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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17711: Efemérides (264): O antropólogo e professor doutor Mesquitela Lima, natural do Mindelo, São Vicente, que eu conheci na Academia Sénior de Lisboa... Morreu há 10 anos (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


O antropólogo e professor doutor Mesquitela Lima (1929-2007), que começou como funcionário colonial, e  que eu tive o privilégio de conhecer na Academia Sénior de Lisboa



Texto de Mário Vitorino Gaspar




1. O
antropólogo e professor Augusto Mesquitela Lima nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo,  na ilha de São Vicente, em Cabo Verde.

Neto de um antigo governador de Cabo Verde (Bernardo Mesquitela), fez o liceu, no Mindelo, e começou a trabalhar aos 20 anos, como escriturário das alfândegas. Em 1952, está em Angola como chefe de posto da Inspecção dos Serviços Administrativos e Negócios Indígenas. En 1959 vem para Lisboa licenciando-se em Estudos Políticos e Sociais do Ultramar no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU, hoje ISCSP / Universidade de Lisboa).

Volta para Angola – de onde era a sua mulher – e dirige em Luanda o Museu de Angola. É fundador também, em Lunda Norte, do Museu do Dundo, da Diamang. Estudou diversos grupos étnicos, com especial destaque para os Kyaka, antes da independência de Angola, então colónia portuguesa.

Faz um Mestrado em Antropologia Cultural, na École de Hautes Etudes en Sciences Sociales, em Sorbonne,  1969. Fez seguir, em 1977, o  Doutoramento de Estado em Antropologia, também em Paris, na Univeesidade X, Nanterre.

Em 1978, cria na Universidade NOVA de Lisboa o departamento de antropologi, Fez a Agregação na Universidade em 1982.Chega a professor catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.da NOVA. É considearado o responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que mudaram a antropologia em Portugal. Jubilou-se em 1999.

Funcionário público, investigador,  escritor, autor, tradutor e docente universitário, trabalhou para além de França, África e Portugal, também na Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, México, Brasil, China e Índia,  entre outros.

Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, com cerca de três dezenas de trabalhos científicos e 25 livros.

Mesquitela Lima faleceu, a 14 de Janeiro de 2007, vítima de pneumonia, em Lisboa, aos 78 anos, quando era Director do Instituto Superior de Gestão.

Citando a notícia necrolígica de A Semana:  "O que é 'invulgar na experiência colonial portuguesa é o cruzamento entre a experiência prática e uma formação académica que chega ao doutoramento de Estado em Paris0, diz Rui Pereira, colega no Departamento de Antropologia. 'Mesquitela Lima começa como funcionário e administrador colonial. Como fruto desse convívio diário, cria um interesse pragmático e procura ter uma formação académica de alto nível. Trabalhou com Lévi-Strauss em Paris na Sorbonne.' Ou, como diz Jorge Crespo, também colega no Departamento de Antropologia, 'volta ao terreno já com novos instrumentos de investigação, com uma preparação moderna no domínio das ciências sociais' ".

2. Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Aprendi com este Senhor. Um dia, convidou-nos, a  mim e ao Doutor Inês Gonçalves, presidente da Associação Cultural e Social de Seniores de Lisboa (ACSSL) ou Academia de Seniores de Lisboa, para visitarmos a sua casa.

Inacreditável!... Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.

O grito do Professor era “O Caois", as aulas na Academia não tinham outro tema. Disse-nos que gostaria de visitar a Índia, adoeceu, uma pneumonia. Ainda voltou à Academia.


Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas.

Para além destas, espalhadas pelas salas, corredores e quartos, era um baú de recordações das suas viagens. Tivemos a oportunidade única de ver: – desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos. Tinha em cada pintor africano um amigo. Destacava-se o trono de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio.

Talvez fossem as máscaras a  fascinação de Mesquitela Lima, Não é por acaso que surge, na sua obra, um poeta da sua terra terra natal. Dos seus livros gostaríamos justamente de destacar "Uma Leitura Antropológica da Poética de Sérgio Frusoni" (1992).

Quem é Sérgio Frusoni, praticamente desconhecido até então fora do Mindelo ? “Conhecendo e amando Cabo Verde, é fácil entender o sentimento” (Sérgio Frusoni). O cantor Bana cantou “Uma vez São Cente era sabe”, versos de Sérgio Fursoni (Mindelo, 1901- Lisboa, 1975)


Em homenahem ao professor Mesquitela Lima e à sua terra, aqui fica o poema de Sérgio Frusoni, em versão bilingue (crioulo e português):


Presentaçom

por Sérgio Frusoni


Quem mi ê? Um fidje de Sanvcênte.
Nascide, crióde, lá na ponta d' Praia.
Lá ondê que mar tâ sparajá debóxe de bôte,
moda barra dum saia.
Cs' ê que m' crê? Cantá nha terra!
Companhal na sê dor;
na nôbréza d' sê alma;
na pobréza d' sê vida!



Versão em português:

Quem eu sou? Um filho de São Vicente.
nascido, criado, lá na Ponta da Praia.
lá onde o mar se espreguiça debaixo dos botes,
como a barra de uma saia.
O que eu quero? Cantar a minha terra!
Acompanhá-la na sua dor;
na nobreza da sua alma;
na pobreza da sua vida!


in LIMA, Mesquitela - A poética de Sérgio Frusoni: uma leitura antropológica. Lisboa:  Instituto de Cultura e Língua Portuguesa; Praia: Instituto Caboverdiano do Livro e do Disco, 1992.


Mário Vitorino Gaspar, 28 de agosto de 2017

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de agosto de  2017 > Guiné 61/74 - P17708: Efemérides (263): morreu há 17 anos, a 22 de agosto de 2000, a dra. Dalila Augusta Carneiro Azevedo de Brito Barros Aguiar, psicóloga clínica, precursora no diagnóstico e tratamento do stress pós-traumático de guerra, cofundadora da associção "Apoiar", minha grande amiga (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P17002: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1º cabo, 1º Comp /1º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte II: "Colá San Jon", na Ribeira de Julião, ilha de São Vicente, 1943



Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30B]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Tambores, colá San Jon  [Foto nº 30]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 32]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31A]


Cabo Verde > Ilha de S. Vicente> Ribeira de Julião  > 1943 >  Colá San Jon  [Foto nº 31]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Ribeira de Julião > 1943 >  Festa de São João. Fotos do álbum, do então 1º cabo Feliciano Delfim Santos, da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11 (Ilha do Sal, 1941-1943)


Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Feliciano Delfim Santos (1922-1989)
1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro  Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada  e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73). 

 O Augusto disponibilizou-nos 33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos, e dos seus camaradas da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, que esteve na ilha do Sal, entre junho de 1941 e dezembro de 1943 (*) [, foto à direita].

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês. Estiberam prartocamente todo o tempo na então inóspita e pouca habitada ilha do sal, em missão de soberania. No final, ainda passram pelas ilhas de Santo Antõe de São Vicentem ressando a casa em dezembro de 1943. Duas dezenas de camaradas do batalhão morreram na ilha por doença e lá ficaram sepultados.

As fotos que  publicamos hoje trazem as seguintes (lacónicas) legendas:

(i) Foto 30 – Ilha de S. Vicente / 1943. Tambores, festa de S. João.

(ii) Foto 31 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

(iii) Foto 32 – Ilha de S. Vicente / 1943. Dança, festa de S. João.

Podia pensar-se que eram do Mindelo, mas não. A festa de S. João celebra-se no interior da ilha, ma povoação da Ribeira de Julião. E são "postais ilustrados" comprados pelos expedicionários, como "recuerdo" de Cabo Verde...

No ábum de Cabo Verde, do meu pai, Luís Henriques (1920-2012) há uma foto extamente igual à da foto 31 do álbum do pai do Augusto, já qui publicada, e que tem a seguinte legenda:


Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época, "Coladeira do S. João" [ou cola San Jon] > Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de Julião, no dia de São João , no interior ilha de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943".

Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Legendas de Luís Henriques e de L.G.]

A qualidade  das imagens que o Augusto me mandou é superior.  Um delas já tinha sido publicada em tempos, mas erradamente foi legendada como sendo da festa da "Cola San Jon" da ilha de Santo Antão (**). O Augusto pediu-nos para fazer a correção, aqui fica feita.

Estas fotos, dos nossos pais, que foram expedicionários em Cabo Verde na II Guerra Mundial, infelizmente  já são muito raras e merecem ser salvas do "caixote do lixo", publicadas, divulgadas e estudadas. Por todas as razões, pelo seu interesse documental,  e sobretudo pelos laços históricos, culturais, linguísticos e afetivos que nos unem, portugueses e cabo-verdianos.

Tudo indica que as fotos (, na realidade, "postais ilustrados"), que aqui publicados, sejam da célebre casa "Foto Melo":

(...) "Foi a única casa fotográfica no Mindelo desde a sua fundação no séc. XIX e durante grande parte do século XX e retratou sistematicamente as chegadas de governadores, a elite intelectual local, almoços e jantares de gente ilustre, grupos de ingleses, eventos oficiais, sociais e religiosos, bailes carnavalescos, costumes populares, os navios no Porto Grande, vistas de cidades e paisagens de todas as ilhas de Cabo Verde. " (,,,)



2. Segundo Manuel Brito-Semedo, autor do blogue "Esquinha do Tempo"  (... "magazine cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010"), a festa de S. João Baptista, ou do "colá San Jon" celebra-se em 24 de junho, em Cabo Verde [mas também na diáspora cabo-verdianaa como no bairro da Cova da Moura, na Amadora] no dia 24 de junho: (...) "integrada nas Festas Juninas,  é uma das principais festas populares nas ilhas de Barlavento – Santo Antão, S. Vicente, S. Nicolau e Boa Vista – e na Brava. Nas ilhas de Barlavento, a festa tem as mesmas características. Na Brava, a festa já possui características distintas e originais" (...).

Brito-Semedo, que é autor do estudo "A Construção da Identidade Nacional – Análise da Imprensa Entre 1877 e 1975" ( Praia, 2006),  resume aqui o que e esta festa na ilha de S. Vicente, onde no tempo da II Guerra Mundial estiver5am os pais de alguns de nós:

(...) "Em S. Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima (1992) descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo: missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbigada (movimento ritmado em que os pares chocam os umbigos), denominada colá San Jon, sobretudo praticada entre mulheres mas também entre homem e mulher. Os tambores, cuja forma são de origem portuguesa, são tocados com baguetes, produzindo um ritmo sincopado nitidamente africano. Tambores e apitos dirigem as dançarinas, que aceleram as umbigadas consoante o toque."

Mas há elementos de natureza socioantropológica que importa conhecer e divulgar. Seguimos a descrição do antropólogo Mesquitela Lima, citado  por Brito-Semedo:

(..) "Um navio à vela é outro elemento castiço da festa. Construído numa escala reduzida, com uma grande abertura no centro, permite a um homem entrar nele e segurar o navio com as duas mãos por intermédio de correias estrategicamente colocadas para que fique à altura da cintura. Este homem, chamado capitão e usando um boné, por vezes a farda completa, de oficial da marinha, maneja o navio em consonância com os apitos e tambores, praticando bolina, bordejando, vento em popa, tal como se estivesse no mar.

"É igualmente sacramental toda a gente usar colares de pipocas ("milho aliado") que se vende no local, sinal de que esteve presente na festa, ou seja, que era romeiro"  (Mesquitela Lima, op. cit.). (...)

E ao voltando ao amável autor do blogue "Esquina do Tempo", ficamos a saber que "a anteceder o dia de S. João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (as “lumenaras”), eventualmente recordando o imemorial culto do fogo, e os fogos de artifício, prática também em Portugal associada à celebração do dia do Santo, na noite de véspera". (In; blogue "Esquina do Tempo" > 24 de junho de 2015 > Colá san Jon – Festa tradicional ).

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12538: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (4): Elementos para a história e a cultura da nossa presença em África: o antropólogo Augusto Mesquitela Lima, refundador do Museu do Dundo / Diamang, e o comandante Ernesto Vilhena, administrador-delegado da Diamang

1. Mensagem, de 28 de dezembro último, de Mário Gaspar (*:

Camarada da Tabanca Grande Luís Graça

Enviei-te este texto, e volto a reenviar,  visto dizeres estar interessado em saber quem era o comandante Ernesto Vilhena, e não obtive resposta. 


Como disse, neste mail que te reenvio – porque fiquei com dúvidas se chegou às tuas mãos – quero acrescentar que o Antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima era o maior coleccionador de máscaras do Mundo. Foi viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa, fundou o Museu do Dundo (**), em Angola e esteve integrado no grupo de professores, na fundação da Universidade Nova de Lisboa. Segue o texto já enviado anteriormente.

Após as dúvidas colocadas sobre o comandante Ernesto Vilhena – como curioso que sou – pesquisei na internet, e com pouco sucesso. Entretanto surgiu-me um elemento novo: “importante colecionador em Portugal de escultura”.


2. O antropólogo Augusto Mesquitela Lima (1929-2007), de orgem caboverdiana, refundador do Museu do Dundo, em Angola,  meu professor na Academia Sénior de Lisboa

Como conheci um “importante colecionador de escultura” e que “fundou o Museu Dondo, em Angola” – o antropólogo Professor Doutor Augusto Mesquitela Lima –,  aqui vão alguns elementos informativos sobre ele:

(i) nasceu a 10 de janeiro de 1929, no Mindelo,  ilha de São Vicente,  Cabo Verde; (ii) após o liceu, veio Portugal, para completar os seus estudos, justamente numa altura em que os Estudantes da Casa do Império, em Lisboa, já falavam das independências das colónias; (iii) diplomou-se, em 1963,  pelo antigo Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina (ISCSPU).

Mesquitela Lima irá  depois doutorar-se em Etnologia em França, na Sorbonne,  quando se viviam as experiências do Maio de 68, tendo sido preso por ter se ter envolvido nesses acontecimentos. Estudou igualmente nos Estados Unidos. Foi, entretanto,  viver para Angola, terra da sua mulher, ainda antes da independência desta colónia portuguesa.

Além dos países africanos esteve igualmente, entre outros, na Índia, Brasil e China. Ficou conhecido pela vasta obra que publicou, teve por volta de 30 trabalhos científicos e publicou 25 livros. Reestruturou Museu do Dundo, da XDiamang (que já existia como  em Angola, onde estudou vários grupos étnicos, com especial destaque para os kyaka.

Fez parte do grupo de professores que estiveram na origem da fundação da Universidade Nova de Lisboa (UNL), após 25 de abril de 74. Jubilou-se como Professor Catedrático de Antropologia Cultural da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UNL. Foi responsável pelo aparecimento de um grupo de antropólogos que reformularam a antropologia em Portugal, até então muito centrada no antigo ISCSPU.

Conheci-o na Academia Sénior de Lisboa, onde foi professor de Antropologia. Gostava muito das suas aulas. Um dia, convidou-me a mim e ao Presidente da Direção desta mesma Academia, para visitarmos a sua casa. Inacreditável! Salas repletas de relíquias e de encantos. Impossível descrever. Esquecera-se de reservar espaço para si. As preciosidades envolviam-nos. E que riqueza! Notei no rosto de sua mulher, uma senhora bastante simpática, algumas reservas decerto motivadas pelo pouco espaço que restava para si e para seu admirável marido naquela casa, naquele Museu do Professor Mesquitela Lima.

O grito do Professor era “O Caos”, as aulas na Academia não tinham outro tema. Foi de viagem à Índia e adoeceu, uma pneumonia, mas ainda voltou à Academia. Era conhecido mundialmente pela coleção de máscaras africanas. Para além das máscaras, no corredor de sua casa, repleto de recordações das suas viagens, tivemos a oportunidade única de ver: desenhos de mulheres africanas; miniaturas de peças artesanais, pinturas executadas por amigos; a cadeira de um rei africano; livros já sem espaço (perto de 30 mil); muitas obras de vários pintores consagrados; muitas mais peças de arte adquiridas em todo o mundo e uma secretária com um computador onde um dos filhos (tinha três filhos) memorizava todo o seu espólio. Concluía o tal estudo científico intitulado “O Caos”.

Faleceu, quando era director do Instituto Superior de Gestão, vítima de pneumonia, a 14 de janeiro de 2007.

3. Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), administrador delegado da Diamang

Foi então que mais motivado fiquei e recolhi o seguinte sobre o comandante Ernesto Jardim de Vilhena [, Reproduzido, na íntegra,  com a devida vénia,  do Arquivo Histórico da Presidência da República]:

"O Comandante Ernesto Jardim de Vilhena (Capitão de Fragata, na Reserva e Administrador da Companhia de Diamantes) nasceu em Ferreira de Alentejo, em 4 de Julho de 1876, filho de Júlio de Vilhena (1845-1928) – Conselheiro e Ministro de Estado, Par do Reino, deputado e chefe do Partido Regenerador, jornalista e director de jornais, vogal do Supremo Tribunal Administrativo e III Governador do Banco de Portugal – e de Maria da Piedade Leite Pereira Jardim. 

"Na qualidade de militar da Marinha Portuguesa, serviu na Administração Colonial desde 1886. Foi Secretário-Geral da Sociedade de Geografia de Lisboa, na 1ª década do séc. XX e deputado pela Madeira na legislatura de 1908. 

"Depois da implantação da República, e apesar de monárquico, foi Ministro das Colónias do 12º Governo da Iª República, chefiado por Afonso Costa (25 de Abril a 10 de Dezembro de 1917) do qual foi igualmente Ministro dos Negócios Estrangeiros interino, entre 19 de Novembro à queda do Governo. Foi Governador dos territórios da Companhia do Niassa e dos Distritos da Zambézia de Lourenço Marques. Foi vogal do Conselho Colonial e Chefe de Gabinete do Ministro do Ultramar e da Marinha João de Azevedo Coutinho (1909- 1910) e do Ministro do Interior Artur de Almeida Ribeiro (1915-1917).

"Foi Administrador-delegado da Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, entre 1917 e 1966.

"Foi, ainda, o mais importante coleccionador em Portugal na 1ª metade do século XX (em particular de escultura). Faleceu em Lisboa em 1967.”

[ Ver aqui mais dados sobre a sua carreira.]


3. Nota sobre a Diamang: 

Poucos elementos para pesquisa existem sobre diamantes. É um mundo muito complicado. A sua história ficará por contar.

O Engenheiro Sucena que me admitiu na DIALAP – Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SARL., como já afirmara, esteve também na Diamang.

O Presidente do Conselho de Administração da Diamang,  Engenheiro Carlos Krus Abecasis (e não Abecassis), também esteve na DIALAP.

O Diretor da DIALAP – foi durante muitos anos – o Engenheiro Manuel Rey Colaço Menano.

Camarada Luís Graça;

Não se trata de uma história da guerra onde estivemos envolvidos, mas interessante. Já agora, e para acabar, tive para ir trabalhar para a Diamang quando regressei da Guiné. Acabei a minha vida profissional por trabalhar em diamantes.

E desculpa o tempo que perdeste a ler a história, muito sumária, de um Homem, também Homem Grande da nossa Cultura o Professor Doutor de Antropologia Augusto Mesquitela Lima. Esse texto já o escrevera. E foi mesmo por essa razão que me veio à memória o colecionismo das máscaras, aliando ao facto o nome Comandante Ernesto Jardim de Vilhena.

Um Feliz Natal e um Feliz Ano Novo

Ex Furriel Miliciano, Minas e Armadilhas, Mário Vitorino Gaspar, nº  03163264
CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)

______________

Nota do editor:

(*) Vd último poste da série > 30 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12522: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (3): Tenho pena de não ter, na minha posse, cartas que escrevi, onde narrava o nosso sofrimento.

(**) Será mais correto dizer-se que o Mesquitela Lima foi o refundador do Museu do Lundo...

(...) O 'Museu do Dundo', na Lunda-Norte, 
Angola [, vd. imagem à esquerda, adaptada da Wikipédia],  foi criado em 1936 pela então denominada Companhia de Diamantes de Angola / Diamang [, hoje Endiama]. Foi a primeira instituição do género criada em Angola. Em 1942 adopta a designação de Museu Etnológico.

Em 1946 inicia a edição desta colecção tendo contado com a especial participação de José Redinha (curador do Museu - etnólogo e estudioso dos povos de Angola) e com a participação de inúmeros autores nacionais e estrangeiros.

Esta colecção, composta por obras pertencentes à Biblioteca Ultramarina do ex-Banco Nacional Ultramarino, foi digitalizada e incorporada na Biblioteca Digital da Memória de África e do Oriente através de protocolo para a cedência de conteúdos assinado entre a Caixa Geral de Depósitos e a Fundação Portugal-África.

A sua utilização segue o referido nos direitos de utilização do material. (...)


Fonte: Memórias de África e do Oruiente > Biblioteca Digital > Museu do Dundo / Diamang