Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 28 de outubro de 2023
Guiné 61/74 - P24800: Parabéns a você (2216): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) e Cor Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Mampatá e Colibuia, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 11 DE OUTUBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24744: Parabéns a você (2215): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola, 1969/72), residente na Guiné-Bissau
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Guiné 61/74 - P21796: Os nossos enfermeiros (13): em louvor do ex-fur mil enf Urbano Silva e do ex-1º cabo aux enf Silva (Jorge Fontinha, ex-fur mil inf, CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)
Guiné > Região de Cacheu > Teixeira Pinto > CCAÇ 2791 (1970/72) > O fur mil Jorge Fontinha a ser assistido pelo 1º cabo aux enf Silva, no decurso de uma operação na zona de
Foto (e legenda): © Jorge Fontinha (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Esta história do Jorge Fontinha, publicada pelo nosso coeditor Carlos Vinhal, há quase 10 anos atrás (*), merece ser "desenterrada" e reproduzida na série "Os nossos enfermeiros"...
Estamos justamente "com a mão na massa", a falar dos serviços de saúde militares durante a guerra, e da crónica escassez de recursos humanos e técnicos que foram superados, em grande parte, pela grande abnegação, coragem e altruismo dos nossos médicos e enfermeiros (**).
Nesta altura, no CTIG, em 1970/72, parece que a regra geral era 1 médico por batalhão, e não 1 médico por companhia, como previa originalmente o dispositivo sanitário.
por Jorge Fontinha
A CCAÇ 2791, "Força", foi uma Companhia, cujos Especialistas e não só os Operacionais, foram de verdadeira excelência.
Hoje vou falar da equipa de enfermagem cuja competência e dedicação não tiveram limites. Superiormente liderada pelo Furriel Miliciano Urbano Silva, os Cabos e maqueiros divididos pelos 4 Grupos de Combate, foram uma equipa de respeito.
O Urbano era incomparável, tanto na sua Especialidade como ser humano, voluntarioso, competente e rigoroso. Ninguém escapava às suas seringas nem aos seus comprimidos. Protagonizámos, os dois, muitos episódios, alguns deles já nem sequer os consigo lembrar. Há todavia um que jamais vou esquecer.
Quando a Companhia se reúne em Teixeira Pinto com o nosso 4.º Grupo, alguns dias passados, há uma operação programada para o Balangarez. Na véspera tive uma entorse no pé direito e, como nunca me havia baldado em circunstância alguma, fui ter com o Urbano para que ele me desse a sua opinião.
Depois de revisto, aconselhou-me a consultar o médico do Batalhão [, BCaç 2928], que me aconselhou a descansar 3 a 4 dias, passando-me uma baixa para 3 dias.
Como era da minha obrigação, dei conhecimento ao Alferes Gaspar e dirigi-me ao gabinete do Capitão Mamede, informando-o da situação. Aconteceu o impensável!
O Capitão Mamede acusou-me de caras de ser oportunista e de estar a forjar a situação. Nunca havia sido tratado, por um superior hierárquico, da forma que estava a ser e com a indignação, disse que não ia à operação, bati com a porta e fui para o bar meter uns gins com água tónica pelas goelas abaixo.
Foi quando apareceu o Urbano. Não o enfermeiro, mas o ser humano que todos nós na Companhia lhe reconhecíamos. Agarrou-me por um braço e convidou-me a ir até à enfermaria pois queria falar comigo. Aí, mandou-me descalçar a bota, fez o seu próprio exame, mexeu, remexeu, massajou durante alguns minutos, com milagrosas pomadas, ligou-me o pé com todo o vigor e obrigou-me a engolir um comprimido, dando-me outro, para ser tomado ao levantar.
O Capitão Mamede acusou-me de caras de ser oportunista e de estar a forjar a situação. Nunca havia sido tratado, por um superior hierárquico, da forma que estava a ser e com a indignação, disse que não ia à operação, bati com a porta e fui para o bar meter uns gins com água tónica pelas goelas abaixo.
Foi quando apareceu o Urbano. Não o enfermeiro, mas o ser humano que todos nós na Companhia lhe reconhecíamos. Agarrou-me por um braço e convidou-me a ir até à enfermaria pois queria falar comigo. Aí, mandou-me descalçar a bota, fez o seu próprio exame, mexeu, remexeu, massajou durante alguns minutos, com milagrosas pomadas, ligou-me o pé com todo o vigor e obrigou-me a engolir um comprimido, dando-me outro, para ser tomado ao levantar.
Fur mil enf Urbano Silva |
sem que nada o fizesse esperar, faz uma pirueta no ar, dá dois ou três passos de dança e diz três ou quatro palhaçadas, provocando um ambiente hilariante e de boa disposição. Foi a táctica dele.
- Vais à operação ou não?
- Vou, mas levo a dispensa no bolso. Se tiver de ser evacuado, alguém a vai ver!
Hoje digo: obrigado, Urbano!
No decorrer da operação senti alguma dor que estoicamente fui ignorando. A dada altura e já no período de emboscada, para passar a noite, comecei a ter tremuras e febre, tendo passado um mau bocado.
Hoje digo: obrigado, Urbano!
No decorrer da operação senti alguma dor que estoicamente fui ignorando. A dada altura e já no período de emboscada, para passar a noite, comecei a ter tremuras e febre, tendo passado um mau bocado.
Valeu-me na altura a minha companheira de emboscada, a inseparável garrafa de whisky, duas goladas e a colaboração do 1º Cabo Auxiliar Enfermeiro Silva, que com o restante me massajou, pondo-me a transpirar abundantemente. Ao raiar do dia, preparamo-nos para regressar à estrada e sermos recolhidos para voltarmos para Teixeira Pinto.
A febre e as tremuras passaram, o pé ainda bastante dorido, mas felizmente com evidentes melhorias ajudaram o resto.
Assisti mais assiduamente às intervenções do Cabo Enf Silva. Foi ele que quase em simultâneo assistiu ao acidente que mutilou a perna do Nunes, nosso primeiro ferido de toda a Companhia. Foi também ele que assistiu em primeira mão ao acidente que provocou o primeiro morto do Grupo de Combate e da Companhia, tendo tido a sorte, ele e todos nós, de seguir na viatura que ia à nossa frente e era comandada pelo Furriel Chaves.
Curiosamente, o Chaves esteve também ele ligado ao episódio seguinte, quando em Mato Dingal, o Cabo Enf Silva, foi chamado de urgência á Tabanca para ajudar a um parto difícil. Coincidiu com a hora de almoço mas o Silva interrompeu, veio avisar-nos a nós e preparou-se para ir. O Chaves que era homem para grandes rasgos, também interrompeu o almoço e igualmente,”meteu as mãos nas luvas” e também foi.
Entretanto eu e o Alferes Gaspar continuamos a almoçar, comer a sobremesa e continuamos à mesa, com os respectivos digestivos, aguardando a chegada de ambos. Assim, o Chaves mal se livra das luvas e se lava, vem para a mesa, acabar de almoçar.
A febre e as tremuras passaram, o pé ainda bastante dorido, mas felizmente com evidentes melhorias ajudaram o resto.
Assisti mais assiduamente às intervenções do Cabo Enf Silva. Foi ele que quase em simultâneo assistiu ao acidente que mutilou a perna do Nunes, nosso primeiro ferido de toda a Companhia. Foi também ele que assistiu em primeira mão ao acidente que provocou o primeiro morto do Grupo de Combate e da Companhia, tendo tido a sorte, ele e todos nós, de seguir na viatura que ia à nossa frente e era comandada pelo Furriel Chaves.
Curiosamente, o Chaves esteve também ele ligado ao episódio seguinte, quando em Mato Dingal, o Cabo Enf Silva, foi chamado de urgência á Tabanca para ajudar a um parto difícil. Coincidiu com a hora de almoço mas o Silva interrompeu, veio avisar-nos a nós e preparou-se para ir. O Chaves que era homem para grandes rasgos, também interrompeu o almoço e igualmente,”meteu as mãos nas luvas” e também foi.
Entretanto eu e o Alferes Gaspar continuamos a almoçar, comer a sobremesa e continuamos à mesa, com os respectivos digestivos, aguardando a chegada de ambos. Assim, o Chaves mal se livra das luvas e se lava, vem para a mesa, acabar de almoçar.
Quem estava de frente para a porta de entrada era o Gaspar, que de imediato começa a vomitar, provocando-me a mim próprio, igual reacção. O Chaves ao lavar-se, esqueceu-se de mudar a camisa, que vinha ensanguentada e com vestígios da placenta. Resta dizer que o desempenho do Silva, foi exemplar.
O Cabo Enfermeiro Silva era adorado pelo pessoal daquela Tabanca pois tinha sempre uma seringa mágica que curava toda a gente!…
Aos meus bons amigos, ex-Furriel Urbano e ao ex-1º Cabo Silva, o meu abraço eterno.
Foi apenas mais uma Estória verdadeira, vivida na Guiné.
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
O Cabo Enfermeiro Silva era adorado pelo pessoal daquela Tabanca pois tinha sempre uma seringa mágica que curava toda a gente!…
Aos meus bons amigos, ex-Furriel Urbano e ao ex-1º Cabo Silva, o meu abraço eterno.
Foi apenas mais uma Estória verdadeira, vivida na Guiné.
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores nº 2791
Unidade Mob: RI 16 - Évora
Cmdt: Cap Mil Art Mamede José de Sousa | Cap Inf Joaquim Humberto Rodrigues Teixeira Branco | Cap Inf Manuel Estêvão Martinho da Silva Rolão | Cap Inf Joaquim Humberto Rodrigues Teixeira Branco
Divisa: "Força"
Partida: Embarque em 19Set70; desembarque em 020ut70 | Regresso: Embarque em 28Set72
Síntese da Actividade Operacional
Após realização da IAO, de 50ut70 a 290ut70, no CMl, em Cumeré, seguiu, em 300ut70, para Bula, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com a CCav 2487, sob orientação do BCav 2868.
A partir de 1Dez70, foi integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2928, como subunidade de intervenção e reserva do sector, com vista à realização de acções nas regiões de Choquemone, Ponta Matar, Bofe e outras e ainda de reconhecimentos,
patrulhamentos, emboscadas e escoltas na zona de acção do batalhão.
patrulhamentos, emboscadas e escoltas na zona de acção do batalhão.
Após ter destacado, temporariamente, um pelotão para Teixeira Pinto, em
reforço do BCaç 2905, outro para Bissum, em 2Mar71, em reforço da CCaç 2781,
e ainda outro para Pache, em 19Mar71, foi deslocada para o subsector de Binar,
em 13Mar7l.
reforço do BCaç 2905, outro para Bissum, em 2Mar71, em reforço da CCaç 2781,
e ainda outro para Pache, em 19Mar71, foi deslocada para o subsector de Binar,
em 13Mar7l.
Em 25Mai71, mantendo um pelotão em Bissum, foi transferida para
Teixeira Pinto, reagrupando então o pelotão ali destacado do antecedente, a fim
de colaborar na segurança e protecção dos trabalhos da estrada Teixeira Pinto-
-Cacheu, ficando na dependência do CAOP 1 e depois do BCaç 2905.
De 30Jul7l a 19Ag071, entretanto, esteve atribuída temporariamente ao COMBIS,
deslocando-se no período para Bissau e regressando em seguida a Teixeira
Pinto, com excepção de um pelotão que só recolheu em 30Ag071.
deslocando-se no período para Bissau e regressando em seguida a Teixeira
Pinto, com excepção de um pelotão que só recolheu em 30Ag071.
Em 250ut71, mantendo o pelotão destacado em Bissum, foi deslocada para
a base temporária de Capó, para protecção dos trabalhos da estrada Teixeira
Pinto-Cacheu até 06Dez71.
Após a recolha do pelotão destacado em Bissum em 2Nov71, para Bula e seu deslocamento para Ponta Augusto Barros em 16Nov71, a subunidade foi deslocada para Ponta Augusto Barros, com pelotões destacados em João Landim e Mato Dingal, substituindo nos respectivos reordenamentos a CCaç 2790 e assumindo a responsabilidade do subsector em 8Dez71, na dependência do BCaç 2928.
Em 30Jun72, foi rendida no subsector de Ponta Augusto Barros pela CCaç 3328, por troca, sendo colocada em Bula como subunidade de intervenção e reserva do BCaç 2928 e depois do BCav 8320/72, destacando um pelotão para Nhamate, em 30Jul72 e sendo utilizado em acções de emboscadas e patrulhamentos de contrapenetração.
Em 19Set72, foi rendida no subsector de Bula pela 3ª Comp/BCav 8320/ 72 e recolheu seguidamente a Bissau para o embarque de regresso.
Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 89 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Tem História da Unidade (Caixa n." 89 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 395/396.
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Notas do editor LG:
(*) Vd. poste e 23 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7026: Estórias do Jorge Fontinha (12): Os nossos Enfermeiros
Vd. poste anterior, de 9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse
(**) Último poste da série > 21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21789: Os nossos enfermeiros (12): Os serviços de saúde militar no meu tempo (José Teixeira, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)
(***) 11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3129: Tabanca Grande (82): Jorge Fontinha, Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)
(**) Último poste da série > 21 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21789: Os nossos enfermeiros (12): Os serviços de saúde militar no meu tempo (José Teixeira, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)
(***) 11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3129: Tabanca Grande (82): Jorge Fontinha, Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)
quarta-feira, 28 de outubro de 2020
Guiné 61/74 - P21487: Parabéns a você (1884): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/1974)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21466: Parabéns a você (1883): Fernando Súcio, ex-Soldado CAR do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)
segunda-feira, 28 de outubro de 2019
Guiné 61/74 - P20281: Parabéns a você (1699): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20259: Parabéns a você (1697): Fernando Súcio, ex-Soldado CAR do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)
domingo, 28 de outubro de 2018
Guiné 61/74 - P19141: Parabéns a você (1516): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19119: Parabéns a você (1515): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)
sábado, 28 de outubro de 2017
Guiné 61/74 - P17911: Parabéns a você (1332): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Cor Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17884: Parabéns a você (1331): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Guiné 63/74 - P16648: Parabéns a você (1152): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16619: Parabéns a você (1151): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil Art da CART 643 (Guiné, 1964/66)
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Guiné 63/74 - P15298: Parabéns a você (978): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15269: Parabéns a você (977): Fernando Súcio, ex-Soldado Condutor Auto do Pel Mort 4275 (Guiné, 1972/74) e Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643 (Guiné, 1964/66)
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13813: Parabéns a você (805): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13773: Parabéns a você (804): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Guiné 63/74 - P12210: Parabéns a você (644): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 21 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12180: Parabéns a você (643): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado At da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)
Nota do editor
Último poste da série de 21 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12180: Parabéns a você (643): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado At da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Guiné 63/74 - P12157: In Memoriam (162): Faleceu ontem, dia 15, o Luís Sampaio Faria, que foi Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72; tinha 65 anos (1948/2013), era natural de Felgueiras, vivia em Paranhos, Porto. O funeral é 5ª feira, dia 17, pelas 15h00, na igreja de Paranhos (Magalhães Ribeiro)
1. Camaradas:
Acabei de ver há pouco, no meu e-mail, uma mensagem proveniente do António Matos [ex-Alf Mil Minas e Armadilhas da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72] dizendo simplesmente “Eduardo, publica por favor, urgente, a notícia do o falecimento do Luís Sampaio Faria [, foto à esquerda] . Obrigado.”
Ainda estava a acabar de “digerir” esta tristíssima e chocante notícia, e procurava algum modo de a confirmar, não porque duvide da palavra do Matos, como é óbvio. mas porque não consegui reagir de imediato ao desgosto, quando pelas 00h50, via facebook, vejo surgior uma mensgaem desta vez do Jorge Fontinha: “Olá, Magalhães Ribeiro. Venho dar-te uma notícia das últimas horas. Morreu o meu grande amigo e camarada da CCAÇ 2791, o Luís Faria. Julgo que não ficaste contente mas agradecido por te informar. Gostaria que, no Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, saísse a notícia. Não sei pormenores, liguei à filha Daniela e só me disse que o funeral seria quinta feira, na zona de Paranhos (cidade do Porto). Amanhã saberei mais qualquer coisa.”
INFORMAÇÃO ÚLTIMA HORA (por António Matos):
1º - o corpo será levado para a Igreja da Paranhos ( Porto ) hoje por volta das 14 horas / 14h30.
2º - o funeral será amanhã, dia 17, às 15 horas no cemitério de Paranhos
2. O nosso camarada Luís Sampaio Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) era um dos mais produtivos contadores da sua história de vida na Guiné. Tem cerca de 80 referências no nosso blogue. O seu último poste foi o P12053, relativo ao 60.º episódio da sua formidável série: VIAGEM À VOLTA DAS MINHAS MEMÓRIAS (60) 1 - Nos “trilhos da guerra”.
Entrou para o nosso blogue em 31/10/2008: vd. poste P3388. As suas primeiras palavras foram as seguintes:
"Luis Graça: Cumprimentos e parabéns pelo Blogue que de há uns tempos para cá tenho visitado com agrado. Quem me deu a dica foi o Jorge Fontinha, meu grande amigo e camarada de armas na mesma CCAÇ 2791 (FORÇA). Vi também que o Júlio César, meu amigo, também camarada de armas e conterrâneo, faz parte da Tabanca. Óptimo
Sou : Luis Miguel C Sampaio Faria, Furriel Miliciano, CCaç 2791, Mobilizado na Guiné, de Outubro 1970 a Setembro 1972 (embarque a 19 de Setembro no Carvalho Araújo)"(...)
No 1º convívio da CCAÇ 2791, em setembro de 2002, o reencontro dos ex-fur mil Jorge Fontinha (à esquerda) e Luís Faria (à direita) com o ex-soldado Mário Lobo (ao centro). Foto do Jorge Fonbtinha.
Guiné > Bolama > CCAÇ 2791 (1970/72) > Outubro de 1970 > Luís Faria, à civil, na marginal... Em Bolama ia-se fazer a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional)...
Guiné > Bula > CCAÇ 2791 (1970/72) > O operacional, na Ponta Matar
Fotos: © Luís Faria (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
3. Em nome do Luís Graça, editores, colaboradores e demais camaradas desta Tertúlia, resta-nos por agora enviar à família enlutada as nossas mais sentidas condolências e dizer que, com a súbita falta deste nosso Amigo, sentimos esta nossa família muito mais pobre, bem como o sentirão os Camaradas da sua CCAÇ 2791. Que Deus o guarde no seu infinito e misericordioso reino!
Eduardo Magalhães Ribeiro
PS - Natural de Felgueiras, o Luís Sampaio Faria nasceu em 14 de abril de 1948. Completou este ano os 65.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
domingo, 28 de outubro de 2012
Guiné 63/74 - P10585: Parabéns a você (487): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10551: Parabéns a você (486): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10551: Parabéns a você (486): Manuel Moreira de Castro, ex-Soldado da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968/69)
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Guiné 63/74 - P8954: Parabéns a você (330): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Luís Marcelino, ex-Cap Mil, CMDT da CART 6250 (Guiné, 1972/74)
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Nota do Editor:
Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8929: Parabéns a você (329): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Bissorã, 1964/66)
Nota do Editor:
Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8929: Parabéns a você (329): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Bissorã, 1964/66)
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7184: Parabéns a você (166): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) (Tertúlia / Editores)
1. Neste dia 28 de Outubro de 2010 completa mais um ano de vida o nosso camarada reguense Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2791, (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), a quem estamos a prestar a nossa homenagem natalícia.
Caro Jorge, envio-te, em nome da Tertúlia e dos Editores, os melhores votos de que passes um alegre dia de aniversário, que gozes da melhor saúde, bem regada com o néctar do Douro, e que a tua vida seja longa, muito, sempre com a melhor qualidade, acompanhado de perto por aqueles que constituem o núcleo que faz sentido à tua existência.
Recebe um abraço colectivo deste numeroso grupo de camaradas e amigos.
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Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3129: Tabanca Grande (82): Jorge Fontinha, Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)
28 de Outubro do 2009 > Guiné 63/74 - P5169: Parabéns a você (37): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Editores)
Vd. último poste da série de 19 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7145: Parabéns a você (165): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872 (Juvenal Amado / Tertúlia / Editores)
Caro Jorge, envio-te, em nome da Tertúlia e dos Editores, os melhores votos de que passes um alegre dia de aniversário, que gozes da melhor saúde, bem regada com o néctar do Douro, e que a tua vida seja longa, muito, sempre com a melhor qualidade, acompanhado de perto por aqueles que constituem o núcleo que faz sentido à tua existência.
Recebe um abraço colectivo deste numeroso grupo de camaradas e amigos.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. postes de:
11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3129: Tabanca Grande (82): Jorge Fontinha, Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72)
28 de Outubro do 2009 > Guiné 63/74 - P5169: Parabéns a você (37): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil da CCAÇ 2791 (Editores)
Vd. último poste da série de 19 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7145: Parabéns a você (165): Carlos Filipe Coelho, ex-Soldado Radiomontador da CCS/BCAÇ 3872 (Juvenal Amado / Tertúlia / Editores)
domingo, 3 de outubro de 2010
Guiné 63/74 - P7076: Convívios (277): O 9º Convívio Anual da CCAÇ 2791, decorreu em Viseu (Jorge Fontinha)
1. O nosso camarada Jorge Fontinha (ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), enviou-nos uma mensagem, com data de 28 de Setembro de 2010, acerca de festa do corrente ano da sua Companhia:
CONVÍVIO ANUAL DA CCAÇ 2791
A exemplo dos últimos anos, a CCAÇ 2791 – (FORÇA), realizou mais uma vez, o seu convívio anual. Prática que se iniciou em 2002, com a carolice de alguns, com um núcleo duro de Minhotos, encabeçados pelo Luís Faria, que organizou o 1º, no Hotel da Penha em Guimarães e que veio a ser o mais participado, tendo vindo a crescer de ano para ano. Já somos todos sexagenários e por vezes são mais os filhos e os netos de alguns, que acabam por animar o pessoal.
Alguns, infelizmente começam a ter dificuldades de saúde e já não comparecem, tendo alguns deles sido dos que ajudaram a construir o núcleo duro. Outros, infelizmente já nos aguardam do “outro lado”. Esperamos os que ainda cá estamos, que não seja tão breve, por muitas saudades que tenhamos deles!
Houve contudo, boa disposição e muita animação, com velhas histórias contadas e recontadas todos os anos.
Do convívio fez parte uma missa, bastante participada, os aperitivos a que se seguiu o almoço e durante a tarde, num autocarro fretado pela organização, uma visita a vários pontos de Viseu, terminando com o parir do bolo comemorativo e o inevitável até para o ano em Alcácer do Sal, desta vez com a organização do ex-furriel Vagomestre, A. Belchiorinho.
Há uma coisa que continuamos, todos os anos a lamentar. A ausência dos ex- oficiais em praticamente todos os encontros. Dos 3 Capitães, apenas o Capitão Rolão apareceu no convívio de Estarreja. O ex- Alferes Barros apareceu 3 ou 4 vezes, o Gaspar e o Freitas Pereira, uma só vez. Os ex- furriéis, vão aparecendo alguns, desta vez estávamos 5.
Vamos a ver se para o próximo ano as coisas melhorem.
Para que não haja dúvidas, este foi o IX encontro, referente ao ano de 2010
Estes são os seus guardiões, liderados pelo Rogério Casal
Os Fur Mil Sá, Jorge Fontinha e Luís Faria
Fur Mil Jorge Fontinha, Luís Faria e Belchiorinho
Os mesmos da cena anterior
Os apiritivos
Um abraço para a tertúlia,
Jorge Fontinha
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 2791
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCAÇ 2791
Fotos: © Jorge Fontinha (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7055: Convívios (193): O 7º Encontro/Convívio da CCAÇ 4540, decorreu no passado dia 25 de Setembro, em Évora, (Eduardo Campos)
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Guiné 63/74 - P7026: Estórias do Jorge Fontinha (12): Os nossos Enfermeiros
1. Mensagem do nosso camarada Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 19 de Setembro de 2010:
Carlos Vinhal
Já era mais que tempo.
Aqui vai mais uma Estória. Se a poderes publicar até ao dia 24, ficaria satisfeito.
Aquele abraço
Jorge Fontinha
Estórias do Jorge Fontinha (12)
Os nossos enfermeiros
A CCAÇ 2791- (FORÇA), foi uma Companhia, cujos Especialistas e não só os Operacionais, foram de verdadeira excelência.
Hoje vou falar da equipa de enfermagem cuja competência e dedicação não tiveram limites. Superiormente liderada pelo Furriel Miliciano Urbano Silva, os Cabos e maqueiros divididos pelos 4 Grupos de Combate, foram uma equipa de respeito.
O Urbano era incomparável, tanto na sua Especialidade como ser humano, voluntarioso, competente e rigoroso. Ninguém escapava às suas seringas nem aos seus comprimidos. Protagonizámos, os dois, muitos episódios, alguns deles já nem sequer os consigo lembrar. Há todavia um que jamais vou esquecer.
Quando a Companhia se reúne em Teixeira Pinto com o nosso 4.º Grupo, alguns dias passados, há uma operação programada para o Balangarez. Na véspera tive uma entorse no pé direito e como nunca me havia baldado em circunstância alguma, fui ter com o Urbano para que ele me desse a sua opinião. Depois de revisto, aconselhou-me a consultar o médico do Batalhão, que me aconselhou a descansar 3 a 4 dias, passando-me uma baixa para 3 dias. Como era da minha obrigação, dei conhecimento ao Alferes Gaspar e dirigi-me ao gabinete do Capitão Mamede, informando-o da situação. Aconteceu o impensável!
O Capitão Mamede acusou-me de caras de ser oportunista e de estar a forjar a situação. Nunca havia sido tratado, por um superior hierárquico, da forma que estava a ser e com a indignação, disse que não ia à operação, bati com a porta e fui para o bar meter uns gins com água tónica pelas goelas abaixo.
Foi quando apareceu o Urbano. Não o enfermeiro, mas o ser humano que todos nós na Companhia lhe reconhecíamos. Agarrou-me por um braço e convidou-me a ir até à enfermaria pois queria falar comigo. Aí, mandou-me descalçar a bota, fez o seu próprio exame, mexeu, remexeu, massajou durante alguns minutos, com milagrosas pomadas, ligou-me o pé com todo o vigor e obrigou-me a engolir um comprimido, dando-me outro, para ser tomado ao levantar.
Perguntei-lhe para que era aquilo tudo, se já tinha decidido não ir à operação. Aí, sem que nada o fizesse esperar, faz uma pirueta no ar, dá dois ou três passos de dança e diz três ou quatro palhaçadas, provocando um ambiente hilariante e de boa disposição. Foi a táctica dele. Vais à operação ou não? Vou, mas levo a dispensa no bolso. Se tiver de ser evacuado, alguém a vai ver!
Hoje digo obrigado Urbano.
No decorrer da operação senti alguma dor que estoicamente fui ignorando. A dada altura e já no período de emboscada, para passar a noite, comecei a ter tremuras e febre, tendo passado um mau bocado. Valeu-me na altura a minha companheira de emboscada, a inseparável garrafa de Whisky, duas goladas e a colaboração do Cabo Enfermeiro Silva, que com o restante me massajou, pondo-me a transpirar abundantemente. Ao raiar do dia, preparamo-nos para regressar à estrada e sermos recolhidos para voltarmos para Teixeira Pinto.
A febre e as tremuras passaram, o pé ainda bastante dorido, mas felizmente com evidentes melhorias ajudaram o resto.
Assisti mais assiduamente às intervenções do Cabo Enf.º Silva. Foi ele que quase em simultâneo assistiu ao acidente que mutilou a perna do Nunes, nosso primeiro ferido de toda a Companhia. Foi também ele que assistiu em primeira mão ao acidente que provocou o primeiro morto do Grupo de Combate e da Companhia, tendo tido a sorte, ele e todos nós, de seguir na viatura que ia à nossa frente e era comandada pelo Furriel Chaves.
Curiosamente, o Chaves esteve também ele ligado ao episódio seguinte, quando em Mato Dingal, o Cabo Silva, foi chamado de urgência á Tabanca para ajudar a um parto difícil. Coincidiu com a hora de almoço mas o Silva interrompeu, veio avisar-nos a nós e preparou-se para ir. O Chaves que era homem para grandes rasgos, também interrompeu o almoço e igualmente,”meteu as mãos nas luvas” e também foi.
Entretanto eu e o Alferes Gaspar, continuamos a almoçar, comer a sobremesa e continuamos á mesa, com os respectivos digestivos, aguardando a chegada de ambos. Assim, o Chaves mal se livra das luvas e se lava, vem para a mesa, acabar de almoçar. Quem estava de frente para a porta de entrada era o Gaspar, que de imediato começa vomitar, provocando-me a mim próprio, igual reacção. O Chaves ao lavar-se, esqueceu-se de mudar a camisa, que vinha ensanguentada e com vestígios da placenta. Resta dizer que o desempenho do Silva, foi exemplar.
O Silva era adorado pelo pessoal daquela Tabanca pois tinha sempre uma seringa mágica que curava toda a gente!…
Aos meus bons amigos ex-Furriel Urbano e ao ex-Cabo Silva, o meu abraço eterno.
Foi apenas mais uma Estória verdadeira, vivida na Guiné.
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6999: Convívios (189): Encontro anual do pessoal da CCAÇ 2791 em Viseu, dia 25 de Setembro de 2010 (Jorge Fontinha)
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse
Carlos Vinhal
Já era mais que tempo.
Aqui vai mais uma Estória. Se a poderes publicar até ao dia 24, ficaria satisfeito.
Aquele abraço
Jorge Fontinha
Estórias do Jorge Fontinha (12)
Os nossos enfermeiros
A CCAÇ 2791- (FORÇA), foi uma Companhia, cujos Especialistas e não só os Operacionais, foram de verdadeira excelência.
Hoje vou falar da equipa de enfermagem cuja competência e dedicação não tiveram limites. Superiormente liderada pelo Furriel Miliciano Urbano Silva, os Cabos e maqueiros divididos pelos 4 Grupos de Combate, foram uma equipa de respeito.
O Urbano era incomparável, tanto na sua Especialidade como ser humano, voluntarioso, competente e rigoroso. Ninguém escapava às suas seringas nem aos seus comprimidos. Protagonizámos, os dois, muitos episódios, alguns deles já nem sequer os consigo lembrar. Há todavia um que jamais vou esquecer.
Quando a Companhia se reúne em Teixeira Pinto com o nosso 4.º Grupo, alguns dias passados, há uma operação programada para o Balangarez. Na véspera tive uma entorse no pé direito e como nunca me havia baldado em circunstância alguma, fui ter com o Urbano para que ele me desse a sua opinião. Depois de revisto, aconselhou-me a consultar o médico do Batalhão, que me aconselhou a descansar 3 a 4 dias, passando-me uma baixa para 3 dias. Como era da minha obrigação, dei conhecimento ao Alferes Gaspar e dirigi-me ao gabinete do Capitão Mamede, informando-o da situação. Aconteceu o impensável!
O Capitão Mamede acusou-me de caras de ser oportunista e de estar a forjar a situação. Nunca havia sido tratado, por um superior hierárquico, da forma que estava a ser e com a indignação, disse que não ia à operação, bati com a porta e fui para o bar meter uns gins com água tónica pelas goelas abaixo.
Furriel Miliciano Enfermeiro, Urbano Silva
Foi quando apareceu o Urbano. Não o enfermeiro, mas o ser humano que todos nós na Companhia lhe reconhecíamos. Agarrou-me por um braço e convidou-me a ir até à enfermaria pois queria falar comigo. Aí, mandou-me descalçar a bota, fez o seu próprio exame, mexeu, remexeu, massajou durante alguns minutos, com milagrosas pomadas, ligou-me o pé com todo o vigor e obrigou-me a engolir um comprimido, dando-me outro, para ser tomado ao levantar.
Perguntei-lhe para que era aquilo tudo, se já tinha decidido não ir à operação. Aí, sem que nada o fizesse esperar, faz uma pirueta no ar, dá dois ou três passos de dança e diz três ou quatro palhaçadas, provocando um ambiente hilariante e de boa disposição. Foi a táctica dele. Vais à operação ou não? Vou, mas levo a dispensa no bolso. Se tiver de ser evacuado, alguém a vai ver!
Hoje digo obrigado Urbano.
No decorrer da operação senti alguma dor que estoicamente fui ignorando. A dada altura e já no período de emboscada, para passar a noite, comecei a ter tremuras e febre, tendo passado um mau bocado. Valeu-me na altura a minha companheira de emboscada, a inseparável garrafa de Whisky, duas goladas e a colaboração do Cabo Enfermeiro Silva, que com o restante me massajou, pondo-me a transpirar abundantemente. Ao raiar do dia, preparamo-nos para regressar à estrada e sermos recolhidos para voltarmos para Teixeira Pinto.
A febre e as tremuras passaram, o pé ainda bastante dorido, mas felizmente com evidentes melhorias ajudaram o resto.
O Cabo Enf.º Silva assistindo-me durante a Operação
Assisti mais assiduamente às intervenções do Cabo Enf.º Silva. Foi ele que quase em simultâneo assistiu ao acidente que mutilou a perna do Nunes, nosso primeiro ferido de toda a Companhia. Foi também ele que assistiu em primeira mão ao acidente que provocou o primeiro morto do Grupo de Combate e da Companhia, tendo tido a sorte, ele e todos nós, de seguir na viatura que ia à nossa frente e era comandada pelo Furriel Chaves.
Curiosamente, o Chaves esteve também ele ligado ao episódio seguinte, quando em Mato Dingal, o Cabo Silva, foi chamado de urgência á Tabanca para ajudar a um parto difícil. Coincidiu com a hora de almoço mas o Silva interrompeu, veio avisar-nos a nós e preparou-se para ir. O Chaves que era homem para grandes rasgos, também interrompeu o almoço e igualmente,”meteu as mãos nas luvas” e também foi.
Entretanto eu e o Alferes Gaspar, continuamos a almoçar, comer a sobremesa e continuamos á mesa, com os respectivos digestivos, aguardando a chegada de ambos. Assim, o Chaves mal se livra das luvas e se lava, vem para a mesa, acabar de almoçar. Quem estava de frente para a porta de entrada era o Gaspar, que de imediato começa vomitar, provocando-me a mim próprio, igual reacção. O Chaves ao lavar-se, esqueceu-se de mudar a camisa, que vinha ensanguentada e com vestígios da placenta. Resta dizer que o desempenho do Silva, foi exemplar.
O Silva era adorado pelo pessoal daquela Tabanca pois tinha sempre uma seringa mágica que curava toda a gente!…
Aos meus bons amigos ex-Furriel Urbano e ao ex-Cabo Silva, o meu abraço eterno.
Foi apenas mais uma Estória verdadeira, vivida na Guiné.
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6999: Convívios (189): Encontro anual do pessoal da CCAÇ 2791 em Viseu, dia 25 de Setembro de 2010 (Jorge Fontinha)
Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Guiné 63/74 - P6999: Convívios (272): Encontro anual do pessoal da CCAÇ 2791 em Viseu, dia 25 de Setembro de 2010 (Jorge Fontinha)
CONVÍVIO DA CCAÇ 2791, DIA 25 DE SETEMBRO DE 2010 EM VISEU
CCAÇ 2791 - Força - Bula e Teixeira Pinto, 1970/72
A CCAÇ 2791, vai mais uma vez, realizar o seu convívio anual, desta vez em VISEU, no Restaurante SOL DA NUMA, EM LORDOSA, Estrada Nacional 2, no dia 25 de Setembro.
Eventuais interessados devem contactar o Rogério Casal, Telemóvel-925 849 434
No Convívio de 2002 do pessoal da CCAÇ 2791, o encontro dos ex-Fur Mil Jorge Fontinha (à esquerda) e Luís Faria (à direita) com o ex-Soldado Mário Lobo (ao centro)
Um abraço
Jorge Fontinha
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6981: Convívios (188): 10º Almoço de Confraternização da CCS do BCAÇ 1933
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse
1. Mensagem do nosso camarada Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 6 de Junho de 2010:
Carlos Vinhal:
Esta é a História da minha guerra, publicada na revista Domingo, do Correio da Manhã, em 19 de Outubro de 2008.
Neste relato, o jornalista que o compôs, entrelaçou as duas realidades da minha História de vida, Estórias essas que eu já contei no blogue.
Em pesquisa de blogues sobre o Ultramar Português, descobri que alguém aproveitou e muito bem, o meu contributo, então para a referida revista.
Se achares oportuno e não repetitivo, gostaria que publicasses no Blogue, esta versão dos mesmos factos.
Um abraço.
Jorge Fontinha
Outubro 19, 2008
'Um soldado pediu-me que o matasse'
Jorge Ventura Fontinha, esteve na Guiné, em 1970/72 e diz na Revista do «Correio da Manhã» deste domingo:
- “O Ultramar, para mim, divide-se em duas partes: quando lá vivi e o meu irmão mais velho foi assassinado pelos guerrilheiros, e depois, quando regressei para combater por Portugal.”
Eu vivi as duas faces da guerra. Primeiro em Angola, onde o meu irmão, mais velho seis anos, foi assassinado em 1961, durante um ataque dos guerrilheiros à nossa fazenda, em Nambuangongo. Nove anos e meio mais tarde, após ter passado por Portugal como refugiado, fui enviado para a Guiné-Bissau pelo Exército, onde voltei a ver a morte e procurei defender os interesses do País.
Como cabo miliciano, fui integrado na Companhia de Infantaria 2791 e embarquei a 19 de Setembro de 1970, no paquete ‘Carvalho Araújo’, com destino a Bula e ao Batalhão de Caçadores (BCAÇ) 2868. O meu baptismo de fogo começou a desenhar-se às 02h00 de 17 de Novembro de 1970, quando já era furriel. Da parada do quartel de Bula partimos para Chochmon. A minha secção ia completa: na primeira equipa, o Celestino, o Azevedo e o Monteiro olhavam, de vez em quando, para trás. Os restantes, que seguiam atrás de mim (o Romão, o Cavaco, o Matos, o Pinto e o Nunes) iam como uma sombra, a uma distância considerável. Um problema atormentava-me: antes de partirmos, o Nunes havia-me pedido que o ‘desenfiasse’, porque pressentia que lhe ia acontecer alguma coisa. Fiz--lhe ver que tudo não passava de mania mas no meu lugar (o 5.º na progressão em relação ao grupo de combate) não parava de pensar no seu caso.
Eram 03h30 e eu seguia embebido nestes pensamentos, quando, de súbito, ouvi um estrondo e uma chuva de estilhaços caiu sobre alguns de nós. Depois, foi o silêncio. Pensei logo tratar-se de uma mina e, quando olhei para trás, vi o pessoal abrigado, à excepção de um soldado que, no caminho, gemia e rebolava-se no chão. Corri para ele, que, de barriga para baixo, com a mão esquerda a procurar na perna do mesmo lado o pé perdido, suplicava: – Meu furriel, mate-me, acabe comigo! Meu furriel, tenha dó de mim!
Olhei para ele, emocionado, quando o homem das Transmissões e o enfermeiro corriam para o soldado. Virei as costas, para que me não vissem chorar. Chorei, sim, de raiva, de impotência e de ódio. Era o Nunes! E porquê ele, meu Deus? Antes de sairmos do quartel, bem me tinha dito que ia acontecer alguma coisa! E, afinal, não fora um ataque, apenas um acidente: o Nunes, apontador da bazuca, deixou cair uma granada no chão que, ao rebentar, lhe ceifou um pé e parte de uma perna. Outros soldados e o alferes comandante ficaram com ferimentos menos graves e tiveram de ser evacuados. Mais tarde, a coluna pôs-se em marcha e caminhou para a conclusão da operação, que culminou com grande sucesso, apesar de mais alguns soldados terem sofrido ferimentos ligeiros.
A 27 de Setembro de 1972, a companhia regressou a Lisboa, de avião; mas esta era apenas uma parte da minha vida no Ultramar que terminava e a outra, vivida nove anos e meio antes, no início de 1961, em Angola, fora ainda mais dolorosa. Eu tinha 12 anos e havia nascido em Ambriz. O meu pai era guarda-fiscal e, no início da década de 1950, adquiriu uma fazenda. Eu encontrava-me em Luanda, no colégio da Missão de S. Paulo, onde sempre residi quando não estava com o meu pai e o meu irmão. A minha mãe morrera em 1953, vítima de ‘biliosa’. Apenas a 20 de Março de 1961 soube do ataque que tinha havido à fazenda, cinco dias antes, quando chegaram os primeiros sobreviventes. Entre eles o meu pai, meio despido e descalço, na altura com 51 anos, desfigurado e desfeito no seu íntimo. Esteve agarrado a mim uma eternidade a chorar.
Soube então o que tinha acontecido. Eram 16h00 e o meu pai encontrava- -se a descansar no quarto quando se apercebeu de que algo se passava lá fora. Levantou-se e deparou-se com alguns empregados e familiares barricados atrás da porta, que era violentamente empurrada e cortada à catanada. O meu pai verificou de imediato a ausência do seu filho Fernando. Um dos empregados enfrentou os atacantes e decepou um deles à catanada, pondo os restantes em fuga, dando tempo a que todos fugissem em direcção a uma camioneta. Foi aí que meu pai deu com o meu irmão a agonizar na cabina, com uma catanada na testa e outra no peito! Algum tempo antes, quando o meu irmão, diminuído fisicamente dos membros inferiores, estava por perto, a governanta apercebeu-se de uma certa movimentação junto ao capim e foi ver o que se passava. De imediato, um grupo compacto de guerrilheiros da UPA (de Holden Roberto), de catana em punho, dirigiu-se aos trabalhadores, pondo-os em fuga. Houve, no entanto, um que não pôde locomover-se com tamanha rapidez: o meu irmão, que tentou proteger-se na cabina da camioneta, onde viria depois a ser assassinado.
Os sobreviventes fugiram na camioneta em direcção a Nambuangongo. Como já estava ocupada, dirigiram-se para Onzo, aonde foi inviável chegar. A única saída foi largar a viatura e fugir para a mata. Por lá andaram três dias e três noites, até receberem ajuda militar. Quando voltaram à camioneta, para recolher o meu irmão, tinha sido incendiada e o corpo havia desaparecido.
UMA VIDA DIVIDIDA ENTRE ANGOLA, GUINÉ E PORTUGAL
Nasci em Angola, na vila piscatória de Ambriz, onde o meu pai era chefe da Guarda Fiscal. O meu falecido irmão nasceu em Castedo da Vilariça, Torre de Moncorvo, terra da minha mãe, falecida em Nambuangongo em Outubro de 1952. O meu pai era de Alijó, Vila Real, e faleceu em Junho de 1975. Após o falecimento da minha mãe, dividia a vida entre Nambuangongo, nas férias, e Luanda, durante as aulas, quando ficava em casa de uns tios. Vim para Portugal refugiado e fui viver para Alijó, onde estudei até ser incorporado no Exército, em Outubro de 1969. Fui militar até Setembro de 1972.
Entrei para um banco em Maio de 1972 e casei-me em 1973. Do casamento nasceram dois rapazes. O mais velho ainda em Luanda, em Agosto de 1975, e o mais novo em Alijó, em 1978. Sou reformado da banca.
(In Revista «Domingo» do Correio da Manhã)
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6302: Estórias do Jorge Fontinha (10): Uma noite muito mal passada
Carlos Vinhal:
Esta é a História da minha guerra, publicada na revista Domingo, do Correio da Manhã, em 19 de Outubro de 2008.
Neste relato, o jornalista que o compôs, entrelaçou as duas realidades da minha História de vida, Estórias essas que eu já contei no blogue.
Em pesquisa de blogues sobre o Ultramar Português, descobri que alguém aproveitou e muito bem, o meu contributo, então para a referida revista.
Se achares oportuno e não repetitivo, gostaria que publicasses no Blogue, esta versão dos mesmos factos.
Um abraço.
Jorge Fontinha
Outubro 19, 2008
'Um soldado pediu-me que o matasse'
Jorge Ventura Fontinha, esteve na Guiné, em 1970/72 e diz na Revista do «Correio da Manhã» deste domingo:
- “O Ultramar, para mim, divide-se em duas partes: quando lá vivi e o meu irmão mais velho foi assassinado pelos guerrilheiros, e depois, quando regressei para combater por Portugal.”
Eu vivi as duas faces da guerra. Primeiro em Angola, onde o meu irmão, mais velho seis anos, foi assassinado em 1961, durante um ataque dos guerrilheiros à nossa fazenda, em Nambuangongo. Nove anos e meio mais tarde, após ter passado por Portugal como refugiado, fui enviado para a Guiné-Bissau pelo Exército, onde voltei a ver a morte e procurei defender os interesses do País.
Como cabo miliciano, fui integrado na Companhia de Infantaria 2791 e embarquei a 19 de Setembro de 1970, no paquete ‘Carvalho Araújo’, com destino a Bula e ao Batalhão de Caçadores (BCAÇ) 2868. O meu baptismo de fogo começou a desenhar-se às 02h00 de 17 de Novembro de 1970, quando já era furriel. Da parada do quartel de Bula partimos para Chochmon. A minha secção ia completa: na primeira equipa, o Celestino, o Azevedo e o Monteiro olhavam, de vez em quando, para trás. Os restantes, que seguiam atrás de mim (o Romão, o Cavaco, o Matos, o Pinto e o Nunes) iam como uma sombra, a uma distância considerável. Um problema atormentava-me: antes de partirmos, o Nunes havia-me pedido que o ‘desenfiasse’, porque pressentia que lhe ia acontecer alguma coisa. Fiz--lhe ver que tudo não passava de mania mas no meu lugar (o 5.º na progressão em relação ao grupo de combate) não parava de pensar no seu caso.
Eram 03h30 e eu seguia embebido nestes pensamentos, quando, de súbito, ouvi um estrondo e uma chuva de estilhaços caiu sobre alguns de nós. Depois, foi o silêncio. Pensei logo tratar-se de uma mina e, quando olhei para trás, vi o pessoal abrigado, à excepção de um soldado que, no caminho, gemia e rebolava-se no chão. Corri para ele, que, de barriga para baixo, com a mão esquerda a procurar na perna do mesmo lado o pé perdido, suplicava: – Meu furriel, mate-me, acabe comigo! Meu furriel, tenha dó de mim!
Olhei para ele, emocionado, quando o homem das Transmissões e o enfermeiro corriam para o soldado. Virei as costas, para que me não vissem chorar. Chorei, sim, de raiva, de impotência e de ódio. Era o Nunes! E porquê ele, meu Deus? Antes de sairmos do quartel, bem me tinha dito que ia acontecer alguma coisa! E, afinal, não fora um ataque, apenas um acidente: o Nunes, apontador da bazuca, deixou cair uma granada no chão que, ao rebentar, lhe ceifou um pé e parte de uma perna. Outros soldados e o alferes comandante ficaram com ferimentos menos graves e tiveram de ser evacuados. Mais tarde, a coluna pôs-se em marcha e caminhou para a conclusão da operação, que culminou com grande sucesso, apesar de mais alguns soldados terem sofrido ferimentos ligeiros.
A 27 de Setembro de 1972, a companhia regressou a Lisboa, de avião; mas esta era apenas uma parte da minha vida no Ultramar que terminava e a outra, vivida nove anos e meio antes, no início de 1961, em Angola, fora ainda mais dolorosa. Eu tinha 12 anos e havia nascido em Ambriz. O meu pai era guarda-fiscal e, no início da década de 1950, adquiriu uma fazenda. Eu encontrava-me em Luanda, no colégio da Missão de S. Paulo, onde sempre residi quando não estava com o meu pai e o meu irmão. A minha mãe morrera em 1953, vítima de ‘biliosa’. Apenas a 20 de Março de 1961 soube do ataque que tinha havido à fazenda, cinco dias antes, quando chegaram os primeiros sobreviventes. Entre eles o meu pai, meio despido e descalço, na altura com 51 anos, desfigurado e desfeito no seu íntimo. Esteve agarrado a mim uma eternidade a chorar.
Soube então o que tinha acontecido. Eram 16h00 e o meu pai encontrava- -se a descansar no quarto quando se apercebeu de que algo se passava lá fora. Levantou-se e deparou-se com alguns empregados e familiares barricados atrás da porta, que era violentamente empurrada e cortada à catanada. O meu pai verificou de imediato a ausência do seu filho Fernando. Um dos empregados enfrentou os atacantes e decepou um deles à catanada, pondo os restantes em fuga, dando tempo a que todos fugissem em direcção a uma camioneta. Foi aí que meu pai deu com o meu irmão a agonizar na cabina, com uma catanada na testa e outra no peito! Algum tempo antes, quando o meu irmão, diminuído fisicamente dos membros inferiores, estava por perto, a governanta apercebeu-se de uma certa movimentação junto ao capim e foi ver o que se passava. De imediato, um grupo compacto de guerrilheiros da UPA (de Holden Roberto), de catana em punho, dirigiu-se aos trabalhadores, pondo-os em fuga. Houve, no entanto, um que não pôde locomover-se com tamanha rapidez: o meu irmão, que tentou proteger-se na cabina da camioneta, onde viria depois a ser assassinado.
Os sobreviventes fugiram na camioneta em direcção a Nambuangongo. Como já estava ocupada, dirigiram-se para Onzo, aonde foi inviável chegar. A única saída foi largar a viatura e fugir para a mata. Por lá andaram três dias e três noites, até receberem ajuda militar. Quando voltaram à camioneta, para recolher o meu irmão, tinha sido incendiada e o corpo havia desaparecido.
UMA VIDA DIVIDIDA ENTRE ANGOLA, GUINÉ E PORTUGAL
Nasci em Angola, na vila piscatória de Ambriz, onde o meu pai era chefe da Guarda Fiscal. O meu falecido irmão nasceu em Castedo da Vilariça, Torre de Moncorvo, terra da minha mãe, falecida em Nambuangongo em Outubro de 1952. O meu pai era de Alijó, Vila Real, e faleceu em Junho de 1975. Após o falecimento da minha mãe, dividia a vida entre Nambuangongo, nas férias, e Luanda, durante as aulas, quando ficava em casa de uns tios. Vim para Portugal refugiado e fui viver para Alijó, onde estudei até ser incorporado no Exército, em Outubro de 1969. Fui militar até Setembro de 1972.
Entrei para um banco em Maio de 1972 e casei-me em 1973. Do casamento nasceram dois rapazes. O mais velho ainda em Luanda, em Agosto de 1975, e o mais novo em Alijó, em 1978. Sou reformado da banca.
(In Revista «Domingo» do Correio da Manhã)
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6302: Estórias do Jorge Fontinha (10): Uma noite muito mal passada
domingo, 2 de maio de 2010
Guiné 63/74 - P6302: Estórias do Jorge Fontinha (10): Uma noite muito mal passada
1. Mensagem do nosso camarada Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 30 de Abril de 2010:
Carlos Vinhal
O Luís Faria pede-me que te dê trabalho.
A pedido, fui ao Baú das recordações e encontrei mais esta "Estória".
Aquele abraço para ti e em geral para toda a Tabanca.
Jorge Fontinha
A NOITE MAIS MAL PASSADA, DA MINHA VIDA
Nestes conturbados dias de trovoada, relâmpagos e chuvas fortes, veio-me à memória, os temporais a que fomos obrigados a passar.
Há dias, aqui perto da Régua, nomeadamente numa das encostas, comuns com o concelho de Mesão Frio, houve estragos terríveis. Aqui, de minha casa, vivo junto à marginal, senti todo o temporal, com relâmpagos, trovões e chuva torrencial intensa. No outro dia algumas pessoas questionaram-me, se eu tinha tido medo de tamanho temporal. Só respondi:
- Estava dentro de casa e o único transtorno, foi a luz ter ido abaixo e de ter de descer e subir as escadas do 6.º andar ao R/C. Já passei bem pior.
Na verdade, já me não lembro ao certo se foi na zona do BURNÉ, se na do BALANGAREZ, foi certamente entre Teixeira Pinto e Caheu.
Numa das saídas em bi-grupo, calhou ficarmos, como em dezenas de outras vezes, emboscados, para passar a noite, algures no mato. Durante o dia, foi sempre debaixo de intenso calor, onde o quico que já cheirava mal, era o único protector e simultaneamente servia para limpar a transpiração da testa e do pescoço. A determinada altura, até nos molhamos até à cintura e enchemos as botas e as cuecas das frescas águas lamacentas da bolanha, que tivemos de atravessar. Claro que o “ónus” de o fazer, teve de recair sobre mim. Era sempre a secção do Furriel Fontinha que tinha o encargo de guiar o pessoal até ao local previamente escolhido. Cabia-me sempre tal tarefa. Havia sempre quem não gostasse das minhas opções mas se o caminho que o meu azimute indicava, era aquele, não valia a pena contestar. No final, toda gente acabava por concordar.
Quando a hora de nos instalarmos se aproximou, toda a gente escolheu o lugar mais aconchegado e adequado às suas características. De preferência, junto a uma árvore, onde me encostar e soerguido, a fim de pôr a leitura em dia, enquanto havia sol ou luz que o permitisse, era o da minha preferência. Nesses momentos, era normalmente o Furriel Chaves que se entretinha a fazer a escala de sentinelas, antes de se sentar também junto a uma árvore, mais na retaguarda do Grupo, sacar do seu bem afiado canivete e esculpir, uma qualquer escultura em madeira. Confesso que me não recordo de nenhuma das esculturas produzidas por ele. Depois de nos banquetearmos com um lauto jantar da ração de combate que gentilmente os Fuzileiros nos haviam presenteado, (um abraço para eles e em especial para o então 1.º Tenente Teixeira Rodrigues), procuramos sítio para passar a noite.
Aí começa o festival de relâmpagos, de trovões e uma espécie de tromba de água, sem fim à vista. Não dá, para estar sentado e muito menos deitado. Aos relâmpagos sucedem-se quedas de árvores muito próximo de nós, os trovões são ensurdecedores e a chuva entra pelo nosso corpo como se estivéssemos nus. A acrescentar a tudo isto, os mosquitos são aos milhões e implacáveis. Por vezes, ao afastá-los da cara, chegamos a agarrar algumas dezenas deles, duma só vez. Não me lembro do tempo que estivemos assim, foi todavia uma eternidade. Quando a chuva terminou, lembro-me de me ter sentado na base da árvore e ter ficado com o “Poncho” sobre a cabeça e descontrair, pensando já não sei em quê.
A coisa que me lembro depois disso, foi alguém abanar-me e dizer:
- Furriel, acorde, está cheio de água.
Aí acordo e vejo já o sol a raiar, todo coberto de água até a meio do peito, só com meio corpo fora de água.
Então como agora, felizmente, há duas coisas que nunca me faltou. Sono e vontade de comer. Não há nada que me tire o sono. Nem as máquinas da Central da Mãe D’Agua, em Bissau, quando em Agosto de 1971 fui convidado… e ir guardar.
O que mais nos faltou fazer, Luis Faria?
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
__________
Nota de CV:
Vd. 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5892: Convívios (107): Visitei a Tabanca Pequena de Matosinhos e quero homenagear os seus mentores (Jorge Fontinha)
Vd. 27 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5354: Estórias do Jorge Fontinha (9): Homenagem a Fernando Barradas, ex-Fur Mil Fotocine e ex-jornalista de "O Comércio do Porto"
Carlos Vinhal
O Luís Faria pede-me que te dê trabalho.
A pedido, fui ao Baú das recordações e encontrei mais esta "Estória".
Aquele abraço para ti e em geral para toda a Tabanca.
Jorge Fontinha
A NOITE MAIS MAL PASSADA, DA MINHA VIDA
Nestes conturbados dias de trovoada, relâmpagos e chuvas fortes, veio-me à memória, os temporais a que fomos obrigados a passar.
Há dias, aqui perto da Régua, nomeadamente numa das encostas, comuns com o concelho de Mesão Frio, houve estragos terríveis. Aqui, de minha casa, vivo junto à marginal, senti todo o temporal, com relâmpagos, trovões e chuva torrencial intensa. No outro dia algumas pessoas questionaram-me, se eu tinha tido medo de tamanho temporal. Só respondi:
- Estava dentro de casa e o único transtorno, foi a luz ter ido abaixo e de ter de descer e subir as escadas do 6.º andar ao R/C. Já passei bem pior.
Na verdade, já me não lembro ao certo se foi na zona do BURNÉ, se na do BALANGAREZ, foi certamente entre Teixeira Pinto e Caheu.
Numa das saídas em bi-grupo, calhou ficarmos, como em dezenas de outras vezes, emboscados, para passar a noite, algures no mato. Durante o dia, foi sempre debaixo de intenso calor, onde o quico que já cheirava mal, era o único protector e simultaneamente servia para limpar a transpiração da testa e do pescoço. A determinada altura, até nos molhamos até à cintura e enchemos as botas e as cuecas das frescas águas lamacentas da bolanha, que tivemos de atravessar. Claro que o “ónus” de o fazer, teve de recair sobre mim. Era sempre a secção do Furriel Fontinha que tinha o encargo de guiar o pessoal até ao local previamente escolhido. Cabia-me sempre tal tarefa. Havia sempre quem não gostasse das minhas opções mas se o caminho que o meu azimute indicava, era aquele, não valia a pena contestar. No final, toda gente acabava por concordar.
Quando a hora de nos instalarmos se aproximou, toda a gente escolheu o lugar mais aconchegado e adequado às suas características. De preferência, junto a uma árvore, onde me encostar e soerguido, a fim de pôr a leitura em dia, enquanto havia sol ou luz que o permitisse, era o da minha preferência. Nesses momentos, era normalmente o Furriel Chaves que se entretinha a fazer a escala de sentinelas, antes de se sentar também junto a uma árvore, mais na retaguarda do Grupo, sacar do seu bem afiado canivete e esculpir, uma qualquer escultura em madeira. Confesso que me não recordo de nenhuma das esculturas produzidas por ele. Depois de nos banquetearmos com um lauto jantar da ração de combate que gentilmente os Fuzileiros nos haviam presenteado, (um abraço para eles e em especial para o então 1.º Tenente Teixeira Rodrigues), procuramos sítio para passar a noite.
Aí começa o festival de relâmpagos, de trovões e uma espécie de tromba de água, sem fim à vista. Não dá, para estar sentado e muito menos deitado. Aos relâmpagos sucedem-se quedas de árvores muito próximo de nós, os trovões são ensurdecedores e a chuva entra pelo nosso corpo como se estivéssemos nus. A acrescentar a tudo isto, os mosquitos são aos milhões e implacáveis. Por vezes, ao afastá-los da cara, chegamos a agarrar algumas dezenas deles, duma só vez. Não me lembro do tempo que estivemos assim, foi todavia uma eternidade. Quando a chuva terminou, lembro-me de me ter sentado na base da árvore e ter ficado com o “Poncho” sobre a cabeça e descontrair, pensando já não sei em quê.
A coisa que me lembro depois disso, foi alguém abanar-me e dizer:
- Furriel, acorde, está cheio de água.
Aí acordo e vejo já o sol a raiar, todo coberto de água até a meio do peito, só com meio corpo fora de água.
Então como agora, felizmente, há duas coisas que nunca me faltou. Sono e vontade de comer. Não há nada que me tire o sono. Nem as máquinas da Central da Mãe D’Agua, em Bissau, quando em Agosto de 1971 fui convidado… e ir guardar.
O que mais nos faltou fazer, Luis Faria?
Aquele abraço para toda a Tertúlia.
Jorge Fontinha
__________
Nota de CV:
Vd. 27 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5892: Convívios (107): Visitei a Tabanca Pequena de Matosinhos e quero homenagear os seus mentores (Jorge Fontinha)
Vd. 27 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5354: Estórias do Jorge Fontinha (9): Homenagem a Fernando Barradas, ex-Fur Mil Fotocine e ex-jornalista de "O Comércio do Porto"
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