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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26747: (In)citações (268): O mês de Abril e as amêndoas amargas (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) que transportava um grupo de combate reforçado, comandado pelo Alf Mil Armandino, que sofreu em 17 de Abril de 1972, uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74).

Foto: © Paulo Santiago


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 27 de Abril de 2025:

Meus amigos e camaradas
Aqui vai algumas recordações e pensamentos quase no fim deste Abril

Um abraço
Juvenal Amado



O MÊS DE ABRIL E AS AMÊNDOAS AMARGAS

A recordação das Pascoas da minha infância são as amêndoas de gesso que o senhor prior dava nas casas que contribuíam menos para a igreja.

Chupava-se algo adocicado até ao caroço que deitávamos fora por ser intragável daí o nome as amêndoas de gesso. Francamente, e a verdade seja dita, não éramos frequentadores da igreja e após ser obrigado na 1.ª classe a frequentá-la por imposição da senhora professora, que nos formava cá fora para entrarmos com grande solenidade dois a dois, de mãos dadas, para belo efeito. Entretanto saí dessa escola e nunca mais me apanharam. A verdade tem que ser dita só voltei a frequentar a igreja às entradas e saídas, embora me tenha envolvido em actividades num clube dirigido por dois padres muito jovens, que tinham um discurso muito próximo da juventude. O destino desses padres foi o que era de prever naquele tempo.

Mas este ano a Pascoa calhou em Abril, mês luminoso embora chuvoso, mas o corpo sente a Primavera e os cheiros diferentes no ar. Há cinquenta e três anos estava no Xime para embarcar na LDG com viaturas avariadas e diverso armamento deixado pelos guerrilheiros no seu encontro de frente com os nossos camaradas da 3491 do Dulombi. Foi o que se pode chamar milagre, por só terem havido uns camuflados cantis e quicos furados pelo o fogo de automáticas com que a malta piriquita foi obsequiada. Em contrapartida a reacção dos nossos camaradas pôs em debandada o IN, que deixaram diverso material de guerra no local.

Mas voltando ao Xime, já era costume nós irmos para lá sem data de regresso e assim se passaram algumas semanas em que as LDGs iam atulhadas e o meu equipamento lá continuava ao Sol sem saberem o que as viaturas continham. A Pascoa foi no Domingo 2 de Abril 1972, a LDG vinha neste dia, quando somos surpreendidos por uma coluna com quatro caixões. Uma coluna macabra e mais macabra a situação que a resultou. Segundo se veio a confirmar, um soldado entrou no gabinete do capitão com uma granada de mão, que deixou explodir, matando o capitão, um 1.º sargento e um furriel, para além dele próprio.

Escusado será falar no horror que o incidente nos causou. As urnas foram embarcadas e nós lá ficamos no cais a ver a embarcação desaparecer. Passados dias vem outra coluna de Pirada com mais um soldado que tinha descavilhado uma granada de mão, debaixo de um ataque de abelhas e na vez de uma granada de fumo, usou uma ofensiva com o triste resultado. Dessa vez embarquei com muito custo, pois as viaturas não trabalhavam nem tinham travões e quem andou por aquelas bandas sabe da rampa que se descia até entrar na embarcação, engrenei a marcha atrás e lá vou eu por ali abaixo três vezes com granadas de RPG na bagageira.

Foi um mês de Abril sangrento, pois no dia 17, na emboscada do Quirafo, perdemos uma dezena de camaradas da 3490 do Saltinho, facto já por aqui falado e documentado, em especial pelo os nossos camaradas Paulo Abrantes Santiago e o Marques.

Mas o mês de Abril voltou a sorrir quando desembarquei em Lisboa passados 27 meses de comissão, no dia 4, abracei os meus e senti-me em Paz.

20 dias depois no 25 de Abril dancei chorei e abracei toda a gente porque vinha aí o Futuro e o primeiro dia do resto das nossas vidas.

O mês deste ano deixa-nos com um acontecimento triste para católicos e não católicos com a morte do Papa Francisco, um Homem bom muito amado, amante da Paz, que deixa este Mundo num futuro incerto. Um arauto da inclusão das minorias, defensor de uma Igreja e um Mundo para todos. Que esteja em Paz.

Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 25 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26724: (In)citações (267): O Vinte e cinco de Abril é um poema universal (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

terça-feira, 29 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26741: Notas de leitura (1793): Um Trajeto de Vida, por Rui Sérgio; 5 Livros, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Há um bom par de anos, ao fazer determinada recensão, deplorei a imensidade de gralhas, no mínimo três por página, e ainda por cima a história era um tanto mirabolante e com dados etnográficos e etnológicos longe da verosimilhança. Caiu-me o Carmo e a Trindade, não se devem fazer reparos tais em ambiente de camaradagem, como se o trabalho da recensão fosse obra de amiguismos, nada de pôr a má literatura pelas ruas da amargura, havia que dourar a pílula. 

Aprendi com a lição, e com estes dois livros do Dr. Rui Sérgio o que posso dizer é que me surpreendeu que no meu tempo (1968/1970) ia-se a Galomaro de jipe entregar coisas e seguia-se para Bafatá para levantar o correio, era uma estopada, mas era tudo tomado como o recreio; a retirada de Madina do Boé deu imensa força ao PAIGC, e toda aquela região do Cossé, Badora e Duas Fontes tornou-se um vespeiro, a guerrilha atravessou o Corubal, inevitavelmente houve que fazer um forte investimento militar, Galomaro passou a ser sede de um batalhão, formaram-se pelotões de milícias para evitar mais desastres, a guerrilha destruía as tabancas Fulas. 

Nesse sentido, revela-se muito útil ver estas imagens que Rui Sérgio dá à estampa a propósito da sua estadia em Galomaro. Quanto a um trajeto de vida, limito-me a contar a história, não falo em nenhum pesadelo de gralhas nem na linguagem grosseira usada com os oficiais do quadro permanente que estiveram na Guiné.

Um abraço do
Mário



Rui Sérgio, médico em Galomaro, romancista com memórias guineenses

Mário Beja Santos

Graças ao apoio que me é dado pela Biblioteca da Liga dos Combatentes em Lisboa, tive acesso a duas obras de Rui Sérgio [foto à direita], aviso que há mais livros, todos eles publicados pela 5 Livros, no Porto. 

Começando por o livro mais recente, editado no início de 2023, ficamos a saber que este alferes miliciano médico estacionou sobretudo em Galomaro, então denominado setor L5, apoiou o BCAÇ 3872 e o BCAÇ 4518. 

A obra é fundamentalmente um álbum fotográfico, o autor não deixa de aludir à africanização da guerra, era no seu posto médico que se preparavam as unidades africanas para aprenderem a prestar os primeiros socorros. “Tinham todos de saber fazer um penso oclusivo, uma ligadura ou penso compressivo, um torniquete, um membro superior ou inferior, para impedir a sangria por feridas perfurantes, uma manápula, uma imobilização da tibiotársica. Saber injetar intramuscularmente substâncias farmacêuticas.” 

Seguem-se imagens associadas à reconstrução de aldeias, à atividade dos pelotões milícias na região de Galomaro, curso de primeiros socorros; e depois um conjunto apreciável de instantâneos sobre gente com quem Rui Sérgio conviveu, sobre a vida do quotidiano em Galomaro, imagens de lavadeiras, colunas de abastecimento, bem como imagens isoladas de Bagancia-Duas Fontes, Cancolim, Saltinho, Xitole e Dulombi.

O romance Um Trajeto de Vida foi publicado em finais de 2021, vamos ficar a saber que há um jovem que aos 24 anos tirou o seu curso superior de Medicina na Universidade do Porto com altas classificações, o autor dá-nos o retrato do Dr. Penedo Couto: 

“Nem gordo, nem magro, nem alto nem baixo, bem parecido, encafuado numas calças boca-de-sino, com um blazer de cor azul marinho de botões dourados e de trespasse sobre a camisa de riscas, com colarinho de bicos, com nó de gravata monocromática azul petróleo, envolvendo um pescoço de colo curto, segurando uma cabeça de testa alta, rosto redondo de lábios rasgados e mordisqueiros, com olhos castanhos-vivos e brilhantes a encimar uma face bem escanhoada, dividida por um nariz bem centrado de perfil helénico que confere uma harmonia estética que dá nas vistas.” 

Chama-se Rodrigo. É-nos apresentada a família, de posses, há motorista e há Jaguar, a criada de quartos é doida por este menino, ele tem uma irmã. O pai trabalha numa import-export. Há viagens, a gastronomia é farta e variada. Rodrigo irá conhecer Soraia Cruz, aluna das Belas Artes do Porto, seguem-se amores arrebatados em Paris, tiro e queda, há uma passeata por Londres, regresso a Paris, confirma-se uma atração sem limites, já estão no Porto, embora venham de famílias nitidamente conservadoras, resolvem viver juntos, a menina está grávida, o Rodrigo tem um internato exigente, nasce uma filha daquela paixão assolapada, a Bruna, em 10 de junho de 1971.

No Natal o Rodrigo recebe a convocatória para o serviço militar, soldado-cadete em Mafra, Rodrigo aproveita para dizer que Portugal era governado na altura em que começou a guerra por um líder de grande craveira e com um jogo de cintura e maleabilidade a todos os títulos invejáveis. Portugal era respeitado em qualquer parte do mundo e a nossa moeda muito apreciada. 

Finda a recruta fez a especialidade no Hospital da Estrela e na Escola de Saúde Militar em Lisboa. Numa tentativa pedagógica, com a preocupação de inserir o leitor sobre as doenças tropicais, vai falar-nos da Guiné e do centro de deteção de doenças parasitárias, segue de avião para Bissau, abre-se a porta do avião e é um calor de estufa, apresenta-se ao chefe de serviço de saúde civil. Ficamos a saber qual a atividade deste alferes miliciano médico. 

“O meu trabalho consistia em pesquisar em lâminas, da picada de sangue de militares, a maioria de regresso à metrópole, de manifestações palúdicas no cumprimento do serviço militar obrigatório.”

Fala-nos da cidade, não faltarão as comezainas, muitas ostras, militares por toda a parte. E o Rodrigo cheio de saudades da Soraia e da Bruna, dos pais, da irmã, das tias e dos amigos. Procura esclarecer-se sobre aquela guerra, diz ele orquestrada por países de Leste, Cuba e também pela Suécia. 

Rodrigo arranjou habitação, Binta fazia a limpeza da casa, iremos saber que se tinha perdido de amores por um soldado metropolitano, o João Madeira morreu mas deixou a Binta grávida. Havia um jardineiro, o Braima, e passou a ser importante na vida do Rodrigo o Joãozinho, o filho da Binta. Habituou-se às chuvas tropicais, à praga de gafanhotos, à multiplicidade de cores, cheiros e pregões.

O chefe dos serviços de saúde civil apresentou ao general Spínola o plano de deteção de doenças tropicais a quatro batalhões de regresso à metrópole, havia que ir a Teixeira Pinto, Bolama, Bambadinca e Nova Lamego, as primeiras correram muito bem, seguiram do Xime para Bambadinca e a 30 km de Nova Lamego houve emboscada. 

Enquanto faz o seu trabalho no Leste, Rodrigo cogita sobre as crueldades e os horrores da guerra, como é que é possível haver gente a instigar as guerras, como é que ele podia acreditar em gente cuja ideologia era fomentar guerras? As ideologias marxistas eram as principais fomentadoras da guerrilha, chineses, checos e russos fomentavam todo o tipo de atrocidades, os outros países não reagiam, havia muita gente interessada em vir comer os despojos. 

E regressa a Bissau, a Soraia vem visitar o seu apaixonado, o pai de Rodrigo também vem, seguem-se as preocupações de regularizar a situação do Joãozinho, legalizou-se a Binta Camará, o passo seguinte seria o pedido da pensão de sangue para o Joãozinho. Depois o casal e o pai de Rodrigo viajaram até aos Bijagós, o médico ia fazer a sua itinerância de saúde civil a Bubaque, foram umas férias deliciosas, mais comezaina com ostras fresquíssimas, presunto fatiado, não falta farinheira de Arganil e linguiça.

A guerra recrudescia, chegaram os mísseis terra-ar, surgiu a guerrilha urbana, isto é, estoirou uma bomba na esplanada de um restaurante em Bissau. Começaram os planos para levar a Binta Camará e o Joãozinho para a metrópole. Entretanto, estava em formação o Movimento dos Capitães, o autor fala numa tremenda rivalidade entre os milicianos que iriam fazer parte de um quadro especial de oficiais e os meninos da Academia, onde não faltavam os oficiais do ar condicionado, são tratados por cagarolas e traidores ao juramento que tinham feito para com a pátria. O autor informa que em Bissau se liam capítulos de um livro que o general Spínola tinha em preparação, onde se preconizava uma saída política para acabar com a guerra.

A família de Rodrigo regressa a Lisboa, o pai de Rodrigo viaja até à Madeira para falar com os pais do falecido João Madeira e dá-lhes a saber que há um neto e há a Binta Camará, mais comezaina, o casal madeirense houve a história com os olhos marejados de lágrimas, depois sentam-se todos à mesa e temos a lista do ágape: espetada de vitela em pau de louro, acompanhada de batata-doce e rodelas de ananás e banana frita, depois doce de maracujá e tudo regado com vinho maduro tinto do Douro.

A guerra toma nova dimensão, agudiza-se com os acontecimentos de Guidaje, Guileje e Gadamael. Na varanda da casa de Rodrigo discute-se o futuro da Guiné, ficamos a saber que os meninos da Academia Militar eram na sua maioria uns esquerdalhos. Rodrigo vem de férias em Agosto de 1973, os oficiais do quadro permanente já estão a movimentar-se, Soraia está novamente grávida, Rodrigo, em Bissau, fica a saber que Mariama, a substituta de Binta, gosta de Braima e Braima gosta de Mariama, haverá um final feliz para esta história. 

Rodrigo volta a fazer uma itinerância militar em Bafatá a fim de rastrear um batalhão que regressava à metrópole. Depois a vida volta ao normal e na varanda da casa dele discute-se o futuro da Guiné com outros personagens. O Rodrigo vai ser evacuado com uma hepatite. Virá o 25 de Abril, Rodrigo e família não se entendem com aquela revolução e toma-se a decisão de Rodrigo se ir especializar m oncologia hematológica e transplantes medulares num hospital parisiense.

E finda aqui a história.


Rápidos de Cusselinta, rio Corubal
O posto médico de Galomaro
Uma coluna de abastecimento ao Xitole
O médico Rui Sérgio no seu quarto em Galomaro

Cinco imagens tiradas do livro Para memória futura, Guiné 1973-1974, 2023
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Nota do editor

Último post da série de 25 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26726: Notas de leitura (1792): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: As turbulentas duas primeiras décadas na Guiné, ainda é difícil falar dela como colónia (6) – 2 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 15 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26691: História de vida (57): o fur mil vagomestre António Fonseca que acabou por ter uma morte trágica no Algarve, em Albufeira, com a toda a família em 2009 (Luís Dias, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > CCAÇ 3491 (1971/74) > Dulombi > "O ex-furriel mil vagomestre Fonseca é o segundo a contar do lado esquerdo (com o seu aprimorado bigode)". (Da esquerda para a direita, furriéis Almeida, Fonseca, Gonçalves, E.Santo, 1º srgt . Gama, cap Pires, alf Luís Dias e Parente,  furriéis Machado (já falecido), Rodrigues e Reis; em pé, da esquerda para a direita,  fur Baptista, os 2 impedidos da messe,  furriéis Nevado e Carvalho.



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > CCAÇ 3491 (1971/74) > Dulombi > 1972 > "À porta da messe dos oficiais e sargentos: da equerda para a direita,  fur Fonseca (o nosso vagomestre), fur Batista (com a cara meio tapada), fur Gonçalves (só se vê a cara), fur Rodrigues (o nosso especialissimo mecânico auto rodas) e em primeiro plano o 1º srgt Raul Alves... Foto gentilmente cedida pelo camarada Manuel Rodrigues, ex-fur mil mecânico auto, que mantinha as nossas viaturas sempre operacionais".


Fotos (e legendas): © Luís Dias (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar de: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



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Crachá da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro,  dez 71 - mar 74)




Luís Dias
1. Mensagem de Luís Dias, o nosso especialista em armamentp, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro,  dez 71 - mar 74), inspetor da Polícia Judicionária reformado (tem 107 referências no nosso blogue que integra desde 30/5/2008):


Data - domingo, 13/04/2025, 21:52
Assunto -  O nosso vagomestre António Fonseca 
 

Caro Luís Graça:


Na CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, que esteve na Guiné entre 24 de dezembro de 1971 e 28 de março de 1974, tínhamos como vagomestre o furriel miliciano António Fonseca. 

A CCAÇ 3491 foi colocada no Dulombi, Leste da Guiné, estando:

  •  isolada vários quilómetros da CCS (Galomaro - a cerca de 20km);
  • a sul,  a CCAÇ 3490 - Saltinho (não havia estrada ou picada para este aquartelamento, ida do Dulombi, pelo que a volta para lá chegar era ir através de Bambadinca, Xitole (150 km);
  • a norte,  ficava a CCAÇ 3489, com picada/estrada indo por Galomaro (40 km);
  • à nossa frente ficava o Rio Corubal (40 km), zona para a qual efetuávamos a maior parte das operações. 

Estávamos isolados. A comida não era e nunca foi grande coisa e estávamos sempre a apertar com o vagomestre (*). Ele raramente  participava nas colunas semanais que fazíamos a Bafatá e Bambadinca para ir buscar abastecimentos. 

Certa vez, um dos bidões de azeite, depois de abertos no quartel, estava adulterado por água (alguém "palmara" azeite e completara o bidão com água). Aliás houve também casos de adulteração de garrafas de uísque. Não se sabendo se a adulteração já vinha da metrópole ou era feita em Bissau. 

O capitão reagiu e passou a obrigar o  furriel a ir em todas as colunas de abastecimento para verificar os carregamentos. 

O furriel para se desenrascar teve de pedir alguns litros de fornecimento de azeite às outras companhias do batalhão, com a promessa de os devolver o mais breve possível. 

Houve um período, em 1972, em que devido às chuvas as colunas não conseguiam passar porque a picada ficou intransitável em vários pontos e também não se conseguiu largada de frescos pela aviação, pelo que houve que recorrer a rações de combate e até pagar a caçadores indígenas a compra de caça variada obtida.

Entretanto, a nossa companhia foi transferida praticamente toda para a sede do Batalhão, em Galomaro, isto em 9 de março de 1973 (quando era eu o comandante da mesma, porque o capitão estava de férias), deixando no Dulombi 2 pelotões de milícias e 13 elementos de apoio (1 auxiliar de enfermagem, pessoal de transmissões, cozinheiros, condutores, mecânicos, apontadores de morteiros 81 mm, professor da escola dos miúdos, etc.), comandados por um dos meus furriéis e tendo como adjunto o furriel de transmissões. 

Esta saída inopinada deveu-se a um forte ataque sofrido pela CCS, no dia 1 de dezembro de 1972 e depois de 2 ataques anteriores rechaçados muito bem no Dulombi e ter surgido o general, Comandante-chefe,  e o nosso comandante de Batalhão,  em visita inopinada ao Dulombi, onde tive de explicar a atividade operacional que realizávamos e os resultados obtidos.

Em Galomaro, a situação era diferente e passámos a depender, em termos de comida, da organização já montada para a CCS, pelo que o nosso furriel vagomestre foi enviado para Bissau, para ser o representante do Batalhão na administração de abastecimentos. 

A companhia a 3 grupos de combate (o outro grupo foi reforçar o batalhão de Piche) ficou a efectuar operações na zona de Galomaro e também na zona do Dulombi (ficámos com mais do dobro do território anterior). 

Depois de ser enviado com o meu grupo para Piche (onde se  comia muito bem - oficiais e sargentos, mas muito mal os soldados, o que me levou a ter problemas com o comandante), ainda estive a comandar o CIM de Bambadinca, depois fui para Nova Lamego, onde estava o meu grupo de combate e depois fui para Pirada, onde estive poucos dias, voltando a Nova Lamego. Nestes três últimos locais, em termos de comida, não posso dizer mal.

Em inícios de janeiro de 1974, recebi ordens de regressar ao Dulombi, onde voltei a reunir-me com a companhia (todos os elementos de apoio, onde estava também o furriel vagomestre, entretanto regressado de Bissau), porque os outros grupos de combate estavam 2 em Galomaro e 1 em Nova Lamego. 

Nesta altura fui incumbido de ser o responsável por realizar a parte operacional com os grupos de combate da nova companhia que vinha nos substituir (a 1ª CCAÇ/BCAÇ 4518).

Nessa preparação havia o cuidado de verificar se na nossa zona da frente (lado de onde normalmente partiam os ataques do PAIGC) havia material que tivesse ficado por explodir, para o neutralizar.

Aqui chegado, devo referir que o amigo António Fonseca tinha muito "respeitinho", direi mesmo receio,   de alinhar na parte operacional, o que se compreende, porque não lhe competia. Deste modo, se houvesse uma coluna de abastecimentos de 10 viaturas ele seguia na décima, se fosse de 3 ou 4 viaturas ele seguia sempre na última, com o justo receio de que podia apanhar com alguma mina A/C.

Tinha detetado,  a cerca de 100 metros do nosso arame farpado, uma granada de morteiro 81 mm GEGP que fora disparada num dos ataques que o quartel sofrera e que não explodira. 

Escavei uma defesa de terra, em relação ao quartel, coloquei um petardo de TNT 100g, com detonador eléctrico, junto à granada, sem lhe tocar e estendi o fio até ao quartel e coloquei-me por trás do edifício do comando e avisei as torres de sentinela, bem como o pessoal da companhia para que se protegesse e acionei o detonador. 

Deu-se a explosão e pronto, estava feito. De repente, reparo que,  em frente à messe de oficiais e sargentos, estava o nosso amigo vagomestre com a mão na cabeça e olhar incrédulo. Então não é que o furriel, em vez de se esconder por trás do edifício, ficou, sem proteção,  a ver a explosão, não tendo ligado às instruções que eu dera ?!...

O furriel António Fonseca, um recatado militar, que punha todos os cuidados quando era obrigado a sair em coluna, ficou de peito feito a ver o que acontecia. 

A sorte protege os audazes e foi o que aconteceu. A cabeça da granada de morteiro veio de lá, e caiu a cerca de 2 metros dos seus pés. Passado quase uma hora ainda estava quente, um pouco mais e tinha atingido o nosso vagomestre, e podia-lhe ter tirado a vida.

Os anos passaram e a companhia voltou a reunir-se em convívios, 25 anos após a nossa chegada à metrópole. Contávamos histórias, episódios acontecidos e lá vinha sempre à memória o que podia ter acontecido ao furriel vagomestre e dizíamos que "sorte tiveste". 

Contudo, uma horrível notícia, referia uns anos depois, que na Praia da D. Luísa, um grupo de pessoas tinha ficado debaixo de uma arriba que desabou. O infortúnio tinha acontecido, o nosso amigo e companheiro furriel António Fonseca, juntamente com a sua esposa e filhas,   eram algumas das vítimas do funesto desastre (**).

Que possam as almas desta família estar no eterno descanso.
Abraço
Luís Dias

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Notas do editor LG:

(*) Último poster da série > 13 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26681: Histórias de vida (56): Berta de Oliveira Bento, a Dona Berta da Pensão Central, Bissau (1924 -2012)

(**) Vd. poste de Blogue > Histórias da Guiné 71-74: A CCAQÇ 3491, Dulombi > Sábado, 29 de agosto de 2009 > Morte trágica de um camarada

(...) Caros Camaradas: cumpre-me a dolorosa missão de vos informar da morte trágica do camarada José Batista Mota Fonseca,  o nosso ex-furriel vagomestre. O Fonseca perdeu a vida juntamente com a sua esposa e as duas filhas, na derrocada que se deu no passado dia 21, na Praia da Maria Luisa, em Albufeira, onde se encontrava a passar férias.

Este triste acontecimento foi-nos participado pelo nosso camarada ex-furrriel Carvalho.
À família enlutada as nossas sentidas condolências.
Descansa em paz,  querido amigo.

Luís Dias (...)
 

domingo, 8 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 – P26246: Armamento (12): Apresentação do livro "G3 - A Grande Arma Nacional" (Luís Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74):

Apresentação do livro "G3 A GRANDE ARMA NACIONAL"

Camaradas,

Estive ontem presente no lançamento deste livro e escrevi um pequeno texto sobre o evento. Se achares de interesse e útil para colocares no "Luís Graça & Camaradas da Guiné", estás à vontade. Grande abraço. Luís Dias

Ontem, por convite do autor, tive o grato prazer de assistir no Palácio dos Marqueses do Lavradio, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, ao lançamento do livro, “G3 A GRANDE ARMA NACIONAL”, de Pedro Manuel Monteiro, editado pela “Conta Corrente”, onde dei um pequeno contributo sobre as diferenças em combate entre a HK G3A3 e as Kalashnikov, nos modelos AK-47, AKM e outros modelos das mesmas fabricados por países do Bloco Leste e pela China, que apoiavam na Guiné o PAIGC, que se enfrentavam no meu tempo de combatente na Guiné (1971-1974).

Na presidência da mesa encontrava-se o Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, o Tenente-General, Paulo Emanuel Maia Pereira. Na assistência diversos oficiais generais, oficiais superiores, quer ainda no activo, quer na reforma e muitos civis, entre eles, antigos funcionários do extinto INDEP.

No discurso do Tenente-General, houve um momento em que foi referida a presença e foi aplaudido de pé, uma pessoa por quem tenho grande admiração, o Coronel Tirocinado Comando, Raúl Folques que, no meu tempo de Guiné, foi o Comandante do Batalhão de Comandos, cargo onde substituiu o então Major Almeida Bruno e que, como se sabe, fez parte da 1ª companhia de comandos formada em Angola e que é um dos heróis de Portugal.

Nos anos da Guerra de África a espingarda automática HK G3 (também designada de espingarda de batalha, devido ao calibre potente que utilizava - 7,62x51mmNATO - e no formato convencional), terá passado pelas mãos de perto de um milhão de portugueses e foi a arma que Portugal escolheu, a partir de 1961, para enfrentar os movimentos independentistas nas províncias ultramarinas, iniciando-se em Portugal a sua produção, sob licença da Alemanha (então RFA), em 1962, e a sua atribuição oficial às forças armadas a partir de 1963. 

Foi esta espingarda, encimada no cano por um cravo, que se revelou um símbolo da Revolução de 25 de Abril de 1974, para toda a gente.

Após o fim da guerra em África, esta arma continuou a ser importante nas missões atribuídas às nossas forças armadas pela ONU ou no âmbito da UE, em diversas partes do mundo (Timor, Letónia, Roménia, República Centro-Africana, Moçambique, Guiné-Bissau, Somália, Mali, Afeganistão, Alemanha, Polónia e Kosovo).

As fábricas FMBP e INDEP terão produzido 442 197 G3, entre 1963 e 1988, segundo Relatórios de Contas destas fábricas referidos no livro em apreço e que serviu no nosso país por cerca de 60 anos, estando a ser substituída no Exército pela FN SCAR, modelo L e H e na Armada pela HK416. A G3, em conjunto com o mosquete “Brown Bess” de 1808, é arma recebida em maior quantidade pelo Exército Português, bem como uma das que é usada há mais tempo. 

A G3, era e é uma excepcional arma de guerra, com um projéctil poderoso – o 7,62x51mmNATO, que depois de ter sido trocado pelo calibre 5,56mmNATO, está novamente a ser recuperado, para novas gerações de espingardas de batalha e que tinha um som característico e forte que dava confiança a quem a usava. 

A G3 necessitava de alguns cuidados na limpeza (cabeça da culatra), mas em geral trabalhava bem, mesmo nas condições adversas em que foram utilizadas em África. Tinha o senão de ser uma arma grande e pesada para o tipo de guerra de guerrilha que enfrentávamos, mas também tinha um alcance útil superior às armas do inimigo e era também mais estável e precisa no tiro que as armas adversárias. 

O seu depósito de munições tinha uma capacidade inferior ao da kalashnikov mas, por outro lado, tinha um perfil mais baixo, evitando que o utilizador se elevasse demasiado, quando na posição de deitado, diminuindo significativamente a silhueta e, ao contrário da kalashnikov que possuía um carregador curvo e comprido, não tinha necessidade de se torcer para introduzir um novo carregador na arma. Também o comutador do tiro era mais simples de utilizar do que da arma preferencial rival e era silencioso, ao contrário do da AK-47 e AKM que faziam ruídos de clic, na movimentação para tiro a tiro e para fogo de rajada, o que no mato podia fazer a diferença.

O mecanismo operativo da espingarda automática HK-G3, apresentado em 1959 na então RFA é originário e semelhante ao da StG45 (Mauser) alemã, de 1945 e da CETME espanhola de 1952. O seu funcionamento é por inércia, actuando os gases sobre a superfície interna do invólucro e a culatra retarda a sua abertura (“Roller-delayed blowback”) pela acção conjunta dos roletes de travamento (alojados na cabeça da culatra), da massa da culatra e da mola recuperadora. O percutor está alojado no interior do bloco da culatra, dando-se a percussão pela pancada do cão (existente ao nível do gatilho) sobre a cauda do percutor. A alimentação é garantida pela mola do depósito (carregador). O extractor de garra, situado na cabeça da culatra, efectua a extracção da cápsula detonada no movimento de abertura da culatra e a ejecção dá-se quando a base da mesma encontra (ao nível do punho), um ejector de alavanca. Após o consumo das munições do depósito, a culatra não fica retida à retaguarda, como na FN FAL.

No tempo da Guerra de África, era conhecido o “amor” entre o combatente e a sua G3, apelidando-a, de “namorada”, a “minha querida”, a “minha amada” ou também por algum nome feminino de alguma mulher pela qual estivessem encantados. De facto, a maior parte dos militares dormiam com ela sempre ao lado, fosse no mato ou no quartel. Outros, fotografavam a arma e colocavam os dizeres “devo-te a vida”.

Luís Dias
ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
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Nota do editor

Último poste da série > 
12 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21534: Armamento (11): Material apreendido ao PAIGC em 1972 e 1973, em Galomaro e Dulombi (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25842: (In)citações (269): Quantos somos ainda? (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR do BCAÇ 3872)

Galomaro, 1973 > 3.º Natal do BCAÇ 3872 na Guiné

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 10 de Agosto de 2024:


QUANTOS SOMOS AINDA?

Talvez 500.000? Hoje não passamos de um retrato para aí numa gaveta e já nem nós nos reconhecemos.

No ultimo almoço do 3872 dei por mim a perguntar ao Félix do Pel Rec por ele, só depois de ver o olhar dele percebi que tinha metido a pata na poça.
Entre as desculpas por o não reconhecido logo, deitei as culpa para a PDI que resulta sempre.

Falamos mais de doenças do que paródias e aproveitamos para dizer mal dos governos com alguma razão.

Nas redes sociais fala-se das facilidades e dificuldades que temos em beneficiar de alguns créditos onde desaguam promessas do poder político que vão passando de mão em mão.
Não queriam mais nada que fosse reconhecido o serviço que em tempos fomos obrigados a fazer mas nem por isso dignos de recompensa.

Há dias o José Marcelino Martins publicou no facebook uma efeméride relacionada quando se mudou de armas e bagagens para Canjude. Termo que sempre ouvi mas nunca com tamanha objectividade. O José já deve constatar que hoje mandam-no para outras partes.

Quando regressamos, ignoraram-nos, hoje dizem “lá vêm eles falar do mesmo”. Mas será que não se cansam?
Que sabem eles da nossa sede, do nosso calor, das nossas privações de pequenas coisas, das nossas saudades se os que lá estiveram nada fizeram e estes que já são netos dos combatentes nada sabem?

É comum falar-se da gratuitidade dos museus mas ao que parece, nos que estão em mãos privadas não temos esse direito. Que a maior concentração dessas instituições se encontra nas grandes cidades e também que nos falta a vontade para nos deslocar até eles, já que na maioria, hoje somos mais pilotos experimentais de sofá e as pernas também não ajudam. Nas grandes cidades os passes para transportes públicos dizem que funciona bem.

Eu, fico-me pelo os meus afazeres com a família a visitas ao médico que não se pode abusar delas, supermercado, tenho vasto conhecimento de tudo o que é parque infantil da região pelos motivos que nós avós sabemos. Construo baloiços que ele derrete à medida que cresce e mais pesa, vou com ele às terapias e rego as plantas, coisa que ele frequentemente usa como urinol e assim, tento salvá-las de morte certa.

Há dias li que os combatentes iam ter direito a medicamentos grátis mas só em 2026. Acho bem porque assim como assim, ainda morrem muitos e são uns tostões que se poupam, é que por cá ainda se poupa nos alfinetes para se gastar nas lagostas.

Mas também reparei que as esposas e viúvas não serão incluídas nessa benesse independentemente do rendimento familiar. É injusto porquanto nós sabemos que muitas milhares de esposas sofreram com a nossa ausência e tiveram uma vida de sofrimento depois do nosso regresso.
O stress pós traumático e o alcoolismo, atiraram essas mulheres e também os filhos para o inferno individual que cada veterano transportava.

E fala-se, fala-se e fala-se... E eles não ouvem não ouvem…

Já por diversas vezes foi chumbada uma proposta de dar 50 € a cada combatente, o que para a esmagadora maioria seria uma preciosa ajuda nas suas magras reformas. Entretanto os governantes falam em milhões e milhares de milhões para aqui e para ali, a verdade seja dita, parece que muito desse dinheiro (quando as cativações estão na ordem do dia) chegam tarde ou nunca aos organismos beneficiários.

Ficam com a fama e o resto não interessa nada, porque a oposição di que não e eles dizem que sim. Ficam empatados e nós lixados.
Mas fica a intenção que é muito importante.

Só por uma vez que fosse, gostava que o beneficio fosse anunciado e executado automaticamente. Bem sei que o pobre desconfia da fartura mas...

Um abraço e não desanimem porque água mole em pedra dura tanto dá até que encharca tudo.

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Nota do editor

Último post da série de 1 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25799: (In)citações (268): Horizontes da Memória (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705)

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25423: Estórias do Juvenal Amado (64): A estória de David Leão que queria ser mobilizado para Angola para combater o IN que lhe matou o irmão em 1963

Memorial aos Combatentes de Gondomar, inaugurado em 1971


1. Em mensagem de 17 de Abril de 2024, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos a estória do seu camarada de Batalhão, David Leão, que depois de ver morrer o seu irmão mais velho em Angola, acabou mobilizado para a Guiné.

Caros camaradas
Cá estou a enviar o que recolhi sobre o meu camarada David Leão, de Rio Tinto, que foi parar à Guiné com a esperança de ir para Angola.

Juvenal Amado



José Carlos Cordeiro Pinto, trolha de profissão, natural de Rio Tinto, morreu em combate em 1963, 12 dias depois de desembarcar em Angola.

Os pais receberam a dolorosa notícia e também documentação, que livraria de mobilização qualquer filho quando chegasse a altura de ser chamado à vida militar.

O irmão David Leão, oito anos depois é incorporado no exército em 1971 no R14 de Viseu, fez a especialidade de Sapador de Infantaria no BC 3 de Bragança, acabando colocado no BC 5 Lisboa.

Mobilizado, apresentou-se em Novembro de 1971 no RI 2 de Abrantes, para formar batalhão. Este seria o seu destino, o BCAÇ 3872 que iria para a Guiné.

A mãe perguntava-lhe se ele tinha metido os papéis que o livrariam de uma mobilização, ele dizia que sim, mas no íntimo esperava ser mobilizado para Angola e ter oportunidade de combater contra quem lhe tinha matado o irmão. Uma ideia um pouco romântica e de difícil concretização na verdade.

O Batalhão 3872 embarcou para a Guiné no Angra do Heroísmo no dia 18 de Dezembro de 1971 e o nosso David vai integrado no Pelotão de Sapadores.

A promessa feita à mãe não passou disso mesmo de uma promessa.

O nosso camarada passou por aquilo que os outros passaram. Picagens, colunas, emboscadas, patrulhas nocturnas, armadilhar sítios para evitar infiltrações do inimigo, etc. No fim da comissão, em Janeiro de 1974, todo o Pelotão de Sapadores acabou por ser enviado para Buruntuma onde, sobre as ordens de Marcelino da Mata, foi encarregue da minagem em redor do referido destacamento.

Não foram boas noticias pois já tínhamos acabado a comissão, mas a zona leste junto à fronteira estava a ferro e fogo, e o comando achou no maior secretismo, enviar uma coluna para levar esses elementos bem como o equipamento necessário para o efeito.

O esperado ataque acabou por não vir porque o PAIGC acabou por atacar com foguetões outros destacamentos. Se não estou em erro, Canquelifá foi um dos premiados com a atenção do IN.

Felizmente para todos o camaradas, tudo correu bem e o regresso fez-se a Galomaro já o 3872 está espera de ser rendido, o que aconteceu em Fevereiro, acabando por embarcar em Março para Bissau.

A 28 do mesmo mês embarcou no Niassa, desembarcando em Lisboa no dia 4 de Abril de 1974.

Bem, é mais uma história com gente dentro, com os seus desejos e anseios talvez com uma grande dose de ingenuidade.

David Leão, na foto, o terceiro a partir da direita, sentado no chão

O David é figura presente sempre que pode nos almoços da CCS, embora com grande dificuldade pois tem que pedir boleia a quem vá o que nem sempre é possível.

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Nota do editor

Último post da série de 29 DE DEZEMBRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P20510: Estórias do Juvenal Amado (63): Galomaro, 1972 - Outros Natais

domingo, 21 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25096: Blogpoesia (795): "Os sítios que são só recordações", por Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS / BCAÇ 3872

Galomaro depois de forte chuvada. Foto: © Ex-Fur Mil Sapador António Maria Fernandes (BCAÇ 3872)


1. Em mensagem de 20 de Janeiro de 2024, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), enviou-nos este seu poema:


Os sítios que são só recordações

Vivíamos para o futuro
Como se estes momentos fossem um interlúdio
Um compasso de tempo
Sabíamos da beleza que nos rodeava
Não sei se estávamos tão presentes para ela
Estávamos obcecados por outras paragens.
Depois veio a saudade.
Fizemos planos para voltar
Chamemos-lhe quimera dos sentidos
Utopia que construímos
Nunca reencontraríamos a nossa juventude
Há muito perdida naqueles lugares.


Juvenal Sacadura Amado
09/01/2024

A caminho do Dulombi
Pôr-do-sol
Pôr-do-sol

Fotos: © Ex-Fur Mil Sapador António Maria Fernandes (BCAÇ 3872)
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Notado editor

Último poste da série de 17 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24665: Blogpoesia (794): "Lágrima de Sol", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

sábado, 13 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25066: In Memoriam (493): Falecimento do Capitão Miliciano de Artª da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), engº Fernando Pires (Luís Dias)




1. O nosso Camarada Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), enviou-nos  a seguinte mensagem:





           Falecimento do meu capitão
 

Perder um companheiro que esteve connosco na guerra, mas especialmente alguém que era um bom amigo é imensamente doloroso. Fui hoje informado por um dos seus filhos, que o Engº FERNANDO PIRES, ex-Capitão Miliciano de Artª, que comandou a CCAÇ 3491, pertencente ao BCAÇ 3872, faleceu no dia 11 de Janeiro, no Hospital de Cascais, aos 81 anos, devido a problemas respiratórios. 

Antes do Natal, tinha falado com ele ao telefone e tínhamos combinado encontrar-nos no fim deste mês, pois ainda estava em convalescença de uma intervenção cirúrgica melindrosa. 

A história militar deste meu amigo é um "produto" daqueles tempos em que estávamos em três frentes de Guerra. O meu amigo esteve no Serviço Militar Obrigatório, em 1963, com a idade normal com que se era "chamado" e serviu o percurso normal de um oficial miliciano da especialidade de artilharia e teve a sorte, pensava ele, de não ter sido mobilizado para o Ultramar. Terminado o seu tempo de serviço, voltou à sua vida civil, trabalhava na EFACEC, namorava e tinha a sua vida organizada e um futuro promissor. Contudo, em 1971, foi "re-pescado" para ir para a Escola Prática de Infantaria - Mafra, tirar o Curso Para Capitães (CPC) e mais tarde vir a ser mobilizado para a Guiné a comandar uma companhia de caçadores, jovens "chavalos", onde, a seguir ao 1º Sargento Gama, era o mais velho, com cerca de 30 anos e eu o "puto" mais novo.

O Capitão Pires dirigia uma companhia (cerca de 150 elementos), também 2 pelotões de milícias e era responsável por 250 elementos da população que viviam numa Tabanca anexa ao nosso aquartelamento, isto no Dulombi, Leste da Guiné, região de Bafatá. Foi o nosso comandante entre 18 de Dezembro de 1971 e 4 de Abril de 1974 e dirigiu a companhia com competência e elevado brio profissional, sem nunca deixar de ser um excelente ser humano. Soube das dificuldades que era comandar tanta gente, pois eu próprio fui comandante da mesma, nas suas ausências e férias, o que me foi muito útil, quando fui nomeado comandante do CIM de Bambadinca, em Agosto de 1973.

Depois de terminada a nossa comissão e seguindo cada um o seu rumo, encontrávamo-nos, de quando em vez, mas após o 1º Convívio da companhia, realizado no então R.I. nº2, em Abrantes, de onde partíramos para a Guiné, almoçávamos muitas vezes e íamos aos convívios juntos. 


Na foto, em 1º plano, o Capitão Pires, com o General Spínola, estando eu em 2º plano, no dia da inauguração do nosso quartel em Abril de 1972.

Caro amigo Fernando Pires, que descanse em paz e até um dia destes, para voltarmos a falar da amizade que nos uniu nesta "vida". 

Luís Dias 
Alf Mil Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25055: In Memoriam (492): Fernando Peixinho de Cristo (1947-2004), ex-cap mil inf, cmdt, CCAÇ 3545 / BCAÇ 3883 (Canquelifá, 1972/74); natural de Coimbra, e reputado hidrogeólogo a nível nacional e internacional

segunda-feira, 14 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23076: (De)Caras (185): Isabel Amora (1946-2020), a cantora "ié-ié" que atuou em Jabadá, para os militares da CCAV 2484 (1969/70) (Manuel Antunes / Fernando Feio)... mas também em Galomaro, em 1971, ao tempo do BCAÇ 2912 (António Tavares)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Guiné > Região de Quínara > Jabadá > CCAV 2484 (1969/70) >  A cantora ié-ié Isabel Amora, atuando para os militares do aquartelamento, que ficava na margem esquerda do Rio Geba. Fotos do Manuel Antunes, ex-sold cond auto, CCAV 2484, Os Dragões de Jabadá (*)

Fotos (e legenda): © Manuel Antunes (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas dfa Guiné] 


1. O nosso camarada, Manuel Antunes, que vive há mais de meio século em Toronto, Canadá, acaba de confirmar o nome da artista que atuou para ele e os seus camaradas, os  "Dragões de Jabadá" (Fotos nº 1 e 2), em data que não precisa, mas que só pode ter sido entre 4 de março de 1969 e 9 de dezembro de 1970 (A CCAV 2484 / BCAV 2867 assumiu o subsector de Jabadá em 4 de março de 1969, e foi rendida em 9 de dezembro de 1970, recolhendo a Bissau para regresso à Metrópole.)

Quem primeiro identificou a cantora (Foto nº 2) foi o Francisco Feio, ex-1º cabo mecânico, também da CCAV 2484: "Isabel Amora, nome artístico, tenho fotos dela e dos outros dois artistas que estiveram no mesmo concerto" (11 de março de 2022 às 22:55, comentário ao poste P23069 (*)

O Manuel Antunes mandou mais duas fotos desse espectáculo com a tal Isabel Amora (Fotos nº 1 e  4). Tudo indica que, nesse espectáculo, a artista tenha aparecido com duas indumentárias diferentes: vestido curto, mas de manga comprida e minissaia (Fotos nºs 1 e 2) e blusa de manga curta e calça à boca de sino (Fotos nº 4 r 5).  

Na primeira atuação, está ao nível dos espectadores, uns sentados, outros de pé, e outros ainda empoleirados numa árvore. O local pode ser a parada do quartel ou as proximidades de alguma das casernas. Na  segunda atuação, está num plano mais alto, num murete, junto à parede de um edifício. 

Na foto nº 3 pode ver-se um pormenor dos sapatos, que parece estarem parcialmente enlameados ou sujos com terra. Na foto nº 5, destaca-se um elemento, feminino, que parece estar a tocar teclas (ou piano elétrico). O Fernando Feio  fala em "mais dois artistas que estiveram no concerto".

2. Quem era a Isabel Amora, que entretanto já morreu, em 2020, com 74 anos?

Segundo elementos que recolhidos na Net, foi uma "pioneira vocalista pop entre nós e que hoje em dia poucos porventura recordarão" (**)... Nasceu na Amora, concelho do Seixal, distrito de.Setubal em 1946.

Isabel Baptista, de seu nome, de muito cedo "começou a mostrar os seus dotes artísticos e musicais cantando o “IÉ IÉ” (estilo de música pop surgido na França, Itália, Espanha e Portugal no início da década de 1960). Há quem diga que o seu estilo preferido era o seguido por Rita Pavone, cantora com sucesso na música Italiana. Infelizmente não temos nenhum registo de som da Isabel a Solo." (...)

(...) "Entre 1965 e 1966, no Teatro Monumental, em Lisboa, teve lugar o famoso Concurso Ié-Ié, e Isabel Amora cantou no evento (embora fora de competição) acompanhada pelos Jovens do Ritmo, da Amora - localidade onde nasceu e que guardou como apelido artístico. (...)


Com Paula Amora, sua prima, Isabel faz o duo Elas, com supervisão do músico Carlos Portugal.  "Entre 1971 e 1972 gravam cinco discos, contando com arranjos de Pedro Osório e com originais de Portugal e de Luís Romão (com percurso de destaque então a solo).

Mas em Jabadá  Isabel deve ter atuado a solo... Segundo a  fonte que estamos a citar (**), "antes do lançamento do Duo Elas, Isabel pela mão da Senhora D. Helena Félix, parte para o Ultramar para cantar para os militares. O seu empresário era o Sr. Munhoz, pai da Sra. D. Eunice Munhoz, com escritório na Praça da Alegria em Lisboa. (...).

(...) "Ainda em 1971, este duo pop canta na inauguração do Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa, e participa no único Festival da Canção da Guarda, com 'Sim, Meu Amor Foste o Primeiro'. Depois dos dois últimos discos do duo, em 1972, Isabel Amora ainda cantou em Moçambique a solo e fez teatro alguns anos mais tarde, mas os tempos de glória tinham ficado para trás."

(...) "Em 1972 fizeram uma tournée por todas as praias de Portugal - Concurso Miss Praia 72 - com o patrocínio duma Rádio, com um grupo de músicos de Almada. Participam no programa televisivo que passa na RTP1 - Canal13 - todas as segundas feiras à noite. Programa esse que era gravado no Teatro ABC nos sábados anteriores no Parque Mayer, em Lisboa. (...)

(...) "Alguns anos depois vão para o Porto, onde passam a viver durante um tempo e actuam em vários Casinos portugueses. Acabado esse contrato, a Paula decide casar-se e o Duo dissolve-se. A Isabel retorna a Moçambique, onde encontra família e onde faz a sua vida a cantar com um novo contrato, regressando a Portugal no final deste e dando por finalizada a sua carreira artisitica. A sua vida deixa de ser artística e passa a viver uma vida fora dos palcos. Mais tarde casa-se, mas divorcia-se uns anos a seguir" (...)



3. Diz o António Tavares, também em comentário (*):

(...) "No dia 31 de Março de 1971 houve festa no Quartel de Galomaro. O BCaç 2912 recebeu a Isabel, Tino Costa, Eva Maria e Fernando Correia. Os quatro actuaram a solo e em conjunto, num palco construído para tal fim, na parada do quartel.

"Os Militares e a População local durante umas horas esqueceram a guerra. Existem fotos comprovativas dos artistas em Galomaro. Acabada a actuação os artistas seguiram viagem para Bafatá ou Bambadinca." (*)

Ficamos sem saber quem promoveu o espectáculo em Jabadá (e noutros sítios, como Galomaro): O Movimento Nacional Feminino (MNF)?A atriz Helena Félix (Porto, 1920 - Lisboa, 1991)?  O pai da Eunice Muñoz, que se chamava Hernâni Cardinali Muñoz, e que era o empresário da Isabel Amora?... 

Enfim,  será que estes e outros empresários  fizeram digressões, com artistas da Metrópole,  pelos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique), independentemente do Movimento Nacional Feminino? Nesse caso, quem pagava? Era o Exército?

quinta-feira, 17 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22291: Fichas de unidades (18): BCAÇ 2912 (Sector L5, Galomaro), CCAÇ 2699 (Cancolim), CCAÇ 2700 (Dulombi) e CCAÇ 2701 (Saltinho)


BCAÇ 2912 (Sector L5, Galomaro, 1970/72) > 
"Excelente e Valoroso"

Batalhão de Caçadores n.º 2912

Identificação: BCaç 2912 (Tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue)

Unidade Mob: RI 2 - Abrantes

Cmdt: TCor Inf Octávio Hugo de Almeida e Vasconcelos Pimentel

2.° Cmdt: Maj Inf Arnaldo Alfredo do Carmo Sousa Teles

OInfOp/Adj: Maj Inf José Baptista Mendes

Cmdts Comp:

CCS: Cap Inf Joaquim Rafael Ramos dos Santos

CCaç 2699: Cap Mil Art João Fernando Rosa Caetano

CCaç 2700: Cap Inf Carlos Alberto Maurício Gomes

CCaç 2701: Cap Inf Carlos Trindade Clemente

Divisa: "Excelente e Valoroso"

Partida: Embarque em 24Abr70; desembarque em 01Mai70 | Regresso: Embarque em 20Mar72 (CCaç 2699), 22Mar72 (CCaç 2700), e 23Mar72 (restante)


Síntese da Actividade Operacional


Em 10Mai70, após sobreposição com o BCaç 2851, assumiu a responsabilidade do Sector L5, com sede em Galomaro e abrangendo os subsectores de Dulombi, Saltinho, Cancolim e Galomaro.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, reconhecimentos, emboscadas e de vigilância das infiltrações inimigas no rio Corubal e sobre o eixo Boé-Bafatá, efectuando algumas operações e acções sobre grupos inimigos esporadicamente instalados na zona de acção. 

A par disso, actuou prioritariamente no campo da acção psicossocial, apoiando a organização do sistema de autodefesa das populações e a construção de diversos postos escolares e de reordenamentos, nomeadamente os de Contabane e Deba.

Da sua actividade refere-se a detecção e levantamento de 17 minas.

Em 11Mar72, foi rendido no sector pelo BCaç 3872, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.


A CCaç 2699 (com 5 referências no nosso blogue) manteve-se inicialmente no sector de Bissau, na dependência do BArt 2866, tendo substituído a CCaç 2401 no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 22Jun70, iniciou o deslocamento, por fracções, para Cancolim (vd. carta de Cansissé), a fim de render, por troca, a CCaç 2446, tendo, em 30Jun70, assumido a responsabilidade do respectivo subsector, com um pelotão destacado em Sangué Cabomba, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 10Mar72, foi rendida pela CCaç 2489 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

 

A CCaç 2700 (tem cerca de 3 dezenas de referências no nosso blogue) seguiu em 4Mai70 para Dulombi (vd, carta de Duas Fontes) a fim de efectuar a sobreposição e render a CCaç 2405. 

Em 10Mai70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Dulombi, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão, tendo ainda tomado a seu cargo a continuação de construção dos reordenamentos de Sangué Cabomba e Cancolim.

Em 10Mar72, foi rendida pela CCaç 3491 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

A CCaç 2701 (tem mais de 4 dezenas de referências no blogue) seguiu em 4Mai70 para Saltinho, a fim de render a CCaç 2406. Em 10Mai70, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, com pelotões destacados em Cassamange, até meados de Jun71 e Cansonco, até meados de Jan72, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

A partir de 9Nov72, destacou ainda um pelotão para Cansamba, no subsector de Galomaro.

Em 11Mar73, foi rendida pela CCaç 3490 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações:  Tem História da Unidade (Caixa n.º 93 - 2ª. Div/4.ª Sec, do AHM).


Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 144/145.

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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2021 > Guiné 61/74 - P21989: Fichas de unidade (17): CCAÇ 1550 / BCAÇ 1888 (Farim, Binta e Xime, 1966/68)