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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Guné 61/74 - P26069 O Spínola que eu conheci (37): "Nunca foram ao Senegal ?!... Deixe-se de rir, nosso alferes, pois comecem a pensar em ir lá"... (A. Marques Lopes, 1944-2023)


Guiné > Região do Caheu > Barro > CCAÇ 3 > 1968 > À direita.  ex-alf mil at inf, A. Marques Lopes, que comandava o grupo Os Jagudis.   Ao centro, o seu guarda-costas, e à sua esquerda, presumimos nós, o cap art Carlos Alberto Marques de Abreu (promovido a coronel, em 2/5/1989), e aqui numa foto rara.

 Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O gen Spínola em Infandre (1970).
Foto: Arquivo do blogue Luís Graça &
 Camarafdas da Guiné

1. Recorde-se que o nosso querido e saudoso A. Marques Lopes (1944-2024), ex-alf mil, CART 1690 (Geba, 1967/69) foi  evacuado para a metrópole, na sequência de uma mina A/C que matou o cap inf Manuel Guimarães e que o feriu também a ele,  na estrada Geba-Banjara, em 21 de agosto de 1967 (*). 

Ao fim de nove meses de tratamento e recuperação no HMP, em  Lisboa, voltou para o CTIG, em maio de 1968, para cumprir mais 10 meses de comissão de serviço, neste caso na CCAÇ 3, que estava aquartelada em Barro, na região de Cacheu, mesmo junto à fronteir com o Senegal. Passou  a comandar um  grupo de combate que mais tarde se irá chamar... 
"Jagudis" (abutres).

Na altura o comandante era o cap art Carlos Alberto Marques de Abreu (capitão Alves, no livro "Cabra Cega"). ("Depois do 25 de Abril será adjunto do general Spínola; conheci os pais dele, que tinham um restaurante na Calçada do Combro, em Lisboa.") (**).

Passado pouco tempo de chegar à CCAÇ 3, "creio que em junho de 1968, o general Spínola foi a Barro", numa visita relâmpago, que o autor de "Cabra Cega" recontitui, com muita piada.  (    (Lapso do autor: em junho de 1968, Spínola ainda era brigadeiro, e com um mês de Guiné ainda não deveria ser conhecido por "Caco  Baldé"-)

Vamos selecionar alguns excertos das pp. 491/495, e fazer um resumo deste episódio.


2. O A. Marques Lopes [Aiveca, no livro ] estava a descansar, depois de uma noite passada no "tarrafe do Cacheu à  espera que os guerrilheiros passassem" (pág. 491). Chegado às seis da manhã, morto de sono, tirou o camuflado, nem tomou banho, atirou-se para cima da cama... 

"O ruidoso girar característico das pás dos helicópteros" (pág. 492), fê-lo saltar da cama, a ele e ao outro alferes, o Rudolfo (nome fictício). 

(...) Vestiram os calções e enfiaram as chinelas nos pés (...)  Foram para a porta da secretaria. Já lá estavam o cabo escriturário e o primeiro sargento, este todo aprumado:

 Vem aí o nosso general!  – anunciou, embevecido. (...)

Os dois alferes "viram com espanto o Caco Baldé a aproximar-se em passo decidido, olhar penetrante e pingalim da ordem". Vinha acompanhado pelo comandante da CCAÇ 3... e "todo emproado no camuflado limpo e brilhante pelo uso em cerimónias, de luvas impecáveis e boina vermelha berrante", o ajudante de campo "com a G3 em prontidão, coronha poisada no quadril" (pág. 492).

(...) O Rudolfo mostrou-se preocupado...

 – É, pá, não podemos receber o general em tronco nu, de calções e chinelos.

  Oh, agora, chapéu. Ele  está perto e já olhou para nós. Quando aparece assim de repente, o que é que pode esperar ?
 
O general chegou ao pé deles e o capitão apresentou-os:

   Meu general, estes são comandantes de dois pelotões da minha companhia. Há um que está a montar emboscada num corredor de infiltração e outro está num destacamento. (...)

O Lopes instintivamente ia levantar a mão para bater a pala, mas deu conta que estava "desfardado"... 

(...) Mas o Rudolfo não pensou e fez mesmo a continência. Ninguém ligou, nem o general (pág. 493). (...)

O Lopes [ Aiveca, no livro] achou que devia dizer qualquer coisa, pediu desculpa ao general, dizendo-lhe que não estava à espera e tinha passado toda a noite no mato (...).

   Deixa-te disso, pá. Vamos lá que estou com pressa, quero ir falar com o major do COP  [que era na altura o Correia de Campos ]. (...)

Depois, entraram na secretaria e falaram da atividade operacional, dass infiltrações do PAIGC a partir do Senegal, da missão do COP,  mas também da situação do pessoal e dos problemas de alimentação em Barro.  

(...) Toma nota    ia dizendo o general para o [ajudante de campo, o cap cav  'cmd Almeida Bruno, maio 68 / julho 70].

Este, que pusara a G3, tinha agora um pequeno bloco na mão.

O Aiveca esteve tentado a dizer  que a carne que tinham, era das vacas que, às vezes , iam roubar às aldeias fronteiriças do Senegal, ou daquelas que caíam nas armadilhas que montavam nos carreiros e que os elementos do PAIGC traziam para atravessar o Cacheu. Os gajos das tabancas não querium vender vacas. Mas preferou ficar caladinho, o capitão que desbroncasse. 

 O Caco Baldé ajeitou o monóculo e mudou de conversa.

   Quais são as etnias dos grupos de combate ?

   Meu general, a maior parte são fulas e balantas, mas há de outras etnias, e estão misturados.

  Então vai separá-los, nosso capitão. Fulas num grupo de combate e balantas noutro. Dá mais unidade a cada um e pode criar emulação entre eles. " (pág. 494).

Ninguém disse nada. Não havia nada a dizer porque aquilo foi dito em tom de uma ordem.

  Já alguma vez foram ao  Senegal ?   perguntou po general.

O Aiveca riu-se,  mas depressa ficou sério. O general e o adjunto olharam para ele como que a pergunhtar qual era a piada. O capitão e o Rudolfo ficaram apreensivos, a interrogar com o olhar se ia falar das vacas roubadas no Senegal. Viu que tinha de dizer alguma coisa.

   Peço desculpa, meu general, mas é que nós  nunca fomos ao Senegal.

   Então deixe de se rir, nosso alferes. Comecem a pensar em ir lá (pág. 495)...

E lá abalou a caminho do heli...

3. Conclusão tirada pelo A. Marques Lopes, no poste P47 (**), um dos primeiros que publicámos no blogue, em 6 de junho de 2005:

(..) "   Vocês já foram ao Senegal? 

"Eu, e os outros, que não sabíamos o que ele queria, dissemos que não (já tínhamos ido várias vezes a Sano, Sonako e Samine para roubar vacas e queimar casas). E ele disse:

"–  Então, têm de pensar em ir lá.

" E lá fomos mais à vontade. O roubar vacas era uma preocupação, pois era a nossa subsistência. Muito raramente, havia um abastecimento feito pelos fuzileiros através do rio Cacheu. Às vezes, vinha uma Dornier trazer o correio e os chamados frescos. A maior parte das vezes comíamos arroz e rações de combate, ou, então, uma dobrada hidratada que saltava da panela assim que aquecia. Só tínhamos carne quando havia vacas. (...) (**)

E foi assim que ele conheceu, ao vivo e a cores, o novo com-chefe e governador da Guiné, que tinha acabado de chegar ao CTIG, e que será promovido à categoria de general apenas um ano depois, em julho de 1969... (Há aqui uma notória dissincronia por parte do A. Marques  Lopes ao tratar o Spínola por general em junho de 1968.) (***)

 ______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25978: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (9): a última foto do cap art Manuel Guimarães, cmdt da CART 1690, tirada instantes antes de morrer, na estrada Geba-Banjara, vítima de uma mina A/C, em 21 de agosto de 1967

(**) Vd. poste de


(***) Último poste da série > 26 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25308: O Spínola que eu conheci (36): A história do Mário, da CART 2478, contada pelo Manuel Mesquita, da CCAÇ 2614 ("Os Resistentes de Nhala: 1969/71", ed. autor, 2005)

terça-feira, 26 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25308: O Spínola que eu conheci (36): A história do Mário, da CART 2478, contada pelo Manuel Mesquita, da CCAÇ 2614 ("Os Resistentes de Nhala: 1969/71", ed. autor, 2005)

1. No tempo em que fazíamos inquéritos "on line" (funcionalidade que já não está disponível no Blogger), pusemos um dia à votação a seguinte questão:  "Dos 3 últimos Com-Chefes da Guiné, aquele de quem tenho melhor opinião é...". 

Os três nomes apresentados eram, por ordem de antiguidade no CTIG, Arnaldo Schulz, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues.

O número total de votos apurados foi de  166. E a "sondagem" encerrou em 15/10/2015, às 15h32. Os resultados não nos supreenderam. 

O general Spínola apareceu destacadíssmo, reunindo mais de 70% dos votos:

  • António de Spínola (1968/73) > 119 (71,7%)
  • Bettencourt Rodrigues (1973/74) > 14 (8,4%)
  • Arnaldo Schulz (1964/68) > 10 (6,0%)
  • Nenhum deles > 16 (9,6%)
  • Não sei / não tenho opinião > 7 (4,2%)

2. Era inegável a "popularidade" de Spínola, no seu tempo, enquanto Com-chefe e Governador-Geral da Guiné (funções que acumulou tal como o seu antecessor, Arnaldo Schulz, e o seu sucessor, Bettencourt Rodrigues), se bem que as opiniões aqui expressas também  possam estar "enviesadas" pela época em que os respondentes estiveram na Guiné (e no pressuposto de que  todos eram antigos combatentes na Guiné). 

A história do Mário,  que se reproduz a seguir,  vem ajudar a perceber melhor o porquê da "popularidade" do general.  Era um comandante-chefe que fazia questão de estar próximo dos seus homens e que os visitava amiudadas vezes, nomedamente no mato (que era a "frente de batalha")... E resolvia no momento problemas do quotidiano da tropa e dos militares, muitas vezes à revelia da máquina burocrática do exército.

Como lembrou, aqui, em comentário ao poste P25238, o cor art ref Morais Silva, "a  sua severidade e exigência perante as falhas dos seus militares era proporcional ao grau de responsabilidade e ao posto do infrator. Apreciava quem cumpria e é obrigatório lembrar o especial cuidado que tinha com os feridos em combate que diariamente visitava no HM 241"

São estas e outras "pequenas histórias" que faltam na biografia deste cabo de guerra, escrita pelo historiador Luís Nuno Rodrigues (apesar de volumosa) (Spínola: Biografia". Lisboa. A Esfera do Livro, 2010, 748 pp.. il.)

2. Com a devida vénia, fomos repescar a história do Mário, ao livro do Manuel Mesquita “ Os resistentes de Nhala: 1969/71” (Ed. de autor, s/l, 2005, pp. 121/123) (**).
 
O autor pertenceu à CCAÇ 2614 / BCAÇ 2892 (Bissau, Nhala e Aldeia Formosa, 1969/71) . E o Mário  à CART  2478, que esteve em Gadamael.

O Mário

por Manuel Mesquita

Apareceu-me lá em Aldeia Formosa, em determinada ocasião, e sem que nada o fizesse prever, um moço que conheci na nossa adolescência. Nunca houvera grande amizade entre nós, mas somos conterrâneos. Foi uma alegria encontrarmo-nos na mesma guerra em terras tão longínquas. [Era] o Mário de Fontelas [. concelho de Peso da Régua]  .

Contou-me um pouco da sua vida, convidei-o a ir viver para o meu quarto. Visitou as instalações, agradaram-lhe as condições e aceitou, era por pouco tempo.

Veio de outra companhia, a [CART] 2478 , instalada em [Gadamael] Porto, onde cumpriu 21 meses em rendição individual. Foi bem comportado. O capitão sempre lhe prometeu vir com a companhia no final, apesar de ter menos um mês e meio que eles. Acompanhou a companhia até Bissau, convencido de que vinha.

A [CART] 2478 embarcou [em 23 de dezembro de 1970, juntamente com o resto do BART 2865], o Mário ficou no cais a ver os companheiros embarcar e seguir.

Do barco acenavam-lhe [com] a alegria de partir. No cais o Mário chorava o desgosto da promessa por cumprir. (…) Naquela hora, uns com o coração recheado de alegria e o Mário com o coração apertado pelo desgosto.

Ficou quase dois meses no quartel dos Adidos e, quando contava vir para Lisboa, mandaram-no para a CCAÇ 2614 [em Aldeia Formosa]. Nós com mais de 21 meses, ele com 23. Nós vínhamos em breve, ele não poderia vir connosco, era candidato a ficar lá depois de nós.

− É uma injustiça –digo eu.

− É um castigo, sem nunca ter merecido uma punição. É ter a certeza duma missão cumprida, sem saber quando termina a minha comissão. Já servi a Pátria!

− É uma dor de alma, que só não a sente quem tem um coração de pedra.

O Mário estava no segundo pelotão. Com o pelotão desfalcado há tanto tempo, mandam agora um soldado preencher um vaga. Integrou-se, e a tudo obedecia e cumpria naturalmente (nem poderia ser de outra forma).

Somos [, entretanto,] informados que o Com-Chefe nos iria visitar para provavelmente nos entregar as medalhas de missão cumprida. Tentei a todo o custo convencer o Mário de que se devia dirigir ao Com-Chefe, falar e expor o seu caso, ainda que [ele]fosse o nosso general.

Era um domingo de tarde, nós estávamos [dispensados] de serviço. Uniformizados a rigor, estávamos na parada antes da hora prevista. Não revelámos o nosso plano a ninguém.

Chegou a avioneta e logo o clarim convida-nos à formatura. (…)

É, sem dúvida, sua Excia. o gen Spínola, fiquei contente. Começa o seu discurso, dizendo que tinha as medalhas de comissão cumprida para nos dar. Saudou-nos por tal e informou que ficaríamos ali mais algumas semanas até chegar a companhia que nos [iria substituir, a CCAÇ 3399, em 27 de agosto de 1971].

Eu tinha vontade de tocar o meu amigo para se apresentar, mas estávamos em sentido e o grupo é outro. Uma voz forte e determinada se levanta, lá da outra zona e…

− Sua Excelència, meu general, dá-me licença ?

A admiração foi geral, toda a gente queria olhar, mas… Eu tremia.

O general António Spínola interrompe a conversa com o comando do batalhão [BCAÇ 2892, Aldeia Formosa, 1969/71] , e [diz]:

− Avance e apresente-se.

O Mário conhece os cânones militares, cumpre e diz porque está ali, donde veio, o tempo cumprido, este batalhão não lhe podia prometer que o levava, poderia ver partir mais um companhia, era de rendição individual, não poderia saber quando teria a missão cumprida, depois de já ter naquele momento mais de 24 meses de zona de guerra na Guiné…

Aquele frente a rente não foi longo mas toda a gente o ouviu. O general mandou que o seu ajudante de campo (um capitão ‘comando’) tudo registasse e disse:

− Fizeste bem em falar, meu rapaz. Ainda não é hoje que recebes a tua medalha. Ficarias cá depois desta companhia embarcar. Não vais hoje comigo, porque é impossível, mas embarcarás daqui [a] esta semana para Bissau, vais para Lisboa no primeiro barco.

Deu ordens ao comando para deixarem descansar até ao fim, que lhe [tratassem] do espólio, sairia dali dentro de dias para Bissau para aguardar transporte para Lisboa.

O general partiu, nós ficámos com as medalhas de missão cumprida e o Mário estava agora feliz. Parabéns, justiça finalmente [fora] feita, justiça estava a fazer-se.

Todos os militares sabiam que a comissão na Guiné era de 22 a 23 meses no total. E de 22 a 24 no máximo para os de rendição individual.

Passados três dias, o soldado Mário estava a tomar a avioneta na pista de Aldeia,com todo o espólio feito.

Fonte: Excertos de Manuel Mesquita, “ Os resistentes de Nhala: 1969/71”. (Ed. de autor, s/l, 2005, pp. 121/123) (Com a devida vénia...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, parenteses retos, correção de gralhas: LG)

__________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23225: O Spínola que eu conheci (35): um militar de caracter reservado, com quem me cruzei várias vezes em Bissau no desmepenho das minhas funções na Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica (Ernestino Caniço)

terça-feira, 3 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23225: O Spínola que eu conheci (35): um militar de caracter reservado, com quem me cruzei várias vezes em Bissau no desmepenho das minhas funções na Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica (Ernestino Caniço)

                                 
Foto nº 1 > Spínola condecorando um alferes 'comando' africano... Em segundo plano, eu sou o portador da bandeja que contem a condecoração 



Foto nº 2 > O General Spínola cumprimentando um  desportista numa cerimónia de condecorações. Ao lado, o Coronel Pedro Cardoso cumprimentando um jovem da Mocidade Portuguesa


Foto nº 3 > O general Spínola cumprimentando a população 



Foto nº 4 > Manifestação de população muçulmana de apoio ao general Spínola


Foto (e legenda): © Ernestino Caniço (2022) . Todos os direitos reservados (Edição e legendag complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




1. Mensagem de  Ernestino Caniço, (i) ex-Alf Mil Cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/dez 1971; (ii( médico, a viver em Tomar; (iii) membro da Tabanca Grande desde 21/5/2011; (iv) tem 50 referências no nosso blogue.


Data . terça feira, 3 de maio de 2022, 17h37
Assunto - Força Africana


Caros amigos

Votos de ótima saúde.

Face ao tema epígrafado envio-vos 2 fotografias:

(i) General Spínola condecorando um oficial africano;

(ii) General Spínola e cor Pedro Cardoso  condecorando deportistas e elementos da Mocidade Portuguesa

O interesse das fotos fica ao vosso critério.

Um abraço,

Ernestino Caniço

PS - O editor LG junta mais duas fotos (Poste P15272, de 20/5/2015) (*) que mostram o gosto do general Spínola pelo contacto com a população, apesar do seu "caracter reservado".


2. Em mensagem, anterior, de 18/10/2015, 18:21, publicada no poste P15272 (*), o Ernestino Caniço já tinha escrito o seguinte apontamento sobre o gen António Spínola (**):

Caros amigos

Rebuscando na memória remota algo sobre o tema "com-chefes da Guiné", encontrei algumas lembranças e fotos.

Só conheci o General Spínola, cruzando-me com ele algumas vezes, pois não foi infrequente o meu acesso ao Palácio do Governo. Isto porque, enquanto alferes da Repartição de Ação Psicológica (ACAP) e em funções na Secção de Operações Psicológicas, me dirigia ao Palácio nas minhas atividades correntes.

Um outro motivo pelo qual frequentei o Palácio, foi a minha participação num grupo de trabalho sobre o problema demográfico de Bissau, que integrava dois economistas, sendo um representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o outro não me recordo, e eu próprio em representação da área militar.

O caráter reservado do sr. General não me permitiu ilacionar qualquer opinião consubstanciada.

Anexo algumas fotos sobre a temática.

Um abraço,
Ernesto Caniço

_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de  2015 > Guiné 63/74 - P15272: Inquérito "on line" (11): Sobre o tema Com-Chefes da Guiné, encontrei algumas lembranças e fotos do General Spínola (Ernestino Caniço)

(**) Último poste da série > 24 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20273: O Spínola que eu conheci (34): um testemunho, de um ex-combatente, Ângelo Ribau Teixeira (Angola, 1962/64), que mostra não ter sido inspiração de circunstância o conceito de “Por uma Guiné Melhor” que o meu saudoso Comandante-Chefe materializou na Guiné anos mais tarde (1968) (Morais da Silva, cor art ref, cmdt da CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20364: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - IX (e última) Parte: Nunca mais esquecerei aquele abraço, num lojeca em Bissau, antes do meu regresso a casa, daquele negro de Fulacunda, o Eusébio, suspeito de colaborar com o IN, e a quem poderei ter salvo a vida...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda >  22º Pel Art (Fulacunda, 1969/71) > "Eu e o Eusébio" [, um antigo milícia, suspeito de colaborar com o IN)

Foto (e legenda): © Domingos Robalo (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >   "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Montagem de segurança > Um obus 14, rebocado por uma Berliet. Para i o desse e viesse...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1/ CAC 7, 1969/71) > IX (e última) parte 

[ Foto à esquerda: 
Domingos Robalo, 
ex-fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; comandante do 22º Pel Art, em Fulacunda; vive em Almada]


Está esta prosa mais longa do que eu imaginaria que fosse. Não termino sem antes referir o seguinte: em visita ao aquartelamento, o Comandante Chefe, General Spínola, é recebido com a formatura em parada. Repara que na parada estão alguns militares aprumados, mas sem a “boina negra” na cabeça, pergunta:

- Quem são aqueles que não têm boina negra?  [,os "boinas negras" era a malta da CCAV 2482]


- São o pessoal da Artilharia! [, 22º Pel Art, comandado pelo fur mil art Domingos Robalo]

Mudou o olhar, aconchegando o seu monóculo, concentrou-se nas tropas e população que o “adorava”, e é bom não esquecer estas palavras nem ter medo de as pronunciar. Falou de uma “Guiné Melhor”, a ser construída pelos Guineenses e seriam eles a decidir o seu futuro….

Estou a escrever estes factos, muito resumidamente, 50 anos depois de eles terem acontecido. Só agora dou o verdadeiro valor à memória. Coisas que aparentemente estavam escondidas ou apagadas, aparecem como se ontem tivessem sido vividas.

Mas, o deslizar a pena é como se estivesse a mexer um caldeirão onde as letras aparecem já escritas e a memória as traga à tona. Ideias que já estavam esquecidas, ultrapassadas e limpas aparecem agora em turbilhão.

Quase quatro anos de vida militar, por muito sacrifício que se tenha passado, não tem sido maior do que passar 40 anos com memórias que não tivemos oportunidade de contar ou “carpir”, como contributo de um desabafo coletivo que todos os jovens adultos do meu tempo deveriam ter feito. 


Ter-se-iam, porventura, poupado muitos dos traumas que vamos tendo conhecimento. O 25 de abril de 1974 trouxe-nos uma mudança radical de vida e de pensamento, com a esperança de uma vida em paz e de convivência com os povos que foram por nós colonizados. Com o golpe de Estado deu-se a “independência” aos povos das Colónias (então Províncias Ultramarinas), mas aprisionando-se memórias com uma barreira imposta, e auto-imposta como capa de proteção por um período da vida de quase todos os jovens adultos daquele tempo.

Conforme estou escrevendo, vou avivando essa vivência, mas também não posso nem devo calar o afronto que se fez aos militares portugueses de origem africana que, após a independência, foram assassinados por grupos que se diziam de libertadores. Libertadores de quê? 


Mais grave considero ainda que as autoridades portuguesas tenham tido conhecimento da situação e à época fez-se um silêncio total.

Através de um tripulante do navio Rita Maria ou Alfredo da Silva [, já não recordo ao certo,] fui sabendo de situações que ocorriam na Guiné. Segredo, pedia-me ele; as informações eram muito confidenciais.

Na minha Unidade, em Bissau, foram-me atribuídas várias funções:

-Participar na instrução básica e de cabos na especialidade de artilharia a militares naturais da Província da Guiné;

-Participar nas principais ações do TO, sempre que a artilharia era requisitada;

-Participar nas regulações de tiro de artilharia e elaboração das respetivas “cartas de tiro”, nos vários pelotões espalhados pelo TO;

-Participar, junto do Comando da Unidade, na então designada “sala de informações e operações”...





Infografia da emboscada de 22/2/1971,no decurso da Acção Mabecos, que envolveu forças do BCAV 2922, numa operação de escolta e segurança a forças de artilharia no trajecto Amedalai - Sagoiá - Rio Sagoiá - Rio Cimangru [... e não Camongrou] - Piche 4E545 - Rio Nhamprubana. As baixas das NT foram todas da CART 3332 (**).


Participei na Acção “Mabecos”, na terça-feira de carnaval no ano de 1971 [, em 22 de fevereiro de 1971, três meses depois da Op Mar Verde,invasão de Conacri]. 

Operação complicada, malo rganizada / planeada, com três mortos  e um soldado apanhado à mão que apenas foi libertado no pós-25 de abril de 1974 [, º 1º cabo Duarte Dias Fortunato, foto à direita]: nesta operação, debaixo de fogo na emboscada que sofremos [, no subsetor de Piche, perto da fronteira,quando íamos flagelar Foulamory, na região de Boké] eu próprio tomei a iniciativa de “ordenar”, ao pelotão [, Pel Art,]  de Sare Bacar, para desengatar um obus 14,0 cm e responder ao fogo IN, que estava a ser intenso.



Guiné > Região de Gabu > Carta de Piche (1957) > 1/50 mil > Detalhes > Percurso Piche > Amedalai > Sagoia > R Sagoia > R Cimongru > R Nhamprubana. A sudeste dwe Piche ficava a base do PAIGC, Foulamory,na região de Boké, ao alcance, a partir da fronteira, da artilharia portuguesa (peça 11.4 e obus 14).

Infografia: Blogue Luís Graça % Camaradas da Guiné (2019)



Eu estava sob as ordens do Capitão Osório, homem da artilharia, já falecido. No relatório desta operação está referido a forma elevada como o pessoal da Artilharia participou na resposta ao fogo IN.

O tempo vai correndo inexoravelmente. Estamos em abril de 1971, já com a comissão quase a chegar ao fim. Por vezes vagueei por Bissau na compra de alguns objetos para fazer embarcar num navio com destino a Lisboa.

Num desses dias, acompanhado pelo Furriel Franco, vagueávamos pelas ruelas transversais à avenida onde se situava o hospital civil [, hoje Hospital Nacional Simão Mendes]. Entrámos numa pequena loja, com uma montra muito pequena, onde estavam expostas uma camisas azuis com um monograma interessante.

Entro na loja,  secundado pelo Furriel Franco, e dirijo-me ao balcão onde estão dois “negros”.  De repente sinto-me abraçado por um deles e o peito a apertar. Não percebia o que se passava, mas a primeira impressão era o de estar a ser alvo de agressão.

Passado o sufoco e o outro negro olhando impávido e sereno para mim, recupero o fôlego e sinto que o abraço forte afinal tinha aspeto fraternal. Mas se aquilo é um abraço...

Olho para a cara do “negro” e não podia acreditar... Quem era aquele negro que assim me abraçava? Nem mais: 


- O Eusébio de Fulacunda!!!... (*)

Aquele “negro” reconhecendo-me, estava com aquele abraço a agradecer o pouco que eu, uns meses antes, lhe tinha feito naquele final do mês de setembro de 1969.

Para mim, tinha sido pouco o que lhe fizera. Mas para ele terá representado o reconhecimento de que era um ser humano como qualquer outro. Daí, aquele abraço que eu senti ter a força do Universo. Não é a cor da pele que diferencia os homens.

Onde quer que estejas, Eusébio, nunca me esquecerei de ti nem daquele abraço.

Para finalizar o meu texto. Não posso nem devo esquecer os mortos e os estropiados que as guerras sempre provocam. Elas podem ter um início, mas nunca sabemos quando terminam. Será que a nossa já terminou?

Domingos Robalo

Furriel de Artilharia, 

nº 192618/68

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de novembro de 2019 
Guiné 61/74 - P20313: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VIII: Fulacunda, usos e costumes... Lembro-me pelo menos de uma menina que foi a Bissau ao "fanado", e não voltou... Não havia, na época, preocupação de maior com a Mutilação Genital Feminina, por parte das autoridades. civis e militares


Vd. postes anteriores:

25 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20274: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VII: Em Fulacunda, também havia milagres...

20 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20260: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte VI: Eusébio, um preso que eu mandei tratar com dignidade e que me vai ficar reconhecido

12 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20232: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte V: Rumo a Fulacunda, com o 22º Pel Art, passando por Bolama, e com batismo de fogo

9 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20222: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte IV: Depois de 4 meses a dar formação de artilharia de campanha, a graduados de pelotões de morteiro, sou colocado em Fulacunda, a comandar o 22º Pel Art

5 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20206: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte III: recebido em Bissau, pelos camaradas do BAC 1, de braços abertos, na noite de 12/5/1969

3 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20202: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1

26 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20178: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte I: Apurado para todo o serviço militar


(**) Vd.poste de  23 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3926: Efemérides (17): Piche, 22 de Fevereiro de 1971 ou... Carnaval, nunca mais! (Helder Sousa)

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20273: O Spínola que eu conheci (34): um testemunho, de um ex-combatente, Ângelo Ribau Teixeira (Angola, 1962/64), que mostra não ter sido inspiração de circunstância o conceito de “Por uma Guiné Melhor” que o meu saudoso Comandante-Chefe materializou na Guiné anos mais tarde (1968) (Morais da Silva, cor art ref, cmdt da CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)


Capa do livro de Ângelo Ribau Teixeira, natural da Gafanha da Nazaré , Ílhavo,onde nasceu 1937,  fur mil op esp, CCE 306 / BCAÇ 357 (Angola, 1962/64), "Retalhos das memórias de um ex-combatente", presumivelmente edição de autor (2009, 167 pp.). 
Cortesia de Morais da Silva




1. Mensagem, com data de ontem,  do cor art ref António Carlos Morais da Silva , instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972, e que também conheceu o TO de Angola:


Assunto - Por uma Guiné Melhor

Bom dia

Tenho estado a ler o que este 2º sargento miliciano vivenciou em Angola nos primeiros tempos da guerra (1962) e encontrei este pedaço de prosa [, que a seguir se transcreve[

É mais um testemunho, de 1962,  que mostra não ter sido inspiração de circunstância o conceito de “Por uma Guiné Melhor” que o meu saudoso Comandante-Chefe materializou na Guiné anos mais tarde (1968). Há muito que ele sabia que respeitar as diferentes etnias e dar espaço à colaboração da administração com as autoridades tradicionais era o caminho fundamental para reduzir/anular o apoio da POP à guerrilha.

Interessante para o blogue?

Abraço

Morais Silva


(...) 10. HOMEM DO MONÓCULO

O homem de que vos falo chama-se António Spínola. Era, salvo o erro, Comandante do Sector em São Salvador, com o posto de tenente-coronel. Pessoa reservada, parecia estar sempre com cara de mau. Amigo dos seus soldados como poucos. Dava o exemplo seguindo sempre na frente das colunas, quer fosse motorizadas ou apeadas!

Uma vez tive a sorte de me cruzar com ele. Ele soube do acidente que tinha vitimado os nossos companheiros. Através das comunicações que havia entre as Unidades, sabia que nesse dia iríamos deslocar-nos a São Salvador. Esperava-nos à entrada da cidade, passeando de um lado para o outro, farda amarela vestida, a boina preta de cavalaria com as duas espadas cruzadas, o pingalim batendo na perneira das calças, e o indispensável monóculo. Parecia nervoso. A minha viatura era a primeira. Mandou-me parar. Parei e desci do Unimog, fazendo continência, que ele ignorou.

- Qual é o teu posto?

- Sargento miliciano!

- Quem é o Comandante deste destacamento?

- O Alferes Miliciano Miranda. Vem na segunda viatura.

Nesta altura já o Alferes se encaminhava para nós. Fez continência e perguntou ao tenente-coronel se havia problema.

- Não há problema nenhum mas sei que a vossa Companhia [, CCE 306,]  teve há dias uma chatice e queria dizer-vos que todos lamentamos o sucedido. Tem de ter paciência e fazer como nós temos feito. Só tendo as populações do nosso lado conseguirá vencer. Só a "psico" nos ajudará. Não é com tiros que ganharemos esta guerra. Informem os vossos soldados que devem respeitar os autóctones.

Soubemos, por informação dos próprios, que militares da Unidade de Spínola tinham sido castigados por faltarem ao respeito aos pretos, como eles diziam.

- E qual foi o castigo que ele vos deu? – perguntei, curioso.

- Nem imaginas! Logo que havia uma operação, e durante uma série delas, eram chamados os “voluntários à força”. E lá tínhamos de ir, mesmo que não fosse a vez do nosso pelotão. Era um grande gozo para os que ficavam no acampamento." (...)

[Excerto do livro "Retalhos das memórias de um ex-combatente", de Ângelo Ribau Teixeira, edição de autor, 2009, p. 60. O livro está reproduzido na página do AEJE - Agrupamento de Escolas José Estêvão, Aveiro]

2. Comentário do editor Luís Graça:

Caro amigo e caramada Morais da Silva:

Claro que tem todo o interesse para os leitores do nosso blogue. Vou-lhe pedir que me mande, se possível, a "ficha técnica" do livro: editora, local, ano, nº páginas, etc. Se é que se trata de um livro...Pode ser uma brochura, um documento mimeografado...

Não encontro, na PorBase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, referência ao seu autor, Ângelo Ribau Teixeira, mas há académicos com este apelido, Ribau Teixeira... Será que é uma edição de autor ? Se sim, ele não terá feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (, costumam ser as editoras ou as tipografias a tratar desta tarefa)...

Inclino-me mais para um documento policopiado... que formal e tecnicamente não é um livro, mas de qualquer modo é "literatura cinzenta" , relevante para a história da guerra de África, como os textos que publicamos no blogue... Ou as nossas Histórias de Unidade.

Encontrei no portal UTW - Ultramar TerraWeb uma referência ao autor e ao batalhão, com transcrição de excertos... Mas pode ser de outra fonte (que não é citada).

Quanto ao nosso general Spínola, também meu comandante-chefe, vi-o umas três vezes, a última no início do ano novo de 1971, eu já com quase vinte meses de comissão... Estava enfiado num buraco, com um grupo de combate. a defender a ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca. Veio lá desejar-nos bom ano e saber se precisávamos de alguma coisa... Veio de heli, a nova estrada Xime-Bambadinca ainda estava em construção, obra da TECNIL.  Eu estava com o cabelo e a barba já grandes...Não me disse nada, mas um dos oficiais superiores que o acompanhavam, penso que um coronel,  fez-me o reparo...e uma discreta sugestão para ir ao barbeiro quando regressasse a Bambadinca... Bons tempos, em que éramos todos mais novos, eu ia fazer dentro de dias, a 29 de janeiro,  os 24 anos...e dias depois desta visita, caí/caímos, uma viatura GMC com 2 secções, da CCAÇ 12, numa mina anticarro no reordenamento de Nhabijões, ali perto, a 13 de janeiro de 1971...

Um alfabravo, Luís

3. Nota sobre o autor,  Ângelo Ribau Teixeira (1937-2012)

 O Morais da Silva mandou-me, em formato pdf, uma cópia do livro ou documento em questão: na ficha técnica, há apenas referência ao título "Retalhos das memórias de um ex-combatente" e ao autor: Ângelo Ribau Teixeira, de que se publica, a seguir,  uma foto e uma nota curricular.

O autor, nascido em 1937, na Gafanha da Nazaré, Ílhavo (e, infelizmente,  já falecido em 2012),   foi fur mil op esp., pertenceu à CCE 306, um das companhias de quadrícula do BCAÇ 357 (Norte de Angola, 12/5/1962 - 22/6/1964). Não há menção a editora ou tipografia nem ao ano de edição. O livro ou documento (ou melhor o ficheiro em pdf) tem 167 páginas numeradas, e ilustradas com várias fotos.

Pormenor biográfico  curioso mas revelador do tremendo sacrifício desta 1º geração de combatentes que foi chamado para ir para Angola, "rapidamente e em força": o autor foi para a tropa em 1958 e passou à peluda, seis anos depois, em 1964, a escassos meses de fazer 27 anos... Pela leitura, na vertical, que fiz ao livro, fico com a ideia que o Ângelo Ribau Teixeira, oriundo do meio rural, terá estudado num seminário diocesano ou de algum instituto religioso... Percebe-se sobretudo pelos seus diálogos com o capelão, Arnaldo, e pelas citações bíblicas. Por outro lado, quando partiu para Angola, no T/T Quanza, era já casado, deixava a mulher com um filho na mão e outro na barriga.

Há um índice com mais de 30 pequenos capítulos, alguns muito pequenos. O que acima reproduzimos é o "10. O homem do monóculo", e corresponde à página 60.

Um dos seus companheiros de armas, do seu pelotão (o 3º), J. Eduardo Tendeiro, assinou um curto prefácio (p. 6). Local e data: Covilhão, outubro de 2009. Presume-se que o livro seja uma edição de autor, e tenha saído nesse ano,  2009.





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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19091: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 68 e 69: "O meu negócio: Só no mês passado vendi 30 garrafas de uísque, 35 volumes de tabaco e 12 isqueiros Ronson". (...) "Veio cá o general Bettencourt Rodrigues. Formamos todos na parada mas senti-me mal e fui autorizado a ir para a cama. Não vi o Governador da Guiné”.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  O Dino, de sentinela. "O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar slides. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol."


Foto: © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome daPátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à direita] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade no âmbito do programa Novas Oportunidades; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(v) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vi) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(vii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(viii) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(ix) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(x) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xi) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xii) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xiii) começa a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xiv) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. cap.º 34.º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xv) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xvi) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xvi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xvii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia
(obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xviii) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele;

(xix) vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xx) vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné;

(xxi) grande ataque, em 7/1/1974, ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r, resultandodanos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.

(xxii) faltam 5 meses para acabar a comissão... e há mais uma "crise" nas relações com a namorada;

(xxiii) em fevereiro de 1974, comunci à namorada que tem, já algum tempo, um pequeno negóco: vendo uísque,  tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson, ettc.


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 68 e 69

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ] 


68º Capítulo  > É DO SECTOR DE BIANGA

A foto que está na página [, acima,] tem uma história interessante. Foi extraída do primeiro slide que me tiraram. Na carta eu faço o apontamento, está a minha última referência a um ato bélico.

“Meu amor. hoje tenho uma novidade para te dar. O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar slides. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol.

Quando estava em cima da torre ouvi o barulho das saídas das bombas de ataque ao quartel e gritei para fugirem. deitei-me lá em cima atrás da beirada, mas as bombas caíram fora do quartel. O capitão berrou par eu espreitar e ver de onde vinha o fogo e eu mais à sorte do que ver mesmo, disse que era de Bianga. Ele disse ao capitão dos obuses, mandaram para lá meia dúzia de bombas e calaram-se logo. Foi à sorte mas decerto acertei.

Tem uma metralhadora anti-aérea lá na torre mas eu nem sei disparar com ela por isso escondi-me”.


Os slides ficaram bem e, por incrível que esta história lhes possa parecer, continuamos a seguir ao ataque a tirar o resto dos slides. Ninguém se preocupava muito com o que pudesse acontecer.

69º Capítulo  > O NEGÓCIO

Só me referi ao meu negócio precisamente em Fevereiro de 74.
“Quero informar-te que montei aqui já há algum tempo, um pequeno negócio. Vendo whisky, tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson etc. Só hoje vieram treze contos e quinhentos de coisas para mim. Devo ter um lucro aproximado de dois contos e quinhentos. Quando for quero comprar-te um anel de noivado em ouro branco com uma pérola que seja bonito para te oferecer.

Quem me fornece é o 1º sargento que conheci em Bissau pelo Natal é a primeira pessoa que confia em mim mesmo sem eu pagar adiantado. Só no mês passado vendi, 30 garrafas de whisky, 35 volumes de tabaco e 12 isqueiros iguais a esse que enviei para o teu pai. Também vendo serviços de café chineses que se vê uma chinesa no fundo da chávena mandei-te um. Vais ter um marido que embora gaste, também sabe ganhar. Com este negócio, vou adquirindo experiencia noutras áreas. Já fumei dois ou três cigarros mas começo logo a tossir”

Fumei depois mais 42 anos. Deixei o vício graças à minha neta.

"Acho que vem cá o governador temos de ter isto tudo impecável”.

Foi talvez a visita mais caricata que algum governador fez a Fulacunda, a visita do General António Spínola.

Dois governadores visitaram-nos, durante o comando do capitão miliciano mais exigente na disciplina que provavelmente existiu na Guiné, e digo miliciano porque normalmente os militares de carreira ou “Os Xicos”, como nós lhe chamávamos, é que eram exigentes na disciplina. O meu capitão meteu completamente o pé na poça.

Decidi juntar num só texto as visitas de dois governadores porque não tenho grande coisa escrita. Apenas isto sobre Spínola, que nos visitou no início de Dezembro.

“Afinal não valeu muito o capitão avisar que talvez viesse aqui o governador e comandante da Guiné o general António Spínola e para nós andarmos sempre apresentáveis. Ele apareceu aqui sem ninguém contar e um condutor ao ver que de repente chegou um Helicóptero à pista foi para lá o mais rápido possível num Unimog sem bancos e em tronco nu. O Spínola entrou pelo quartel dentro em pé em cima do Unimog. Que bronca.

Já viste bem que nem segurança se fez? E se o matavam aqui?

Fiquei desiludido com ele”.


Quanto ao General Bettencourt Rodrigues:

“Formamos todos na parada mas senti-me mal e fui autorizado a ir para a cama. Não vi o Governador da Guiné”

Honestamente, não sei porque me referi a ter ficado desiludido com Spínola, nem se, com Bettencourt Rodrigues foi algum truque para sair da formatura, pois não a escrevi.

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Nota do editor:

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18918: O Spínola que eu conheci (33): Três histórias da Spinolândia (António Ramalho, ex-fur mil cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)



Guiné > Região do Cacheu > CCAC 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71) > Destacamento de Pete > 9/11/1970 > Visita do general Spínola no dia seguinte ao ataque ao destacamento. À sua direita, o comandante do BCAV 2862 (Bula, 1969/70), ten cor Carlos José Machado Alves Morgado, o ten cor cav Morgado, nosso conhecido da Op Ostra Amarga (que aparece no fim do filme da ORTF com Spínola e Almeida Bruno; será cmdt da Academia Militar, em 1980/81; é general na reforma). (*)

Foto (e legenda): © Victor Garcia (2009) . Todos os direitos reservados (Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné)



1. Mensagem de António Ramalhox-fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, membro da Tabanca Grande, com o nº 757:


Data: 11 de agosto de 2018 às 18:32

Assunto: Recordar é viver!

Caro Luís boa tarde.

Cada dia que vou ao blogue mais me enriquece e aviva a minha memória, todos os conteúdos são extraordinários!

Excelente périplo pelas ruas de Bissau do camarada Carlos Pinheiro (**), alguns nomes, locais e empresas que nos marcaram, todavia há uma que não foi referida - A.M. Correia de Paiva - nosso cliente, importador de largas toneladas de frangos para as tropas!

Ruas à noite, atapetadas com milhares de cascas d'ostra! No Pelicano tomei a primeira refeição aquando da minha chegada à Guiné.

Na Meta foi interdita a minha entrada por ir fardado, nunca mais lá fui!...

Não fui grande frequentador do QG (Biafra), tinha alojamento (permanente) em Engenharia!

O circuito nocturno geralmente terminava no Chez Toi sem antes passarmos pela Messe de Sargentos da Força Aérea!

Um dado curioso, as girls estavam em comissão como nós, só que eram rendidas com menos espaço e com muito menos gente a despedir-se ou a recebe-las no cais ou no aeroporto, obviamente!...

Relembrei-me de três histórias com o nosso ex-camarada gen António de Spínola, duas deleas presenciei-as, a primeira foi-me contada pela protagonista (***).

Vamos à primeira:

O nosso General teve um pequeno acidente com o seu monóculo, enviou o seu impedido a um oculista da cidade, cuja empregada era familiar do proprietário, natural duma aldeia perto da minha.

Avisado depois de reparado o monóculo,  foi ele mesmo levantá-lo com aquele seu ar austero, de camuflado engomado, sempre simpático para com as populações.

No acto da entrega pergunta-lhe a empregada:
- Senhor Governador, quer que embrulhe ou leva-o no olho?
- Menina, dê cá o monóculo, no olho levam vocês!...

A rapariga desmanchou-se a rir quando nos contou!

Segunda.

Aquando da minha estadia em Capunga, vejo chegar um jipe com o nosso general a bordo, chamei imediatamente o furriel mais velho que estava jogando à bola.

A seguir às formalidades e cumprimentos da praxe, pergunta-lhe o nosso general:
- Você é que é o nosso alferes?
- Não, não sou, meu general, o nosso alferes foi buscar água a Bula.
- Pois olhe, você tem muito mais cara de alferes do que muitos que para aí há!... Transmita-lhe que eu vim cá ver o andamento do reordenamento em Capunga.

Comentários do Alferes à visita inesperada:
- Caraças... Não me avisaram! 

Terceira

Aquando da minha estadia em Bissum, fomos visitados mais uma vez pelo nosso general tendo como companhia um governante brasileiro, na ocasião!

Depois da visita à população também decidiram visitar o aquartelamento. De passagem pela padaria o nosso cabo ofereceu-lhe pão quentinho, acabado de sair do forno.

Depois de o apreciar, manifestou-se encantado pela qualidade:
- Que belo pão, rapaz, parabéns!
- Meu general, se cá voltar amanhã ainda estará melhor!
- Adeus, rapaz, então até amanhã!

Até hoje...

Haverá mais histórias que o tempo nos irá avivar! Aguardo por um almocinho em Algés [, na Tabanca da Linha].

Um forte abraço para ti, extensivo a toda a camaradagem da Spinolandia, Guiné!

António Fernando Rouqueiro Ramalho
______________

(***) Último poste da série > 11 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15236: O Spínola que eu conheci (32): A primeira vez que comi caviar, foi com ele, em Bambadinca (Jaime Machado); um militar que eu admirava (João Alberto Coelho); em Antotinha, formámos o pelotão e batemos-lhe a pala no campo de futebol, em tronco nu: estávamos a jogar à bola, quando chegou de heli (Carlos Sousa)

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16768: (De)Caras (53): O Amaro dos Santos [1944-2014] que eu conheci (António J. Pereira da Costa, cor art ref)


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74), "Os Unidos de Mampatá"  > Maio de 1974 > Um bigrupo do PAIGC, a caminho de um encontro (desta vez, pacífico) com o pessoal aquartelado em Mampatá.

Do outro lado do Rio Corubal, já na região de Bafatá, no setor L1 (Bambadinca), no subsetor do Xime, três anos e meio antes, em 26 de novembro de 1970, por volta das 8h50, no decorrer da Op Abencerragem Candente, a CART 2715 e a CCAÇ 12 sofreram uma violenta emboscada, de que resultaram 6 mortos e 9 feridos graves entre as NT.

Quinze dias depois, Spínola (e os seus "inspetores") visita o aquartelamento do Xime (CART 2715) e tece duras críticas ao comando do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72). Na altura o BART 2917 estava a ser alvo de uma inspeção, que se prolongou de 16 de novembro a 19 de dezembro de 1970.

Foto: © José Manuel Lopes (Josema) (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada (alcatroada) Bambadinca - Xime > Chegada ao Xime, em 9 de março de 1974, da CCAÇ 3491 (Dulombi, 1971/74), para embarque em LDG a caminho de Bissau. A esta companhia pertencia o nosso camarada Luís Dias. O Xime era a grande porta de entrada na zona leste...Até ao fim da guerra, o PAIGC manteve, com as NT, um braço de ferro neste subsetor, matendo pressão sobre o Xime e a navegação no Rio Geba Estreito (Xime-Bambadinca). A construção da nova estrada alcatroada Xime-Bambadinca reforçou a importância estratégica desta antiga sede de regulado e posto administrativo...

Foto: © Luís Dias (2008). Todos os direitos reservados. [[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de António José Pereira da Costa 



[António José Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art , CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt , CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74; tem mais de 110 referências no nosso blogue]


Data: 27 de novembro de 2016 às 19:43
Assunto: Uma Foto do Amaro dos Santos


Fui camarada do Amaro dos Santos [, que foi o primeiro comandante da CART 2715, Xime, até à data da sua evacuação, para o HM 241, em 1/1/1971] (*)

Aqui vai a única foto [, de baixíssima resolução,] que me foi possível fazer dele. Foi no dia em que entrei na artilharia, estava ele no 3.º ano e eu no 2.º

Depois encontrei-o na BAC 1,  em Bissau,  em janeiro de 68, quando ele regressava à "Metrópole".

Perguntamos-lhe como era a guerra e a resposta dele foi marcante:
- Eh,  pá,  a guerra,  pá...

E parou à procura das palavras. E não foi capaz de, subalterno a subalterno, dar-nos uma ideia clara do que se passava. E tinha razão.

Depois estivemos juntos no Grupo de Artilharia da Brigada de Stª Margarida (em Leiria).

Nunca falámos dos seus traumas do Xime nem me apercebi que tivesse quaisquer problemas psíquicos.

Um Ab.
TZ

2. Comentário do editor:

Penso que nunca mais voltei a encontrar o Amaro dos Santos, no Xime ou em Bambadinca, depois daquele fatídico dia 26/11/1970. E nunca mais voltei a cruzar-me com ela na vida. Falámos apenas ao telefone, uma meia dúzia de vezes, entre fevereiro e junho de 2012, dois anos antes da sua morte, ocorrida em 28/2/2014.

Nunca o vi sequer à civil, tinha de  Bambadinca e do Xime uma vaga ideia da sua fisionomia. E não esquecerei mais o dia em que ele teve, em Bambadinca, uma discussão com o 2º cmdt do BART 2917,  que o perturbou imensamente e que afetou o moral  de  todos nós... Não ouvi nem assisti a essa discussão, mas chegaram-me ecos, através dos alferes que frequentavam a messe de oficiais. Julgo que essa discussão foi em público. Alegadamente o 2º cmdt tê-lo-à ameçado nos seguiintes termos:"O nosso capitão  Amaro dos Santos vai e torna a ir [à Ponta do Inglês] nem que seja amarrado a uma GMC!"...

Lembro-me, isso, sim,  de ver o Amaro dos Santos, completamente transtornado a entrar na messe de sargentos (que era contígua à nmesse de oficiais), com a malta pronta a sentar-se, e ele lançar um salto de felino sobre as garrafas de vinho que estavam alinhadas para a refeição (, deve ter sido à hora do almoço!)...

Há imagens que não se apagam... Imagine-se o efeito devastador que cenas como esta tinham sobre o moral do pessoal... E, sem o sabermos, tinha acabado de decorrer, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde, a invasão de Conacri, na qual participaram os nossos "vizinhos", formados em Fá Mandinga, a 1ª CCmds Africanos... Estávamos todos em "alerta máxima" sem saber a razão... E o subsetor do Xime era "pressuposto" estar desfalcado, em termos de efetivos do PAIGC...

O motivo das mensagens que ele me enviou (e dos telefonemas que eu  lhe fiz, por  minha iniciativa) foi a publicação, no nosso  blogue, de um despacho do Com-chefe,  de 7/1/1971, relativo à visita de inspeção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e às suas subunidades. O documento,  de 12 páginas, incluía uma parte relativa á visita de inspeção do Xime [pp. 5/7], realizada em 12/12/1970, mais de duas semanas depois da Op Abencerragem Candente. Essa inspeção estava a decorrer desde 16 de novembro de 1970...

O Amaro dos Santos pediu-me (e depois exigiu-me, na defesa do seu bom nome e honra) que eu retirasse o poste relativo ao Xime e ao seu comandante, e que omitisse o seu nome em todos os postes. Reagia, assim, "a quente", em 2012, dois anos depois da  publicação desse  despacho (em maio de 2010) (!!!)...

Acabei por retirar esse poste, a título excecional, por entender que estava a agravar o seu sofrimento psíquico. Mas este excerto tem, hoje,  interesse documental, historiográfico, para os amigos e camaradas da Guiné.  e para compreensão da situação operacional do setor L1, nessa época.  Acabámos por repor, em linha, esse poste,

Relendo-o,  sem paixão,  com serenidade, parece-nos  que não viola as nossas regras editoriais. De resto, o documento não fala em nomes mas sim em cargos: o comando do batalhão (BART 2917(, o comandante da companhia (CART 2714, CART 2715)...

Em suma, não posso, hoje, privar os nossos leitores de terem conhecimento do seu conteúdo (que nos chegou às mãos através do Benjamim Durães e do Jorge Cabral). E espero que ninguém mais se sinta eventualmente injustiçado pelas críticas feitas pelos inspetores de Spínola... Entretanto, passaram-se 46 anos, e estes factos pertencem à história e são do domínio público....

O poste P6335 [e não P9335, como era referido pelo Amaro dos Santos, nas mensagens que me enviou], esse, sempre esteve "on line" e é relativo à visita de inspeção a Mansambo [CART 2714] (**), bem, como aos destacamentos de Afiá e Candamá, visita essa realizada em 18/11/1970, portanto, uma semana antes da Op Abencerragem Candente.

 O poste da polémica era o P6368 [11 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6368: O Spínola que eu conheci (20): "Erros graves cometidos do ponto de vista de segurança explicam o êxito da emboscada do IN, em 26/11/1970, na região Xime-Ponta do Inglês" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)].

O poste P6368 foi o único desta série que foi retirado do blogue, em vida do cor art ref Vitor Manuel Amaro dos Santos... [Será reposto em 26/11/2019, por ocasião do 49º aniversário da Op Abencerragem Candente]..  Nesta data, 26/11/2016, reproduzimos o essencial do seu conteúdo, para ficarmos então com o conhecimento integral do documento do Com-Chefe...E convidamos os nossos leitores a fazer a sua apreciação crítica.

Como se percebe, o teor do despacho dá, compreensivelmente, um grande destaque aos erros de planeamento e de comando que levaramr  ao desastre de 26/11/1970.  Faz críticas duras ao comando do BART 2917 mas também não poupa elogios a oficiais subalternos, como o comandante do destacamanto do Enxalé (*).

A visita de inspeção ao Xime faz-se a 12/12/1970, quando o Amaro dos Santos ainda era, formalmente, o cmdt da CART 2715. Tinha acabado de fazer 26 anos, em 18/11/1970. Só será evacuado, por razões de saúde, em 1/1/1971 (primeiro para o HM 241, em Bissau, e depois para a Metrópole).  

Claro que o despacho sobre o Xime é cruel: ninguém (Spínola e os seus inspetores) se apercebe e dá importância ao sofrimento de um comandante operacional que, antes de ser militar, é um homem.

O Amaro dos Santos sentiu-se, mais do que visado, vexado, conforme se deduz das mensagens que me mandou por telemóvel, desenvolvendo a partir daí um complexo persecutório. Repare-se na data das suas mensagens e no seu teor:





Ele, coitado, já não está cá para se "defender" ou "justificar" ou"acrescentar" o que quer que seja... mas também, em 2012, me pareceu emocionalmente muito perturbado para podermos prosseguir um diálogo construtivo baseado nas nossas experiências e memórias...  Recordámos, mesmo assim,  esses tempos, reconstituímos pormenores da emboscada, falámos do blogue, que ele seguia, etc.

Em conclusão, fomos também duas vítimas daquela emboscada. O fatídico dia 26/11/1970 continua a perseguir-me ao fim destes anos todos, como perseguiu o resto da vida do Amaro dos Santos...

Do Amaro dos Santos, só posso dizer que  em combate teve um comportamento heróico. Em contrapartida, como  camarada que "da lei da morte já se libertou",   só posso desejar lhe que descanse finalmente em paz. Creio que ele era crente e encontrou na fé algum conforto em vida. Por fim, a sua memória é honrada, por todos nós, aos olhos de todos nós, incluindo a sua família, filhos e netos, e os seus antigos camaradas da CART 2715 e do BART 2917, com a sua integração, a título póstumo, na lista dos membros da Tabanca Grande




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > Vista aérea (parcial) da tabanca do Xime, onde estava sediada uma unidade de quadrícula...  Entre maio de 1970 e março de 1972, era a CART 2715 / BART 2917, comandada até ao fim do ano de 1970 pelo cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), suibstituído temporariamente pelo alf mil José Fernando de Andrade Rodrigues, açoriano (1947-2014), também nosso grã-tabanqueiro,  nº 671,  a título póstumo.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Excerto do despacho do Com-Chefe, de 7/1/1971, relativo à visita de inspeção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), um documento de 12 páginas (**)

(...) 7. Visita a Xime em 12dez70 

 [pp. 5/8] [os parênteses retos são da responsabilidade do editor]

- A impressão colhida na inspecção à Companhia do Xime foi má.

- O Comandante da Companhia revelou uma muito precária preparação táctica par conduzir a sua subunidade no mato, nomeadamente no que toca a noções elementares de segurança.


Com base na descrição que me foi feita da acção realizada em 26 de Novembro na região Xime-Ponta do Inglês [, Op Abencerragem Candente] , conclui que o êxito da emboscada do IN se deve fundamentalmente a erros graves cometidos pelos Comandos de Batalhão e Companhia, do ponto de vista de segurança. Ao primeiro por ter marcado um itinerário a percorrer numa operação tirando iniciativa ao Comandante da Companhia, e ao segundo por não se ter deslocado em adequado dispositivo.


É evidente que uma força que se desloca no mato por uma picada [, a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês,] constitui um objectivo altamente vulnerável para uma emboscada.


Encontrei a Companhia com fraco moral em consequência das baixas sofridas (***), e não encontrei por parte dos Comandos a determinação de cumprir a missão cometida às forças emboscadas. Uma emboscada é um incidente e não pode nunca constituir motivo impeditivo do cumprimento de uma missão.


O Comando do Batalhão deveria ter imediatamente, com reforço ou não, providenciado no sentido de no mais curto prazo de tempo ter sido reconhecida a região de Ponta do Inglês (objectivo da operação).


- O Comando da Companhia desconhecia a quem competia a responsabilidade da área do Destacamento do Enxalé durante o espaço de tempo em que aquele Destacamento esteve temporariamente dependente do CC [Comando da Companhia ?]; assim como também não teve conhecimento da altura em que cessou aquela responsabilidade.


É incompreensível tal situação.


- O Comandante de Companhia queixou-se que passam barcos de noite no Xime sem que este tenha conhecimento, o que dificulta o cumprimento da sua missão. Este problema deveria já ter sido coordenado pelo Comandante de Batalhão, ou posto superiormente.


- Não tem sido respeitada a orgânica das subunidades.


A Companhia do Xime foi reforçada com 1 Grupo de Combate de Mansambo [,CART 2714,] que foi desmembrado ficando o seu Comandante no Xime a comandar uma secção, e tendo sido destacadas para o Enxalé duas Secções. Essa solução carece de lógica e afecta os laços orgânicos.



- Há que averiguar as condições em que está a ser pago, com carácter permanente, pessoal nativo destinado a “picagem”, pois não é permitida a utilização de pessoal nativo a título permanente (O Tenente-Coronel Robin esclarecerá este assunto).

- A tabanca de Xime não tem chefe. O Comandante do Batalhão já devia ter levantado este problema junto da Administração.


- Verificou-se que a Companhia não emprega minas e armadilhas, especialmente em zonas onde não há população, o que não tem justificação, face à carência de meios disponíveis.

- A população da tabanca [do Xime] encontra-se completamente entregue a si própria, desconhecendo o que terá de fazer em caso de ataque e apresentando as suas armas em estado manifestamente precário de limpeza, nem tão pouco as sabendo utilizar. Não há qualquer plano de defesa da tabanca.


- O Comandante da Companhia desconhecia o plano de tráfego de canoas no Rio Geba, o que é inadmissível. Como é possível controlar o tráfego quando se desconhecem os respectivos condicionamentos (zonas amarela, azul e vermelha) ?


- O plano de defesa do Xime necessita de ser elaborado em novas bases, em ordem a englobar a defesa da tabanca.


- Não está a ser tirado rendimento da mobilidade da Artilharia [, 20º Pel Art / GAC 7,] que se deve deslocar por entrada para apoiar operações nas zonas nevrálgicas.


-Os abrigos da defesa encontram-se concentradas em determinadas zonas em detrimento de defesa global do quartel e tabanca.


- Não está a ser tirado rendimento da metralhadora Breda que se encontra mal localizada.


- Na missão atribuída à Companhia refere-se que deve colaborar na defesa de Bambadinca. Como ? 

_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 26 de novembro de  2016 >  Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1946-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...

(**) Vd. poste de 7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6335: O Spínola que eu conheci (19): "Fiquei francamente mal impressionado com a visita à Companhia sediada em Mansambo" (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

Vd. também os restantes postes:

23 de maio de  2010 > Guiné 63/74 - P6455: O Spínola que eu conheci (22): Conclusão da visita de inspecção ao BART 2917 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luis Graça)
15 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6396: O Spínola que eu conheci (21): Fiquei com óptima impressão do subalterno Comandante do Destacamento do Enxalé (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) Companhias de quadrícula do BART 2917 (maio de 1970/março de 1972) (comandado pelo ten cor art Domingos Magalhães Filipe e depois pelo ten cor inf João Polidoro Monteiro):.

(i) CART 2714, sita em Mansambo (cmdt: cap art José Manuel da Silva Agordela):

(i) CART 2715, sita no Xime (cmmdts: cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos, alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues, cap art Gualberto Magno Passos Marques, cap inf Artur Bernardino Fontes Monteiro, cap inf José Domingos Ferros de Azevedo)

(iii) CART 2716, sita no Xitole (cmdt: cap mil art Francisco Manuel Espinha de Almeida)


(***) Desta emboscada resultaram 6 mortos (uma secção inteira, massacrada) e 9 feridos graves... Os mortos foram o guia e picador da CCS / BART 2917, Seco Camará (, natural e residente no Xime, mandinga); e, da CART 2715, o Fur Mil Joaquim de Araújo Cunha, 1º Cabo José Manuel Ribeiro, o Sold Fernando Soares, o Sold Manuel da Silva Monteiro e o Sold Rufino Correia de Oliveira.


(****) Último poste da série > 16 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16726: (De)Caras (61): Um bravo do meu pelotão, o 1.º cabo apontador Manuel Lucas dos Santos: evocando aqui uma delicada escolta a uma coluna que, em 16 de maio de 1973, foi do Pelundo a Jolmete resgatar 6 cadáveres (Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73)