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Notas dos editores: a inserção destas 2 fotos pretende também ser uma tripla homenagem do nosso blogue:
(i) a Amílcar Cabral, muitas vezes descrito, pejorativamente, como um simples intelectual, um teórico, um revolucionário de caneta e papel; ele sabia que as ideias era muito mais importantes do que as balas, mas que questões como "a instrução, a táctica e a logística", ou seja, a formação e a organização da guerrilha, também eram fundamentais para o sucesso da "luta de libertação";
(ii) à grande fotojornalista italiana Bruna Polimeni que fez seguramente as melhores fotos do dirigente político mas também do guerrilheiro Amílcar Cabral e da sua luta, no terreno, pela concretização dos ideais em que acreditava;
e (iii) à Fundação Mário Soares e à Fundação Amílcar Cabral por terem salvo o Arquivo Amílcar Cabral e disponibilizarem o seu progressivo acesso em linha (leia-se: em suporte digital), para além do acesso público (em Lisboa, Cidade da Praia e Bissau).
Para os que o admiram, como africano, como homem, como líder, como intelectual, como escritor lusófono e como cidadão do mundo, "Amílcar Cabral ká móri"...
Fotos: Cortesia de © Fundação Mário Soares (2008).
Apraz-nos registar aqui, publicamente, o nosso apreço pelo trabalho de pesquisa do A. Marques Lopes, pela sua grande camaradagem e amaizade, e pela sua vontade em partilhar connosco o seu vasto conhecimento sobre o PAIGC e a Guiné-Bissau, país e povo que ele (e nós) tanto ama(mos). Recorde-se que o A. Marques Lopes é um DFA, tendo sido gravemente ferido em combate, evacuado para o HML e regressado, de novo, à Guiné, onde foi colocado na CCAÇ 3, em Barro, num grupo de combate composto por balantas (os temíveis Jagudis). Desde o 25 de Abril de 1974 que tem procurado, sempre que vai à Guiné, contactar os seus antigos inimigos... É um homem lúcido, generoso, sem ressentimentos... que hoje se esforça por conhecer o "outro lado"...
Esperamos que ele continue a surpreender-nos com a exploração de novas fontes (como outros Supintrep) de informação e conhecimento sobre os adversários de ontem, contra quem combatemos, e de que hoje somos amigos e irmãos, partilhando experiências, memórias, história(s), lugares, património, afectos, sabores, cheiros e... uma mesma língua, uma formidável ferramenta com a qual podemos comunicar (do latim, communicare = pôr em comum). Apesar da distância, das dificuldades, dos obstáculos, da falta de muita coisa, cá e lá, etc. Bem hajas, António. Os editores, LG/CV/VB.
19ª e última parte da série PAIGG ABC DA PREPARAÇÃO TÁCTICA > Trabalho do chefe do destacamento (grupo) depois de receber a missão de combate.
[Transcrição de documento do PAIGC]
Fixação e revisão de texto: AML/LG
Depois de receber a missão de combate, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- aclarar a missão;
- apreciar a situação;
- tomar a decisão;
- dar ordem de combate e organizar a cooperação.
Aclarando a missão, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- perceber onde, quando, com o que vai realizar-se a operação;
- determinar as medidas a realizar imediatamente na preparação do combate;
- calcular o tempo.
Apreciando a situação, o chefe do destacamento (grupo) deve estudar:
- o inimigo;
- as próprias forças e meios;
- as missões dos vizinhos;
- a hora do dia e as condições do tempo.
Estudando o inimigo, o chefe do destacamento (grupo) determina:
- a disposição combativa do inimigo, situação dos seus meios de combate e o carácter das acções que se esperam, os lugares de encontro prováveis com o reconhecimento e a garda inimiga;
- a hora e o lado de chegada especialmente das reservas;
- as especialidades de guarda e de defesa do objectivo que deve atacar-se, ordem de troca das sentinelas e guardas, itinerário das patrulhas de vigilância e os lugares dos obstáculos.
Apreciando as suas próprias forças, o chefe do destacamento (grupo) deve:
- apreciar a composição e a capacidade de combate da unidade;
- tomar em consideração o grau de instrução dos guerrilheiros, sua experiência combativa, o estado político-moral e os conhecimentos do terreno na região das acções futuras;
- tomar em consideração a presença e o estado do armamento, das munições,do combustível, etc.
Apreciando os vizinhos, o chefe do destacamento (grupo) estuda a sua composição, as missões e os meios da sua realização.
Apreciando o terreno, o chefe do destacamento dos guerrilheiros determina:
- sua capacidade de passo para os guerrilheiros e o inimigo, os lugares cómodos para atravessar os obstáculos e mais favorável caminho de movimento e as condições de mascaramento;
- os lugares de descanso e de alto de dia;
- as aproximações camufladas para acesso e as posições de partida para o ataque;
- os lugares de encontro depois de ter cumprido a missão e os caminhos de recuo.
Na sua decisão, o chefe do destacamento determina:
- o objectivo da operação e os meios da sua realização;
- qual é o inimigo que deve aniquilar~se e de que maneira;
- onde se concentra o esforço principal e qual a forma de combate que deve fazer;
- as missões de combate;
- as medidas de abastecimento das acções combativas;
- os caminhos do movimento, as horas e os métodos e aproximação dos guerrilheiros aos objectivos de ataque;
- os métodos de salvar os obstáculos e as acções, perante de encontro por surpresa do inimigo;
- a hora do começo da operação e ordem das acções depois de cumprir a missão e os métodos de comando;
- onde, quando e quais as acções simulantes a realizar.
Na ordem de combate, o chefe do destacamento indica:
- os pontos de referência (objectos locais cifrados);
- as informações sobre o inimigo;
- a missão combativa do destacamento ou grupo;
- as missões dos vizinhos;
- as missões de combate para as unidades e os meios de fogo;
- a hora de estar pronto para cumprir a missão e os métodos de comando;
- seu lugar e o ajudante.
Organizando a cooperação, o chefe do destacamento (grupo) coordena:
- as consequências e as maneiras de abrir passos nos obstáculos do inimigo, eliminar as sentinelas e outra guarda;
- ordem, tempos e maneiras das acções durante o ataque contra o inimigo (ocupação do objectivo);
- as acções de atacantes, das unidades de fogo, e de asseguramento dos grupos de explosão e de reserva;
- as direcções de recuo e a ordem de proteger o recuo;
- ordem de manter a comunicação;
- sinais de identificação para o pessoal e sinais de identificação das unidades;
- sinais de ataque, começo, transmissão, cessar de fogo e recuo.
As medidas de precaução durante a instrução táctica
Nos estudos tácticos é proibido:
1. Abrir fogo contra os objectos e as construções com cartuchos de salva a distância inferior a 200 m.
2. Explodir os petardos de imitação ou outros meios de imitação na distância menos de 20 m de pessoal, lança-foguetes e com petardos de imitação perto dos homens, contra o material de combate, carros, nas aldeias, porto dos depósitos, etc.
3. Passar nas zonas e lugares proibidos, limitados com bandeiras e indicadores. Tomar e tocar os obuses, minas, petardos e espoletas não rebentadas.
4. Deter nas mãos os petardos de imitação já incendiados.
5. Lançar foguetes de iluminação e de sinais com ângulo menos de [?...ilegível].
6. Situar-se e deitar-se perto dos carros, tanques, e os canhões que atiram na distância menos de 50 m.
7. Beber a água não fervida das fontes não provadas e incendiar as fogueiras.
8. Deixar sem guarda a arma, munições e equipo, perder os mapas, os documentos, etc.
9. Transportar o pessoal no transporte não preparado, reduzir as distâncias estabelecidas, realizar travagem brusca e superar a velocidade estabelecida de marcha.
________
Notas de L. G.:
(*) Vd. postes anteriores desta série (que foi sendo publicada com alguma irregularidade, desde há mais de um ano):
22 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2124: PAIGC - Instrução, táctica e logística (1): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (I Parte) (A. Marques Lopes)
24 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2126: PAIGC - Instrução, táctica e logística (2): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (II Parte) (A. Marques Lopes)
1 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2146: PAIGC - Instrução, táctica e logística (3): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (III Parte) (A. Marques Lopes)
8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2164: PAIGC - Instrução, táctica e logística (4): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IV Parte): Emboscadas (A. Marques Lopes)
29 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2228: PAIGC - Instrução, táctica e logística (5): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (V Parte): Flagelações (A. Marques Lopes)
4 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2327: PAIGC - Instrução, táctica e logística (6): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VI Parte): Minas I (A. Marques Lopes)
17 de Janeiro de 2008 > Guine 63/74 - P2446: PAIGC - Instrução, táctica e logística (7): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VII Parte): Minas II (A. Marques Lopes)
19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)
13 de Fevereiro de 2008 Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)
7 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2730: PAIGC - Instrução, táctica e logística (10): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (X Parte): Organização defensiva (A. Marques Lopes)
15 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2762: PAIGC - Instrução, táctica e logística (11): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XI Parte): A máquina logística (A. Marques Lopes)
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2955: PAIGC - Instrução, táctica e logística (12): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (XII Parte): Saúde (A. Marques Lopes)
7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3032: PAIGC - Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)
4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIV Parte): Educação (A. Marques Lopes)
16 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3211: PAIGC - Instrução, táctica e logística (15): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XV Parte): Os Armazéns do Povo (A. Marques Lopes)
1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3258: PAIGC - Instrução, táctica e logística (16): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Itinerários de abastecimento (A. Marques Lopes)
8 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3284: PAIGC - Instrução, táctica e logística (17): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A formação do soldado das FARP (A. Marques Lopes)
22 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3344: PAIGC - Instrução, táctica e logística (18): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: A luta contra o temível helícóptero (A. Marques Lopes)