Foto: © José Casimiro Carvalho (2006). Direitos reservados.
Guiné > CCAÇ 2381, Os Maiorais (Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70) > Emblema.
Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2381 (1968/70) > O Maioral Zé Teixeira, 1º cabo enfermeiro, junto ao obus 14 que batia a zona fronteiriça...
Fotos: © José Teixeira (2006). Direitos eservados.
Caríssimos Luís e Carlos:
Saúde, paz e felicidade para vós e todos os camaradas da Tabanca Grande.
Hoje, envio-os dois pequenos textos, que não são de minha autoria, mas de um Maioral, Capitão de Abril, que em 1976 decidiu passar à reserva e abalar até à Suécia onde recomeçou nova vida (1).
As saudades de bom português, essas têm vindo a desenvolver-se com o andar dos tempos e o Costa Belo foi à procura dos MAIORAIS através da NET e localizou exactamente o enfermeiro do Grupo de Combate que ele comandava, ou seja, eu próprio. A alegria partilhada por ambos, como deveis calcular foi enorme.
Naturalmeente que o fio da nossa conversa foi a Guiné de ontem e de hoje. Enviou-me um texto bem antigo que reflecte exactamente aquilo que nós sentimos.
Com a devida autorização aqui o junto, ao qual ousei dar um título - não te zangues, ó Belo - que me parece se ajusta ao conteúdo, pelo menos foi o que senti.
2. Comentário de L.G.: O José Costa Belo é bem-vindo, para mais sendo um camarada nosso que vive nessa bela e grande terra que é a Suécia. Zé, convida-o a fazer fazer parte desta nossa Tabanca Grande. Hoje vou começar a publicar os seus textos.
- Guiné! dos pântanos, das bolanhas, dos mosquitos e das febres.
- Guiné! Da mata onde havia momentos em que todos os ruídos paravam. Não se afastavam ou diminuíam, antes tudo se calava abruptamente, como se os seres vivos tivessem recebido uma ordem. Ouviam-se então coisas impossíveis.... O soprar húmido do vento, o suor dos nossos camuflados, a actividade frenética dos insectos, e mesmo, o batimento do nosso coracão.
- Guiné! Dos escravos, das revoltas nativas, das muralhas do Cacheu, que lá estavam quando cheguei, e lá ficaram ao partir.
- Guiné! Dos Fulas, dos Mandingas, noites de luar, falando dos avós dos avós, de outros chãos onde nunca houvera fome, dos pastores que no céu escuro guardam os milhões de estrelas.
- Guiné! Dos Balantas, símbolo pujante da Africa que luta, que trabalha o seu chão, mas que também se sabe divertir. (Ah, velha aguardente de cana!)
- Guiné! Dos Biafadas, dos Nalus, dos Papéis, dos guerreiros Felupes bebendo vinho de
palma pelo crânio dos inimigos vencidos.
- Guiné! Do matriarcado Bijagó.
- Guiné! De Bubaque... miragem de guerra!
- Guiné! De Ponta Varela, copacabana sem casas, sem gente, mas na qual num dia solarengo do princípio dos anos sessenta, Brigitte Bardot (Pasme!) tomou bom banho de Mar.
- Guiné! Das bajudas de mama firmada, lavadeiras de tantas lamas,(e porque não?) de algumas águas bem cristalinas
- Guiné! De Bissau, vilória perdida. Cidade feita de... avenida única....pouco mais! Da cerveja gelada, das ostras grelhadas com molho picante, dos mininos vendendo mancarra em coloridos alguidares de esmalte. Das tascas, dos restaurantes (?)que serviam gostoso chabéu que o Joaosssssinho Manjaco tão bem preparava!
... Bissau das muralhas do Forte da Amura. Lembrança constante de um...estar pelas armas!
... Bissau da piscina em Clube de Oficiais, mas também Bissau do Hospital Militar.
... Bissau - Os minutos que valaima oiro... roubados à morte que esperava no mato!
- Guiné! Da violência, da guerra tribal... dividir para governar!
- Guiné! Do Comando Africano, jovem herói, usado e abusado, para matar os seus em guerras não suas.
- Guiné! De Amílcar Cabral, que, com humildade, soube ouvir os gritos de um Povo.
- Guiné! Onde General destemido tentava tapar com mãos nuas os buracos nos diques, pretensiosamente levantados aos maremotos da História. Saberia ele? Saberíamos nós?... quando o víamos chegar aos locais mais perigosos da luta, visitar, interessado, os feridos, que olhávamos o... último dos Comandantes de Africa, num Portugal que jamais seria o mesmo?
- Guiné! Onde o Império acabou por ruir!
- Guiné! De um círculo. Dos amigos. Dos inimigos. Dos amigos inimigos. E, mais tarde, dos inimigos amigos!
- Guiné! De muitas e tão duras lições!
- Guiné! Do lendário comandante Nino, temido chefe guerrilheiro, que, depois de Presidente, coloca os seus filhos em colégio... do Porto!
- Guiné! Terra vermelha de argila e sangue! Da estrada de Buba a Aldeia Formosa, de Aldeia Formosa a Gandembel.
... Terra que abraçámos com violência, quando contra ela nos comprimíamos em chão de
emboscadas!
--- Terra que comungámos no pó e saliva que nos enchia a boca em rebentamentos de minas!
... Terra regada com tantas lágrimas de saudade, de dramas pessoais, de frustrações e de
dôr... a juntarem-se às vossas... de povo africano mártir!
- Guiné! De Mampatá, tabanca perdida na selva, onde, tão longe de tudo e de todos, acabámos por... nos encontrar!
- Guiné que foi vossa/nossa, mas que hoje sendo vossa/vossa, é bem mais nossa do que antes
Um Maioral, José Belo
Estocolmo, Setembro de 1981
_____________
Nota de L.G.:
(1) José Costa Belo foi Alferes Miliciano na CCAÇ 2381 - Os Maiorais. Chegou até nós pela mão do Zé Teixeira. Vive na Suécia. Obrigado ao Zé Teixeira, por nos er feito chegar esta belíssima evocação da nossa (e)terna Guiné!
O Zé é um dos nossos mais activos e produtivos membros da nossa Tabanca Grande. É um grande contador de estórias. Vd. último post > 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte
Os Maiorais da CCAÇ 2381 têm, além disso, uma página na Net, criada e editada pelo ZéTeixeira: chama-se, muito simplesmente CCAÇ 2381 - Os Maiorais.
Fotos: © José Teixeira (2006). Direitos eservados.
Caríssimos Luís e Carlos:
Saúde, paz e felicidade para vós e todos os camaradas da Tabanca Grande.
Hoje, envio-os dois pequenos textos, que não são de minha autoria, mas de um Maioral, Capitão de Abril, que em 1976 decidiu passar à reserva e abalar até à Suécia onde recomeçou nova vida (1).
As saudades de bom português, essas têm vindo a desenvolver-se com o andar dos tempos e o Costa Belo foi à procura dos MAIORAIS através da NET e localizou exactamente o enfermeiro do Grupo de Combate que ele comandava, ou seja, eu próprio. A alegria partilhada por ambos, como deveis calcular foi enorme.
Naturalmeente que o fio da nossa conversa foi a Guiné de ontem e de hoje. Enviou-me um texto bem antigo que reflecte exactamente aquilo que nós sentimos.
Com a devida autorização aqui o junto, ao qual ousei dar um título - não te zangues, ó Belo - que me parece se ajusta ao conteúdo, pelo menos foi o que senti.
2. Comentário de L.G.: O José Costa Belo é bem-vindo, para mais sendo um camarada nosso que vive nessa bela e grande terra que é a Suécia. Zé, convida-o a fazer fazer parte desta nossa Tabanca Grande. Hoje vou começar a publicar os seus textos.
Um hino à Guiné que nós conhecemos,
por José Belo (1)
- Guiné! dos pântanos, das bolanhas, dos mosquitos e das febres.
- Guiné! Da mata onde havia momentos em que todos os ruídos paravam. Não se afastavam ou diminuíam, antes tudo se calava abruptamente, como se os seres vivos tivessem recebido uma ordem. Ouviam-se então coisas impossíveis.... O soprar húmido do vento, o suor dos nossos camuflados, a actividade frenética dos insectos, e mesmo, o batimento do nosso coracão.
- Guiné! Dos escravos, das revoltas nativas, das muralhas do Cacheu, que lá estavam quando cheguei, e lá ficaram ao partir.
- Guiné! Dos Fulas, dos Mandingas, noites de luar, falando dos avós dos avós, de outros chãos onde nunca houvera fome, dos pastores que no céu escuro guardam os milhões de estrelas.
- Guiné! Dos Balantas, símbolo pujante da Africa que luta, que trabalha o seu chão, mas que também se sabe divertir. (Ah, velha aguardente de cana!)
- Guiné! Dos Biafadas, dos Nalus, dos Papéis, dos guerreiros Felupes bebendo vinho de
palma pelo crânio dos inimigos vencidos.
- Guiné! Do matriarcado Bijagó.
- Guiné! De Bubaque... miragem de guerra!
- Guiné! De Ponta Varela, copacabana sem casas, sem gente, mas na qual num dia solarengo do princípio dos anos sessenta, Brigitte Bardot (Pasme!) tomou bom banho de Mar.
- Guiné! Das bajudas de mama firmada, lavadeiras de tantas lamas,(e porque não?) de algumas águas bem cristalinas
- Guiné! De Bissau, vilória perdida. Cidade feita de... avenida única....pouco mais! Da cerveja gelada, das ostras grelhadas com molho picante, dos mininos vendendo mancarra em coloridos alguidares de esmalte. Das tascas, dos restaurantes (?)que serviam gostoso chabéu que o Joaosssssinho Manjaco tão bem preparava!
... Bissau das muralhas do Forte da Amura. Lembrança constante de um...estar pelas armas!
... Bissau da piscina em Clube de Oficiais, mas também Bissau do Hospital Militar.
... Bissau - Os minutos que valaima oiro... roubados à morte que esperava no mato!
- Guiné! Da violência, da guerra tribal... dividir para governar!
- Guiné! Do Comando Africano, jovem herói, usado e abusado, para matar os seus em guerras não suas.
- Guiné! De Amílcar Cabral, que, com humildade, soube ouvir os gritos de um Povo.
- Guiné! Onde General destemido tentava tapar com mãos nuas os buracos nos diques, pretensiosamente levantados aos maremotos da História. Saberia ele? Saberíamos nós?... quando o víamos chegar aos locais mais perigosos da luta, visitar, interessado, os feridos, que olhávamos o... último dos Comandantes de Africa, num Portugal que jamais seria o mesmo?
- Guiné! Onde o Império acabou por ruir!
- Guiné! De um círculo. Dos amigos. Dos inimigos. Dos amigos inimigos. E, mais tarde, dos inimigos amigos!
- Guiné! De muitas e tão duras lições!
- Guiné! Do lendário comandante Nino, temido chefe guerrilheiro, que, depois de Presidente, coloca os seus filhos em colégio... do Porto!
- Guiné! Terra vermelha de argila e sangue! Da estrada de Buba a Aldeia Formosa, de Aldeia Formosa a Gandembel.
... Terra que abraçámos com violência, quando contra ela nos comprimíamos em chão de
emboscadas!
--- Terra que comungámos no pó e saliva que nos enchia a boca em rebentamentos de minas!
... Terra regada com tantas lágrimas de saudade, de dramas pessoais, de frustrações e de
dôr... a juntarem-se às vossas... de povo africano mártir!
- Guiné! De Mampatá, tabanca perdida na selva, onde, tão longe de tudo e de todos, acabámos por... nos encontrar!
- Guiné que foi vossa/nossa, mas que hoje sendo vossa/vossa, é bem mais nossa do que antes
Um Maioral, José Belo
Estocolmo, Setembro de 1981
_____________
Nota de L.G.:
(1) José Costa Belo foi Alferes Miliciano na CCAÇ 2381 - Os Maiorais. Chegou até nós pela mão do Zé Teixeira. Vive na Suécia. Obrigado ao Zé Teixeira, por nos er feito chegar esta belíssima evocação da nossa (e)terna Guiné!
O Zé é um dos nossos mais activos e produtivos membros da nossa Tabanca Grande. É um grande contador de estórias. Vd. último post > 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte
Os Maiorais da CCAÇ 2381 têm, além disso, uma página na Net, criada e editada pelo ZéTeixeira: chama-se, muito simplesmente CCAÇ 2381 - Os Maiorais.
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