1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 22 de Julho de 2011:
Meu caros amigos
Sei que sois homens de sentimentos, amigos do seu amigo.
Envio-vos um texto que hoje escrevi e que obviamente corresponde à realidade do que passei e estou a passar hoje.
Sentir é muito bom.
Podem utilizar o texto se assim o entenderem onde quiserem.
Um abraço amigo
Joaquim Mexia Alves
Hoje almocei com o Joaquim Gaspar!
Hoje almocei com o Joaquim Gaspar.
E perguntam aqueles que lêem estes textos neste espaço:
E quem é o Joaquim Gaspar, e o que é que eu tenho a ver com isso???
É muito simples, mas vou complicar um pouco.
O Joaquim Gaspar é do Brejo, entre Carvide e Monte Real, e faz hoje 65 anos!
Manda-lhe a Segurança Social, por carta, que deixe de trabalhar a partir de Segunda-feira, pois fica “automaticamente” reformado.
Ah, e o Joaquim Gaspar trabalha nas Termas de Monte Real há, “apenas“, 54 anos!!!
Hoje, a meio da manhã, bateu à porta do meu gabinete, e timidamente, como é seu feitio, disse-me com um sorriso:
- Depois o Sr. Mexia Alves, quando puder havia de passar ali pela “cozinha” para comer um pouco de bolo.
Senti-me apanhado na falta de memória e, claro, já sem dúvida nenhuma perguntei-lhe:
- Fazes anos hoje, não é?
Com um sorriso de “criança apanhada”, (ele é assim, não há nada a fazer), disse-me:
- Faço 65 anos, e a partir de Segunda-feira tenho de deixar de trabalhar aqui nas Termas, porque estou reformado. Pelo menos é o que diz a carta que recebi da Segurança Social.
Fiquei sem saber o que dizer, porque me inundou um sentimento tão grande tão profundo, que tive medo de me “largar” a chorar à frente dele!
Perguntei-lhe então, com um ar que eu pretendia de amizade e intimidade:
- Quantos são, Joaquim?
E ele com aquele seu ar tímido respondeu-me:
- 54! Há 54 anos que aqui trabalho!
Mais velho que eu três anos, logo me lembrei, quando em garoto, lhe “roubava” a bicicleta, “estacionada” junto ao Hotel para dar uma voltinha.
É que a bicicleta dele tinha mudanças!!!
Nada destas coisas de hoje, em que se vêm uns matulões a pedalarem que nem uns loucos, parecendo que a bicicleta está sempre no mesmo lugar.
Não, senhor, aquilo era uma caixinha com uma espécie de gatilho que tinha três mudanças, que “inté” parecia que davam mais velocidade, sem a gente perceber que afinal o motor… eram as nossas pernas!
Deixei-me ficar ali um pouco a olhar para ele, e nesse instante passaram por mim recordações imensas, que envolveram os meus pais e todos os meus irmãos, e uma grande família feliz, que vivia um sonho de amor e união, que pretendia estender a todos aqueles que com a família trabalhavam num projecto comum.
Perguntou-me então:
- Almoça hoje comigo?
Respondi-lhe:
- Claro que sim, Joaquim! Claro que sim!
Saiu então do meu gabinete, e ainda bem, porque eu precisava de lidar com uma emoção que avassaladoramente tomava conta de mim.
O que é que eu digo a este homem, pensava eu?
Como exprimir-lhe tudo o que vai dentro de mim?
Como explicar-lhe que ele me pertence, como eu lhe pertenço a ele?
Como afirmar-lhe que eu sou família dele, como ele é minha família?
Bem, pensei, deixa passar agora, que quando chegar o tempo ele sentirá o que tu lhe queres dizer.
E lá fomos almoçar passada mais uma hora, eu com o meu coração nas mãos e ele com o dele também.
E falámos da “ingricola”, e dos tempos passados, e de como esta gente de hoje não sabe o que é a vida, e isto e aquilo…
E quando o almoço acabou, num restaurante de alguém que também trabalhou no Hotel e nas Termas, vieram em alta voz as recordações, a tal bicicleta, e quando os olhos destes “sessentões” se avermelharam, foi só o tempo de dizer adeus, para deixar para mais tarde a homenagem inteiramente devida, inteiramente merecida, mas sobretudo inteiramente desejada.
Pois, perguntam os leitores, e depois o que é que isso interessa?
Interessa, para que esta nossa juventude perceba os tempos em que as pessoas se encontravam, em que as pessoas se conheciam, em que um vínculo de trabalho era um vínculo de amizade, em que as pessoas se preocupavam mais uns com os outros do que com eles próprios.
Interessa, porque é sempre tempo de regressarmos à amizade, á relação entre pessoas, que não seja apenas um contrato que defende uns contra os outros, mas sim um contrato que une uns e os outros.
Interessa, para que se perceba que quando é preciso cortar nos custos de uma empresa, não se vá pelo caminho mais fácil, que é dispensar/despedir pessoas, mas sim cortar no supérfluo que apenas serve uns e deixa os outros de fora.
Interessa, para que os projectos sejam comuns, e não apenas ideias de uns em que os outros são dispensáveis, mas como parceiros de um bem para todos.
Neste momento, os leitores pensarão:
Este indivíduo vive noutro planeta!
E este indivíduo apenas diz:
Se houver um planeta onde se viva e trabalhe para construir um bem comum, e em que as relações de trabalho e as outras sejam alicerçadas no entendimento, na paz e no amor entre pessoas, então é nesse planeta que eu quero viver!
Por enquanto, deixo-me ficar pela recordação, guardando dentro de mim este sentimento bom, de saber que ainda há homens bons, e assim esperar que um dia, perante a indiferença, o homem perceba que é melhor amar do que desprezar.
Do meu coração ninguém tira o Joaquim Gaspar, como acredito que do coração do Joaquim Gaspar ninguém é capaz de me retirar.
Até o seu filho, homem feito agora, por aqui trabalhou também!
Hoje almocei com o Joaquim Gaspar!
Sinto-me muito mais realizado, por o ter conhecido e por ser seu amigo.
É sempre bom, ser amigo de homens bons!
Que Deus o abençoe!
Graças a Deus, e por causa deste almoço, amo mais um pouco a vida!
Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 22 de Julho de 201
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8535: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (31): As ilustrações de Miguel Pessoa chegam à Tabanca do Centro com a publicação de KARAS de Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8535: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (31): As ilustrações de Miguel Pessoa chegam à Tabanca do Centro com a publicação de KARAS de Monte Real (Joaquim Mexia Alves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 23 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8594: Fotos à procura de... uma legenda (3): Cais do Xime, o "princípio da autoestrada do leste"... Álbum do Arlindo Roda (campeão de damas, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Cais do Xime > Reconheço ao centro o Fur Mil At Inf António Branquinho, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... Vive em Évora, deve estar aposentado do Centro Regional da Segurança Social. Não o vejo desde o século passado. Os outros dois furriéis não os identifico, embora "esteja a ver" as suas caras...
Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010). Todos os direitos reservados.
1. Tenho cerca de 300 fotos ou, melhor, imagens digitalizadas convertidas dos "slides" do meu amigo e camarada Arlindo Roda... Leiriense, de Pousos, vive há muito em Setúbal onde é professor do ensino secundário (ou foi, não sei se já está aposentado) e é jogador de damas, aliás campeão... Dizem-me que e pai babado de duas filhas...
Não o vejo há mais de década e meia... Ele teve, entretanto, a gentileza de me mandar, o ano passado, em CD-ROM, o seu precioso álbum fotográfico da Guiné através do nosso comum amigo e camarada Benjamin Durães (ex-Fur Mil Op Esp, da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72; vive hoje em Palmela, bancário reformado, DFA)... Mas não me mandou as legendas... Esta é uma delas...
Fica à espera de um leitor, com paciência, boa vontade, curiosidade e melhor memória, para completar a legenda... É o nosso "passatempo de verão"... A foto é de 1969 ou 1970, no máximo princípios de 1971. Foi tirada no cais do Xime, que era o princípio da "autoestrada" do leste... Milhares de camaradas, de viaturas, milhares de toneladas de géneros, munições e outros artigos que alimentavam o "ventre da guerra", passaram por aqui, a caminho de Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego... (LG)
PS - Um abraço de saudade para todos estes camaradas que conviveram comigo em Bambadinca...
PS - Um abraço de saudade para todos estes camaradas que conviveram comigo em Bambadinca...
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Nota do editor:
Último poste da série > 19 de Julho de 2011 >Guine 63/74 - P8569: Fotos à procura de... uma legenda (2): Carlos Miguel (Fininho), e Carlos Alberto Maravilhas Soares, do Comando de Agrupamento nº 1980 (Bafatá, 1967/68): Álbum de Amaro Oliveira António
Último poste da série > 19 de Julho de 2011 >Guine 63/74 - P8569: Fotos à procura de... uma legenda (2): Carlos Miguel (Fininho), e Carlos Alberto Maravilhas Soares, do Comando de Agrupamento nº 1980 (Bafatá, 1967/68): Álbum de Amaro Oliveira António
Guiné 63/74 - P8593: O Nosso Livro de Visitas (114): José Rodrigues, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1419/BCAÇ 1857 (Região do Oio, 1965/67)
1. Ontem, 22 de Julho de 2012, chegou à caixa de correio do nosso Blogue esta mensagem de um camarada que se identifica como José Rodrigues, ex-Fur Mil TRMS que fez a sua comissão de serviço na Guiné integrado na CCAÇ 1419/BCAÇ 1857:
Camarada
Não podia ficar indiferente ao ler as tuas recordações da Guiné.
Pertenci ao Batalhão de Caçadores 1857, Companhia de Caçadores 1419 e era Furriel Miliciano de Transmissões.
Estive cerca de um mês em Bissau (que saudades meu Deus daquelas ostras e cervejas) e depois fomos para Bissorã (que creio agora se chama Califórnia).
Depois de oito meses fomos para Mansabá. Quando se falava de Morés toda a malta se arrepiava, mas nem todos tiveram o privilégio de fazer duas “visitas de estudo” como a nossa Companhia.
Devo dizer-te camarada que dessas situações pouco resta na minha memória, mas o espírito de amizade e camaradagem esses nunca mais saem da minha cabeça.
Depois de tantos anos ainda não perdi a esperança de poder voltar aos mesmos sítios e recordar todos os bons e maus momentos que foram vividos.
Resta-me deixar aqui a homenagem a todos os que deram a vida (e porquê) ao serviço da pátria mas muito especialmente aos meus seis camaradas que morreram em combate.
Saudações amigas do camarada
Rodrigues
frod@sapo.pt
2. Comentário de CV:
Muito obrigado caro José Rodrigues pelo teu contacto.
A tua mensagem pode ter tido origem na leitura do Poste 8438 do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, actualmente Coronel Reformado, que foi Alferes Miliciano na CCAÇ 1420 do teu Batalhão.
Provavelmente conhecerás o camarada Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da tua Companhia que como o Coronel Rui Alexandrino Ferreira faz parte da tertúlia do nosso Blogue.
Se quiseres pertencer a esta Tabanca Grande, manda uma foto dos teus tempos de Guiné e outra actual, junta uma pequena história que pode ser ilustrada com fotos legendadas, e passarás a fazer parte desta família de ex-combatentes que aqui querem deixar as suas memórias.
Se clicares em cada uma das palavras sublinhadas (marcadores) acederás a textos referentes ao teu Batalhão, de autoria dos camaradas Rui Alexandrino ou do Manuel Joaquim.
Ficamos à espera das tuas próximas notícias.
Recebe um abraço da Tertúlia
Em nome dos Editores do Blogue
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8515: O Nosso Livro de Visitas (113): Virgílio Valente, a viver e a residir em Macau, ex-Alf Mil, CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Camarada
Não podia ficar indiferente ao ler as tuas recordações da Guiné.
Pertenci ao Batalhão de Caçadores 1857, Companhia de Caçadores 1419 e era Furriel Miliciano de Transmissões.
Estive cerca de um mês em Bissau (que saudades meu Deus daquelas ostras e cervejas) e depois fomos para Bissorã (que creio agora se chama Califórnia).
Depois de oito meses fomos para Mansabá. Quando se falava de Morés toda a malta se arrepiava, mas nem todos tiveram o privilégio de fazer duas “visitas de estudo” como a nossa Companhia.
Devo dizer-te camarada que dessas situações pouco resta na minha memória, mas o espírito de amizade e camaradagem esses nunca mais saem da minha cabeça.
Depois de tantos anos ainda não perdi a esperança de poder voltar aos mesmos sítios e recordar todos os bons e maus momentos que foram vividos.
Resta-me deixar aqui a homenagem a todos os que deram a vida (e porquê) ao serviço da pátria mas muito especialmente aos meus seis camaradas que morreram em combate.
Saudações amigas do camarada
Rodrigues
frod@sapo.pt
2. Comentário de CV:
Muito obrigado caro José Rodrigues pelo teu contacto.
A tua mensagem pode ter tido origem na leitura do Poste 8438 do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira, actualmente Coronel Reformado, que foi Alferes Miliciano na CCAÇ 1420 do teu Batalhão.
Provavelmente conhecerás o camarada Manuel Joaquim, ex-Fur Mil de Armas Pesadas da tua Companhia que como o Coronel Rui Alexandrino Ferreira faz parte da tertúlia do nosso Blogue.
Se quiseres pertencer a esta Tabanca Grande, manda uma foto dos teus tempos de Guiné e outra actual, junta uma pequena história que pode ser ilustrada com fotos legendadas, e passarás a fazer parte desta família de ex-combatentes que aqui querem deixar as suas memórias.
Se clicares em cada uma das palavras sublinhadas (marcadores) acederás a textos referentes ao teu Batalhão, de autoria dos camaradas Rui Alexandrino ou do Manuel Joaquim.
Ficamos à espera das tuas próximas notícias.
Recebe um abraço da Tertúlia
Em nome dos Editores do Blogue
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8515: O Nosso Livro de Visitas (113): Virgílio Valente, a viver e a residir em Macau, ex-Alf Mil, CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Guiné 63/74 - P8592: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (8): Madina do Boé
1. Mais uma página, a oitava, do Álbum Fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).
ÁLBUM FOTOGRÁFIO DE MANUEL COELHO (8)
MADINA DO BOÉ
Madina do Boé > Grupo de jovens
Madina do Boé > Espingarda Kalaschnikov capturada ao IN
Madina do Boé > Uma mãe com o seu filho
Madina do Boé > Um Soldado Milícia
Madina do Boé > Militar de etnia Balanta
Madina do Boé > Minas IN levantadas
Madina do Boé > O monumental centro cripto
Madina do Boé > Um militar a fingir
Retirada de Madina do Boé para Nova Lamego > A coluna atravessa o Rio Corubal junto ao Cheche
Retirada de Madina do Boé para Nova Lamego > Apoio aéreo à coluna
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8584: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (7): Madina do Boé
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8591: Contraponto (Alberto Branquinho) (37): Adivinhação... ou as guerras de Bissau (...e afins)
1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 20 de Julho de 2011:
Caro Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de ausência escritural, eis que hoje "tropecei" no POST 8577 do Belmiro Tavares, que nunca escreve só por escrever (na minha opinião de ledor destas coisas que vão sendo aqui publicadas...) e me causou o texto que vai junto, texto que já há muito andava a bailar na minha cabeça.
Tua justiça ditarás.
Com um abraço (a juntar aos já muitos)
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (37)
ADIVINHAÇÃO… ou as guerras de Bissau (…e afins)
Quem é? Quem são?
Quem serão? Quem poderá ser?
Pretendendo ser notório, falando de guerra, mas que guerra não teve, apesar de, em alguns casos, ter(em) frequentado os “arredores” da guerra.
Que (apesar disso) em forma (e conteúdo) pretende(m) transmitir um certo “quid” guerreiro?
Não importa ter ou não terem tido guerra, porque para se ter (feito) guerra não é necessário ter ido à guerra. Basta imaginar que se fez. Imaginar, conjecturar, argumentar, insinuar e… concluir.
Pelo sim ou caso não. Aqui mesmo.
Não se compreende essa preocupação, porque, de facto (defeito?) o facto de (não) ter(em) feito guerra não é, por si só, uma (des)honra para a família.
Pois, quem (pre)tenderá estar usando agora(!) mais a “espada que a pena”, (melhor dizendo – mais as armas do que outro(s) seu(s) instrumento(s) que serviram de apoio a essoutras), porque, “in illo tempore”, G3, canhão, obus, morteiro, bazuca, metralhadora… não lhes houve? (Talvez pistola…)
Qual será a razão?
Adivinhação:
Quem é? Quem serão?
A questão fica no ar.
Dão-se alvíssaras a quem encontrar.
Alberto Branquinho
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre
Caro Carlos Vinhal
Depois de algum tempo de ausência escritural, eis que hoje "tropecei" no POST 8577 do Belmiro Tavares, que nunca escreve só por escrever (na minha opinião de ledor destas coisas que vão sendo aqui publicadas...) e me causou o texto que vai junto, texto que já há muito andava a bailar na minha cabeça.
Tua justiça ditarás.
Com um abraço (a juntar aos já muitos)
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (37)
ADIVINHAÇÃO… ou as guerras de Bissau (…e afins)
Quem é? Quem são?
Quem serão? Quem poderá ser?
Pretendendo ser notório, falando de guerra, mas que guerra não teve, apesar de, em alguns casos, ter(em) frequentado os “arredores” da guerra.
Que (apesar disso) em forma (e conteúdo) pretende(m) transmitir um certo “quid” guerreiro?
Não importa ter ou não terem tido guerra, porque para se ter (feito) guerra não é necessário ter ido à guerra. Basta imaginar que se fez. Imaginar, conjecturar, argumentar, insinuar e… concluir.
Pelo sim ou caso não. Aqui mesmo.
Não se compreende essa preocupação, porque, de facto (defeito?) o facto de (não) ter(em) feito guerra não é, por si só, uma (des)honra para a família.
Pois, quem (pre)tenderá estar usando agora(!) mais a “espada que a pena”, (melhor dizendo – mais as armas do que outro(s) seu(s) instrumento(s) que serviram de apoio a essoutras), porque, “in illo tempore”, G3, canhão, obus, morteiro, bazuca, metralhadora… não lhes houve? (Talvez pistola…)
Qual será a razão?
Adivinhação:
Quem é? Quem serão?
A questão fica no ar.
Dão-se alvíssaras a quem encontrar.
Alberto Branquinho
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8437: Contraponto (Alberto Branquinho) (36): A construção e a desconstrução de um Padre
Guiné 63/74 - P8590: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): 16 Mortos e 6 desaparecidos em combate (Santos Oliveira)
Guiné > Região de Quínara > BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67) > Mortos e desaparecidos em combate...
Contribuíu o BCaç 1860, durante a sua permanência em terras da Guiné, com a vida e o sangue dos seguintes militares, para quem vai a mais respeitosa homenagem e o agradecimento da Nação:
12Ago65, Fur Mil Júlio Lemos P Martins;
12Ago65, 1º Cabo Inácio Freitas Ferreira;
30Set65, Sold Aníbal A Pires;
18Out65, Sold Diogo A Neves;
01Nov65, Sold Manuel A A Nobre;
18Mar66, Sold Alberto T Silva;
11Mai66, Sold Julde Mané;
25Ago66, Sold José Maria F Carvalho;
25Ago66, Sold Francisco António Lopes;
06Out66, Alf Mil Carlos Santos Dias;
29Dez66, Sold Malan Sambú;
15Jan67, Sold António C do Nascimento;
16Jan67, Sold Saliu Djassi;
16Fev67, Sold Alberto Samba;
01Mar67, 1º Cabo José Félix Lopes;
04Abr67, Furr Mil Rui Palmela Mealha.
Desaparecidos em Combate, em 07Out65, durante a Op Lenda (**):
Alf Mil Vasco Nuno L de Sousa Cardoso;
1º Cabo Fernando de Jesus Alves;
Sold Armando Leite Nascimento;
Sold José Ferreira Araújo;
Sold José Vieira Lauro [, e não Louro, como certamente por lapso consta no documento acima; natural do concelho de Leiria, foi feito prisioneiro pelo PAIGC, levado para Conacri, e entregue em Dacar à Cruz Vermelha Internacional, mais tarde, em Março de 1968]; (***)
Sold Armando dos Santos.
Imagem digitalizadas (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados.
Fonte: História da unidade, conforme documentos digitalizados pelo nosso camarada Santos Oliveira (2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Material em arquivo, enviado pelo Santos Oliveira por mail em 2008 (*)... Desconhece-se o autor das ilustrações. (LG)
Sobre os seis desaparecidos em combate, vd. poste P2026 (**).
[Edição de imagem, legendagem e título: L.G.]
_______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste relacionado > 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8578: BCAÇ 1860 (Tite, 1965/67): Balanço da actividade logística, em banda desenhada: 22.5 toneladas de cartas e encomendas, 3 t de medicamentos, 12 t de frescos, 820 t de géneros alimentícios, 123 t de artigos de cantina, 2.5 t de rações de combate, 31 t de munições... (Santos Oliveira)
(**) Vd. poste de 4 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui Ferreira)
(***) José Vieira Lauro: o seu nome também consta da lista dos ex-prisioneiros de guerra a quem foi atribuída a pensão a que se refere o art. 4º do Decreto-Lei nº 170/2004, de 16 de Julho.
(***) José Vieira Lauro: o seu nome também consta da lista dos ex-prisioneiros de guerra a quem foi atribuída a pensão a que se refere o art. 4º do Decreto-Lei nº 170/2004, de 16 de Julho.
Guiné 63/74 - P8589: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (9): Um jogo de Xadrez... muito especial
1. Em mensagem de 30 de Maio de 2011, Belmiro Tavares, (ex-Alf Mil, CCAÇ 675 Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), recebemos esta memória:
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (9)
Um jogo de xadrez... muito especial
Nota inicial: o conteúdo deste texto não diz respeito à guerra do Ultramar, mas o autor é um ex-combatente.
No final dos anos sessenta – século passado – o xadrez era já bastante praticado no Colégio Militar, muito mais e melhor que em qualquer outra escola de Lisboa. Em cada uma das quatro salas de jogos – uma por cada companhia de alunos – havia vários tabuleiros para que os jovens, nas horas vagas, praticassem entre si.
Entre oficiais e professores também se jogava em larga escala, pelo menos em quantidade; havia alguns professores que eram “barras” em meu entender; eu, pessoalmente, era aprendiz de moço de cego.
A Direcção do Colégio “contratou” o campeão nacional da modalidade – Joaquim Durão – para incutir nos alunos o gosto pelo xadrez, para lhes ensinar as regras básicas e acompanhar de perto a evolução dos praticantes.
Aquele senhor – era o campeão nacional crónico – organizou um assinalável jogo de “simultâneas” em que ele enfrentaria quase duas centenas de alunos, entre os dez e os dezassete anos, de todos (?) os estabelecimentos de ensino da capital.
Eu fui nomeado, em O.S., para acompanhar os académicos do C.M.; à chegada, fiquei verdadeiramente surpreendido ao verificar que os “meus” alunos (eram 80) representavam quase metade do total dos concorrentes – 170 alunos.
Os Pupilos do Exército (outra escola de filhos de militares) concorriam com 43 alunos. Os restantes (47) representavam várias escolas “civis” da capital.
Os jornalistas presentes, apercebendo-se da desproporção entre “civis” e “militares”, começaram a “morder” nas fardas: - “pensam que são melhores que os outros”; isto não devia ser permitido”; “não devia haver mais de dez alunos por escola”, etc.
Um jornalista mais prudente perguntou-me por que motivo “levava” tantos alunos; e eu respondi:
- A intervenção da Direcção foi quase residual; apenas nos foi sugerido que não concorressem mais de quinze alunos por cada “ano”; perguntámos ao organizador se havia limites; ele respondeu negativamente; houve alguns ”cortes” de acordo com a informação dos “graduados“ (alunos do 7º ano).
O jogo começou! O ambiente entre os jornalistas era tenso, preocupante.
O primeiro aluno a ser derrotado – cheque-mate – era do Colégio Militar!
Os jornalistas passaram a ser contundentes mesmo agressivos no ataque às “fardas”. Alguém teve de pedir “silêncio” na sala; estavam a perturbar o ambiente.
Ao fim de três horas de competição já só havia 70 alunos em jogo dos quais 50 eram do C.M.
Os jornalistas começavam agora a olhar as “fardas” com mais respeito; pelo menos já não barafustavam com tanto azedume.
Mais uma hora de jogo: havia 18 resistentes – 15 eram do C.M. – autênticos heróis!
A “partida” continuava com grande desportivismo e boa disposição.
A certa altura havia apenas cinco alunos em prova – todos do Colégio Militar.
Rapidamente quatro alunos foram postos fora de combate; o Sr. Joaquim Durão, muito honestamente e respeitando o adversário, comentou:
- Muito dificilmente conseguirei vencer esta partida; creio que talvez não perca; se concordares, terminamos com um empate.
Cumprimentaram-se com respeito e admiração mútuos.
Nesta altura (já era tarde para o almoço!) Já não havia jornalistas na sala; certamente envergonharam-se das suas atitudes nada simpáticas e exageradas mas não tiveram coragem nem desportivismo de esperar até ao fim e pedir desculpa; era o mínimo que podia esperar-se. Tinham saído sorrateiramente (covardemente)... com a viola no saco.
Lisboa, 30 de Maio de 2011
Belmiro Tavares
Ten. Mil. Inf.
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Notas de CV:
- Foto do Tabuleiro de Xadez retirado do Blogue Taverna do Guerreiro, com a devida vénia.
Vd. último poste da série de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8577: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (8): As guerras de Bissau
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DE BELMIRO TAVARES (9)
Um jogo de xadrez... muito especial
Nota inicial: o conteúdo deste texto não diz respeito à guerra do Ultramar, mas o autor é um ex-combatente.
No final dos anos sessenta – século passado – o xadrez era já bastante praticado no Colégio Militar, muito mais e melhor que em qualquer outra escola de Lisboa. Em cada uma das quatro salas de jogos – uma por cada companhia de alunos – havia vários tabuleiros para que os jovens, nas horas vagas, praticassem entre si.
Entre oficiais e professores também se jogava em larga escala, pelo menos em quantidade; havia alguns professores que eram “barras” em meu entender; eu, pessoalmente, era aprendiz de moço de cego.
A Direcção do Colégio “contratou” o campeão nacional da modalidade – Joaquim Durão – para incutir nos alunos o gosto pelo xadrez, para lhes ensinar as regras básicas e acompanhar de perto a evolução dos praticantes.
Aquele senhor – era o campeão nacional crónico – organizou um assinalável jogo de “simultâneas” em que ele enfrentaria quase duas centenas de alunos, entre os dez e os dezassete anos, de todos (?) os estabelecimentos de ensino da capital.
Eu fui nomeado, em O.S., para acompanhar os académicos do C.M.; à chegada, fiquei verdadeiramente surpreendido ao verificar que os “meus” alunos (eram 80) representavam quase metade do total dos concorrentes – 170 alunos.
Os Pupilos do Exército (outra escola de filhos de militares) concorriam com 43 alunos. Os restantes (47) representavam várias escolas “civis” da capital.
Os jornalistas presentes, apercebendo-se da desproporção entre “civis” e “militares”, começaram a “morder” nas fardas: - “pensam que são melhores que os outros”; isto não devia ser permitido”; “não devia haver mais de dez alunos por escola”, etc.
Um jornalista mais prudente perguntou-me por que motivo “levava” tantos alunos; e eu respondi:
- A intervenção da Direcção foi quase residual; apenas nos foi sugerido que não concorressem mais de quinze alunos por cada “ano”; perguntámos ao organizador se havia limites; ele respondeu negativamente; houve alguns ”cortes” de acordo com a informação dos “graduados“ (alunos do 7º ano).
O jogo começou! O ambiente entre os jornalistas era tenso, preocupante.
O primeiro aluno a ser derrotado – cheque-mate – era do Colégio Militar!
Os jornalistas passaram a ser contundentes mesmo agressivos no ataque às “fardas”. Alguém teve de pedir “silêncio” na sala; estavam a perturbar o ambiente.
Ao fim de três horas de competição já só havia 70 alunos em jogo dos quais 50 eram do C.M.
Os jornalistas começavam agora a olhar as “fardas” com mais respeito; pelo menos já não barafustavam com tanto azedume.
Mais uma hora de jogo: havia 18 resistentes – 15 eram do C.M. – autênticos heróis!
A “partida” continuava com grande desportivismo e boa disposição.
A certa altura havia apenas cinco alunos em prova – todos do Colégio Militar.
Rapidamente quatro alunos foram postos fora de combate; o Sr. Joaquim Durão, muito honestamente e respeitando o adversário, comentou:
- Muito dificilmente conseguirei vencer esta partida; creio que talvez não perca; se concordares, terminamos com um empate.
Cumprimentaram-se com respeito e admiração mútuos.
Nesta altura (já era tarde para o almoço!) Já não havia jornalistas na sala; certamente envergonharam-se das suas atitudes nada simpáticas e exageradas mas não tiveram coragem nem desportivismo de esperar até ao fim e pedir desculpa; era o mínimo que podia esperar-se. Tinham saído sorrateiramente (covardemente)... com a viola no saco.
Lisboa, 30 de Maio de 2011
Belmiro Tavares
Ten. Mil. Inf.
____________
Notas de CV:
- Foto do Tabuleiro de Xadez retirado do Blogue Taverna do Guerreiro, com a devida vénia.
Vd. último poste da série de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8577: Histórias e memórias de Belmiro Tavares (8): As guerras de Bissau
Guiné 63/74 - P8588: O Nosso Livro de Estilo (1): Política editorial do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Comentário do Editor/Fundador deste Blogue, Luís Graça, deixado no Poste 8582:
Para os leitores de boa fé, mas às vezes distraídos... LG
_______________
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial
As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, assinados, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o proprietário e editor do blogue, bem como os seus co-editores e demais colaboradores permanentes.
O nosso blogue é também uma Tabanca Grande. Originalmente, chamámos-lhe Tertúlia. Tabanca é um termo mais apropriado: nela cabem todos os amigos e camaradas da Guiné.
Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:
(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);
(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);
(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);
(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;
(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;
(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;
(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;
(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.
PS - Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).
Em contrapartida, uma vez editados, não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.
Qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou do nosso site na Net), necessita de autorização prévia dos autores (por ex., publicação em livro).
Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 23 de Abril de 2011
____________
Editado por CV
Para os leitores de boa fé, mas às vezes distraídos... LG
_______________
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O nosso blogue é também uma Tabanca Grande. Originalmente, chamámos-lhe Tertúlia. Tabanca é um termo mais apropriado: nela cabem todos os amigos e camaradas da Guiné.
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(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);
(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.);
(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir);
(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);
(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;
(vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;
(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);
(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;
(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome;
(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.
PS - Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).
Em contrapartida, uma vez editados, não poderão ser eliminados, tanto por decisão do autor como do editor do blogue, mesmo que o autor decida deixar de fazer parte da Tabanca Grande.
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Luís Graça & Camaradas da Guiné
31 de Maio de 2006, revisto em 23 de Abril de 2011
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Editado por CV
Guiné 63/74 - P8587: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (44): Aqui e ali, prossegue a recuperação da memória.... (Hélder Sousa)
Marginal de Ponta Delgada / Ilha de S. Miguel / Açores > Tomás Carneiro, Hélder Sousa e Carlos Cordeiro
1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 18 de Julho de 2011:
Caros camaradas
Tenho estado um tanto afastado da colaboração activa com o nosso blogue.
Digo isso porque não tenho, nos últimos tempos, participado com qualquer tipo de intervenção, fosse de que género fosse. Quanto a participação passiva, isto é, leitor, também não tenho avançado muito, apenas beneficio do conhecimento das entradas e comentários, que vejo 'muito a fugir'.
Tal situação deve-se a que, como se devem recordar duma publicidade do nosso tempo a lâminas de barbear, muito pode acontecer durante a longa vida duma lâmina Nacet. Sucederam várias coisas, que não cabem aqui por não serem deste âmbito, inclusive um rebentamento de pneu (felizmente que não originou nada de grave), mas agora estou a utilizar esta semana, aproveitando umas condições especiais que o nosso camarigo Mexia Alves conseguiu para os membros da Tabanca Grande e, sendo assim, cá me encontro a tentar melhorar o físico e a mente, sendo certo que já estivemos a conversar e também com o camarigo Simeão Ferreira.
Ao estar assim um tanto afastado, perdi a participação nas felicitações de vários camaradas aniversariantes, que espero venham a tomar conhecimento que a minha falta não se ficou a dever a qualquer atitude pessoal mas sim por falta de meios.
Perdi também a entrada fulgurante do setubalense Pardete Ferreira, que se revelou bastante interessante, na medida em que veio trazer e dinamizar uma área normalmente reservada, com o reavivar da memória de muitas pessoas, relatos com vivacidade, perspectivas de novos contributos, etc., perdi o caso do comentário desaparecido e depois recuperado, perdi (mas li) o excelente texto/tema do José da Câmara com todos os comentários que tem vindo a suscitar, perdi a questão de serem ou não ridículas as cartas de amor, enfim, perdi a possibilidade de intervir em tempo certo mas vejo que o blogue, mau grado alguns amuos incompreensíveis, continua capaz de prender a atenção dos seus muitos seguidores.
Há no entanto um outro aspecto que queria referir.
Estive, no final da outra semana, numa actividade da minha associação profissional que ocorreu nos Açores, mais propriamente em S. Miguel.
Como não podia deixar de ser, entrei em contacto com os nossos camaradas Carlos Cordeiro e Tomás Carneiro que me foram visitar e como prova disso aqui envio as fotos anexas. Boa disposição, bons camaradas!
Mas não resisto a contar um pequeno episódio, que acho muito signifitivo e, para além de ser lisonjeiro para o alvo dos comentários, também me parece que prestigia o Blogue por ter amigos assim. Então lá vai!
A foto em que estamos os três à porta do Hotel onde decorreu o Congresso da minha Associação foi feita imediatamente antes de nos despedirmos e eu entrar num autocarro para uma visita turística no âmbito da actidade social do Congresso. A guia abordou-me e, pedindo desculpa pela questão, disse que tinha reparado que eu estava a conversar com o Professor Carlos e perguntou se éramos amigos. Disse que sim, que éramos amigos da guerra, e então ela desfez-se em elogios ao nosso camarigo Carlos Cordeiro. Que era muito boa pessoa, que era espectacular, muito bom professor, que todos aqueles que tinham tido a sorte de serem alunos dele estavam apaixonados, sim, é esse mesmo o termo, só que no bom sentido, esclareceu a guia, enfim, tudo do melhor e não posso deixar de aqui o registar, tudo de forma que me pareceu muito sincera, muito autêntica, muito genuína. Por mim, aqui deixo ficar: parabéns Carlos!
Outro aspecto dessa viagem é que tive também oportunidade de apreciar uma pequena mas significativa acção de reactivar a memória relativamente à guerra de África, levada a cabo pela secção local da Liga dos Combatentes, com uma exposição no átrio dum Centro Comercial (Solmar), muito visitada pelos passantes. Dessa exposição envio algumas fotos, de camaradas que estiveram na Guiné, sendo que o Sousa Henriques é conhecido pelos livros que já editou, o último dos quais sobre uma viagem recente, e o Cláudio Medeiros é um nome que me é familiar, acho que estive com ele, mas não me consigo localizar. Um dos visados estava lá, estive à conversa com ele (é o que tem o dedo a apontar), dei-lhe o endereço do nosso blogue na esperança que o filho possa ser um facilitador.
Carlos Cordeiro e Tomás Carneiro na Marginal da cidade de Ponta Delgada aquando do encontro com Hélder Sousa
Centro Comercial Solmar de Ponta Delgada / Terceira, onde decorreu uma exposição alusiva à Guerra de África > Bandeiras dos Promotores
A afirmação dos motivos
Alguns painéis expositores de fotografias de ex-combatentes açorianos da Guiné
Um forte abraço para vós
Hélder Sousa
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8470: Em Busca de... (166): Precisa-se de depoimentos para fazer a História da Pensão Central da Dona Berta (Hélder Sousa / José Ceitil)
Vd. último poste da série de 3 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8498: O Mundo é Pequeno e o nosso Blogue...é Grande (43): Manuel Freitas, que organiza há 9 anos os encontros do pessoal do HM241 (1967/71), acaba de descobrir o nosso blogue, graças ao António Paiva
Guiné 63/74 - P8586: Agenda cultural (145): Concerto de Bubacar Djabaté, natural da mítica tabanca de Tabatô, terra de Kimi Djabaté e de outros grandes cantores e músicos, tocadores de balafon e de kora, dia 23, 6ª feira, às 23h, em Lisboa, no Arte & Manha
Concerto de Bubacar Djabaté
Arte & Manha
Espaço Cultural Lusófono
Av Duque de Loulé 22
1050-090 Lisboa
Sala Carlota Joaquina
23 de Julho de 2011, Sábado, 23h
Entrada 5€
Bubacar Djabaté é da Guiné-Bissau, de Tabatô, a já mítica tabanca (aldeia) de didjius situada no leste do país, a escassos 12 km de Bafatá, e donde é natural o grande Kimi Djabaté.
Nasceu no seio de uma família de músicos (o clã Djabaté) e toca os instrumentos tradicionais: Balafon, Djembe e Cabaça.
Chegou a Portugal em 2005 e, desde então, tem também vivido da sua música. Participou em eventos musicais em Lisboa, como o Festival Lisboa Mistura no Teatro São Luiz, em 2010, e no Bartô-Chapitô em 2011.
A sua música é composta por reportórios tradicionais, com influência do ritmo afro-mandinga, e traduzem a rica herança da cultura e da música guineenses. Tem página no Facebook (donde foi retirada a foto publicada acima, com a devida vénia: Bubacar Djabaté tocando balafon, no Teatro São Luís, Lisboa, 2010).
A notícia deste evento chegou-nos por mail do João Graça, membro da nossa Tabanca Grande.
______________
Nota do editor:
20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (4) (Carlos Cordeiro)
Arte & Manha
Espaço Cultural Lusófono
Av Duque de Loulé 22
1050-090 Lisboa
Sala Carlota Joaquina
23 de Julho de 2011, Sábado, 23h
Entrada 5€
Bubacar Djabaté é da Guiné-Bissau, de Tabatô, a já mítica tabanca (aldeia) de didjius situada no leste do país, a escassos 12 km de Bafatá, e donde é natural o grande Kimi Djabaté.
Nasceu no seio de uma família de músicos (o clã Djabaté) e toca os instrumentos tradicionais: Balafon, Djembe e Cabaça.
Chegou a Portugal em 2005 e, desde então, tem também vivido da sua música. Participou em eventos musicais em Lisboa, como o Festival Lisboa Mistura no Teatro São Luiz, em 2010, e no Bartô-Chapitô em 2011.
A sua música é composta por reportórios tradicionais, com influência do ritmo afro-mandinga, e traduzem a rica herança da cultura e da música guineenses. Tem página no Facebook (donde foi retirada a foto publicada acima, com a devida vénia: Bubacar Djabaté tocando balafon, no Teatro São Luís, Lisboa, 2010).
A notícia deste evento chegou-nos por mail do João Graça, membro da nossa Tabanca Grande.
______________
Nota do editor:
20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (4) (Carlos Cordeiro)
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8585: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (11): Por morrer uma andorinha...
1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 3 de Julho de 2011:
AO CORRER DA BOLHA- XI
Por Morrer uma Andorinha…
Era uma vez um Alferes
Podia começar assim…
Terminada uma Operação na zona do Enxalé, esperava a passagem do macaréu. Só então cambariam o Geba até ao Xime.
Meio enrolado, ouvidos à escuta, a noite a chegar e, para aumentar o desconforto, a dor do dente a voltar, raios, raios, que chatice.
-Dá-me mais uma “pincelada “ dessa Mistura Bonin? …sei lá o nome, é LM, aqui é tudo do LM.
-Tem que ir a Bissau arrancar o dente. Isto só alivia e estraga os outros.
Horas depois já estavam em Fá.
Dormiu mal. O Furriel Enfermeiro aconselhou, logo pela manhã, a ida a Bissau.
Dias depois entrou no Hospital Militar e procurou a Estomatologia. Encontrou uma sala com várias cadeiras, médicos e o cheiro próprio daqueles locais. Borrifafa-se nisso, queria era ser tratado. E foi por um médico, calmo e sorridente, que lhe traçou o destino:
- Temos que arrancar o dente.
Já o esperava.
Falaram agradavelmente enquanto esperavam o efeito da anestesia.
Tentou o médico e o dente saiu alegremente.
- Aqui está, tudo bem e volta daqui a dois dias para ver esse siso. Não é para arrancar. Prevenir.
(O médico, se bem se lembra era de Coimbra ou esteve ligado à Briosa).
Dias depois dois, claro, voltou a entrar na sala. Tentou ser tratado pelo mesmo médico. Não foi possível e outro o tratou.
Mal o ouviu. Boca aberta, dedo lá dentro, breve espreitar.
Pouco depois zunia, com ruído irritante, a broca que de pronto avançou, primeiro na direcção da boca e depois do dente. Por pouco tempo, urrou o alferes e parou a broca.
-Tem que ser arrancado, sentenciou o clínico.
E foi. Foi com força e protestos do médico contra dente tão teimoso. Finalmente o siso lá saiu, descansou o médico e o alferes continuava, em surdina a chamar-lhe… isso mesmo, pensou bem.
Saiu da sala, com Guia assinada e ordem de regressar no dia seguinte ou noutro que não interessava.
Volto o “tanas de albernoa”…
Voltou e muito rápido. Nunca digas nunca.
Voltou porque horas depois as dores eram fortes, o sangue teimava em aparecer ao canto da boca. - Estou lixado.
Um Tenente de Cavalaria levou-o, no “jeep” que tinha, ao Hospital.
No caminho comentaram o que o HM 241, quem lá trabalhava e outros militares ligados à saúde representavam para os que estavam no mato.
“O que interessa é chegares vivo ao Hospital de Bissau e estás safo”. Em dias de tecto baixo, com dificuldade em evacuações de feridos, sentia-se o moral das tropas.
Por morrer uma andorinha… e isto não era caso de vida ou morte…
Entrou no Hospital, a cabeça a latejar, a visão meio enevoada, a raiva a tirar-lhe o juízo depois da partida do siso.
Nem viu, ao dobrar uma esquina, um Major do BART 1904.
- Então, que se passa? - Disse o Major.
Relatou brevemente e seguiu o Major. Numa sala estavam muitos militares ligados, se bem se apercebeu, à saúde. Ele saiu dali.
Pouco depois apareceu o Major e o tal clínico.
- Eu espero aqui. Tem transporte?
- Devo ter ou talvez não.
Seguiu o homem que lhe extrairia o siso e os protestos dele.
Ele nada dizia só, em surdina ia “falando”… do dito e de muito mais. Era para se entreter, para tranquilizar.
Sentou-se na cadeira, abriu a boca, lavou com água e algo mais, suportou a introdução de uma massa acastanhada ou que ficou dessa cor, levou uma injecção e esperou.
- Vai à Farmácia Militar e levanta o que aí está. Toma como aí diz. Volta cá daqui a… não se lembra quando ou participo de si. Aceitou o papel e a Guia com as novas indicações.
Saiu, foi à Farmácia, recebeu medicamentos e informações.
Nesse dia, talvez não, no outro já estava em Bambadinca e depois em Fá.
Da recuperação se encarregou o Enfermeiro.
A Guia… o vento levou-a… tudo o vento leva…
Passado muito tempo, já em Mansambo, a Companhia estava com muitos problemas de saúde. Recebeu, por isso mesmo, uma visita de alguns médicos héli-transportados.
Parece ter decorrido bem. Dizem que sim, se não me engano.
Fizeram fila para verificação dentária. Depois da saída do primeiro, talvez do segundo “doente” , desapareceu a fila. Seria…?
Na parada havia militares a lançar aviões de papel. Gritavam. - Vou para a Metrópole. Outros pediam boleia. Um outro, que tinha partido os óculos numa emboscada e ficou sem eles, o tique de os puxar para o lugar com o indicador manteve-se. Outro tomava comprimidos por cores. E agora? Azul… depois o verde…
Parece que ao fim da tarde, o tal Alferes regressou, salvo erro, da Moricanhe com o Grupo. Soube as novidades.
Foi benéfica, para a saúde daqueles militares a consulta colectiva. As condições eram demasiado más e foi uma boa medida.
Parece que o Comandante da Companhia teve que passar, no dia seguinte ou no outro, pelo Comando de Batalhão para uma ou outra explicação. Sem problemas se bem me lembro.
Tudo bem e lá continuaram cantando e rindo… mas a saúde e certas condições parece terem mudado.
Era uma vez um velho, a quem há décadas atrás chamaram Alferes... que, mesmo tanto tempo depois, se ouve o zumbido da broca no estomatologista fica muito, muito desagradado… vidas…
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8565: Fotos à procura de... uma legenda (1): Álbum de Torcato Mendonça (CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Vd. postes da série de:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1353: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (1): O bababaga e o papa-figos
9 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5958: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (2): SPM 4758
12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5974: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (3): O velho picador
16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6002: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (4): Os apontamentos de Amílcar Cabral
20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6197: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (5): Mentes com dúvidas
21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6202: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (6): Quem ficou com a minha G3
3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6305: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (7): Lágrimas secas
14 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6388: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (8): Promessas
16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968
17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6410: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (10): O saco do Zé Paz D'Almas
AO CORRER DA BOLHA- XI
Por Morrer uma Andorinha…
Era uma vez um Alferes
Podia começar assim…
Terminada uma Operação na zona do Enxalé, esperava a passagem do macaréu. Só então cambariam o Geba até ao Xime.
Meio enrolado, ouvidos à escuta, a noite a chegar e, para aumentar o desconforto, a dor do dente a voltar, raios, raios, que chatice.
-Dá-me mais uma “pincelada “ dessa Mistura Bonin? …sei lá o nome, é LM, aqui é tudo do LM.
-Tem que ir a Bissau arrancar o dente. Isto só alivia e estraga os outros.
Horas depois já estavam em Fá.
Dormiu mal. O Furriel Enfermeiro aconselhou, logo pela manhã, a ida a Bissau.
Dias depois entrou no Hospital Militar e procurou a Estomatologia. Encontrou uma sala com várias cadeiras, médicos e o cheiro próprio daqueles locais. Borrifafa-se nisso, queria era ser tratado. E foi por um médico, calmo e sorridente, que lhe traçou o destino:
- Temos que arrancar o dente.
Já o esperava.
Falaram agradavelmente enquanto esperavam o efeito da anestesia.
Tentou o médico e o dente saiu alegremente.
- Aqui está, tudo bem e volta daqui a dois dias para ver esse siso. Não é para arrancar. Prevenir.
(O médico, se bem se lembra era de Coimbra ou esteve ligado à Briosa).
Dias depois dois, claro, voltou a entrar na sala. Tentou ser tratado pelo mesmo médico. Não foi possível e outro o tratou.
Mal o ouviu. Boca aberta, dedo lá dentro, breve espreitar.
Pouco depois zunia, com ruído irritante, a broca que de pronto avançou, primeiro na direcção da boca e depois do dente. Por pouco tempo, urrou o alferes e parou a broca.
-Tem que ser arrancado, sentenciou o clínico.
E foi. Foi com força e protestos do médico contra dente tão teimoso. Finalmente o siso lá saiu, descansou o médico e o alferes continuava, em surdina a chamar-lhe… isso mesmo, pensou bem.
Saiu da sala, com Guia assinada e ordem de regressar no dia seguinte ou noutro que não interessava.
Volto o “tanas de albernoa”…
Voltou e muito rápido. Nunca digas nunca.
Voltou porque horas depois as dores eram fortes, o sangue teimava em aparecer ao canto da boca. - Estou lixado.
Um Tenente de Cavalaria levou-o, no “jeep” que tinha, ao Hospital.
No caminho comentaram o que o HM 241, quem lá trabalhava e outros militares ligados à saúde representavam para os que estavam no mato.
“O que interessa é chegares vivo ao Hospital de Bissau e estás safo”. Em dias de tecto baixo, com dificuldade em evacuações de feridos, sentia-se o moral das tropas.
Por morrer uma andorinha… e isto não era caso de vida ou morte…
Entrou no Hospital, a cabeça a latejar, a visão meio enevoada, a raiva a tirar-lhe o juízo depois da partida do siso.
Nem viu, ao dobrar uma esquina, um Major do BART 1904.
- Então, que se passa? - Disse o Major.
Relatou brevemente e seguiu o Major. Numa sala estavam muitos militares ligados, se bem se apercebeu, à saúde. Ele saiu dali.
Pouco depois apareceu o Major e o tal clínico.
- Eu espero aqui. Tem transporte?
- Devo ter ou talvez não.
Seguiu o homem que lhe extrairia o siso e os protestos dele.
Ele nada dizia só, em surdina ia “falando”… do dito e de muito mais. Era para se entreter, para tranquilizar.
Sentou-se na cadeira, abriu a boca, lavou com água e algo mais, suportou a introdução de uma massa acastanhada ou que ficou dessa cor, levou uma injecção e esperou.
- Vai à Farmácia Militar e levanta o que aí está. Toma como aí diz. Volta cá daqui a… não se lembra quando ou participo de si. Aceitou o papel e a Guia com as novas indicações.
Saiu, foi à Farmácia, recebeu medicamentos e informações.
Nesse dia, talvez não, no outro já estava em Bambadinca e depois em Fá.
Da recuperação se encarregou o Enfermeiro.
A Guia… o vento levou-a… tudo o vento leva…
Passado muito tempo, já em Mansambo, a Companhia estava com muitos problemas de saúde. Recebeu, por isso mesmo, uma visita de alguns médicos héli-transportados.
Parece ter decorrido bem. Dizem que sim, se não me engano.
Fizeram fila para verificação dentária. Depois da saída do primeiro, talvez do segundo “doente” , desapareceu a fila. Seria…?
Na parada havia militares a lançar aviões de papel. Gritavam. - Vou para a Metrópole. Outros pediam boleia. Um outro, que tinha partido os óculos numa emboscada e ficou sem eles, o tique de os puxar para o lugar com o indicador manteve-se. Outro tomava comprimidos por cores. E agora? Azul… depois o verde…
Parece que ao fim da tarde, o tal Alferes regressou, salvo erro, da Moricanhe com o Grupo. Soube as novidades.
Foi benéfica, para a saúde daqueles militares a consulta colectiva. As condições eram demasiado más e foi uma boa medida.
Parece que o Comandante da Companhia teve que passar, no dia seguinte ou no outro, pelo Comando de Batalhão para uma ou outra explicação. Sem problemas se bem me lembro.
Tudo bem e lá continuaram cantando e rindo… mas a saúde e certas condições parece terem mudado.
Era uma vez um velho, a quem há décadas atrás chamaram Alferes... que, mesmo tanto tempo depois, se ouve o zumbido da broca no estomatologista fica muito, muito desagradado… vidas…
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8565: Fotos à procura de... uma legenda (1): Álbum de Torcato Mendonça (CART 2339, Mansambo, 1968/69)
Vd. postes da série de:
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1353: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (1): O bababaga e o papa-figos
9 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5958: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (2): SPM 4758
12 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5974: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (3): O velho picador
16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6002: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (4): Os apontamentos de Amílcar Cabral
20 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6197: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (5): Mentes com dúvidas
21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6202: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (6): Quem ficou com a minha G3
3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6305: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (7): Lágrimas secas
14 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6388: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (8): Promessas
16 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968
17 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6410: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (10): O saco do Zé Paz D'Almas
Guiné 63/74 - P8584: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (7): Madina do Boé
1. Sétima página do Álbum Fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).
ÁLBUM FOTOGRÁFIO DE MANUEL COELHO (7)
MADINA DO BOÉ
Madina do Boé > Companheiros de caça aos tecelões
Madina do Boé > Depois do Ramadão
Madina do Boé > Exíguo armazém do material de Rádio
Madina do Boé > Família
Madina do Boé > Fui batizado de Furriel Passarinho
Madina do Boé > Grupo na encosta
Madina do Boé > Homens Grandes e respectivas famílias
Madina do Boé > Homens Grandes
Madina do Boé > Irmãos
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8571: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (6): Beli, Madina do Boé e Convívio 2011
Guiné 63/74 - P8583: Facebook...ando (11): Partidas e chegadas... (Durval Faria, ex-Fur Mil, CCAÇ 274, Fulacunda, 1962/64)
Foto nº 1 - Lisboa, Praça do Comércio, Janeiro de 1964 ... Foto tirada "depois da nossa chegada de Bissau"...
Foto nº 2 - "Chegada ao porto de Bissau, no ano de 1961. Foto adquirida na Papelaria Benfica, junto ao estádio Sarmento Rodrigues (nome que tinha altura)".
Foto nº 3 - "Lisboa, Castelo de São Jorge, Janeiro de 1964. No regresso da Guiné"...
Fotos (e legendas) do Mural do Facebook, do nosso camarada Durval Faria (Lagoa, S. Miguel, Açores) (Aqui reproduzidas com a devida vénia...)
1. O nosso camarada e membro da nossa Tabanca Grande Durval Faria [ foto á esquerda,] foi um dos primeiros a partir para a Guiné, logo em 1962... Pertenceu à CCAÇ 274 / BCAÇ 356 (1962/64)...
A CCAÇ 274 foi mobilizada pelo BII 18 (Ponta Delgada, S. Miguel, Açores), partiu para a Guiné em 17/1/1962, no T/T Índia e regressou exactamente dois anos depois, em 17/1/1964. Esteve em Bissau e Fulacunda. Comandante: Cap Inf Adérito Augusto Figueira.
2. Sobre a foto nº 2, surge-nos uma dúvida: durante anos, o porto de Bissau não tinha infra-estruturas modernas de modo a permitir o desembarque directo das NT em navios de grande calado... O leito do canal tinha, de resto, como tem hoje, problemas de assoreamento no canal do Geba, entre a cidade de Bissau e o Ilhéu do Rei.
Em Maio de 1969, eu já desembarquei directamente no porto de Bissau, mas durante os primeiros anos da década de 60 (não sei exactamente até que ano) tanto passageiros como mercadorias tinham que ser transportados para terra em batelões, ficando o navio ao largo... A foto (ou postal ilustrado) nº 2 possivelmente está mal legendada. Pode tratar-se de outro porto, e de outra data... De resto, em Janeiro de 1961 não há registo de tropas desembarcadas em Bissau... O Durval poderá tirar-nos a dúvida (LG).
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Nota do editor:
Último poste da série > 15 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8106: Facebook...ando (10): Efemérides: 9 de Abril de 1970, o meu regresso a casa (Raul Brás, CCAÇ 2381, Os Maiorais de Empada, 1968/70)
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