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sábado, 31 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22419: Os nossos seres, saberes e lazeres (462): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
Fotogramos e adiamos, muitas vezes esquecemos, até àquele momento em que recebemos um severo aviso que pululam imagens a mais, então lá vamos lestos a preparar a limpeza. E quando tudo se espalha pelo ecrã do computador, rugimos de fúria, como foi possível ter tido tais deslumbramentos e tais omissões? E destarte aqui se têm preparado itinerâncias que metem culpabilização por ter omitido, esquecido ou negligenciado material captado para partilhar. Foi o que aconteceu, no caso concreto de hoje, com a visita, ainda decorriam as obras, nos passadiços da Ribeira de Quelhas, no Coentral Grande, Castanheira de Pera, em tempos idos, antes da coluna e das artroses se negarem à empreitada, aqui se subiu e desceu a contemplar este maravilhamento natural; e porque se visita a Feira da Ladra com uma certa regularidade nos alvores das manhãs de sábado, há um outro maravilhamento que nos acicata, olhar de frente o enfiamento entre a cidade e o Tejo, com Santa Apolónia pelo meio, aposta-se mais nestas imagens de inverno puro, este equívoco entre Lisboa noturna e o esplendoroso amanhecer, entre bruma e uma ficcionada camada de gordura; e visitara-se uma exposição sobre as moranças da Guiné e restaram imagens de outros lados do Museu de História Natural e da Ciência, até mesmo uma fotografia com sorrisos muito afetuosos; e guardara-se um remanescente de imagens de uma inesquecível exposição em Tomar. Avivam-se as saudades e partilha-se com os outros o que dessas saudades ficou, num estado de imensa cordialidade.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (9)

Mário Beja Santos

Parte-se para um evento, leva-se a devida carga de curiosidade, casos há em que previamente se estuda o que se vai ver, é regular a vontade de partilhar o que se olhou e viu, aquilo que ganhou sentido e merece alguma cogitação. Será porventura o caso destas imagens em que houve, digo-o sinceramente, a determinação de as pôr em ordem e mostrá-las aqui, o diabo tece-as, entrepõem-se outros misteres, perde-se o rumo ao que se guarda na câmara, e acontece o dia em que se abre no ecrã do computador este caleidoscópio, sente-se inicialmente um amargo de boca, ora, mais vale tarde do que nunca, toca de cerzir ajuntamentos de imagens.

Visitei cheio de curiosidade as obras em fase de conclusão dos passadiços da Ribeira de Quelhas. Por aqui passei a partir de 1995, fiz o fim do ano a conhecer as aldeias serranas da Serra da Lousã, alguém me disse que devia ir ao Alto do Trevim e descer aos Coentrais, se tivesse gosto em ver um esplendor natural bem singular. O que aconteceu, ao tempo ainda a coluna vertebral me permitia, com calçado apropriado, calcorrear por fragas e empenas e desfrutar as cascatas cheias de água, um murmúrio quase genesíaco. E quando soube que íamos ter passadiços, logo ali fui espevitado pela curiosidade, isto salvo erro à volta de maio de 2020, vivíamos o primeiro aceso da pandemia. O concelho de Castanheira de Pera apostava numa oferta de lazer e turismo, e assim se decidira um passadiço de madeira, 1200 metros na margem direita da Ribeira das Quelhas, bem próximo do Coentral Grande. As obras tinham-se iniciado em dezembro de 2019 e chegaram a bom porto. Com muita alegria, encontrei no blogue Vagamundos, um texto de apresentação que com a devida vénia se reproduz:
“Ribeira das Quelhas, com as suas magníficas cascatas e lagoas, é uma das maiores maravilhas naturais da Serra da Lousã. Até há bem pouco tempo, para conseguir desvendar os seus segredos, era imperativo fazer um dos trilhos mais exigentes da Serra da Lousã, com um pouco de escalada à mistura, ou então seguir o curso da ribeira através da prática do canyoning. Mas temos boas notícias para si: no verão de 2020 nasceram os Passadiços da Ribeira das Quelhas, tornando muito mais acessível a visita a um dos locais mais belos e selvagens da Serra da Lousã.
A Ribeira das Quelhas nasce na Nascente dos Seixinhos, numa das vertentes da Serra da Lousã, conhecida pelo nome de Santo António da Neve, nome que recebeu por ser o lugar onde outrora haviam poços de neve, que serviam para armazenar a neve do inverno e conservá-la até ao verão, à imagem do que se fazia na Fábrica do Gelo do Montejunto. Posteriormente o gelo era levado para a Corte portuguesa em Lisboa, para que se pudessem refrescar durante os quentes verões lisboetas (sim, nessa altura já gostavam de comer sorvetes e beber um whisky “on the rocks”).
Desde a sua nascente, todo o percurso da Ribeira das Quelhas é feito por entre quelhas rochosas e penhascos de xisto e granito, resultando em idílicas cascatas, cada uma com o seu poço de água cristalina, que convida a inesquecíveis mergulhos nos dias quentes de verão. O enquadramento paisagístico é simplesmente brutal!”
.


Sempre que me é possível, visito aos sábados ao amanhecer a Feira da Ladra, sonho em dar um pontapé e saltar uma pepita de ouro, o universo do bricabraque é extensível, vou sempre preparado para trazer os alfobres cheios ou vazios, só compro a gosto. Chegar ao amanhecer à Rua do Vale de Santo António, em pleno inverno, permite este espetáculo, é a noite iluminada, o Tejo ao fundo, o dia a clarear, com mais um quarto de hora aquele céu vai incendiar-se, será dia promissor, mas quem aqui tomou a fotografia ruma apressado à procura de pepitas, diademas sobre a forma de livros e toda aquela casta de traquitana que me adoça a existência, gostos não se discutem, o mais importante de tudo é sentirmos intimidade com esta pele que inventamos para decorar as nossas casas, para já não falar dos livros que são trampolins para a liberdade de espírito.
Fora visitar no Museu Nacional de História Natural e da Ciência uma exposição sobre as moranças da Guiné, era inevitável andar por ali a cirandar, foi o que aconteceu, entrei numa sala de aula do século XIX (aqui funcionou a Faculdade de Ciências, e aqui o incêndio devastador, em 1978, nos fez perder património de alto calibre). Contíguo à sala de aula, cujo teto me impressionou, funcionou uma zona laboratorial, só tenho pena da falta de luminosidade, e mais adiante captei um tema religioso, como, à saída da exposição, achei imensa graça a um desses temas de feira onde ainda hoje se podem tirar fotografias à la minuta e resolvi registar duas princesas sorridentes, a petiza estava bem feliz, exigira ver dinossauros e saía satisfeita.
Algures, entre novembro e dezembro de 2020, visitei a exposição Os Sítios da Pedra, no Complexo da Levada, em Tomar. Tudo me fascinou, considerei um achado a articulação perfeita encontrada por organizadores e artistas para pôr em diálogo o Nabão, uma construção multisecular, um aparato industrial, a pedra, a cantaria, o fascínio da escultura. Por ali cirandei para encontrar um móbil de todos estes sítios da pedra, naquele preciso lugar, com um curso de água a correr em permanência, um preciso lugar de origem templária e que marcou o fulgor da industrialização tomarense. Senti que aquela exposição era uma original sala de conversa de diferentes tempos, de diferentes misteres, operando silêncios mágicos, talvez uma brilhante homenagem a quem lava a pedra, desde a calçada à escultura artística. Muitos meses depois, deparei-me com estas imagens a que não dera destino e não hesitei em plantá-las aqui, saudando quem arquitetou esta bela exposição, mais a mais guardo Tomar no coração.

Ainda não é ponto final para as itinerâncias de onde respiguei estas imagens avulsas, vamos de seguida para o Jardim Botânico, foi visita distinta daquela que se fez ao Museu de História Natural e da Ciência, precisava de luz clamorosa para toda aquela riqueza vegetal, e vão ver como fui muito bem compensado.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22400: Os nossos seres, saberes e lazeres (461): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 24 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22400: Os nossos seres, saberes e lazeres (461): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Junho de 2021:

Queridos amigos,
Recebe-se um aviso do Google que há para ali um excesso de imagens, é uma sobrecarga que gera lentidão no funcionamento do computador. Para não cometer barbaridades no esvaziamento desse paquiderme de imagens, põe-se tudo no ecrã e descobre-se, com uma ponta de amargura, que se andou por ali e aqui mais próximo a desfrutar em interiores e exteriores, e que não se deu conta do recado, tornar essas imagens conviventes, a palavra é estafada mas sintetiza a motivação que as levou a tirar e guardar: partilhá-las, foram coisas de que se gostou, podem interessar a A, B ou C, dar ideias para uma visita ou itinerância. Por pura cabulice, deixei cristalizar estas imagens até chegar a advertência de que delas tenho de me desfazer, pois não será de qualquer modo, reparto-as em sede própria, se me deram satisfação a registar pode muito bem acontecer que venham a ser bem acolhidas e até dêem ideias para que de outras câmaras haja outros envios para o nosso extremoso blogue.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (8)

Mário Beja Santos

Parte-se para um evento, leva-se a devida carga de curiosidade, casos há em que previamente se estuda o que se vai ver, é regular a vontade de partilhar o que se olhou e viu, aquilo que ganhou sentido e merece alguma cogitação. Será porventura o caso destas imagens em que houve, digo-o sinceramente, a determinação de as pôr em ordem e mostrá-las aqui, o diabo tece-as, entrepõem-se outros misteres, perde-se o rumo ao que se guarda na câmara, e acontece o dia em que se abre no ecrã do computador este caleidoscópio, sente-se inicialmente um amargo de boca, ora, mais vale a emenda do que o soneto, toca de cerzir ajuntamos de imagens, há evidentemente uma lógica, e de algo que se passou de Castanheira de Pera para Figueiró dos Vinhos e daqui para Tomar se dá conta do que surpreendeu e que cada um, dentro do possível, desfrute ou ganhe apetência para ir ao encontro do que estas imagens fazem sonhar.

A Casa da Criança em Castanheira de Pera, torrão natal de Bissaya Barreto, médico filantropo que criou todo este projeto – são 25 casas da criança, todas elas com muita proximidade – e responsável por uma visita que é quase obrigatória em Coimbra – o Portugal dos Pequeninos. O médico fez muito pelas crianças e a vivacidade destes azulejos falam por si. Acontece que viera a Castanheira de Pera com alguns amigos que pretendiam conhecer o que fora o mundo têxtil da região, bem desapontados daqui saíram, o que podia ter sido um valioso património industrial vai caindo aos bocados. Era inevitável irmos ao centro histórico da vila, viu-se o jardim, que guarda pergaminhos, mostrei uma magnólia como não conheço outra igual, e todos à uma foram espreitar os azulejos, houve elogio unânime. E bem merecido, digo entre parênteses. Passou-se por outro programa e as imagens ficaram. Só que…


Painel de azulejos na Casa da Criança de Castanheira de Pera. As Casas da Criança são coloridas, com muitos mosaicos, com linhas redondas, envolvidas em espaços verdes e induzem um ambiente de vivacidade e alegria.

Mais tarde, havendo notícia de uma exposição do belo edifício do Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, para ali se foi num princípio de tarde, era irresistível tirar imagem da Casa da Criança, com toda a sua garridice, posso supor que nenhuma criança hesita em ali entrar. Quanto à exposição, Figueiró dos Vinhos tem alguns trunfos a dar sobre aquilo que se chama a escola naturalista, um dos sumo-sacerdotes desta corrente artística viveu ali a escassos metros, numa moradia chamada O Casulo, felizmente bem cuidada, era a casa de José Malhoa que adorava o sol de Figueiró, que interpelava velhinhas na rua, pintou até mesmo no dia em que partiu para as estrelinhas, adorava a região. Aqui também viveu Simões de Almeida, o sénior e o sobrinho, é possível contemplar belas esculturas de ambos, mas há exposições em que aparecem outros naturalistas como Silva Porto ou Henrique Pinto. Por ali se cirandou vendo obras algumas delas de grande envergadura, houve ideia de fazer delas registo, novas andanças da roda do destino, esqueceu-se que estava na câmara, mais vale tarde do que nunca, fica feito o convite para vir a Figueiró e visitar este Centro de Artes, mesmo O Casulo, e no altar-mor da Igreja há um batismo de Cristo assinado por José Malhoa. E aproveito para lembrar que em Figueiró ajudei a organizar um convívio da CCAÇ 2402, a pedido do saudoso Raul Albino, a autarquia foi recetiva ao meu pedido, recebeu toda a comitiva no Salão Nobre e cedeu as viaturas a seguir ao almoço para um belo passeio em todo o concelho. E fica a sugestão para outros encontros de unidades militares, comer satisfatoriamente e abraçar camaradas para sempre é uma dádiva irrecusável, mas se houver um bom passeio, ainda melhor, mais fica para a recordação.

Casa da Criança de Figueiró dos Vinhos
Museu Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, imagem de uma exposição
Há uns anos, a minha extremosa neta pediu-me para a levar a um aquaparque, mas não queria visita de médico. Encontrei a solução ali para os lados de Minde, perto das grutas de Mira d’Aire, alugam-se umas casas de madeira e o aquaparque é estonteante. Coube-me em exclusivo o ofício de andar a escorregar na água por toda aquela tubagem, com queda na piscina, a neta a insistir que queria mais, cheguei ao fim da tarde que não podia com uma gata pelo rabo, mas vê-la tão contente, aqueles olhos azuis a relampejar de alegria, fez-me esquecer a canseira. Ora, perguntará quem tem a paciência de seguir estas linhas, o que tem a ver esta conversa com a última imagem que se apresenta, o Castelo de Almourol? Na minha cabeça tem, viu-se de terra firme o castelo Templário no dia em que se chegou para a jornada de banhos aquáticos em circuito fechado, e no regresso visitou-se a Casa-Museu de Roque Gameiro, esse insigne aguarelista que assina o que o leitor está a ver, e, vamos lá, é de uma rara beleza.


Ficaria mal comigo mesmo se não vos dissesse que estas imagens, de uma exposição que já vos falei, não fossem aqui exibidas. É sempre a exultação da pedra, em pequeno a minha mãe levou-me à Avenida da Liberdade, estavam a refazer a calçada portuguesa com aqueles desenhos rendilhados do basalto embrechado no calcário, o que me impressionava era o trabalhador a sopesar a pedra, a ver se estava conforme, a martelá-la a jeito, afagando o conjunto de vez em quando, como se estivesse num ateliê com um pincel a observar a tela, e a intervir aqui e ali. Daí a importância que atribuo a esta imagem, e depois aquela seteira onde pudemos mirar o que é viver em paz, sem os calafrios de uma investida muçulmana, e por fim mais uma imagem da pedra nessa obra soberba que é o Aqueduto de Pegões, a água levada para o interior do Convento de Cristo, para mim são três imagens impressivas, a preto e branco, e tenho enormes saudades da minha infância, em que tudo era a preto e branco, e até recordo os fotógrafos à la minuta, de que guardo recordações de passeios pelas feiras ou jardins.

Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020
Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020
Imagem fotográfica extraída da exposição Os Sítios da Pedra, Complexo Cultural da Levada, Tomar, outubro/dezembro de 2020

E vamos continuar com mais itinerâncias, agora vamos passar para um jardim muito especial, na rua da Escola Politécnica, o Jardim Botânico. Imagine-se, fora uma tarde de surpresas, e ficara tudo cristalizado na câmara, que desperdício para quem aprecia património vegetal.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22380: Os nossos seres, saberes e lazeres (460): A pedra, a fábrica, o rio, a presença da História e da Arte em Tomar (Mário Beja Santos)