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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26523: In Memoriam (534): O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci (José Teixeira/Tabanca de Matosinhos)



O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci

Por José Teixeira

Bastaram três meses de guerra ao Alberto Leite Rodrigues para ganhar uma Cruz de Guerra, da qual nunca falou aos seus amigos, e para o marcar para toda a vida. Foram umas curtas, mas dolorosas “férias” que acabaram com uma basucada nos queixos a caminho de Sinchã Jobel. Fora colocado por azar nos trilhos do famoso comandante Gazela e este não perdoava. Andou por lá o saudoso Marques Lopes e teve de recuar com feridos e mortos por duas vezes. O Alferes Fernando da Costa Fernandes que foi substituir o Marques Lopes, ferido em combate, numa terceira tentativa, caiu numa emboscada em 18 de dezembro de 1967 e não resistiu. Morreu a caminho de Sinchã Jobel.

O nosso saudoso e querido amigo Leite Rodrigues, teve um pouco mais de sorte, pois, ao tentar lá chegar, caiu de queixos, ficou com a língua em bocados, mas conseguiu levantar-se, e regressar a Portugal, ao fim de três meses de guerra, com uma cruz ao peito, mas estranhamente nunca nos falou dela.

Alferes Miliciano de Cavalaria ALBERTO BERNARDO AZEVEDO LEITE RODRIGUES
CCav 1748 / BCav 1905 - RC7 - GUINÉ
Cruz de Guerra de 4.ª CLASSE

Transcrição do Despacho publicado na OE n.º 1- 2.ª série, de 1972.

Agraciado com a Cruz de Guerra de 4.ª classe, nos termos do artigo 12.° do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n." 35 667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 03 de Novembro último, o Alferes Miliciano de Cavalaria, Alberto Bernardo Azevedo Leite Rodrigues, da Companhia de Cavalaria n.º 1748 / Batalhão de Cavalaria n.º 1905 - Regimento de Cavalaria n.º 7.

Transcrição do louvor que originou a condecoração. (Publicado na OS n.o 56, de 08 de Maio de /968, do Comando do Agrupamento n.o 1980):

Louvo o Alferes Miliciano de Cavalaria, Alberto Bernardo Azevedo Leite Rodrigues, da CCav 1748 / BCav 1905 - RC7, pela forma eficiente e dinâmica como soube comandar e instruir os homens do seu Gr Comb, tipo "comandos", quer na Metrópole, quer durante os três meses de permanência nesta Província.

Nas operações em que tomou parte, sempre se afirmou como um bom combatente,dotado de reais qualidades de coragem e decisão. Tendo sido ferido numa operação, com bastante gravidade, pelo que ficou impossibilitado de falar, longe de ficar abatido por tal facto, continuou a incutir coragem a todos com o seu exemplo, acorrendo a toda a parte onde a acção se tornava necessária.

Sendo-lhe aconselhado, atendendo a que estava ferido, que fosse para a retaguarda e não se expusesse repetidas vezes, indiferente ao perigo, voltou à frente para auxiliar e receber ordens do seu comandante de Companhia.

Disciplinado e disciplinador, bom camarada e bom chefe, conquistou o Alf. Leite Rodrigues a consideração e estima do seu comandante de Companhia, dos seus camaradas e dos seus subordinados, em todos deixando saudades.


Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VII: Cruz de Guerra (1972/73), Lisboa, 1995, pág. 42
_____________

O Leite Rodrigues era um exímio contador de histórias, não só da guerra, mas também:

Contava ele que o avião que o trouxe, ferido, da Guiné, veio de noite de modo a chegar a Lisboa no escuro da alta madrugada, para não serem notados, e vinha carregado de feridos muito graves. O que estava em melhores condições era ele, que apenas vinha com uma fome de criar bicho, com a língua traçada e a boca selada com arames, pois os ossos do queixo ficaram em bocados. Entre os feridos, vinha um grande grupo de queimados em grau elevado, devido ao rebentamento de uma granada incendiária num embate com o inimigo, creio que em Bula. Todos embrulhados em gaze, pareciam múmias, era assustador e doloroso olhar para aquelas criaturas, comentava com ar pesado o Leite Rodrigues, nas suas lembranças, passados tantos anos…

Acompanhavam-nos duas zelosas enfermeiras, que tudo tentavam para lhes amenizar as dores. Às tantas ouve-se um gemido. – Senhora enfermeira quero mijar! E logo uma sorridente bata branca se aproximou, desapertou-lhe a carcela, e o pobre do rapaz aliviou-se. De seguida, todos os queimados, em carreirinha, apelaram às enfermeiras para os por a mijar… e foi assim durante o resto da noite. E, ele que nem falar podia, apreciava silenciosamente a paciência e o zelo das queridas enfermeiras.

Quando chegaram a Lisboa, desembarcaram e seguiram para o Hospital em ambulâncias militares, sem fazer o tradicional ninau! ninau!ninau!, para não incomodar os lisboetas.

Encaminharam-no para uma camarata, e atribuíram-lhe uma cama no R/C.
Ao pousar os seus haveres tocou em uma coisa dura, que tombou ruidosamente.

O Camarada que dormia no primeiro andar disparou:
– Deste-me cabo da perna, amanhã vou foder-te o juízo!

O Leite Rodrigues tentou dizer-lhe que foi sem querer, mas apenas consegui balbuciar, nh! nh! nh!
– Tu grunhas meu fdp! Quando me levantar vou te partir os queixos!

No dia seguinte de manhã, cruzaram o olhar calmamente, e descobriram que tinham sido colegas do mesmo pelotão na recruta em Mafra. Um abraço não esperado, sem palavras, mas sentido. Do Leite Rodrigues apenas se viam os olhos; o camarada chegara uns tempos antes vindo de Moçambique, sem uma perna que fora levada por uma mina antipessoal.

Tinha um prazer imenso em usar da palavra, nos almoços semanais da Tabanca de Matosinhos. Era exímio e profundo. Tocava-nos no coração e todos nós adorávamos ouvi-lo saudar um camarada em festa de aniversário, como o fez, em 12 de fevereiro, pela última vez para me saudar a mim, Zé Teixeira, na minha passagem para o 79. De surpresa, sem eu contar, ouvi soar da sua boa palavras tão lindas que ficarão gravadas eternamente.

Acolher alguém que vem pela primeira vez; para relembrar um acontecimento, uma passagem da história, saudar uma senhora, esposa de um camarada, que nos visita; uma pessoa ex-combatente, ou não, de alguma relevância que vem ao nosso encontro. Tantas e tantas vezes, que algum de nós, ia ter com o Leite Rodrigues a pedir para falar sobre um assunto de interesse.

Mas o que ele gostava mais, era falar da guerra, suas causas e consequências no tempo e ainda hoje, pelas marcas que nos deixou e que irão connosco para a cova. Falava com muito entusiasmo do Vinte e Cinco de Abril, sem paixões, mas com paixão e ardor. Relembrar o antes, o estado do povo e sobretudo de nós os jovens dessa altura. As razões da origem deste dia, como se foram acumulando. Como fomos preparando o terreno, até que chegou o momento em que os militares rebentaram com o regime, e ele estava lá como Capitão na GNR. Depois o povo fez o resto. Gostava de falar desse Vinte e Cinco de Abril que acabou com uma guerra estúpida, sem sentido, que estava a matar a juventude deste país e um povo. E todos nós fomos as suas vítimas.

Gostava de falar aos jovens e todos os anos, por altura do Vinte e Cinco de Abril, fazia um périplo pelas escolas de Vila do Conde, a convite de um tabanqueiro muito querido, Presidente da Associação local de Antigos Combatentes, o Manuel Nascimento Azevedo, para falar aos jovens do Grande Dia da Liberdade.

Foi este homem que acabamos de perder.

Há outras facetas da vida dele: O seu amor aos cavalos. A sua ligação ao Hipismo como atleta campeão olímpico e nacional por diversas vezes. A sua arte como professor de Hipismo e a escola que criou no Centro Hípico de Matosinhos Leça.

Mas, a marca que vai ficar mais patente em nós é o tempo em que convivemos com ele, desde 2006, pelo que aprendemos com ele, pelo prazer de ouvir as suas palavras de alento, que agora nos vão falhar, pela sua alegria e boa disposição contagiante, sobretudo pela sua presença.

Obrigado, Leite Rodrigues.
Zé Teixeira

A comemorar o seu aniversário no restaurante do Centro Hípico.
A saborear o almoço ao lado do tabanqueiro mor - Eduardo Moutinho Santos.
Outro aspeto da Tabanca de Matosinhos em dia de festa.
A amizade expressa no abraço ao camarada que uma vez por mês nos vem visitar e a quem o grupo paga o almoço.
Uma imagem da Tabanca de Matosinhos à quarta-feira
Talvez a falar do Vinte e Cinco de Abril.
O Leite Rodrigues a usar da palavra
A saudar o aniversariante no dia 12 de fevereiro.
No Aniversário do Leite Rodrigues no Restaurante do Centro Hípico, com o Nascimento Azevedo a fazer um brinde.
O abraço do José Fernando Couto
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Nota do editor

Vd. post de 22 de Fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26518: In Memoriam (533): Cap Cav Ref Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025), ex-Alf Mil Cav da CCAV 1748 (1967/69): A Tabanca de Matosinhos fica doravante mais pobre (José Teixeira)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26438: Os 111 históricos do nosso blogue, que agora passam a "senadores" (3): Júlio Benavente, ex-fur mil, CCS/BCAV 1905 (Teixeira Pinto, fev 1967/nov 1968), natural de Póvoa, a viver em North Providence, Rhode Island, EUA


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS/ BCAª 1905 (1967/68) > O Júlio e a sua viola (1)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CCS/ BCAV  1905 (1967/68) > O Júlio e a sua viola (2)




Guiné > Bissau > Restaurante "Solar dos 10"> 15 de novembro de 1968> "Três povoenses nesta fotografia, ao fundo o Verissimo, ao seu lado direito o Zé António Canha,e ao seu lado esquerdo eu e ao meu lado de camisa escura um rapaz de Vialonga de que não me lembro o nome. O esto e malta era da minha companhia.Esta foto foi tirada em Bissau no Solar dos 10 no dia 15/11/1968, e eu ja estava em Bissau a espera do Uige para regressar a Portugal"



Fotos (e legendas): © Júlio Benavente  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Júlio Benavente, ex-fur mil, CCS/BCAV 1905 (Teixeira Pinto, fev 1967/nov 1968), é um dos 111 históricos do nosso blogue (*). Tem poucas referências, é verdade, mas foi dos primeiros camaradas da Guiné a juntar-se à nossa tertúlia (*).

Recordemos a sua mensagem de  apresentção (*):

Amigo Luis:

Somos quase da mesma idade, estive na Guiné em 67/68 e que saudades desse tempo, embora pareça um paradoxo, pois como se pode ter saudades duma coisa como foi o tempo de guerra ?!...

Mas lá aprendemos o que é a camaradagem que nos juntou ateé hoje, mesmo sem contacto pessoal... E como ficamos putos novamente quando falamos com alguém que também lá esteve, na Guiné!...


Júlio Benavente, hoje

O meu nome é Julio Benavente, fui furriel miliciano na CCS do BCAV 1905, de Fevereiro 1967 até Novembro de 1968.

Hoje vivo no Estado de Rhode Island, na cidade de North Providence, nos Estados Unidos da América.

Um abraço, camarada, e obrigado por esta oportunidade de reviver. (---)


2.  Fomos à sua página do Facebook "resgatar" algumas fotos do seu álbum.  São também uma "prova de vida". Ele continuar a sua terra de oirgem: é natural de Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira. Emigrou para os EUA, onde trabalhou na indústria de ferramentas e moldes. Vive no Estado de Rhode Island,em North Providence, onde há uma importante cpomunidade portuguesa ou de origem portuguesa.

Desejamos-lhe saúde e longa vida. Gostámos de revisitar a sua página. E incentivamo-lo a aparecer mais vezes no nosso blogue.

O Júlio é o único representante do BCAV 1905, se não erramos. Vou pedir ao régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, o João Crisóstomo (Queens, Nova Iorque)   que o contacte... 

Júlio, manda notícias frescas. Mas está feita a prova de vida. (**)

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(*) Vd, postes de:

3 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P720: Tabanca Grande: Dos Estados Unidos com saudades dos velhos camaradas (Júlio Benavente, CCS/BCAV 1905, 1967/68)

domingo, 21 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25768: Aristides de Sousa Mendes - Um dos nossos grandes que eu admiro (Carlos Silva, ex-fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) - Parte I: Casa do Passal (Cabanas de Viriato), Museu do Holocausto (Jerusalém) e capas de livros


Foto nº 1 > Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Casa do Passal, em restauro (c. 2018)


Foto nº 2 >  Foto nº 2 > Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Casa do Passal, em restauro (c. 2018) > Cartaz, afixado na parede exterior, mostrando a casa em ruínas


Foto nº 3>  Israel > Jerusalém > 2017 > Museu do Holocausto / Yad Va Shem 

  
Foto nº 4 >  Lisboa > Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11 > 31 de outubro de 2017, às 18h30 > Sessão de lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto" (da autoria de António Moncada S. Mendes; Lisboa, Editora Desassossego, 2017, 352 pp. )  > Apresentação a cargo da historiadora Irene Pimentel.



Foto nº 5 > Lisboa > Salão Nobre do Palácio da Independência, Largo de S. Domingos, 11 > dia 31 de outubro de 2017, às 18h30 > Sessão de lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto" > O Carlos Silva e o autor

 

Foto nº 6 > Dedicatória, a Carlos Silva, do autor do livro, António Moncada S. Mendes, neto de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)










Fotos de 7 a 13 > Capas de livros sobre Aristides deSousa Mendes, da biblioteca do Carlos Silva

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2024. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Carlos Silva,
Jerusalém, 2017

1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71), advogado, natural de Gondomar, régulo da Tabanca dos Melros, com 145 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 20/7/2007.


Data - sábado, 20/07/2024, 20:06
Assunto - Aristides Sousa Mendes


Meu Caro Luís


A propósito do Post 2755 e 25762 sobre o Cônsul Aristides Sousa Mendes e relativamente à inauguração como Museu da Casa do Passal situada em Cabanas de Viriato, onde pelo carnaval se faz a tradicional “Dança dos Cus”, c
oncelho  de Carregal do Sal, já lá estive 3 vezes, porque tenho dois amigos/camaradas que são daquela localidade, sendo um da minha CCaç 2548.

Fui levado em 2015 pelo camarada mais velho da CCav 1905 ( Companhia dos Bigodes ) que foi sediada em Teixeira Pinto e Bissorã, o qual me levou a visitar a povoação e o cemitério local para ver o jazigo onde jaz Aristides Sousa Mendes.

O dito camarada, Carlos Rodrigues, falou-me desta figura ímpar da nossa História que eu não conhecia, tendo eu ficado maravilhado com o que ele me ia contando sobre o seu conterrâneo, pois, embora pequeno ainda chegou a conhecê-lo e toda a azáfama que havia em torno daquele palacete.

Deste modo, envio-te umas fotos de 2015 e 2018 da Casa do Passal e do cemitério.

A partir daí fiquei muito interessado em conhecer verdadeiramente a História do nosso cônsul em Bordéus e os seus feitos, pelo que fui adquirindo alguns livros sobre a sua personalidade e dos quais junto fotos das capas dos mesmos, assim como do livro que adquiri no Palácio da Independência em Lisboa na altura da sua apresentação em novembro de 2017 e da autoria do seu neto António Moncada Sousa Mendes, que tem a sua dedicatória.

Em setembro de 2017 estive em Israel e claro fomos a Jerusalém onde tive a oportunidade de visitar o Museu do Holocausto/ Yad Va Shem e aí a Senhora que nos atendeu perguntou-nos de que nacionalidade éramos, tendo eu respondido que éramos portugueses e face a esta resposta foi de uma simpatia inexcedível, de mediato informou-me que figurava no Museu um “Justo” português de seu nome Aristides Sousa Mendes, pelo que fez várias cópias sobre o seu historial e ofereceu-me, bem como, explicou-nos onde se encontrava exposto, só que não se podia tirar fotos, mas como sempre o fruto proibido … eu consegui fazer duas fotos que junto e outras.

Podes, se assim entenderes fazer a respectiva publicação

Abraço
Carlos Silva
20-07-2024

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15685: Notas de leitura (801): "Catarse", da autoria do Pe. Abel Gonçalves (Major-Capelão do BCAÇ 1911 e do BCAV 1905), edição de autor, 2007 (2) (Mário Beja Santos)

1. Conclusão da recensão do livro "Catarse", da autoria do Major Capelão Abel Gonçalves, enviada ao Blogue em 22 de Janeiro passado pelo nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70).


Catarse, pelo Major Capelão Abel Gonçalves (2)

Beja Santos

O Alferes Capelão Abel Gonçalves já tem quem o ajude no setor de Bambadinca, dedica-se a tempo inteiro aos 18 destacamentos sob o comando do BCAV 1905, que ele enumera: Camamudo, Catacunda, Fajonquito, Cambajú, Jabicunda, Contuboel, Sara-Bacar, Sara-Banda, Banjara, Sinchã-Jobel, Sara-Ganá, Geba, Sinchã-Dembel, Sinchã-Sulu, Fulacunda, Udicunda, Bansci. Insisto que esta é a enumeração que o autor faz, tenho dúvidas que tivéssemos um destacamento em Sinchã-Jobel, sempre me disseram que era uma base do PAIGC em território de intervenção exclusiva do Comando-Chefe. Desloca-se de jipe, e muitas vezes em coluna, guarda memórias de jipes que griparam ou a que rebentaram pneus. Em Contuboel relacionou-se com um chefe muçulmano de nome Caramon-Mamadu. Dispunha de um altar portátil, convidava muitas vezes as gentes das tabancas, e encontrava recetividade:
“Na recitação do Pai Nosso uniram-se aos nossos gestos espontaneamente erguendo as mãos para o céu, implorando do Deus único, com nomes diferentes a paz eterna para os finados”.

Conserva recordações das pessoas que encontrou ao longo das deambulações pelo setor de Bafatá, caso do alemão luterano de Geba:
“Conheci o único branco da população de Geba, um alemão chamado Lindorf. Não sei como foi ali parar. Vivia bem, casado com uma nativa, cristão, afirmando com um certo orgulho que tinha tido uma só mulher. Um homem crente, que me dizia com muita simplicidade: 
- Eu sou luterano, tal como o senhor é católico. Nasci numa aldeia onde todos eram luteranos.
Mandava limpar e enfeitar a igreja e dava esmolas para a missão católica. Como não tinha filhos, sustentava os inúmeros sobrinhos da mulher”.

Considerava que a companhia sediada em Geba estava destroçada, o seu comandante tinha morrido a levantar uma mina. Dos quatro alferes primitivos só restava um. Em Outubro de 1968 é louvado e colocado no Hospital Militar de Bissau, vai conviver diariamente com o sofrimento. Em Maio de 1969 regressa a Lisboa, em conversa com o Bispo Castrense, este incita-o a continuar com o seu trabalho nas Forças Armadas. Entretanto é colocado na base aérea de S. Jacinto, dá aulas na Escola de Formação de Pilotos. Dão-lhe missões de ir comunicar à família a morte de militares, é um ponto alto das suas descrições.

Temo-lo agora na base de Bissalanca, é o Capelão da Base Aérea 12. É encarregado da assistência a muitas unidades do Exército: Unidade Militar de Bá (Adidos, Comandos, Engenharia e o COMBIS), a Força Aérea não via com bons olhos que o seu capelão andasse pelos destacamentos do Exército. Não esqueceu a Capela de Bissalanca, onde tinha quarto e um salão onde dava aulas, era o responsável pela biblioteca e dava aulas a negros e brancos, de preparação para a quarta classe. A morte ronda por toda a parte. Em plena pista de Bissalanca, a enfermeira Celeste foi sugada pela hélice do avião, que lhe cortou, como se fosse uma lâmina, a nuca, morte instantânea. Mas havia também os acidentes alheios à guerra e encomendavam ao capelão que fosse dar a funesta notícia às famílias. É enternecedor o retrato que faz do padre Marcos, um bondoso capuchinho italiano que vivia com um grupo de rapazes negros junto à Capela de Brá. Vivia pobremente, chegava a comer as sobras que lhe davam dos quartéis. A Engenharia Militar fez-lhe uma pequena casa. E dá-nos a impressão encantadora de um encontro entre os dois:
“Os rapazes da pequena comunidade dele gostavam mais de ir à minha missa por causa dos cânticos mais alegres.
Um domingo, lá o vejo ao fundo da capela a assistir à missa, com o seu ar muito castanho, com as costumadas nódoas de pó, a sua barbinha ruça, os cabelos desgrenhados. No fim da missa foi à sacristia e disse-me: 
- Sabe, senhor capelão, eu antes de ir para frade, fui mundano e estes cânticos lembram-me esses tempos do pecado.
- Ora, ora, senhor Padre Marcos, a mim não me lembra nada disso, porque nunca andei nessas vidas! Disse-lhe eu, a rir muito”.

Recorda aqueles meses de pesadelo do primeiro semestre de 1973, o assassinato de Cabral, a chegada dos mísseis Strella, o agravamento da situação militar. Veio o 25 de Abril e toda a situação se alterou, regressou a S. Jacinto em Agosto de 1974, apanhou o PREC e o 25 de Novembro. Foi visitar os presos:
“Também fui à prisão de Custóias. Visitei um paraquedista que me não disse uma única palavra. Admirei, no entanto, os frescos pintados a cores nas paredes da cela. Recordo ver desenhado um paraquedista, deitado com as mãos no chão, com a legenda o paraquedista, mesmo depois de morto ainda fez 100 flexões”.

Apresenta a lista dos capelães militares que prestaram serviço no CTIG entre 1961 e 1974. Rende a sua homenagem a todos os capelães que prestaram serviço na Guiné, manifesta o seu grande apreço pelo trabalho dos missionários. A título do posfácio, dá-nos a saber que também andou pelo Hospital Militar da Força Aérea, no Lumiar, e pede-nos para não esquecermos todos os nossos camaradas:
“Quase todos os que estiveram mergulhados nas emoções de uma guerra… sempre à espera do inesperado, vendo nos outros aquilo que só por sorte não os atingia a eles, imaginando-se na situação desses, face à família e aos amigos. Se o corpo está íntegro, a mente está ferida, a emoção retalhada, o subconsciente entulhado de horrores, desgostos, tragédias, vigílias, incertezas, medos… mais o que não somos capazes de definir com palavras".
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Nota do editor

Poste anterior de 25 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15665: Notas de leitura (800): "Catarse", da autoria do Pe. Abel Gonçalves (Major-Capelão do BCAÇ 1911 e do BCAV 1905), edição de autor, 2007 (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15665: Notas de leitura (800): "Catarse", da autoria do Pe. Abel Gonçalves (Major-Capelão do BCAÇ 1911 e do BCAV 1905), edição de autor, 2007 (1) (Mário Beja Santos)

1. Reprodução da mensagem que o nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou ao autor do livro Catarse em 22 de Janeiro de 2016:

Meu prezado Reverendo Abel Gonçalves,

Agradeço-lhe muito o envio do seu livro, que muito apreciei. As duas recensões serão publicadas no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné. Peço-lhe o favor de ver no seu computador esta referência, é bem possível que possa rever todos os locais por onde andou.

Em 2010, voltei à Capela de Bambadinca que está felizmente recuperada pelas missionárias que ali trabalham.

Porquê publicar as nossas recordações em blogue? No meu caso, trata-se de uma colaboração que vem de longa data e não tem fim, procuro repertoriar tudo aquilo que tem a ver com a Guiné, nomeadamente os testemunhos de quem ali combateu a partir de 1963.

O seu testemunho é singularíssimo, não conheço outro capelão que tenha bisado a comissão, o que acresce a importância do seu testemunho. Seria muito tocante que se inscrevesse no nosso blogue, estou certo e seguro que tem muitas histórias para contar e rever as imagens preciosas ali contidas também podem ser um refrigério para a sua alma.

Receba o agradecimento profundo e a elevada consideração do
Mário Beja Santos


Catarse, pelo Major-Capelão Abel Gonçalves (1)

Beja Santos

É a primeira vez que oiço falar num capelão que fez duas comissões na Guiné. Tem hoje 85 anos, é major, e vive na Ordem da Trindade, no Porto. Em 2007, em edição de autor, publicou Catarse (palavra que nos remete para o procedimento terapêutico pelo qual uma pessoa se cura revivendo acontecimento traumáticos). Telefonei-lhe, pedi-lhe o livro, prontamente acedeu e convidou-me a passar pela Rua da Trindade, para conversarmos. Lembro-me dele na capela de Bambadinca, num domingo em que vim muito cedo de Missirá, as fotos que ele publica no livro coincidem com a lembrança que me ficou.

Como escreve, estava pacatamente a ajudar nas confissões quaresmais, na paróquia de Oliveira do Douro, quando apareceram dois agentes da GNR que entregaram uma guia de marcha para se apresentar com urgência no RI 15, em Tomar.

Acha-se com o ordenado de alferes, habituado a paróquias pobres, começa a sonhar com uma máquina fotográfica. Em Abril de 1967, incorporado no BCAÇ 1911  [Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69], embarca no Uíge, em Bissau é despejado numa barcaça, dias depois, após uns treinos de desembarque no Ilhéu do Rei, ficam sediados em Brá. A experiência foi gratificante:


“Tive oportunidade de batizar um pequeno grupo de nativos que os militares catequistas do Batalhão de Engenharia tinham devidamente preparado".

Seguem para Teixeira Pinto numa LDM, fica a viver numa casa da missão católica e celebra numa pequena igreja. Aproveita a evacuação de um ferido grave e vai até ao Jolmete. O então alferes capelão Abel Gonçalves gosta do pícaro, e não esconde certos embaraços por que passou. O caso do banho, nuzinho diante de todos, ele que estava marcado pelo seminário, onde não podiam tirar as calças, senão debaixo da roupa da cama. Um dos alferes comete a brejeirice, diz-lhe:
“Sabes o que estavam os soldados a dizer? Que viram os limões ao capelão!”.
Não ficou sem resposta:
“É para que fiquem a saber que os capelães também têm dessa fruta!”.

[foto à esquerda, major-capelão ref Abel Gonçalves]

Fala da solidão, da falta de correio, da sensaboria da comida, apercebeu-se rapidamente da dureza da guerra. Regressa a Teixeira Pinto, sofrem uma emboscada, alguém a seu lado foi atingido mortalmente. Albino, o jovem cristão que guardava a casa de missionário, recebe-o com alegria quando chega a Teixeira Pinto e prepara-lhe um churrasco, ele não esqueceu a solicitude do jovem e guardou na memória a receita:
“Num tacho tinha posto rodelas de cebola, alhos, azeite, piripiri, loureiro, muito sumo de limão, de uns limões e pequeninos, casca fina como papel. Cada pedaço de carne era molhado naquele preparado e logo assado nas brasas”.

Dão-lhe instruções para sair Teixeira Pinto, vem de férias. Acaba por se comportar como qualquer militar, fica nervoso quando lhe fazem perguntas pois dirigem comentários descabidos, sente-se apático, indiferente às banalidades, tudo lhe parece insignificante com o que viu, sentiu e aguentou até à exaustão. Regressa e é destacado para um batalhão da cavalaria. Apresenta o novo território:
“É um setor muito grande, com 18 destacamentos. Trata-se de Bafatá. Na sede do batalhão não se conhecem problemas, a vida está difícil mais para a fronteira ou da povoação de Geba em diante”.

Presta igualmente assistência ao setor de Bambadinca, mas no essencial o seu território vai de Cambajú ao Xitole, de Banjara ao Xime, de Sara Bácar a Geba. Lembra-nos que a sua arma é sempre o terço, faz-se acompanhar com uma imagem do Imaculado Coração de Maria que lhe fora oferecida pelos ex-paroquianos de Ervedosa do Douro.

Cortesia do Carlos Coutinho
Gostou do ambiente de Bafatá e do primeiro comandante do BCAV 1905 [Teixeira Pinto, Bissau e Bafatá, 1967/68]. É um capelão solícito:

“Os missionários não podiam sair da cidade, e quem prestava um mínimo de assistências às pequenas comunidades católicas era o capelão. Levava o dinheiro atribuído a essas comunidades a pedido do senhor Prefeito Apostólico. O capelão girava sempre de destacamento para destacamento, com a mochila às costas e o mínimo indispensável para celebrar a Eucaristia. Um bloco de notas para apontar pedidos”.

Levava também rebuçados, velas para oferecer às mesquitas, jornais, revistas e livros para toda a malta. Descreve as duas missões de Bafatá, a masculina e a feminina e depois dá-nos conta de certas solicitações insólitas para o seu múnus. Encontrou em cima da secretária o requerimento de um soldado que pedia para ser autorizado a usar barba, tinha feito uma promessa a Nossa Senhora de Fátima. O comandante despachou para ele. Leu, meditou e escreveu:
“Indeferido, porque não se pode prometer o que é contra a legislação”.
Falou com o soldado e tranquilizou-o, ficaram amigos.

Descreve Bambadinca:

“A povoação de Bambadinca tinha uma sala de aulas/capela, polivalente, que pertencia à missão católica de Bafatá, mas os missionários não podiam lá ir. Só os capelães militares e com grande escolta. Um cortinado separava o altar do resto da sala. Ao lado, outra sala mais pequena, sempre cheia de urnas com mortos, para oportunamente serem transportados para Bissau. Era no meio das urnas que me paramentava para a celebração da Eucaristia”.

Visitou várias vezes o Xime, bem como o Xitole, lembra-se muito bem das atribulações da viagem. E vem mais uma brejeirice que ele intitula “o médico do Xitole”:

“No Xitole havia um alferes médico, o Dr. Sílvio, que era quem praticamente comandava o destacamento.
O capitão miliciano era, creio eu, um notário que não queria saber de nada.
O Dr. Sílvio é que me recebia e sempre muito bem. Mostrava-me os abrigos que mandara fazer e as valas de acesso aos mesmos.
- Capelão, que quer comer ao pequeno-almoço? - O que o senhor doutor me receitar! 
- Umas sopas de vinho fresco que tenho no frigorífico. 
- Se dão força aos cavalos e o senhor doutor receita, vamos lá a elas!
Os dois, um de cada lado de um bidão de gasolina vazio, sentados em cadeiras improvisadas com as aduelas dos pipos. E este vinho era muito cristão, pois tinha sido muitas vezes batizado pelos lugares por onde tinha passado!”.

(Continua)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72 > A parada do quartel de Bambadinca, a capela (que servia também de casa mortuária...) e, à direita, a secretaria da CCAÇ 12 (1969/74).

Foto: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.


2. Nota do editor:

Do BCÇ 1911, temos pelo menos um membro da nossa Tabanca Grande, desde 11/12/2011, o Fernandino Vigário, ex-soldado condutor auto rodas, CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto, Pelundo, Có e Jolmete, 1967/69).  Tem vários postes publicados sobre a história do batalhão, além de uma história deliciosa sobre um outro capelão, um jovem alferes, que ele conheceu em Bissau e a quem deu um boleia...,  e "que queria ensinar o Pai-Nosso ao Vigário"...

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15652: Notas de leitura (799): “La Découverte de L'Áfrique", por Catherine Coquery (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 15 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12045: Em busca de... (229): Camaradas e memórias do Sold Cav António Manuel Rosa dos Santos (CCAV 1651/ BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/69)... Para realização de um vídeo à não-memória, no âmbito da candidatura ao Prémio EDP Novos Artistas (Sandro Ferreira, artista plástico)

1. Mensagem do nosso leitor Sandro Ferreira:

De: Sandro Ferreira

Data: 27 de Agosto de 2013 às 10:51

Assunto: Guiné 1967/69

Olá, bons dias, desde já felicito os administradores do blog por toda a pesquisa e postagem desta parte da nossa História recente.

Chamo-me Sandro Ferreira, sou artista plástico e um dos seleccionados para o Prémio EDP Novos Artistas, todo o meu trabalho anda em torno da Guerra Colonial/Guerra do Ultramar e as memórias da mesma.

Um dos trabalhos que conto apresentar é um video que em conjunto com a base onde é apresentado representa um monumento à não memória. Tenho conhecimento de um ex-combatente (pai de uma amiga) que combateu na Guiné entre 1967 e 69, António Manuel Rosa dos Santos nº 2082/66,  fazendo parte da CCAV 1651/BCAV 1905 [, A CCS esteve sediada em Teixeira Pinto, 1967].

O António sofre de uam doença crónica degenerativa, num estado muito avançado, daí o monumento á memória perdida ou não memória.

Gostaria pois de saber se seria possivel encontrar alguém (nos vossos contactos) que tivesse estado na mesma comissão e que pudesse contar algo sobre António Manuel Rosa dos Santos para incluir no video como únicas memórias exteriores.

Não sei se fui claro no que pretendo mas se me pudessem ajudar agradecia imenso.

Muitos cumprimentos

Sandro Ferreira

2. Comentário de L.G:

Infelizmente não temos aqui ninguém da CCAV 1651. Mas temos camaradas da CCS/BCAV 1905. Talvez através deles possamos chegar à companhia do António Rosa Rosa Santos. Esperemos que este seu apelo obtenha uma resposta positiva. Transmita à sua amiga, filha do nosso camarada, as nossas preocupações pela saúde do pai. E ao Sandro, desejamos que faça um bom trabalho, fazendo bom uso do seu talento para homenagear a memória dos ex-combatentes da guerra colonial. Parabéns por ter sido selecionado no âmbito do Prémio EDP Novos Artistas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12016: Em busca de... (228): Foto do malogrado Júlio Lemos Martins (, da CCaç 797, Tite e Nhacra, 1965/67, afogado no Rio Louvado, em 12/8/1965) para inclusão em livro dos combatentes mortos na guerra do ultramar, naturais de Ponte de Lima (Júlio Pinto)

segunda-feira, 25 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Novembro de 2012:

Queridos amigos,
Aqui temos um livro escrito por um Padre Capelão, quase inteiramente dedicado às suas duas comissões na Guiné.
Percebe-se rapidamente porque escolheu o título para a sua obra "Catarse": Não esconde os comportamentos mandões, a falta de apoio que sentiu, em diferentes situações, de outros padres e seus superiores.
Teve manifesto orgulho pela sua missão em Bafatá, transcreve o louvor que lhe foi dado pelo BCAV 1905. Ali se diz claramente que tomou a iniciativa de percorrer toda a ação do batalhão para que a assistência religiosa não faltasse às tropas.
É um homem de coragem, confessa a sua admiração por Spínola e Amílcar Cabral. E pede humildemente desculpa por não ter feito livro mais claro e detalhado, conforta-se com a compreensão dos seus leitores.

Um abraço do
Mário


Catarse: As duas comissões na Guiné do Padre Abel Gonçalves

Beja Santos

Vem nos dicionários que a palavra catarse provém do grego, foi utilizada por Aristóteles para designar o processo de purgação ou eliminação das paixões que se produz no espectador quando, no teatro, assiste à representação de uma tragédia. Com a escola psicanalista o método catártico corresponde ao procedimento terapêutico pelo qual uma pessoa consegue eliminar os afetos patológicos revivendo os acontecimentos traumáticos a que estão ligados. Segundo esta última definição, uma parte substancial da literatura da guerra tem tal finalidade.

O Padre Abel Gonçalves foi nomeado pároco de Valença do Douro em 1958, a seguir passou por várias dioceses até que em Março de 1967 foi incorporado no BÇAC 1911, com destino à Guiné. Revive as suas memórias quase como se tivesse um bloco de notas onde registou impressões e estados de alma (“Catarse”, por Abel Gonçalves, edição de autor, 2007). Foi praxado pelo chefe da secretaria, fez-lhe tirar fotografias por quatro vezes. Vêm de Tomar para a Rocha do Conde de Óbidos e embarcam no Uíge em 26 de Abril de 1967. Regista que as praças iam nos porões, em condições desumanas.

Celebrava missa no convés, notou grande afluência e respeito. Filho único, o seu principal cuidado foi tranquilizar os pais, quando pôs os pés em terra. Seguem para o Quartel de Adidos, aí começa o treino para operações no mato. Morre um soldado atirador e ele escreve: “Transido de medo, não sei se da teimosa trovoada, da guerra devorada, do morto inofensivo e sereno ou da obrigação odiosa e cruel de comunicar à família aquela trágica e injusta perda… Parecia que me sentia criminoso por ter de anunciar que já estava morto aquele que vivia ainda num entendimento dos que o amavam. A pior coisa que confiavam aos capelães era esta de anunciar aos familiares a morte de um ente querido”. Nunca se ambientou a Bissau, às conversas com ataques, mortos e mutilados. Descobre, na sucessão dos dias, que um bom punhado de militares tem problemas de saúde, desde a epilepsia à tuberculose.

E rumam para Teixeira Pinto, fica numa pequena residência com chão e cimento junto de uma pequena igreja, era visível o aspeto de abandono. Guarda-lhe a casa e acolita-o nos deveres religiosos um menino chamado Albino. É chamado ao batalhão onde lhe comunicam que vai ser nomeado gerente de messe, recusa, alega que o serviço de assistência religiosa é o seu dever e nada mais. E vai para Jolmete, descreve o aquartelamento com as suas torres feitas de cibes, os abrigos, a falta de gerador elétrico, a iluminação era dada por garrafas de cerveja com uma torcida de pano; a casa de banho é constituída por um bidão, ele vinha com pudores entranhados por 12 anos de seminário, ali tinha mesmo que se expor e vencer o acanhamento, resistiu a frases irreverentes e maliciosas. Celebra regularmente missa no Jolmete, num local rodeado por bidões cheios de terra, comparecem crentes e descrentes. Ali perdia-se a noção do tempo, sofria-se pela falta de correio, pela péssima alimentação, pelo silêncio confrangedor, as noites em expetativa. Volta ao Jolmete, é iniciado em emboscadas e em minas. Um dia, dão-lhe ordem para regressar a Bissau, aproveita para vir de férias, sofre pelo alheamento da sua diocese. No regresso, apresenta-se ao chefe dos capelães, indicam-lhe que vai para Bafatá, tem um enorme setor para prestar assistência, estende-se mesmo ao sector de Bambadinca, inclui o Xime e o Xitole, sente-se em missão de paz, a sua arma era o terço do Rosário.

Descreve Bafatá, está contente com o bom ambiente militar, faz amizade com o 2º comandante do BCAV 1905, Andrade e Silva, e regista com satisfação: “No BCAV 1905 até me agradeciam uma colaboração franca e amiga. Compreenderam e respeitaram sempre os limites da minha, por vezes, melindrosa missão de capelão na guerra. Nunca me exigiram que fosse informador pidesco. Dava gosto trabalhar aqui”.

Percorre os destacamentos de lés a lés, faz amizade com os padres missionários e mesmo com a Missão da Sagrada Família de Bafatá, que estava a cargo das Irmãs Hospitaleiras Franciscanas Portuguesas, o seu auxiliar era o 1º Cabo Marques, assim apresentado: “Bondoso, paciente, humilde, simples, sincero, prestável. Só que tinha medo de ir comigo para o mato”.

Visita Bambadinca, o Xime e o Xitole. A viagem para o Xitole foi um calvário, nunca esqueceu o alferes médico, o Dr. Sílvio, seria ele quem comandava o destacamento já que o capitão miliciano, um notário, não queria saber de nada. É o Dr. Sílvio quem lhe receita para o pequeno-almoço umas sopas de vinho fresco, ali estavam os dois, um de cada lado de um bidão de gasolina a beber um vinho muito cristão, teria sido muitas vezes “batizado” pelos lugares onde tinha passado.

Visita sem desfalecimento Camamudu, Catacunda, Fajonquito, Cambajú, Jabicunda, Contuboel, Sare-Cacar, Sara-Banda, Banjara, Sinchã-Jobel, Geba, Sinchã-Dembel, Sinchã-Sulu, Furacunda, Udicunda e Banchi. Comunica com os chefes de tabanca, os régulos e os chefes religiosos. Faz amizade com o capitão miliciano Pires, de Contuboel. Por vezes, regista o pícaro entremeado pelo sofrimento: “A companhia que estava em Geba, era uma companhia distorçada. O capitão tinha morrido a levantar uma mina. Dos quatro alferes primitivos só restava um, o Fernandes. O capitão atual parecia transtornado quando vinha a Bafatá, num jipe de escape livre, com o barulho que fazia logo todos exclamavam: é o capitão de Geba!”.

Nunca esqueceu o presépio montado pelos militares de Banjara, com a imaginação e arte transformaram bugalhos, paus, latas de coca-cola, pequenas garrafas, gaze, algodão hidrófilo em imagens da Virgem, de S. José, do Menino, vaca, burro e anjos colocados numa fruta improvisada num barril de madeira. Finda a missão do BCAV 1905, o Padre Abel Gonçalves foi colocado no hospital militar, habituou-se a ver sangue por todos os lados.

Regressa no Niassa a Lisboa em Maio de 1969. É colocado na Base Aérea 7, em S. Jacinto, para além da assistência religiosa foi designado professor de deontologia militar e psicologia do voo. Entregam-lhe a sempre espinhosa missão de ir comunicar às famílias a morte deste ou aquele militar. Ao fim de 3 anos e meio de uma vida calma, parte novamente para a Guiné, é colocado na Base Aérea 12, em Bissalanca; fica igualmente encarregado de dar assistência a muitas unidades do Exército, enfim, todos os destacamentos a norte de Bissau até ao Biombo e, para o interior, todos os destacamentos até Mansoa. A Base tinha boa e espaçosa capela, o capelão dispunha de quarto e de um salão para aulas, leitura e estudo.

A tessitura das suas memórias revela que o trabalho é árduo, variegado, sente-se muito bem no relacionamento social. Refere a morte da paraquedista Celeste, acidentes de viação que levavam o capelão procurar dar apoio aos familiares dos sinistrados, nunca esqueceu o Padre Marcos, um simples e bondoso capuchinho italiano que vivia pobremente em Brá, vivia de esmolas, era de uma ingenuidade e franqueza que desarmava toda a gente. O seu passatempo era cuidar de uma horta onde plantou pedaços de tronco de mandioca, caroços de mangueiros, bananeiras e uma figueira.

Gostava de visitar Salgueiro Maia em Pete, e depois refere o agravamento da situação a partir de 1973. Assiste aos comícios do PAIGC em Bissau e os militares transformados em revolucionários. Impressionou-se com a saída dos últimos militares portugueses: os nossos soldados estavam na fortaleza de Amura, perto do cais de embarque e deitavam pelas muralhas abaixo parte das rações de combate que os nativos apanhavam e agradeciam de lágrimas nos olhos.

Assistiram ao embarque com manifesta tristeza. Sem sequer um insulto. Eles sabem que nós, ainda hoje, os temos no coração.

Em 15 de Agosto de 1974, regressa e é novamente colocado em S. Jacinto. Termina, rendendo homenagem a todos os capelães que prestaram serviço na Guiné, confessa que gostaria de ter feito melhor, mas aceita tranquilo a responsabilidade das suas limitações.
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11292: Notas de leitura (467): A palavra aos desertores portugueses (Mário Beja Santos)

sábado, 19 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10967: Blogoterapia (221): As nossas vidas valiam pouco ou nada para quem ficava na retaguarda (Júlio Benavente)

1. Mensagem do nosso camarada Júlio Benavente, ex-Fur Mil da CCS/BCAV 1905, Teixeira Pinto, 1967/68, com data de 16 de Janeiro de 2013: 

Caros camaradas,
Gostava de vos mostrar a desorganização e a falta de ética militar por que passámos muitos de nós.

Em fevereiro de 1967 chegámos a Bissau pela manhã no navio Uíge.
Até aqui nada de especial, só que permanecemos, até às tantas da noite, a bordo, à espera que chegassem as LDGs que nos haviam de levar rio acima a Teixeira Pinto.

O mais curioso é que o nosso batalhão inteiro não tinha uma única arma, só os marinheiros que compunham a guarnição das LDGs é que tinham algumas metralhadoras.
Quem conhece esse rio, sabe como era fácil alguém, mesmo da margem, lançar algumas granadas para dentro das embarcações e matar dezenas de companheiros.

No dia a seguir à nossa chegada a Teixeira Pinto, eu furriel miliciano mecânico de armamento, mais o meu segundo comandante, major Luís Rodrigues de Carvalho, e o alferes de transmissões, voamos num Dornier de volta a Bissau onde eu fui levantar todo o armamento em caixotes e novamente metido na LDG regressei a Teixeira Pinto.

Escusado será dizer que todo o batalhão ficou cerca de uma semana sem uma única arma, com excepção das que o 7 ou 10 de espadas, que era o pelotão que fomos render, tinha.

Por outro lado, as G3 que vieram nos caixotes eram velhas e a maior parte delas encravava.
Nessa altura aquela zona de Teixeira Pinto era bastante agitada sempre com emboscadas, minas, etc!...

O Pelundo era mau, o Cacheu era mau, e muito especialmente Jolmete onde os ataques eram quase diários. Na única vez em que lá fui tive a sorte de nada acontecer.

A razão por que vos escrevo é para comentar o pouco ou nada que as nossas vidas valiam para gente que ficava sempre na retaguarda, dando ordens e estratégias para muitos de nós que passamos maus bocados naquela guerra. Felizmente isto não se aplica muito a mim.

P.S. -  Desculpem a falta de acentuação, mas estou a escrever num teclado americano, e alguns erros de composição e ortografia que possa ter dado, pois já estou um pouco enferrujado, já que vivo há 33 anos nos Estados Unidos da América.

Júlio Benavente
ex-furriel miliciano
CCS/BCAV 1905
North Providence
Rhode Island
USA
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P10941: Blogoterapia (221): Fantasmas do fundo do baú... A morte, em 24/1/1971, do cap inf op esp Fernando Assunção Silva,1º comandante da CCAÇ 2796 , e meu amigo (Vasco Pires, 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9868: O Nosso Livro de Visitas (135): José Ferreira, ex-1.º Cabo (Bafatá e Teixeira Pinto, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira, ex-1.º Cabo que esteve em Bafatá e Teixeira Pinto, com data de 29 de Março de 2012:

Bom dia amigo Luís Graça 

Sou um ex-combatente na Guiné do Batalhão de Cavalaria1 905 que regressou em fevereiro de 69.
Estivemos em Bafatá e Teixeira Pinto, fizemos escoltas a Bambadinca, Nova Lamego e muitas outras.

Vi o teu blog e pensei em me ajuntar a vós caso me aceiteis.

Sou de Viana do Castelo e chamo-me José Ferreira, mais conhecido por Cabo Viana.

Sem mais, um abraço
José Ferreira


2. No passado dia 3 de Maio foi enviada uma mensagem a José Ferreira nos seguintes moldes:

Caro camarada José Ferreira

A tua mensagem andou uns dias perdida numa caixa de correio do Luís Graça, onde ele vai poucas vezes. Em futuros contactos usa antes esta: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Se quiseres juntar-te a este numeroso grupo de camaradas que fez a guerra colonial na Guiné, manda uma foto do teu tempo de Guiné e outra actual, tipo passe de preferência e faz uma pequena apresentação de ti, a saber:

Nome, Posto e especialidade militares, datas de ida e volta da Guiné, Companhia e Batalhão a que pertenceste, quartéis por onde andaste, etc. para fazermos a tua apresentação formal à tertúlia.
Se quiseres podes contar uma pequena história passada contigo e mandar outras fotos que tenhas em teu poder.

Esperamos a tua resposta.
Até lá recebe um abraço do teu camarada
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Nota do editor:

Salvo melhor opinião suponho que o camarada José Ferreira está equivocado quanto à identificação do seu Batalhão e à data de regresso. O número de Batalhão de Cavalaria mais parecido com 905 é 1905.

O BCAV 1905 partiu para a Guiné em 01 FEV67 e regressou a 19NOV68.

O BCAV 1905 assumiu a responsabilidade do Sector 01-A com sede em Teixeira Pinto entre FEV e AGO67. Em SET67 rendeu em Bafatá o BCAÇ 1877. Em NOV 68 recolheu a Bissau para aguardar o regresso à Metrópole.

- Elementos recolhidos da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - 7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9820: O Nosso Livro de Visitas (134): Rogé Henriques Guerreiro, que vive em Cascais, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 4743 (Gadamael e Tite, 1972/74)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6680: O Nosso Livro de Visitas (91): A. Branco, CCAÇ 16, Bachile, chão manjaco, 1971

1. Mensagem do nosso camarada José Romão [, foto à esquerda], com data de 30 de Junho último:

Assunto:  Bachile, CCAÇ 16


Amigos e camaradas Magalhães Ribeiro e António Graça Abreu


Aqui vos mando uma mensagem enviada pelo camarada Branco que também prestou serviço militar no Bachile.


Um grande abraço. Romão


2. Mensagem do A. Branco, com data de 29 de Junho passado, para o Zé Romão:

Assunto -  Bachile,  CCAÇ 16

Caro Romão

Acabo de fazer mais uma das minhas habituais visitas ao blogue do Luis Graça e rapidamente me apercebi do texto e das imagens da CCAÇ 16.

Tal como referes, e ao contrário da opinião do António Graça Abreu, o Bachile nessa altura era efectivamente tal qual o descreves e sublinhas com fotos.

A confusão do António Graça Abreu, deve ter a ver com o que eu algures já li,  noutros sítios,  em que o Bachile antes da conclusão da estrada até ao Cacheu não tinha nem por sombras  aquelas condições, até porque a CCAÇ 16 só foi organizada em Fevereiro de 1970,  conforme nota descretiva que a seguir envio.

Esclarecida esta situação, queria-te pedir que me autorizasses a copiar para o meu album pessoal as imagens do quartel e nomeadamente da minha secção, a arrecadação, já que as que eu tenho não têm a mesma qualidade.

Por agora um abraço e vou continuando atento a tudo o que surja referente à nossa companhia e ao Bachile.

A. Branco
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Notas sobre a Companhia de Caçadores nº 16, compiladas por José Martins (Vd. poste P4347, de 14 de Maio de 2009)


(i) Subunidade do recrutamento local, foi organizada no CIM de Bolama, em 4 de Fevereiro de 1970;

(ii) À semelhança de outras, da chamada "nova força afriacna", por quadros (oficiais, sargentos e praças especialistas) de origem metropolitana e por praças guineenses, de etnia manjaca;

(iii) Colocada em Teixeira Pinto, em 4 de Março de 1970, destacou dois pelotões para Bachile, passando a estar integrada no dispositivo do BCAV nº 1905, e substituindo a CCAÇ nº 2658, que se encontrava em reforço no sector;

(iv) Em 30 de Abril de 1970, já com o quadro orgânico de pessoal completo,  passa a ser a unidade de quadrícula de Bachile;
(v) Em 28 de Janeiro de 1971 passa a depender do CAOP 1 (com sede em Teixeira Pinto);

(vi) A partir de 1 de Fevereiro de 1973, fica na dependência do o BCAÇ nº 3863 e do BCAÇ nº 4615/73, que assumiram, a seu tempo, a responsabilidade do sector em que aquela subunidade estava integrada;

(vii) Destacou forças para colaborar nos trabalhos de reordenamento de Churobrique;

(viii) Em 26 de Agosto de 1974, desactivou e entregou o quartel de Bachile ao PAIGC, recolhendo a Teixeira Pinto, onde foi extinta a 31 de Agosto desse ano.

(ix) Assumiram o comando desta subunidade, os seguintes oficiais:

Cap Inf Rolando Xavier de Castro Guimarães
Cap Inf Luciano Ferreira Duarte
Cap Mil Inf  José Maria Teixeira de Gouveia
Cap QEO [Quadro Especial de Oficiais] José Mendes Fernandes Martins
Cap Inf Abílio Dias Afonso
Cap Mil Art  Luís Carlos Queiroz da Silva Fonseca
Cap Mil Inf Manuel Lopes Martins

(x) Esta subunidade não tem História da Unidade: existem  apenas alguns registos,  muito incompletos, relativo aos períodos de 1 de Janeiro a 31 de Setembro de 1972 e de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 1973 (Vd. Arquivo Histórico Militar, caixa nº 130 – 2ª Divisão/4ª Secção).

3. Comentário de L.G.:

Agradeço ao Romão e ao Branco (bem como ao nosso infatigável colaborador, amigo e camarada José Martins) estas preciosas notas sobre o historial da CCAÇ 16, da qual não temos falado muito no nosso blogue, a não ser mais recentemente.

O Branco, que é nosso leitor regular, fica deste já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande, se assim o desejar. Basta-lhe mandar-nos duas imagens, digitalizadas, uma actual e outra do tempo da tropa. Diz-nos também qual foi o teu percurso na tropa, onde moras e, ainda, se quiseres, o que fazes ou fazias na vida activa, além do dia do teu aniversário. Tens aqui um batalhão de gente à tua espera. E que desejarão saber mais coisas sobre Bachile, a CCAÇ 16 e os teus manjacos. Até á volta do correio. (*)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 5 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6674: O Nosso Livro de Visitas (91): Hélio Matias, ex-Alf Mil Cav, comandante do Pel Rec Daimler 805 (Nova Lamego, 1964/66), que conheceu o Triângulo do Boé (José Martins)