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sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Caboxanque > CCAV 8352/72 (1972/74) > Vista aérea do futuro aquartelamento


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > 2014 >  Perímetro defensivo, em esquema aproximado, sobre imagem atual, do Google Earth (com a devida venia...). CCaboxanque fican maragem esquerda do Rio Cambijá: vd. infografia abaixo)


Fotos do álbum do nosso grão-tabanqueiro, nascido em Angola, Lobito, Rui Pedro Silva, que foi sucessivamente:

(i)  alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971);

(ii)  ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72);

(iii) cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74). 

Passou 3 Natais no mato (em Angola, 1971, e na Guiné, Caboxanque, em 1972,  e Cadique, em 1973).


Fotos (e legendas): © Rui Pedro Silva (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça E Camaradas da Guiné ] (*)




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bedanda, Cobumba, Cufar, Caboxanque, rio Cumbijã e seu  afluente, o rio  Bixanque.

Infografia:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné   (2024).

 *


 Dois amargos natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973)

por Rui Pedro Silva


A 21 de dezembro de 1972 a CCav 8352, que eu comandava, desembarcou em Caboxanque, no âmbito da operação Grande Empresa (**), iniciada a 12 de dezembro, a qual tinha como objetivo a ocupação do Cantanhez.

A IAO no Cumeré durou 15 dias e logo marchámos para Cufar,  divididos em dois grupos: o  primeiro grupo deslocou-se de Noratlas a 19 de novembro de 1972 e o segundo de LDG a 21, e  com ele todo o equipamento para a instalação de uma companhia: do equipamento de cozinha às tendas e colchões pneumáticos, das viaturas ao gerador, das armas e munições às rações de combate, etc.

Para todos nós era seguro que não íamos render uma outra companhia e, ao chegar a Cufar, desde logo ficou claro que não seria aquele o nosso destino. Logo no desembarque recebi instruções para conservar o material carregado nas viaturas e tudo o resto guardado num improvisado “armazém”.

Nesse momento ainda não sabíamos da operação a que estávamos destinados. Nas quatro semanas que estivemos em Cufar realizámos operações de patrulhamento da zona, segurança à pista e ao porto e à construção da estrada Cufar - Catió. 

Da sede do batalhão, em Catió [BCAÇ 4510/72, Sector S3, em 1/7/73], vinham insistentes recomendações para nos concentrarmos na segurança da estrada. Havia um claro desentendimento entre os responsáveis em Cufar e a sede do Batalhão. 

A segurança na estrada mantinha-se 24 horas por dia,  rodando por todos os grupos de combate da companhia de Cufar  [CCAÇ 4740/72, em 1/7/73] e da minha  [CCAV 8352/72 ] e portanto não se percebia a insistência.

A preocupação de Catió resultava do facto de estar em curso uma manobra de diversão procurando atrair o PAIGC para aquela zona,  levando-o a mobilizar os seus efetivos para Cufar e assim garantir uma menor resistência à entrada das nossas tropas no Cantanhez. 

Esta manobra teve pleno êxito. O PAIGC foi surpreendido com a entrada das nossas tropas em Cadique [CCAÇ 4540/72, em 1/7/73, rendida em 22/7 pela 1ª C/BCAÇ 4514/72 mas só regressou a Bissau em 17/8]  e Caboxanque,  não oferecendo qualquer resistência nos primeiros dias.

 A Op Grande Empresa foi muito bem descrita no livro “A Última Missão”,  do sr. cor pqdt Moura Calheiros. Como tive oportunidade de lhe dizer na altura da publicação:

“A sua narrativa permite ao leitor ter uma visão mais abrangente da guerra na Guiné e, ao mesmo tempo, navegar consigo no seu PCA, progredir com os seus bigrupos nas missões mais arriscadas, partilhar a angústia das decisões mais difíceis, confrontar-se com a orientação estratégica do Comando-Chefe, conhecer a atuação da guerrilha, viver a vida de um militar naqueles duros tempos e cumprir a nobre missão de resgate dos militares portugueses falecidos e sepultados na Guiné. 

"Ao ler as páginas deste seu livro revejo e identifico pessoas com quem partilhei uma parte importante da minha vida e situações em que a minha companhia esteve também envolvida e que constituem pedaços da história dos paraquedistas, das forças armadas portuguesas e do nosso país.”

Recomendo vivamente a leitura deste livro a quem ainda não o fez porque nele revemos, cada um de nós, ex-combatentes, uma parte da nossa história. Cerca de seis meses depois,  e em resultado da Op Grande Empresa,  existiam 7 novos aquartelamentos
 [no Cantanhez] :

  • Cadique,
  • Caboxanque,
  • Cafal,
  • Cafine,
  • Jemberem,
  • Chugué
  • e Cobumba.

O COP 4, comandado pelo sr. ten-cor pqdt Araújo e Sá, comandante do BCP 12, coadjuvado pelo seu segundo comandante e oficial de operações, maj pqdt Moura Calheiros,  foi a unidade operacional responsável pela operação.

Mas fiz esta longa introdução para abordar o tema do Natal.

Os quatro dias que mediaram desde a nossa entrada em Caboxanque até ao Natal de 1972, foram preenchidos em ciclópicas tarefas de instalação da companhia, segurança no perímetro defensivo e reconhecimento da zona operacional.

O perímetro tinha cerca de 3,5 km  (Fotos  nº 1 e 2) e só foi possível garantir a segurança de Caboxanque instalando os grupos de combate e cada uma das suas secções ao longo da linha de defesa, ficando a CCav 8352 instalada em metade do perímetro virado a norte e a CCaç 4541 na metade virada a sul. 

Instalados em valas cavadas em contrarrelógio, sem arame farpado e apenas separados da mata do Cantanhez por um largo espaço que as maquinas da engenharia terraplanaram, com a ração de combate a alimentar a nossa fome, a noite escura a servir de cobertor e a angústia de podermos ser surpreendidos pelo PAIGC nessa nossa tão frágil posição, assim se encontravam os militares sob meu comando, carregando sob os meus ombros a enorme responsabilidade do que lhes pudesse acontecer naquelas difíceis circunstâncias.

No dia de Natal a companhia estava dispersa pelo perímetro de Caboxanque, um grupo de combate tinha saído com um bigrupo paraquedista, em patrulhamento, e em Cufar ainda permaneciam alguns militares da companhia, guardando todo o material que lá tinha ficado. 

Sem meios frio a funcionar e portanto sem géneros frescos,  as refeições limitaram-se às rações de combate e a uma sopa improvisada com o pouco que diariamente se trazia de Cufar.


Foto nº 3
Estes foram dias muito difíceis para todos. Numa fotografia que aqui junto (Foto nº 3)  podem verificar como eram feitas as distribuições das refeições ao longo do perímetro. Quando o Unimog que fazia este serviço chegava junto da última secção já a refeição que transportava estava fria.

Um ano antes, no 
Natal de 1971, estava em Angola, nos Dembos, na sede do BCAÇ 3840 sediado em Zemba e na escala de serviço coube-me ser o oficial de dia. (...)

Natal de 1973 foi passado em Cadique para onde a CCav 8352 tinha sido enviada, por um mês, no âmbito da Op Estrela Telúrica que envolveu entre outras forças o Batalhão de Comandos. (Vd. o que escreveu, no seu "Diário da Guiné", o nosso camarada António Graça de Abreu, então em Cufar, no CAOP1).

 Instalados em condições muito precárias, sempre com grupos de combate em acção, principalmente junto à estrada Jemberem – Cadique, este foi o terceiro e o nosso pior Natal em guerra.

Dois dias antes do Natal um grupo de combate da minha companhia e outro da companhia de Cadique foram emboscados quando vinham render outros 2 grupos de combate da CCav 8352 que eu naquele dia comandava. 

Em resultado da emboscada houve mortos e feridos entre os militares da companhia de Cadique.

A moral do pessoal de Cadique estava a um nível muito baixo e assistimos a alguns actos de desespero, como a recusa a sair para operações ou tentativas de acionar uma granada defensiva junto do comando. (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto,  parênteses retos, título: LG)


____________

Notas do editor:
 
(*) 25 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14080: O meu Natal no mato (42): 1971, em Zemba (Angola); 1972, em Caboxanque; 1973, em Cadique (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Cantanhez, 1972/74)

(**) Último poste da série > 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26236: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte II: O BCP 12, o "112" do Com-Chefe

sexta-feira, 26 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25448: Notas de leitura (1685): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Abril de 2024:

Queridos amigos,
Chegámos ao término do ensaio da responsabilidade do nosso confrade José Matos e Matthew M. Hurley, eles passam em revista as principais situações que ocorreram em 1972 na Guiné. De tanto apelo, Spínola conseguiu armamento e equipamento para a Zona Aérea, mas o sistema defensivo antiaéreo, que tanto o preocupava, não conheceu remodelação. Como observam os autores, Spínola desesperava por retirar iniciativa às forças do PAIGC, por apresentação de uma proposta do major Moura Calheiros, responsável paraquedista, aceitou pôr em marcha a mais movimentada operação depois da Operação Tridente, a Grande Empresa, que os autores aqui apresentam. Provavelmente através dos serviços de informação, o comandante chefe sabia que algo estava em preparação quanto a novos meios do PAIGC, na sua declaração de Ano Novo Amílcar Cabral, sem o dizer explicitamente, refere que vão aparecer novas armas que poderão acelerar a liquidação do colonialismo. Vivia-se, pois, um compasso de espera, Spínola não tinha ilusões de que não iria receber novos e comparativos meios de Lisboa. Resta aguardar o terceiro volume sobre a Zona Aérea da Guiné em 1973 e 1974.

Um abraço do
Mário



O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22)


Mário Beja Santos
Deste segundo volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados na sua aquisição: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/.

Contracapa do segundo volume

Índice
Abreviaturas

Capítulo 5: “Tudo estava dependente deles, de uma forma ou outra”

Com o presente texto, conclui-se a súmula do livro de José Matos e Matthew M. Hurley, seguramente que o terceiro volume será dedicado ao inquietante período entre 1973 e 1974. Ao longo de 1972, o Comandante-Chefe foi apelando à aquisição de armamento não só para a Força Aérea como para o sistema defensivo, era notório que nos países ocidentais se fazia obstrução de tais compras. A propaganda do PAIGC alardeava grandes perdas em aeronaves da FAP. Concretamente, falavam que tinham destruído entre 1969 e 1972 dez aviões de asa fixa e oito helicópteros, incluindo seis aeronaves alegadamente destruídas em pistas de aterragem (ver anexo III). O registo documental da FAP e a falta de provas apresentadas pelos guerrilheiros revelam que a Zona Aérea não perdeu uma única aeronave por ação inimiga desde que o Fiat que o Tenente-Coronel Costa Gomes pilotava foi atingido, em 1968. Perderam-se aeronaves em acidentes: dois T-6, dois DO-27 e também dois Alouette III caíram na Guiné, daí resultando 14 mortos (incluindo os seis pilotos). Tais acidentes aumentara o número de aviões e helicópteros da FAP perdidos na Guiné desde 1962 para 23, embora três, no máximo, tenham sido destruídos por fogo hostil.

Apesar de todo este seu furor propagandístico, o PAIGC reconhecia que não tinha uma defesa antiaérea eficaz. Amílcar Cabral viajou para a União Soviética em junho de 1962 à procura de melhores armas defensivas. Os seus esforços acabaram por ser recompensados, mas nesse intervalo de tempo a Zona Aérea conseguia gerir a sua guerra contra o PAIGC sem encontrar sérios obstáculos. Durante 1972, as aeronaves da FAP tiveram um total de 10.643 surtidas em todas as áreas de missão, número que representa uma redução de 6% em relação ao ano anterior. O número de ataque e surtidas de apoio de fogo ultrapassou os 3 mil durante 1972, o que representa menos 15% relativamente a 1971, mas um esforço maior comparativamente a 1969 ou 1970. Os Alouette III transportaram na Zona Aérea mais de 6 mil soldados durante 75 operações helitransportadas, em 1972, comparativamente a 58 missões semelhantes e 1971 e 41 em 1970.

Esta defensiva de operações da Zona Aérea teve a sua ênfase no Sul da Guiné, em parte devido à propaganda do PAIGC alegando ter aqui um elevado número de “áreas libertadas”, especialmente na Península do Cantanhez. Spínola sentia que era imperativo demonstrar que as forças militares poderiam exercer um completo domínio no Cantanhez, dado o facto do fracasso inegável do poder afirmar em qualquer outro lugar do Sul da Guiné. No final do ano, esta sua exigência culminou com a Operação Grande Empresa, foi a mais ambiciosa operação ofensiva desde a Operação Tridente, em fevereiro-março de 1964.

Frustrado nas suas tentativas em ludibriar o PAIGC, neutralizar a República da Guiné ou negociar um acordo através do Senegal, Spínola procurou então o local que lhe desse um sucesso militar capaz de poder recuperar um poder de iniciativa face ao PAIGC. Foi-lhe oferecida a oportunidade pelo Major Moura Calheiros, Comandante das Operações e Informações do BCP 12, que identificou a base mais importante do PAIGC nas chamadas “áreas libertadas” do Cantanhez. Com a sua proposta da Operação Grande Empresa, Calheiros deu a Spínola uma oportunidade para destruir um grande complexo de guerrilha, recuperar a Península e a população sob controlo inimigo, através de obras civis, medidas psicológicas e reordenamentos; foram designadas duas companhias de paraquedistas e um destacamento de fuzileiros para o assalto inicial, competia a essas forças especiais ocupar as aldeias de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijã, enfrentando e destruindo as forças guerrilheiras que tentassem sobrepor-se. Uma vez alcançados esses objetivos, uma força composta por tropas de cavalaria e infantaria, apoiada por pelotões de artilharia chegariam por lanchas ao local e estabeleceriam uma rede de guarnições na Península, desenvolvendo rapidamente obras de construção e reordenamento.

Em 11 de dezembro, um dia antes do ataque, sete Noratlas transportaram 191 paraquedistas da Base Aérea 12 para a sua plataforma avançada, a Base em Cufar. Na manhã seguinte, seis Fiat levaram a efeito um bom bombardeamento preparatório às posições do PAIGC, enquanto dez Alouette III que transportavam 50 paraquedistas os largaram em zonas previamente escolhidas. Uma forte resistência obrigou a trazer mais 50 paraquedistas, mas no final do dia as forças portuguesas esmagaram a resistência e ocuparam as aldeias de Caboxanque, Cadique e Cafine.

Começou então o processo, que se previa de longa duração, de pôr em prática de atrair e reintegrar populações civis, isto enquanto se procurava capturar ou aniquilar as forças importantes do PAIGC. O contingente das tropas do Exército construiu novas aldeias, estradas, cercas para guardar animais, fabricaram-se postos médicos, encetaram-se conversações com as autoridades tradicionais para procurar suprir as necessidades imediatas. Este conjunto de iniciativas teve algum sucesso, já que a maioria dos habitantes do Cantanhez revelou tolerância com os esforços portugueses, e muitos deles ajudaram a uma quase erradicação da liderança regional e das infraestruturas do PAIGC.

Ao longo dos noves meses da Operação Grande Empresa, a FAP forneceu reconhecimento contínuo, transporte aéreo, evacuação dos sinistrados e apoio de fogo às unidades de superfície participantes; mas, ato contínuo, as forças especiais de Spínola foram obrigadas e responder a questões mais urgentes que surgiram noutros locais. Os paraquedistas e algumas unidades do Exército foram transferidas em meados do verão, a posição das forças de superfície no Cantanhez iria ficar enfraquecida. Contudo, no final de 1972, as forças portuguesas podiam estar satisfeitas, tinham reocupado o Cantanhez, mas Spínola manteve-se pessimista, conforme relatou no início de 1973 devido ao aumento crescente da atividade e potencial do inimigo, anunciou que era de prever um agravamento militar da situação, perspetivou uma súbita deterioração, provavelmente na forma de destruição convencional em grande escala. Spínola avisou os seus superiores que se avançava para um novo patamar da guerra e temia que Portugal tivesse dificuldade em prevalecer.

Os líderes do PAIGC, por outro lado, começaram 1973 numa atmosfera de otimismo, o PAIGC recebera uma delegação da ONU através das suas zonas ditas libertadas e anunciou publicamente a sua intenção de declarar unilateralmente a independência, nos próximos tempos. Na sua comunicação de Ano Novo, Amílcar Cabral também elogiou as “grandes derrotas e perdas muito importantes” infligidas às forças portuguesas durante 1972. Mas admitiu que o inimigo tinha mais aviões e helicópteros fornecidos pelos aliados na NATO e tinha intensificado os bombardeamentos e ataques contra as regiões libertadas.

“Só a aviação permitiu a Portugal criar situações difíceis para nós.” Nessa mesma alocução Cabral instava as forças do PAIGC a desferir golpes mais duros contra o inimigo colonialista e prometia armas e outros meios de guerra ainda mais poderosos, alertando que o PAIGC iria utilizar de forma mais eficaz os meios existentes e a chegar, suscetíveis de ferir golpes decisivos nos colonialistas.

Para os militares da Força Aérea na Guiné, estas palavras seriam proféticas.

Operações portuguesas helitransportadas em 1972 (por Matthew M. Hurley, baseado em documentação portuguesa)
Área de atividades no decurso da Operação Grande Empresa (Matthew M. Hurley)

Anexo I – Aeronaves atribuídas à Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné

Anexo II – Surtidas na Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné
Surtidas por tipo de aeronave, 1968-1972
Surtidas por categoria de missão, 1968-1972

Anexo III – Perdas da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné e Reivindicações Propagandísticas do PAIGC, 1962-1972
Perdas confirmadas pela FAP, 1962-1972
Números indicando o lugar dos acontecimentos descritos no quadro acima (mapa elaborado por Matthew M. Hurley)
Reivindicações propagandísticas do PAIGC comparadas com as perdas apresentadas pela FAP
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Nota do editor:

Vd. posts anteriores de:


9 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25153: Notas de leitura (1665): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (11) (Mário Beja Santos)

16 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25176: Notas de leitura (1667): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (12) (Mário Beja Santos)

23 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25204: Notas de leitura (1669): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (13) (Mário Beja Santos)

1 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25229: Notas de leitura (1671): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (14) (Mário Beja Santos)

9 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25254: Notas de leitura (1674): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (15) (Mário Beja Santos)

15 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25276: Notas de leitura (1676): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (16) (Mário Beja Santos)

22 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25296: Notas de leitura (1677): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (17) (Mário Beja Santos)

29 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25316: Notas de leitura (1679): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (18) (Mário Beja Santos)

5 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25342: Notas de leitura (1680): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (19) (Mário Beja Santos)

12 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25377: Notas de leitura (1682): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (20) (Mário Beja Santos)
e
19 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25411: Notas de leitura (1684): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (21) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22804: Notas de leitura (1398): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Isto é jornalismo de reportagem de excelência, por não só a correspondência de guerra numa grande angular, ouvir testemunhos, fazer-nos sentir a comoção de sentimentos inextinguíveis. Organização excelente, ir atrás à Primeira Guerra Mundial, berçário de toda esta correspondência e de um serviço postal que sempre ajudava a mitigar a ausência e a inquietação dos perigos da guerra; recordar os primeiros momentos de 1961, como se constitui o Serviço Postal Militar, chegou o momento dos arrebatamentos das cartas de amor, por definição todas elas distintas, mesmo que o destino tenha vindo a separar os protagonistas; e esta colectânea de cartas de dor, um momento extraordinário de saber pesquisar, escutar e dar ao leitor, em toda a latitude, os horrores da perda, o pleno sofrimento do corpo que não chegou e do luto que não se fez. Seguramente uma obra de referência para as investigações vindouras.

Um abraço do
Mário


Cartas de Amor e de Dor, por Marta Martins Silva (3)

Mário Beja Santos


Descobriu na sua atividade jornalística na revista Domingo do Correio da Manhã, através de desabafos de antigos combatentes, que há uma vertente de guerras gradualmente sumidas na memória dos portugueses, que merece ser revitalizada, é constituída por aerogramas, cartas, bilhetes-postais, folhas de apontamentos, fotografias, é um acervo de consulta marginal pelos historiadores e investigadores dos diferentes países envolvidos. O seu livro mais recente, "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins Silva, Desassossego, chancela de Saída de Emergência, 2021, é um magnífico trabalho de investigação que ela enceta com cartas da Primeira Guerra Mundial, contextualizada depois a chegada da Guerra Colonial, é apresentada uma sinopse do Serviço Postal Militar, seguem-se as cartas de amor e temos agora, a coroar este tão meritório trabalho, cartas de dor.

Inicia a viagem com um jovem alferes que morreu em Moçambique e quem a mãe posteriormente editou poesias e cartas, feriu-se em combate, os médicos não acertavam no diagnóstico, morreu de hematoma cerebral. Legou uma correspondência original, com se exemplifica: “Será que morreste numa esquina anónima dessa rouca cidade? Desejaria ouvir a tua palavra amiga aqui: neste deserto de areia negra. Sim: escreve em última análise diz-me que chove e que Deus é doce”. Este triste fadário de ver a morte ao pé, de pegar num moribundo, de lhe fechar os olhos, de escrever aos pais, à mulher ou à namorada, as descrições que a autora ouviu em pungentes testemunhos orais, andam muito próximos do que podemos ler na literatura, em centenas de livros já publicados e noutros temos esperanças que ainda venham a surgir, uma literatura que mete explosões, tiroteio medonho, descrições cruas de um resto de perna saindo das calças esfarrapadas, o olhar vidrado, uma bota ensanguentada, as vísceras à mostra, as confidências... e há aquela mãe que se dirige a furriéis a quem pergunta angustiada: “Em que condições morreu o meu filho? Gostaria de saber se se encontrava acompanhado, por outros militares, se foi em combate, em desastre, em captura, etc. etc. Assim peço-vos toda a verdade e não receiem, pois toda a mãe que resiste à morte de um filho aguenta saber em que condições a mesma ocorreu, sejam elas quais forem. Agradeço reconhecida todo o conforto que me derem e acreditem que é de todo o coração que vos desejo mais sorte do que aquela que teve o meu querido filho”.

Há também os corpos que não apareceram, alguém testemunhou, viu o corpo subtraído por outro que viera da Tanzânia, depois escreveu à família, no regresso falou com a mãe neste morto de quem não há corpo, quem faz este relato à autora ainda hoje se impressiona com a dor desta mãe que não pode fazer luto.

Testemunhos, recordações, memórias que não se apagam, há também cartas anónimas, há os telegramas anunciar a morte, o preço proibitivo das transladações e Marta lembra-nos a carta de uma mãe dirigida ao Ministro da Defesa, em 1967: “Pedia a Vª Exª. pela sua saúde, já que não tive a sorte de trazer o meu filho vivo, peço que me mandem mesmo morto. Para eu o adorar e rezar ao pé daquele querido filho. Peço imensa desculpa à Vª Exª. estas minhas tristes palavras, mas a dor é tão grande que não sei onde hei de respirar”. E o governo de então passou a assegurar o regresso dos militares mortos. Temos a história daquele que dá uma jovem viúva, ele partiu para a guerra e não chegou a lá estar três meses, a filhota ia fazer 2 anos dois dias depois, ela com 21 anos, o mundo ruiu e ela faz um comentário que desenha a moral de uma época: “As pessoas eram muito críticas, eu muitas vezes tinha vontade de fazer um bolo para a minha filha e então tinha de queimar um trapo para as vizinhas não notarem pelo cheiro que eu estava a fazer um bolo, também não podia sair à rua porque eu não ia passear a minha filha, ia-me passear a mim. Cheguei a andar de casaco grande, lenço na cabeça, meias pretas, o luto que eu tinha no meu coração queriam que eu tivesse em tudo, julgavam-me assim que eu punha um pé fora de casa. Um dos meus cunhados chegou a vir-me buscar para ir passar férias a Lisboa, e assim que chegámos ele disse logo para tirar o lenço e a minha cunhada para eu tirar as meias pretas. Mas quando regressei ao Alentejo as pessoas disseram que eu vinha morena, que tinha ido para a praia e que meias de vidro não era luto. Foi um sofrimento a todos os níveis”.

E há a história daquele homem cujo pai, comunista, fora morto pela PIDE, era filho único, a mãe viu-o partir em 1973, namorava ele a Gracinha. Passou uma boa tormenta, até em 22 de março 1974 a sua vida mudou irremediavelmente, vai numa coluna, num carro blindado em que ele foi o único sobrevivente, perdeu as pernas, a sua relação com a Gracinha deslassou, surgirá a Paulinha e passados estes anos todos ele confessa que teve muita sorte em ter encontrado uma mulher extraordinária.

Sucedessem-se exemplos como este, deficientes das Forças Armadas conseguiram obter um casamento à prova de uma dura guerra. Há mortos que lá ficaram e a família choram-nos. Houve quem perdesse a mãe em menino e encontrasse o amor da madrasta, foi uma carta de intensa dor que ele recebeu do pai, uma narrativa tocante: “Quando regressou, e à medida que se aproximava mais de casa, aumentava o nó na garganta que sentia pela perda que nem teve tempo de chorar: enfrentar a casa sem a sua querida madrinha/mãe, que o criara desde os 5 anos como um filho e de quem se despedira com um até breve quando foi mobilizado. Apesar de ter continuado a trocar correspondência com o pai, não sabia como o ia encontrar e quais as palavras certas para o confortar por tamanha perda. A forma que encontrou foi nunca o deixar. O pai viveu toda a vida com o filho, mesmo depois deste casar e formar família”.

Houve uma mãe cancerosa terminal que pediu ao Ministro da Defesa que lhe concedesse dar o último beijo ao filho, sucedessem-se peripécias, não chegaria a tempo, a burocracia tudo complicou. E temos já perto do final da obra a narrativa que acompanha de perto a importante obra do Coronel José de Moura Calheiros “A Última Missão”, Editora Caminhos Romanos, 2010. Chamava-se António Vitoriano, tinha 20 anos, e morreu em combate no chamado Cerco de Guidaje. Será uma sua irmã, arqueológa, que o irá identificar. Não teve grande dificuldade em identificar o irmão por causa de uma clavícula partida na infância. É um depoimento magnífico: “E a mim, que não sou nada religiosa, que ensino Antropologia, que ensino a evolução dos primatas, que ensino o Charles Darwin, aconteceu-me uma coisa muito estranha. Estavam 42º e só nós, as raparigas, é que trabalhávamos a equipa militar estava toda a olhar. A dada altura comentei para uma colega: ‘Sou só eu que não sinto calor?’ Nenhuma de nós tinha fome nem sede. E só tive coragem de comentar isto com ela passado 3 a 4 dias. ‘São eles’, disse ela, ‘são os nossos anjos da guarda, estão aqui para nos proteger’. E quando eu estava na sepultura eu pedi assim: ‘Se for o meu irmão, que me dê um sinal’. E assim que mexi na terra, onde estava a escavar, surgiu um pendente com um coração cor-de-rosa e pensei: ‘Este foi o sinal que eu pedi’”. A mãe de António Vitoriano pôde finalmente fazer o luto. E quando lhe nasceu um filho pôs-lhe o nome de António. Finaliza a obra com a ida de Ernestina que foi buscar o pai a Angola, 54 anos depois de António ter morrido. A filha de António conseguiu exumar o corpo em novembro de 2017. Nessa altura a viúva de António já estava em Roma, a filha, de nome Cecília disse-lhe: “Mãe, o pai vai voltar para trás” e a coitadinha chorou. A neta de António, hospedeira de bordo, voa sempre com as asas do avô, que nunca conheceu, ao peito".

Obra de leitura imperdível.

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22785: Notas de leitura (1397): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 23 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21798: (Ex)citações (384): A evacuação do capitão paraquedista Valente dos Santos, no decurso da Op Grande Empresa (Manuel Peredo, ex-fur pqdt, CCP 122, 1972/74 / Moura Calheiros, ex-maj pqdt, 2º cdmt, BCP 12, 1972/74)

 
Guiné > Bissau > Bissalanca> BCP 12 (1972/74)

Foto (e legenda): © Manuel Peredo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Dois comentários ao poste P21779 (*)


(i) Manuel Peredo 

[ ex-fur mil pqdt,  na foto acima é o primeiro do lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, cabo-verdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122 / BCP 12, Bissalanca, 1972/74; vive em França, ou vivia até há uns anos; tem 7 referências no nosso blogue: integra o nosso blogue desde 2008](**)


Tendo eu participado na "reconquista do Cantanhez” [Op Grande Empresa], queria fazer uma observação. Eu estava presente quando o capitão Valente dos Santos [comandante do CCP 122] foi ferido com uma bala que lhe atravessou um braço.

Ele estava incluído no quarto pelotão, que era o meu e nessa emboscada tivemos quatro feridos,ou talvez cinco: o capitão Valente dos Santos,o radiotelegrafista Ribeiro,o enfermeiro Azenha e o soldado Severino que transportei às minhas costas.

Todos foram evacuados ao mesmo tempo, incluindo o capitão Valente dos Santos que, vendo em que estava o seu braço, não podia continuar a operação.

Eu li o livro do major Moura Calheiros (um excelente livro) (***) e a passagem sobre a evacuação do capitão Valente dos Santos deixou-me surpreendido ao afirmar que o capitão recusou ser evacuado querendo continuar a operação, o que não corresponde à verdade.

Em Maio de 2012 estive com o major Moura Calheiros em Tancos no dia da Unidade, onde se juntam várias gerações de paraquedistas. Dei-lhe os meus parabéns pela obra, mas disse-lhe que não estava de acordo com ele quando diz que o capitão Valente dos Santos recusou-se a ser evacuado. Disse-lhe que eu estava presente e que o capitão foi evacuado quando os restantes feridos, mas ele disse-me que eu estava errado e que o que escreveu estava certo pois andava a sobrevoar a zona na Dornier.

Nesse dia da Unidade encontrei-me com vários elementos do meu pelotão [4º  da CCP 122] que fizeram parte dessa operação e todos estavam de acordo com a minha versão.

Depois de os feridos terem sido evacuados, veio outro pelotão da CCP 122 reforçar o meu grupo e voltámos ao local onde tínhamos sofrido a emboscada, sendo a minha secção a ir na frente do bigrupo. 

Encontrámos várias granadas e munições e quando nos preparávamos para sair daquela zono, fomos atacados novamente e o furriel Aníbal Martins foi ferido gravemente. Esteve alguns dias no Hospital Militar, vindo a falecer dos ferimentos. A morte dele deixou-me abalado, pois éramos amigos e no BCP 12 dormíamos no mesmo quarto.

Também participei na operação Muralha Quimérica, onde o meu pelotão encontrou uma grande quantidade de bandeiras do PAIGC e ainda hoje tenho uma.


Capa do livro de José Moura Calheiros, "A Última Missão" 
(Porto, Caminhos Romanos,
2ª edição, 2011). A 1ª edição de 2010.

 (ii) Moura Calheiros

[tem 22 referências no nosso blogue, coronel paraquedista reformado, gestor e escritor; das três comissões de serviço no ultramar, destaque para a da Guiné (1971-1973) como 2º Comandante e Oficial de Operações do BCP12, COP4 e COP5 e ainda como Comandante do COP3]

"Sou" o Major Moura Calheiros, referido pelo Amigo e camarada paraquedista Manuel Penedo, no seu comentário ao meu livro "A Última Missão ", cujo elogio agradeço. 

Mas apresento-me hoje, e aqui, com mais 48 anos — meio século!!! — de vida do que aqueles que então exibia nos tempos que ele recorda, os da "invasão" do Cantanhez, na Guiné...

Tudo aquilo que ele refere se passou numa clara e muito quente manhã, tipicamente guineense, no dia 12 de Dezembro de 1972. E foi relatado, no livro, em 2010; logo, 38 anos depois..., passível, pois, de algumas pequenas imprecisões por efeito da falta de memória e de relatórios escritos sem muito detalhe e precisão, pois que aquele período não permitiu tempo para "burocracias", cuja falta hoje se fazem sentir... e que lamentamos existirem..

Mão amiga fez chegar ao meu conhecimento o comentário do Amigo e camarada Paraquedista Manuel Penedo a uma imprecisão existente no livro de minha autoria atras referido. E existe na verdade uma imprecisão: contrariamente ao que eu lhe tinha afirmado em Tancos, num Dia da Unidade...

Só que agora pude recorrer ao Comandante da Companhia, então Cap Paraq Valente dos Santos, muito mais jovem que eu, logo, com melhor memória. Ele confirmou-me que eu lhe propus a sua evacuação e de todos os outros feridos, mas que ele se recusara a ser evacuado sem que tivesse atingido o quartel inimigo; e, diferentemente do que eu afirmo no livro, os restantes feridos não foram logo evacuados por decisão sua, pois que não eram graves, mas sim, conjuntamente com ele, logo após a ocupação do objectivo.

Em resumo: o Amigo Manuel Penedo tem toda a razão no que afirma no seu Post, mas penso que a inexatidão não é relevante, pois em pouco ou nada o momento da evacuação é importante na narrativa; excepto, claro está, para os feridos... E felizmente tudo correu bem com eles... E com tudo o resto nesse dia, com excepção do raio do desembarque em Cadique...

As minhas desculpas aos leitores do meu livro por esta minha — quanto a mim, ligeira — imprecisão; e também ao Amigo e camarada Manuel Penedo, com o meu pedido de desculpas pelas minhas afirmações em Tancos, no Dia da Unidade. Como compensação, vai daqui um forte abraço para ele.

E, para terminar, saúdo os seguidores deste magnífico Blog, que em tempos idos eu visitava com muita frequência. Mas a idade não perdoa... (****)

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(**) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

(***) Vd.postes de;

 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

27 de fevereiro de  2011 > Guiné 63/74 - P7872: Notas de leitura (210): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (3) (Mário Beja Santos)


2 de dezembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor

3 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional

(****) Último poste da série > 6  de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21741: (Ex)citações (383): Jaime Frederico Mariz Alves Martins, Major Graduado Infantaria, vítima mortal por derrube de aeronave em 6 de Abril de 1973, na Região de Sambuiá (António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21779: Notas de leitura (1334): As Grandes Operações da Guerra Colonial, a Guiné, 1972 a 1974, por Manuel Catarino (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O mérito da iniciativa é indiscutível, estes fascículos venderam-se pelo país todo, pode muito bem ter acontecido que os mais jovens tiveram pela primeira vez acesso a imagens da nossa guerra. Houve muito trabalho a angariar os dados, o que se lastima é que a sua apresentação tem tais e tantos ziguezagues que o não iniciado forçosamente anda para ali a dar braçadas em seco, lê-se e o que fica é um produto final difuso, com muitos tiros, mortes e feridos.

Um abraço do
Mário


As Grandes Operações da Guerra Colonial, a Guiné, 1972 a 1974

Beja Santos

Publicada sob a forma de fascículos, em duas séries, os textos de Manuel Catarino contemplaram por diversas vezes a guerra da Guiné. O número 8, a que aqui se faz alusão, inclui na primeira parte uma série de operações (Muralha Quimérica, 1972, Lince Azul, Palanca, Tigre Poderoso e Gato Espantado, 1973) e na segunda parte a viagem de Spínola ao Senegal e o terror dos mísseis.

Há a lamentar que nem sempre as imagens ilustrativas são as mais adequadas para os acontecimentos versados. No caso da operação Muralha Quimérica, foi uma ação militar de envergadura numa zona compreendida entre Ural e Guileje, e que decorreu de 28 de março a 8 de abril de 1972, ao tempo da visita de uma delegação da ONU a outro ponto da região Sul, temos de facto um mapa mas as demais ilustrações nada abonam sobre a operação.

Spínola estava informado da visita da delegação da ONU e pretendeu estragar a festa, contrariando a ideia (comum nos fóruns internacionais) de que a guerrilha controlava a maior parte da Guiné. Três companhias do batalhão de paraquedistas, duas companhias de comandos africanos, a CCAÇ 18, a CCAÇ 3399, a CCAÇ 3477 e um grupo do Centro de Operações Especiais, cerca de 500 homens, organizados em 14 agrupamentos operacionais sob o comando do Tenente-coronel Araújo e Sá. Foi apreendido muito material, houve mortos e feridos de parte a parte, mas a operação foi considerada um êxito.

José Tavares, do Destacamento de Fuzileiros Especial 4, descreve a sua vida em Ganturé (“Não havia lá nada. Fomos nós que construímos o aquartelamento, numa das margens do rio Cacheu, a cerca de 5 quilómetros de Bigene”). Descreve o inferno de Guidage (“A nossa sorte piorou quando ficámos sem comunicações. A minha família pensava que eu tinha morrido. Não morri porque não calhou. Em Guidage já não tínhamos para comer. Sobrevivemos com carne de crocodilo”).

A obra colhe o depoimento do nosso confrade Eduardo Magalhães Ribeiro sobre o último arrear da bandeira portuguesa. Creio haver ali um lapso tratando a viúva de Amílcar Cabral por Luísa Cabral, a viúva chama-se Ana Maria Cabral. 

O episódio seguinte que merece destaque ao autor é a reconquista do Cantanhez, entre dezembro de 1972 e junho de 1973 foram executadas no Sul da Guiné, com especial incidência nas zonas de Cacine, Gadamael e Guileje uma série de ações (com os nomes ‘Lince Azul’, ‘Palanca’ e ‘Gato Espantado’), o objetivo era desarticular e criar forte instabilidade na guerrilha, todas estas ações faziam parte de uma manobra mais alargada designada por Operação Tigre Poderoso. 

Na essência, Spínola estava determinado a transferir para o Sul o principal esforço de guerra na Guiné, seria uma reconquista que tinha como objetivo fazer do rio Cacine a principal linha de defesa do Sul da Província. 

Como observa o autor, era absolutamente necessário que as forças portuguesas ocupassem a Península do Cantanhez, onde instalariam novos quartéis que servissem de apoio aos aquartelamentos de Cacine, Guileje e Gadamael. Foi posta em marcha a Operação Grande Empresa e envolveu-se um formidável contingente. Ao mesmo tempo que se desenvolvia ação militar (na qual participaram duas companhias do batalhão de paraquedistas, dois destacamentos de fuzileiros especiais e um conjunto de unidades de infantaria, cavalaria e artilharia), um outro conjunto de unidades ocupava fisicamente o território. O nosso confrade Vasco da Gama já aqui contou ao detalhe este esforço impressionante.

O fascículo dá permanentemente saltos, é interpolado por depoimentos, chega-se agora à Operação Neve Gelada, que aqui é relatada pelo Coronel Raul Folques, Comandante do Batalhão de Comandos Africanos. Cai imprevistamente no documento uma cronologia de acontecimentos em 1974 e uma análise do que representou a publicação do livro “Portugal e o Futuro”, de Spínola.

A segunda parte retoma de novo o livro que abalou o regime e segue-se a descrição do encontro de Spínola com Senghor, em 18 de maio de 1972, que se realizou em Cabo Skirring, no Senegal, a história é bem conhecida, pelo meio temos o assassinato de Amílcar Cabral, a zanga entre Marcelo Caetano e Spínola. 

E assim se chega ao terror dos mísseis, regista-se a lista dos aviões abatidos pelos mísseis Strela, Spínola descreve a situação como crítica, episódio que está igualmente bem descrito nas páginas do blogue. Salta-se de novo para a reocupação da Península do Cantanhez, vem referência a um nome que nos é muito comum, o então Major Moura Calheiros, Chefe da Secção de Informações e Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas que tinha referenciado a posição do mais importante quartel do PAIGC na região: 

“A posição inimiga, sensivelmente entre Guileje e Bedanda, foi localizada durante um voo de reconhecimento pelo Capitão Morais e Silva. O êxito da Operação Grande Empresa dependia da capacidade portuguesa para atacar e destruir o quartel da guerrilha”

Três foram as tentativas de assalto, o Capitão Valente dos Santos, ferido na primeira tentativa, recusa a abandonar os seus homens, só à terceira tentativa é que o Oficial aceita ser evacuado. 

“O Chefe de Operações do Batalhão de Paraquedistas, Moura Calheiros, que durante os combates esteve sempre no ar a bordo de um DO-27, respira de alívio. Pode dar início à segunda fase da Operação – a ocupação de Caboxanque, Cadique e Cafine, na margem sul do rio Cumbijá, por paraquedistas e fuzileiros especiais”.

Não se pode minimizar um trabalho de que resulta sempre apreço ao dever de memória. Tem-se, porém, dúvidas sobre a eficácia destes documentos esparsos e onde o pendor cronológico não é consistente, há documentação repetitiva e erros arreliantes que teriam sido evitados em casos de revisão técnica. Mas não se pode deixar de saudar a enorme difusão que o trabalho teve por todo o país.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21758: Notas de leitura (1333): “De Lisboa a La Lys, O Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial”, por Filipe Ribeiro de Meneses, Publicações Dom Quixote, 2018 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19243: Notas de leitura (1125): 38.ª COMPANHIA DE COMANDOS "Os Leopardos" - A História, coordenação de João Lucas (Belarmino Sardinha)



1. Mensagem do nosso camarada  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 20 de Novembro de 2018:

A Razão do Meu Comentário

Dado o meu empenhamento em ter este livro, pediu-me o amigo Amílcar Mendes para comentar ou fazer uma apreciação ao mesmo. Aceitei, como amigo e leitor e por ter estado presente no mesmo espaço físico nos meses iniciais das nossas comissões, em Mansoa.

Depois de ter lido o que foi escrito, penso não ter a acrescentar nada de importante que não esteja referido nas suas páginas, a não ser que conheci e conheço alguns dos intervenientes e tornei-me seu amigo, uns por serem Alentejanos, como eu, outros por serem apresentados por estes e outros ainda por residirem na zona onde morava.

Permitam que me desvie um pouco do livro e fale do meu relacionamento com esta gente, camaradas inesquecíveis com quem era fácil fazer amizade a 3000 Km de distância de casa e metidos num quadrado que apenas permitia conhecermo-nos uns aos outros um pouco melhor.

Lembro o Jorge Brito, que figura na parte de trás da capa e como foi aprofundada a nossa amizade. A recuperar de uns estilhaços com que foi brindado logo no início da comissão, possibilitou confraternizarmos no bar da 38.ª de Comandos bebendo uns copos. Essa amizade, forçada por um interregno involuntário após regressarmos, viria a ser retomada com a ajuda do Amílcar Mendes, que me facultou o seu contacto e assim nos reencontrámos e convivemos até que nos deixou em 2017.

Do Alentejano e grande amigo Luís Barreiras, que cedo nos deixou, situação referida nas páginas deste livro, tenho imensa saudade, tive o privilégio de com ele privar algumas vezes e ser por ele convidado a almoçar no refeitório criado e destinado exclusivamente para a 38.ª Companhia de Comandos em Mansoa. Diga-se que a ementa destes militares, em quartel, nada tinha que ver com a praticada no refeitório do Batalhão 3832.

Mas recordo igualmente outros camaradas e amigos Alentejanos como o Pateiro, companheiro inseparável do Barreiras, tinham sido companheiros no curso de Regentes Agrícolas que ambos tiraram quando juntos decidiram alistarem-se nos Comandos. Quem sabe não ajuda isto a explicar muita coisa, mas isso fugia ao livro e não interessa aqui para o caso, outros houve como o Carreira ou o Silva, este infelizmente também nos deixou logo no início da comissão, facto também assinalado nesta obra, ou o Simão, que me foi apresentado pelo Barreiras e que fatidicamente teve o seu fim no mesmo dia que este. Outros houve de quem não estava tão próximo, mas de qualquer forma, foram demasiados amigos que vi partir apanhados pela figura negra com a gadanha.

Julgo terem sido estas algumas das razões que levaram o Amílcar Mendes a pedir-me para comentar este livro sobre a actividade da 38.ª de Comandos, livro de que já ouvia falar há muito tempo, sempre que com eles me juntava, mas nada via escrito de concreto.

Por tudo que já referi e pelo que obriga a reviver, confesso que o fiz em alguns momentos com os olhos rasos de água e com a interrogação, valeu a pena? Justificou-se tanto esforço, quando a situação podia ter sido resolvida de forma diferente se o político assim quisesse, por um País onde os medíocres e incompetentes, os desonestos e inúteis, utilizando artes e manhas vão singrando contrariando o que por direito devia pertencer aos empenhados e competentes?

Se com a idade vamos ficando sem visão, não é menos verdade que vamos vendo melhor, com maior nitidez e objectividade tudo que vai acontecendo à nossa volta.

Gostava de dar uma aqui uma achega e uma ajuda para esclarecer os que não percebem ou não querem perceber o que se passa com os antigos combatentes. É que, por muito distantes que estejamos, que as convicções sejam outras e mesmo sem contacto uns dos outros, temos muitos pontos que nos unem, de tal forma fortes, que pouca importância têm as diferenças que nos separam, essa é a verdadeira razão para gostarmos de estar uns com os outros e de convivermos.

Entrando um pouco mais no aspecto do livro, não considero tratar-se de uma obra literária propriamente dita, mas também não me parece ter sido essa a razão e a vontade de quem participou na sua escrita, foi sim a procura de resguardar a memória dos acontecimentos, onde os nomes e os factos são lembrados e/ou recordados por quem os viveu na primeira pessoa, e assim os escrevem fazendo história.

Tratando-se de uma narrativa de acontecimentos, merecia uma melhor revisão de texto para correcção de gralhas desnecessárias, embora essas em nada retirem o mérito que o livro tem.

Diz o provérbio que "quem não se sente não é filho de boa gente" não se espera por isso desta gente se não a crítica directa e frontal, como se lê na narrativa do desfile inicial onde a primazia foi dada ao Batalhão de Cavalaria, arma do então Governador da Guiné General António de Spínola em detrimento da 38.ª Companhia de Comandos.

Quando no livro é referido que foram bem aceites pelo comandante do Batalhão em Mansoa e que passaram a ocupar o serviço à porta de armas, é bom lembrar que também o foram pelos militares, quer os do Batalhão 3832 quer os de rendição individual, porém a sua recusa em aceitarem que lhes chamassem "periquitos" levou a situações de alguma hostilidade. Lembro uma outra situação que se prendeu com as saídas para o exterior da unidade, que até então se faziam com algum rigor mas sem nenhuma obrigação especial[1], e que a partir daí impunham que se saísse fardado como se estivéssemos em Bissau[2]. Claro está que um dia foi feita uma formatura com farda n.º 1[3] e pedido de revista pelo oficial de dia antes da saída para o exterior. Com o clima quente a ficar escaldante, demasiado tenso entre todos, foi desanuviado por quem de direito voltando tudo à normalidade.

Outro acontecimento ocorrido antes contribuía para a degradação do ambiente entre uns e outros, um deles, nunca esquecido, foi a morte, nas instalações do quartel, do militar Ilídio Moreira logo após a chegada. Tudo isto era o que levava a um mal estar entre os militares de elite e os já cansados com mais de dezoito meses de comissão.

Facto idêntico é relatado também aqui pelo ex-Alferes Comando Mendes da Silva, vivido num outro aquartelamento e igualmente por causa do termo "periquito" chamado pelos mais velhos a todos aqueles que chegavam de novo.

Tratando-se de uma obra que faz história, julgo importante assinalar alguns destes factos que, embora referidos no livro, são vistos com outros olhos que não os dos seus autores. Contudo, em nada tiram o mérito a esta valorosa companhia que, tal como é referido pelo Coronel Paraquedista Calheiros no seu livro A Última Missão "foi pau para toda a obra".

É igualmente assumido pelos intervenientes na escrita do livro, em especial o seu comandante Ferreira da Silva, não só as boas intervenções operacionais, como as menos conseguidas e explicadas as razões por que aconteceram. É pois um livro escrito com verdade e que evita que se escrevam ou contem sobre estes operacionais coisas menos verdadeiras quando não mesmo inventadas.

Não só aos meus amigos vivos mas a todos os elementos da 38.ª de Comandos o meu abraço e agradecimento pela vossa amizade bem como pelo convite para me pronunciar sobre a vossa companhia e o vossa história de vida na Guiné, onde só partilhei alguns meses, os iniciais passados em Mansoa.

Não competindo aos que escreveram este livro, história da 38.ª Companhia de Comandos outros relatos que não os seus, permito-me deixar aqui outro ponto de vista que corrobora, em muito, o descrito no livro e acrescenta mais alguma coisa sobre a realidade ou o inferno de Guidaje.

Uma outra visão dos acontecimentos em Guidaje, sobre o que é descrito pelo Amílcar Mendes, quando diz terem encontrado militares escondidos ou a chorar sem nada fazerem é o que a seguir escrevo, retirado da cópia de um livro que possuo, escrito, mas ainda não publicado, por um ex-furriel miliciano da Companhia de Caçadores 3518, que faleceu, salvo erro, durante o ano de 2015, Daniel Matos e que integrou a escolta da coluna para Guidaje em 14 de Maio de 1973.

Os Marados de Gadamael, com 13 meses foram para Brá (Combis) e foram fazendo diferentes serviços, entre eles escoltas às colunas de transportes. Numa dessas colunas, inicialmente prevista para ir, apenas e só, até Farim, chegados ai foram mandados seguir como reforço até Guidage, onde a progressão da coluna sofreu tudo o que é relatado no livro da 38.ª de Comandos e onde foram obrigados a permanecerem mais de uma semana. Nesse período tiveram 4 mortos (no abrigo do Obus) e vários feridos. Esta escolta era formada com vários soldados que nunca tinham sido operacionais, devido às suas especialidades, cozinheiros, padeiros etc, mas como, em princípio, era só até Farim e não oferecia grande perigo tiveram que alinhar.

Podemos fazer um juízo de como e do porquê de muitas coisas acontecerem ao enviarem militares para missões que lhes eram destinadas e para as quais não estavam preparados nem física nem psicologicamente e onde apenas a boa vontade e a destreza não chegavam.

Tenho o privilégio de ter uma cópia deste livro ainda não publicado, espero que possa ver a luz do dia para igualmente poder ser alvo de análise e comentário e mais do que isso, do conhecimento de todos e fazer parte da história que uns parece pretenderem fazer esquecer, outros que contam vaidades, feitos inexistentes ou, ainda, heróis do desconhecido.

É importante para a verdade do que se passou em Portugal, especialmente no período de 1961 a 1974, que estes relatos sejam feitos por quem os viveu e na primeira pessoa, mesmo que existam alguns pormenores que se contradigam, por razões do tempo passado e da memória, essas contradições só ajudam a corroborar e/ou a esclarecer a verdade dos factos.

Notas:
[1] - Normalmente composta por Camisa aberta no colarinho, Calções, Meias curtas, Botas de lona e Boina ou Boné.
[2] - Camisa e Gravata presa no espaço da camisa antes do cinto, Calções, Meias altas, Sapatos e Boina.
[3] - Utilizado apenas na Metrópole - Camisa, Calças compridas, Botas de cabedal, Blusão e Boina.

Belarmino Sardinha
Ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM
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Ficha técnica do livro:

Título: "38ª Companhia de Comandos 'Os Leopardos' - A História"
Coord: João Lucas
Editor: Fronteira do Caos
Local: Porto
Ano: 2018
Nº pp. 348 (ilustrado)
Dimensões: 23,5 cm x 16cm
Pvp: 16 €
ISBN: 989-54148-1-9

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15754: Fotos à procura de... uma legenda (71): Spínola e Costa Gomes no Cantanhez: fotos do livro de José Moura Calheiros, "A última missão" (1ª ed., Porto: Caminhos Romanos, 2010) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCV 8352, Caboxanque, 1972/74)


Foto nº 1 (p. 351)


Foto nº 2 (p. 336)



Fotp nº 3 (p. 337)


Três Fotos do livro de Jose Moura Calheiros [, 2º cmdt do BCP 12, Guiné, 1972/74, na altura major, hoje cor pára, reformado], "A Última Missão", 1ª ed. (Porto: Caminhos Romanos, 2010, 638 pp.). Digitalizadas por Rui Pedro Silva e reproduzidas aqui, com a devida vénia ao autor e editora.

Fotos: © José Moura Calheiros (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Rui Pedro Silva / LG]


1. Mensagem de ontem, do Rui Pedro Silva, membro da nossa Tabanca Grande, ex-alf mil, CCAÇ 3347 (Angola, 1971), ex-ten mil, BCAÇ 3840 (Angola, 1971/72), e ex- cap mil, CCAV 8352 (Guiné, Caboxanque, 1972/74): 


Olá, Luís: O prometido é devido. (*)

Junto envio três digitalizações de fotos do livro do cor pára ref Moura Calheiros. Mantive a legenda que acompanhava, no livro, cada uma das fotos.

Em duas das fotos ]nºs e 3] estão homens grandes da zona com o cap paraquedista Terras Marques [, cmdt da CCP 122 / BCP 12].

Numa das fotos de pé e de boina o cap Carvalho Bicho [, comandante da CCaç 4541/72, sediada em Caboxanque]. [Foto nº 3].

Estas reuniões eram frequentes e tanto aconteciam em Caboxanque como nas povoações da zona, umas mais orientadas para a acção psicossocial outras orientadas para obtenção de informações com algum valor operacional.

Na outra foto [n.º 1] veem-se os generais Costa Gomes e Spínola, o tenente-coronel Araújo e Sá, atrás do alferes que se encontra em primeiro plano e de costas o cap Carvalho Bicho e atrás do gen Spínola e entre este e o tenente coronel Araújo e Sá [, cdmt do BCP 12,] estou eu.

Um abraço, Rui




Capa do livro de José Moura Calheiros,  "A Última Missão" (Porto, Caminhos Romanos,
2ª edição, 2011). A 1ª edição de 2010.



2. Mail enviado ao Rui, a 13 do corrente:

Rui: Não tenho aqui o livro do Moura Calheiros, tenho-o no meu gabinete... Digitaliza-me essa foto,  onde tu apareces com o Costa Gomes e o Spínola, o José Moura Calheiros já me autorizou a reproduzir a parte do seu livro relativa à Guiné... Só tenho a 1ª edição (2010). Ele disse-me  que saiu,. em 2011, uma 2ª edição, revista e aumentada.

Fico feliz por teres dado "sinais de vida"!... Completa então a legenda desta e da outra foto (*)...

Um abraço fraterno... Luís

PS - Encontramo-nos em Monte Real, em 16 de abril ? Temos o XI Encontro Nacional da Tabanca Grande... A rapaziada está a ir-se abaixo das canetas, que a vida é uma picada cheia de minas e armadilhas...Como informático, preciso do teu bom conselho sobre este património riquíssimo, o blogue, que é de todos nós... Faço cópias de segurança, regularmente, mas o nosso servidor é o Blogger da Google, uma das mais poderosas e influentes megaempresas do mundo...

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 13 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15743: Fotos à procura de... uma legenda (70): Spínola e Costa Gomes em Caboxanque, com o Cap Cav Carvalho Bicho, outros oficiais, um milícia e o chefe da tabanca (Rui Pedro Silva, ex- cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, Cantanhez, região de Tombali, 1972/74)