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domingo, 28 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24349: In Memoriam (477): José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951 - 2022), ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/74): era natural de Amedalai, Xime, entrou para a Tabanca Grande em 15 de maio de 2012, depois de ter visitado Portugal em 2011


Guné > Zona Leste > Região de Bafatã > Setor L1 (Bambadinca) > Finete >  CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) > 2ª metade de 1969 > Três militares da 4º Grupo de Combate, 2ª secção... 

Da esquerda para a direita: (i) Furriel miliciano apontador de armas pesadas de infantaria, Luis M. Graça Henriques (a quem, não havendo armas pesadas na companhia, sediada em Bambadinca, foi "promovido" a "pião de nicas", tapando todos os buracos no comando de secções dos 4 Gr Comb); (ii), de joelhos, 1º cabo at inf, nº mecanográfico 82115569, José Carlos Suleimane Baldé (c. 1951-2022), de etnia fula, natural de Amedalai, regulado do Xime,  membro da nossa Tabanca Grande, nº 557; morreu em 2022, teria 71 anos; (iii) soldado at inf, nº mec 82115869, Umarú Baldé (c. 1953-2004), apontador de morteiro 60), de etnia fula, natural de Dembataco, que morreu em Portugal, de doença, na miséria, apenas ajudado por camaradas (metropolitanos) da CCAÇ 12.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xime > Amedalai > 26 de Julho de 2006 > O José Carlos com a família. A Odete Cardoso, esposa do ex-alf mil Jaime Pereira, é madrinha da filha mais nova do Zé Carlos, agora com 18 anos e a viver em Lisboa (onde estuda numa "escola inclusiva" e  está a frequentar o 9º ano de escolaridade).

Foto (e legenda): 
© Odete Cardoso (2023). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a dra. Ermelinda com o Zé Carlos Suleimane Baldé, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Ontem apanhei uma boleia do António Duarte (ex-fur mil, CART 3493 / BART 3873, Mansambo, 1971/72, e CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74) (foto à direita). e fui até Coimbra, para participar no 50º almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 12 e demais subunidades que passaram  por Bambadinca entre 1971 e 1974 (*).  

Darei oportunamente notícia desse convívio que se realizou nos claustros no antigo Colégio da Graça, Rua Sofia, 136, hoje sede do núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes. 

Mas, para já, quero partilhar uma triste notícia, que lá soube, através da dra. Odete Cardoso, esposa do nosso camarada Jaime Pereira, um dos orgnizadores do encontro: o nosso 1º cabo José Carlos Suleimane Baldé morreu o ano passado. Tem cá uma filha, por sinal muito bonita (a avaliar pela foto que me mostraram)... Tem 18 anos, está a estudar numa "escola inclusiva", frequentadno o 9º ano... 

Fiquei triste, estimava-o muito... 

Estive com ele em 2011, justamente em Coimbra e depois em Lisboa... Em 2011 foi a "vedeta" principal  do convívído dos meus camaradas da 2ª e 3ª gerações da CCAÇ 12. A sua vinda a Portugal fora possível graças ao apoio do casal Jaime Pereira e Odete Pereira, mas também dos camaradas que comparticiparam com dinheiro para custear a passagem aérea. Outros camaradas, de Lisboa, também o receberam e levaram-no a passear: destaco os nomes do 
António Marques Fernandes (e a esposa Gina) e ainda o José Luís Vacas de Carvalho (cmdt do Pel Rec Daimler 2206, Bambadinca, 1969/71), sem esquecer outros camaradas, como o Victor Alves, o Murta, o Patronilho, etc.

O Zé Carlos, em 2011.
Foto: LG
Escreveu o Valdemar Queiroz, ex-fur mil da CART 2479 / CART 11 (1969/70): "o José Carlos Suleimane Baldé foi do meu Pelotão de Instrução, em Contuboel, deveria ter 70 anos, os meus sentimentos às filhas".

Depois de ter feito a recruta e jurado bandeira (em Bissau, na presença no gen Spínola), o Zé Carlos foi integrado na  CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12). Em Contuboel fez connosco, em junho e julho de 1969, a instrução de especialidade e a IAO. Fazia parte do 4º Gr Comb.

Sabemos que,  antes do final da guerra, fora dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (CCAÇ 12, 1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de setembro de 1969) ao posto de 1º cabo at inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe. 

Tive ocasião de ouvir da boca dele, neste convívio de 2011 em Coimbra (e depois na visita que me fez à Escola Nacional de Saúde Pública, em Lisboa,  com o casal António F. Marques), o relato de alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas",  as "hienas" e os "irãs maus" 
do PAIGC da zona leste, transformaram Bambadinca num permanente tribunal popular e num "matadouro humano"...  (Bambadinca foi, depois da independência, um dos lugares trágicos dos "ajustes de contas" dos guineenses, vencedores,  contra os guineenses, vencidos...) (**):


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel >
Centro de Intrução Militar (CIM) > 
CART 2479 / CART 11 >  
c. março/maio de 1969 >
O instrutor (Valdemar Queiroz)
e o recruta Umaru Baldé,
"menino de sua mãe"...


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014).
Todos os direitos reservados 
Edição e legendagem complementar:
 Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(i) esteve sentado no banco dos réus, e chegou a estar encostado ao "poilão dos fuzilamentos 
de Bambadinca, valendo-lhe a influência do seu  pai e o peso dos demais "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que ele,  Zé Carlos, era um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta, apesar de ter sido um "cachorro dos tugas";

(ii) foi obrigado a assistir à execução pública de um cipaio (polícia administrativa) em Bambadinca, bem como à execução de "sete irmãos", em Bissorã, etc.;

(iii) descreveu as torturas horrorosas a que foi submetido o nosso "bom gigante", o Abibo Jau (do 1º Gr Comb da CCAÇ 12, e que depois transitou  para a CCAÇ 21, do Jamanca e do Amadu Djaló) antes de ser executado; 

(iv) andou também fugido pelo Senegal, como tantos outros camaradas nossos guineenses, e tentou ir de avião para Angola, acabando por ser apanhado e recambiado para a sua terra;

(v) o seu sonho é que dois dos seus filhos 
conseguissem ir viver e trabalhar em Portugal;

(vi) em 2011 era agricultor em Amedalai, perto do Xime, trabalhando no duro com as suas 
mulheres e filhos para sobreviver;

(vii) uma bandeira portuguesa forrava uma das paredes da sua humilde morança.

Em 15 de maio de 2012, passou a integrar a Tabanca Grande (***).

Integrar o  Zé Carlos e depois o Umaru Baldé na nossa Tabanca Grande foi, no meu entendimento,  um gesto de homenagem, de reparação moral, de solidariedade e de camaradagem. Ambos foram um  exemplo paradigmático da desgraça que aconteceu a todos aqueles guineenses, fulas e não só, que acreditaram no sonho de uma Pátria Portuguesa onde todos podiam caber, e que combateram nas nossas fileiras... Spínola foi o arauto desse sonho mas também o seu coveiro... A História nos julgará a todos! 

O Zé Carlos era ligeiramente mais velho que o "puto" Umaru Baldé (c. 1953-2004). Em 1969, eu dar-lhe-ia 17/18 anos. Terá pois nascido em 1951/52. Que descanse em paz, sob o poilão sagrado da sua tabanca de Amedalai (****).

PS -  Tanto o Zé Carlos como o  Umarú, na época de 1969/71, pertenciam à 2ª secção, 4º Gr Comb, comandada pelo Fur Mil At Inf António Marques:

CCAÇ 12 > 4º Gr Comb > 2ª secção (em meados de 1969)

Fur Mil 11941567
António Fernando R. Marques
1º Cabo 17714968 António Pinto
1º Cabo 82115569 José Carlos Suleimane Baldé (Fula)
Soldado Arvorado 82118369 Quecuta Colubali (Fula)
Soldadado 82110469 Mamadú Baldé (Fula)
Sold 82115869 Umarú Baldé (Ap Mort 60) (Fula)
Sold 82118769 Alá Candé (Mun Mort 60) (Fula)
Sold 82118569 Mamadú Colubali (Futa-Fula)
Sold 82119069 Mamadú Baldé (Fula)

___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de maio de 2023 Guiné 61/74 - P24315: Convívios (960): 50.º almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Pel Caç Nat, Bambadinca e Xime, 1971/74: Coimbra, Claustros do antigo Colégio da Graça, 27 de maio de 2023 (José Sobral e Jaime Pereira)

(**) Vd. postes de:

22 de maio de  2011 > Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)

20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8302: Os nossos camaradas guineenses (31): O José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (1969/74), está em Portugal até 3 de Junho, e quer estar connosco! (Odete Cardoso / Luís Graça)

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21269: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (20): O sargento da milícia de Amedalai

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca)  > Subsector do Xime > Amedalai (tabanca em autofesa e destacamento de milícias) >  Junho de 1970 > José Nascimento.


1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 14 de Julho de 2020:


O sargento da milícia de Amedalai

A zona operacional do Xime abrangia as tabancas de Amedalai, Taibatá e Dembataco que estavam em auto defesa. Amedalai ficava no percurso do Xime para Bambadinca, sede do Batalhão 2852 e quando por qualquer motivo a CART 2520 fazia deslocações a Bambadinca era normal fazer-se uma pequena paragem junta a esta tabanca, costumávamos transportar alguns elementos da população até Bambadinca e vice-versa. Esta pequena aldeia guineense era defendida por uma secção de milícias comandada por um sargento de milícia africano.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca > Subsector do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, Ponte do Rio Udunduma.

Com alguma frequência para receber instruções do capitão da Companhia esta secção deslocava-se ao Xime e certa vez ao cruzar-me com o sargento da milícia este pediu-me emprestados 100 "pesos" (100 escudos) que me pagaria logo que possível. Acedi e passado algum tempo o sargento cumpriu o prometido e liquidou o empréstimo. Por algumas vezes a situação repetiu-se e o comandante da milícia não ficou a dever nada ao suposto primo da Dona Branca.

Acontece que no decurso duma operação executada pela CART 2520 tivemos de pernoitar na tabanca de Amedalai. A tropa manda desenrascar e cada um assim o fez, o pessoal ficou instalado em redor da pequena aldeia indígena. Quando me preparava para passar o noite o melhor possível, apareceu-me o sargento da milícia que pediu-me para o seguir, levou-me para uma morança com quarto e cama a que não faltava um mosquiteiro e que tinha um conforto razoável para a circunstância, durante a noite mosquito foi picar para outro lado. Foi a prova de gratidão deste camarada africano. Espero que depois da independência não tenha sido importunado pelo PAIGC.

Na manhã do dia seguinte e devidamente recomposto do percurso do dia anterior, seguimos rumo a Samba Silate e depois junto à margem do rio Geba, regressámos à nossa base no Xime.

Para todos os camaradas da nossa aventura africana, um grande abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21174: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (19): Uma desditosa criança do Biombo

domingo, 21 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14777: Memória dos lugares (294): Ponte do Rio Udunduma, onde de três em três semanas lá estávamos "caídos" sem termos as mínimas condições (José Nascimento)

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 6 de Junho de 2015:

Caro amigo Carlos Vinhal
Foram várias as vezes que o meu pelotão teve que fazer segurança à ponte sobre o rio Udunduma, que fica já nas proximidades de Bambadinca, partindo do Xime e passando pela tabanca de Amedalai.

Esta segurança foi efectuada pela Cart 2520, de Julho a Dezembro de 1969. Como durante este período de tempo tínhamos menos um pelotão no Xime, de três em três semanas lá estávamos "caídos" sem termos as mínimas condições. Não dormíamos directamente no chão porque os nossos colchões de espuma resolviam este problema. A nossa alimentação era fornecida por Bambadinca, muitas vezes o pequeno almoço chegava a horas tardias, o almoço quase a meio da tarde e o jantar quantas e quantas vezes também chegou fora de horas.

Na higiene pessoal não houve problemas, porque foi assegurada pela água corrente do rio. O rio serviu para o pessoal se dedicar à pesca com anzóis que eram comprados numa loja de comerciantes libaneses em Bambadinca. Também dávamos uns mergulhos a partir da ponte e assim refrescávamos os nossos corpos e as nossas almas. Lembro-me que foi a mergulho que recuperei a prótese dentária que um dos meus militares deixou cair ao rio.

Felizmente não nos aconteceu nada de mal durante os períodos de tempo que aqui permanecemos, além de pequenos percalços que fomos ultrapassando, como foi o caso do Júlio Custódio ter um ataque de paludismo no princípio de noite e só poder ser evacuado na manhã do dia seguinte.

Recordo-me do dia em o Sebastião Carrega, abateu em pleno voo, com um tiro de G3, um daqueles enormes patos que normal e curiosamente voavam aos pares. Lembro-me também do João Moura ter abatido a tiro uma águia de uma enorme envergadura, que estava pousada numa árvore na envolvência do nosso pequeno destacamento.

Curiosamente e apesar das dificuldades, estas seguranças à ponte livraram-nos da intensa actividade que decorreu no Xime e até de alguns ataques e flagelações executadas pelos elementos do PAIGC.

Entretanto recebe um grande abraço deste camarada de armas.
José Nascimento

Ponte sobre o Rio Udunduma

Ponte sobre o Rio Udunduma. O Moura à esquerda ajudando a segurar a águia

 Ponte sobre o Rio Udunduma
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14613: Memória dos lugares (291): Bissau, Bambadinca e Farim, em 2011 (José Maria Sousa Ferreira, ex-viola solo do conjunto musical "Os Bambas d'Incas", Bambadinca, 1968/70)

terça-feira, 31 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14422: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (3): Eu e o malogrado fur mil mec auto Joaquim Araújo Cunha, da CART 2715, em Amedalai, em junho de 1970, de bicicleta a pedal




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca)  > Subsetor do Xime > Amedalai (tabanca em autofesa e destacamento de mílícias) >  Junho de 1970 > O velhinho José Nascimento (1ª foto de cima) e o pira Joaquim Cunha.

Fotos: © José Nascimento  (2015). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de 24 de fevereiro último, enviada pelo José Nascimentoo (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) [, foto atual à esquerda] (*)


Caro amigo Luís Graça

Quando a minha Companhia saiu do Xime para Quinhamel, houve uma sobreposição de oito ou dez dias pela outra (CART 2715) que nos rendeu. Este espaço de tempo foi o suficiente para estabelecer uma certa amizade com um camarada de armas, a que nós vulgarmente apelidamos de "porreiro". Foi o furriel Cunha, mas nunca mais tive qualquer contacto com o rapaz, depois de deixar o Xime.

Mais tarde soube em Bissau que esta Companhia tinha sofrido uma grande emboscada em que tiveram vários mortos, entre os quais o furriel Cunha (**). Apesar desta amizade de tão pouca duração, foi como se um dos meus tivesse morrido e é com uma certa frequência que me vem à memória a imagem deste desditoso jovem militar.

Fur mil art, José Nascimento
 (CART 2520. 1969/71)
Por volta do ano de 1976, em casa de um dos meus irmãos que tinha o equipamento de fotografia e ao passar alguns negativos para a imagem real, pensando que era uma das minha fotos, surgiu-me à minha frente a imagem do Cunha a andar de bicicleta a pedal. Foi um nativo qualquer da população, que nos deixou dar uma voltinha.

Esta foto guardo-a com muito carinho. Foi tirada na tabanca de Amedalai, que ficava entre o Xime e Bambadinca, logo a seguir à Ponta Coli.

Em homenagem a este infortunado camarada e para que fique para a posteridade, quero publicar na nossa Tabanca Grande a sua fotografia.

Um grande abraço,

José Nascimento

________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:



(**)  Furriel Mil Mec Auto Joaquim Araújo Cunha, nº 14138068; morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”; sepultado em Barcelos;

Vd. também postes de:

26 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10726: A minha CCAÇ 12 (27): Novembro de 1970: a 22, a Op Mar Verde (Conacri), a 26, a Op Abencerragem Cadente (Xime)...(Luís Graça)

8 de maio de  2012 > Guiné 63/74 - P9863: (De)caras (10): Relembrando o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, natural de Barcelos, que pertencia à CART 2715 (Xime, 1970/72), e que foi morto de morte matada em 26/11/1970 (José Nascimento, CART 2520, Xime, 1969/70)

(...) Comentário do nosso leitor e camarada José Nascimento, com data de hoje, ao poste P1317:

Sou o furriel Nascimento, da CArt 2520 [, Xime, 1969/70], a Companhia que foi rendida pela Companhia do Cunha, aCART 2715 [, Xime, 1970/72].

Durante o período de sobreposição estabeleci uma relação de amizade com o Cunha. Quando soube da sua morte [, em 26 de novembro de 1970,] senti uma grande mágoa. 

De vez em quando a sua imagem vem à minha memória. Guardo uma foto dele tirada na tabanca de Amedalai, que quero publicar na nossa Tabanca Grande. (...)

(...) Comentário de L.G.:

Numa segunda feira, triste, chuvosa, depois das aulas, depois do tardio jantar, às 22.30, abro a caixa do correio e vejo o teu lacónico comentário a um poste já velho de mais de cinco anos e meio... Senti um estranho arrepio de frio que me atravessou o corpo de uma ponta à outra, ao ler a tua evocação do Cunha.

Parece que ainda estou a vê-lo... O Cunha, o Joaquim de Araújo Cunha, o pequeno e valoroso Cunha, ainda com o seu ar de criança tímida, era o único dos seis corpos que não estava desfeito pelos rockets. Tinha apenas um fiozinho de sangue na testa: o primeiro tiro fora, seguramente, para ele que ia à frente da secção, juntamente com o nosso guia e picador Seco Camarà. A imagem que retenho dele, era de alguém que caíra, exausto, em cima do capim... Quando cheguei à sua beira, ainda lhe dei uma bofetada, sacudindo-o energicamente:
- Acorda, meu sacana!

Como garante o Guimarães (da CART 2716, do Xitole), o Cunha que fez a recruta com ele e foi mobilizado para a Guiné no mesmo Batalhão (BART 2917), "deve estar no céu porque era um homem bom". Não acredito no céu, mas, se ele existe, o Cunha e todos os valorosos combatentes, como ele, que eram bons e que eram jovens e que morreram de morte matada, só poderão estar no céu... Nunca esquecerei também a última cerveja que bebi com ele, às tantas da madrugada, escassas horas antes daquela fatídica emboscada. Ainda hoje não consigo perceber por que é que fomos obrigados, pelo comando de Bambadinca, a fazer aquela maldita operação, com um nome de código esotérico... Três dias depois da invasão de Conacri!... E sobretudo a razão por que cometemos erros fatais no seu planeamento e condução...

O Cunha era natural de Outeiro, freguesia de Carreira, concelho de Barcelos. Está sepultado no cemitério local.

José Nascimento, camarada da CART 2520, com quem devemos (a malta da CCAÇ 12) ter feito algumas operações em conjunto, no Xime, obrigado pelo teu comentário e, antecipadamente, pela foto que nos vai enviar contigo e o Cunha. (...)


(...) Comentário dea nossa leitora Ana Silva:

Ana Silva disse...

(...) Sou sobrinha do Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha. Apesar da mágoa, a minha mãe gostou muito de ler estas palavras e perceber que era acarinhado pelos colegas. Temos, ainda, guardadas todas a fotografias pelo que teremos todo o gosto em as partilhar. Obrigada. Cumprimentos para todos. (...)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14245: Memórias de Copá (6): Fevereiro de 1974 (António Rodrigues)

1.     O nosso Camarada António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto Da 1ª CCAV do BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda,  Copá e Buruntuma, (a minha 1.ª CCAV/Bcav8323 tinha as suas forças aquarteladas em Bajocunda e Copá), 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.


COPÁ – FEVEREIRO DE 1974 



Como por esta altura do ano passa mais um aniversário dos dolorosos dias que vivi em Copá, aqui vos deixo mais algumas histórias do que lá se passou há 41 anos.
Entretanto, nesses dias chegava ao comando do meu batalhão em Pirada, uma ordem emanada das autoridades de Bissau para desactivar e abandonarmos Copá, pelo que, no dia 12 de Fevereiro de 1974 logo ao romper do dia chegava a Copá uma forte coluna militar para nos evacuar.

Esta coluna para ludibriar o PAIGC, teve que mudar o percurso entre Bajocunda e Copá, pelo que em vez de ir como de costume pela zona perigosa de Massacunda e que era o caminho mais curto, foi por uma picada raramente utilizada mais longe 10 km e que passava pela localidade das Dingas, chegando a Copá ao amanhecer do dia 12 de Fevereiro de 1974, foi para nós uma grande alegria, vermos chegar os camaradas que nos vinham libertar daquele lugar infernal que era Copá.

Chegada a coluna a Copá, começamos a carregar nas viaturas as nossas principais coisas e os sapadores de minas e armadilhas trataram de armadilhar os principais abrigos com minas anti-pessoais, depois de carregarmos o que tínhamos a carregar, saímos para fora de Copá e entretanto, tínhamos reunido todas as camas amontoadas no abrigo das transmissões que era o mais forte, depois de estarmos todos cá fora, esse abrigo e o seu conteúdo foi destruído por uma carga explosiva de comando à distância e além disso, o vagomestre tinha incendiado um bidão de azeite de 200 litros. Este é um ponto a lamentar, pois durante muito tempo esse bidão lá permaneceu cheio, o esparguete e o arroz, em vez de azeite eram feitos com manteiga, o azeite devido às circunstâncias, teve que ser queimado.

Mas por falar em cargas explosivas, veio-me à ideia um outro caso passado ainda em Copá: em determinada altura, chegamos a montar fora do arame farpado alguns fornilhos (cargas explosivas artesanais à base de gasolina, vidros e outros objectos que fizessem o efeito de estilhaços) que seriam accionados à distância do interior de Copá mas, a verdade é que, quando tivemos necessidade de accionar esses fornilhos durante um ataque, os mecanismos não funcionaram e qual não é o nosso espanto, quando no dia seguinte fomos ver qual a anomalia que não deixou funcionar os fornilhos e, verificámos que os fios de ligação que passavam despercebidos debaixo de terra, estavam todos cortados, impedindo assim os fornilhos de explodir, isto tinha sido obra do IN, possivelmente numa das noites em que nos destruiu a instalação eléctrica e ficamos às escuras.

Partimos então todos de novo na direcção das Dingas, caminhando a pé e fazendo segurança às poucas viaturas que seguiam connosco, cerca do meia dia estávamos nas Dingas, onde todos nos abastecemos de água num poço que praticamente esgotamos, quando chegou a minha vez de encher o cantil, já só consegui metade lama e metade água, mas a sede era imensa e tudo servia para a matar, ao ponto de ao beber, sentir passar areia pela garganta. Felizmente não tínhamos ainda tido qualquer problema, recomeçámos a andar, mas muito lentamente, devido a que os sapadores iam na frente muito devagar com os detectores electrónicos de minas e armadilhas, levámos assim quase toda a tarde para atingirmos a próxima povoação que era Amedalai, onde chegamos à tardinha e aí esperavam-nos mais viaturas, para nos transportar os últimos 5 km até Bajocunda, onde chegámos mesmo ao anoitecer.

Aí chegados, graças a Deus sem qualquer problema, foi para nós pelotão de Copá uma alegria enorme, reencontrarmos de novo os nossos camaradas, foi uma alegria tal que, eu depois de chegar a Bajocunda, nem me lembrei sequer mais da minha bagagem, depois de encontrar os meus amigos dirigi-me com eles ao Café Silva existente em Bajocunda e para aí fui matar a fome e a sede, depois já noite escura o meu amigo Albino da Silva Vasques levou-me com ele salvo erro para o abrigo 9, onde dormi nessa noite e só de manhã quando acordei me lembrei das minhas malas, das minhas coisas, que tinham sido descarregadas da Berliet que as trouxe de Copá.

Levantei-me e fui procurá-las ao local onde a Berliet tinha descarregado, encontrei realmente o meu saco e a minha mala, mas a mala estava aberta e metade das coisas que me pertenciam tinham desaparecido, nomeadamente, o estojo da barba quase completo, possivelmente foi algum Africano que lá passou antes de eu lá chegar e encontrei ainda uma série de coisas espalhadas pelo chão, recolhi tudo o que pude e levei o que encontrei, mas não fiquei triste, porque a alegria de ter chegado de novo a Bajocunda, suprimiu tudo isso.

Nesse mesmo dia 13 de Fevereiro de manhã, foi-me destinada uma cama no abrigo 2, onde passei a pertencer até ao fim, onde travei novas amizades, com novos camaradas, nomeadamente, com os mecânicos Francisco e Campos.

Mas nesse mesmo dia, todo o pessoal que tinha regressado de Copá, seguiu para Pirada, inclusive eu, a fim de aí todos sermos vistos pelo médico do Batalhão, em virtude do mau bocado porque tínhamos passado em Copá. Dessas consultas resultou que o Banharia fosse mandado para Bissau, para uma consulta externa, a qual lhe viria a facilitar o regresso quase imediato à metrópole, por necessitar de tratamento psiquiátrico. O restante pessoal, tratava-se apenas dumas diarreias ou umas dores de cabeça, que foram tratadas com umas injecções ou uns comprimidos. Embora eu tenha de reconhecer que, todos nós saímos de Copá traumatizados com toda aquela violência.

Neste dia em que chegamos a Pirada, quando à hora do almoço entramos no refeitório, apareceu-nos lá o nosso Comandante de Batalhão, o Coronel Jorge Matias, que fez questão de abraçar os homens de Copá um por um e quando chegou a vez de abraçar o Alferes Manuel Joaquim Brás, eu que estava a seu lado, tive a oportunidade de ouvir as palavras emocionadas que ele lhe dirigiu, que foram as seguintes: “Ó Brás tu trazes os teus homens todos vivos?” Eu tenho que te pedir desculpa porque em Bolama te chamei básico e afinal és o oficial mais operacional que tenho no Batalhão. (Por este motivo eu dizia, quando estive em Bolama que mais tarde voltaria a falar deste 4.º Pelotão)

Neste dia 13 pelas 05.00 horas da manhã, um grupo de guerrilheiros do PAIGC (provavelmente os mesmos que estariam emboscados no dia anterior em MANSACUNDA  MAUNDE à espera de nos atacar quando regressávamos de Copá) talvez sentindo-se enganados, porque lhe trocamos as voltas optando pelo percurso um pouco mais longo e que passava pelas DINGAS, dirigiu-se à DINGA BANTANGUEL e penso que, como represália por a população não nos ter denunciado, queimou cerca de 50 Tabancas, grande quantidade de milho e alguma mancarra, tendo retirado depois novamente na direcção de MANSACUNDA MAUNDE, deixando ainda o gado todo tresmalhado nas matas, mas a população não foi molestada.

Logo no dia seguinte, 14 de Fevereiro de 1974, depois do almoço, o comandante de Batalhão Coronel Jorge Matias mandou formar na Parada do quartel de Pirada a 3.ª Companhia, bem como o pelotão de Copá em frente uma do outro e a seguir fez um discurso emocionado de homenagem aos homens de Copá, durante o qual nos explicou os esforços que tinha feito durante as horas dramáticas de Copá para nos socorrer com reforços e outros auxílios, nomeadamente, na noite de 7 para 8 de Janeiro de 1974, que culminou com a chegada a Copá no fim da tarde do dia 8 de um pelotão de Pára-quedistas. Dizia-nos isto ao mesmo tempo que dizia que, nesses momentos rezava a Deus por nós, dizia-o com tal emoção que as lágrimas lhe chegaram a correr pela cara, findo o discurso fez desfilar em continência para nós a 3.ª Companhia, o que também nos emocionou um pouco. Foi-nos ainda dado conhecimento de nova mensagem de S. Exa. o Comandante-Chefe que, citando a guarnição de Copá, enalteceu o relevante comportamento da mesma. A culminar esta cerimónia foi-nos dado um louvor colectivo que saiu à ordem com o nome de cada um de nós, falava-se ainda que teríamos um mês de férias na metrópole, o que não veio a concretizar-se, porque passados cerca de dois meses e pouco veio a dar-se a revolução de 25 de Abril. 


Foto 1 - Com guerrilheiros do PAIGC junto ao pontão de Tabassai, Pirada

Foto 2 - No regresso de Copá a Pirada, reencontro com um amigo

Foto 3 - Pirada, 14 de Fevereiro de 1974, 4.º Grupo de Combate

 Foto 4 - Pirada, 14 de Fevereiro de 1974, Homenagem aos Homens da Companhia

Foto 5 - Pirada, 14 de Fevereiro de 1974, Coronel Jorge Matias 

Foto 6 - Passeando em Copá, Dezembro de 1973

Um abraço,
António Rodrigues
Sold Cond Auto do BCAV 8323

Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados. 

___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

3 DE FEVEREIRO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14214: Memórias de Copá (5): Janeiro e Fevereiro de 1974. (António Rodrigues)


terça-feira, 15 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12154: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (2): Mensagem assinada pelo comandante do setor 2 da Frente Leste, Mamadu Indjai, sobre a emboscada em Ponta Coli, na estrada Bambadinca-Xime, em 18/4/1969, aos pelotões de mílicias de Taibatá, Demba Taco e Amedalai, e que foi conduzida pelo comandante de bigrupo Mário Mendes


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, ponte do Rio Udunduma... Em abril de 1969 ainda não estava em construção a nova estrada, a cargo da Tecnil, que só será inaugurada em 1972... Na sempre temível Ponta Coli, houve várias emboscadas, como aquela que é referida neste poste, contra dois pelotões de  mílícas (destacadsos em Taibatá e em Demba Taco)...

Em abril de 1969, era o BCAÇ 2852 que tinha a seu cargo a defesa do Setor L1 (Bambadinca), incluindo o subsetor do Xime. Grosso modo, o Setor L1, com exceção do regulado do Enxalé e da parte oeste do regulado do Cuor, correspondia,  na divisão territorial do IN,  ao Sctor 02, da Frente Leste, também conhecido por região do Xitole (em 1970, Frente Xitole/Bafatá), com sede na região de Mina/Fiofioli.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).

1. Transcrição de uma mensagem do PAIGC, assinada por Mamadu Indjai (comandante de setor, futuro conspirador contra Amílcar Cabral, sendo, depois do assassinato do líder histórico, em Conacri,  preso,  julgado e fuzilado em 1973) sobre uma emboscada realizada na estrada de Bamabadinca-Xime, em 20/4/1969, e que foi comandada por Mário Mendes e Sampui.

O comunicado é manuscrito em papel de bloco, liso. O conteúdo é o habitual nestas mensagens: lacónico e sem preocupações de rigor factual. Apesar da baixa literacia dos seus comandantes, Amílcar Cabral exigia que eles escrevessem em português. E esse é um facto que deve ser aqui sublinhado.

O dia desta emboscada, na Ponta Coli,  parece estra errada: será a 18 e não a 20/4/1969. Segundo a versão das NT (neste caso o BCAÇ 2852), não terá havido baixas entre os dois pelotões de milícias emboscados.  Mas ficamos a saber que Mário Mendes já combatia, em 1969,  no Setor  2 (Xitole), da Frente Leste, ao tempo do Mamadu Indjai.  e que sobrevive a este, gravemente ferido em agosto de 1969.  Mário Mendes será abatido pelas NT em maio de 1972.


Comando Sul

MSG [Mensagem] – No dia 20/4/69 os combatentes do Partido realizaram emboscada na estrada entre  Bambadinca / Xime onde os inimigos sofreram muitas baixas humanas de [entre] feridos e mortos. Por nosso lado não houve nada mal. Foi dirigido[a] por Mário Mendes e Sanpui  [Sampui] na SA  [?] Sector Dois – Mamadu Indjai.
 29/4/69

[Revisão/fixação de texto: editor L.G.]

Fonte:

(1969), "Mensagem - Comando Sul", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40645 (2013-10-15)

Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07200.170.050
Título: Mensagem - Comando Sul
Assunto: Comunicado de Mamadu Indjai sobre a emboscada do PAIGC na estrada entre Bambadinca e Xime, dirigida por Mário Mendes e Sampui na Sa (Sector 2).
Data: Terça, 29 de Abril de 1969
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Diversos. Guias de Marcha. Relatórios. Cartas dactilografadas e manuscritas. 1960-1971.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos

2. Reprodução de excertos das pp. 64 e 75 da História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) sobre a actividade IN no mês de abril de 1969. (REcorde-se que a grande Op Lança Afiada, tinha sido realizada um mês antes, em março de 1969).

A emboscada referida na mensagem acima reproduzida deve ter sido.  não a 20, mas 18 de abril de 1969, às 7h00, na zona de Ponta Coli, no troço estrada Bambadinca -Xime, entre Amedalai e o Xime. As forças emboscadas foram dois pelotões de milícias, o Pel Mil  nºs 104 (sediado em Taibatá, com 1 secção em Amedalai) e o Pel Mil 105 (destacado em Demba Taco, com uma secção em Amedalai).






segunda-feira, 21 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > Fotos do álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb > O autor, no cais do Xime, ao pôr do sol. Aqui era a porta de entrada do leste... Aqui chegavam navios da marinha, em especial as LDG, além dos barcos e batelões civis, ao serviço do exército... O rio era navegável até Bambadinca. Aqui no Xime teria cerca de 400 metros de largo, entre as duas margens.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime... Havia um aquartelamento na margem esquerda, guarnecido por uma companhia de quadrícula, além de um Pel Art (obus 10.5). Havia ainda uma tabanca. Na margem direita, situava-se a povoação do Enxalé,  outrora importante. Nesta altura havia lá um destacamento (guarnecido por 1 gr comb do Xime).



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... O mistério do Geba, o fascínio dos rios e braços de mar da Guiné: o que havia para além daquele cotovelo, a montante e a jusante ? Gostavamos de imaginar que para além do Xime, a ponta Varela, a foz do Corubal, Porto Gole, Bissau, o Atlântico, o Tejo, o regresso a casa... Como diz o nosso Álvaro de Campos / Fernado Pessoa, "todo o cais é uma saudade de pedra"...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda... Homens e viaturas esperando o desembarque da LDG, vinda de Bissau, com tropas frescas...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O cais do Xime, na margem esquerda > Dois furrieis (o Roda e o madeirense Zé Luís de Sousa, mais o condutor do Unimog 411, cujo nome já não recordo... (Talvez algum camarada da CCAÇ 12 me possa ajudar!).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > O Arlindo Roda na ponte do Rio Udunduma, afluiente do Rio Geba, onde havia um destacamento permanente... A defesa desta ponte (sabotada em 28 de maio de 1969, por ocasião do ataque a Bambadinca) era vital  para o trânsito na estrada Xime-Bambadinca... Era desde então defendida permanentemente por um grupo de combate (o9ra da CCAÇ 12, ora de outras subunidades como os Pel Caç Nat).


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) > 'Refeitório' e 'sala de estar' do destacamento da ponte do Rio Udunduma. Pessoal do 3º gr comb: sentados  à esquerda, identificao o fru mil Arlindo e o alf mil Abel Rodrigues...



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (julho de 1969 / março de 1971) >  Mais uma bonita paisagem: o porto fluvial de Bambadinca, no Geba Estreito... O Arlindo aparece na foto à civil... Aqui fazia-se a cambança para Finete e Missirá, os únicos destacamentos que tínhamos no Cuor... Bolanha de Finete em frente. 

Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Arlindo Roda, ex-fur mil at inf, 3º gr comb, CCAÇ 12 (1969/71). Edição e legendagem: L.G.

Fotos: © Arlindo Teixeira Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça








Fonte: História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado, pp. 38/39. [ Documento escrito, datilografado e reproduzido a stencil por L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Havia sinais de que, no setor L1, já estávamos todos cansados da guerra, os combatentes de um lado e do outro... E ainda faltavam quatro anos, quatro longos anos,  para acabar este conflito absurdo...  A CCAÇ 12 tinha tido uma intensa atividade operacional, na época das chuvas, coincidindo com o final da comissão de serviço do BCAÇ 2852 (1968/70). 

Os novos senhores de Bambadinca (BART 2917, 1970/72) estavam desejosos de mostrar serviço... Como a gente dizia, em linguagem de caserna, vinham de Lisboa "com a tusa toda"!... De forma que a desgraçada da minha companhia, de intervenção ao setor L1, não tinha mãos (nem pés) a medir... 

Do lado do PAIGC, comemorava-se, sem grande entusiasmo, as efemérides revolucionários: no dia 3 de agosto de 1970, o grupo de roqueteiros de Ponta Varela, cumprindo ordens do comissário político, atacaram em pleno dia a LDG... Sem consequência para o navio da marinha, mas há que reconhecer que sempre era uma ação temerária, dado o poder de fogo da LDG... Uma coisa é atacar um barquinho civil cujo armador não tem as quotas em dia... Outra coisa é enfrentar a resposta da LDG, dotada de duas peças Boffors, antiaéreas, de 40 mm...  

Para celebrar a revolta do cais do Pidjiguiti, no já longínquo 3 de agosto de 1959, a guerrilha local também flagelou o Enxalé e Mansambo... Mas tínhamos informações sobre problemas intestinos a nível do bigrupo que residia na área do Poindon / Ponta do Inglês...  Foi preciso vir, em agosto de 1970,  gente do Cuor, de Madina/Belel, dar uma maozinha do subsetor do Xime (vd. croquis do setor, em baixo)...

Mesmo no mês da maior pluviosidade na Guiné, não tivemos direito a qualquer descanso. Importantes tabancas fulas, em autodefesa e guarnecidas com pelotões de milícias, como Amedalai (onde hoje vive o nosso grã-tabanqueiros J.C. Suleimane Baldé) e Dembataco foram atacadas, com agressividade, obrigando a entrada em ação do nossos piquetes... Fora disso, era a chuva e a rotina dos dias, repartidos pelos destacamentos de Nhabijões, Bambadincazinho (MIssão do Sono), ponte do Rio Udunduma, sem esquecer as colunas logísticas, os patrulhamentos ofensivos e outros exercícios que nos obrigavam a fazer para manter a boa forma... Mas nuvens negras espreitava-nos no fim da estação... (LG).



Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd. Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Detalhe > Carta do Xime (1955) (Escala 1/50 mil)... Lugares que continuam no nosso imaginário..


Infografias: © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados