1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2025:
Queridos amigos,
Não escondo que saímos da Galiza de monco caído, aquela sensação que mais uns dias de vadiagem na região nos poria o astral em cima, mas levantou-nos o ânimo saber que havia uma paragem numa belíssima cidade no Alto Tâmega, Chaves, falei da presença romana e de uma ponte chamada de Trajano, como não há outra igual em Portugal, e das fortificações, porque os flavienses tiveram muito que penar, logo o Rei de Leão que quis abocanhar este território; pelas minhas contas, não vinha a Chaves há quase meio século, com que prazer fiz a sua famosa Rua Direita, toda ela cheia de história, os vestígios medievais, barrocos, as prosperidades oitocentistas e novecentistas - e o resultado da gestão autárquica em democracia. Foi tudo a correr, pretende-se chegar a Pedrógão Grande, um estirão, ainda com luz do dia. Férias magníficas, temperaturas mais do que amenas, a canícula veio na semana seguinte. E, moral da história, vimos a Lousã, o sul da Galiza e Pedrógão Grande antes da devastação dos fogos. Amarga coincidência, findámos o roteiro desta viagem junto ao monumento das vítimas do grande incêndio do Pedrógão Grande de 2017. Nem nos passava pela cabeça que outros fogos vinham a caminho, poucas semanas depois.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (227):
Do Alto Tâmega até Pedrógão Grande, acabou-se a semana de férias – 6
Mário Beja Santos
Era ponto assente que quando regressássemos do sul da Galiza havia uma paragem na cidade de Chaves, mais do que aqui amesendar os concelebrados pastéis e bom fumeiro que a região oferece tinha saudades de regressar a Aquae Flaviae, se a memória não me falha andei por aqui nos tempos em que fiz programas de televisão, isto entre as décadas de 1970 e 1980, estava mortinho de curiosidade de ver a diferença de quase meio século. E ganhei muito com a surpresa. Arrumado o carro, seguimos para a ponte romana, concluída no tempo do Imperador Trajano, entre o fim do século I e o princípio do século II d.C. Nos preparativos da viagem, folheei umas resmas de papel sobre Chaves, recordar a história faz sempre bem. Até porque há vestígios da Pré-História, a presença romana foi muito significativa, seguiram-se suevos e godos, muçulmanos, veio a Reconquista Cristã, foi um não mais parar de acontecimentos desde que a Póvoa de Chaves surgiu por iniciativa de D. Afonso III. Num livro de Paulo Dordio intitulado Chaves e as suas Fortificações andei a ver desenhos dos tempos medievais, da vila renascentista, das estruturas de fortificação e baluartes, tudo fruto da posição de Chaves, que foi muito apetecida por Leão, que se preparou para os embates da Guerra da Restauração.
Também pedi ajuda ao Google, para saber o que havia de mais significativo para admirar: a Torre de Menagem e o que resta do Castelo, há uns panos de muralha dispersos; a Igreja Matriz; não perdera a ocasião de mirar a meio da ponte os dois documentos epigráficos que falam do tributo das gentes flavienses e dos dez povos que ajudaram na sua construção; no meio daquela informação recordei as minas de volfrâmio, as águas minerais Campilho e Vidago, lembro-me perfeitamente de as ver em cafés e restaurantes; quer no Google quer na papelada lida recordava-se os Paços do Duque de Bragança, que aqui morrera e tem túmulo o primeiro Duque, D. Afonso, no Convento de S. Francisco; recordava-se também que se deveria visitar a Igreja da Misericórdia em estilo barroco, revestida de azulejos. Ponto final, começamos a atravessar a ponte de Trajano, à cautela, numa tentativa de dar a dimensão da ponte sobre o Tâmega, tirei a imagem à distância.
É uma obra notável de engenharia com cerca de 150 metros de cumprimento. Os doze arcos visíveis são de volta perfeita e formados por enormes e robustas aduelas de granito. Há pelo menos mais seis arcos soterrados pelas construções, de um lado e do outro do rio.
Um dos dois belos exemplares epigráficos vindos de outras proveniências. Recorde-se que por aqui passava a Via de Augusto.
Igreja Matriz, de raiz medieval, desse período conservou a imponente torre, rasgada por duas sineiras; tem portal românico. As transformações que ocorreram no século XVI são particularmente visíveis nos portais. O templo estava fechado, não pude contemplar os belos painéis de azulejos, ficará para a próxima.
Igreja da Misericórdia, construída no século XVII, portanto barroca. A fachada do templo granítica, antecedida de uma escadaria também de pedra, está pormenorizada e cuidadosamente decorada por pilastras e janelas. Pelo que me foi a ler, tem o interior de uma só nave, paredes inteiramente revestidas de azulejos. A fachada posterior do edifício tem a particularidade de assentar e aproveitar o paramento externo da cerca urbana medieval.
Câmara Municipal, começou por ser palacete para residência de António de Souza Pereira Coutinho, morgado de Vilar de Perdizes. Foi adquirido pela Câmara. Do seu corpo central sobressai o portal principal, ladeado por dois óculos ovalados, e no topo o frontão triangular com brasão no tímpano, encimado por relógio. Ainda fui espreitar a entrada da Câmara, a sua imponente escadaria em granito e os azulejos azuis com cenas campestres.
Há reminiscências da Chaves medieval. Reza um dos documentos que consultei que nesse tempo a população alojava-se em edifícios estreitos com dois ou três andares, onde predominavam varandas estreitas no primeiro andar e no segundo e terceiro andar varandas suspensas. As varandas avançadas para a rua eram a forma de rentabilizar o espaço intramuros. Hoje, as ruas conservam o velho aspeto medieval, exibindo da tipologia das suas casas elementos da construção dessa época. As varandas coloridas, em madeira de castanho ou pinheiro subsistem, ainda, por toda a cidade velha.
Esta é a Torre de Menagem. Mostro-vos a informação que encontrei ali perto, achei-a bem esclarecedora, é, sem margem para dúvida, de uma grande beleza este ponto de referência do que foi o Castelo de S. Estevão.
Condicionado pelo tempo, ainda calcorreámos a Rua Direita, era inevitável ver a fachada dos Paços do Duque de Bragança e o belo pelourinho. Porquê o Duque de Bragança em Chaves? Pela simples razão de que o senhorio foi doado a Nuno Álvares Pereira que o cedeu ao genro, o Conde de Barcelos, entrando assim na Casa de Bragança.
Tenho de voltar, e com alguma presteza. Esta sede de concelho, com uma área total de cerca de 591Km2, esta cidade de Chaves que é cidade desde 1929, tem monumentos nacionais relevantes, bem me apeteceu entrar na magnificente biblioteca, mas não me podia esquecer que íamos pernoitar a Pedrógão Grande, para uma outra romagem de saudade. Logo que possa, manda a curiosidade, hei de ler qualquer coisa sobre Chaves na Guerra de Restauração e como foram os combates de Chaves entre as forças de Paiva Couceiro e as do Governo Republicano.
Agora vamos amesendar e segue-se um estirão de viagem, ala morena que se faz tarde, fechei provisoriamente o livro flaviense e já começo a recordar os anos que passei em Pedrógão Grande e Pedrógão Pequeno, temos passado férias com um tempo magnífico, a canícula vem para a semana, e era impensável imaginarmos, quando fomos contemplar o monumento desenhado por Souto Moura em homenagem aos mortos do incêndio devastador de 2017 que estava para breve uma nova tempestade de fumo em 2025.
Não vou causticar o leitor repisando imagens desta região chamada Pinhal Interior, já mostrei as belezas do Cabril, uma região que fascinou o pintor Alfredo Keil, dizem que tirou elementos para a coreografia da sua ópera A Serrana, vinha acompanhado por Giuseppe Cinatti, cenógrafo do Teatro de São Carlos, por pudor não mostro as paredes incendiadas de uma casa recuperada no meio da floresta, mas não escondo o júbilo de mostrar a praia fluvial de Mosteiro, aprazível, na memória de familiares e amigos que fizerem vilegiatura em Pedrógão Grande ou Pedrógão Pequeno, a região tem belíssimas praias fluviais, esta está na memória de todos.
Antes de partirmos para Lisboa, viemos recordar os mortos daquele abominável incêndio de 2017, perto da estrada onde tanta gente morreu ergue-se uma fonte de vida, obra traçada pelo arquiteto Souto Moura, ao fundo, como se fossem lápides, estão esculpidos os nomes dos falecidos. Ensimesmados com tal tão dolorosa recordação, entramos no carro, é o regresso a Lisboa. E na conversa começamos a idealizar a próxima viagem, fala-se muito no Planalto Mirandês, há quem alvitre o início da primavera, há para ali um parque natural, de nome Montesinho, que se cobre de tapetes de flores. Porque a viagem nunca acaba, e aqui dentro do carro estão viajantes impenitentes. Até à próxima!
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Nota do editor
Último post da série de 18 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27331: Os nossos seres, saberes e lazeres (705): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (226): Em S. Estevão de Ribas de Sil, no passeio termal de Ourense – 5 (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 25 de outubro de 2025
sábado, 18 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27331: Os nossos seres, saberes e lazeres (705): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (226): Em S. Estevão de Ribas de Sil, no passeio termal de Ourense – 5 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Setembro de 2025:
Queridos amigos,
Ah! Sim, já sinto saudades de Ribeira Sacra, de Nogueira de Ramuin, lamento não ter regressado a Monforte de Lemos, que me levou no anterior passeio até Vigo. Não vou esquecer tão cedo o nome de certas localidades como Ribas de Sil, O Pereiro de Aguiar, A Teixeira, Castro Caldelas, Taboada, estas localidades onde não faltam igrejinhas românicas, belos mosteiros, matas que nos lembram sem dificuldade Sintra, campos frondosos, a ver se posso negociar para o ano as Ribas baixas , Lugo, Santiago de Compostela. Despeço-me da região contrafeito, embora sabendo que tenho outras belezas à minha espera, é o caso de Chaves e depois da romagem de saudade a Pedrógão Grande.
Abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (226):
Em S. Estevão de Ribas de Sil, no passeio termal de Ourense – 5
Mário Beja Santos
Durante a viagem no Canhão de Sil era recordado aos visitantes que todo este território tinha sido ocupado por eremitas a partir do século VI e havia um conjunto de mosteiros de grande significado à volta de Ourense. Não havendo disponibilidade para visitar os três, escolheu-se o Mosteiro e a Igreja de S. Estevão de Ribas de Sil. Começou-se pela Igreja abacial do Mosteiro, começada a construir em 1183, está aqui mesmo à nossa frente na descida, envolta por colinas escarpadas.
Este retábulo em pedra é uma obra única do românico, data do século XIII. Quando se deu a expulsão das ordens religiosas, ocultou-se o retábulo numa parede de uma galeria do claustro grande; este retábulo só foi descoberto em finais dos anos de 1950.
Nesta preciosidade escultórica vemos Jesus no centro, rodeado de S. Pedro e S. Paulo, e está lá também representado o Apóstolo Santiago.
Estamos no Mosteiro, possui uma atmosfera impressionante, foi outrora o mais importante Mosteiro da Ribeira Sacra, entre bosques de carvalhos e castanheiros. S. Estevão de Ribas de Sil é anterior ao século. O claustro grande também chamado dos Cavaleiros, é de estilo renascentista. Há também um claustro pequeno e o claustro dos Bispos, este romano-gótico.
Pormenor do Claustro dos Bispos, é o mais antigo de S. Estevão. Começou a construir-se em cerca de 1220 como espaço para exaltar a memória dos nove bispos santos. Comunica com a Igreja através de uma escadaria na face sul e de um outro acesso no claustro superior. Até há algumas décadas era cenário de procissões que agora se realizam na Igreja. O corpo inferior é românico, o superior gótico. Convém recordar que o Mosteiro entrou numa profunda decadência em finais do século XV e princípios do século XVI. O edifício albergou durante vários séculos uma escola de arte, e ficou ao abandono no século XIX. Foi declarado monumento nacional em 1923 e em 2004 abriu ao público como Parador Nacional de Turismo.
Nunca, nestas itinerâncias, se mostra o autor e quejandos, a única exceção é esta radiosa princesa, a minha neta, hoje com catorze anos, revelou-se muito interessada desde a Lousã onde lhe mostrei onde a mãe e a tia passaram férias, gostou muito de S. Pedro do Sul, rendi-me a este sorriso de quem não desdenha passar férias com o avô.
O passeio termal é a escassos quilómetros da cidade de Ourense, a característica é a sua água quente, espalha-se pelo Rio Minho entre a Ponte do Milénio e a Passarela de Outariz, foi exatamente aqui na Burga de Canedo que entregámos o corpo a água a temperatura tão aprazível. Os nomes destas termas são bem interessantes: Chavasqueira, Tinteiro, Moinho da Veiga, Fonte de Reza. Ficámos convencidos, queremos voltar.
Vamos sair da Galiza, o próximo destino é Chaves, não resisti a fotografar este belo espigueiro, dir-me-ão que há bastante parecidos em Portugal, pode ser, mas assim metido na paisagem e com aqueles tons azuis do céu e acinzentados das nuvens pareceu-me objeto sagrado, que afinal o é, acolhe os cereais da nossa boa alimentação. Até à próxima, adorada Galiza.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 11 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27308: Os nossos seres, saberes e lazeres (704): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (225): O espetacular passeio na Ribeira Sacra – 4 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Ah! Sim, já sinto saudades de Ribeira Sacra, de Nogueira de Ramuin, lamento não ter regressado a Monforte de Lemos, que me levou no anterior passeio até Vigo. Não vou esquecer tão cedo o nome de certas localidades como Ribas de Sil, O Pereiro de Aguiar, A Teixeira, Castro Caldelas, Taboada, estas localidades onde não faltam igrejinhas românicas, belos mosteiros, matas que nos lembram sem dificuldade Sintra, campos frondosos, a ver se posso negociar para o ano as Ribas baixas , Lugo, Santiago de Compostela. Despeço-me da região contrafeito, embora sabendo que tenho outras belezas à minha espera, é o caso de Chaves e depois da romagem de saudade a Pedrógão Grande.
Abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (226):
Em S. Estevão de Ribas de Sil, no passeio termal de Ourense – 5
Mário Beja Santos
Durante a viagem no Canhão de Sil era recordado aos visitantes que todo este território tinha sido ocupado por eremitas a partir do século VI e havia um conjunto de mosteiros de grande significado à volta de Ourense. Não havendo disponibilidade para visitar os três, escolheu-se o Mosteiro e a Igreja de S. Estevão de Ribas de Sil. Começou-se pela Igreja abacial do Mosteiro, começada a construir em 1183, está aqui mesmo à nossa frente na descida, envolta por colinas escarpadas.
A caminho do Mosteiro e da Igreja de S. Estevão de Ribas de Sil
Fachada do Mosteiro e da Igreja de S. Estevão de Ribas de Sil. A Igreja do Mosteiro é de três naves cobertas com abóboda de cruzeiro, dispõe de um Coro Alto construído em finais do século XVII princípios do século XVIII. Houve para aqui uns desmoronamentos na nave central do Coro, recentemente recuperada. Este Mosteiro tinha fama da observância religiosa, nove bispos escolheram-no para última morada, daí o Mosteiro conservar a sua memória no escudo através das nove mitras. Mais adiante falaremos deste claustro. Resta dizer que no século XIII os nove bispos eram venerados como santos e que no século XV os seus restos foram trasladados para o Altar Mor.Este retábulo em pedra é uma obra única do românico, data do século XIII. Quando se deu a expulsão das ordens religiosas, ocultou-se o retábulo numa parede de uma galeria do claustro grande; este retábulo só foi descoberto em finais dos anos de 1950.
Nesta preciosidade escultórica vemos Jesus no centro, rodeado de S. Pedro e S. Paulo, e está lá também representado o Apóstolo Santiago.
O belíssimo Altar Mor, e não menos assombroso tramo da abóboda que tem um óculo luminoso no centro.
Duas imagens mostram a magnificência da abóboda de cruzeiro.
A Igreja tem um bom acervo de retábulos barrocos, com exceção do retábulo do Altar Mor que é do estilo renascentista. Os outros retábulos são barrocos de diferentes épocas, dedicados a S. Bento e à virgem de Montserrat, há também retábulos dedicados a S. José e a S. Roque, veja-se aqui S. Roque expondo a ferida da perna.
Retábulo da Virgem Imaculada
Fachada do Mosteiro de S. Estevão de Ribas de Sil, estilo barroco, vemos o escudo com as nove mitras pertencente aos bispos santos.Estamos no Mosteiro, possui uma atmosfera impressionante, foi outrora o mais importante Mosteiro da Ribeira Sacra, entre bosques de carvalhos e castanheiros. S. Estevão de Ribas de Sil é anterior ao século. O claustro grande também chamado dos Cavaleiros, é de estilo renascentista. Há também um claustro pequeno e o claustro dos Bispos, este romano-gótico.
Pormenor do Claustro dos Bispos, é o mais antigo de S. Estevão. Começou a construir-se em cerca de 1220 como espaço para exaltar a memória dos nove bispos santos. Comunica com a Igreja através de uma escadaria na face sul e de um outro acesso no claustro superior. Até há algumas décadas era cenário de procissões que agora se realizam na Igreja. O corpo inferior é românico, o superior gótico. Convém recordar que o Mosteiro entrou numa profunda decadência em finais do século XV e princípios do século XVI. O edifício albergou durante vários séculos uma escola de arte, e ficou ao abandono no século XIX. Foi declarado monumento nacional em 1923 e em 2004 abriu ao público como Parador Nacional de Turismo.
Nunca, nestas itinerâncias, se mostra o autor e quejandos, a única exceção é esta radiosa princesa, a minha neta, hoje com catorze anos, revelou-se muito interessada desde a Lousã onde lhe mostrei onde a mãe e a tia passaram férias, gostou muito de S. Pedro do Sul, rendi-me a este sorriso de quem não desdenha passar férias com o avô.
O passeio termal é a escassos quilómetros da cidade de Ourense, a característica é a sua água quente, espalha-se pelo Rio Minho entre a Ponte do Milénio e a Passarela de Outariz, foi exatamente aqui na Burga de Canedo que entregámos o corpo a água a temperatura tão aprazível. Os nomes destas termas são bem interessantes: Chavasqueira, Tinteiro, Moinho da Veiga, Fonte de Reza. Ficámos convencidos, queremos voltar.
Vamos sair da Galiza, o próximo destino é Chaves, não resisti a fotografar este belo espigueiro, dir-me-ão que há bastante parecidos em Portugal, pode ser, mas assim metido na paisagem e com aqueles tons azuis do céu e acinzentados das nuvens pareceu-me objeto sagrado, que afinal o é, acolhe os cereais da nossa boa alimentação. Até à próxima, adorada Galiza.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 11 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27308: Os nossos seres, saberes e lazeres (704): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (225): O espetacular passeio na Ribeira Sacra – 4 (Mário Beja Santos)
sábado, 4 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27285: Os nossos seres, saberes e lazeres (703): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (224): O espetacular balneário romano de São Pedro do Sul - 3 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Agosto de 2025:
Queridos amigos,
Não posso encobrir a deceção sentida, esta região do Vale de Vouga merecia pelo menos mais dois dias de permanência, mas hoje o viajante não pode sair espontaneamente de casa, corre o sério risco de não encontrar dormida a preços aceitáveis, isto para justificar que é forçoso desenhar a viagem, marcando antecipadamente os locais onde se fica. Mas como diz José Saramago, a viagem nunca acaba, haja saúde para aqui se voltar ao Vale do Vouga e aos seus enormíssimos encantos. Sinto-me feliz por talvez informar potenciais viandantes destas ruínas do Balneário Romano de S. Pedro do Sul, descobri que estivera aqui em 2018, ainda se procedia a esta grande intervenção ao monumento nacional, classificado em 1938. Dentro da nossa habitual polivalência, nós que somos peritos em transformar conventos em hospitais, conservatórias, tribunais e muito mais, deu-se vida ao Balneário Romano fazendo dele escola de instrução primária. Deixa-se ao leitor mais interessado a menção de dois sites com explicações arqueológicas e fotografias de grande beleza.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (224):
O espetacular balneário romano de São Pedro do Sul - 3
Mário Beja Santos
Prometo a mim próprio que hei de voltar em breve, este Vale do Vouga tem muito para contar, saio da região sem ter contemplado o Solar dos Malafaias, a Capela de S. Martinho do Banho, não fiz a ecopista do Vouga, desde a antiga linha de caminho de ferro e percorrer as suas admiráveis pontes, nem subir à Serra da Freita, não visitei aquelas aldeias que têm centenárias Capelas de S. Macário, enfim, a gente desenha itinerários, marca lugares para dormir e descobre, com profunda deceção, que se fez uma visita de médico (salvo seja).
Apostou-se numa visita guiada às ruínas do Balneário Romano e Piscina D. Afonso Henriques, visita de truz, pela categoria do guia, Dr. Nuno Cardoso, ele tomou rapidamente conta do grupo, falou-nos do Castro do Banho, das diferentes construções do Balneário, no século I d. C., nos últimos trabalhos de requalificação, bem como em expedições anteriores, a arqueologia deixou a descoberto: moedas, cerâmicas, fíbulas, lápides epigrafadas, canalizações, piscinas, pavimentos, alicerces, paredes, etc. Este local beneficiou do foral atribuído por D. Afonso Henriques à povoação do Banho (1152), foi assim que nasceu a designação “Piscina D. Afonso Henriques”, conjunto de edificações do século XII assentes em estruturas romanas pré-existentes, o primeiro rei de Portugal frequentou aqui os banhos, estabeleceu paço real na povoação do Banho. Há igualmente vestígios arquitetónicos do período de D. Dinis e dos primeiros reis da dinastia de Avis. D. Manuel I concedeu foral novo às já então chamadas Caldas de Lafões (1515) e abonou fundos para que se convertesse o velho edifício termal em Real Hospital das Caldas de Lafões.
O que aqui estou a escrever vem mencionado no folheto que me entregaram à entrada da visita, onde também se referem as sucessivas modificações do edifício onde até não faltou a intervenção do rei D. Luís, a rainha D. Amélia também aqui realizou tratamentos. Habituados como estamos à polivalência, o Balneário também serviu de instalações para a instrução primária e depósito de materiais.
No século XX fizeram-se escavações que revelaram espólio. Conseguiu-se financiamento comunitário para concretizar a vontade de fazer da área arqueológica do Balneário Romano um monumento vivo. A maior obra cultural e patrimonial da região foi inaugurada em agosto de 2019 e é monumento nacional desde 1938.
A entrada do Balneário onde se vê claramente a integração do novo na construção antiga. É bem interessante a adequada conjugação entre a porta nova e a porta romana. O leitor tem à sua disposição na internet um trabalho explicativo sobre a cronologia do edifício, intitulado As Termas Romanas de S. Pedro do Sul – Uma Proposta de Revisão Cronológica, https://ojs.letras.up.pt/index.php/Port/article/view/13473/12161.
Deste trabalho pode-se reter a atividade arqueológica a partir do achado de colunas romanas, a descoberta de uma grande piscina exterior e de um conjunto de estruturas que se estendiam até à Capela de S. Martinho. Os autores explicam os primeiros edifícios, os achados das escavações que ocorreram entre 2017 e 2019, as sucessivas épocas romanas em que decorreram as duas primeiras construções e as alterações ocorridas até ao século XX, foi aqui instalada a escola primária com cantina em 1931, e aqui funcionou até 1954. Também os autores se referem ao achado dos alicerces da igreja pré-românica, construída nos finais do século IX – início do século X, sobre as antigas construções romanas.
É muito bela esta imagem sobre o Rio Vouga. Enquanto se fazia a visita guiada, teve-se a informação que Katerina Kabakli daria um concerto de cravo bem temperado com música barroca nas instalações do Balneário, foi um final de tarde maravilhoso. Amanhã de manhã partiremos para um determinado ponto do sul da Galiza.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 27 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27260: Os nossos seres, saberes e lazeres (702): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Não posso encobrir a deceção sentida, esta região do Vale de Vouga merecia pelo menos mais dois dias de permanência, mas hoje o viajante não pode sair espontaneamente de casa, corre o sério risco de não encontrar dormida a preços aceitáveis, isto para justificar que é forçoso desenhar a viagem, marcando antecipadamente os locais onde se fica. Mas como diz José Saramago, a viagem nunca acaba, haja saúde para aqui se voltar ao Vale do Vouga e aos seus enormíssimos encantos. Sinto-me feliz por talvez informar potenciais viandantes destas ruínas do Balneário Romano de S. Pedro do Sul, descobri que estivera aqui em 2018, ainda se procedia a esta grande intervenção ao monumento nacional, classificado em 1938. Dentro da nossa habitual polivalência, nós que somos peritos em transformar conventos em hospitais, conservatórias, tribunais e muito mais, deu-se vida ao Balneário Romano fazendo dele escola de instrução primária. Deixa-se ao leitor mais interessado a menção de dois sites com explicações arqueológicas e fotografias de grande beleza.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (224):
O espetacular balneário romano de São Pedro do Sul - 3
Mário Beja Santos
Prometo a mim próprio que hei de voltar em breve, este Vale do Vouga tem muito para contar, saio da região sem ter contemplado o Solar dos Malafaias, a Capela de S. Martinho do Banho, não fiz a ecopista do Vouga, desde a antiga linha de caminho de ferro e percorrer as suas admiráveis pontes, nem subir à Serra da Freita, não visitei aquelas aldeias que têm centenárias Capelas de S. Macário, enfim, a gente desenha itinerários, marca lugares para dormir e descobre, com profunda deceção, que se fez uma visita de médico (salvo seja).
Apostou-se numa visita guiada às ruínas do Balneário Romano e Piscina D. Afonso Henriques, visita de truz, pela categoria do guia, Dr. Nuno Cardoso, ele tomou rapidamente conta do grupo, falou-nos do Castro do Banho, das diferentes construções do Balneário, no século I d. C., nos últimos trabalhos de requalificação, bem como em expedições anteriores, a arqueologia deixou a descoberto: moedas, cerâmicas, fíbulas, lápides epigrafadas, canalizações, piscinas, pavimentos, alicerces, paredes, etc. Este local beneficiou do foral atribuído por D. Afonso Henriques à povoação do Banho (1152), foi assim que nasceu a designação “Piscina D. Afonso Henriques”, conjunto de edificações do século XII assentes em estruturas romanas pré-existentes, o primeiro rei de Portugal frequentou aqui os banhos, estabeleceu paço real na povoação do Banho. Há igualmente vestígios arquitetónicos do período de D. Dinis e dos primeiros reis da dinastia de Avis. D. Manuel I concedeu foral novo às já então chamadas Caldas de Lafões (1515) e abonou fundos para que se convertesse o velho edifício termal em Real Hospital das Caldas de Lafões.
O que aqui estou a escrever vem mencionado no folheto que me entregaram à entrada da visita, onde também se referem as sucessivas modificações do edifício onde até não faltou a intervenção do rei D. Luís, a rainha D. Amélia também aqui realizou tratamentos. Habituados como estamos à polivalência, o Balneário também serviu de instalações para a instrução primária e depósito de materiais.
No século XX fizeram-se escavações que revelaram espólio. Conseguiu-se financiamento comunitário para concretizar a vontade de fazer da área arqueológica do Balneário Romano um monumento vivo. A maior obra cultural e patrimonial da região foi inaugurada em agosto de 2019 e é monumento nacional desde 1938.
A entrada do Balneário onde se vê claramente a integração do novo na construção antiga. É bem interessante a adequada conjugação entre a porta nova e a porta romana. O leitor tem à sua disposição na internet um trabalho explicativo sobre a cronologia do edifício, intitulado As Termas Romanas de S. Pedro do Sul – Uma Proposta de Revisão Cronológica, https://ojs.letras.up.pt/index.php/Port/article/view/13473/12161.
Deste trabalho pode-se reter a atividade arqueológica a partir do achado de colunas romanas, a descoberta de uma grande piscina exterior e de um conjunto de estruturas que se estendiam até à Capela de S. Martinho. Os autores explicam os primeiros edifícios, os achados das escavações que ocorreram entre 2017 e 2019, as sucessivas épocas romanas em que decorreram as duas primeiras construções e as alterações ocorridas até ao século XX, foi aqui instalada a escola primária com cantina em 1931, e aqui funcionou até 1954. Também os autores se referem ao achado dos alicerces da igreja pré-românica, construída nos finais do século IX – início do século X, sobre as antigas construções romanas.
Resultou bem esta intervenção arqueológica do aproveitamento do que havia das velhas colunas
Piscina interior do edifício após a conclusão dos trabalhos de restauro
Inscrição romana
Uma belíssima porta medieval, vê-se ao fundo a piscina e ligações aquíferas
Pormenor da ligação a culminar na cabeça de um animal
Toda a cobertura é obra da intervenção recentemente efetuada
Outro ângulo da piscina
Vemos uma porta, mas também o traçado de uma outra que já lá esteve, todas aquelas perfurações na parede aludem a um compartimento que a recente intervenção fez desaparecer, suponho que tudo se encontraria em rápida degradação quando acabou a escola de instrução primária.Aqui se pode ver a verdadeira altura do edifício
Marcas de balneário que sofreu profundas alterações, toda aquela azulejaria é bastante recente
Em jeito de despedida, sugere-se ao leitor que pesquise o sugestivo acervo de imagens do Balneário Romano, elaborado pelo investigador João Mendes Ribeiro https://www.archdaily.com.br/br/1019797/termas-romanas-de-sao-pedro-do-sul-joao-mendes-ribeiroÉ muito bela esta imagem sobre o Rio Vouga. Enquanto se fazia a visita guiada, teve-se a informação que Katerina Kabakli daria um concerto de cravo bem temperado com música barroca nas instalações do Balneário, foi um final de tarde maravilhoso. Amanhã de manhã partiremos para um determinado ponto do sul da Galiza.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 27 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27260: Os nossos seres, saberes e lazeres (702): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2 (Mário Beja Santos)
sábado, 27 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27260: Os nossos seres, saberes e lazeres (702): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Agosto de 2025:
Queridos amigos,
A Lousã tem boas casas brasonadas, belas pedras de armas, já se visitou esta bela vila muitas vezes, foi polo industrial, fabricou bons têxteis, no seu património consta uma antiquíssima fábrica de papel. Desta vez preencheu-se uma lacuna, conhecer o Casal da Lagartixa, casa do Mestre Carlos Reis na Lousã, muito trabalhou ele aqui nos finais da década de 1910 e por toda a década de 1920, a casa está bem conservada, guarda a atmosfera do tempo, tem para mim muito mais ganharia se houvesse um espaço com boas reproduções de obras que este magnífico pintor produziu na Lousã. Com a promessa de regressar, segue-se para São Pedro do Sul, outro recanto já conhecido, mas a que se regressa de braços abertos, era enorme a curiosidade para visitar as ruínas do balneário romano que tiveram em tempos recentes obras de requalificação. Notam-se diferenças, as margens do Vouga estão ainda mais esplendentes, os caminhos melhorados. Hoje passeia-se por aqui levados pela curiosidade de ver as mudanças, e confirma-se que elas existem. Amanhã se irá visitar a preceito o balneário romano, creio que nenhum leitor ficará insensível à hipótese de poder vir conhecer ou reconhecer tão augusto lugar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223):
Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2
Mário Beja Santos
Segundo dia de viagem, neste momento já sigo bem municiado de documentação, o Dr. Vítor, da Biblioteca Municipal da Lousã, foi generoso, levo uns bons quilos de literatura histórica, aqui vim pedir autorização para visitar o Casal da Lagartixa, residência do pintor Carlos Reis, uma das figuras de topo do naturalismo português, professor da Academia das Belas Artes, diretor de dois museus nacionais e um devoto das belezas paisagísticas da Lousã. A Carlos Reis se deve o espetacular quadro intitulado A Lenda de Arunce, que se pode visitar no salão nobre dos Paços do Concelho da Lousã. O pintor envolveu-se na execução de carpetes, como conselheiro de Arte, terá um papel na execução da torre da Igreja Matriz, é dele o projeto de um coreto no que é hoje a Alameda Carlos Reis. E, inequivocamente, deu parecer à construção do que é hoje o edifício das Paços do Concelho.
Carlos Reis tinha aqui ateliê e construiu a sua casa, a que denominou por Casal da Lagartixa, a Lousã aparece em grande parte das suas obras criadas entre 1919 e 1938. Os críticos diziam que o artista era um mágico da cor, como se pode verificar nos cambiantes da paisagem lousanense.
O mestre visitou pela primeira vez a Lousã em 1913, foi idílio instantâneo. Nas primeiras visitas albergava-se nas instalações hoteleiras, no fim da década de 1920, perto do seu ateliê construiu o Casal da Lagartixa, posicionada no meio de uma encosta na freguesia de Lousã e Vilarinho. Sobre Carlos Reis e a Lousã, escreveu Maria Emília Mexia Santos:
“Nas suas longas temporadas no Casal da Lagartixa, Carlos Reis, familiarizou-se totalmente com a terra que o conquistara. Não olhava às paisagens da sua janela. Saía de casa, dispersava-se pelos campos, fixando a rudeza das árvores, o ingénuo encanto dos carros de bois. Ia até ao povo, dissecava-o, procurando nele os seus mais curiosos aspetos. Não ficou indiferente à beleza cheia de mistério da lenda sobre a fundação da Lousã e dedicou-lhe um quadro magnífico, que foi a sua última tela. Tornou-se uma figura querida da Lousã. Todos pousavam para os seus quadros de bom grado. O mestre conhecia as raparigas mais lindas, as velhinhas mais doces, os homens mais expressivos.”
Vamos então visitar o Casal da Lagartixa.
Finda por ora a visita à tão amada Lousã, caminha-se para o Vale do Vouga, o fito é permanecer em São Pedro do Sul, que tem muito que ver, a estância termal, rico património arqueológico, ponte, capelas, solares e o seu inexcedível património romano, e nas redondezas não faltam aldeias típicas, e até os Cantares de Manhouce, de uma grande riqueza etnográfica e musical.
Arruma-se a viatura e começa a deambulação, logo o Palace, uma imponência hoteleira gerida pelo INATEL, vai-se caminhando, passa-se junto da Capela de São Martinho do Banho (no passado a localidade tinha o seu nome associado a Lafões e a Banho), cuja fundação recua ao século X, arquitetura pré-românica, mais adiante estão as termas romanas, construção do século I d.C., com requalificação no século seguinte, por aqui andou o nosso primeiro Rei à procura de alívio depois da queda aparatosa em Badajoz, onde se fraturou.
Prossegue a caminhada até aos balneários termais, o novo e o mais antigo, dá-se uma olhadela ao Núcleo Museológico Velho Balneário, passa-se a ponte das termas, que já foi importante ramal viário romano, ligava a via Viseu-Porto à via Viseu-Águeda, o tabuleiro assente em seis árvores, não se mencionou desenvolvidamente as melhorias de que foram objeto as ruínas do balneário romano e piscina D. Afonso Henriques, fica para o texto seguinte.
Depositam-se os trastes num alojamento em São Pedro do Sul, a escassos quilómetros da estância termal, passeia-se à volta do Vouga, houve a sorte de fazer esta viagem antes da canícula, desfruta-se a temperatura amena e os bons ares e suspira-se pela hora de amesendar, sabe-se lá se uma vitela de Lafões…
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27234: Os nossos seres, saberes e lazeres (701): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (222): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 1 (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
A Lousã tem boas casas brasonadas, belas pedras de armas, já se visitou esta bela vila muitas vezes, foi polo industrial, fabricou bons têxteis, no seu património consta uma antiquíssima fábrica de papel. Desta vez preencheu-se uma lacuna, conhecer o Casal da Lagartixa, casa do Mestre Carlos Reis na Lousã, muito trabalhou ele aqui nos finais da década de 1910 e por toda a década de 1920, a casa está bem conservada, guarda a atmosfera do tempo, tem para mim muito mais ganharia se houvesse um espaço com boas reproduções de obras que este magnífico pintor produziu na Lousã. Com a promessa de regressar, segue-se para São Pedro do Sul, outro recanto já conhecido, mas a que se regressa de braços abertos, era enorme a curiosidade para visitar as ruínas do balneário romano que tiveram em tempos recentes obras de requalificação. Notam-se diferenças, as margens do Vouga estão ainda mais esplendentes, os caminhos melhorados. Hoje passeia-se por aqui levados pela curiosidade de ver as mudanças, e confirma-se que elas existem. Amanhã se irá visitar a preceito o balneário romano, creio que nenhum leitor ficará insensível à hipótese de poder vir conhecer ou reconhecer tão augusto lugar.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223):
Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2
Mário Beja Santos
Segundo dia de viagem, neste momento já sigo bem municiado de documentação, o Dr. Vítor, da Biblioteca Municipal da Lousã, foi generoso, levo uns bons quilos de literatura histórica, aqui vim pedir autorização para visitar o Casal da Lagartixa, residência do pintor Carlos Reis, uma das figuras de topo do naturalismo português, professor da Academia das Belas Artes, diretor de dois museus nacionais e um devoto das belezas paisagísticas da Lousã. A Carlos Reis se deve o espetacular quadro intitulado A Lenda de Arunce, que se pode visitar no salão nobre dos Paços do Concelho da Lousã. O pintor envolveu-se na execução de carpetes, como conselheiro de Arte, terá um papel na execução da torre da Igreja Matriz, é dele o projeto de um coreto no que é hoje a Alameda Carlos Reis. E, inequivocamente, deu parecer à construção do que é hoje o edifício das Paços do Concelho.
Carlos Reis tinha aqui ateliê e construiu a sua casa, a que denominou por Casal da Lagartixa, a Lousã aparece em grande parte das suas obras criadas entre 1919 e 1938. Os críticos diziam que o artista era um mágico da cor, como se pode verificar nos cambiantes da paisagem lousanense.
O mestre visitou pela primeira vez a Lousã em 1913, foi idílio instantâneo. Nas primeiras visitas albergava-se nas instalações hoteleiras, no fim da década de 1920, perto do seu ateliê construiu o Casal da Lagartixa, posicionada no meio de uma encosta na freguesia de Lousã e Vilarinho. Sobre Carlos Reis e a Lousã, escreveu Maria Emília Mexia Santos:
“Nas suas longas temporadas no Casal da Lagartixa, Carlos Reis, familiarizou-se totalmente com a terra que o conquistara. Não olhava às paisagens da sua janela. Saía de casa, dispersava-se pelos campos, fixando a rudeza das árvores, o ingénuo encanto dos carros de bois. Ia até ao povo, dissecava-o, procurando nele os seus mais curiosos aspetos. Não ficou indiferente à beleza cheia de mistério da lenda sobre a fundação da Lousã e dedicou-lhe um quadro magnífico, que foi a sua última tela. Tornou-se uma figura querida da Lousã. Todos pousavam para os seus quadros de bom grado. O mestre conhecia as raparigas mais lindas, as velhinhas mais doces, os homens mais expressivos.”
Vamos então visitar o Casal da Lagartixa.
A Lenda do Rei Arunce e da Princesa Peralta, quadro de Carlos Reis na Câmara Municipal da Lousã
Fotografia de Carlos Reis quando acabava de pintar a Lenda do Rei Arunce e da Princesa Peralta, Casal da Lagartixa, LousãAutorretrato de Carlos Reis, Casal da Lagartixa, Lousã
Sala de jantar do Casal da Lagartixa, Lousã
Azulejos com lagartixas, Casal da Lagartixa, Lousã
Exterior do Casal da Lagartixa, Lousã
Finda por ora a visita à tão amada Lousã, caminha-se para o Vale do Vouga, o fito é permanecer em São Pedro do Sul, que tem muito que ver, a estância termal, rico património arqueológico, ponte, capelas, solares e o seu inexcedível património romano, e nas redondezas não faltam aldeias típicas, e até os Cantares de Manhouce, de uma grande riqueza etnográfica e musical.
Arruma-se a viatura e começa a deambulação, logo o Palace, uma imponência hoteleira gerida pelo INATEL, vai-se caminhando, passa-se junto da Capela de São Martinho do Banho (no passado a localidade tinha o seu nome associado a Lafões e a Banho), cuja fundação recua ao século X, arquitetura pré-românica, mais adiante estão as termas romanas, construção do século I d.C., com requalificação no século seguinte, por aqui andou o nosso primeiro Rei à procura de alívio depois da queda aparatosa em Badajoz, onde se fraturou.
Prossegue a caminhada até aos balneários termais, o novo e o mais antigo, dá-se uma olhadela ao Núcleo Museológico Velho Balneário, passa-se a ponte das termas, que já foi importante ramal viário romano, ligava a via Viseu-Porto à via Viseu-Águeda, o tabuleiro assente em seis árvores, não se mencionou desenvolvidamente as melhorias de que foram objeto as ruínas do balneário romano e piscina D. Afonso Henriques, fica para o texto seguinte.
Depositam-se os trastes num alojamento em São Pedro do Sul, a escassos quilómetros da estância termal, passeia-se à volta do Vouga, houve a sorte de fazer esta viagem antes da canícula, desfruta-se a temperatura amena e os bons ares e suspira-se pela hora de amesendar, sabe-se lá se uma vitela de Lafões…
Pormenor da fachada do Palace Hotel em São Pedro do Sul
Pormenor da ala esquerda do Palace
Pormenor da sala de jantar do Palace
O rio Vouga em São Pedro do Sul, com a vetusta ponte ao fundo
Nunca me fora dado a ver uma bizarria destas em fachada de hotel, uma imponente girafa com um candeeiro na boca, tem aparato e chama a atenção, será esse o objetivo da empresaImagem antiga do que seriam os banhos em São Pedro do Sul
Imagem do Núcleo Museológico do Balneário Rainha Dona Amélia
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27234: Os nossos seres, saberes e lazeres (701): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (222): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 1 (Mário Beja Santos)
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