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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26518: In Memoriam (533): Cap Cav Ref Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025), ex-Alf Mil Cav da CCAV 1748 (1967/69): A Tabanca de Matosinhos fica doravante mais pobre (José Teixeira)


Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025)

Faleceu o Alberto, a Tabanca de Matosinhos está mais pobre

por José Teixeira

Faleceu o Alberto Bernardo Leite Rodrigues (15/09/1945 – 21/02/2025). Era capitão de cavalaria reformado. Cumpriu a sua missão na Guiné 1967/68 como Alferes de Cavalaria, 

Apanhou-nos de surpresa, e partiu para o Eterno Aquartelamento, o combatente mais carismático e mais querido que passou pela Tabanca de Matosinhos. Recordamos:

  • as palavras cheias de afeto, quentes e calorosas com que acolhia todos e cada um dos camaradas, enchiam os nossos corações;
  • a sua presença semanal (té no tempo da Pandemia, com o amigo inseparável Rodrigo Teixeira, esteve presente na Tabanca de Matosinhos) com alegria, bo a disposição e sobretudo com uma palavra de alento);
  • a sua paixão por causas justas, e a sua visão uma guerra que nunca devia ter existido, que arrastou para a morte milhares de jovens, e deixou muitos mais estropiados (ele próprio) e doentes, para além de outros efeitos colaterais negativos que tanto marcaram o povo português e guineense; 
  • visão que ele tão eloquentemente punha em comum, e que todos nós gostávamos de ouvir;
  • a forma alegre como encarava a vida, e nos transmitia o calor dessa vivência: à  volta dele não havia tristeza.

Recordamos as suas conversas (pequenos discursos) com que nos brindava a pretexto de um aniversário, de um acolhimento a um novo conviva, de uma festa; a sua graça a receber as nossas esposas sempre com aquele sorriso cativante que o caraterizava.

Ainda na passada quarta-feira, o ouvimos muito muita atenção.

Foi este querido amigo, companheiro e camarada de todas as horas, que partiu, em silêncio, repentinamente, e nos deixa imensa saudade.

Recordamos o seu sofrimento, quando, ao fim de três meses de Guiné, foi vítima de uma basucada inimiga que o feriu gravemente na cara e na boca, deixando-lhe a língua em pedaços. Terminou assim a sua comissão.

Recordamos a sua intervenção no pós-25  de Novembro, (quinze dias depois) no recito exterior da Cadeia de Custóias (já como caitão da GNR). onde estavam os militares que foram presos naquele acontecimento, em que ele vestido à civil, porque estava de folga, quando soube que os seus homens da GNR tinham ido para Custóias reforçar a segurança, seguiu para lá a tempo de evitar um banho sangue.

Quando viu os soldados da GNR abrirem fogo sobre a multidão, saltou para o seu meio e mandou cessar o fogo, impedindo assim que houvesse mais mortos. Creio que houve quatro mortos nesse acontecimento. Como “prémio” pela sua ousadia foi deslocado compulsivamente para o Quartel da GNR em Lisboa, por cerca de um ano.

Querido amigo Leite Rodrigues onde estiveres, descansa em paz, que nós embreve, vamos ter contigo.

À família enlutada, sobretudo ao seu querido filho, os mais profundos sentimentos de pesar desta sua segunda família – Os combatentes da Guiné agrupados na Tabanca de Matosinhos.

Até sempre, camarada!

José Teixeira

Nota: Quando houver mais dados sobre o triste acontecimento informaremos.



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2. Nota dos editores LG/CV:

Apurámos que o nosso infortunado camarada foi alf mil cav, CCAV 1748 (que passou por Bissau, Bula, Contuboel e Farim, entre jul 67 e jun 69). Tem cruz de guerra de 4.ª classe, atribuída em 1972.  Não temos nenhum representante desta subunidade na nossa Tabanca Grande.  

Era uma figura conhecida no meio equestre, foi atleta olímpico, e é recordado tanto como cavaleiro como mestre na arte da equitação.  Era natural de Aveiro. 

Curvamo-nos à sua memória, apresentamos à família e amigos mais próximos bem como  aos nossos tabanqueiros de Matosinhos a nossa solidariedade na dor por esta perda de um camarada que nos era querido e que conhecemos em vida; a sua jovialidade, simpatia, carisma, amor à sua arte e carinho pelos seus camaradas, antigos combatentes, tocou-nos a todos (**).
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5 comentários:

Anónimo disse...

João Crisóstomo, Nova Iorque
Compartilho da vossa tristeza e junto-me à família e ao todos os amigos e camaradas que neste momento lembram com saudade o Alberto Leite Rodrigues.
João Crisóstomo

José Teixeira disse...

Ao querido amigo que me apanhou de surpresa
Alberto Leite Rodrigues

O tempo corre, a eternidade espera
João Paulo II

O tempo é um corredor incansável,
Pelo campo da vida galopeia,
Como um cavalo, sem freio, indomável,
Enquanto a eternidade,
tranquilamente vagueia, escondida na solidão,
Velando o instante para nos estender a sua mão.

Grãos de areia são os passos da vida
Com que o tempo nos presenteia,
Que vão caindo na ampulheta do destino
Apontando o fim que ninguém anseia.
E corremos (nós), pelo tempo fora,
A grande velocidade,
Esquecendo que a todo o momento,
Pode chegar a eternidade,
Em correio expresso,
E serenamente nos levar
pelo caminho que não tem regresso.

Quero dançar com o tempo
A valsa da vida,
Fintando a eternidade
Que anda por aí,
Esperemos, um pouco perdida.

Carlos Vinhal disse...

As minhas homenagens ao Capitão Leite Rodrigues e sentidas condolências à família deste nosso camarada. O meu abraço solidário ao pessoal da Tabanca de Matosinhos pela perda deste seu amigo.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Um abraço para o filho e família deste nosso camarada, Leite Rodrigues, mil vezes presente na Tabanca de Matosinhos distribuindo alegria por todos. Até um dia destes camarada, Leite Rodrigues.

Carvalho de Mampatá

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tenho pena de não conviver mais vezes com a malta da Tabanca de Matosinhos, estamos separados por 300 quilómetros, mas sempre que vou ao Norte e tenho disponibilidade dou lá um salto... Devia poder ir lá mais vezes...

Recordo-me de ter visto, e mais do que uma vez, o nosso Leite Rodrigues entrar no restaurante Espigueiro com um generoso e amanteigado queijo da Serra e pô-lo em cima da mesa, para compartilhá-lo com todos os presentes.. Claro que o Rodrigo Teixeira já vinha devidamente municiado com a sua "broa de milho"... (facto que me foi lembrado pelo régulo Zé, também Teixeira)...

É uma "fratria", uma irmandade, uma sociedade de manos, de companheiros (até no sentido etimológico da palavra) esta tabanca a que eles, fundadores, chamaram com evidente modéstia Tabanca Pequena de Matosinhos...

Vamos ter muitas saudades destes tabanqueiros carimásticos, que já nos deixaram, mais sozinhos, no meio da picada: há tempos, o Joáo Rebola, há meses o A.Marques Lopes., agora o Leite Rodrigues...Três bons camadas que "da lei da morte já se libertaram".