1. Mais uma estória do Zé Teixeira, ex-1º Cabo Auxiliar Enfermeiro da CCAÇ 2381 (1968/70) - os Maiorais
Caríssimos.
Caríssimos.
Aí vai mais uma das minhas estórias. Amanhã [hoje, 9 de Junho] vou ter o prazer de abraçar o Idálio Reis. A CCAÇ 2317 de Gandembel faz o seu Convívio aqui no Porto e eu lá estarei. Fraternal abraço com votos de bom fim de semana.
Uma mão na gaita, outra na catana
por Zé Teixeira
A sorte bafejou-me durante uns meses, ao ser destacado para acompanhar o Grupo de Combate que se fixou em Mampatá Forreá. Tabanca pequena de gente simples, de maioria Fula e Mandinga, que nos recebeu de braços abertos e durante cerca de seis meses me permitiu passar o que hoje considero umas pequenas férias em pleno meio da guerra, rodeado por Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje, Gadamael , Mejo, etc. Locais onde havia festa da brava em contínuo, que nós escutávamos em silêncio e expectativa , enquanto eu apenas fui visitado umas cinco ou seis vezes, pese embora tenham sido momentos muito difíceis, que superámos sem grandes percalços, a não ser um belo dia, em plena hora de almoço, em que tentaram apanhar-nos à mão e chegaram a entrar dentro da barreira de arame, tendo queimado onze moranças.
Bajudas bonitas e afáveis. Até à data ainda não encontrei na minha vida mulher mais bonita que a Fátma Baldé, a minha lavandera, a Djubae ou a Dada, filha do régulo Aliu Baldé, hoje casada com o Régulo de Sinchã Sambel (Saltinho) onde tive o prazer de a encontrar e abraçar em 2005. Sempre bonita.
Assumi a minha missão de enfermeiro, montando diariamente a enfermaria estrela, nome que lhe dei, pois não passava de uma pequena mesa e um banco debaixo de uma árvore onde colocava as mesinhas: adesivos; compressas; ligaduras, etc. Os medicamentos tinha de os guardar, pois faziam milagres de tirar dores di bariga, dores di cabeça , ramassa (diarreia), kurpo kente (Febre) ou turse (tosse), etc., etc.
Todos os dias lá apareciam, sobretudo bajudas e mulheres à caça do comprimido para… hoje era barriga, amanhã era cabeça, outras vezes pediam para levar e tomar na morança, ou seja era para outra pessoa. Havia também as pequenas feridas, as feridas crónicas (chagas) por falta de tratamento em devido tempo, os entorses etc. Combater o paludismo nos militares brancos, no grupo de combate de milícias ou na população era a minha grande preocupação e os resultados foram satisfatórios, pois durante seis meses ninguém morreu com esta doença, bem pelo contrário safei duas crianças, de morte certa, como já referenciei no diário.
A par desta missão cabia-me, durante a noite, passar uma hora, a visitar os sentinelas de serviço, nos respectivos postos, em parceria com os furriéis e o Alferes, com o objectivo de os ajudar a passar o tempo e garantir a atenção necessária ao meio envolvente de onde o IN poderia estar à espreita. Estava cerca de dez minutos em cada posto em conversa com o colega de serviço e lá partia para o posto seguinte. Por precaução e segurança da pele, fazia os percursos cruzados de modo a nunca caminhar perto da barreira de arame farpado.
Uma noite, daquelas em que estava tão escuro que não se vê um palmo à frente do nariz (como se diz na minha terra), atravessava a Tabanca, com uma G3 emprestada, (não tinha arma atribuída por opção própria e quando saía para o exterior em serviço, apenas levava a bolsa de enfermeiro) em direcção oposta ao posto de sentinela de onde tinha partido, com todo o cuidado para não esbarrar com uma árvore, que sabia existir naquele lugar, quando esbarro com algo que se mexe. Só tive tempo de gritar – tem calma é Fermero Tixera ki passa, e, logo ouço uma voz Tu tem sorte fermero, djobe ! (repara).
Uma mão na gaita, outra na catana
por Zé Teixeira
A sorte bafejou-me durante uns meses, ao ser destacado para acompanhar o Grupo de Combate que se fixou em Mampatá Forreá. Tabanca pequena de gente simples, de maioria Fula e Mandinga, que nos recebeu de braços abertos e durante cerca de seis meses me permitiu passar o que hoje considero umas pequenas férias em pleno meio da guerra, rodeado por Aldeia Formosa, Gandembel, Guileje, Gadamael , Mejo, etc. Locais onde havia festa da brava em contínuo, que nós escutávamos em silêncio e expectativa , enquanto eu apenas fui visitado umas cinco ou seis vezes, pese embora tenham sido momentos muito difíceis, que superámos sem grandes percalços, a não ser um belo dia, em plena hora de almoço, em que tentaram apanhar-nos à mão e chegaram a entrar dentro da barreira de arame, tendo queimado onze moranças.
Bajudas bonitas e afáveis. Até à data ainda não encontrei na minha vida mulher mais bonita que a Fátma Baldé, a minha lavandera, a Djubae ou a Dada, filha do régulo Aliu Baldé, hoje casada com o Régulo de Sinchã Sambel (Saltinho) onde tive o prazer de a encontrar e abraçar em 2005. Sempre bonita.
Assumi a minha missão de enfermeiro, montando diariamente a enfermaria estrela, nome que lhe dei, pois não passava de uma pequena mesa e um banco debaixo de uma árvore onde colocava as mesinhas: adesivos; compressas; ligaduras, etc. Os medicamentos tinha de os guardar, pois faziam milagres de tirar dores di bariga, dores di cabeça , ramassa (diarreia), kurpo kente (Febre) ou turse (tosse), etc., etc.
Todos os dias lá apareciam, sobretudo bajudas e mulheres à caça do comprimido para… hoje era barriga, amanhã era cabeça, outras vezes pediam para levar e tomar na morança, ou seja era para outra pessoa. Havia também as pequenas feridas, as feridas crónicas (chagas) por falta de tratamento em devido tempo, os entorses etc. Combater o paludismo nos militares brancos, no grupo de combate de milícias ou na população era a minha grande preocupação e os resultados foram satisfatórios, pois durante seis meses ninguém morreu com esta doença, bem pelo contrário safei duas crianças, de morte certa, como já referenciei no diário.
A par desta missão cabia-me, durante a noite, passar uma hora, a visitar os sentinelas de serviço, nos respectivos postos, em parceria com os furriéis e o Alferes, com o objectivo de os ajudar a passar o tempo e garantir a atenção necessária ao meio envolvente de onde o IN poderia estar à espreita. Estava cerca de dez minutos em cada posto em conversa com o colega de serviço e lá partia para o posto seguinte. Por precaução e segurança da pele, fazia os percursos cruzados de modo a nunca caminhar perto da barreira de arame farpado.
Uma noite, daquelas em que estava tão escuro que não se vê um palmo à frente do nariz (como se diz na minha terra), atravessava a Tabanca, com uma G3 emprestada, (não tinha arma atribuída por opção própria e quando saía para o exterior em serviço, apenas levava a bolsa de enfermeiro) em direcção oposta ao posto de sentinela de onde tinha partido, com todo o cuidado para não esbarrar com uma árvore, que sabia existir naquele lugar, quando esbarro com algo que se mexe. Só tive tempo de gritar – tem calma é Fermero Tixera ki passa, e, logo ouço uma voz Tu tem sorte fermero, djobe ! (repara).
Era nem mais nem menos um dos milícias, meu amigo, que tinha saído da sua morança para deitar a árvore abaixo ou seja urinar e por segurança trazia uma catana, isto é, estava com uma mão na gaita e outra na catana, para o que desse e viesse. A catana estava bem no alto pronta a cair sobre a minha cabeça.
Com fair play retorqui:
- Sorte na tem bó, djobe, nha G3 stá tiro a tiro (falso).
- Ehhh fermero di caradjo ! pára lá ! a mim amigo di bó. Amigo memo.
Seguiu-se um afável parte mantanhas. Ele, possivelmente foi empernar com uma das duas lindas mulheres que tinha, na esteira onde algumas vezes nos deitamos a três, ele, eu e uma das mulheres, para conversarmos sobre a Lisboa (Portugal continental), até a noite se perder pela madrugada.
Eu segui o meu caminho para o posto do colega que estava de sentinela, uns metros à frente e que não dera por nada.
Zé Teixeira
_____________
Nota de L.G.
Vd. post de 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte
Com fair play retorqui:
- Sorte na tem bó, djobe, nha G3 stá tiro a tiro (falso).
- Ehhh fermero di caradjo ! pára lá ! a mim amigo di bó. Amigo memo.
Seguiu-se um afável parte mantanhas. Ele, possivelmente foi empernar com uma das duas lindas mulheres que tinha, na esteira onde algumas vezes nos deitamos a três, ele, eu e uma das mulheres, para conversarmos sobre a Lisboa (Portugal continental), até a noite se perder pela madrugada.
Eu segui o meu caminho para o posto do colega que estava de sentinela, uns metros à frente e que não dera por nada.
Zé Teixeira
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Nota de L.G.
Vd. post de 15 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (15): Tarde de Domingo com sorte
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