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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3414: PAIGC - Instrução, táctica e logística (19): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: ABC da preparação táctica (A. Marques Lopes)

Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > "Amílcar Cabral, no mato, utilizando um teodolito para definição de tiro de artilharia. Distingue-se, atrás, Manuel Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.029] · Documentos Amílcar Cabral (11/23)" (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)

Fundação Mário Soares > Dossiers > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Retrato de Amílcar Cabral e Manuel dos Santos (Manecas). Fotografia de Bruna Polimeni.[05345.001.003] · Documentos Amílcar Cabral (10/23). (Com a devida vénia à autora e ao proprietário da foto...)

Notas dos editores: a inserção destas 2 fotos pretende também ser uma tripla homenagem do nosso blogue:

(i) a Amílcar Cabral, muitas vezes descrito, pejorativamente, como um simples intelectual, um teórico, um revolucionário de caneta e papel; ele sabia que as ideias era muito mais importantes do que as balas, mas que questões como "a instrução, a táctica e a logística", ou seja, a formação e a organização da guerrilha, também eram fundamentais para o sucesso da "luta de libertação";

(ii) à grande fotojornalista italiana Bruna Polimeni que fez seguramente as melhores fotos do dirigente político mas também do guerrilheiro Amílcar Cabral e da sua luta, no terreno, pela concretização dos ideais em que acreditava;

e (iii) à Fundação Mário Soares e à Fundação Amílcar Cabral por terem salvo o Arquivo Amílcar Cabral e disponibilizarem o seu progressivo acesso em linha (leia-se: em suporte digital), para além do acesso público (em Lisboa, Cidade da Praia e Bissau).

Para os que o admiram, como africano, como homem, como líder, como intelectual, como escritor lusófono e como cidadão do mundo, "Amílcar Cabral ká móri"...

Fotos: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2008).

19ª e última parte do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado, de que nos foi enviada uma cópia, devidamente tratada, através de mais de um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma. O Marques Lopes foi Alf Mil na CART 1690 (Geba ) e CCAÇ 3 (Barro) entre 1967 e 1969 (Aqui, na foto, à esquerda, a sair de um abrigo (!), em Cantacunda, destacamento de Geba, que ficava também a cerca de 40 kms da sede da companhia, a CART 1690, perto da base que o PAIGC tinha em Samba Culo, na margem sul do rio Camjambari).

Apraz-nos registar aqui, publicamente, o nosso apreço pelo trabalho de pesquisa do A. Marques Lopes, pela sua grande camaradagem e amaizade, e pela sua vontade em partilhar connosco o seu vasto conhecimento sobre o PAIGC e a Guiné-Bissau, país e povo que ele (e nós) tanto ama(mos). Recorde-se que o A. Marques Lopes é um DFA, tendo sido gravemente ferido em combate, evacuado para o HML e regressado, de novo, à Guiné, onde foi colocado na CCAÇ 3, em Barro, num grupo de combate composto por balantas (os temíveis Jagudis). Desde o 25 de Abril de 1974 que tem procurado, sempre que vai à Guiné, contactar os seus antigos inimigos... É um homem lúcido, generoso, sem ressentimentos... que hoje se esforça por conhecer o "outro lado"...

Esperamos que ele continue a surpreender-nos com a exploração de novas fontes (como outros Supintrep) de informação e conhecimento sobre os adversários de ontem, contra quem combatemos, e de que hoje somos amigos e irmãos, partilhando experiências, memórias, história(s), lugares, património, afectos, sabores, cheiros e... uma mesma língua, uma formidável ferramenta com a qual podemos comunicar (do latim, communicare = pôr em comum). Apesar da distância, das dificuldades, dos obstáculos, da falta de muita coisa, cá e lá, etc. Bem hajas, António. Os editores, LG/CV/VB.


19ª e última parte da série PAIGG ABC DA PREPARAÇÃO TÁCTICA > Trabalho do chefe do destacamento (grupo) depois de receber a missão de combate.

[Transcrição de documento do PAIGC]

Fixação e revisão de texto: AML/LG

Depois de receber a missão de combate, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- aclarar a missão;

- apreciar a situação;

- tomar a decisão;

- dar ordem de combate e organizar a cooperação.


Aclarando a missão, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- perceber onde, quando, com o que vai realizar-se a operação;

- determinar as medidas a realizar imediatamente na preparação do combate;

- calcular o tempo.


Apreciando a situação, o chefe do destacamento (grupo) deve estudar:

- o inimigo;

- as próprias forças e meios;

- as missões dos vizinhos;

- a hora do dia e as condições do tempo.


Estudando o inimigo, o chefe do destacamento (grupo) determina:

- a disposição combativa do inimigo, situação dos seus meios de combate e o carácter das acções que se esperam, os lugares de encontro prováveis com o reconhecimento e a garda inimiga;

- a hora e o lado de chegada especialmente das reservas;

- as especialidades de guarda e de defesa do objectivo que deve atacar-se, ordem de troca das sentinelas e guardas, itinerário das patrulhas de vigilância e os lugares dos obstáculos.

Apreciando as suas próprias forças, o chefe do destacamento (grupo) deve:

- apreciar a composição e a capacidade de combate da unidade;

- tomar em consideração o grau de instrução dos guerrilheiros, sua experiência combativa, o estado político-moral e os conhecimentos do terreno na região das acções futuras;

- tomar em consideração a presença e o estado do armamento, das munições,do combustível, etc.

Apreciando os vizinhos, o chefe do destacamento (grupo) estuda a sua composição, as missões e os meios da sua realização.

Apreciando o terreno, o chefe do destacamento dos guerrilheiros determina:

- sua capacidade de passo para os guerrilheiros e o inimigo, os lugares cómodos para atravessar os obstáculos e mais favorável caminho de movimento e as condições de mascaramento;

- os lugares de descanso e de alto de dia;

- as aproximações camufladas para acesso e as posições de partida para o ataque;

- os lugares de encontro depois de ter cumprido a missão e os caminhos de recuo.


Na sua decisão, o chefe do destacamento determina:

- o objectivo da operação e os meios da sua realização;

- qual é o inimigo que deve aniquilar~se e de que maneira;

- onde se concentra o esforço principal e qual a forma de combate que deve fazer;

- as missões de combate;

- as medidas de abastecimento das acções combativas;

- os caminhos do movimento, as horas e os métodos e aproximação dos guerrilheiros aos objectivos de ataque;

- os métodos de salvar os obstáculos e as acções, perante de encontro por surpresa do inimigo;

- a hora do começo da operação e ordem das acções depois de cumprir a missão e os métodos de comando;

- onde, quando e quais as acções simulantes a realizar.


Na ordem de combate, o chefe do destacamento indica:

- os pontos de referência (objectos locais cifrados);

- as informações sobre o inimigo;

- a missão combativa do destacamento ou grupo;

- as missões dos vizinhos;

- as missões de combate para as unidades e os meios de fogo;

- a hora de estar pronto para cumprir a missão e os métodos de comando;

- seu lugar e o ajudante.


Organizando a cooperação, o chefe do destacamento (grupo) coordena:

- as consequências e as maneiras de abrir passos nos obstáculos do inimigo, eliminar as sentinelas e outra guarda;

- ordem, tempos e maneiras das acções durante o ataque contra o inimigo (ocupação do objectivo);

- as acções de atacantes, das unidades de fogo, e de asseguramento dos grupos de explosão e de reserva;

- as direcções de recuo e a ordem de proteger o recuo;

- ordem de manter a comunicação;

- sinais de identificação para o pessoal e sinais de identificação das unidades;

- sinais de ataque, começo, transmissão, cessar de fogo e recuo.


As medidas de precaução durante a instrução táctica


Nos estudos tácticos é proibido:


1. Abrir fogo contra os objectos e as construções com cartuchos de salva a distância inferior a 200 m.

2. Explodir os petardos de imitação ou outros meios de imitação na distância menos de 20 m de pessoal, lança-foguetes e com petardos de imitação perto dos homens, contra o material de combate, carros, nas aldeias, porto dos depósitos, etc.

3. Passar nas zonas e lugares proibidos, limitados com bandeiras e indicadores. Tomar e tocar os obuses, minas, petardos e espoletas não rebentadas.

4. Deter nas mãos os petardos de imitação já incendiados.

5. Lançar foguetes de iluminação e de sinais com ângulo menos de [?...ilegível].

6. Situar-se e deitar-se perto dos carros, tanques, e os canhões que atiram na distância menos de 50 m.

7. Beber a água não fervida das fontes não provadas e incendiar as fogueiras.

8. Deixar sem guarda a arma, munições e equipo, perder os mapas, os documentos, etc.

9. Transportar o pessoal no transporte não preparado, reduzir as distâncias estabelecidas, realizar travagem brusca e superar a velocidade estabelecida de marcha.

________

Notas de L. G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série (que foi sendo publicada com alguma irregularidade, desde há mais de um ano):

22 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)

29 de Outubro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)

4 de Dezembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

17 de Janeiro de 2008 >
Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)

19 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)

13 de Fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

7 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)

15 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2762: PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)

17 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2955: PAIGC - Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)

7 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3032: PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)

4 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIV Parte): Educação (A. Marques Lopes)

16 de Setembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3211: PAIGC - Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)

1 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3258: PAIGC - Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)

8 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3284: PAIGC - Instrução, táctica e logística (17): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A formação do soldado das FARP (A. Marques Lopes)

22 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3344: PAIGC - Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helícóptero (A. Marques Lopes)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)


Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 ( 1970/72) > GMC destruída por mina A/C no Bironque, a 16 de Julho de 1971.

Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 ( 1970/72) > Estrada (asfaltada) Mansabá-Farim > O Carlos Vinhal e o Sousa à sua esquerda, segurando uma mina anticarro detectada a tempo e levantada. As minas e armadilhas, de um lado e de outro, foram dos aspectos mais cruéis da guerra colonial/guerra do ultramar, nos três teatros de operações (Angola, Guiné e Moçambique).
Fotos: © Carlos Vinhal (2006). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Sector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2700 (1970/72) > Seis minas A/P detectadas na região de Padada e recuperadas pelas NT.

Foto: © Fernando Barata (2007). Direitos reservados. (Creio que a foto é do Arménio Estanqueiro, mas não tenho a certeza) (1)


Continuação da publicação de um longo texto, extraído do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, enviado em 14 de Setembro de 2007 pelo A. Marques Lopes (Nascido na Mouraria, Lisboa, é hoje coronel DFA, na reforma, e reside em Matosinhos).
Publica-se hoje a segunda e penúltima parte relativa ao capítulo sobre minas e outros engenhos explosivos utilizados pela guerrilha, no CTIG.


PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII) > UTILIZAÇÃO DE ENGENHOS (continuação) (2)

Revisão e fixação de texto: L.G. (As imagens digitalizadas pelo AML, a partir de um exemplar do original, têm fraca qualidade; optou-se, mesmo assim, por inseri-las, na maior parte dos casos).


4. Fabricação de granadas, lata fumigência e garrafas incendiárias por meio local

4.1. Fabricação de garrafa incendiária

Matérias primas: gasolina, álcool, óleo vegetal e borracha

[Por razões de segurança e de bom senso, omitimos aqui a fórmula de composião destes engenhos]

4.2. Fabicação de caixa fumigência

[à base de Clorato de amoníaco (NH1 CL), Clorato de potássio (KC1 C3) e Naftalina]

[Por razões de segurança e de bom senso, omitimos aqui a fórmula de composião destes engenhos]

4.3. Fabricação de granadas



[Por razões de segurança e de bom senso, omitimos aqui a fórmula de fabrico deste tipo]

4.4. Minas anti-tanques




4.5. Fabricação de minas

As minas são obstáculos explosivos. Uma mina compõe-se de invólucro, de embalagem e de instalação de fogo. Há minas anti-pessoal, anti-carros blindados e minas que podem destruir casas. Pode-se utilizar materiais em madeira, pote em porcelana, garrafa de vidro, caixas de ferro para fabricar as minas.

4.6. Embalagem de explosivos

Põe-se 5-10 Kgs de explosivos numa mina anti-tanque, 50-200 grs numa mina anti-pessoal cavalos aumentando 0,5 duma vez.

4.7. Granadas servindo de explosivo



4.8. Instalação de fogo

Incendiar pela pressão, pelo torpedo um fio, electricidade e pela instalação retardadora.

Composição de explosivo à base de clorato de potássio e açúcar:

Clorato de potássio.... 50%

Açúcar................. 50%

Depois desta composição deita-se umas gotas de ácido sulfúrico, a composição química incendeia.


5. Implantação de engenhos explosivos


Por se julgar de interesse, trancreve-se o Relatório Imediato N.º 1 da 2.ª REP do QG/RMM [, Região Militar de Moçambique,] o qual diz respeito a técnicas de implantação de engenhos explosivos pelo IN, em tudo semelhante às utilizadas na Província da Guiné [vd 3ª e útima parte deste texto, em poste a seguir].


5.1. Quanto à relação entre o local de implantação dos engenhos explosivos, a vegetação e os acidentes circundantes

a. Minas A/P

- Nos itinerários em que as NT passam com frequência e desde que haja árvores isoladas junto aos mesmos, armadilham o local, cientes de que as NT aproveitam muitas vezes a sombra dessas árvores para pequenos descansos;

- Bermas das picadas, conjugadas com minas A/C, no leito das mesmas; escolhem as bermas que melhor protecção conferem às NT, cientes de que, ao ser activada a mina A/C, é para esses locais que elas se dirigem;

- É-lhes indiferente haver ou não vegetação, salvo no 1.º caso apontado – árvores isoladas ou em pequeno número.


b. Minas A/C

- Preferem o meio ou o topo das subidas [de modo a] que as viaturas, ao accionarem-nas, caiam para trás aumentando assim a possibilidade de originar novos acidentes e mais vítimas;

- Sítios com pedras: afastam as pedras e colocam as minas, voltando a tapá-las com pedras; este processo é rendoso, porquanto as NT ao começarem a picar sobre as pedras “convencem-se que é tudo pedra” e passam à frente; podem colocá-las também em pequenos intervalos existentes;

- Nas passagens a vau dos cursos de água, colocam-nas junto às margens, a fim de que as viaturas, ao accionarem-nas, caiam ao rio;

- Sítios com árvores junto ao itinerário e que impeçam as viaturas de sair do mesmo;

- Nos desvios ou outros itinerários que possam ser utilizados no retorno das colunas;

- Nos locais das picadas onde a água se acumula; começam a desviar a água, colocam a mina e deixam a água voltar a tapá-la.


5.2. Quanto ao tipo de terreno propícioà implantação dos engenhos

Preferem o terreno arenoso, porquanto, não só facilita a colocação mas também a dissimulação, pois basta um pouco de vento para apagar todos os sinais.


5.3. Relação das acções e colocação de minas com:


a. Movimentos IN

Desde que tenham grupos de transporte em trânsito, criam campos de minas à distância de segurança e nos possíveis locais de passagem das NT, tendo em vista não só garantir a liberdade de movimentos ao IN mas também, pelo rebentamento de engenhos, avisá-lo da presença das NT.

b. Linhas de infiltração

Criam campos de minas nos prováveis locais de aproximação das NT.

c. Movimento das NT
- Sempre que sabem que há colunas colocam minas nas picadas

- Implantam também minas nos trilhos por onde passaram as NT pois já sabem que voltarão a passar por lá.


5.4. Técnica de implantação e disposição dum campo de minas

a. Implantam campos de minas A/C sempre que pretendem que um determinado itinerário seja abandonado pelas NT, tendo em vista criar liberdade de movimentos na região, ou prejudicar as NT apoiadas por esse itinerário;

b. Implantam campos de minas A/P à volta dos trilhos percorridos pelas NT, tendo em vista causar o maior número possível de mortos;

c. No respeitante à técnica de implantação, há a considerar:

Minas A/P em trilhos



(i) Mina A/P colocada no trilho para ser accionada pelo elemento da frente.

(ii) Minas A/P colocadas de um lado e outro do trilho, a cerca de 50 metros deste e distanciadas de 50 umas das outras, destinadas a serem accionadas pelo pessoal que saltar para as bermas. Deve ser em número aproximado de 40 de cada lado e sempre ligadas uma às outras por arames de tropeçar que fazem accionar disparadores. Caso não disponham de tantas minas poderão ser utilizadas granadas.

(iii) Emboscada montada de um só lado (para evitar atingirem-se com os seus próprios fogos) e destinada a ser desencadeada após rebentarem as primeiras granadas. NOTA: segundo o capturado, nem sempre costumam montar as emboscadas.

(iv) Mina A/P a montar após a retirada das NT e em caso de prosseguirem o caminho. É implantada para o caso das NT utilizarem o mesmo trilho para o regresso, pois, ao chegarem ao local, uma vez que já foram accionadas as minas, é natural pensarem que não há mais.


Minas A/P conjugadas com minas A/C nos itinerários


Não tem disposição especial. No entanto, costumam estudar a possível reacção das NT a partir do accionamento da mina A/C, bem como o afastamento médio dos passos, colocando-as então onde lhes pareça mais provável viram a ser accionadas; utilizam ainda os seguintes métodos, embora sem técnicas ou disposições especiais:

- Junto a árvores isoladas ou em pequenos grupos de árvores isoladas próximo dos itinerários percorridos por colunas auto;

- Nas bermas dos itinerários que melhor protecção confiram às NT em caso de accionamento de mina A/C ou de emboscada.


Mina A/C



Em geral começam por implantar 1 par de minas (1 para cada rodado) e depois minas isoladas separadas de ¾ Kms cada uma.

5.5. Dispositivo de lançamento de fogo


Em geral todas as minas que implantam funcionam por pressão. No caso das armadilhas usam, como é normal, disparadores.


5.6. Diversos

a. Destruição de pontes

Pontes de cimento



- Para pontes pequenas, as cargas nos encontros são de 6 Kg (A, B, C, D) e as cargas de corte ao meio (E, P) são de 4 Kg.

- Para pontes maiores, aumentam as cargas.

- Por vezes cavam os acessos junto aos encontros e colocam também cargas.


Pontes de madeira


Podem ser explosivos, mas o normal é serem queimadas.


b. Outros assuntos de interesse


- Na teoria a implantação e campos de minas A/P junto aos trilhos só seria feita após terem avistado as NT. Para tal, usariam um Grupo de Reconhecimento e um Grupo de Armadilhagem e deveriam ambos os grupos disporem de emissores/receptores. Na prática, implantam os campos nos trilhos que normalmnte são utilizados pelas NT;

- As emboscadas conjugadas com as minas – segundo o capturado – não têm sido usadas na zona onde operava;

- Costumam reforçar as minas com granadas, ou com cargas de 2 Kg ou 4 Kg de TNT. No início, punham as granadas em cima das minas; actualmente e por causa das picagens, colocam-nas por baixo e descavilhadas, a fim de que possam rebentar quando descavilhadas;

- Após a colocação das minas não deixam ninguém de sentinela; vão para as bases e voltam imediatamente a seguir à passagem da coluna para ver se foram levantadas. Em geral colocam as minas a distâncias tais das bases que, quando accionadas, possam ouvir o rebentamento;

- Não costumam levantar as minas não accionadas, pois, mais tarde ou mais cedo, alguém sairá. Só as levantam passados 2 a 3 anos, pois, ao fim desse período, é sinal de que as NT deixaram de utilizar esse itinerário;

- Em geral não armadilham as pontes, mas sim os terrenos em volta, depois de as destruirem;

- Actualmente não usam sinais para referência das minas que implantam, a não ser, por vezes, latas das rações das NT, que coloca sobre a mina: O procedimento adoptado é o croquis da zona armadilhada, ou a colocação dos engenhos em locais de boas referências.

Desta forma e em consequência, após a colocação das minas, reunem os elementos da base e descrevem o local ou mostram o croquis feito. Em princípio não armadilam trilhos susceptíveis de serem utilizados pela população.

Desta forma, só um número restrito de elementos é conhecedor dos locais minados, evitando-se a fuga de segredo;

- O único processo que usam para contrariar a detecção por parte das NT é o dispositivo anti-levantamento (granada descavilhada sob a mina);

- As minas que aparecem sem tampa não têm por finalidade não serem detectadas pelas picas: tiram as tampas (das caixas de madeira) para reforçarem a mina que está lá dentro com outra mina;

- Colocam as minas “na época em que passam colunas” e que é do conhecimento dos velhos: em geral há sempre colunas pouco tempo antes de começarem as chuvas e logo a seguir às chuvas;

- O capturado refere como tendo posto os seguintes tipos de minas: (i) Anti-grupo (A/P); (ii) Anti-carro; (iii) Anti-tanque.

Perguntada a diferença entre as minas anti-carro e a anti-tanque, referenciou a anti-tanque como sendo a M/46 (russa) e a anti-carro como sendo paralelipipédica e com as seguintes dimensões aproximadas: 35cm X 25cm X 20cm e menos potente do que a anti-tanque (caixa de madeira).


(Continua)
__________________

Notas de L.G.:

(1) Vd. postes sobre o Américo Estanqueiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), de quem já aqui falámos, a propósito da sua exposição fotográfica na Fundação Mário Soares:

12 de Novembro de 2007) > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares

13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2263: Álbum das Glórias (34): Fotografias do Américo Estanqueiro na Fundação Mário Soares (Virgínio Briote / Fernando Barata)


(2) Vd. post anterior > 4 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2146: Documentos (5): PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte): Deslocamentos (A. Marques Lopes)

Recortes de imprensa > Jornal O Século > s/ data > Notícia da agência noticiosa ANI [de 11 de Junho de 1971], sobre o primeiro ataque do PAIGC a Bissau, com foguetões de 122 mm, em 9 de Junho de 1971 (1).

Imagens digitalizadas por © A. Marques Lopes (2007). Direitos reservados.


Mensagem de 13 de Setembro de 2007, do A. Marques Lopes, com mais um texto do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971:

PAIGC > Instrução, táctica e logística > III parte (2)


[Fixação do texto: A.M.L. e editor L.G]

TÁCTICA

1. Generalidades

Os procedimentos tácticos prescritos nos regulamentos e demais documentos de doutrina, são normalmente aplicados pelo IN mormente as variações por vezes surgidas, fruto como se referiu já, não só da evolução dos processos de actuação, como também de adaptação às diferentes circunstâncias, em que o IN procura as modalidades mais apropriadas e rendosas para obtenção dos seus objectivos.

Nas alíneas seguintes vai procurar-se dar a conhecer algumas actividades tipo da actuação do In, não só pela apresentação de procedimentos preconizados em diversa documentação capturada, como também pela descrição de casos reais, elaborados com base nos relatórios das NT.

Em Anexo H publica-se ainda um extracto de apontamentos de Táctica de Guerra de Guerrilhas, de cursos frequentados no estrangeiro (provavelmente China Popular), por elementos do PAIGC.

Deslocamentos; Progressões

(1). Dos elementos disponíveis referem-se em primeiro lugar as declarações de Carlos Silva, elemento IN capturado, que diz:

(a). Progressões


Durante a progressão dum bigrupo IN num trilho, os elementos são dispostos em coluna por um, constituindo 3 grupos. No primeiro e último vai um chefe de grupo indo o comandante do bigrupo no meio. Os lança granadas e as metralhadoras são distribuídas ao longo da coluna.

O deslocamento é feito por lanços sucessivos, sendo, normalmente, feitos ao anoitecer, com receio dos aviões. Só se deslocam de dia se a mata é fechada.

(b). Deslocamentos ao longo de uma estrada

Nos deslocamentos ao longo de uma estrada os elementos IN são dispostos de um lado e do outro da estrada, com a distribuição equitativa do armamento pessoal, indo num grupo o comandante do bigrupo e um chefe de grupo e no outro o comissário político e o outro chefe de grupo. A distância a que seguem da estrada está condicionada à vegetação.

Tratando-se de um grupo, ou menos, o deslocamento efectua-se dum único lado da estrada. As forças articulam-se conforme o esquema:

Comissário Político
Chefe de Grupo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
======================
-> -> -> -> -> -> -> ->
======================
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Cmdt Bigrupo
Chefe de Grupo


(2) Esquemas Representativos de Técnicas Doutrinárias (deslocamentos com transposição de obstáculos)

Os esquemas que se apresentam foram extraídos de um caderno de apontamentos pertencente ao chefe de grupo João Landim e interpretado em função do código de sinais usado pelo IN.

(a) Passagem de uma zona estreita






Comentário: A figura mostra-nos a passagem de um grupo IN numa zona estreita. A passagem é feita por escalões, para o que, o primeiro, após a travessia da zona feita com o apoio do segundo no qual estão incluídas armas pesadas, desenvolve-se em linha instalando-se para proteger a travessia do segundo escalão.


(b) Passagem de um campo minado



Comentário: Parece ter sido detectado ou mesmo aberto um corredor através de um campo de minas por onde passa o primeiro escalão que após a travessia desenvolve em linha e instala, protegendo a passagem do segundo.

(c) Guarda de flanco a uma coluna que se desloca



Comentário: A figura mostra-nos um destacamento de guerilhas que se desloca sob a protecção de duas guardas de flanco.

(d) Progresso de um grupo de infantaria



Comentário: A figura representa a progressão de um grupo em coluna que em determinada altura desenvolve em linha, com vista ao desencadeamento e um ataque a um objectivo.

(e) Patrulhamentos
É difícil considerarem-se casos tipo pois que se caracterizam em função da zona em que se realizam. Nas regiões que o IN denomina de libertadas actua com efectivos reduzidos, isto é, grupos de 5 a 10 elementos enquanto que nas outras actua com efectivos que chegam a atingir o bigrupo.

Progride normalmente durante a noite a fim de se furtar à observação aérea, alvo nas regiões de vegetação densa onde progride à vontade mesmo de dia.
Quando progredindo em trilhos ou estradas, fá-lo com efectivos de homens, chefes e armas num dispositivo equilibrado a fim de poder reagir com eficiência. Notícias várias referam que muitas vezes o faz ao lado de trilhos como meio de evitar o armadilhamento dos mesmos.

2. Emboscadas

(1). Generalidades
É a operação clássica da guerra de guerrilhas invariavelmente caracterizada pela violência e grande volume de fogos com que é desencadeada. Conjugada muitas vezes com o uso de engenhos explosivos, a emboscada caracteriza-se ainda pela sua curta duração. Não sendo no TO da Guiné a acção de guerrilha mais usual do IN, a partir de 1970, parece ter vindo a acentuar-se a sua realização e a tendência para ser tentado o assalto como remate final para uma acção em que se verifica estarem a ser empregues efectivos cada vez mais numerosos.

Nem sempre o local de desencadeamento desta acção é o considerado ideal pois que o IN, preferindo usar da surpresa e dissimulação, actua onde melhor julga obter êxito. Quando assim sucede, realiza trabalhos sumários de organização do terreno, prepara itinerários de retirada e vai sendo normal cobrir a retirada das suas forças com fogos de armas pesadas as quais, colocadas numa base à rectaguarda da posição de emboscada, evitam assim a perseguição que eventualmente lhe seja movida pelas NT.

(2). Do estudo e interpretação de documentos capturados durante a Op Pardal Negro na área de Cubisseco extrairam-se os seguintes elementos relativos a esta operação:


"Emboscadas contra os Inimigos”


Emboscada é a principal maneira de poder derrotar os inimigos no momento de combate. Num combate há 7 espécies de emboscadas:
- Emboscada de aniquilamento
- Emboscada de contenção ou adversão
- Emboscada de impedimento
- Emboscada contra barcos
- Emboscada contra paraquedistas
- Emboscada contra helicópteros
- Emboscada para prenser prisioneiros.

Para fazer uma emboscada devemos ter uma boa informação dos inimigos, devemos conhecer o indivíduo que trouxe a informação, se ele é da população ou guerrilheiro. Devemos saber se os inimigoa andam a pé, de carro ou via aérea. Qual é a cautela que eles poderão tomar no momento da marcha para a linha de combate.

Nós devemos escolher um bom terreno onde possamos fazer fogo contra o inimigo.

Sistema de fogo – é uma cooperação de ditribuir todos os veículos no momento do combate para aniquilamento dos ocupantes.

Organização da emboscada – nós podemos recebr uma informação através dum camarada; devemos conhecer esse indivíduo, o seu nome e se ele é um guerilheiro do povo, se está em contacto com os inimigos ou não.

Camuflagem – no momento da emboscada devemos fazer abrigos individuais para cada camarada. Esses abrigos devem ser camuflados.

Realização de Exploração – devemos controlar todos os locais antes de fazermos uma emboscada e temos de saber se o terreno é favorável para nós.

(3) Declarações do capturado Formoso Mendes referem:

As emboscadas tanto a colunas de viaturas como a forças apeadas são feitas da mesma maneira, isto é, o pessoal é distribuído ao longo da estrada, colocando em cada extremidade uma equipa de LGFog e ML, estando um chefe de grupo junto de cada uma. A distância em relação à estrada é em função da vegetação.

Quando as colunas de viaturas tazem segurança dos flancos, as emboscadas são montadas bastante à rectaguarda.

No caso de desconfiarem que vem tropa pela rectaguarda, colocam uma equipade LGFog e ML, bem como mais pessoal, montando uma emboscada de segurança.

Quando as viaturas ou forças apeadas atingem a zona de morte, a equipa da frente abre fogo sobre a testa da coluna e em seguida abre fogo a equipa da outra extremidade. Os elementos do meio abrem fogo retirando de seguida, o mesmo fazendo as equipas de detenção.

Por vezes as emboscadas são conjugadas com a implentação de minas, sendo a acção desencadeada simultaneamente com o rebentamento dum desses engenhos.

O esquema que se segue representa a disposição das forças em emboscada:

Cmdt Bigrupo
Comissário Político

A – Equipa de detenção à frente (LGFog, ML, chefe de grupo)
B – Equipa de detenção à rectaguarda (LGFog, ML, chefe de grupo)
C – LGFog
D – ML (Metralhadoras Ligeiras)

(Continua)
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Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1603: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (10): O contexto político-militar (Leopoldo Amado) - Parte III (Fim)
(...) "Bissau é flagelada pela primeira vez com foguetões de 122 mm em 9 de Junho de 1971 A 9 de Junho, o PAIGC, por intermédio do CE 199/70 (estacionado em Morés), chefiado por André Pedro Gomes e, na artilharia, por Martinho de Carvalho e Agnelo Dantas, flagelou Bissau pela primeira vez com foguetões de 122 milímetros.
"Este ataque foi possível dado os esforços da unidade de artilharia referida, que, apoiada pelos grupos de infantaria, conseguiram penetrar para lá da linha defensiva do exército português e bombardearam as suas posições na cidade, embora tal tivesse sido possível porque também se realizaram acções simultâneas da frente Nhacra-Morés, o que permitiu proteger a retirada das unidades que atacaram Bissau" (...).
(2) Vd. posts anteriores:

22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)

24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)