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domingo, 15 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15371: Álbum fotográfico de Alfredo Reis (ex-alf mil, CART 1690, Geba, 1967/69) (1): Eu e o meu pelotão em Cantacunda (Parte I)


Foto nº 1 > O Alf mil Alfredo Reis




Foto nº 2


Foto nº 3 > P Alf mil Alfredo Reis, ao centro


Foto nº 4  > O régulo e uma das esposas. [Julgo que o regulado era o de Manganã, 



Foto nº 5



Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8



Fotos: © Alfredo Reis / A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1.  As fotos são do ex-Alf Mil Alfredo Reis que, tal como o António Moreira, o Domingos Maçarico e o A. Marques Lopes, era da CART 1690.

Os quatro figuram na lista dos membros da nossa Tabanca Grande. O Alfredo Reis é veterinário, reformado, vivendo em Santarém.

As fotos chegaram-nos por intermédio do A. Marques Lopes. (Não é claro, para os editores, quem é autor das legendas, mas esperamos que o A. Marques Lopes ou o Alfredo Reis nos esclareçam posteriormente).

Além da sede (Geba), o Alfredo Reis esteve nos destacamentos, alguns dos quais, como Banjara e Cantacunda, eram os piores "buracos" do CTIG na época.  (LG)





Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... Ao fundo, estão o Domingos Maçarico, à esquerda, e o Alfredo Reis, à direita. Em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita. Com os quatro juntos, a CART 1690 faz o pleno em matéria de alferes milicianos... (LG)


Foto: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.


(,,,) Mensagem, de Janeiro de 2008, do nosso querido camarigo A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf, CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) (1967/69) (*):

(...) Tenho-vos falado muitas vezes da CART 1690, sobre a qual há alguns postes no blogue da Tabanca Grande. Já fiz também referência aos alferes que por ela passaram. Mas quero, agora, falar-vos mais em pormenor destes gloriosos alferes, que é como nós próprios nos designamos, porque a nossa glória é continuarmos juntos. É bom que os conheçam pessoalmente. Aqui estão eles, num jantar do Natal de 2007, em Lisboa:

(i) O Domingos Maçarico (ainda um parente afastado do Luís Graça...), nascido na Praia de Mira, é engenheiro agrónomo e membro da Administração do Grupo Espírito Santo;

(ii) o Alfredo Reis, de Santarém, é veterinário e está reformado (embora pratique ainda);

(iii) o António Moreira, de Idanha-a-Nova, é advogado em Torres Vedras e [fez parte, no triénio de 2008/2010] do Conselho Geral da Ordem dos Advogados;

(iv) o A. Marques Lopes é, como sabem, coronel reformado [, fazendo parte dos primeiros cinco primeiros membros da nossa tertúlia, hoje Tabanca Grande: eu, o Sousa de Castro, o Humberto Reis, o A. Marques Lopes e o David Guimarães, por esta ordem cronológica]...

Como todos, também temos a nossa história.

Jovens e estudantes - o Domingos Maçarico no, então, Instituto de Agronomia de Lisboa (conheceu lá o Pepito), o Alfredo Reis no Instituto de Veterinária de Lisboa, também assim chamado então, o António Moreira na Faculdade de Direito de Lisboa e o A. Marques Lopes na Faculdade de Letras de Lisboa - fomos apanhados para frequentar, em Janeiro de 1966, o Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra.

De lá saímos, em Julho desse ano, como Atiradores de Infantaria. Andanças por vários lados, a seguir (Lamego, Amadora...), e tornámos a encontrar-nos no RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa), que nos mobilizou para a Guiné, a 4 de Dezembro de 1966.

De 6 de Dezembro deste ano a 23 de Fevereiro de 1967 estivemos no GAGA2 (Grupo de Artilharia Contra Aeronaves n.º 2) a dar a especialidade aos soldados da que foi designada CART 1690, e que foram connosco para a Guiné.

Passámos, depois, pelo RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, Carregueira, IAO... e embarcámos em 8 de Abril. Mas, antes, grandes patuscadas e farras tivemos juntos nos bares e baiúcas de Lisboa, acompanhados pelo capitão da companhia, o Guimarães [morto aos 29 na estrada de Geba-Banjara ...] Nessa fase cimentou-se a nossa amizade.

Desembarcados do Ana Mafalda para LDG, começou a Guiné, rio Geba acima. E ficámos em Geba. Eu fiquei na sede da companhia, às ordens do capitão e do Comando do Agrupamento. Eles foram distribuídos pelos destacamentos, por onde também passei, mas por pouco tempo. Já há coisas no blogue sobre Geba.

Em 21 de Agosto de 1967, fui ferido na estrada de Geba para Banjara e fui, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. O Domingos Maçarico foi ferido em 21 de Setembro de 1967, sendo igualmente evacuado para o HMP. O Alfredo Reis foi ferido na mesma altura, mas esteve apenas vários dias no hospital em Bissau. O António Moreira nunca foi ferido. Ele e o Reis estiveram sempre na companhia, em Geba e destacamentos, até Outubro de 1968.

O Maçarico não voltou à Guiné. Eu voltei em Maio de 1968, mas fui colocado na CCAÇ 3, em Barro.

Depois da minha evacuação para o HMP, fui substituído na companhia pelo alferes Fernando da Costa Fernandes, que foi dado como desaparecido em campanha em 19 de Dezembro de 1967, durante a operação Invisível em Sinchã Jobel: O alferes Fernandes foi, depois, substituído pelo alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto, que foi morto em 8 de Setembro de 1968, durante um ataque ao destacamento de Sare Banda.

O Domingos Maçarico, depois de evacuado, foi substituído pelo alferes Orlando Joé Ribeiro Lourenço. Este voltou à metrópole são e salvo, mas nunca alinhou, nem nos encontros da companhia.

Somos nós os quatro, os sobreviventes, como também dizemos, que nos mantemos unidos entre nós e com os elementos da companhia. Com alguns intervalos, e eu explico a seguir.

Entre 1969 e 1974, os meus amigos e camaradas que estão comigo na fotografia, dedicaram-se a acabar os seus cursos e, depois, à vida pofissional, mantendo, embora, contactos entre si. Mas eu estive afastado deles durante esses anos (...).

(...) Há cerca de trinta anos que estes quatro ex-alferes, camaradas e amigos na Guiné, e antes dela, se encontram pelo menos quatro vezes por ano, além dos encontros da companhia. Temos ideias muito diferentes sobre certas coisas, cada um disparando, agora, para seu lado, mas a amizade cimentada na juventude e na guerra mantém-se e está acima de tudo. (...)

sábado, 6 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14707: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte III): Op Jigajoga 2, 31/8/1967, e Op Jacaré, 16/9/1967... Fotos de Banjara


Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... e todos eles membros da nossa Tabancca Grande: da esquerda para a direita,   o António Moreira, o Domingos Maçarico,  esquerda, o Alfredo Reis e o A. Marques Lopes,  O Domingos Maçariço foi gravemente ferido e evacuado para a metrópole no decurso da Op Jacaré,  16 de Setembro de 1967, na primeira tentativa (falhada) de assalto e destruição da base IN de Sinchã Jobel. 

Foto (e legenda) : © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.






Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara (vd. carta de 1956, escala 1/50 mil) > Foto nº 5 > 

O destacamento era constituído por: (i) uma caserna; (ii) quatro abrigos subterrâneos; e (iii) um posto de comando, que era uma casa abarracada, sem portas nem janelas... Tinha ainda outros abrigos à superfície. A envolver este destacamento, que no essencial era uma clareira circular com cerca de mil metros de diâmetro, havia duas fiadas de arame farpado paralelas e em círculo. As casas de banho, eram... a céu aberto. O capim era necessário cortá-lo de dois em dois meses, para evitar a aproximação camuflada do IN.


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > Geba > CART 1690 (1967/68) > Banjara  > Foto nº 4 >

Banjara ficava situada a cerca de 40/45  km de Geba e a cerca de 20 Km de Mansabá, na estrada Bissau-Bafatá. Ficava no coração da mata do Oio, e teve, antes da guerra colonial, uma unidade industrial de serração de madeiras. Pertencia, durante a guerra, à área de actuação da Companhia de Geba, do Batalhão de Bafatá.

Na época, passava por ser, a seguir a Beli, na zona de Madina do Boé, o piro sítio da Guiné...  Não apenas pelos ataques a que estava sujeito o destacamento como, e  sobretudo, pelo perigo que representava, por estar muito isolado da companhia, e por estar cercado por uma cintura de posições IN, que vigiavam facilmente, de fora do arame farpado e do alto das gigantescas árvores em redor, todos os movimentos da nossa tropa. Em termos de 'bases' IN tinha Sinchã Jobel do lado sul e Samba Culo do lado norte.




Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara  > Foto nº 6

A paisagem envolvente era de uma beleza indescritível, com dezenas de cajueiros, mangueiras, árvores gigantes, capim e as célebres lianas. O barulho ensurdecedor dos milhares de pássaros e a vozearia nocturna da mais variada bicharada, desde macacos a hienas, tornavam aquele ambiente um mistério todos os dias renovado.





Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 7 > A famosa fonte que saciava a sede, à vez, tanto das NT como do IN... A malta procurava lá ir a horas desencontradas...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 A> CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 12

Este destacamento tinha apenas uma coluna de reabastecimento por mês, no máximo, mas chegava a estar mais de 2 meses sem alimentos frescos e sem correio. Não havia população civil, apenas militares. A çaça era um recurso...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Gb, ea1967/68) > Banjara Foto nº 8 > Tudo o vinha à rede era peixe...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 >  CART 1690 (Gbea, 1967/68) > Banjara Foto nº 13 > Um valente javali...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 17 > Um dos nossos caçadores...



Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 2  >  Cobra, também se comia...




Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara Foto nº 20 >

O dia amanhecia, então, e, pelas 7 da manhã, iniciava-se a distribuição da 1ª refeição. As horas mortas do pessoal eram gastas, durante o dia, à caça, quando isso era possível e o capim estava seco e caído no chão, a jogar cartas, pôr a correspondência em dia e jogar futebol. O jogo de futebol era normalmente diário, mas sempre a horas diferentes, para não se cair na rotina, e sempre com os abrigos guarnecidos de atiradores.


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara > Foto nº 44 >  Às voltas com uma avaria na picada...


Guiné > Zona Leste > Setor L2 > CART 1690 (Geba, 1967/68) > Banjara > Foto nº 55

A guarnição deste destacamento, comandado por um Alferes, variava entre 60 a 80 homens, normalmente (houve alturas em que tinha só um pelotão), bem armados e disciplinados, capazes de aguentar debaixo de fogo uma boas dezenas de horas. O seu comando era rotativo e por lá passámos os mais longos meses da nossa juventude, então com 23 anos, e responsabilidades tremendas em cima dos galões de Alferes.

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

I. Continuação da publicação desta série, "Jogos de Cabra-Cega: Sincha Jobel",com a reedição de alguns postes do A. Marques Lopes, que tem por objeto central a descoerta e a tentativa de destruição, pelas NT, de Sinchã Jobel, uma base ("barraca") do PAIGC, em pleno coração da Guiné, na zona leste, no regulado de Mansomine, entre Mansambé e Geba. São os postes nº 35, 36, 39, 40, 45 e 763, originalmente inseridos na I Série, e como tal como lidos e conhecidos... Fizemos a revisão de texto (e atualizámos o texto de acordo com a ortografia em vigor). (*)


II. Jogos  de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte III): tentativa falhada de assalto e destruição da base IN


1. Depois da minha "descoberta involuntária", mas sem surpresa para alguns, iniciaram-se algumas operações mais elaboradas com o objectivo da destruição da base de Sinchã Jobel.

Era, como vos disse, uma antiga tabanca, já destruída, sendo agora uma clareira de cerca de 2.000 m2, cercada por uma mata densa, tendo a sul o Rio Gambiel, com água pelo peito e uma "ponte" submersa, isto é, dois troncos de palmeira debaixo de água, (quando fui para lá o meu guia indicou-ma, quando regressei, sem guia, tive de a descobrir); a oeste e a este tem várias bolanhas, uma delas mesmo perto da clareira (a tal onde durante a noite toda a minha vida me passou pelo pensamento); a norte, até Banjara, tem uma floresta muito densa e dezenas de poilões (há lá, na Guiné-Bissau de agora, uma serração).

Nas margens do rio Gambiel e das bolanhas os guerrilheiros tinham sentinelas; pelo lado de Banjara, a floresta impenetrável tornava o acesso impossível. É claro que a base de guerrilha não estava na clareira de Sinchã Jobel (nem antes dela, pois não a encontrei quando ia para lá) mas em algum local deste contexto que vos descrevo, para norte, muito bem situada e com ótimas condições de defesa.

Nesta fase, certamente ainda em início de implantação, é natural que os guerrilheiros só se manifestassem quando lhes parecesse conveniente (foi o que lhes pareceu quando viram trinta mecos a ir para lá...), por isso não se manifestaram nesta Operação Jigajoga 2. 

Além de que o seu principal objetivo era montar minas e emboscadas no itinerário Geba-Banjara e atacar os destacamentos. Mais tarde, quando fortalecidos e bem guarnecidos, creio que alargaram a sua ação até Mansabá e para o Xime e Xitole. Este enquadramento da base de Sinchã Jobel expliquei-o ao comandante do Agrupamento 1980, em Bafatá, mas, pelo que vão ver nos "próximos capítulos", não valeu de muito.


Op Jigajoga 2,  31 de Agosto de 1967:

"Situação particular:

O IN tem-se revelado a sul de Banjara, com mais intensidade nos regulados de Mansomine e Joladu. Em Sinchã Jobel possui uma base forte, que serve de apoio às suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do Setor, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Detecta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no setor, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afetadas.

- Armadilha os itinerários utilizados pelo IN.

"Força executante:

Dest A - CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); CCVA 1693 (1 Gr Comb); 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções); 1 PEL 109/CAÇ MIL 3

Dest B - CCS 1877 (1 Gr Comb) /CCS 1877 (1 Gr Comb); 1 PEL REC/EREC 1578.

"Desenrolar da acção:

"Em 31 de Agosto de 1967, pelas 4h30., iniciou-se a progressão a partir de Darsalame. Durante a progressão foi batida toda a zona do itinerário, procurando vestígios e/ou trilhos que indicassem a existência do IN.

"Pelas 09H00 aproximação de Sare Tamba, os cuidados de pesquisa redobraram no sentido de localizar e assaltar o possível acampamento IN. Batida toda a mata durante 2 horas onde se supunha existir o referido acampamento, não foi possível localizá-lo nem o IN se revelou.

"No deslocamento para o objetivo pelas 11h00 foi ouvido um disparo de espingarda tipo Muaser ao longe, não sendo possível determinar a sua direção. Continuada a batida foram encontrados restos de um camuflado IN, não sendo possível, porém, encontrar mais nada. Pelas 11h50 foram ouvidos muito ao longe alguns rebentamentos fora da zona de ação.

"Por parecer mais fácil passou-se a bolanha junto a Sinchã Bolo e a seguir o Rio Jago na direcção de Sucuta (Madina Fali) onde se chegou pelas 15h00. Fez-se uma paragem para se conferir pessoal e material, porque as bolanhas foram de difícil travessia e foi a coluna atacada por um enxame de abelhas durante a transposição da primeira bolanha.

"Reiniciada a progressão em direção a Sare Budi foi detetada pelas l6h00, em 1445 121.07H, 100 metros após a entrar na mata uma armadilha A/P a qual foi destruída pela Secção do PEL SAP/1877. Em Sare Budi no itinerário para Sare Madina foram montadas 2 armadilhas A/P cujo croqui será elaborado pelo Cmdt SAP/BCAÇ 1877.

"Continuando a progressão em direção a Sinchã Fero Demori, não foi possível montar mais armadilhas em virtude do adiantamento da hora e não ser possível determinar o itinerário de acesso ao interior do setor desta CART.

"A chegada a Sare Banda verificou-se às 19h30, seguindo em meios auto até Geba, o que se registou às 20h30, tendo regressado às suas unidades o Gr Comb / CCAÇ 1685 e o 1 PEL SAP / CCS 1877 (2 secções)".


2. Nesta altura, as cabeças pensantes do Comando de Agrupamento [sedeado em Bafatá, o Cmd Agr 1980, 1967/68] já teriam concluído, e tinham provavelmente informações, que a base se situava a seguir à clareira de Sinchã Jobel, para norte. Daí a presença de dois grupos da 5ª Companhia de Comandos para o eventual golpe de mão ao acampamento. 

Só que a guerrilha já se tinha também prevenido com minas A/P (já vistas na Op Jigajoga 2) e A/C como mais uma limitação no acesso à base e, ao mesmo tempo, um factor de alerta. Um dos feridos com o rebentamento de mina nesta operação foi o meu amigo (hoje eng agr  Domingos Maçarico, então alferes miliciano da CART 1690, que acabou por ser evacuado para o Hospital Militar Principal da Estrela, e anda agora com uma placa de platina na cabeça.


Op Jacaré,  16 de Setembro de 1967: 

"Situação particular:

"O IN tem-se revelado em operações realizadas nos regulados de Mansomine. Possui um acampamento forte em Sinchã Jobel que serve de base para as suas acções.

"Missão:

- Assegura a ocupação do sector, tendo em atenção os regulados da faixa Oeste e as linhas de infiltração que conduzem ao interior.

- Deteta, vigia ou captura elementos ou grupos suspeitos de subversão que se hajam infiltrado ou constituído no sector, impedindo que a subversão alastre.

- Captura ou aniquila os rebeldes que se venham a revelar, destruindo as suas instalações ou meios de vida e restabelece a autoridade e a ordem nas regiões afectadas.

"Força executante:

Dest A - CCAV 1650 (-); CART 1690 (2 Gr Comb); CCAÇ 1685 (1 Gr Comb); PEL MIL 111/C MIL 3

Dest B - 01 PEL REC / EREC 1578.

Dest C - 2 Gr  COMANDOS [,5ª CCmds]

Dest D - 1 Gr. Comb /CCS/BCAÇ 1877.

Dest E - 1 Secção / AML 1143.

Dest F - 1 Secção / AML 1143.

"Desenrolar da ação:

"Em 16 de Setembro de 1967, pelas 6h30, o Dest A menos o PEL MIL / C MIL 5 deslocou-se em meios auto em direção a Cheuel. Após a saída de Geba uma viatura avariou, sendo o pessoal distribuído pelas outras viaturas que constituíam a coluna.

"Cerca das 08h00, uma mina anticarro destruiu a terceira viatura da coluna a cem metros de Chuel, projetando os ocupantes, dos quais 8 foram evacuados por heli para o Hospital Militar 241, tendo os restantes ficado em condições de não prosseguir a operação, o mesmo acontecendo, com outros que ao saltar das viaturas se haviam magoado.

"Montada a segurança aos feridos e viaturas, procedeu-se a escolha e preparação do campo de aterragem para o heli que imediatamente fora pedido pelo PCV [posto de controlo volante] que na altura nos sobrevoava. Posta a situação ao PCV, quanto a baixas, foi ordenado ao Dest A para regressar ao quartel depois de evacuar as viaturas, e onde chegou pelas 17h00.

"Devido à quebra do segredo foi ordenado pelo cmdt AGRUP 1980 o cancelamento da operação.»

____________________

Notas do editor:

Vd. postes anteriores da série:

3 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14695: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte I): Op Jigajoga, 24 de junho de 1967, o meu dia de São João

5 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14700: Os jogos de cabra-cega: Sinchã Jobel (A. Marques Lopes) (Parte II): Depois de uma noite, perdido, na bolanha, de 24 para 25 de junho de 1967, "é tão bom estar vivo e saber onde estou e o que quero!... Bora, Braima, bora, rapaziada, toca a sair daqui"...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7770: Tabanca Grande (267): Os 4 magníficos da CART 1690: Alfredo Reis, António Moreira, Domingos Maçarico e A. Marques Lopes


Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos... Ao fundo, estão o Domingos Maçarico, à esquerda, e o Alfredo Reis, à direita. Em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita. Pela colaboração com o nosso blogue, o Alfredo Reis e o António Moreira já há muito que deviam figurar na lista dos membros da nossa Tabanca Grande, a partir do histórico A. Marques Lopes e do Domingos Maçarico... Esse lapso já foi corrigido, fazendo-se justiça... Comos quatro agora juntos, a CART 1690 faz o pleno em matéria de alferes milicianos... (LG)


Foto: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.


1. Volta aqui a reeproduzir-se a mensagem, de Janeiro de 2008,  do nosso querido camarigo  A. Marques Lopes, ex- Alf Mil At Inf, CART 1690 (Geba) / CCAÇ 3 (Barro) (1967/69) (*): 


Caros camaradas:

Tenho-vos falado muitas vezes da CART 1690, sobre a qual há alguns postes no blogue da Tabanca Grande. Já fiz também referência aos alferes que por ela passaram. Mas quero, agora, falar-vos mais em pormenor destes gloriosos alferes, que é como nós próprios nos designamos, porque a nossa glória é continuarmos juntos. É bom que os conheçam pessoalmente. Aqui estão eles, num jantar do Natal de 2007, em Lisboa:

(i) O Domingos Maçarico (ainda um parente afastado do Luís Graça...), nascido na Praia de Mira, é engenheiro agrónomo e membro da Administração do Grupo Espírito Santo;

(ii) o Alfredo Reis, de Santarém, é veterinário e está reformado (embora pratique ainda);

(iii) o António Moreira, de Idanha-a-Nova, é advogado em Torres Vedras e [fez parte, no triénio de 2008/2010] do Conselho Geral da Ordem dos Advogados;

(iv) o A. Marques Lopes é, como sabem, coronel reformado [, fazendo parte dos primeiros cinco primeiros membros da nossa tertúlia, hoje Tabanca Grande: eu, o Sousa de Castro, o Humberto Reis, o A. Marques Lopes e o David Guimarães, por esta ordem cronológica]...

Como todos, também temos a nossa história.

Jovens e estudantes - o Domingos Maçarico no, então, Instituto de Agronomia de Lisboa (conheceu lá o Pepito), o Alfredo Reis no Instituto de Veterinária de Lisboa, também assim chamado então, o António Moreira na Faculdade de Direito de Lisboa e o A. Marques Lopes na Faculdade de Letras de Lisboa - fomos apanhados para frequentar, em Janeiro de 1966, o Curso de Oficiais Milicianos,  em Mafra.

De lá saímos, em Julho desse ano, como Atiradores de Infantaria. Andanças por vários lados, a seguir (Lamego, Amadora...), e tornámos a encontrar-nos no RALIS (Regimento de Artilharia de Lisboa), que nos mobilizou para a Guiné, a 4 de Dezembro de 1966.

De 6 de Dezembro deste ano a 23 de Fevereiro de 1967 estivemos no GAGA2 (Grupo de Artilharia Contra Aeronaves n.º 2) a dar a especialidade aos soldados da que foi designada CART 1690, e que foram connosco para a Guiné.

Passámos, depois, pelo RAC (Regimento de Artilharia de Costa) de Oeiras, Carregueira, IAO... e embarcámos em 8 de Abril. Mas, antes, grandes patuscadas e farras tivemos juntos nos bares e baiúcas de Lisboa, acompanhados pelo capitão da companhia, o Guimarães [morto aos 29 na estrada de Geba-Banjara ...] Nessa fase cimentou-se a nossa amizade.

Desembarcados do Ana Mafalda  para LDG, começou a Guiné, rio Geba acima. E ficámos em Geba. Eu fiquei na sede da companhia, às ordens do capitão e do Comando do Agrupamento. Eles foram distribuídos pelos destacamentos, por onde também passei, mas por pouco tempo. Já há coisas no blogue sobre Geba.

Em 21 de Agosto de 1967, fui ferido na estrada de Geba para Banjara e fui, uma semana depois, evacuado para o HMP, em Lisboa. O Domingos Maçarico foi ferido em 21 de Setembro de 1967, sendo igualmente evacuado para o HMP. O Alfredo Reis foi ferido na mesma altura, mas esteve apenas vários dias no hospital em Bissau. O António Moreira nunca foi ferido. Ele e o Reis estiveram sempre na companhia, em Geba e destacamentos, até Outubro de 1968.

O Maçarico não voltou à Guiné. Eu voltei em Maio de 1968, mas fui colocado na CCAÇ 3, em Barro.

Depois da minha evacuação para o HMP, fui substituído na companhia pelo alferes Fernando da Costa Fernandes, que foi dado como desaparecido em campanha em 19 de Dezembro de 1967, durante a operação Invisível em Sinchã Jobel: O alferes Fernandes foi, depois, substituído pelo alferes Carlos Alberto Trindade Peixoto, que foi morto em 8 de Setembro de 1968, durante um ataque ao destacamento de Sare Banda.

O Domingos Maçarico, depois de evacuado, foi substituído pelo alferes Orlando Joé Ribeiro Lourenço. Este voltou à metrópole são e salvo, mas nunca alinhou, nem nos encontros da companhia.

Somos nós os quatro, os sobreviventes, como também dizemos, que nos mantemos unidos entre nós e com os elementos da companhia. Com alguns intervalos, e eu explico a seguir.

Entre 1969 e 1974, os meus amigos e camaradas que estão comigo na fotografia, dedicaram-se a acabar os seus cursos e, depois, à vida pofissional, mantendo, embora, contactos entre si. Mas eu estive afastado deles durante esses anos, pois decidi afastar-me de qualquer actividade normal e pública, não os podendo contactar (é outra história que não cabe aqui).

A seguir ao 25 de Abril, foi o Maçarico que esteve afastado, pois acompanhou a família Espírito Santo quando eles foram para o Brasil. E, nesses primeiros anos após a revolução, também eu andei afastado, devido ao meu empenhamento nessa fase.

Mas, passado tudo isso, há cerca de trinta anos que estes quatro ex-alferes, camaradas e amigos na Guiné, e antes dela, se encontram pelo menos quatro vezes por ano, além dos encontros da companhia. Temos ideias muito diferentes sobre certas coisas, cada um disparando, agora, para seu lado, mas a amizade cimentada na juventude e na guerra mantém-se e está acima de tudo.

Queria dizer-vos isto, porque penso que, no nosso blogue, deve-nos unir o que vivemos e passámos, e vão a amizade e a compreensão.

Abraço

A. Marques Lopes




Letra da canção vencedora do Festival da Canção RTP, em 1967, interpretada por Eduardo Nascimento... Na CART 1690  (Geba, 1967/69),  tão duramente castigada pela guerra, cultivava-se a irreverência e o humor negro... Este documento, que me foi enviado, pelo A. Marques Lopes, é um bom exemplo do humor de caserna...

Fonte: © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados.


2. Comentário de L.G.:

Meu caro António: Preciso dos endereços de e-mail dos nossos novos camarigos... A actualização da  lista de membros da nossa Tabanca Grande, com a inclusão dos seus nomes, é um acto de justiça que peca por tardia... Mas quero que todos saibam quanto eu aprecio este exemplo, raro, de 4 amigos que se transformaram em camarigos e que continuam a juntar-se, todos os anos, tendo a Guiné como traço de união, e cuja camarigagem resiste aos altos e baixos da vida e supera as naturais divergências de opinião,  político-ideológicas ou outras, que possam existir (e existem) entre eles... Um Alfa Bravo do tamanho do Rio Geba para vocês quatro.
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2424: Álbum das Glórias (37): Os alferes da CART 1690 ou uma estória de amizade e camaradagem a toda a prova (A. Marques Lopes)


Último poste da série > 9 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7747: Tabanca Grande (266): Nuno Dempster, autor do poema K3, agora publicado em livro, ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 1792 (Saliquinhedim/K3, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, 1967/69)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4159: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (4): Mais fotos do ronco da Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > Tabanca de Matosinhos > 8 de Abril de 2009 > De costas, o Zé Manel, que veio da Régua; em frente, da esquerda para a direita, a Alice, de férias no Norte , a Dina e o marido Carlos Vinhal, o nosso actual editor em chefe...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O tradicional almoço das 4ªas feiras da Tabanca de Matosinhos > Em primeiro plano , o A. Marques Lopes que me fez uma surpresa: trouxe-me o Domingos Maçarico, que pertence ao ramo de Mira da família Maçarico, cujo núcleo duro, de origem, é Ribamar, concelho de Lourinhã... Fiquei a conhecer, pessoalmente, mais um parente... Engenheiro agrónomo, o Domingos vive em Lisboa. Apesar de ser um homem muito ocupado pelas funções profissionais que exerce num grande grupo económico português, jurámos encontrarmo-nos lá para as nossas bandas, na altura do Verão.

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > Almoço das 4ªs feiras da Tabanca de Matosinhos > 8 de Abril de 2009 > Mais um aspecto da mesa, em U, à volta da qual se reuniu mais de 40 convivas...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > Tabanca d Matosinhos > Esta semana houve rancho melhorado... O Xico Allen, um dos organizadores do almoço-convívio, juntamente com a cozinheira Isilda Maria do Rosário Gomes de Sousa, que foi contratada para o efeito.

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009> O chabéu de frango de arroz... Os sabores da Guiné...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O José Casimiro Carvalho e o cunhado Eduardo Campos (que foi 1º Cabo Trms, em Bijene, Cufar e Nhacra)...

Matosinhos > Restaurante Milho Rei > 8 de Abril de 2009 > O Álvaro Basto é outras almas que animam a Tabanca de Matosinhos (e o seu blogue)... Desta vez era o tesoureiro.

Dois amigos da Figueira, do tempo do liceu: O Domingos Maçarico e o António Pimentel... O Domingos é de Mira... Reconheceu neste encontro o seu velho condiscípulo, figueirense (que hoje vive no Porto)...

O Domingos Maçarico e o António Batista, o nosso camarada a quem chamamos carinhosamente o morto-vivo do Quirafo (no dia 17 de Abril próximo fará 37 anos a tragédia do Quirafo, em que o Batista foi um apanhado à unha pelos tipos do PAIGC e levado para a Conacri, como prisioneiro; em contrapartida, foi dado como morto pelo seu comandante e a tropa mandou enterrá-lo no cemitério da sua terra)...

Fotos e legendas: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

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Nota de L.G. (em férias):

(*) Vd. poste de 8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4158: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (3): Hoje houve ronco na Tabanca de Matosinhos (Luís Graça)