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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23592: Notas de leitura (1490): Damião de Góis (Alenquer, 1502- Alenquer, 1574): um humanista europeu... Curiosamente, entre os seus ensaios, encontra-se um estudo sobre o povo Lapão (Samiska Folket) e o seu modo de vida.(José Belo, Suécia)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada José Belo, um dos milhões de portugueses da diáspora para quem a casa portuguesa foi pequena:

Data - segunda, 15/08/2022, 12:36
 Assunto . Ainda Damião de Góis

Caro Luís

Julgo ter-se obtido algum debate entre Camaradas quanto aos últimos textos.

Vou enviar-te um texto mais completo sobre a muito interessante figura a nível europeu que foi Damião de Góis.

Como todos os grandes e reconhecidos pensadores portugueses da época teve um triste fim às mãos da Santa Inquisição.

Como inesperada curiosidade para mim  encontra-se entre as obras de Damiao de Góis um ensaio dedicado ao estudo do povo Lapão e à vida na Lapónia.

Verdadeiramente... ”as malhas que o Império tece”.

Dentro de uma semana regresso para os States onde conto mais uma vez “perder-me” em viagem de automóvel nas estradas rurais do Deep South americano, Louisiana e Mississippi, onde se acaba sempre por redescobrir todo um passado que muitos julgam há muito terminado.

Será um longa e saudável pausa nas... ”com-pura-vens”!

Um abraço, 
JBelo
_____________

[Imagem  acima: Retrato de Damião de Góis (1502-1574). Fonte: Wikimedia Commons (com a devida vénia... Imagem do domínio público).

(...) "Retrato de Damião de Góis, óleo sobre tábua, talvez da autoria de Jan Gossaert (1478-1532) ou outro autor flamengo desconhecido, baseado numa gravura de Philips Galle de 1587 que, por sua vez, toma inspiração de um desenho de Albrecht Dürer realizado entre 1520 e 1521. Localização desconhecida." (...)  
]


2. Notas de leitura: Damião de Góis (1502-1574): um humanista europeu (**)
 
por José Belo


Um português que foi figura de referência do Humanismo europeu. Dotado de profundo espírito crítico e de um conhecimento verdadeiramente enciclopédico. Nasceu (em 1502) e morreu (em 1574) em Alenquer 
[onde há o Museu Damião de Góis e das Vítimas da Inquisição: vd. aqui o vídeo, disponível no You Tube,  Damião de Góis na História de Alenquer e Portugal)].

De nascimento nobre, passou dez anos da sua juventude na corte de D. Manuel I. Em 1523 foi nomeado Secretário da Casa de Comércio de Portugal em Antuérpia. Posteriormente foi encarregado de importantes missões diplomáticas e comerciais através da Europa. (1528-1531).

Em 1533 abandonou todas as funções governamentais para se dedicar exclusivamente aos seus estudos humanistas. Época em que criou fortes contactos com Martinho Lutero.

Criou também grande amizade pessoal com Desidério Erasmo que muito o veio a influenciar.

Estudou em Pádua entre 1534-1538, mudando-se depois para Lovaina por um período de seis anos

Foi feito prisioneiro aquando da invasão francesa dos Países-Baixos, mas libertado após intervenção do Rei D.João III que o chamou a Portugal.

Em 1548 foi nomeado Responsável Mor da Torre do Tombo. Dez anos mais tarde, por escolha do Cardeal D. Henrique, escreveu a crónica do Rei D. Manuel I, que termina em 1571.

Este trabalho “histórico-independente” desagradou a algumas das famílias nobres importantes que de imediato procuraram encontrar razões que o incriminassem perante a Santa Inquisição.

Os contactos com Lutero e Erasmo, a forte e sentida crítica, por escrito, ao massacre dos Cristãos Novos efectuado em Lisboa no ano de 1506 , foram aproveitados nestas incriminações.

O Cardeal D. Henrique, nas suas funções de Grande Inquisitor, critica Damião de Góis e proíbe todas as suas publicações em Portugal.

A Ordem dos Jesuítas usa a importante figura de Simão Rodrigues na acusação directa de luteranismo nas ideias de Damião de Góis.

O somatório de todas estas acusações resultou na prisão do escritor, sendo este sujeito a uma série de interrogatórios que duraram quase dois anos.

Enviado para o Mosteiro da Batalha, é posteriormente libertado para vir a morrer na sua terra natal (Alenquer) em circunstâncias rodeadas de mistério.

Damião de Góis compôs algumas obras musicais de qualidade. Possuía também importante coleção de pinturas da época.

Curiosamente, entre os ensaios de Damião de Góis encontra-se um estudo sobre o povo Lapão (Samiska Folket) e o seu modo de vida.

Tenho que admitir ter este lusitano, com mais de quarenta anos de vivências na Lapónia sueca, lido este estudo como uma verdadeira mensagem vinda… do outro lado do tempo!

As estranhas “malhas que o Império tece”!

Um abraço do JBelo


 José Belo, jurista, o nosso camarada luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande:

(i) tem repartido a sua vida agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida); 

(ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, recusando-se a jubilar-se do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corre o boato de que a Tabanca da Lapónia morre para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida; 

(iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); 

(iv) é cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel, se ele tivesse tratado da papelada a tempo) do exército português; 

(v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; tem escrito, utimamente, no blogue, sobre portugueses ilustres espalhados pelo mundo (e alguns esquecidos ou menos bem lembrados em Portugal);

(vi) tem cerca de 230 referências no nosso blogue.
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)

(**) Último poste da série > 5 de setembro de  2022 > Guiné 61/74 - P23590: Notas de leitura (1489): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VII: A incrível história do soldado 25, cabo-verdiano, aliciado pela amante, uma "mulher do mato" de Cobumba, para cometer um acto de alta traição: tomar o quartel e matar todos os tugas...

sexta-feira, 26 de março de 2021

Guiné 61/74 - P22040: Da Suécia com saudade (89): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte III: João Rodrigues Cabrilho, o primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa californiana, c. 1542/43 (José Belo)




EUA > Califórnia > A memória do navegador e explorador João Rodrigues Cabrilho... Para além da autoestrada ao longo da costa californiana, esta ponte também tem o seu nome... Foi o primeiro europeu a explorar a costa californiana... Há um monumento nacional ao Cabrilho em San Diego, Califórnia...

Fotos: Cortesia de José Belo (2021)



1. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão-do-mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Florida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia...

Data: sábado, 20/02/2021 à(s) 15h42

Assunto: Mais um português famoso nos States ... quase desconhecido em Portugal: João Rodriguez Cabrillo (*)



João Rodrigues Cabrilho
(Cabril, Montalegre, c. 1499 - Novo Mundo, Califórnia, 1543)

 

Tal como ao Magalhães, 
os espanhóis também o querem para só si, ao Cabrilho 
(efígie acima)...


João Rodrigues Cabrilho (ou Cabrillo, para os espanhóis)  foi um soldado e explorador português ao serviço de Espanha.

É famoso nos Estados Unidos, mormente na Califórnia, por ter sido o primeiro europeu a explorar a costa norte-americana do Oceano Pacífico em 1542/43.

A sua nacionalidade ainda hoje é objecto de  disputa entre portugueses e espanhóis. (#)
 
Está demonstrado ter sido filho de família portuguesa, mas, segundo os espanhóis, nascido em Espanha (Palma del Rio),  a 13 de Marco de 1499 (ou 1475).

No entanto, nas Beiras portuguesas mais de uma localidade afirma ser a terra de nascimento do navegador Cabrillo, e que familiares com esse nome ainda por lá vivem. Certo é que foi educado em Espanha, sendo de origens humildes.

Ainda muito jovem terá navegado para as Índias Ocidentais fazendo parte de uma grande armada de 30 navios e 2500 soldados que colonizou Cuba.

Em 1519 foi enviado para o México com a missão de aprisionar o então revoltado Hermán Cortez que tinha desobedecido a ordens reais aquando da conquista do reino Azeteca. Esta missão foi mal sucedida devido a popularidade de Cortez junto dos seus homens, tendo Cabrillo juntado-se a Cortez no assalto à capital azeteca de Tenochtitlán (Hoje, Cidade do México).

Depois da derrota dos azetecas juntou-se à expedicão militar de Pedro Alvarado na área geográfica dos actuais México do Sul, Guatemala, e El Salvador.

Em 1530 Cabrillo tornou-se imensamente rico com a exploração de minas de ouro na Guatemala. 
Desde um porto da costa guatemalteca controlava as exportações e importações para Espanha, não só a partir da Guatemala mas também de outros locais do Novo Mundo.

Aplicou pesados impostos às populações locais, e usou muitos dos habitantes masculinos como mineiros escravos, ao mesmo tempo que entregava os elementos femininos da população, também como escravas, aos seus marinheiros e soldados. Conscientemente, quebrou deste modo todo o tecido social e familiar da vasta região.

Crê-se ter sido neste período que terá tido uma companheira indígena, e que desta relação terão resultado dois filhos.

Em 1532, já famoso e com enorme fortuna, voltou a Espanha onde se casou, em Sevilha, com Beatriz Sanchez de Ortega. Ela acompanhou-o de volta à Guatemala e o casal teve dois filhos.

Neste período, Cabrillo foi contactado por António de Mendoza, então Vice-Rei da Nova Espanha, para explorar a costa americana do Pacífico na esperança de serem encontradas cidades ricas a saquear e uma possível passagem marítima entre os Oceanos Pacífico e Atlântico.

Recebeu também instruções para procurar encontrar-se com Francisco Vasquez de Coronado, então enviado por via terrestre desde o Atlântico em direção ao Pacífico.

Cabrillo construiu com capital próprio o navio almirante da expedição (o San Salvador), colocando-se deste modo em posição óptima para beneficiar de possíveis relações comerciais a serem estabelecidas ou tesouros encontrados.

 A 24 de Junho de 1542 partiu do actual porto de Manzanilha/México com o navio almirante acompanhado de dois outros, o Vitória e o San Miguel. Quatro dias depois encontraram uma baía que constituía um excelente porto de abrigo (hoje San Diego Bay).

Seguidamente exploraram as ilhas situadas junto à costa da Califórnia, Santa Cruz, Catalina e San Clemente, ao mesmo tempo foram encontrando inúmeras pequenas povoações ao longo da costa. (Curiosamente os espanhóis só voltaram a estas áreas em 1769 (!), fazendo-se então acompanhar de soldados e missionários.)

A expedição continuou rumo ao Norte tendo atingido um local que denominaram Cabo de Pinos (actual Point Reyes). Então os temporais do Outono obrigaram-nos a voltar para o Sul até à Baía de Los Pinos (actual Monterey Bay).

Neste local da costa, e devido aos densos nevoeiros aí normais, não descobriram a entrada da Baía da Actual cidade de San Francisco (San Francisco Bay). Este erro foi repetido por numerosos navegadores nos dois séculos seguintes, precisamente devido aos densos bancos de neblinas locais. A expedição regressou a San Miguel onde passou o Inverno.

Na véspera do Natal foram atacados por guerreiros indígenas (Tongva). Procurando ajudar os seus homens, Cabrillo escorregou e caiu sobre algumas pedras ponteagudas. O ferimento posteriormente gangrenou, morrendo Cabrillo a 3 de janeiro de 1543. Julga-se estar sepultado na ilha de Catalina.

A expedição voltou a navegar ao longo da costa rumo ao Norte. Atingiu, segundo se julga, a costa do actual Estado Norte Americano do Oregon. Regressaram então para a Natividad em Abril de 1543.

Esta expedição de Cabrillo não atingiu os seus objectivos quanto a encontrar ricas cidades costeiras. Também não foi encontrada a mítica passagem marítima do Pacífico para o Atlântico.

O encontro com o explorador terrestre Coronado também não se deu. No entanto demarcou uma vastíssima área da Costa Norte Americana a partir do México, que o Reino de Espanha viria a ocupar e colonizar dois séculos mais tarde.
 
(#) Vd. Wikipedia (em português: vd. também versão em inglês):

(...) A nacionalidade Portuguesa de João Rodrigues não oferece dúvidas, pois é o próprio cronista e Chefe das Índias Espanholas, D. António Herrera y Tordesillas, que na sua "Historia General de los hechos de los Castellanos en lás Islas y tierra firme del Mar Oceano" o confirma, ao dizer ter D. António de Mendonça aprestado os navios "São Salvador" e "Victoria" para prosseguirem na exploração costeira da Nova Espanha "y que nombrô por Capitan dellos a Juan Rodriguez Cabrillo Português, persona muy platica en las cosas de la mar " (...) embora alguns biógrafos e historiadores, em especial Harry Kelsey, afirmem que Cabrillo tenha nascido em Sevilla (Andaluzia) em data incerta.

Na freguesia de Cabril, concelho de Montalegre, há a "Casa do Galego" (origem aliás sugerida pelo seu apelido), onde alegadamente Cabrilho nasceu, como é afirmado em placa comemorativa. O investigador João Soares Tavares, após pesquisa morosa em Portugal, Espanha, México e Guatemala, apresentou dados comprovativos nos seus livros, que o navegador é português natural de Lapela (Cabril) do concelho de Montalegre.(...)
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Nota do editor:

domingo, 25 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15290: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (3): Como se podem enjeitar os escravos e bestas por os acharem doentes ou mancos (Ordenações manuelinas, decreto de 1 de janeiro de 1521)






Portugal > Assembleia da República > Legislação régia > Ordenações manuelinas > Decreto, 1 de janeiro de 1521 > Como se podem engeitar os escrauos , e bestas, por os acharem doentes ou mancos > Sem Entidade Livro V. (Reproduzido com a devida vénia...) (*)


1. Apesar de nos podermos orgulhar de Portugal ter sido
Reprodução de uma xilogravura da edição de 1514
das Ordenações Manuelinas,
impressa por João Pedro Buonhomini
nas instalações de Valentim Fernandes,
em Lisboa. Fonte: Wikipedia. 

Vd. cópia pública, em formato pdf, desta edição 
de 1514  na Biblioteca Digital Nacional
um primeiros  países a abolir a escravatura (no território nacional, em 1761, ao tempo do Marquês de Pombal, o todo poderoso primeiro ministro do rei Dom José), tivemos tráfico (luso-africano, convém sempre lembrar...) de escravos desde a expansão marítima, e utilização de mão de obra escrava, de origem africana, da ilha da Madeira ao Brasil, passando por Cabo Verde e pelo continente... 

Originalmente os primeiros escravos vinham da Guiné (topónimo que designava uma vasta região da costa de África Ocidental, incluindo o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Conacri, a Guiné-Bissau, a Guiné Equatorial, etc.). Na legislação régia, há naturalmente referências aos "escravos da Guiné", que eram vistos na época de uma tripla perspectiva: (i) tinham alma e era preciso batizá-los;  (ii) eram mão de obra valiosa (, fundamentais na exploração mineira e nas plantações de açúcar); (iii) tinham valor económico, sendo transacionáveis; e (iv) eram um "bem de luxo" para a corte e as classes dirigentes, uma forma de ostentação da riqueza, do poder e da honra (!)...

À luz dos nossos princípios e valores de hoje, esta linguagem "jurídica" das ordenações manuelinas (**) é chocante. (E mais chocante ainda a realidade que o poder régio procurava ordenar e regulamentar)... Mas estamos em 1521, mesmo no final do reinado de D. Manuel I, o "Venturoso", que irá morrer a 13 de dezembro desse ano, e que é descrito, por um dos seus biógrafos, "como um rei centralizador, inovador e reformador" (Costa, 2015, p. 259).

A 19 de dezembro de 1521 era aclamado rei seu filho, D. João III... Era o fim de uma época e o início de uma outra. (COSTA, João Paulo Oliveira e - D. Manuel I, 1469-1521: um príncipe do Renascimento. Lisboa: Círculo de Leitores, 2005, col. "Reis de Portugal", 333 pp.).

2. Yoro Fall, conceituado historiador senegalês, antigo professor da universidade de Dakar,  no Dicionário de História dos Descobrimentos (sob a direção de Luís Albuquerque) (Lisboa: Círculo de Leitores,1994), vol. I, "Escravutura", pp. 367-384, escvreve o seguinte:

(...) "o arranque económico da Europa foi largamente determinado, sobretudo no século XVIII, período de maior intensidade do tráfico de escravos, pela interconexão estabelecida entre a colonização da América e a utilização de escravos africanos na construção de novos espaços e de novas estruturas econonómicas" (p. 383).

A expressão "tráfico luso-africano" é dele, não é minha. É um artigo de leitura obrigatória... LG

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 17 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15260: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (2): "Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem"... (Ordenações manuelinas, decreto de 1/1/1521)... Em busca do rei (cristão ?) de Guandem e Sará (Carta régia de 17/6/1603).

(**) Sobre as "ordenações manuelinas":

"(...) são três diferentes sistemas de preceitos jurídicos que compilaram a totalidade da legislação portuguesa, de 1512 ou 1513 a 1605. Fizeram parte do esforço do rei Manuel I de Portugal para adequar a administração no Reino ao enorme crescimento do Império Português na era dos descobrimentos. Consideradas como o primeiro corpo legislativo impresso no país

(,,,) , elas sucederam as pioneiras Ordenações Afonsinas, ainda manuscritas, e vigoraram até a publicação das Ordenações Filipinas (...) , durante a União Ibérica. Representam um importante marco na evolução do direito português, consolidado o papel do rei na administração da Justiça e afirmando a unidade nacional (...) " (Fonte: Wikipédia, com a devida vénia...).

Na Biblioteca Digital Nacional pode consultar-se, página a página (são 866!) a cópia pública, em formatop pdf, desta preciosidade bibliográfica.

sábado, 17 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15260: Por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-mar em África, etc.: legislação régia (1603-1910) (2): "Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem"... (Ordenações manuelinas, decreto de 1/1/1521)... Em busca do rei (cristão ?) de Guandem e Sará (Carta régia de 17/6/1603).




Portugal > Assembleia da República > Legislação régia > Ordenações manuelinas > Decreto de 1 de janeiro de 1521 >  Que todos os que teuerem escrauos de Guinee os baptizem
Sem Entidade, Livro Livro V.

Nesta época, e mais concretamente em meados do séc. XVI,  um em cada dez lisboetas era escravo (c. 10 mil em 100 mil habitantes). E temos uma ideia relativamente rigorosa das humildes ocupações ou profissões: lavadeiras, aguadeiras, vendedoras, varredores de ruas,  moços de fretes... Em termos demográficos, representavam uma compensação muito importante pela perda de homens que partiam para "a aventura dos Descobrimentos"... No Algarve, com graves problemas crónicos de despovoamento, os escravos trabalhavavam na agricultura... Estima em 2400 o número de portugueses que partiam, por ano, definitivamente para o ultramar, durante o séc. XVI... Foi uma sangria demográfica brutal...

Grande parte destes escravos eram oriundos da Guiné  (vasta região da costa ocidental de África  descoberta e explorada  pelos portugueses, a partir da dobragem do cabo Bojador, em 1434, conseguida por Gil Eanas: grosso modo, a Guiné começava no rio Senegal, que separava os "negros" dos berberes "mouros" do deserto do Sará, e ía até ao atual golfo da Guiné,  designando portanto um território muito mais vasto do que a atual Guiné-Bissau, que,como é sabido, é do tamanho do nosso Alentejo...

O tráfico luso-africano de escravos nasce ou intensifica-se, segundo os  historiadores, com a criação, em 1448, da feitoria de Arguim, na costa da atual Mauritânia. E diz-se luso-africano porque os traficantes não eram apenas os portugueses mas também os africanos.... Na costa senegalesa, os portugueses trocavm cavalos por escravos. O cavalo dava aos traficantes uma superioridade militar imprescindível para o sucesso das expedições de captura de escravos no interior do continente... Mais do que o ouro, o comércio de escravos tornou-se, para os portugueses que partiam "para dilatar a fé e o império", a principal fonte de lucro... De qualquer a história da escravatura não é linear, nem poderá ser vista à luz dos nossos valores de hoje... Em países muçulmamos como a Mauritãnia a escravatura só foi abolida oficialmemte... em 1980. No caso de África, as suas consequências foram trágicas, e ainda hoje é não é pacífica a estatística da escravatura... Cristãos e muçulmanos foram os grandes predadores dos povos africanos, essa é uma verdade histórica indesmentível. Mas também é verdade é que sem os escravos negros de África não teria sido possível a colonização do Novo Mundo, as Américas (15 milhões ? 5 para a América do Sul, 5 para a América do Norte, 5 para a América Central/ Caraíbas)... LG





Portugal > Assembleia da República > Legislação régia >  Carta Régia, 17 de junho de 1603
Carta Regia com esclarecimentos ácerca do Rei e Reino de Guandem, Guiné | D. Filipe II (1598-1621), Livro 1603-1612.

Onde ficaria, na Guiné,  esse reino de Guandem e Sará cujo rei, Dom António Gundão, seria cristão  ? Não encontro qualquer referência nos meus livros de história nem na Net... [LG]