Lurdinhas como Alferes Enfermeira Pára-quedista
As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares - IV
Lurdinhas
Falar da Maria de Lurdes, uma Maria que é carinhosamente tratada por Lurdinhas pelas enfermeiras pára-quedistas, é falar de uma mulher curiosa.
Sim, curiosa no sentido lato da palavra. Quando a conheci, ela manifestava-se sedenta pelo conhecimento da mente humana. Ela queria muito entender os comportamentos da humanidade. “Discutia” muitas vezes comigo a análise que devíamos fazer a nós próprios e abordava com frequência as teorias da psicanálise que para mim eram ”chinês”. Por isso limitava-me a ouvi-la e pensava: esta mulher deveria ser psiquiatra ou outra coisa qualquer semelhante. Mesmo sem entender muito bem o que ela me queria transmitir, deixava-me absorver pelas suas teorias e às tantas, dava comigo a achar que era capaz de ser importante, no mínimo, reflectirmos sobre quem somos.
Achava-lhe graça, porque ela deixava escapar, penso que inconscientemente, uma certa rebeldia, e que eu nunca tinha percepcionado de uma forma tão evidente nas outras Marias que conheci antes dela. Mas também não era a rebeldia típica das enfermeiras mais jovens como eu - era uma rebeldia de ideias - que demorei tempo a entendê-la.
Admirei a sua força de vontade e a sua honestidade em evoluir na sua carreira. Quando foi equiparada sargento-ajudante, topo de carreira da classe de sargentos, não quis ficar por aí, e dado que as enfermeiras eram um grupo especial, cujo posto dependia da sua formação profissional, logicamente não tinham acesso à Escola Central de Sargentos para aceder à classe de oficiais. Então a minha amiga Lurdinhas sai da F.A. e à sua conta vai para uma escola civil onde fez os 3 anos de curso, pedindo em seguida reingresso nas tropas pára-quedistas, agora como oficial e com todo direito.
Admiro-a muito não só pelo esforço académico que fez e o dispêndio económico que essa formação exigiu, mas pelo não acomodamento ou até aproveitamento que poderia ter tentado fazer, e com menos esforço.
Tinha um sentido de dever acentuado e um lado humano muito presente, o que era transversal às restantes Marias. Chego assim à conclusão que realmente as enfermeiras do primeiro curso, pelo menos aquelas com quem eu mais estreitamente me relacionei, foram escolhidas a dedo e quem as escolheu acertou em cheio, pois como hoje se diz foram e ainda são, mulheres de cinco estrelas.
Sem tirar o mérito a todas as outras enfermeiras que vieram a seguir, e as que melhor conheci, não tenho dúvidas, que estas 4 Marias, foram grandes exemplos como profissionais, de elevado grau de generosidade, que estavam ali para o que desse e viesse e sempre possuidoras de uma ética e de uma dignidade sem limites de quem os pára-quedistas se podem orgulhar e jamais As esquecer, pois elas fazem parte da história da Força Aérea e até da história militar portuguesa, no feminino.
Parabéns pela vossos 50 anos e Muito Obrigada pelo muito que aprendi convosco.
Rosa Serra
Ex-Enfermeira Pára-quedista
Lurdinhas como 1.º Sargento Enfermeira Pára-quedista
Lurdinhas equipada para saltar
Fardada com bata, usada nas unidades ou evacuações transatlânticas
__________Nota de CV:
Vd. último poste da série, também, de autoria da nossa camarada Rosa Serra, ex-Alferes Enfermeura Pára-quedista, Guiné, BCP 12, 1969, com data de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6505: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (16): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (3): Maria Zulmira (Rosa Serra)