa plataforma continental e a primeira a ser "achada" e povoada...logo no início do séc. XV. 

Com a conquista de Ceuta (1415), inicia-se, para o mal e para o bem, o império colonial português, o primeiro império global da história... O passo seguinte foi Porto Santo (1418).

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