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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26239: Facebook...ando (68): Na morte de Lúcia Bayan, que disse numa entrevista: "Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador" (Ana Archer)

1. Excerto de postagem de Ana Larcher, na sua página do Fcebook, 26 de novembro às 15:05 (com a devida vénia):

Acabo de saber a tristíssima notícia que nos deixou uma grande amiga, a Lucia Bayan (foto à esquerda: cortesia de Fumaca.pt, podcast de jornalisno de investigação).

Uma pessoa boa, de sorriso sempre aberto e coração puro, sempre pronta a ajudar os outros, como sabem os muitos amigos que tem. 

Uma investigadora de excelência, de um rigor raro, que dedicou a sua vida ao estudo do sistema político e do povo Felupe na Guiné-Bissau. Acima de tudo, a sua vida foi movida por um compromisso profundo para com o povo Felupe e para com a Guiné-Bissau.
 
Tentando encontrar um pouco de sentido neste momento de tamanha tristeza, reli alguns dos textos da Lúcia e encontrei esta entrevista em que ela diz:

"Eu gosto muito, sempre, de relembrar um provérbio que eu aprendi em criança, porque eu nasci e cresci em África, que diz que enquanto o leão não tiver voz só vamos ouvir a história do caçador. 

"E realmente ainda hoje só continuamos a ouvir a história do caçador. É mesmo o caçador que continua a dar os nomes às coisas e a decidir o que fazer. O caçador, hoje em dia, acaba por decidir o destino do mundo em peso. E pior do que tudo: o leão sente-se castigado sem ter nada feito."

A sua missão era mesmo essa, contar a história pela perspetiva do leão. E tenho a certeza que o seu trabalho vai continuar a inspirar muita gente, muitos investigadores, e que será semente de mudança. (...) (**)


______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26200: In Memoriam (518): Lúcia Bayan († 26 de Novembro de 2024): Doutorada em Estudos Africanos e colaboradora do nosso Blogue em assuntos do Chão Felupe (Mário Beja Santos)

(**) Último poste da série > 26 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26198: Facebook...ando (67): Joaquim Gregório Rocha, da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72): participou na trágica Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970), era do 4º pelotão (do fur mil Cunha, uma das vítimas mortais), vive em França e manifestou, há dois anos, interesse em integrar a Tabanca Grande

terça-feira, 11 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25631: Humor de caserna (65): Afinal, Deus não gosta dos mais velhos, diz o nosso Cherno Baldé...


Foto nº 38



Foto nº 39 

Guiné > Região de Tombali > s/l (Guileje ?) > c. 1969 > Foto de um grupo de adolescentes . A bajuda do lado direito (foto nº 38) usa relógio de pulso e a rádio portátil, transistorizado... Acrescenta o Cherno Baldé: "Uma familia cristã, crioula, assimilada, provavelmente, de origem cabo-verdiana ou das praças de Cacheu, Bissau, Bolama ou Geba".

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentários ao poste P25624 (*).


(i) Luís Graça

Obrigado, Cherno, tens um "olho de lince", como se diz aqui nossa terra. Vês mais longe e mais fundo, sentado junto ao tronco do poilão da Tabanca Grande do que os "tugas" todos juntos, lá no alto das suas cátedras...

Pois, claro, aqueles jovens das fotos nº 38 e 39 não podiam ser futa-fulas, mas "assimilados" (não gosto do termo"), "grumetes" ou "cabo-verdianos"... Enfim, jovens de famílias cristãs... As raparigas por certo que trazem fios ao peito com o crucifixo (não dá para ver bem...).

Talvez fossem de Cufar: antes da guerra, havia grandes armazéns de arroz, de um conhecido comerciante, velho colono, que veio de Cabo Verde, e apoiante (discreto) da causa nacionalista: escapa-me o nome, Benjamim Correia ? Ou qualquer coisa Barbosa ?

Julgo que a grande pista de Cufar (800 metros...), a "Bissalanca do sul", foi feita em terras dele... Está para aí escrito algures, num dos nossos quase 26 mil postes...

10 de junho de 2024 às 10:51

(ii) Cherno Baldé:  

Essa do Poilão foi boa, fartei-me de rir em boas gargalhadas, sozinho, sentado debaixo da sombra de um enorme poilão em Catió, ao lado da administração da mesma região, onde me encontro nestes dias em missão de serviço.

Você é um homem dotado de muita sabedoria e bom humor, que Deus, Alláh e os Irãs te concedam saúde e resiliência para nos continuar a formar, informar e divertir através deste Blogue de veteranos, antigos combatentes da Guiné que, infelizmente, são cada vez menos.

Eu não sou nenhum sábio, não faço qualquer esforço suplementar de memória, simplesmente vivi e, "malgré moi,  acompanhei a Guiné nos últimos 60 anos. Como se diz na nossa lingua: Deus não gosta dos mais velhos, simplesmente já convivem há muito tempo, facto que lhe empresta alguns conhecimentos por experiência própria.

10 de junho de 2024 às 20:14

2. Comentário de LG:

Obrigado, Cherno, pela tua amabilidade e pachorra para continuar a aturar estes velhos combatentes, últimos soldados do império, naufragados e  perdidos lá pelas bolanhas, rias e braços de mar da tua querida terra que, por uma qualquer maldição dos irãs, eles não conseguem esquecer...

Não sei se Deus gosta ou não dos velhos (ou dos mais velhos),  confesso que já  não converso com Ele desde os meus 15 anos, não podendo por isso saber a sua divina opinião... O que eu sei (e que é pouco, também não me arrogo, como tu,  o privilégio da sabedoria), é que, citando a sabedoria popular portuguesa  (que é, afinal, universal),  "perde-se o velho por não poder e o novo por não saber"...

Já vou no km 77 da picada da vida e tu, ainda "djubi", com os teus viçosos 60. Nunca mais me apanhas, mas eu gosto de poder continuar a  conversar contigo. Sentados, os dois, à sombra do nosso mágico, frondoso, secular, fraterno poilão da Tabanca Grande. 

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam e te deem saúde e longa vida... O que também quer dizer... "dormir o q.b.... Lembra-te sempre que "quatro horas dorme um santo, cinco o que não é santo, seis o estudante, sete o caminhante, oito o porco e nove... o morto" (***).

PS - Ah, e mando-nos um "postalinho" de Catió!

___________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 9 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25622: Humor de caserna (64): O anedotário da Spinolândia (XII): o "caco" que foi parar ao caldeirão da cozinha de Guileje...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2024/06/guine-6174-p25622-humor-de-caserna-64-o.html

(***) Vd. poste de 1 DE JANEIRO DE 2024

Guiné 61/74 - P25026: Manuscrito(s) (Luís Graça) (243): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte Va: 'Pés quentes, cabeça fria, cu aberto, boa urina - Merda para a medicina' 1. A arte de bem conservar a saúde

sábado, 12 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24550: Manuscrito(s) (Luís Graça) (226): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVB: Enfermagem, Misoginia e Sexismo


Hôtel-Dieu de Paris > c. 1500 > O hospital como "locus religiosus", "pia causa" e "locus infectuas" >  Gravura de autor desconhecido. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikimedia Commons.

Legenda: English: Triptych showing the Hôtel Dieu in Paris, about ad 1500. The comparatively well patients (on the right) were separated from the very ill (on the left) | Français : Hôtel-Dieu de Paris. Armes de Jean V de Bueil et armes de France.







O hospital cristão medieval começou por ser simultaneamente: (i)  um locus religiosusdo ponto de vista eclesiástico, inspirado na arquitetura da casa de  Deus ("hòtel-Dieu", em francès), onde se acolhem "doentes pobres";  (ii) uma pia causa,  do ponto de vista canónico, gozando por isso de um certo número de direitos e privilégios: isenção de taxas, direito a fazer os enterros (jus funerandi), direito de asilo, etc; e, por fim, um locus infectus (e ontinuou a sê-lo, até muito tarde, até meados do séc. XIX), isto é,  um lugar de infecção e de propagação de doenças: o universo hospitalar era concentracionário e a morbimortalidade elevada, tanto entre a população internada como entre o pessoal. (Os ricos e poderosos eram tratados em casa.)

Neste tríptico, podem-se ver as armas de Jean V de Bueil e as armas de France (pia causa). o altar com a cruz ao centro e imagens de santos (locus religiosus) e a promiscuidade e falta de higiene das enfermarias (locus infectus): à direita as irmãs (freiras, enfermeiras) cuidam dos doentes, fazem-lhes a higiene,  servem-lhe  as refeições; e, â esquerda, no primeiro plano, amortalham os cadáveres dos doentes mortos, enquanto, em segundo plano, um padre administra a extrema unção a um moribundo.

 
1. Começámos a publicar, desde de meados de março passado, uma série de textos, da autoria do nosso editor Luís Graça, sobre as ensinamentos que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...


Às vezes quando a doença e a morte nos batem à porta, à minha, à da minha família, à dos meus amigos e camaradas mais próximos, é que eu me lembro que dediquei uma boa parte da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública... E dão-me saudades quando, sendo mais novo, escrevia sobre esses temas...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos os nossos leitores a pandemia de Covid-19, eis-nos agora a fazer o luto pela perda recente de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade da publicação deste textos que fomos (re)buscar ao nosso "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou terão, dependerá das "leituras" e dos "leitores"...

São textos com mais de 20 anos, que constavam da nossa antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

Contando com a complacência (e sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores, esperamos, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito. Para o nosso editor, é também uma forma de continuar a lidar com o seu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que lhe estão próximas.

Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": vai fazer  20 anos (!) em 23 de abril de 2024 (se lá chegar, se lá chegarmos).  E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG



Luís Graça (2000)

Enfermagem, Misoginia e Sexismo

Grande parte do pessoal que prestava cuidados básicos aos doentes, pertencia originariamente a ordens religiosas e militares ou a confrarias e irmandades. Ao longo do tempo surgem referências a enfermeiros maiores e enfermeiros pequenos (nomeadamente no Regimento do Hospital Real de Todos os Santos, de 1504), hospitaleiros e hospitaleiras, irmãos e irmãs, religiosos e religiosas, enfermeiras ou simplesmente mulheres, servas ou serventes.

A enfermagem está historicamente associada ao desenvolvimento do monaquismo, tal como o ensino e a prática da medicina. No mínimo, cada mosteiro tinha já:
  • Uma enfermaria (infirmitorium) para tratamento dos monges que adoeciam;
  • Um irmão enfermeiro encarregue de prestar os cuidados básicos aos doentes;
  • Uma farmácia (armarium pigmentorium);

E inclusive um pequeno jardim botânico, com lotes para cultivo de plantas medicinais (tal como consta, por exemplo, do projecto arquitectónico da abadia beneditina de Sankt Gallen (em inglês, Saint Gall), por volta de 825, representando o modelo ideal de um mosteiro da época carolíngia, de acordo com as prescrições da reforma de Benedicto de Aniane e do sínodo de Inden).

Por outro lado, nunca ou raramente há uma referência, em documentos escritos da época, que vai da Idade Média ao fim do Antigo Regime, à figura da enfermeira religiosa (ou laica) fora do contexto hospitalar, emparceirando-os por exemplo com os outros praticantes de artes médicas que, com ou sem autorização do físico-mor ou do cirugião-mor, pululavam pelas cidades e aldeias: curandeiros, algebristas (ou endireitas), emplastradeiras, barbeiros-sangradores, dentistas, mezinheiros, parteiras e aparadeiras, cristaleiras e cristaleiros (ou seringas), abafadores (que tinham a sinistra função de apressar a morte em casos de doença terminal, usando para o efeito uma almofada), etc.

Muito simplesmente, não se fala do enfermeiro(a) como alguém que domina uma técnica ou um saber-fazer específico. Dele(a) se espera apenas que trate dos doentes com muita paciência, diligência e caridade. Dele(a) se exige apenas que seja homem (ou mulher), "caridoso, e de boa condição, e sem escândalo" (de acordo com o Regimento do HRTS, de 1504). Havia já, contudo, um esboço de diferenciação do pessoal de enfermagem, estando os cuidados de higiene e limpeza atribuídos aos enfermeiros pequenos (Graça 1994).

Contrariamente à medicina e à cirurgia, a enfermagem não constituía propriamente um ofício de arte aprovada para cujo exercício fosse necessário a competente autorização do físico-mor ou do cirurgião-mor do reino. Por outro lado, e até praticamente ao Século XX, não é reconhecida a especificidade dos cuidados de enfermagem.

Da leitura dos regimentos hospitalares (por ex., Hospital Termal das Caldas da Rainha, Hospital Real de Todos os Santos), depreende-se que o conteúdo funcional da enfermagem se resume, no essencial, aos cuidados básicos a ministrar aos doentes, para além das tarefas de limpeza e higiene das enfermarias. Em português vernáculo, a sua principal função é "o carrego dos doentes", o que implicava nomeadamente (Graça, 1996):
  • Acompanhar as visitas diárias feitas pelo físico ou cirurgião à respectiva enfermaria;
  • Aplicar os tratamentos prescritos pelo físico ou cirurgião;
  • Chamar o (e dar assistência ao) barbeiro-sangrador;
  • Levar os doentes às costas para os banhos e lavá-los (no caso do hospital termal);
  • Transportar as refeições às enfermarias;
  • Varrer e limpar as enfermarias;
  • Fazer as camas e mudar a roupa;
  • Fazer a vigília dos doentes, incluindo à noite;
  • Chamar o capelão para a extrema unção;
  • Amortalhar os cadáveres;
  • Despejar e limpar diariamente os tanques dos banhos (no caso do hospital termal):
  • Manter limpas as enfermarias;
  • Manter limpos os urinóis e os bacios;
  • Manter limpos os púcaros dos xaropes e purgas, etc.

A enfermagem é provavelmente o mais antigo dos deveres — a seguir à reprodução — imposto às mulheres nas sociedades humanas patriarcais. Há cem anos atrás, iria tornar-se, contudo, a primeira profissão feminina, organizada pelas próprias mulheres.

Afastadas do sacerdócio, as mulheres nem por isso deixaram de desempenhar um papel de relevo, embora discreto, na prestação de cuidados aos doentes pobres, primeiro como diaconisas, na Igreja do Oriente, e depois como freiras no Ocidente.

Apesar da tendência para a secularização do pessoal que prestava cuidados básicos aos enfermos, o termo monástico irmã (ou irmãzinha) vai manter-se como sinónimo da mulher que está encarregada de uma enfermaria (Quadro XIV). 

Umas vezes era nomeada de entre o pessoal de enfermagem ou de assistência aos doentes; noutros era recrutada de entre as mulheres domésticas da classe alta. A falta de qualificação e a negligência quer das matronas quer das irmãs em relação ao cumprimento dos seus deveres estão suficientemente documentadas em países como a Inglaterra (Graça, 1996).

Na realidade, quem prestava os cuidados técnicos de enfermagem (como diríamos hoje) não eram as nurses, mas os estudantes de medicina. Embora lhes fosse exigido, como requisito mínimo, o saber ler e escrever, as administrações hospitalares da época tinham que se contentar com as mulheres analfabetas, por dificuldades de recutamento de pessoal. Em suma, tratava-se de uma ocupação indigna de uma respectable woman (isto é, indigna de uma senhora)

Não admira, por isso, que o seu comportamento fosse muitas vezes reprovável e reprovado. Os livros de registo da maior parte dos hospitais ingleses da época dão-nos conta da impressionante frequência de casos de enfermeiras que eram admoestadas ou demitidas por alcoolismo, insolência, falta de disciplina, absentismo, roubo ou extorsão praticada na pessoa dos doentes.

Embora se façam alguns piedosos esforços para melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem, a situação não se alterou, no essencial, na primeira metade do Século XIX. Há todavia uma melhor compreensão humana dos problemas que tradicionalmente enfrentava a enfermagem, compreensão essa a que não será estranho o efeito de halo provocado pelo exemplo heróico e pioneiro de Florence Nightingale (1820-1910).

Mesmo nos próprios provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa, não há referência às irmãs de caridade (a não ser enquanto seres assexuados). Em geral, os frades são mais zurzidos do que as freiras nestas representações sociais estereotipadas que são os provérbios, embora o tradicional anticlericalismo também aqui esteja mesclado de atitudes misóginas e sexistas (Quadro XIV):
  • "Frade e mulher - duas garras do diabo";
  • "Frade, freira e mulher rezadeira - três pessoas distintas e nenhuma verdadeira";
  • "Freiras e frieiras, é coçá-las e deixá-las";
  • "Pregar a padres, confessar freiras e expulsar cães é perder o tempo e o trabalho";
  • "Quando a abadessa é careca as freiras são pouco encabeladas";
  • "Quanto mais beata mais coirata".

Sobre a mulher, há inúmeros provérbios, todos eles reveladores de uma mentalidade predadora e doentia, alimentada pelo mito judaico-cristão do pecado original, e que vê nela um ser desprezível mas diabólico:
  • "Da cintura para baixo não há mulher feia";
  • "De má mulher te guarda e da boa não fies nada";
  • "Debaixo da manta tanto faz a preta como a branca";
  • "Frade e mulher - duas garras do diabo";
  • "Frade, freira e mulher rezadeira - três pessoas distintas e nenhuma verdadeira";
  • "Mulher beata, mulher velhaca";
  • "Mulher doente, mulher para sempre";
  • "Mulher não se enceleira: ou se casa ou vai ser freira";
  • "Mulher se queixa, mulher se dói, enferma a mulher quando ela quer".

Em contrap
artida, são raras as referências às enfermeiras ou à enfermagem no feminino:
  • "Desejo de doente, visita de barbeiro, serviço de mulher";
  • "Foge da mulher que sabe latim e da burra que faz ‘im’…";
  • "Guarde-vos Deus de moça adivinha e de mulher latina";
  • "Há-de ser meu herdeiro quem for meu enfermeiro";
  • "Marta piedosa, mastiga o ovo aos enfermos";
  • "Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras".
O mito da enfermeira como anjo da guarda à cabeceira do doente, esse, vai ser uma construção social do romantismo inglês e da sociedade vitoriana, ao fazer de Florence Nightingale "the lady with the lamp" ou "the ministering angel". Na literatura portuguesa do Séc. XIX, vamos encontrar ecos desta heroína romântica em personagens como a Margarida, a mulher-anjo de As Pupilas do Senhor Reitor (Júlio Dinis, 1863):a

"Durante a moléstia [ que atingiu a sua madrasta, a mãe de Clara ], foi Margarida desvelada e incansável enfermeira, colhendo sempre, em paga dos seus carinhos, modos rudes e ásperos, expressões inequívocas da aversão que nunca deixara de sentir por ela. A heróica rapariga não afrouxava por isso na afectuosa caridade com que a tratava" (Dinis, 1986. 103. Itálicos meus).

Objecto

Provérbio

Freira     Frade

  • "Amores de freira, flores de amendoeira, cedo vêm e pouco duram"

  • "Antes casada arrependida que freira aborrecida"

  • "Em caso de necessidade casa a freira com o frade"

  • "Em traseira de mula e dianteira de frade ninguém se fie"

  • "Falas de santo, unhadas de gato"

  • "Freiras e frieiras, é coçá-las e deixá-las"

  • "Quando a abadessa é careca as freiras são pouco encabeladas"

  • "Quanto mais beata mais coirata"

  • "Para o tempo que hei-de estar no convento cago-lhe e mijo-lhe dentro"

  • "Por falta de um frade não vai a terro o convento"

  • "Pregar a padres, confessar freiras e expulsar cães é perder o tempo e o trabalho"

Mulher

  • " A mulher e a mula o pau as cura"

  • "A raposa tem sete manhas e a mulher a manha de sete raposas"

  • "Até aos vinte, evita a mulher; depois dos quarenta, foge dela"

  • "Com mulher louca, andem as mãos e cale-se a boca"

  • "Da cintura para baixo não há mulher feia"

  • "De má mulher te guarda e da boa não fies nada" (Séc. XVI)

  • "Debaixo da manta tanto faz a preta como a branca"

  • "Desejo de doente, visita de barbeiro, serviço de mulher"

  • "Dia de Santo André, quem não tem porcos mata a mulher"

  • "Foge da mulher que sabe latim e da burra que faz ‘im’…"

  • "Frade e mulher - duas garras do diabo"

  • "Frade, freira e mulher rezadeira - três pessoas distintas e nenhuma verdadeira"

  • "Hábito de frade e saia de mulher chega onde quer"

  • "Guarda-te do boi pela frente, do burro por detrás e da mulher por todos os lados"

  • "Guarde-vos Deus de moça adivinha e de mulher latina" (Séc.XVI)

  • "Mulher beata, mulher velhaca"

  • "Mulher doente, mulher para sempre"

  • "Mulher não se enceleira: ou se casa ou vai ser freira"

  • "Mulher se queixa, mulher se dói, enferma a mulher quando ela quer"

  • "Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras"

  • "O homem deve cheirar a pólvora e a mulher a incenso"

  • "Para perder a mulher e um tostão, a maior perda é a do dinheiro"

  • "Para se encontrar o Diabo não se precisa sair de casa"

  • "Três coisas mudam o homem: a mulher, o estudo e o vinho"

  • "Vaca triste e pançuda não presta e não muda"

Enfermeira/o Irmã/ão

  • "Desejo de doente, visita de barbeiro, serviço de mulher"

  • "Há-de ser meu herdeiro quem for meu enfermeiro"

  • "Marta piedosa, mastiga o ovo aos enfermos"


(Bibliografia a apresentar no final da série)

(Continua)
_______________


4 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"

20 de março de 2023 Guiné 61/74 - P24155: Manuscrito(s) (Luís Graça) (217): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIA: 'Deus Cura os Doentes e o Médico Recebe o Dinheiro"

17 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

sábado, 20 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras


A representação do nu na arte ocidental > Detalhe > "The Expulsion of Adam and Eve from the Garden of Paradise (Paradise Lost)" (c. 1867), de Alexandre Cabanet (1823- 889). Pintura a óleo. Coleção Musée d'Orsay, Paris. Imagem do domínio público. Cortesia de: Wikimedia Commons.


1. Começámos a publicar, desde de meados de março passado,  uma série de textos, da autoria do nosso editor Luís Graça, sobre as lições que se podem tirar dos provérbios populares portugueses, nomeadamente sobre a saúde, a doença, os hospitais, os prestadores de cuidados de saúde (médicos, cirurgiões, farmacêuticos, enfermeiros, terapeutas, etc.), mas também sobre a proteção e a promoção da saúde, incluindo a vida, o trabalho, o envelhecimento ativo e a "arte de bem morrer" (*)...

Às vezes quando a doença e a morte nos batem à porta, à minha, à da minha família, à dos meus amigos e camaradas mais próximos, é que eu me lembro que dediquei uma boa parta da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública... E dão-me saudades quando, sendo maios novo, escrevia sobre esses temas...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos (nós/vós) a pandemia de Covid-19, eis-nos  agora a fazer o luto pela perda recentes de pessoas que nos eram muito queridas. Daí a oportunidade  da publicação  deste textos que fomos (re)buscar ao nosso "baú", mas que não têm a ver, pelo menos diretamente, com a Guiné e a guerra que lá travámos... Ou terão,dependerá das "leituras" e dos "leitores"...

São textos que  com mais de 20 anos, que constavam da nossa antiga página na Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa (ENSP/NOVA). A págima foi recuperada pelo Arquivo.pt: Saúde e Trabalho - Luís Graça (página pessoal e profissional cuja criação remonta a 1999).

Contando com a complacència (sobretudo com a cumplicidade) dos nossos leitores,  esperamos, ao menos, que a sua leitura possa ter algum proveito. Para o nosso editor, é também uma forma de continuar a lidar com o seu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que çhe estão próximas.  

Por outro lado, o nosso blogue já atingiu, na Internet, a "terceira idade": fez 19 anos em 23 de abril p.p.  E tem que ser "alimentado" todos os dias, com pelo menos  três postes... Estes textos também funcionam como uma espécie de "tapa-buracos"... LG


Curiosamente, não há provérbios na língua portuguesa que tenham como objecto explícito a parteira ou a comadre, uma figura que durante séculos foi rival do padre e do médico, e cujo poder assentava na proibição, imposta aos homens, de assistir aos partos.

Os que chegaram até nós, vindos dos tempos medievos, têm mais a ver com o parto e têm a conotação bíblica da maldição divina, lançada sobre a mulher que se deixou seduzir pela serpente, comendo a maçã da árvore do paraíso e dando-a a seguir a comer ao homem: "Multiplicarei os sofrimentos do teu parto, darás à luz com dores" (Géneses, 3:16). Talvez por que este é um campo cheio de interditos ao homem ou por que os construtores de provérbios sejam misóginos e sexistas (Quadro XIII).

Gomes (1974. 10) chama, aliás, a atenção para "as correlações e assimilações tantas vezes existentes entre a mulher e o animal - a mulher, base da pirâmide na sociedade sacra-feudal, o animal enquanto utensílio rural e objecto agrícola".

Por outro lado, e como muito bem sublinha Joaquim (1983. 84), no seu ensaio sobre as práticas e crenças da gravidez, parto e pós-parto em Portugal, "o saber médico, científico, não pode perceber (...) a função que do ponto de vista individual, social, essas mulheres [ as parteiras ou aparadeiras ] tinham - elas rodeavam, permitiam o grito das mulheres como uma das maneiras da mulher poder ‘viajar’ no seu imaginário, nesse corpo-a-corpo, como momento de renascimento que é [ para ela ] deitar ao mundo, dar à luz".

Na sua História do pudor, Bologne (1996. 94) interroga-se sobre a aparentemente estranha razão de ser da ocultação do corpo, a qual irá abrir, na Idade Média, "um parêntesis de mil anos" (sic) na evolução do conhecimento e das técnicas terapêuticas.

Contrariando o provérbio Naturalia non turpa ("O que é natural não envergonha"), há um pudor médico que atravessa todo este período até ao Século XIX, o século burguês por excelência. De facto, entre as classes altas oitocentistas não só não é de bom tom como é socialmente reprovável uma mulher ir sozinha à consulta médica, devendo para tal fazer-se acompanhar do marido, promovido à condição de zeloso guardião das virtudes domésticas e intrépido defensor da moral pública e dos bons costumes.

Ironicamente, o mesmo século que interdita às mulheres o exercício da medicina ("não provam bem as senhoras que se metem a doutoras"), é também aquele que se deleita com o nu artístico romântico de um Delacroix ou a sensualidade requintada de um Ingrès mas não tolera o realismo de um Courbet (As banhistas, 1853) ou o impressionismo de um Manet (O almoço na relva, 1863, Olímpia, 1865).

A história das mentalidades ajuda-nos, por isso, a perceber melhor a divisão sexual (e sobretudo social) que ainda hoje atravessa o campo da prestação de cuidados médicos.

Reportando-nos à Idade Média, sabe-se que muitos dos primeiros físicos e cirurgiões estavam ligados ao clero regular. O ensino e a prática médicas, no Ocidente cristão medieval, é inseparável do desenvolvimento do monaquismo, tal como o hospital.

Mas o advento da universidade irá criar uma clivagem entre médicos e cirurgiões e, no caso destes últimos, entre cirurgiões religiosos e laicos. O próprio vestuário serve para acentuar as diferenças de estatuto, ontem como hoje: enquanto o cirurgião já trajava fato comprido, o barbeiro vestia um simples fato curto; ambos eram, todavia, a par do físico e dos restantes praticantes da arte médica classificados como oficiais mecânicos.

Muitos dos físicos e cirurgiões, na Península Ibérica, são judeus, e o seu número tende a aumentar à medida que a Igreja, através dos Concílios de Clermont (1130) e de Latrão (1179), interdita ao clero o direito de derramar sangue, o mesmo é dizer:

 (i) participar em actividades bélicas:
 (ii) praticar a cirurgia;
(iii) exercer a medicina;
(iv) em última análise, ver e tocar o corpo.

A cirurgia laiciza-se, ao mesmo tempo o cirurgião que se vê confinada a um estatuto social inferior ao do médico. 

"Tocar o corpo humano será até ao Renascimento um domínio reservado ao cirurgião, que lhe deve o nome. Só no Século XVI os professores de anatomia porão a mão no cadáver nos anfiteatros universitários: até aí, comentavam de cátedra as dissecações praticadas por um auxiliar..." (Bologne, 1996.94. Itálicos meus).

A medicina continuará a ser, por mais uns séculos, uma profissão sábia (savante, como dirão os franceses): historicamente, até finais do Século XIX. Mas já nos finais do Século XVII e princípios do Século XVIII, as coisas começam a mudar. A pouco e pouco, torna-se também uma profissão consultante.

A partir de Boherhaven (mestre do nosso Ribeiro Sanches) e da sua abordagem clínica do corpo, em Leiden, na Holanda (veja-se o seu fabuloso museu da ciência e da medicina), começamos a ver o médico sentado à cabeceira do (ou debruçado sobre o) doente. Por outro lado, o hospital continuará a ser até tarde (até à II Guerra Mundial, pelo menos) um lugar de passagem para o médico.

Já na antiguidade clássica, o estatuto social do médico não era elevado; entre os cidadãos romanos, a arte de curar estava longe de ser considerada uma profissão digna, sendo muitas vezes exercida por escravos ou por pessoal doméstico;

Só por volta do Século II a. C. é que os médicos, sobretudo os de origem grega (os asclepíades), se tornam populares, famosos e até ricos: foi o caso do já citado Galeno (200-130 a.C.), natural da Ásia Menor, que obteve a cidadania romana e foi médico da corte imperial, constituindo com Hipócrates a grande referência médica da Antiguidade Clássica ("Hipócrates diz que sim, Galeno diz que não");

O estatuto do cirurgião, esse, continuará a ser ainda mais baixo do que o do médico, mesmo entre os árabes. O único árabe que, de resto, deixou um volumoso tratado sobre cirurgia foi Albucassis (936-1013), do califado de Córdova.

A proibição da dissecação de cadáveres, tanto entre os judeus como entre os cristãos e os muçulmanos (os crentes das três principais religiões monoteístas), não permitiu o desenvolvimento dos conhecimentos e técnicas cirúrgicas que, durante muitos séculos, se circunscreveram aos ensinamentos greco-romanos.

Com os romanos, a cirurgia militar tinha feito alguns notáveis progressos, que serão depois retomados no Renascimento. No Séc. XVI, o francês A. Paré (1510-1590) vem melhorar os bárbaros métodos de amputação até então utilizados, ao inventar o penso e idealizar a laqueação vascular, em substituição da cauterização das feridas com óleo a ferver ou ferro em brasa em caso de amputação (Sournia, 1995. 164-167).

Mas a própria cirurgia ressentia-se da proibição, mais acentuada depois do Século XIV, de dissecar cadáveres, "uma outra forma de pudor", segundo Bologne (1996. 95), o qual, no entanto, relativiza essa proibição, dizendo que se trataria mais de um respeito (primordialmente cristão) pela dignidade do ser humano do que uma interdição, propriamente dita, imposta por Roma, apesar da força que tinha então um édito papal (o de Bonifácio I).

Como sucedâneo dos estudos de anatomia humana, passa-se a recorrer à autópsia, ao embalsamamento e à vivissecção de animais ou até mesmo à dissecação de cadáveres, furtivamente exumados e roubados nos cemitérios ou simplesmente descidos do cadafalso.

Será preciso, todavia, esperar pelo Renascimento para que a paixão pelo estudo anatómico do corpo humano se sobreponha ao pudor imposto pela religião. A medicina alia-se então à arte. Cite-se o exemplo, por demais conhecido, da intensa colaboração entre Leornardo Da Vinci e o anatomista Marco Antonio della Torre. Outros grandes artistas, como Miguel Ângelo, Dürer ou até Veronese dedicaram-se ao estudo da anatomia. A arte acaba por influenciar o próprio nu médico.



Página 178 do livro de Andres Vesalius (1514-1564), completado em 1543, "De Humani Corporis Fabrica" (em português, Sobre a Organização do Corpo Humano), um verdadeiro atlas da anatomia do corpo humano, dividido em sete capítulos, baseado no conhecimento da dissecação de cadáveres e fabulosamente ilustrado. (Não parece ter hoje fundamento a sua alegada condenação à morte pela Santa Inquisição.) Imagem do domíniuo público. Cortesia de Wilimeda Commons.


Em jeito de síntese, pode dizer-se no Século XVI assistiu-se a uma verdadeira explosão do nu representado, logo seguida de reacções de pudor na época da Contra-Reforma:

  • Sinal dos tempos, na segunda edição (1555) da magnífica obra de Vesálio De humani corporis fabrica [ Tratado sobre o funcionamento do corpo humano], o seu célebre frontispício foi censurado;
  • No espaço de doze anos (a primeira edição é de 1543), o pudor voltou a ditar as regras: era intolerável que num livro de medicina aparecesse um jovem efebo despido;
  • Em suma, "o anatomista deu ao pintor a sua visão dessexualizada da nudez" mas a sociedade apressou-se a dizer ao médico "que o nu não era inocente", contrariando o provérbio Naturalia non turpa (Bologne, 1966. 97).

O pudor vai então entrar nos livros de medicina, a partir do Século XVII. Para ilustrar a anatomia do homem e da mulher, escolhe-se o Adão, com a sua parra, e a Eva com a sua delicada mão sobre o púbis. Em muitas gravuras de anatomia, o véu volta a cobrir o sexo do cadáver em cima da mesa de dissecação. Noutros casos, ainda mais ridículos, o cadáver está de ceroulas ou crescem-lhe flores à volta do sexo!

É uma situação tanto mais paradoxal - comenta Bologne (1996. 99), "quanto a época clássica, que voltou a vestir as pranchas anatómicas, vulgarizou o estudo da anatomia, multiplicando as aulas públicas". A anatomia torna-se um assunto mundano: "Nos salões, é de bom tom apadrinhar sociedades eruditas em que as damas seguem cursos de anatomia. Mas é altura de lhe vigiar a linguagem e a matéria".

Este paradoxo terá o seu triunfo no Século XIX: 

"O século que admite - com um sorriso cúmplice - que uma mulher pose nua para um pintor tolera mal que ela se dispa perante o seu médico". 

É também o século que, como já o dissemos, interdita às mulheres a prática da medicina.

Ao longo da Idade Média e, depois no Antigo Regime, a prática da medicina não estava teoricamente interdita às mulheres. Mas a partir do momento em que o diploma universitário passou a ser obrigatório para o exercício da profissão, o número de mulheres médicas (que nunca fora grande) tenderá a diminuir.

Quanto à cirurgia, há um decreto de Luís XV, de 19 de Abril de 1755, que em nome do pudor masculino vem proibir às mulheres "a qualidade de endireitas ou dentistas e de qualquer outra parte da cirurgia, excepto a relativa aos partos" (cit. por Bologne, 1966. 100. Itálico meu).

É também a partir do Século XVII que o médico se começa a intrometer na esfera da moral e dos costumes, tendência mais generalizada no Séc. XVIII, tanto antes como depois da Revolução Francesa. Em nome das Luzes, ele acaba por dar caução aos discursos moralizadores da sua época ou por impor um discurso normativo, seja a propósito da histeria feminina, do onanismo, das doenças venéreas, das relações sexuais durante a gravidez, dos caprichos da moda como o uso do espartilho de barbas de baleia, da limpeza do corpo e da casa, da alimentação, do crime e da loucura, ou simplesmente da querela entre parteiros e parteiras (Barbaut, 1991).

O poder societal do médico vai-se alargando, e curiosamente a partir duma questão-tabu que era então a indissolubilidade do casamento

Para os teólogos da Igreja, nada podia separar um homem e uma mulher que Deus unira para sempre. Havia apenas uma excepção: a partir do Século XII, a impotência e a frigidez passam a ser reconhecida como "impedimento dirimente do casamento". Mas a obtenção da prova não era fácil...

No Séc. XVI surge a famosa "prova do congresso" (Belogne, 1996. 103): O Parlamento de Paris irá considerá-la "inútil e infamante" em 1677:

  • O termo designava "as juntas públicas, em que um marido suspeito de impotência tem de provar perante médicos e comadres que a acusação é caluniosa";
  • A "prova do congresso" é então abolida em nome dos bons costumes, da religião e da natureza, e sobretudo devido aos abusos a que até então se prestava;
  • Acabou por ser substituída por outras provas, não menos arbitrárias e humilhantes, como a da "erecção", da "tensão elástica", da "ejaculação", etc.

O que importa sublinhar é o papel que as comadres e os médicos desempenham na "prova do congresso":

  • a pedido da justiça, o médico limitava-se a um exame pericial dos órgãos genitais do marido da queixosa;
  • cabia depois à comadre ("sage-femme") preparar as condições e o clima propício para a consumação do acto sexual, em geral na alcova conjugal ou num estabelecimento de banhos;
  • a comadre funcionava sobretudo como testemunha presencial; por respeito ao pudor feminino, o médico ficava à porta da alcova ou por detrás de um biombo; no fim, a comadre relatava ao médico as suas observações;
  • com base no seu exame pericial prévio e sobretudo do testemunho presencial da comadre, o médico fazia o seu relatório e entregava-o depois aos tribunais; 
  • é possível que comece aqui a história da medicina forense ou, pelo menos, do recurso à autoridade do médico como perito legal;
  • e julgamos que é também a patir daqui que se grafa a palavra "congresso" (por exemplo, médico) para designar uma reunião de peritos numa dada matéria (por exmplo, "congresso médeico")...

A partir de 1677, as parteiras deixam de ser admitidas em peritagens exclusivamente masculinas, desta vez em nome do pudor masculino mas sobretudo porque o seu papel passava então a ser completamente inútil. O médico acabava assim de liquidar um dos seus mais poderosos adversários: a comadre, parteira ou sage femme (Barbaut, 1991).

Em que é que se fundava o poder da comadre ?

  • "A meio caminho entre a mulher ‘modesta’ e o homem sem pudor, aquela a quem a Idade Média chama eloquentemente ventrire parece um ser assexuado, dispensado do pudor natural do seu sexo;
  • "Nem o médico nem o cirurgião nem o padre sonham contestar-lhe um poder que muitas vezes invade as suas atribuições; com efeito, se a ventrire testemunha nos congressos, tem também uma palavra a dizer em casos de violação, de ruptura dos votos monásticos, assiste aos partos, baptiza as crianças em risco de morrerem à nascença, etc.". (Bologne, 1996. 107).

Médicos e cirurgiões começam a retirar clientela à sage femme que, por outro lado, se vê ameaçada com o aparecimento dos primeiros parteiros no reinado de Luís XIV. O povo, galhofeiro, chamava-os então "as comadres de ceroulas".

O greco-romano Sorano (98 a.C.-77) é considerado o "pai da obstetrícia e da ginecologia", com o seu tratado sobre as Doenças das Mulheres. É preciso esperar, no entanto, pelo Séc. XVII, para que estes dois domínios especializados da medicina conheçam alguns progressos assinaláveis (Lyons e Petrucelli, 1991):

  • O francês F. Mauriceau (1637-1704) escreve em 1668 o Tratado das doenças das mulheres grávidas; será com o holandês H. van Deveter (1651-1724) o fundador da moderna ginecologia, graças ao seu estudo da anatomia pélvica feminina;
  • Outro holandês R. de Graaf (1641-1673) descobre em 1673 o folículo do ovário; até então supunha-se, de acordo com Aristóteles, que o óvulo se formava no útero;
  • No campo da obstetrícia, há uma importante descoberta na última parte do Séc. XVI: o fórceps, utilizado pela família inglesa Chamberlain que o mantém, no entanto, em segredo durante gerações até ser objecto de vulgarização médica; a descoberta deve-se a P. Chamberlain, o Velho (1560-1631);
  • Entretanto, em 1752 o inglês W. Smellie (1697-1763) funda a obstetrícia moderna com Treatise on midwifery, descrevendo o trabalho de parto e de assistência ao parto.

Até ao Séc. XVII, era relativamente raro (e sobretudo perigoso) um homem assistir a um parto. Cita-se o caso de um cirurgião de Hamburgo, o Dr. Wert, que foi condenado à morte por satanismo (!) e executado em 1522 por ter tido a ousadia de assistir a um parto, disfarçado de parteira (Barbaut, 1991. 142). Mas os tempos vão mudar: eram frequentes os acidentes em partos difíceis, o que inquietava os médicos, já desde os tempos dos greco-romanos e, depois, dos árabes.

Até então a experiência da sage femme era mais relevante do que os conhecimentos na matéria, para além dos preconceitos morais e religiosos que afastavam o homem do leito da parturiente. Mas, no caso dos partos difíceis, era importante a força muscular. A solução deste velho problema irá ser um trunfo para o médico e o cirurgião, independentemente do estado da arte no domínio da ginecologia e da obstetrícia.

A morte, em consequência de parto, da duquesa de Orleães, em 1627, irá pôr em causa a reputação das parteiras da corte e alimentar durante mais de um século uma querela com os cirurgiões. Em 1633, é já um parteiro (o primeiro que se conhece em França) a assistir ao parto de um dos filhos bastardos de Luís XIV. 

Será, pois, pela "via uterina", a das amantes reais, que os cirurgiões passam a ter acesso à corte.

  • Mas nesta querela os médico irão, curiosamente, tomar o partido das parteiras contra os cirurgiões, por razões que estão longe de ser inocentes:

  • Em 1708, Philipe Hecquet publica um tratado que irá provocar celeuma: De l’indécence aux hommes d’accoucher les femmes;

O seu argumento linear contra os cirurgiões pode ser resumido nesta frase lapidar do preâmbulo do seu livro: "Esta profissão repugna à própria natureza, pois é contrária ao pudor que é natural nas mulheres " (cit. por Bologne, 1996. 111).

Parece então haver um recuo táctico. Ao parteiro ensina-se-lhe a tocar sem olhar. surgem os tratados obstétricos a recomendar o lençol estendido entre o pescoço do parteiro e a cintura da parturiente (1681) ou os tratados de ginecologia a ensinar como se deve proceder a uma exame completo debaixo do vestido da mulher (1822).

Dos maléficos ou estranhos poderes das mulher prenhada ainda chegarão ecos até ao nosso Séc. XX, obrigando o médico a relembrar o velho ditado latino Naturalia non turpia e a refrasear o velho juramento de Hipócrates que interditava ao praticante da arte de curar a sedução ou outras formas de envolvimento pessoal com os doentes, de ambos os sexos. 

Neste caso, efebos aparte (aa pederastia era aceite ou tolerada na antiguidade clássica, e nomeadamemte entre os gregos), "as mulheres que não julguem decente mostrar um pudor temeroso... Para um médico, por mais bem parecido que ele seja, a cliente é apenas uma ficha e uma ocasião de fazer bem. Ela que não espere outra coisa", escrevia em 1930 um ilustre médico francês (cit. por Bologne, 1996. 111).

Em conclusão: se, até ao Século XIX, repugnava à mulher confiar-se à mão do macho (o que para o sociobiólogo será devido a um qualquer determinismo genético), "o desaparecimento das comadres e a raridade das médicas acabou por impor a regra inversa: o obstétrico continua a ser o domínio onde [ ainda hoje ] a mulher é mais dificilmente aceite" (Bologne, 1996. 111).

Mas não terá sido tanto o pudor feminino como sobretudo a religião que impôs à medicina a ocultação do corpo. Só na época de Luís XIV é que o médico marca pontos em matéria de liberdade face ao corpo. É a época em que aparecem os parteiros mas também aquela que viu nascer o "pudor masculino" e em que as doenças venéreas se tornam "vergonhosas".

Por outro lado, a unificação da profissão médica ainda está muito longe de se realizar. Oficiais do mesmo ofício, médicos e cirurgiões vão continuar a digladiar-se até praticamente ao Séc. XX.

Quando comparados com os médicos, os cirurgiões no Antigo Regime continuam, todavia, a ser em menor número, com menos instrução, com menos rendimentos e sobretduo "menos apreciados pela sociedade", mas mesmo assim indispensáveis, tanto mais quanto os homens da arte (os médicos) detêm o savoir mas não o savoir-faire;

De facto, o médico do Século das Luzes continua a "não saber colocar uma ligadura, reduzir uma luxação, fazer a incisão de um abcesso, imobilizar uma fractura ou extirpar um tumor" (Sournia, 1995. 217), tarefas menos nobres da arte de curar que são relegadas para o barbeiro e o cirurgião.


Quadro XIII - Provérbios e outros lugares comuns 
da língua portuguesa sobre a gravidez e o parto

    Objecto

    Provérbio

    Gravidez Maternidade Parto Puerpério

     

    • "A dor ensina a parir"
    • "À mulher parida e à teia urdida não lhe falta guarida"
    • "À mulher prenha só lhe vem doença e manha"
    • "As cadelas apressadas parem cães tortos"
    • "Casei, matei, pari, pulei"
    • "Em casa de paridas ou doentes, o assento não esquentes"
    • "Filho do meirinho com parteira"
    • "Filho sem dor, mãe sem amor"
    • "Mal casada é a mulher que não pare"
    • "Mau parto, filho ao cabo"
    • "Mulher parida, nem farta nem limpa"
    • "Mulher que se casa em dia de Sant'Ana morre de parto"
    • "Não há madre como a que pare"
    • "Não há parto sem dor"
    • "Não me pesa de meu filho enfermar senão pelo costume que lhe há-de ficar"
    • "Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras"
    • "Parir é dor e criar é amor"
    • "Parir sem dor, criar sem amor"
    • "Pariu aqui a galega ?"
    • "Parto inchado, parto abençoado"
    • "Parto ruim, filha no fim"
    • "Pesar de quem me pariu" (Séc. XVI)
    • "Quinze dias na cama e quinze no lar - depois, mulher, vai trabalhar"

Em termos de estatuto, os médicos continuam a estar, apesar de tudo, abaixo dos juristas e do alto funcionalismo do Estado absolutista ou da sociedade senhorial do Ancien Régime, embora já pertençam ao mesmo grupo social em ascensão (que são os letrados, os clercs, em francês):

  • Contudo, em França, os cirurgiões irão dar um passo importante no sentido do seu reconhecimento, ao ser criada a Academia Real de Cirurgia (em 1737);
  • E, não obstante a feroz oposição da conservadora Faculdade de Medicina de Paris, passam inclusivamente a ter assento na Société Royale de Médecine, criada em 1778;
  • Aliás, já em 1723, por decreto real de 23 de Abril, era reconhecida em França a profissão de cirurgia.

Na Grã-Bretanha, o escocês J. Hunter (1728-1793) funda a anatomia comparada; em Observations on certain parts of the animal oeconomy (1786) estudou a anatomia do corpo humano, comparando-a com a de outras espécies animais;
  • Além disso, coleccionou ao longo da vida mais de 10 mil espécies anatómicas, muitas delas tecidos macios conservados em álcool;
  • Deu igualmente um importante contributo para a cirurgia militar com Treatise on the blood: Inflammation and gunshot wounds (1794);
  • No último quartel do Séc. XVII tinham, entretanto, surgido os primeiros jornais médicos, em França (1679) e na Inglaterra (1684).

No nosso caso, sabe-se que às parteiras já lhes também exigido carta ou registo de actividade (pelo menos no caso da cidade de Lisboa). Todavia, o exame obrigatório perante o cirurgião-mor só será exigido às parteiras no Século XVII, de acordo com o estipulado no respectivo Regimento de 12 de Dezembro de 1631 (Lemos, 1881, cit. por Joaquim, 1983. 84-85).

Esse exame passaria a ser extensiva também aos sangradores, algebristas e dentistas, em como a outros indivíduos com conhecimentos particulares (endireitas, etc.). "É evidente que estas parteiras tinham um papel diminuto e actuavam somente nas cidades; nos campos continuavam a assistir aos partos as aparadeiras" (Joaquim, 1983. 85).

É também nesta época que aparecem os primeiros esboços de tratados ginecológicos, obstétricos e pediátricos, entre nós, geralmente sob a forma de capítulos de livros dedicados à vulgarização da medicina:

  • "Tratado único das doenças particulares das mulheres"; "Do regimento que devem guardar as prenhadas para bem parir", in Luz da Medicina Pratica, Racional e Methodica, Guia de Enfermeiros Dividia em Tres Partes (...) de F. Morato Roma (Lisboa, 1664);
  • "Tratado da feliz parida", in Arte com Vida, ou Vida com Arte, Muy Curiosa e Proveitosa não só a Medicos, e Cirugioens, mas ainda a Toda a Pessoa de Qualquer Estado, ou Condição, Que Seja, principalmente dos Casados (...), de Manuel da Silva Leitão (Lisboa, 1738);
  • Atalaya da Vida contra as Hostilidades da Morte, de João Curvo Semedo (Lisboa, 1720).

Segundo Joaquim (1983. 85), o aparecimento destas obras seria um sintoma de "uma preocupação que começa a existir [ no Antigo Regime ] pelo modo como o parto se desenrola e pelas práticas que são utilizadas". Mas, ao mesmo tempo, este interesse seria também revelador da preocupação e intenção de as "submeter a um certo controlo médico":

O autor do Tratado da Feliz Parida é explícito na sua intenção de levar as luzes do conhecimento médico à população rural: 
  • "Não he mais que acodir [...] aos desamparados dos Médicos, aos quais vivem fora das povoações para que possam acodir à sua necessiade, & não morrerem à míngoa, não sabendo o que devem fazer, nem terem ordem para o consultar" (Roma, 1664. 317, cit. por Joaquim, 1983. 85);
  • De F. Mourato Roma (1588-1668), sabe-se que foi médico da câmara de D.João IV e de D.Afonso VI;
  • Da sua Luz da Medicina diz Lemos (1991, Vol. II. 35-36) que "se destinava a indivíduos de poucos conhecimentos médicos", que se limitava a "um resumo das doutrinas de Hipócrates, Galeno, etc., sobre os diversos capítulos da patologia", e que continha "raríssimas notas pessoais", de interesse clínico;
  • Por sua vez, M. Silva Leitão (1682-1757), médico do Hospital Real de Todos os Santos, também não se afastaria muito da vulgata galénica; o seu livro não passa de "um tratado de Higiene, aplicável sobretudo às mulheres paridas", que não contem "novidades dignas de apreço", para além de "alguns preceitos aproveitáveis" (Lemos (1991, Vol. II. 145).

Por fim, o terceiro autor referido por Joaquim (1983), J. Curvo Semedo (1635-1719), não passaria hoje de um simples caso de charlatanismo; na conceituada opinião de Lemos (1991, Vol. II. 129): o seu Atalaya da Vida seria "um livro deplorável", onde se apregoam a cada passo "medicamentos asquerosos", verdadeiras panaceias que eram vendidos pelo autor "por bom dinheiro"; curiosamente, Semedo era um dos médicos mais reputados do seu tempo, tendo sido médico da Casa Real.

(Bibliografia a apresentar no final da série)

(Continua)
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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

20 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24328: Manuscrito(s) (Luís Graça) (225): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IVA: Não provam bem as senhoras que se metem a doutoras

4 de maio de  2023 > Guiné 61/74 - P24281: Manuscrito(s) (Luís Graça) (223): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte III C: Contestação da Iatrogénese, da Medicina Defensiva e do Encarniçamento Terapêutico

 3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24189: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles? - Parte IIIB: Quando o pobre come frango, um dos dois está doente

28 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24173: Manuscrito(s) (Luís Graça) (220): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIIA: Hospital, o triunfo da hospitalidade e da caridade... mas "o peixe e o hóspede ao fim de três dias fedem"

23 de março de 2023 > 
Guiné 61/74 - P24164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (218): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte IIB: "Com malvas e água fria faz-se um boticário num dia"