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domingo, 6 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26014: Humor de caserna (76): O Piteira , alentejano de Bencatel, "voando sobre um ninho de cucos, na prova de "slide" em Lamego (José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra", vol. I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp.43-49)



Lamego > CIOE > Novembro de 1966 >  O futuro "ranger" Piteira, na prova de "slide".

Foto: © José Ferreira da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  O José Ferreira da Silva, ex-fur mil op esp / ranger,  CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69),  é sobejamente conhecido na Tabanca Grande como uma mestre na arte de contar histórias pícaras. E, claro, é um homem afável.

"Histórias Boas da Minha Guerra", em  3 volumes (publicadas sob a chancela da Chiado Editora), são a prova de que os antigos combatentes da Guiné, além de terem de ser bons operacionais, também sabiam escrever,  com piada e talento , sobre muitas das suas peripécias da tropa e da guerra.

O Silva da CART 1689, o nosso mestre do pícaro,  é sempre desconcertante nas histórias "boas" que elegeu da sua vida militar: muitas delas são de antologia, como esta que voltamos aqui a reproduzir, em que o protagonista é "o Piteira, o ranger do Alentejo".  Espero que gostem e comentem. 

Por lapso, o autor chamou "rapel" à prova de "slide". Tomámos a liberdade de corrigir o erro.

 

 Humor de caserna >   O Piteira, "voando sobre um ninho de cucos", na prova de "slide" em Lamego

por José Ferreira

 

O António Piteira, natural de Bencatel, próximo de Borba, era uma força da natureza. Conheci-o em Vendas Novas, durante o Curso de Artilharia. Irrequieto e provocador, vivia sempre em competição, parecendo querer afirmar-se em tudo.

Dizia-se que nas Caldas da Rainha, estando doente, não aceitou o resultado da prova de potência. Foi repeti-la, para baixar mais de 30 segundos.

Como era bom jogador de futebol, foi aproveitado para jogar como ponta de lança no Estrelas de Vendas Novas. Ainda como jogador do Lusitano de Évora, foi treinar ao Sporting e, segundo ele, como não lhe passavam a bola, abandonou o treino chamando-lhes "filhos da p...".

Foi com ele que comecei a gostar do Alentejo e da sua gente. Enquanto no Norte dificilmente nos manifestávamos politicamente, com medo de represálias, ali, com ele e alguns amigos, participei em algumas sessões, marcadamente revolucionárias.

Mais de meio ano depois, em setembro de 1966, encontrámo-nos em Lamego para prestar provas para o curso de "ranger". Curioso que nem ele nem eu desejávamos lá ficar. Por isso, durante as provas de selecção, tudo fizemos para ficarmos em último lugar. Porém, de nada nos valeu essa artimanha e obrigaram-nos a ficar lá. 

Foi logo decidido que seríamos “parelhas”. A organização por parelhas significava que todos os instruendos estavam obrigatoriamente ligados em grupos de dois e que teriam que fazer tudo em conjunto, numa missão de entreajuda total. E, além disso, que qualquer falta cometida por um deles teria que ser “paga” pelos dois, presumindo-se que a “culpa” era de ambos.

Inicialmente, o nosso relacionamento foi muito bom. Todavia, devido às suas aventuras e provocações, passávamos muito do tempo a discutir. Uma das coisas que ele gostava era de exibir as calças da farda de trabalho nº 3,  abertas / descosidas entre as pernas.

Num dia muito frio de finais de novembro, estava anunciada a descida noturna em "slide", desde a torre da Sé para a parada. Pois o amigo Piteira descobriu logo ali mais uma forma de se exibir. Disse-me que deveria ser engraçado descer com o cigarro aceso que, com o movimento da descida, pareceria um cometa. E decidiu que ia fazer isso. 

Claro que, mais uma vez, discutimos, mas ele não me ligou. E, já a subir as escadas para a torre pelo interior da igreja, comecei a afastar-me dele, como forma de protesto. Procurei logo ser dos primeiros a descer, ficando ele a fazer os preparativos da apresentação do tal cometa.

Entretanto, o Comandante chegou, acompanhado, como habitualmente, da sua mulher, ambos garbosamente vestidos de camuflados, cuidadosamente passados a ferro. Ela vinha já preparada, como sempre, para exemplificar como se devia fazer a descida em "slide" a qualquer maricas que acusasse falta de coragem. E o Comandante, sempre de mangas arregaçadas, mostrava a sua valentia, ainda que exibindo pêlos encrespados na evidente “pele de galinha” provocada pelo frio e, por vezes, através da voz entrecortada, devido ao “congelamento” dos maxilares.

Mal vi o Piteira pendurado no cabo do “slide"
, de pernas abertas, calças rotas denunciando o “aparelho recreativo” e o cigarro aceso na boca, larguei a fugir para a mata, escondendo-me na escuridão e jurando que,  desta vez, não iria aparecer para “pagar” juntamente com ele a pena que lhe iria ser aplicada. Ele descia pelo cabo devagar, possivelmente para prolongar o espetáculo. Porém, o Comandante, de megafone na mão, logo exclamou:

– Quem é aquele melro? – E mandou apontar o holofote para cima.

Ohhhh!!! – soaram, em espanto, as vozes da assistência, seguidas de algumas gargalhadas. 

O Comandante perguntou logo de seguida: 

– Onde está a parelha, quem é a parelha?

E foi acrescentando: 

– Desce,  meu melrinho, que já te vamos tratar da saúde.

A sessão de "slide" acabou, e eu silenciosamente, fui-me introduzindo no quartel e meti-me na cama de baixo do beliche (a de cima era dele, porque fumava). Não sei onde ele esteve. O que sei é que, quando todos já dormiam, ele surgiu, apoiando-se aos armários, até chegar junto da cama. Não se aguentava de pé. Aninhou-se e caiu sobre a cama, ao meu lado, sem dizer uma palavra. Fui para a cama de cima.

Sempre que vejo o filme “Voando sobre um ninho de cucos”   (um dos meus preferidos) identifico com o Piteira a personagem irreverente interpretada pelo Jack Nicholson. E quando ele vem para o dormitório, a regressar da sua última dose de tratamento de choque, eu penso: 

 – Lá vem o Piteira, “recosido” pela tareia que levou em Lamego, depois da descida noturna em "slide",

(Seleção, revisão / fixação de texto,  título: LG)

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25953: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar: uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte X: Testemunho 5: "Desaparecido em combate, em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"

 


SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal.

In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.


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Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): 

(i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de desporto e cultura; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 85 referências no nosso blogue.

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1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. A última parte do capítulo é dedicada a testemunhos e depoimentos recolhidos pelo autor (pp. 67/82).


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [Excertos] 


Parte X:  Testemunho 5: "Desaparecido em combate,  em Moçambique, em 15/11/1972: fur mil op esp / ranger João Manuel de Castro Guimarães"  (pp. 78/79)



Testemunho 5 : 

Há algum militar fafense desaparecido em combate?


O furriel miliciano ranger João Manuel de Castro Guimarães desapareceu em combate no Norte de Moçambique durante a Guerra Colonial. O seu desaparecimento ocorreu durante uma operação realizada junto da povoação de Kytaia, aldeia situada no sul da Tanzânia, nas margens do rio Rovuma, e cujo corpo nunca mais foi resgatado.

Tenho em meu poder cópia de um documento que me foi cedido pela Direção do Centro de Trabalhos de Fafe da Associação de Operações Especiais – “Ranger” em 12.03.2012 e que descreve as circunstâncias do desaparecimento do furriel Guimarães.

O texto é da autoria de Carlos Vardasca, ex-soldado condutor nº mec. 15263570,  da CCAÇ 3309, estacionada no aquartelamento de Nangade. 

Vardasca afirma que só foi possível elaborar o documento com o depoimento de Filipe Manuel Cardão Pinto, ex-furriel mil da  CCAÇ 3309 e comandante dos GES 212, estacionados no aquartelamento de Nhica do Rovuma, em Cabo Delgado.

Relata que a operação denominada “Baga 6” teve como objetivo vigiar junto da fronteira da Tanzânia, a cerca de nove quilómetros do aquartelamento, as movimentações da população moçambicana que trabalhava em machambas (terrenos de cultivo) comunais junto da povoação tanzaniana de Kytaia, nas margens do rio Rovuma, e cujos produtos alimentares serviam para guarnecer os guerrilheiros da FRELIMO que, com bastante regularidade, ali se abasteciam para reentrarem em Moçambique e efetuarem as suas operações contra o exército português.

A operação decorreu entre os dias 14 a 16 de novembro de 1972, sendo enviado um pequeno grupo comandado pelo furriel Guimarães, recentemente chegado da Metrópole (designação dada a Portugal no período colonial).

Na tarde de 14 de novembro, o grupo atingiu o local previsto junto ao rio Rovuma e, dado o adiantado da hora, decidiu emboscar ali para observar as movimentações do outro lado da fronteira. 

Na manhã de 15, iniciaram-se as observações, ainda o cacimbo (nevoeiro) flutuava por cima do capim e o rio em maré baixa deixava emergir do seu leito vastos bancos de areia, permitindo alguns deles o acesso fácil ao outro lado da fronteira.

Talvez por inexperiência e desconhecimento da realidade ou por simples espírito de aventura, continua Verdasca, o furriel Guimarães, apesar de ser advertido pelos seus soldados africanos dos perigos em que ia incorrer, decidiu percorrer um dos bancos de areia que se estendia até à outra margem, tendo mesmo pisado território tanzaniano.

Inesperadamente e perante a angústia dos companheiros, ouvem-se dois tiros de arma de precisão e o corpo do Guimarães tombou de imediato, ficando inerte. 

Alguns dos elementos do grupo iniciam os preparativos para resgatar o corpo, mas, advertidos pelos mais experientes de que seriam, certamente, alvos, também da emboscada do atirador que os esperava, decidem não avançar e comunicar com o destacamento de Nhica do Rovuma que, consciente da gravidade da situação, decide enviar para o local um novo Grupo de Combate comandado pelo furriel Pinto para coordenar as ações no terreno. 

Foi decidido, relata o Verdasca, pedir apoio aéreo para proteger e apoiar o grupo de resgate do corpo do Guimarães. O comando do destacamento de Mueda negou esse apoio, sob o pretexto de se poder vir a abrir um conflito internacional com um país vizinho.

O corpo permaneceu no local e, no dia seguinte, 16 de novembro (de 1972), o soldado que estava de sentinela,  alertou os restantes, informando que o corpo do furriel já não se encontrava no local.

A convicção de todos é que o corpo do Guimarães teria sido levado pelos tanzanianos, facto corroborado por um dos GEs da aldeia de Nhica do Rovuma que disse ter ouvido no seu rádio um comunicado difundido por uma rádio tanzaniana em dialeto Swahili,  segundo o qual "as nossas forças fronteiriças abateram e capturaram um mercenário branco, de farda negra e armado de G3, que tentava penetrar no nosso espaço territorial".

Conclui que, com aquela informação oficial, o corpo do furriel Guimarães tinha sido retirado do local por quem o abateu, sendo mais tarde sepultado em território tanzaniano, local que ainda hoje se desconhece, mas provavelmente nas imediações da aldeia mais próxima do local, ou seja, na aldeia tanzaniana de Kytaia.

Insurge-se 
ainda pelo facto de o seu nome não constar na lista inscrita no Monumento Nacional aos Mortos da Guerra Colonial, erigido em Belém e insiste no dever de Portugal em recuperar ainda os seus mortos sepultados e dispersos por vários locais do continente africano. (**)

sábado, 17 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25852: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte V: mortos em Moçambique

 




Concelho de Fafe - Lista dos mortos durante a guerra colonial, no TO de Moçambique  no período de 1962 a 1975 

Capa do livro
Fonte: SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal- In: Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 62-63,

1. Estamos a reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor), excertos do extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva, sobre os 41 mortos do concelho de Fafe, na guerra do ultramar / guerra colonial. Nesta parte são os respeitantes ao TO de Moçambique (pp. 62-67).





Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal [ Excertos ] - Parte V (pp. 62-67)




Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. 1946): (i) foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii) tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii) viveu em Angola até 1974; (iv) licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v) professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de cultura e desporto; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte; (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem cerca de 90 referências no nosso blogue.


C. MOÇAMBIQUE


QUADRO 3 – Lista dos mortos de Fafe em Moçambique


(...) Ao analisarmos o quadro referência com a identificação dos nomes dos militares de Fafe mortos, verificamos que:

  • Em Moçambique morreram catorze fafenses;
  • Podemos verificar, também, que quatro militares morreram já depois da Revolução de 25 de Abril de 1974: Manuel Martins Carneiro, de Fareja, em 2.7.1974, Agostinho Soares Carvalho, de Arões S. Romão, em 2.7.1974, Francisco Jorge Gonçalves Carvalho, de Moreira do Rei, e o Alferes Norberto Salgado, de Arões S. Romão, em 22.2.1975.
  • As causas da morte foram: (i) 9 em combate; (ii) 2 por acidente;  (iii) 1 por doença; e (iv) 2 por causa desconmhecida;
  • Acidentes: um com arma de fogo; outro, outro por outros motivos;
  • Combate: inclui um caso de ferimento mortal por mina  antipessoal;  
  • Causa desconhecida,  inclui um desaparecido em combate (fur mil op esp / ranger, João Manuel de Castro Guimarães).

Quanto ao posto e especialidade: 

  • um oficial, alferes miliciano com a especialidade de intendência;
  • um furriel miliciano;
  • três cabos, tendo dois a especialidade de atirador e um outro sem especificação, mas pertencente a uma companhia de artilharia;
  • e oito soldados: destes, três sem anotação da especialidade, um é soldado comando, um sapador, um spontador de morteiro, um atirador e um condutor auto rodas.

Podemos verificar que ficaram sepultados dois militares em Moçambique: um, no cemitério de Lourenço Marques, o Manuel Moreira Fernandes, de Travassós (28.3.1962); e outro, o Avelino Ribeiro Cunha, de Fafe, em Nampula (cemitério de S. João de Brito, em 23.6.1966).

A primeira morte de um militar de Fafe em Moçambique ocorreu, ainda, antes de rebentar oficialmente a guerra em Moçambique. Foi em 28 de março de 1962 que o 1.º cabo Manuel Moreira Fernandes Cunha, nascido em 26 de março de 1939, na freguesia de Travassós e recenseado pela freguesia de Santos o Velho, 2.º Bairro de Lisboa, com o número mecanográfico NIM 60-A-2946:  morreu por motivo de acidente (queda acidental em buraco em 26 de março de 1962, segundo informação por email do Arquivo Geral do Exército, de 24 de outubro de 2013). Ficou sepultado em Moçambique (cemitério de Lourenço Marques), de acordo com a informação do irmão.

O último jovem a morrer em Moçambique foi o Agostinho Soares Carvalho, natural de Arões S. Romão, filho de José Oliveira Carvalho e Rosa Soares. Foi soldado comando da Companhia n.º 2045, morto por ferimentos em combate perto de Vila Paiva de Andrade, a caminho da Gorongosa. Faleceu já após o 25 de Abril, em 9 de julho de 1974. Está sepultado no cemitério de Santa Cristina de Arões.

Antes de embarcarem para o Ultramar já eram casados quatro destes fafenses:

  • O soldado Sapador Albino Freitas Novais, de Estorãos, casado com Maria das Dores Castro, pertenceu à CCS do Batalhão n.º 288, vindo a morrer em 3.11.69 em consequência de ferimentos em combate ocorrido no Norte, no subsetor de Macomia, e está sepultado no cemitério de Fafe. 
  • O soldado António Joaquim Machado, de Regadas, casado com Emília da Glória Cura Grade, pertenceu à CCAÇ n.º 1618, faleceu a 14.6.67, em consequência de ferimentos em combate ocorrido no Norte, na Missão do Imbuo, e está sepultado no cemitério de Sôsa – Vagos. 
  • O soldado atirador Manuel Martins Carneiro, de Fareja, casado com Maria da Conceição Fernandes, pertenceu à 1.ª CCAÇ do BCAÇ n.º 5016 aquartelado em Honde, faleceu a 2.7.1974, em consequência de ferimentos em combate e está sepultado no cemitério de Atães – Guimarães. 
  • E o 1.º cabo Luís Mário Carvalho Cunha, de Antime, faleceu em consequência de ferimentos provocados por rebentamento de mina.
De todos os militares de Fafe casados antes de embarcarem para Moçambique, tive a oportunidade de consultar o processo de Luís Mário Carvalho Cunha por deferência do seu filho, que agradeço.

  • O Luís Mário Carvalho Cunha nasceu a 18 de setembro de 1944 na freguesia de Fafe, filho de José da Cunha e Maria da Carvalho, exercia a profissão de tecelão, casou em 18 de abril de 1964 com Palmira Gonçalves e, antes de ser mobilizado, tinha dois filhos, um rapaz de dois anos e uma rapariga de um. 

Foi alistado em 19 de julho de 1965 e incorporado em 25 de janeiro de 1966 no RI 8, fez o juramento de Bandeira em 30 de abril e terminou a recruta a 28 de maio de 1966, sendo transferido par o RAP2 onde, a 25 de maio, concluiu a especialidade de atirador de artilharia, seguindo para Viana do Castelo para o RC 9, para fazer parte da CART 1595 /BART 1893, sendo promovido 1.º cabo em 28 maio 1966 com a especialidade de atirador.

Nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea e) do art.º 3.º do dec. 42937 de 22.4.1960, embarcou em Lisboa a 7 de setembro e desembarcou em Moçambique em 28 do mesmo mês, sendo a sua companhia colocada em Révia Muoco.

Do relatório de operações datado de 6 de novembro de 1967 e realizado pelo alferes do 3.º Gr Comb da CART 1595 e encarregado da missão consta:

1. Resumo:

06 novembro de 1967 –Quando na execução do Quadro de movimento n.º 06/67 de 20 de outubro / 67 do BART 1893, se efetuava a escolta do Muoco das viaturas utilizadas no transporte da CCAÇ 1797, tendo sido detetada uma mina Acarr (anticarro) colocada pelo IN na respetiva picada a cerca de 2 km do aquartelamento da CART, recebi ordem para ali me deslocar acompanhado de um furriel da mesma. 

Quando decorriam os preparativos para o levantamento da referida mina, foi acionada fora da picada, e a cerca de 2 metros daquela, uma mina Apess (anti pessoal), resultando daí terem ficado feridos as praças: 1.º cabo n.º 01464366, Luís Mário Carvalho Cunha, 1.º cabo n.º 00816366, Luiz Martins Gonçalves, 1.º cabo 05861366, Alberto da Cunha Ribeiro e o soldado n.º 03221466, António Ribeiro Gonçalves, desta companhia, vindo o primeiro a falecer em consequência dos ferimentos recebidos.

3.Comentários

O IN colocara a mina Apess para que, após o rebentamento da mina Acarr, que seria provocada na passagem da viatura, fosse aquela acionada pelo pessoal ao saltar da viatura antes de tomar as devidas posições (de segurança e contra ataque) no terreno.

O Oficial encarregado da missão

Laurénio Monteiro Ferreira da Silva - Alf Mil Art


  • O oficial morto em Moçambique foi o Alferes Miliciano Norberto Luís Seara Salgado, nascido em 8.2.1951 na freguesia de Arões S. Romão, filho de Armando Salgado e Rosa de Jesus Salgado. 

Foi incorporado em 23 de janeiro de 1973 na EPI (Escola Prática de Infantaria em Mafra) e jurou Bandeira em 12 de fevereiro, sendo transferido para a EPAM (Escola Prática de Administração Militar) em Lisboa, onde terminou o 2.º  ciclo do COM (Curso de Oficiais Milicianos) a 7 de julho, sendo promovido ao posto de asp alf  mil e colocado na EPAM. 

A 10 de janeiro de 1974 é nomeado para prestar serviço no Ultramar, em Moçambique, vindo a falecer em 22 de fevereiro. 

De acordo com os registos enviados pelo Arquivo Geral do Exército, as causas da morte foram por: Acidente por outros motivos (final do relatório).

(Continua)


(A seguir, em próximo poste: 8. Testemunhos de ex-combatentes de Fafe participantes na Guerra)

(Seleção, revisáo / fixação de texto, negritos: LG)

_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25821: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte IB: mortos na Guiné

segunda-feira, 18 de março de 2024

Guiné 61/74 – P25283: Efemérides (431): 51º Aniversário de instruendos que passaram pelo CIOE, em Penude, Lamego (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


13º Convívio de camaradas do 1º Curso/Turno de 1973, de Penudo/Lamego

Um tempo, sem tempo, que ainda ousa reunir camaradas de armas e seus familiares

Não obstante os agrestes e eventuais contratempos que porventura nos surgem pelo caminho, existe, porém, a certeza que quando o “comandante” Alberto Grácio toca o reunir as tropas, 1º Curso/Turno de 1973 de Operações Especiais/Ranger em Penude/Lamego, nós antigos militares e combatentes da antiga guerra colonial que se espalhou por Angola, Moçambique e Guiné, respondemos, com prontidão e, num tom fortemente unissonante, respondemos: SIM, presente!

Desta feita, o evento, o 13º, teve lugar em Palmela e por lá apareceram muitos camaradas, sendo que alguns deles se fizeram acompanhar por familiares. Foi, no fundo, trazer às nossas reminiscências o que fora a dureza de uma especialidade que nos acompanhou ao longo das nossas vivências militares, assim como o palco de guerra por onde andámos.

Ali falou-se de tudo um pouco. Dos bons e dos maus momentos pelos quais passámos. Éramos jovens e essa postura militar, sendo então obrigatória, foi-nos mais enriquecida pela passagem pelos Rangers, que nos deu novas “armas” para enfrentarmos as mais díspares situações que nos surgiram pela frente nos campos onde as batalhas naturalmente proliferavam.

Mas o mundo no qual hoje vivemos, a guerra, aquela em que os vossos avós e pais foram obrigados em participar, são agora guardados em baús onde essas memórias foram paulatinamente corroídas com o evoluir das épocas passadas, ainda que elas não sejam assim tão distantes no tempo. Todavia, existe uma nuvem negra que tenta escamotear a realidade pela qual infalivelmente passámos.

Atualmente o pouco que resta a este povo português, que parece esquecido do recente conflito armado em terras de além-mar, sejam relatos escritos em livros que avivam as memórias dos ainda interessados numa valorização dos seus conhecimentos pessoais.

Catarina Gomes, jornalista/escritora, trouxe a público um livro chamado “Pai, tiveste medo? Uma obra que cita, precisamente o camarada Gomes, já falecido, pertencente ao nosso Curso, 1º de 1973, que prestou serviço militar em Angola, como alferes. Paz à tua alma, camarada. Ah, houve um momento em que se fez silêncio pela tua inesperada partida. Ficou o simplório gesto dos companheiros com os quais partilhaste as dificuldades, físicas e mentais, no sopé da Serra das Meadas. Nós, os teus camaradas, já septuagenários, que, por ora, continuam a fazer peso à terra, prosseguirão essa divina missão em rever os presentes e, singelamente, recordar os ausentes, isto é, aqueles que um dia partiram para o infalível caminho rumo a outros nimbos, mas com outras dimensões, sendo estas deveras cruéis.

Amigos de sempre e para sempre, lembremo-nos que as vidas, sendo demasiado curtas, serão, contudo, elevadas com celebridade enquanto as nossas vozes solfejem o condão de estarmos vivos. Para trás ficaram memórias, de todo inesquecíveis, numa guerra que nos foram demasiado cruéis, quer em Angola, Moçambique ou Guiné, onde muitos destes camaradas presentes no evento por lá militaram.

Que venha o próximo Convívio, este a Norte!



Eu, Zé Saúde, com o meu companheiro por terras de Gabu, Guiné, Rui Álvares, onde comandamos, em simultâneo, o mesmo grupo de intervenção



Alberto Grácio, o “Comandante” em pleno campo de “batalha” e a preparar as “armas” para um “assalto à mão” a uma mesa recheada de “rações de combate”. Grácio, um antigo combatente na Guiné







Catarina Gomes, jornalista/escritora, esteve presente e deu a conhecer um dos seus livros:

Pai, tiveste medo?

Os convivas



Uma outra parte da sala



Catarina Gomes a partir o bolo do nosso 13º Convívio 

Abraços camaradas e um até breve.
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
___________

Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:

26 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25214: Efemérides (430): O "making of" do livro de Spínola, "Portugal e o Futuro", publicado há 50 anos (revelações do biógrafo, Luís Nuno Rodrigues)

 

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25169: In Memoriam (495): Major Inf ref Humberto Trigo de Bordalo Xavier, ex-cap op esp QEO, CART 3359 (Jumbembém, 1971), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1972) e CCAÇ 14 (Cuntima, 1973); era natural de Lamego (1935-2024) (Joaquim Mexia Alves)

 


Major inf Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego (1935-2024). Foto: cortesia de Joaquim Mexia Alves e da Associação de Operações Especiais (AOE), com sede em Lamego


1. Morreu ontem, aos 88 anos (nasceu em 3/5/1935),  o ex-cap inf op esp QEO Humberto Trigo de  Bordalo Xavier, o 3º comandante, por ordem cronológica da CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74). (*)

A triste notícia foi nos dada pelo António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAÇ 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974)].

Foi ele que nos reencaminhou para a página do Facebook do Joaquim Mexia Alves, cujo texto se reproduz com a devida vénia:


MAJOR HUMBERTO BORDALO XAVIER

Sou hoje confrontado com o falecimento do “meu capitão” Bordalo, que nunca chegou a ser “meu capitão”, mas era e foi sempre o meu capitão Bordalo.

Quando fui enviado a comandar tropas guineenses, muito especialmente o Pelotão de Caçadores Nativos 52, conheci em Bambadinca o então cap Bordalo, que era o comandante da Companhia de Caçadores 12, constituída também por militares guineenses, enquadrados por oficiais e sargentos da então metrópole.

Ambos tínhamos o curso de Operações Especiais (ele bem antes de mim), hoje conhecidos como Rangers.

A amizade entre os dois foi imediata e a nossa maneira de ser e de pensar tornou-nos extremamente unidos.

O capitão Bordalo era um homem simples, sem alardes (como são sempre os grandes homens), e um combatente extraordinário, que galvanizava as suas tropas por ser sempre o primeiro a liderar, mas também o primeiro a defender aqueles que estavam debaixo das suas ordens e, isso mesmo, incutiu em mim, o que nos trouxe alguns “amargos de boca” com alguns superiores nossos.

Nunca servi directamente sob as suas ordens, mas fizemos algumas operações militares conjuntas da sua CCaç.12 com o meu Pel Caç Nat 52.

Numa altura em que as condições de vida a que eu com outros estávamos sujeitos, o cap Bordalo foi o garante da minha “sanidade mental”, com o seu apoio sempre próximo, franco e amigo.

Retenho na memória, há uns anos em Monte Real, quando eu estava ao fim da tarde a jogar ténis no campo frente ao Hotel das Termas e vejo parar um carro e dele sair uma pessoa que me pareceu o cap Bordalo.

Achei que não podia ser, mas roído pela curiosidade pedi desculpa ao meu parceiro e fui perguntar ao porteiro do Hotel quem era a pessoa que tinha chegado. 

A resposta deu como certa a minha suposição. Não o via desde a Guiné.

Imediatamente pedi ao porteiro que ligasse para o quarto e pedisse ao capitão para vir à recepção por um motivo qualquer. 

Quando nos vimos, demos num abraço em que literalmente lhe peguei ao colo (o cap Bordalo Xavier era bem mais baixo do que eu), e ficámos ali não sei quanto tempo abraçados, com as lágrimas nos olhos.

O hall do Hotel estava cheio de gente, que ficou muito espantada por me ver assim abraçado a um homem de barbas.

Passados uns tempos, recebi uma convocatória para um encontro de Rangers em Lamego e decidi meter-me no carro e fazer a viagem.

Quem estava a receber os camaradas de armas era, como não podia deixar de ser, o então major Bordalo.

Mais um abraço daqueles que faz tremer o chão, e a “obrigação” de imediatamente me fazer sócio da AOE – Associação de Operações Especiais que, com um padrinho como ele, não podia de forma nenhuma recusar.

Seguiram-se anos de vários encontros em Lamego, até que a vida com as suas voltas, não me permitiu, ou eu não me disponibilizei para isso, e deixámos de nos encontrar.

Repetidamente me prometi a mim mesmo que iria a Lamego dar-lhe um abraço novamente e repetidamente o comodismo me “impediu” de o fazer, o que hoje, neste dia, me dói verdadeiramente no coração e na vida.

Podia ficar horas a escrever, a falar sobre o cap Bordalo, de como ele era um homem de coração grande, como era um verdadeiro comandante que comandava pelo exemplo, como era um amigo sempre pronto a me apoiar, mas também a fazer ver os erros que eu ia cometendo, como me safou de levar uma punição pela minha forma de reagir a ordens sem sentido, enfim, de como me fez mais homem, mais militar, mais oficial, mais amigo.

Ontem escrevia sobre as lágrimas. Hoje as lágrimas são minhas, e sim, um homem chora e eu choro a saudade de um homem bom que tornou a minha vida melhor.

À sua família o meu sentido abraço.

A ti (agora trato-te por tu), meu capitão Bordalo, até já, quando nos encontramos no cantinho do céu que recolhe os Rangers no seu eterno descanso

Marinha Grande, 13 de Fevereiro de 2024

Joaquim Mexia Alves 

Publicado em: https://queeaverdade.blogspot.com/ 

e na página do Facebook do Joaquim Mexia Alves (14 de fevereiro de 2024, 15:08)

(Seleção / revisão e fixação de texto / itálicos: LG)

Nota de LG: O ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves esteve na Guiné, entre dezembro de 1971 e e dezembro de 1973, tendo pertencido à CART 3492 (Xitole), ao Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e à CCAÇ 15 (Mansoa). Nunca esteve sedeado em Bambadinca, mas sim no Rio Udunduma e no Mato Cão, destacamentos do Sector L1 (Bambadinca). Ia de vez em quando à sede do Batalhão (BART 3873, 1972/74), a que estava adida a CCAÇ 12, do Cap QEO Xavier Bordalo.

2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António Duarte,  por mais uma vez estares a atento às notícias (boas e más) que interessam à Tabanca Grande e nos teres  feito chegar a "carta a Garcia". E obrigado ao Joaquim Mexia Alves por este comevedora e belíssima homagem a um camarada e amigo que acaba de deixar a Terra da Alegria.

O Bordalo Xavier tem 10 referências no nosso blogue. Nunca o conheci pessoalmente, com pena  minha: sou da primeira "fornada" da CCAÇ 12, então comandada pelo cap inf Carlos Alberto Machado de Brito, maio 69/mar 1971, mas sempre ouvi falar dele, como um grande comandante operacional; os camaradas  das "três gerações da CCAÇ 12", com quem tenho falado, sempre me transmitaram as melhores referêncas sobre ele, como militar e como homem.

Pertenceu à direção da Assoiação de Operações Especiais, com sede em Lamego. E tambéme esteve ligado aos corpos sociais dos Bombeiros Voluntários de Lamego.

Sabemos que o Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier, natural de Lamego, começou por ser, no CTIG,  o comandante da CArt 3359 (Jumbembém, 1971/73), do BART 3844, "Bravos e Sempre Leais" (Farim, 1971/73. Foi depois substituído pelo Cap Mil Inf Francisco Luís Olay da Silva Dias.

Foi igualmente, neste período, o 3º comandante, por ordem cronológica, da CCAÇ 12 (1969/1974), mas em data que não podemos precisar (1971/72, ou 1972/73), subunidade da guarnição normal do CTIG que teve os seguintes comandantes, por ordem cronológica:

Cap Inf Carlos Alberto Machado de Brito (maio 69/março 1971);
Cap Inf Celestino Ferreira da Costa;
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier;
Cap Mil Inf José António de Campos Simão;
Cap Mil Inf Celestino Marques de Jesus.

A CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime) foi extinta em 18/8/1974.

Mas também comandou a CCAÇ 14 (que esteve em Cuntima, 1969/74, foi extinta em 2/9/1974):

Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Inf José Clementino Pais
Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
Cap Art Vítor Manuel Barata

Fonte: CECA, 7.° Volume, Fichas das Unidades, Tomo II
Guiné, 1ª edição, Lisboa, 2002.

Recordaremos aqui, em próximo postel as referências elogiosas que lhe foram feitos em vida por camaradas  que o conheceram de mais perto (Victor Alves, António José Pereira da Costa, Joaquim Mexia Alves...). Para já deixamos aqui a expressão da nossa tristeza e os votos de condolências à família natural e à família "ranger".

___________

Nota do editor:

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24456: In Memoriam (481): Licínio Monteiro Cabral (Lamego, 1948 - Porto, 2022), ex-fur mil op esp, MA, CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72)


Licínio Monteiro Cabral (Lamego, 1948 - Porto, 2022)

Foto de cronologia da sua página do  Facebook (Com a devida vénia...)

1. Por informação de um amigo nosso, o dr. Joaquim Pinho, médico do trabalho, com data de 5 de agosto de 2022,  soubemos que tinha falecido, no Porto, em 31 de janeiro  desse ano, de doença de evolução prolongada, o ex-fur mil op esp e de Minas e Armadilhas, Licinio Monteir0 Cabral, CCAÇ 2792 (Catió e Cabedú, 1970/72).

Na altura, não demos a devida atenção ao nome deste nosso camarada que, afinal, tinha página no Facebook:

(i) era natural de Lamego;

(ii) andou no Grande Colégio Universal, no Porto (turma de 1969);

(iii) vivia no Porto;

(iv) era casado;

(v) estava reformado da empresa Altice.

Infelizmente não partilhou nenhuma foto do tempo da Guiné.

2. Havia uma referência a este nosso camarada,  no poste P11057 (**), com uma mensagem sua que voltamos a reproduzir:

Data: 4 de Fevereiro de 2013

Assunto: CCaç 2792 - Catió e Cabedu - 190/72

Caro Dr. Luís Graça:

Soube do Blogue através de um amigo de Coimbra [provavelmente o dr.  Joaquim Pinho, médico do trabalho].

Estive em Catió e Cabedu – Fur Mil Cabral, integrado na CCaç 2792, com a especialidade de "Operações Especiais" e "Minas e Armadilhas" 
[nº mecanográfico 02465269].

Acho que a Guiné, na minha memória, já a tinha arrumado num cantinho, não fosse saber da morte no ano passado do meu Comandante de Companhia, o Cap Augusto José Monteiro Valente, homem que eu admirava.

Vou enviar algumas coisas da Tabanca. Vou ao baú das (más?) memórias.

Agradeço o acolhimento no Blogue. Cumprimentos, Licínio Cabral.


3. Infelizmente, o Licínio Cabral nunca nos chegou a mandar  nem textos nem fotos com as suas (boas e más) memórias... nem muito menos  a responder ao nosso convite para integrar a Tabanca Grande. 

Por isso, a CCAÇ 2792 continua sem nenhuma representação no nosso blogue, o que é triste.  Dos militares desta companhia com o curso de operações especiais, havia, além do fur mil Licínio Monteiro Cabral, o cap inf Monteiro Valente, o alf mil J0rge Manuel A. O. de Quinta, e o fur mil  Manuel Resende da Rocha.

Com o atraso de ano e meio, enviamos à sua família e aos seus amigos mais íntimos os nossos pêsames pela sua perda. E fazemos questão de  honrar aqui a sua memória: é nosso dever não deixar os camaradas da Guiné na "vala comum do esquecimento" (***).

(...) Camarada Licínio Cabral:

Dispensemos o tratamento cerimonial. Estivemos os dois na Guiné, em 1969/71, eu, e tu em 1970/72... Isso basta para criar uma corrente subterrânea de cumplicidade, camaradagem, empatia, entre nós dois, entre tu e demais camaradas que integram a nossa Tabanca Grande (nome também dado ao nosso blogue, e à comunidade virtual que se reúne à sua volta)...

Más memórias, camarada? Quem as não tem, ou não teve? Estamos aqui justamente para "exorcizá-las" e fazer as nossas velhas contas com o passado, os nossos verdes anos, passados na guerra e na Guiné... 

E as boas? Também as houve, certamente... 

Umas e outras, as más e as boas,  podem e devem ser partilhadas... Fazemos "blogoterapia", partilhamos memórias, sentimentos, emoções, afetos, crenças, ilusões, preconceitos, estereótipos, utopias, valores, interesses...

Partilhar, porquê e com quem? 

Por muitas razões, até por "dever de memória", por obrigação (moral) para com os nossos filhos e netos... E, talvez mais importante ainda, por uma questão de dignidade, por nós, por todos nós, combatentes de um lado e doutro, que fizemos aquela guerra estúpida e inútil (como todas as guerras)... e no final fomos todos "perdedores"...

Manda duas fotos tuas, digitalizadas, que eu terei muito gosto em apresentar-te aos mais de 600 grã-tabanqueiros 
[à data, 5/2/2013], que se sentam à volta do poilão, mágico, fraterno, protetor, da Tabanca Grande. 

Se quiseres e puderes, manda também mais fotos do teu álbum, sobre Catió, Cabedú e outros lugares (quentes) que estão na nossa memória... De preferência, com legendas... Os créditos fotográficos serão sempre teus. (...)

(...) Se aceitares entrar para esta "grande família" (a jóia são apenas 2 fotos + 1 história), passas a ser o primeiro representante da CCAÇ 2792... É verdade, não temos ninguém... Fala-nos ainda do capitão Monteiro Valente, cuja memória queremos também recordar e honrar. (...)

4. De acordo com a história da CCAÇ 2972, o fur mil at inf (sic), nº mec. 02463269, Licínio Monteiro  Cabral foi louvado pelo Comandante Militar, a par  do fur mil op esp (sic), nº mec. 19311770, Manuel Resende da Rocha.

Por outro lado, havia apenas dois fur mil de minas e armadilhas, na lista com a composição do pessoal: o Aurélio da Conceição R. Fialho (nº mec. 09744169) e  o  António Augusto N. da Cunha (nº mec.11707069). Pode tratar-se de um lapso... Infelizmente, o Licínio Cabral já não está cá, na Terra da Alegria, para esclarecer esta dúvida...

(Revisão e fixação de texto / negritos , itálicos e parênteses retos: LG)

(***) Último pposte da série > 23 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24426: In Memoriam (480): Carlos Nuno Carronda Rodrigues (1948-2023), ex-alf mil, CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72), cor inf ref... Passa a integrar a título póstumo a Tabanca Grande, sob o n.º 876

terça-feira, 21 de março de 2023

Guiné 61/74 – P24158: Efemérides (383): 50.º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego (José Saúde)


Entrega dos livros de José Saúde e de José Casimiro Carvalho onde relatam as nossas presenças na Guiné, ao Comandante do CTOE, Coronel Sousa Rodrigues


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

50º Aniversário de instruendos e cadetes que passaram por Penude, Lamego


      Num recanto, já anichado em “poeira”, guardam-se memórias de um serviço militar obrigatório que nos levou a conhecer a guerra colonial e as suas óbvias consequências.

Gratidão a Lamego


Camaradas,

Fomos instruendos do 1.º Curso de Operações Especiais (Ranger) do ano de 1973 em Penude, Lamego. No contexto de infindáveis memórias, bem como numa combinação de prazeres conjunturais onde a saudade inevitavelmente prolifera, estivemos no passado dia 18 de março de 2023, sábado, em Lamego para recordar, e sobretudo comemorar, os 50 anos do período em que por lá andámos.

Registe-se que este grupo de camaradas, alguns acompanhados pelos seus familiares, se reúne, anualmente, uma ou duas vezes em vários locais deste soberano solo português. A razão fundamental destes encontros, onde comandante Alberto Grácio, um alferes miliciano que conheceu a guerra da Guiné, junta as tropas, afina o clarinete e toca a reunir os camaradas, sendo o emaranhado das conversas processadas ao redor de uma mesa sempre infindáveis.

Presentemente, todos já septuagenários e naturalmente aposentados, desfrutamos do prazer de uma velha camaradagem, de uma amizade que perdura e de um laço eficaz de união que nos fez mais fortes numa especialidade na qual um camarada que, por motivos vários, não acompanhava o andamento dos outros, jamais ficaria para trás, prevalecendo no íntimo de cada um de nós, então instruendos, o sentimento de solidariedade entre jovens que diariamente se deparavam com as mais díspares adversidades militares.

Deste grupo, que por força de uma razão maior ainda se vão juntando, subsistem camaradas que pisaram os três palcos da guerra colonial – Angola, Moçambique e Guiné -, sendo o meu caso, tal como muitos dos outros camaradas, o solo guineense.


Formatura no pátio do CTOE

O CTOE recebeu antigos militares rangers com pompa e circunstância

A escrita é, na sua sucinta forma de expor acontecimentos em público, uma matéria fundamentalmente essencial, onde as panóplias de emoções vagueiam com uma gigantesca atividade humana por interioridades de vidas em que as sinuosidades dos tempos, assim como a sua multiplicidade das ocorrências, deixa antever que recordar é viver. E foi precisamente nessa multiplicidade de factos que eu, tal como muitos dos camaradas do meu curso, partimos um dia de Lamego rumo ao conflito da Guiné.

Lá longe, em África, ou seja, na Guiné, o meu destino reservou-me uma estadia em Nova Lamego, região de Gabu, onde conheci, tal como todos os camaradas, os efeitos cruéis de uma guerra que não dava tréguas às nossas tropas.

É um facto, creio que real, que todos transportamos nos nossos já usados “cabedais” confecionadas ocorrências que fizeram de nós os homens que hoje somos. É certo que alguns dos nossos camaradas já ficaram pelo caminho, partindo para a tal viagem sem regresso, ficando aqui expresso o nosso sincero e sentido pesar: Paz às suas almas!

Lamego recebeu-nos com pompa e circunstância. Eureka! Terá sido o “grito” comum de toda a rapaziada aquando o nosso reencontro pelas terras lamecenses, onde a escadaria do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios nos trouxe à memória as loucas correrias, quer escadas abaixo, quer escadas acima. Para história da cidade, e obviamente para os rangers, ficará sinalizado que aquela majestosa obra se apresenta como um dos ex-libris de uma urbe na qual expelimos muito suor e lágrimas.

A cidade de Lamego é antiquíssima e foi reconquistada aos mouros em 1057 por Fernando Magno de Leão. Narra a história do Condado portugalense que terá sido em Lamego que decorreram as lendárias Cortes de Lamego, Cortes estas que terão proporcionado a aclamação de D. Afonso Henriques como Rei de Portugal e ali se estabelecerem as "Regras de Sucessão ao Trono".

A sua gastronomia é vasta, destacando-se desse élan gastronómico os seus presuntos e o cabrito assado com arroz de forno, de entre outros manjares sobejamente apreciados, a que se junta a produção de vinhos, nomeadamente vinho do Porto, mas, sobretudo, os vinhos espumantes.

Com a afabilidade do Comandante do Centro de Operações Especiais (CTOE), Coronel de Infantaria Jorge Manuel de Sousa Rodrigues,que se disponibilizou para nos receber com a devida honra, sucedendo-se uma visita às instalações da Unidade, onde o Comandante foi exímio em explicar a evolução de uma Unidade marcadamente exemplar, fazendo-o de forma simplesmente distinta e, sobretudo, acessível, e eis-nos a percorrer alguns dos recantos de um quartel, agora remodelado, que nos recebeu há 50 anos atrás.

Por outro lado, o Chefe da Secção de Operações, Informações e Segurança do Centro de Tropas de Operações Especiais, Tenente Coronel de Infantaria Carlos Cordeiro, terá engendrado o programa abaixo exposto com o qual os rangers do 1º Curso de 1973 foram contemplados:

10h00 – Chegada ao Quartel de Stª Cruz
10h30 – Receção e cumprimentos de boas vindas (Cmdt do CTOE)
Apresentação de cumprimentos pela comissão organizadora
10h40 – Início da cerimónia:
Cerimónia de Homenagem aos Mortos (CHM)
Leitura dos Mandamentos Ranger
Descerramento da placa comemorativa
Visita ao espaço visitável do CTOE
Visita à Igreja de Stª Cruz
11h30 – Visita ao Aquartelamento de Penude
Exposição de material
Foto de grupo junto ao monumento “Ranger”
12h30 – Fim da visita.


Homenagem aos mortos da Unidade na guerra Colonial

Houve, depois, uma visita ao Aquartelamento de Penude, onde todos revivemos os tempos que por lá andámos a desbravar o que, para nós, era desconhecido.

Seguiu-se um almoço no Restaurante Paraíso de Ouro, localizado na Serra das Meadas, com uma visão privilegiada sobre uma paisagem encantadora onde o rio Douro também nos deu as boas-vindas, servido com dignidade, houve abraços, o reviver de memórias de antigos camaradas que “passaram as passinhas do Algarve” para conseguirem ganhar os crachás da dura especialidade, seguindo-se, naturalmente, a despida, mas ficando, entretanto, o nosso profundo reconhecimento pela forma como fomos recebidos. Obrigado!


O camarada ranger Peixoto e o nosso antigo e então capitão Gomes Pereira

Fica aqui também referido, e com toda a nossa maior honorabilidade, a presença neste Encontro do nosso então Capitão José Gomes Pereira, um Ranger que muito nos ensinou e, logicamente, por nós muito “puxou” para reconhecermos capacidades escondidas.

Abraços camaradas e um até breve.

José Saúde

Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

___________

Nota de M.R.:

Vd. últimos postes desta série em:  

18 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar, do Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22878: In Memoriam (424): Alberto Tavares de Bastos (1948-2022), ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73)... Natural de Vale de Cambra, onde era muito estimado, destacou-se como poeta e homem de teatro


Foto nº 1 > Alberto Bastos


Foto nº 2 > Alberto Bastos e Eduardo Jorge, ambos de perfil


Foto nº 3 > Eduardo Jorge e Alberto Bastos: falando seguramente da Guiné... Com paixão...


Foto nº 4 > Alberto Bastos e Eduardo Jorge (de costas)

Lourinhã > Vimeiro > 12 de maio de 2019 > O Alberto Basto em almoço de convívio com os nossos camaradas e grã-tabanqueiros Eduardo Jorge Ferreira (1953-2019) e Joaquim Pinto de Carvalho. Tratava-se do 39º aniversário da Associação Recreativa e Cultural do Vimeiro (ARCV), de que o nosso saudoso Eduardo Jorge era então dirigente...(Infelizmente morreria dali a escassos meses, a 23/11/2019).  

"Empatizaram logo um com o outro!", diz o Joaquim Pinto Carvalho que apresentou o Alberto ao Eduardo. "Era um homem da palavra, do teatro, da poesia... Rapidamente improvisava um verso e o declamava....Íamos a casa um do outro com alguma regularidade. Tenho vários livros dele, autografados, com dedicatória ao 'irmão' Joaquim"... No livro de poesia <i>Alguém<</i> (Chiado Editora, Lisboa, 2008, 156 pp.), escreveu-me: 'Ao meu especial amigo Joaquim A. Pinto de Carvalho com a magia  dos 'bons velhos tempos'. O autor, (assinatura ilegível), 07/10/2009".

Fotos (e legendas): © Joaquim Pinto Carvalho (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Morreu, no primeiro dia do ano de 2022, o nosso camarada  Alberto Bastos, ex-alf mil op esp, CCAÇ 3399 / BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73). (*)

A triste notícia foi-nos dada pelo Joaquim Pinto de Carvalho, ex-alf mil at inf.  CCAÇ 3398 (Buba) e CCAÇ 6 (Bedanda), 1971/73, nosso grã-tabanqueiro nº 633 (**)

Pertenciam ao mesmo batalhão, o BCAÇ 3852, e eram amigos do peito, há meio século. Estiveram em Mafra juntos e acabaram por ser mobilizados para a Guiné e para a mesma unidade. O Joaquim e a Maria do Céu estavam desolados. Telefonei, de imediato ao Manuel Gonçalves, igualmente membro da nossa Tabanca Grande (nº 776), que também conhecia o Alberto Bastos, sendo do mesmo batalhão (***). Também o João Marcelino o conheceu. Telefonei igualmente ao Joaquim Costa, da CCAV 8351.

É nossa intenção, em honra da sua memória, integrá-lo na Tabanca Grande, a título póstumo, no caso de termos o OK da sua viúva, a fisioterapeuta e empresária Trindade Bastos. Procuramos também uma foto sua do tempo da tropa e da guerra. Será o primeiro representante da CCAÇ 3399 no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Poeta, desde menino e moço, foi ele o autor da letra do hino do BCAÇ 3852, datada de  12/6/1971, reproduzida no seu livro de poesia <i>Alguém</i> (LIsboa, Chiado Editora, 2008, pp. 125/126.

É também autor do poema "Na estrada do Cumbijã", dedicado ao cap mil Vasco da Gama, comandante da CCAV 8351 (Cumbijã, 1971/73), "Os Tigres do Cumbijã" (, já publicado no poste P3640), e reproduzido, a pp. 138/139, no recentíssimo livro  do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina (Guiné, 1972/74") (Rio Tinto, Lugar da Palavra Editora, 2021).

2. R eprodução de notícia do jornal "on line" "A Voz de Cambra" (com a devida vénia...)


ATUAL > Morreu Alberto Bastos, o encenador, ator e escritor de Vale de Cambra

Janeiro 3, 2022  Cristina Maria Santos

Tinha 72 anos, mais de 50 dedicados à escrita e ao teatro, onde representou mais de 200 papeis diferentes. Alberto Bastos faleceu no primeiro dia do ano de 2022.

Alberto Bastos contava mais de meio século de carreira, com um percurso marcado por várias atuações no teatro, mas também era reconhecido pela sua veia humorística fora dos palcos.

Alberto Tavares de Bastos nasceu em S. Pedro de Castelões e escrevia desde a adolescência. Publicou os livros de poemas “Bailam Flores”, em 1999; “Um Grito na Noite dos Tempos”, em 2000; e “Alguém, em 2008. Publicou a sua primeira obra de teatro “Palco da Vida”, em 2006 e a “A Máscara”, em 2015.

Alberto Bastos pisou o palco pela primeira vez aos 12 anos, em 1960, no salão da fábrica “Almeida & Freitas”. “Foi o meu batismo artístico e lembro-me de rir muito e tremer”, recordou Alberto Bastos ao Voz de Cambra, em 2020.

De 1975 a 1978, fez parte do elenco cénico do Grupo Recreativo e Cultural de Cavião e, a partir de 1993, integrou o Grupo Cénico da Associação de Promoção e Desenvolvimento de Castelões (APDC), onde foi ator e habitual encenador.

Participou em vários eventos do concelho, como; “Rusga à Sra. da Saúde”; “…da Lusitânia ao Foral”; “Queima do Galhofeiro”; Carnaval de Vale de Cambra, mas também em iniciativas em concelhos limítrofes, como por exemplo: Viagem Medieval em Terra de Santa Maria e a Feira Medieval de S. João da Madeira.

Entre muitas representações, em 2016, encenou a peça “Volfrâmio – Suor o deu, miséria o levou”, um trabalho de longa pesquisa, onde entrevistou alguns idosos que sobreviveram ao drama de outrora. “Não abandonei a arte e tenho no prelo uma nova peça em três atos, cuja publicação terá lugar quando a presente situação pandémica do país se desvanecer. Esta obra, ficará disponível para quaisquer grupos cénicos que queiram levá-la à cena”, explicou.

 O “professor Alberto bastos”, como era habitualmente chamado, aproveitou para agradecer a todos quantos o reconheceram nesta vida artística.

“Bem hajam, todos aqueles que me acompanharam ao longo deste longo percurso e ao público maravilhoso que nunca me regatearam aplauso e crítica. Obrigado”, concluiu

No primeiro dia do ano de 2022, Vale de Cambra lamenta e despede-se do artista que marcou o teatro no concelho.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22866: In Memoriam (423): Jorge Cabral (1944-2021): cerimónias fúnebres, na Igreja do Lumiar, Lisboa, hoje, a partir das 17h00 (Pedro Almeida Cabral)