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sábado, 10 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15229: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXII: o bravo soldado Faria (Armando Costa Tavares, fur mil at inf, 3º pelotão)


Guiné > Região do Óio > Fatim  > Rio Farim  > CCAÇ 2533 (1969/71) >  (Foto inserida no documentário fotográfico anexo à brochura "Histórias da CCAÇ 2533" (*)




1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Trata-se de uma  brochura, com cerca de 6 dezenas de curtas histórias, de uma a duas páginas, e profusamente ilustrada (cerca de meia centena de fotos). Chegou às mãos dos nossos editores, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. para consulta.

Hoje reproduz-se mais texto da autoria do ex-fur mil at inf, Armando Costa Tavares, do 3º pelotão, e em que ele evoca o comportamento corajoso e determinado do soldado Faria, durante uma emboscada no corredor de Lamel, já no fim da comissão.  Sob proposta do Tavares, o Faria (que foi ferido nessa ação) teve um louvor do comandnate da CCAÇ 2533, o então  cap inf Sidónio Martins Ribeiro da Silva (hoje cor inf ref).




In Histórias da CCAÇ 2533. Edição de Joaquim Lessa, tipografia Lessa, Maia, s/d, pp. 101/102.



O alf mil inf António H. F. de Carvalho Neto era o  comandante do 3º Gr Comb, a que pertencia o fur mil at inf Armando da Costa Tavares, autor desta história. Um outro  fur mil at inf aqui mencionado é o Fernando J. do Nascimento Pires. Por sua vez, o Carvalhal, ferido nesta emboscada,  é o 1º cabo radiotelegrafista Abílio de J. Alípio Carvalhal, de acordo com a lista nominal do pessoal da CCAÇ 2533, publicada no fim do livro. Lamentavelmente, o Faria não consigo identificá-lo. (LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14717: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXXI: um data para recordar, o dia 1 de abril de 1970, dia das mentiras... (Armando Costa Tavares, fur mil at inf, 3º pelotão)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13854: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XXV: (i) o final da comissão em Farim, com os últimos mortos e feridos na zona de Lamel;: (ii) humilhados e ofendidos: regressados á Pátria, somos obrigados a ir a Chaves, num comboio ronceiro, entregar meia dúzia de trapos desfeitos, os restos das nossas fardas ! (Agostinho Evangelista, 1º pelotão)


1º encontro do pessoal da CCAÇ 2533, depois do regresso da Guiné... Foi em 1986...  Foto da página do Facebook do Agostinho Gomes Evangelista, um rapaz que eu já convidei para integrar a Tabanca Grande: (i) ndou na escola Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo; (ii) vive em Viana do Castelo; (iii) é natural da Ponte da Barca; e (iv) é Casado. (Foto reproduzida com a devida vénia; edição de LG).

Talvez o Luís Nascimento nos possa identificar estes bravos da CCAÇ 2533. Já se passaram quase 3 dezenas de anos...



Foto de perfil do Agostinho Gomes Evangelista, na sua página do Facebook. (Editado por LG; reproduzida com a devida vénia...)











1. Continuação da publicação das "histórias da CCAÇ 2533", a partir  do documento editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Desta vez  ex-sold Agostinho Gomes Evangelista, do 1º pelotão, descreve-nos as emboscadas que sofreu já em Farim,  perto do fim da comissão, na famigerada zona de Lamel, Um dos mortos  companhia foi o alf mil Ambrósio (pp. 86/87)..

O Evangelista foi, apesar de tudo um dos felizardos que voltou, vivo, mas ainda teve que ir a Chaves, fazer a entrega do material, num comboio ronceiro... Material ?  Meia dúzia  de trapos desfeitos, os restos das fardas destes heróis, humilhados e ofendidos... LG

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13390: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XV: Encontro do sold cond auto João Bento Guilherme com a morte em Lamel, em 14/12/1970... Era natural de Almeirim e pertencia à CCS//BCAÇ 2879 (Farim, 1969/71) (Armando Mota, ex-alf mil, 1º pelotão)


















1. Histórias da CCAÇ 2533 > Parte XV (Armando Mota, alf mil at inf, 1º pelotão):

Continuamos a publicar as "histórias da CCAÇ 2533", a partir do livro editado pelo ex-1º cabo quarteleiro, Joaquim Lessa, e impresso na Tipografia Lessa, na Maia (115 pp. + 30 pp, inumeradas, de fotografias). (*)

Registe-se, como facto digno de nota, que esta publicação é uma obra coletiva, feita com a participação de diversos ex-militares da companhia (oficiais, sargentos e praças).

A brochura chegou-nos às mãos, em suporte digital, através do Luís Nascimento, que vive em Viseu, e que também nos facultou um exemplar em papel. Até ao momento, é o único representante da CCAÇ 2533, na nossa Tabanca Grande, apesar dos convites, públicos, que temos feito aos autores cujas histórias vamos publicando.

Temos autorização do editor e autores para dar a conhecer, a um público mais vasto de amigos e camaradas da Guiné, as aventuras e desventuras vividas pelo pessoal da CCAÇ 2533, companhia independente que esteve sediada em Canjambari e Farim, região do Oio, ao serviço do BCAÇ 2879, o batalhão dos Cobras (Farim, 1969/71).(*)

Desta vez vamos publicar mais 1 das histórias, contadas pelo ex-alf mil Armando Mota, do 1º pelotão: (i)  o encontro do sold cond auto Guilherme com a morte em Lamel (pp. 65/67). (**)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 7 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13371: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XIV: (i) a queda granada da bazuca; (ii) samba em Lisboa; e (iii) a caçada dos passarinhos (Armando Mota, ex-alf mil at inf, 1º pelotão)

(**) Segundo a preciosa informação constante das listagens,  por concelho, nos mortos no Ultramar,  e disponinbilizadas pelo portal UItramar Terraweb, o nosso infortunado camarada João Bento Guilherme, era natural de Fazendas de Almeirim, freguesia do concelho de Almeirim onde repousa em paz.

domingo, 23 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10424: Blogpoesia (300): Deram-me uma arma... (Ricardo Almeida, o poeta da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)


1.  Poema do novo membro da Tabanca Grande  Ricardo [Marques de ] Almeida [, foto à esquerda,], que em 8 de agosto de 2012 se apresentou nestes termos 


Boa tarde,  camarada Luis graça.

Antes de mais, começo por me apresentar, como ex- 1.º cabo nº 08922568 da CCAÇ 
2548 / BCAÇ 2879, do 3º pelotão, comandado pelo alferes João Rebelo e dentre os demais furrieis destaco o furruiel Godinho, ,  o fotografo-dia,que registava as nossas imagens.

Camarada desde o nascimento do nosso blogue que tento entrar sem o conseguir até agora, mas adiante.

Acuso a mensagem que me enviaste dando-me conta de alguns pormenores como o destacado nela, a segurança montada pela tua companhia no regresso da 2548 para Bissau á espera de embarque para Portugal.

Por minha infelicidade, não fiz essa viagem de despedida visto a minha guerra ter antes terminada.  Ou melhor, travei outr, a talvez esta mais violenta que a primeira a que nos estamos a referir pois, foi travada noutras frentes de hospital, em hospital (Caramulo incluído), devido a  tuberculose pulmonar que poderia ser a minha última batalha, deixando-me esta agarrado para sempre, à ADFA - Associação dos Deficientes cdas forças Armadas, meu refúgio e minha segunda casa (...) 

Viseu em 8/8/12
Ricardo Marques de Almeida

[ ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71]




2. Mensagem inserida na nossa página do Facebook, em 21 do corrente:


Em mensagens anteriores via e-mail apresentei-me à Tabanca Grande como sendo o ex-1º cabo nº  089225/68,  respondendo pelo nome de Ricardo Marques de Almeida,  da CCAÇ 2548 / BCAÇ 2879 que passou pela Guiné nos anos de 1969 a 1971,  sendo este batalhão comandado pelo malogrado tenente coronel Manuel Agostinho Ferreira. 

Apresentei-me com várias fotos e um poema que ainda estarão  em vossa posse á espera de serem publicadas.  Também (vide história do BCAÇ 2879) estou postado no blogue de Carlos Silva sobre a guerra da Guiné. (...)


3. .Poema publicado em 18 de setembro, na nossa página do Facebook >Tabanca Grande 


Deram-me uma arma e disseram-me
estima-a bem, porque vai ser tua mulher
e tua amante!

E
de agora em diante,
haja o que houver,
só ela te pode valer
em momentos de aflição.

E
ganhar-lhe-ás afeição,
porque só ela te pode safar,
em situações menos boas
ela serve para matar.

E
defenderes teus camaradas
ao fazerem emboscadas
naquelas matas escuras,
sofrendo a humilhação
de andar á caça de vidas,
muitas delas por lá interrompidas,

E
outras por lá ficarão
para sempre esquecidas,
enterradas sem caixão.

E
seu pai sem o saber
E
de coração apertado
pensa nada acontecer
ao seu filho tão amado!


Mas eis que chega o carteiro
com a noticia inesperada,
ele salta do pardieiro
onde então se encontrava...

E
estranhando o aerograma
porque era de forma diferente~,
lhe entrega o telegrama
com o faz a tanta gente!

O EXÉRCITO PORTUGUÊS
VEM DIZER-LHE QUE SEU FILHO
AGORA MARCHOU DE VEZ,
VAI CAMINHAR NOUTRO TRILHO.

na sua nova morada
uma árvore é plantada,
de seu gosto o seringueiro
para assinalar que ali
E
a quem passar por aqui
verá Portugal inteiro.


Mas outra árvore nasceu
E
como a outra cresceu
na campa daquele soldado
que foi preciso ele morrer
para Portugal o ver
como cidadão inteiro!

E
de mãos dadas caminham
em perfeita solidez,
numa amizade eterna,
o soldado português
E
o preto guerrilheiro...
vir de tão longe morrer
na pátria de outro ser
E
obrigado a combater
os filhos de outro povo,
sem que razão mais houvesse
p'ra que isso acontecesse.

LIBERDADE, INDEPENDÊNCIA
PÃO, EDUCAÇÃO
SAÚDE, CIÊNCIA

NASCEU EM PORTUGAL
MAMOU LEITE PORTUGUÊS
HOJE É UM SEM ABRIGO EM PORTUGAL
HOJE É UM INDIGENTE PORTUGUÊS

e
hoje
e
hoje
e
hoje.

escrito no ponche de protecção
nas matas de Lamel,

setembro de 1969.
Marques de Almeida

__________________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10401: Blogpoesia (299): Memória da guerra (António Graça de Abreu)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10290: Em busca de... (200): Camaradas da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (K3 e Lamel, 1969/71) (Ricardo Almeida)

1. Mensagem do nosso camarada Ricardo Almeida* (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71), com data de 20 de Agosto de 2012:

Luís,
Escrevo para tentar encontrar o meu camarada de Peloão, Alberto Marques Apolinário, Soldado NM 11892168 para voltar a cantar os meus versos como acontecia no K3 (Saliquinhedim) e em Lamel.
Decorava e alegrava a malta recitando-os.

Já agora, onde pararão os violas que o acompanhavam?

Se algum de vós me ler, agradeço que entrem em contacto comigo para o telemóvel 965 361 450.
Abraça-vos o Lisboa ou Marques de Almeida.

Para ti Luís, o meu bem haja e reconhecimento do teu valor.

Aquele abraço
Ricardo Almeida
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10217: Tabanca Grande (352): Ricardo Marques de Almeida, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim, K3, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)

Vd. último poste da série de 22 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10288: Em busca de... (199): Pessoal da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael, Buba, 1968/69) (Francisco Gomes)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8056: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (3): Minas entre Jumbembem e Lamel

1. Terceiro dos Episódios da Guerra na Guiné, trabalho do nosso camarada e Manuel Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74), enviado em mensagem do dia 15 de Março de 2011:


EPISÓDIOS DA GUERRA NA GUINÉ 1973/1974 (3)

MINAS ENTRE JUMBEMBÉM E LAMEL

Por volta do dia 20 de Maio de 1974, um ano após os acontecimentos de Guidage, um mês depois do 25 de Abril, o PAIGC, aproveitando a indefinição e a fragilidade políticas de Portugal, intensificou a sua acção na Guiné, a que o quartel de Jumbembém não foi excepção.
O limite do subsector era numa linha de água designada por rio Lamel, situada a cerca de 3Km para o lado de Farim, cuja ponte, de pedra e cimento, estava frequentemente sabotada por parte do PAIGC.


Ponte de Lamel. Foto de Carlos Silva revelada a partir de um slide do ex-Alf Rebelo da CCaç 2548. Com a devida vénia a ambos.

A passagem das viaturas muitas vezes só era possível sobre troncos de árvore que se colocavam sobre a referida ponte, para suprir a sua destruição parcial.
Tratava-se de uma zona perigosa, porque era ali nas proximidades da ponte que os guerrilheiros do PAIGC passavam do Senegal para uma das suas “zonas libertadas”, Bricama, e vice-versa.

Num desses dias de Maio, durante a noite, foram ouvidas em Jumbebém algumas explosões para o lado de Lamel, presumindo-se que se trataria de mais uma sabotagem à ponte, pelo que foram feitos uns disparos de obus naquela direção, a que se chamava o batimento da zona.

No dia seguinte foi recebida informação, através dos pilotos de dois helicópteros que deslocaram a Jumbembém, que a ponte estava destruída e a picada estava obstruída por abatimento de árvores.
Já sabíamos o “barril de pólvora” que nos esperava aquando da realização da próxima coluna.

Talvez logo no dia seguinte, não me recordo bem, foi organizada a coluna a Farim, com a prévia picagem da picada até Lamel.
Nesse dia a picagem esteve a cargo do 3.º Pelotão, a que eu pertencia, reforçado pelo 4.º creio, e entre os quatro homens destinados a picar, eu, mais uma vez, estava incluído.

À saída do quartel, um dos quatro picadores, sabendo o que nos esperava, fez tudo para ir a picar em último.
Coloquei-me então eu à frente, do lado direito, outro atrás, do lado esquerdo, outro mais atrás, do lado direito e o tal que fez questão de ir em último mais atrás, do lado esquerdo.
Como “picas” usávamos, nesta altura, umas varas com cerca de 4 ou 5 metros de comprimento, as chamadas “canas da índia”, que nos permitia estar o mais longe possível de eventuais explosões de minas ao serem tocadas.

Sensivelmente a meio do percurso, próximo do chamado “Alto de Lamel”, apercebo-me da existência de rastos de bota diferentes das que nós usávamos, ao longo da picada, junto ao capim, que segui atentamente.
A dada altura, cerca de 20 metros depois, aqueles rastos deixaram de se ver, desfeitos aparentemente por um arbusto.
Ali parei e olhei mais em pormenor a picada e vi um quase imperceptível rebaixamento, portanto na rodeira do lado direito, muito alisado.

Passei a palavra para trás para o Alferes Macedo, Comandante do 4.º Pelotão, especialista em minas e armadilhas, se deslocar até mim.

Depois de lhe ter relatado a situação, mandou-me recuar e colocou um pequeno petardo junto ao tal rebaixamento que, com a sua detonação, originou o rebentamento duma potente mina anti-carro, abrindo uma enorme cratera na picada.

Reiniciámos novamente e progressão e, a cerca de 20 metros depois, ouvi uma pequena explosão atrás de mim, o que me levou a baixar imediatamente, pensando tratar-se de alguma emboscada.
Apercebi-me então que foi uma outra mina que explodiu na rodeira do lado esquerdo, acionada pelo tal militar que fez tudo para ser o último da picagem.

Por sorte a mina fazia parte de algum lote antigo e já não se encontrava em condições, rebentando apenas o dispositivo anti-pica, deixando o explosivo da mina anti-carro à vista, uma espécie de gesso em fragmentos.

Prosseguimos mais uma vez, e já com as tais árvores que obstruíam a picada à vista, a cerca de 200 metros, vejo indícios idênticos ao anterior.

Repetiu-se o mesmo procedimento, com a explosão de outra mina, originando, também, uma profunda cratera.

Continuámos e, a escassos metros, ouço outra pequena explosão a trás, concluindo-se que fo mais uma mina que rebentou na rodeira, do lado esquerdo, depois de passar o tal último picador, debaixo da roda da frente de uma Berliet da coluna que vinha atrás. Felizmente também com deficiência, à semelhança da anterior, rebentando apenas o pneu da viatura.

Chegámos então às árvores caídas na picada, a escassos 200 metros da ponte e, junto a uma delas, fora da picada, tinha explodido uma mina anti-carro, accionada por um javali.

A partir dali as viaturas saíram fora da picada e atravessaram o rio, na altura sem água, ao lado da ponte, restabelecendo-se a ligação com Farim, cujos picadores já estavam do outro lado à espera.

Não houve qualquer contacto com o IN, contudo tudo se passou sob um estado de tensão só imaginável por quem por ali passou.

Passados alguns dias iniciaram-se os contactos com o PAIGC, no sentido de se acabarem as hostilidades

Aqui fica o meu testemunho destes dois dos vários episódios de guerra em que estive envolvido.

Uma nota final:
Por tudo aquilo que vi no teatro de guerra da Guiné, admirei a disciplina, a coragem e até a valentia das chamadas forças especiais, Marinha (Fuzileiros), Força Aérea (Pára-quedistas) e Comandos, sendo o seu contributo importante nos momentos mais críticos da guerra nesta província, como no caso de Guidage.
Mas, sem querer aqui esgrimir argumentos a favor ou contra qualquer ramo das Forças Armadas, porque todas elas deram o seu melhor nas missões que lhe foram atribuídas, não queria deixar uma referência especial para o Exército, a que eu pertencia:

Como força de quadrícula, ou seja, cada unidade ou sub-unidade era instalada no terreno, num sector, cuja missão era:

- De defesa desse sector (operações e patrulhamento, colunas, construção de valas e instalações abrigo, vedações de arame farpado, etc.);

- De logística (construção e manutenção de infra-estruturas, manutenção de viaturas, alimentação, reabastecimentos, etc.);

- De âmbito social, em relação às populações sob a sua responsabilidade (construção de tabancas, apoio sanitário, apoio alimentar, etc.

Com estas características o Exército tornava-se mais vulnerável. O IN sabia que estávamos ali, sabia que utilizávamos as picadas de acesso. Portanto podia surpreender-nos a qualquer momento.

Enquanto as forças especiais eram forças de intervenção e de reserva, ou seja, estavam bem instaladas em Bissau, no caso da Guiné, bem alimentadas, e nas suas operações surpreendiam o IN, com resultados sensacionais, regressando de novo à base, o Exército estava sempre no terreno, como acima disse, sob desgaste físico e psicológico, mais vulnerável às investidas do IN.

Só para dizer, e não vejam isto como “puxar a brasa à minha sardinha”, é uma constatação, que o Exército foi a força que mais sofreu física e psicologicamente, no caso da Guiné que conheço.

Aqui deixo um abraço para todos aqueles que, como eu, ali deram o corpo ao manifesto e a sentida homenagem a todos os que, infelizmente, não tiveram a sorte de voltar, em especial aos que fiz questão de identificar neste trabalho, que comigo conviveram de perto.

Um abraço.
Manuel Sousa
Fevereiro de 2011
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8044: Episódios da Guerra na Guiné (Manuel Sousa) (2): Afinal, os Anjos acompanham-nos

sábado, 31 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.


Pombal , 28 de Abril de 2007. No decorrer do nosso IIº Encontro, o Vitor Junqueira, o Luís Graça e o Ten Cor A. Marques Lopes (em 2º plano).

"Num gesto de grande simbolismo e beleza, o Vitor - verdadeira caixinha de surpresas - fez questão de ser condecorado por dois dos seus camaradas de Guiné: o A. Marques Lopes, o mais graduado de todos nós, coronel DFA na reforma, e que foi gravemente ferido em combate na zona leste; e eu, próprio, Luís Graça, na qualidade de fundador e editor do blogue...

A condecoração, sobre a qual ele foi lacónico, teria a ver com a sua brilhante folha de serviços como militar, ou seja, como oficial miliciano. Foi-lhe atribuído, segundo percebi, pelo Chefe do Estado Maior do Exército e era para lhe ser entregue no 10 de Junho de 1974, não fora o conflito com outra data, o 25 de Abril de 1974, que veio mudar o curso dos acontecimentos.A cerimónia acabou por ser adiada trinta e três anos... Simbolicamente, a medalha por bons serviços foi-lhe entregue no dia 28 de Abril de 2007, por dois camaradas seus, na sua terra, na terra que ele muito ama... Um gesto bonito num dia bonito, em que realizámos, mais uma vez, o sentido da palavra camarada... Estes fotos, mandou-mas o Xico Allen. Estavam à espera de uma boa oportunidade para aparecerem no blogue (que nem sempre é do nosso contentamento)... Vitor, sei que as vai pôr no teu álbum, com muito orgulho. Obrigado, Xico, pelo teu gesto.


Luís Graça.
Fotos: © Xico Allen (2007). Direitos reservados.

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Mensagem do Vítor Junqueira, de 28 de Maio

Amigos Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote,


Espero que estejam a passar uma boa noite, caso ainda estejam acordados e ao computador! Se não for esse o caso, então a noite até pode estar a ser excelente ...Mando-vos mais um escrito que gostaria de ver publicado, logo que possível para não se perder o contexto.


Obrigado e um abraço,
Vítor Junqueira

A guerra (na Guiné) estava militarmente perdida?



Cap. I



Um pouco de verdade, um pouco de especulação, um pouco de história ou como se misturam alhos com bugalhos …


I - "Quem vai à guerra dá e leva" (pop.).
Mas atenção, eu não quero bulhas com ninguém! Não desejo controvérsias nem tão pouco contribuir para alimentar uma "boa polémica" (post 2872).

Bem sei que palavra puxa palavra e, quando se contestam teorias enraizadas, há sempre o risco de ferir orgulhos e vaidades. Assim se pode resvalar para uma espécie de guerrilha de pontos de vista, sempre desagradável, senão mesmo nefasta para a saúde. Vejam o que esteve para acontecer ao Galileo! E se não está no meu íntimo fugir a uma galharda discussão, façam-me o favor de acreditar que de momento não estou para aí inclinado. Quanto a outras guerras … depois de eu abraçar e ter sido abraçado por quem me quis limpar o sebo, vou agora pelejar com quem?

À tertúlia, ofereço este (desa) bafo, gizado em tarde chuvosa, a puxar para a melancolia e lanzeirice (não está no dicionário).

Após leitura atenta do último post da autoria do Graça Abreu, dei comigo a assobiar aquela cantiga que todos conhecem:

Eu gosto muito de ouvir cantar a quem aprendeu, se houvera quem me ensinara quem aprendia era eu.

Fiquei a matutar na coisa … se houvera quem me ensinara, quem aprendia era eu! Esclarecer os ignorantes é mandamento cristão. Quem quererá ensinar-me? Mas por amor de Deus, não me mandem estudar! Já vivi o tempo suficiente para saber que burro velho não toma ensino e o papel de que são feitos os livros, aceita o que nele quiserem pôr. E o que poderia eu aprender através de uma certa produção literária e artística, prolixa e bem ao jeito do status quo, daqueles que descobriram o eldorado da guerra colonial para fazer umas massitas, esquecendo-se de convidar para a mesa de trabalho, a verdade e o rigor histórico dos factos como parece demonstrar o post nº2889, da autoria do Mário Dias?

Jornalistas, políticos, diplomatas, embaixadores e outros doutores, há-os sérios e escrupulosos. Sem dúvida. Mas são tantos aqueles que a quatro mil e quinhentos quilómetros de distância continuam a discorrer sobre a guerra e seus horrores, sem nada saberem daquilo que se passava no terreno! Ou sabem, por ouvir dizer, mas a quem? Aos do costume, naturalmente. Porque quem não se apresenta inequivocamente como curador do sistema ou não age como tal, não encontra audiência em lado nenhum. Essa é que é a verdade desde há pelo menos oitenta e dois anos (48+34).

O pobre do ouvinte, leitor ou espectador comum, não tendo parâmetros para avaliar a credibilidade da informação que lhe é oferecida, que em muitos casos não vale o peido de um caracol, está tramado. E lá vai mais um para o rebanho!
Falando de credibilidade, quem não se lembra de um alto responsável doméstico (ou domesticado?), afirmar a pés juntos que tinha visto com os próprios olhos, documentação que comprovava a existência de armas de destruição massiva no Iraque, e que não tinha dúvidas sobre as ligações de Saddam Hussein à Al-Qaeda? Repetia acriticamente, como um papagaio, a argumentação do seu master. Por mera ingenuidade? Quis ou conveio-lhe ser enganado?
E porque hão-de merecer mais crédito aqueles que há perto de quarenta anos se dedicavam em ou a partir de Lisboa, à proveitosa arte da manigância política, do golpe conspirativo, da boataria mesquinha?

Na minha opinião, nem mais nem menos. São peixe da mesma canastra. Para nós, desvalidos peões, torna-se vital exercer sobre estes passarocos apertada vigilância e sobretudo, nunca abdicar do princípio da dúvida sistemática quanto ao que fazem, dizem ou escrevem. Para não voltarmos a ser intrujados.
E já agora, permitam-me os camaradas introduzir aqui um texto recente de Mário Soares, que muitos consideram o pai da democracia portuguesa:

"O tempo passa a correr … Há cinco anos … realizou-se nos Açores a chamada Cimeira da Vergonha, em que … o homem mais poderoso da terra e três primeiros ministros europeus … decidiram unilateralmente, com falsos argumentos, intencionalmente forjados, invadir o Iraque … Porque razão – ou razões – o fizeram? A história está por fazer. Mas será feita … Quanto aos europeus, o que os moveu foi principalmente a subserviência perante o patrão americano e o deslumbramento … Mas para que lhe serviu? Que respondam os mortos no seu silêncio … e os vivos que aí estão para contar, os crimes, os assassinatos, a tortura as destruições, as pilhagens, os atentados aos Direitos Humanos, que se fizeram à sombra da arrogância e da ganância … Talvez um dia – quem sabe? – o Tribunal Penal Internacional, se lembre de os julgar pelo mal que fizeram à Humanidade."

In “cinco anos depois”, textos de Mário Soares, Lisboa, 14 de Março de 2008.

A este resumo acrescento eu um pequeno léxico:

1 – Guantanamo

2 – Abu Grahib

3 – Rendição de prisioneiros

4 – Guerra preventiva

5 – Prisões secretas

6 – Voos secretos

7 – Harsh interrogations

8 – Waterboarding

9 – Eixo do Mal

10 – Danos colaterais

…e é melhor ficar-me por aqui, porque como diz a publicidade os acidentes são reais!

A reflexão do Dr. M. Soares suscita-me outras questões.


Pergunto:

- Quem foram os grandes mentores de Saddam e dos estudantes corânicos?

- Quem armou e guiou a mão do UÇK com o objectivo último de encontrar um pretexto para intervir, arrasar e desmembrar a Jugoslávia?

- Quem bombardeou escolas, pontes, infantários, maternidades, estações de televisão, comboios, colunas de autocarros e tractores apinhados com camponeses em fuga, arraiais, festas de casamento e funerais?

Os aviões e os canhões da gloriosa Nato, claro!

Tem sido assim, já lá vai quase uma década. No Iraque, no Afeganistão, nos Balcãs.
E é a estas bandalheiras dos grandes do mundo, que as forças armadas do Portugal democrático estão a dar cobertura!?
Ou não estarão a sancionar com a sua presença, como quem assina de cruz, alguns dos crimes mais bárbaros e hediondos cometidos contra seres humanos, desde que a humanidade existe? Partem por consciência do dever, apenas, ou porque existe, dizem, um forte estímulo financeiro?

É que já me contaram algo que só pode ser boato: a primeira comissão daria uma boa entrada para um apartamento, a segunda, paga os tarecos e a terceira o automóvel. Será que a tal História de que fala Mário Soares, os vai contemplar também? Tantas dúvidas.

Ou, de outra maneira, o burro sou eu?

E que diferença de tratamento camaradas, relativamente aos ex combatentes do ultramar! Enquanto sobre os expedicionários dos tempos modernos assentam os holofotes encomiantes da comunicação social e as palmadinhas nas costas das altas patentes, alguns (muitos?) dos nossos, os mais vulneráveis, vão tentando sobreviver a todos os tipos de desprezo a que foram votados por quem pode e manda. Para já não falar de campanhas mais ou menos encapotadas, visando a honra e dignidade daqueles que serviram a Pátria nas ex-colónias.
Chegaram a ser olhados com suspeição, quase como um perigo para a estabilidade da democracia.
Perderam os apparatchiks, porque ainda que tarde, a verdade e a justiça sempre prevalecem.

Os ex-combatentes não querem mordomias, apenas exigem ser tratados com o respeito que lhes é devido, inclusive, por aqueles que dizem ter sido seus camaradas de armas. E não me acusem de ser demagogo, porque não tenho estudos para isso!


II - Diz o pagode que quem sabe da tenda é o tendeiro.

O camarada António Graça Abreu, não só sabe da tenda, como parece disposto a ensinar a quem quiser aprender. Não me repugnaria nada reconhecer a outros, uma visão igualmente abrangente e fundamentada da situação militar – capacidade operacional, êxitos no terreno, etc. – das forças em confronto no CTI da Guiné nos já longínquos anos da década de setenta.

Mas, como já disse e até o escrevi neste Blog, dadas as funções que desempenhou nos CAOPs (norte, centro e sul), parece-me razoável considerar o Graça Abreu, um profundo conhecedor nesta matéria.
Não ouso por isso acrescentar ou retirar um ponto que seja ao que escreveu. E também não me parece que entre os Tertulianos venha a perfilar-se alguém com mais autoridade do que ele para se pronunciar sobre factos. Porque em matéria de pressupostos, suposições, conjecturas e arte de adivinhação, não faltam ingenhêros.
Mas se existe por aí alguém com mais bagagem, faça o favor de dar o marcial passo em frente.
No entanto, acho que seria bem mais interessante e certamente esclarecedora, uma apreciação pessoal sobre a tese da guerra militarmente perdida feita pelas centenas de camaradas que compõem este operacionalíssimo Comando Bloggista!

E como na carta de princípios desta comunidade se pode ler "Não deixes que sejam outros a contar por ti, a tua história", torna-se imperativo, acho eu, que todos contribuam com a sua perspectiva para que se faça luz sobre esta matéria, e acima de tudo, que a mesma seja menos monocromática e mais do tipo caleidoscópico.

Se cada um de nós se pronunciar sobre a situação concreta na ZA da respectiva unidade e, existindo no nosso seio elementos representativos da dispersão das forças portuguesas por todo o TO da Guiné, como eu julgo, devemos ter uma visão global do que lá se passava.

Fica aqui o desafio.
Formulo a seguir algumas hipóteses de trabalho, frisando bem que não se trata de nenhum questionário. São meros exemplos das questões que cada um poderá colocar a si próprio.

- É verdade ou não que existiam áreas libertadas, verdadeiros santuários do PAIGC, onde a tropa portuguesa não conseguia entrar?


- Tens conhecimento de alguma aldeia, lugar ou sítio que o PAIGC tenha subtraído militarmente ao controlo das NT?


- Na tua zona, a actuação das forças inimigas indiciava qualquer estratégia de controlo territorial ou era mais do tipo bate-e-foge para a segurança das linhas de fronteira?

- Nas operações em que participaste, a força a que pertencias foi alguma vez obrigada a retirar antes de iniciar, ou sem concluir a missão?

- Nas acções da iniciativa do IN, tipo emboscada, quem retirava e quem explorava o êxito, o adversário ou a tua força?
- Como se manifestava no terreno a (propalada) superioridade armamentista das forças inimigas?


- É verdade que os guerrilheiros se apresentavam de uma maneira geral mais bem treinados e aguerridos do que as NT?

- As flagelações ao teu aquartelamento produziram estragos e perdas humanas importantes do nosso lado (mortos, feridos), ou eram na maioria das vezes aleatórias e inconsequentes?

- Durante a tua comissão houve alguma tentativa do In para tomar de assalto as instalações da tua unidade?

- Ouviste dizer que tenha havido alguma, antes ou depois de teres passado à peluda?
- Tiveste problemas com os reabastecimentos, recolha de lenha, abastecimento de água etc. devido ao aumento da pressão do In sobre o itinerário das colunas?

- No período em que permaneceste no mato, qual é o teu sentimento quanto à situação das NT no terreno: evoluiu para melhor, piorou ou manteve-se inalterada?

III - E para exemplificar, vou abrir estas pacíficas hostilidades relatando o ocorrido na área que foi adjudicada à minha Compª, à qual foi determinada, como a tantas outras, a obrigação de "eliminar ou pelo menos expulsar da sua zona de acção qualquer elemento do IN …etc., etc.", isto é: manter a casa limpa e arrumada.

Trata-se de um modesto testemunho, restrito no espaço (Mansabá, Bironque, Madina Fula, K3 e regiões limítrofes), e limitado no tempo (1970 a 1972).
Fiquem os camaradas descansados que não vou aborrecer-vos com a descrição de operações com nomes exóticos.

Sou um homem de coração mole, não gosto que me falem de mortos e feridos, emboscadas explosões e ferros, comandantes espavoridos aos berros, relatadas ao pormenor, como um jogo de futebol.
Estava então em curso, a reabertura de uma importante via de comunicação que ligava a capital ao norte do Território (e não Província, para que não dê um treco nos mais puristas).


A estrada Mansabá-Farim em Fev. 1971.
Foto de Carlos Vinhal.

Segundo ouvi da boca dos altos responsáveis militares daquela altura com quem tive o privilégio de dialogar, ir de Mansabá a Farim por via terrestre, era coisa que não acontecia havia pelo menos uns cinco anos. E não vale a pena contrariarem-me, porque o que encontrei comprova-o. Da estrada, apenas existiam escassos vestígios, já que a mesma havia sido totalmente engolida pela floresta.

Minada e sob a mira constante das armas do IN que por ali possuía alguns coutos mais ou menos permanentes e certo controlo sobre populações dispersas pelo mato, era impraticável para as nossas FA. A seu lado, corriam os trilhos logísticos que dando seguimento aos carreiros de Sitató e Lamel, permitiam a ligação entre as bases do PAIGC situadas no sul do Senegal e as dos meus vizinhos do Oio e do Morés.

Pois bem, entre Novembro de 1970 e Março de 71, a estrada foi reconstruída, devidamente asfaltada ainda hoje lá está que se pode ver. Nos meses seguintes, a região foi limpa no que se refere a estruturas permanentes do IN, e a circulação rodoviária começou a fazer-se com todo o conforto e segurança entre Bissau e Farim. As populações passaram a deslocar-se sempre que o desejavam …

E a tropa beneficiou também, com uma qualidade de vida quase faustosa, já que as colunas de reabastecimento deixaram de ser problema. Aquilo não era o paraíso mas andava lá perto. (Piada!)
Quanto aos papões do Oio e Morés, só posso dizer-vos que os comandos africanos iam lá sempre que desejável, geralmente apoiados pela nossa tropa mais especializada mas, os "arre-macho" também participavam, chegava para todos. Invariavelmente, o resultado era manga de ronco.
Este vosso amigo passeou-se lá pelas barbas e teve oportunidade de fazer uns trabalhitos com sucesso. E assim foi aumentando o nosso grau de confiança (e segurança …) até ao adeus às armas em Julho de 1972.

Eis a minha história, em tamanho reduzido, da qual cada um extrairá as conclusões que lhe aprouver. Fico a aguardar impacientemente que a vossa chegue na volta do correio. Isto é como nos casamentos, quem quiser falar que o faça agora ou cale-se para sempre! (mais uma laracha)

Cap. II

"A guerra não estava militarmente perdida, a rapaziada é que estava farta daquilo"

Apesar da busca exaustiva a que me entreguei, não consegui identificar o autor destas palavras que li há poucos dias no Blog.

Acho que quando passei os olhos por cima da frase não a valorizei como devia, certamente por achar óbvio o seu significado. Hoje venho reconhecer que são palavras sábias que dizem muito mais do que a semântica pode exprimir. Elas são o retrato a muitos milhões de pixéis de um estado de alma generalizado.

Em "a rapaziada é que estava farta daquilo"… está tudo dito.

Nesta reflexão tão simples e ao mesmo tempo tão profunda, podemos encontrar a resposta à polémica questão de saber para qual dos lados os ventos da guerra sopravam de feição.

E quem era a rapaziada?

1
- Em primeiro lugar, parece-me de elementar justiça citar sem contudo nomear ninguém em particular, muita gente honesta e inteligente que no regime pré-democrático serviu o Pais da forma que pôde e o melhor que soube, e nunca se serviu do regime em proveito próprio como viria a torna-se moda. Alguns ainda hoje estão entre nós, felizmente, prestando relevantes serviços à Nação. Eram gente culta e politicamente bem formada, que foi capaz de antecipar a tomada de consciência colectiva de que descolonizar era preciso. Tinham plena consciência de que perigoso seria continuar a navegar a contra-corrente da História.

Imagino que tenham utilizado toda a sua capacidade de persuasão e ascendente sobre os timoneiros no sentido de os levar a mudar de rumo.

Ora, como é sabido, a teimosia de uns é o desespero de outros e estas pessoas que estavam verdadeiramente na cabeça do boi, e como tal, fartas de levar cornadas dos seus homólogos nas instâncias internacionais, mais não podiam fazer do que limitar os danos.

2
– Os militares do QP. Dissipados os fervores patrióticos dos primeiros anos da guerra do ultramar (ou colonial, como vos aprouver…), alguns já iam na enésima expedição a África; muitos com família a reboque e filhos em idade escolar, saltitavam de comissão em comissão, e o fadário não tinha fim à vista.
A título de exemplo, Manuel Monge já ia na quarta comissão! Estavam fartos! Sinal do mal estar que grassava no seu seio, foi o protesto em Maio de 73 contra o apoio das FA ao governo através do Congresso dos Combatentes realizado no Porto entre os dias 1 e 3 de Junho do mesmo ano.

Fartérrimos ficaram, quando em 13/7/1973 é publicado o D.L. nº 353/73 – que permite aos oficiais do Quadro Especial de Oficiais e outros oficiais oriundos do Quadro de Complemento o acesso ao Quadro Permanente após um curso intensivo de dois semestres lectivos consecutivos na Academia Militar, em condições substancialmente diferentes das que até então regiam esse acesso.
Permite, além disso, rever o posicionamento na escala de antiguidades de oficiais oriundos do Quadro de Complemento já com o curso da Academia Militar e, portanto, oficiais do Quadro Permanente. (Centro de documentação 25 de Abril).

Aí, a malta do QP de origem não gostou nada de ser passada para trás por estes paisanos fardados. E ainda bem, porque este descontentamento irá dar origem à primeira reunião clandestina, realizada a 20/7/1973 em Bissau, embrião do que viria a ser o:Movimento dos Capitães – Movimento surgido em Agosto de 1973 no seio das Forças Armadas e protagonizado pelos oficiais intermédios e subalternos que visava inicialmente a mera satisfação de reivindicações de carácter corporativo.
Em breve se transformou num movimento de clara contestação política que culminou com o derrube do regime em 25 de Abril de 1974. (Wikipédia).
Foi o percursor do MFA, nascido de gestação a termo a 9/7/1973 no Monte Sobral – Alcáçovas e do cortejo de coisas boas (e algumas menos boas) que nos trouxe.

3 – Fartíssimos estavam os oficiais e sargentos milicianos. Oriundos na sua maioria da pequena burguesia nacional (que tinha meios para lhes pagar os estudos), imagine-se o que é que sentiam quando viam o seu nome no edital da senhora câmara ou junta de freguesia a convocá-los para irem batê-las!

Lá estava a indicação da data e local de incorporação, instruções quanto a guias de transporte etc., tudo bem explicadinho. Deixavam para trás um certo dolce far niente próprio da vida académica, o bem-bom da casa paterna ou a alcova da namorada e, os mais afortunados, o carocha ou spitfire, as romagens à Foz ou ao Guincho para assistir ao pôr do sol (e não só …), a frequência de lugares idílicos como Galeto, Portugália, Past. Ceuta e outros de que só ouvi falar quando já era Zé cadete.

Os estudos, na melhor das hipóteses, ficavam adiados, porque a possibilidade de apanhar um balázio e assim terminar precocemente a licenciatura, era bem real.
Note-se que os stocks de pessoal do quadro se encontravam completamente exauridos dado que, das centenas de admissões anuais à Academia Militar, se passou para as poucas dezenas no princípio da década de setenta.

Pelo que, o fardo das operações de combate recaía em grande parte sobre estes militares. Não obstante o esforço que todos fizemos para conservar o pêlo e a pele, o facto é que muitos, "velhas mulas" (mulicianos), fortemente endoutrinados por ideologias de esquerda que floresciam nas escolas como cogumelos, combatiam numa guerra que no fundo não desejavam vencer. Há que reconhecê-lo.

4 – Soldados e cabos, o povo fardado.

De tão fartos que estavam, começaram a dar sinais de congestão! Prova disso, foram as manifestações populares contra "a guerra colonial" ocorridas em Lisboa a 21de Janeiro de 1973.

Vaga após vaga, tinham sido já centenas de milhar os jovens retirados às famílias de que eram o único amparo, alguns casados e com filhos. Imolava-se a economia familiar num país pobre, essencialmente rural, onde uma agricultura atrasada a exigir o labor de muitos braços, se ressentia fortemente.
Partiam para as Áfricas para combater numa guerra que ao fim de 13 anos lhes era completamente alheia, tanto ao coração como à razão.

Se a guerra tem durado mais três ou quatro anos, a Pátria teria assistido à mobilização dos filhos dos veteranos mais antigos.


Não haveria povo que aguentasse por muito mais tempo tal provação, digo eu, em total sintonia com o pensamento de Vasco Gonçalves* quando afirma: "Os militares aperceberam-se que nem eles nem o povo português queriam a continuação da guerra" (O Militante nº 239), mesmo sabendo que "Não há sucesso sem grandes privações", (Sófocles, (496 – 406 aC).

*Força, força companheiro Vasco, nós seremos a muralha de aço…, cantou Carlos Alberto Moniz.


5 - Significa isto que a guerra estava militarmente perdida ou que estaríamos à beira de uma derrota militar, como gostam de apregoar os propagandistas do sistema?

Não, de maneira nenhuma. Eu voto no empate técnico! Reconhecendo contudo, que uma derrota política é sempre muito mais gravosa do que uma derrota militar.

E a derrota política, essa sim, estava em vias de consumar-se, mas aqui em casa, mais precisamente na capital do império, onde um clima de permanente guerrilha conspirativa ao mais alto nível do poder político-militar, as bem orquestradas campanhas de desinformação e contra-informação, a mesquinhês de gente pequena de uma sociedade aburguesada e corporativista, levaram Mário Soares a prever numa prosa que enviou para o "Le Monde" que há "algo de novo em Portugal e que a guerra está em risco de se perder na própria Metrópole".

Ainda que o ouçamos frequentemente defender a tese, derrotista a meu ver, da guerra militarmente perdida. Sobre este tema, conto apresentar no próximo capítulo as minhas alegações finais, se para tal me for dada a oportunidade.

Até lá, cordiais saudações para toda a Tertúlia,

Vitor Junqueira

__________

Notas:

1. adaptação dos textos da responsabilidada de vb.
2. Artigos relacionados em

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)