(i) tem repartido a sua vida até agora entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida, conforme as estações do ano e os quatro humores;
(ii) foi nomeado por nós régulo (jubilado e vitalício) da Tabanca da Lapónia: recusamo-nos a aceitar que ele se despeça do cargo: afinal todos os anos pela primavera, corria o boato de que a Tabanca da Lapónia ia morrer para logo a seguir ressuscitar, como a Fénix Renascida (*);
(iii) na outra vida (todos temos mais do que uma), foi alf mil inf, CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70): também ele participou numa guerra, como todas as guerras, "absurda e inútil";
(iv) é, legalmente, cap inf ref (mas poderia e deveria ser coronel) do exército português;
(v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade";
(vi) tem 240 referências no nosso blogue.
1. Mensagem do Joseph Belo:
Data - domingo, 5/02/2023, 22:58
Assunto - Na boa companhia da fadista clássica (!) Hermínia Silva
Caro Luís
Os anos passam, as idades aumentam, as adaptações cómodas tornam-se… saudáveis!
Depois de ter ressuscitado pelo menos quatro vezes (o que, mesmo usando os parâmetros da Bíblia Sagrada, é inaceitável!) é tempo da quase mítica Tabanca da Lapónia encerrar definitivamente o portão voltado à imensidão Árctica. (**)
As tentações e decadências da floridiana Key West acabam por sobrepor-se na vida deste hermita lusitano. O tal luso-lapão factualmente único, dentro do espírito épico (!) do que… se mais terra houvera lá chegáramos!
Quanto às fronteiras extremas da Tabanca Grande,
substitui-se simplesmente o extremo do extremo
norte europeu pelo extremo do extremo sul norte-americano. (Certamente que isto dos “extremos” saltitantes terá algo a ver com um capitão extremista de um impossível de esquecer… PREC!)
Foi numa procura de comunicação com Amigos e Camaradas da Guiné que procurei levar até aí alguns dos exotismos do dia a dia dentro do Círculo Polar Árctico. Sentindo orgulho em amizades que hoje não existiriam sem o meio de ligações que tem sido a Tabanca Grande.
Se julgam que neste momento de despedida se ouve na Lapónia sueca um clássico e triste hino fúnebre, enganam-se. Ecoa nesta escura imensidão gelada o... Fado da Mariquinhas, cantado na versão clássica da tão nossa Hermínia Silva!
Um grande abraço do JBelo
2. Nova mensagem do Joseph Belo:
Data - terça, 7/02/2023, 05:43
Assunto - Pare! Escute! Olhe!
Caro Luís
Por vezes a saudade e as distâncias acabam por nos colocar o… ”carro à frente dos bois “! O texto que te enviei está demasiado pessoal ao referir uma mudança, importante para mim e para alguns amigos próximos, mas que acaba por se tornar o tal “conversar com o meu umbigo”.
Texto escrito sobre o joelho, surgido ao constatar uma mudança radical de um “marco geodésico” nos “limes” da Tabanca. Mas, mais não se trata do que… subjectivismos!
Os sentimentos e avaliações de fora para dentro são por vezes bem díspares dos efectuados de dentro para fora. É uma das lições de “tarimba” para os que estão mais de quatro décadas totalmente afastados do… ”dentro”!
Ficará portanto o texto ao critério editorial.
Um grande abraço, JBelo
3. Resposta do Luís Graça
Data - terça, 7/02/2023, 11:48
Querido amigo e camarada:
Fico, às vezes, na dúvida sobre o que é pessoal, reservado e intransmissível, de circulação e partilha mais restrita (entre familiares, amigos...). Ía-te pôr essa questão... Mas, se me dás luz verde ou amarela intermitente, terei todo o gosto em publicar no nosso blogue as tuas mensagens sempre originiais e com o seu quê de sabedoria e mistério (como, aliás, acabo de o fazer, às tuas duas últimas).
Sei que estás, há uns tempos a esta parte, a fazer o luto desse lugar, mágico, onde foste feliz, a tua (e também já um bocadinho nossa) Tabanca da Lapónia... Confesso que, por minha parte, vou ter saudades... Só conheço a Suécia até Kalmar (aliás, da Suécia só conheço Kalmar)...
Mas deixa-me dizer-te que todos passamos um dia por isso: há que dizer adeus à casa onde nascemos, à terra onde vivemos parte da nossa vida, ao nosso local de trabalho, aos velhos amores que não voltam mais, aos amigos que morreram, etc. Mas, não, nunca digas adeus, até sempre!... ("Até sempre": é uma expressão portuguesa que se usa para uma despedida quando se prevê uma separação definitiva, como a causada pela morte, ou muito longa e dolorosa.)
Eu, por exemplo, eu e a Alice, sabemos que um dia destes vamos ter que dizer adeus a Candoz... onde investimos tempo, dinheiro, sobretudo afetos... Até fizemos um blogue!... A nossa sociedade (e família), pela lei natural da vida, vai perdendo vigor e liberdade de ação: surgem as doenças, as incapacidades, a morte, etc. Os nossos filhos têm outros sonhos, interesses, preocupações, limitações, lugares... Candoz está a 400 km de Lisboa e a 80 do Porto... Acontece o mesmo noutras famílias, como a tua, a minha, as dos nossos camaradas...
Pessoalmente, não tenho o sentido de propriedade, mas valorizo o pouco que tenho, dividido por Alfragide, Lourinhã e Candoz... Há decisões dolorosas, a da alienação, sobretudo das coisas que são "animadas", as nossas geografias emocionais, as nossas relações... Mas será que essas se perdem? Podemos cultivá-las no jardim da memória (a única coisa que não nos podem tirar...).
Enfim, talvez o teu texto nos ajude também a saber lidar com a(s) "perda(s)"...
De qualquer modo, para onde quer que vás (e vais, felizmente, para mais perto dos teus filhos e netos), sabes que tens sempre aqui alguém que te sabe ouvir e até compreender. Ou pelo menos que faz por isso. Afinal, a Guiné e Portugal, a nossa terra natal, aproximaram-nos. E, além de camaradas, ficámos amigos. Um abração. Luis
"A minha alegre casinha"... A Tabanca da Lapónia (ou pelo menos o casarão) continua a lá estar, em Abisko, Kiruna, bem perto da terra do Pai Natal... Um poeta deixou lá este escrito à porta:
É uma casa... portuguesa ?
Sim, dizem uns, outros, não,
Não se tem bem a certeza,
O dono é luso-lapão...
É Belo, não Ruy, José,
E de renas, criador,
E agora blogador,
Mas fala pouco... da Guiné...
Diz que o mar o despejou.
E não é nenhuma facécia,
Neste reino da Suécia,
Ele só por amor ficou.
Teve pelo menos 3 blogues. Foram, infelizmente, removidos... E, com muita pena nossa, não foram capturados em tempo útil pelo nosso Arquivo.pt...
Fotos (e legendas): © José Belo (2034). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]