Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 26 de março de 2011
Guiné 63/74 - P8002: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (38): Notícas de Xangai (António Graça de Abreu)
República Popular da China > Xangai > Março de 2011 > O nosso camarigo António Graça de Abreu, que descreveu a megacidade de Xangai, em linguagem poética, nestes termos:
(...) Os arranha céus de Xangai
perturbam anjos e apsaras.
O sonho das gentes da cidade
é subir ainda mais a construção
até ticar os pés dos deuses.
Xangai, avenida de Nanquim.
Imensa, a multidão,
carreiro de formigas sínicas.
Do alto da torre Jinmao,
tão pequenas
as outras cidades do mundo!...
(Excertos de: Excerto de um longo poema, Sínica, inserido no seu último livro,
A cor das cerejeiras, Lisboa: Vega, 2010, p. 45) (Com a devida vénia).
1. Mensagem (e foto) do António Graça de Abreu, com data de 20 do corrente:
Luís, caríssimo
Estou há mês e meio sem blogue, isto agora é só China. Mas regresso na próxima semana a Portugal.
Dia 14 de Abril volto outra vez para Xangai, Nanquim e Pequim. Este ano é assim, tenho previstas quatro vindas à China.
.
(...) Desde Xangai, um abraço e até breve.
António Graça de Abreu
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 25 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P8001: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (37): Venturas e desventuras da nossa amiga Gilda Brás em terras de Arouca: finalmente tem a certidão de nascimento de seu pai, Afonso Pinho Brandão
sexta-feira, 25 de março de 2011
Guiné 63/74 - P8001: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (37): Venturas e desventuras da nossa amiga Gilda Brás em terras de Arouca: finalmente tem a certidão de nascimento de seu pai, Afonso Pinho Brandão
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Vila > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 18 > Vista para as traseiras da Igreja tirada da torre desta, vê-se em primeiro plano o posto médico/enfermaria e outro edifício administrativo.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Vila > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 4Igreja Paroquial de N. Sª. de Catió.
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Vila > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 34 > Rua do Bar Catió, à direita as lojas e residência do Sr. José Saad, depois o Bar com a bomba em frente, a seguir o telheiro dos jogos de ping-pong e matraquilhos e por fim o muro do quartel.
Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Notícias, fresquíssimas (e reconfortantes), da nossa amiga Gilda Brás (guineense, de nome de solteira Gilda Pinho Brandão, uma órfã de guerra, que através do nosso blogue ganhou um novo país e uma nova família, um caso, de resto, que muito sensibilizou e mobilizou os amigos e camaradas da Guiné reunidos nesta Tabanca Grande; membro da nossa Tabanca Grande desde 25 de Julho de 2007) (*)
Caro Luís:
A única coisa que lhes pedi foi que me dissessem o ano do nascimento do pai, que era para pedir uma certidão de nascimento, a resposta que obtive, foi que me dirigisse ao registo [civil], respondi que já lá tinha estado mas, como não tinha praticamente dados nenhuns, a funcionária não me pôde ajudar, respondeu que também não me podia ajudar . Desejei-lhe um bom dia e fui-me embora.
Mantenho contacto com a cunhada do meu pai (a tia Sãozinha, que é um doce de senhora) e um dos sobrinhos (o primo António) e a esposa dele, pois os outros estão emigrados.
Pelo menos a minha filha já ficou a conhecer alguns familiares do avó de quem só sabia o nome, viu fotografias do tio avô e conheceu alguns primos e eu já sei um pouco mais da história do homem que foi o meu pai e, dou-me por satisfeita e feliz, a Márcia já pode fazer a sua árvore genealógica, com os nomes dos bisavós, avós e alguns tios.
Há duas semanas atrás uma das filhas do meu pai, como sabe que o meu primo se dá connosco, foi ter com ele para tentar saber como é que eu era, onde vivia, etc., no fim de tudo isso vira-se para ele e diz que só acredita que eu sou filha do pai dela se fizer um teste de ADN. Podem esperar sentados, pois a palavra da minha mãe Mariboi e do meu avó paterno estão acima de qualquer teste.
Peço desculpa por toda esta lenga lenga, mas só agora é que tive disponibilidade para lhe contar esta minha aventura por terras de Arouca
Muito obrigada por tudo, pois foi graças a muitos amigos do blogue, ao Luís e aos sábios conselhos do nosso saudoso Amigo Victor Condeço, que sempre me incentivou a ir mais na busca pelas minhas raízes paternas, que cheguei até aqui.
Aproveito para informar tenho um novo mail de casa [...] e no Facebook se receber um pedido de amizade de uma Gi Pinho, sou eu, apesar de a foto não ser minha.
Um bom fim de semana, um grande beijinho para si e muito, muito obrigada por tudo.
Cumprimentos,
Gilda Brás [Pinho Brandão, de solteira; foto à esquerda, quando veio para Portugal, aos 7 anos, para uma família de acolhimento, trazida por um camarada nosso, o Fur Mil Pina, a quem ela chama mano].
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Notas do editor:
Último poste da série > 21 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7481: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (36): O 64º Aniversário cá do rapaz (Humberto Reis), seguido da história da misteriosa bajuda de Nhabijões (Luís Graça)
(*) Vd. poste de 25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1994: Tabanca Grande (29): Gilda Pinho Brandão: uma mulher feliz, que ganha uma nova família e um novo país
(...) Boa tarde, Amigo Luís,
Pois é, este fim-de-semana recebi a visita do nosso amigo Pepito, um ser humano extraordinário e um guineense orgulhoso, que fala do seu país e das suas gentes com uma paixão indescritível, por mim ficava o dia todo a ouvi-lo, pena não ter podido ficar mais tempo.
Relativamente aos meus familiares, falou-me no meu primo Carlos Pinho Brandão, que foi colega dele de curso [de Agronomia,] das circunstâncias da morte do meu pai [Afonso Pinho Brandão,] que foram um pouco dramáticas, pois segundo o Carlos contou ele era muito querido pela população, era um homem bastante sociável: ao fazer frente a uns balantas que se queriam apropriar da casa dele, acabou por ser morto, pois estava em inferioridade numérica.
Guiné 63/74 - P8000: O Nosso Livro de Visitas (109): José Oliveira, filho do nosso camarada Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877 (Guiné, 1966/67)
Caro Luís Graça,
Em primeiro lugar, espero que este e-mail o vá encontrar de boa saúde.
O meu pai (Luís Nunes de Oliveira) esteve na Guiné e pertenceu à CCAÇ 1501, no entanto perdeu todos os contactos que tinha, e por razões que desconhecemos, não voltou a ser convidado para os encontros/almoços que eram organizados normalmente no mês de Junho (desconhecemos mesmo se o grupo deixou de organizar os referidos encontros).
Seguem em anexo três fotos, que envio em nome do meu pai (ele não é muito dado as estas tecnologias...), para que as mesmas sejam publicadas no Blog, na esperança que desperte a atenção de algum camarada da CCAÇ 1501.
Votos de um bom fim-de-semana.
Um abraço,
José Oliveira
zelxandre@hotmail.com
2. Comentário de CV:
Caro José Oliveira, obrigado pelo seu contacto. Aqui estão publicadas as fotos de seu pai, que nos mandou, na esperança de que apareça algum dos seus companheiros.
Fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e encontrei lá o contacto de Carlos Martins do BCAÇ 1877, Batalhão a que pertenceu a CCAÇ 1501, Companhia de seu pai. Ligue para o telemóvel 969 572 401, e a partir dele poderá descobrir outros camaradas.
Seja portador de um abraço nosso para o seu pai e votos de que esteja tudo bem com ele.
C.V.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7968: O Nosso Livro de Visitas (108): Luiz Figueiredo, Fur Mil TSF, Pirada, Teixeira Pinto e Bissau, 1972/74
Guiné 63/74 - P7999: Blogpoesia (133): Ai Guiné, Guiné (5) (Albino Silva)
AI GUINÉ GUINÉ (5)
Guineenses vendedores
ambulantes sem igual
vendiam tudo para nós
produtos do Senegal...
Lá da Costa do Marfim
também vinha coisa boa
se não fosse de Concri
era da Serra da Leoa...
O guineense vendia
no negócio tudo dava
o africano trazia -
e o europeu lá comprava...
Louças que vinham da China
e os charutos de Havana
louças lindas muito finas
não faltava a porcelana...
Em Teixeira Pinto tinha
uma avenida assim
começava no Quartel -
e parava no Fortim...
Nesse largo do Fortim
naquele pequeno recinto
havia lá uma estátua -
que era o Teixeira Pinto...
Quem ia nessa Avenida
e em passeios constantes
se visitavam as casas
que eram de comerciantes...
Eu conheci bem alguns
naquela Vila do mato
tantas vezes comi frango
que assava o Viriato...
Apenas dez pesos custava
o frango e batata então
com cerveja a acompanhar
e também ainda o pão...
Na Guiné que eu recordo
de algumas noites passadas
em tabancas e nos roncos
bem ao som da batucada...
Se havia um casamento
o ronco era a dobrar
era tanta a batucada
e com a noiva a dançar...
Que lindo era na Guiné
nesse tempo que passei
por saber que era África
como sempre desejei...
Mas que bom era a Guiné
mesmo em tempo de traições
era tudo tão original
mesmo cumprindo missões...
Era assim ó Guiné
o bom e mau que eu vivi
com coragem aguentando
sofrimento que esqueci...
Ó Guiné por ti sofri
porque lá tinha rivais
sofri por gostar de ti
mas outros sofreram mais...
Sofri de sede e calor
com moscas a chatear
mosquitos tantos mosquitos
sempre sempre a picar...
Tu sabes bem ó Guiné
também quem te conheceu
os que sofreram por ti -
igual como sofri eu...
Muitos mais te conheceram
sem saber qual a razão
espalhados pelo mato
dormindo debaixo do chão...
Eu sofri por ti Guiné
e sem nada de ti querer
e ainda hoje o fazia
só para a Guiné defender...
(continua)
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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)
Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7996: Blogpoesia (132): A Minha Aldeia (Mário Fitas)
Guiné 63/74 - P7998: (In)citações (29): Rádio Sol Mansi, com sede em Mansoa, ligada à Igreja Católica (diocese de Bissau e Bafatá), quer entrevistar antigos combatentes, portugueses e do PAIGC
Data: 24 de Março de 2011 08:38
Assunto: Bom dia!
Bom dia!
A Rádio Sol Mansi quer colaboração dos Antigos combatentes portugueses no programa radiofónico Cultura e Alma do Povo, um programa informativo que fala da luta de libertação e das experiências positivas dos Ex-Combatentes.
O objectivo é de trazer, ao público-alvo, a imagem auditiva do que foi a luta armada que decorreu de 1963 a 1974. Neste contexto, o seu testemunho seria um enriquecimento para o nosso programa e, consequentemente, para os nossos ouvintes.
Podemos marcar uma entrevista no skype ou msn, torna-se mais fácil e tem qualidade voz melhor do que telefone.
Sr. Luís, pode nos ajudar a contactar com outros combatentes ? Podem ser seus amigos que tenham estado em diferentes partes da Guiné-Bissau, para uma entrevista, pode ser você, Carlos Vinhal, Eduardo J. Magalhães Ribeiro, Virgínio Briote, Humberto Reis, Jorge Cabral, José Manuel Dinis, José Ferreira de Barros, etc...para dar testemunho da luta na qualidade de antigo(s) combatente(s).
Obrigado, Sr. Luis
Deus te abençoe.
Adriano Djamam (Ampauramassol) [, técnico e apresentador de programas da Rádio Sol Mansi]
E-mail: adrianodjamam@yahoo.com.br
djamam@hotmail.com
Skype: ampadjamam
Cel: 00245 6649641 / 00245 5804646
3. Informação sobre a Rádio Sol Mansi, solicitada ao nosso amigo Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau:
abraço
Segundo pesquisa feita no blogue da Rádio Sol Mansi, "actualmente [, Julho de 2007,] a Rádio Sol Mansi tem uma emissão diária de 12 horas. Com uma programação cada vez mais preocupada com os problemas sócio-políticos, económicos e culturais que afectam o país.
"A nossa informação (formação) é pedagógica (educação, saúde, agricultura, direitos humanos, programas para mulheres e as crianças, educação para à Paz, o dialogo interreligioso, educação ambiental e ecologia, cultura tradicional…), contanto cada vez mais reduzir a iliteracia, pois temos a noção dos efeitos de uma notícia.
"O funcionamento da Rádio é garantido por uma equipa de 12 funcionários e 17 voluntários, de diferentes etnias e religiões, que estão num processo de formação continua.
"Das pesquisas de audiometria feita por nós, em 2003, à Rádio Sol Mansi, é muito escutada nas zonas rurais, e em algumas cidades próximas de Mansoa. Conseguimos superar as emissões e audiências das estações de Bissau na nossa região e cada vez mais em Bissau somos identificados.
"A prioridade da Rádio Sol Mansi é de apoiar a actividade da Ecuménica e, de todas as confissões religiosas ou instituições ao serviço do Desenvolvimento e da Paz no nosso país".
O Administrador da Rádio Sol Mansi é o ARMANDO MUSSA SANI (foto acima, reproduzida com a devida vénia)
Cada um de nós, antigos combatentes no TO da Guiné, tem a liberdade de contactar o Ampa Djamam e oferecer-se, eventualmente, para ser entrevistado, via Skype ou Messenger, para o referido programa, Cultura e Alma do Povo, da Rádio Sol Mansi, com sede em Mansoa, região dio Oio. Daremos o apoio que nos for possível.
Ficamos, para já, com dúvidas sobre quem é o apresentador do programa, se é o Ampa Djamam ou o José Mango. De qualquer modo, é importante que as jovens gerações guineenses possam ouvir falar, em português, os antigos combatentes, portugueses, que estiveram na Guiné entre 1963 e 1974.
Cada entrevistado representar-se-á a si. As declarações e opiniões emitidas por cada um dos eventuais entrevistados só responsabilizam os seus autores, e nunca o nosso blogue que, por ser colectivo e plural, não tem (nem pode ter) resposta para as questões acima listadas no guião. Aconselhamos, no entanto, os nossos camaradas a passar ao papel as suas respostas, em bom português, de modo a tornar mais fácil, rigorosa, assertiva, segura e eficiente a comunicação com o entrevistador... Alguns desses depoimentos poderão, inclusive, vir mais tarde a ser reproduzidos, por escrito, no nosso blogue (se houver consentimentos dos entrevistados e do responsável do programa).
Se as regras editorais do nosso blogue forem de algum utilidade para os nossos camaradas que vierem a ser entrevistados, aqui ficam, para os devidos efeitos:
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Nota do editor:
Último poste da série > 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7981: (In)citações (31): Melhoria do porto fluvial de Cabedu, no extremo da península de Cubucaré, na margem direita do Rio Cacine (AD - Acção para o Desenvolvimento)
Guiné 63/74 - P7997: Parabéns a você (230): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67) (Tertúlia / Editores)
Caro camarada Rui Silva , a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.
Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.
Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.
Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:
- Rui Silva foi Fur Mil na CCAÇ 816 que esteve em Bissorã, Olossato, Mansoa nos anos de 1965/67
(*) Vd. poste de 5 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6044: Parabéns a você (90): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7991: Parabéns a você (229): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Tertúlia / Editores)
quinta-feira, 24 de março de 2011
Guiné 63/74 - P7996: Blogpoesia (132): A Minha Aldeia (Mário Fitas)
1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, enviou-nos uma das suas poesias:
Camaradas,
Não sou poeta, mas de quando em vez sai alguma coisa.
Na poesia e alguns contos que tenho escrito, utilizo o pseudónimo de “Manel Piorna”. O Manel é alentejano e o Piorna deriva de alcunha muito antiga, dada à minha aldeia.
Um abraço.
A Minha Aldeia
Recordo-te!...
Nas desalinhadas calçadas
De pedra britada.
No Rossio terreiro
Ginásio da pequenada.
Contorno-te!...
Em cada Esquina
Pilar da tua memória.
Em cada largo
A pedra marco da história.
Descubro-te!...
Em cada casa
Orgulhosa de alva brancura.
Aldeia planície
Do coração saudosa procura.
Revejo-te!...
Aninhada, ao redor da Igreja
Em penitente oração.
Vila Fernando agora...
Voltando a Conceição.
Ouço-te!...
No anunciar da Natureza
Os diversos destinos.
Repicando em festa ou dobros saudade
Os teus sinos.
Suplico-te!...
Jardim de grisandras e chupa-méis
Horizonte sem serra.
Planície! Dá-me abrigo no teu ventre...
Amada terra!
Manel Piorna
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)
Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)
Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BART 2917, 1970/72) > Chão fula > Bajudas, meninos e mulheres grandes... Slides do Benjamim Durães (ex-Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
.
1. Quarto poste da série Ai Guiné, Guiné*, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:
AI GUINÉ GUINÉ ( 4 )
Saudades da Mulher Grande,
das badjudas lavadeiras
e dos Chefes de Tabanca,
pescadores e pescadeiras...
As mulheres trabalhadeiras,
correndo para todo o lado
guardar galinhas e porcos
e tomar conta do gado...
Essas mulheres guineenses
suas tabancas zelavam,
iam à lenha para o lume
e a vianda cozinhavam...
Elas guardavam os filhos,
nas costas os transportavam,
puxando as mamas para trás,
assim de mamar elas davam...
O seu negrito contente
assim se sentia bem,
batendo com seu nariz
nas costas de sua mãe...
Mesmo pisando o arroz
e seu filho transportar,
esticava a mama para trás,
mesmo na bolanha a lavar...
Mas a mulher guineense,
alguma mesmo cansada.
fazia ainda horas extras
e de simples tudo nos dava...
Africanos da Guiné,
alguns que de nós gostavam,
em troca de um Peso novo
com nosso peso levavam...
Adeus, Guiné, eu lá disse
há muitos anos atrás,
as saudades que hoje guardo
do meu tempo de rapaz...
Eu gosto de falar de ti,
desse tempo e idade,
onde deixei na Guiné
parte da minha mocidade...
E como te sou sincero,
estou em ti a pensar
e sem te esquecer jamais
sempre te irei recordar...
Muita gente conheci,
por essa gente ainda sinto
Saudades te ti, Guiné,
Canchungo - Teixeira Pinto...
Guineenses que curei
com mesinho e não só,
Tabancas que visitei
lá para os lados de Caió...
Tantos mesinhos vos dei,
pois o destino assim quis,
das feridas que vos curei
hoje eu me sinto feliz...
Pois todo este passado
eu nunca o esquecerei,
Teixeira Pinto é saudade,
porque lá jamais voltei...
Meus amigos da Guiné,
Fonseca, Pandim e Mané,
Aliu, Cufá e Viriato,
Mamadu D’jaló e Baldé...
Na Guiné, o teu comércio,
tudo o que a malta comprava,
Teixeira Pinto ou Bissau,
lá havia a Casa Escada...
Rádios e gravadores,
Gira-discos sem comando,
Carpetes, muitos tapetes,
tudo era em contrabando...
(continua)
[Revisão / fixação de texto: Editor]
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 23 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7988: Blogpoesia (130): Ai Guiné, Guiné (3) (Albino Silva)
Guiné 63/74 - P7994: Contraponto (Alberto Branquinho) (25): Memórias
Caríssimo Carlos Vinhal
Junto vai o texto para o CONTRAPONTO (25), intitulado "Memórias".
Com um abraço do
Alberto Branquinho
CONTRAPONTO (25)
MEMÓRIAS
«Paro na “Vela Latina” e tomo um café... e um pastel de nata» - pensou.
Arrumou o carro. Aliviou o nó da gravata. Hesitou entre deixar a pasta no carro ou levar a pasta.
Colocou a pasta no porta-bagagens e, com o casaco sobre os ombros, encaminhou-se para a cafetaria, evitando os pequenos grupos de turistas, que, calmamente, sob o sol de Julho, aguardavam as indicações dos guias.
Sentou-se na esplanada, saboreou demoradamente o pastel de nata, observando os pardais que, assustadiços, debicavam gulosamente, os restos em cima de uma mesa, que acabava de ser abandonada.
Porque tinha, ainda, muito tempo. dirigia-se lentamente para o carro, quando lhe surgiu a ideia de ir ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, ali perto, junto à Torre de Belém, para verificar se constava o nome de um soldado africano que pertencera à sua Companhia. Alguém lhe tinha telefonado, pedindo para fazer essa verificação. Parou e ficou a tentar recordar o nome completo. Não conseguia. Verificando as listagens dos anos de 1967, 1968 e l969, se constasse, iria recordar-se.
À medida que caminhava para o Monumento, deu consigo a dizer baixinho: « Mamadu..., Mamadu..., Mamadu... ». O resto do nome não saltava à memória. «Vou ver ano a ano todos os Mamadus e, se lá estiver, lembro-me concerteza».
Chegou. Estava nesse momento a decorrer o render das duas sentinelas permanentes ao Monumento. Por respeito pelos mortos vestiu o casaco e compôs a gravata. Seguiu olhando sobre a esquerda, até que deparou com o ano de 1967. Procurou a letra M. Leu a lista dos MM. Não estava ali. Procurava já o ano de 1968, quando, atrás de si, uma voz o interpelou:
- Você está à procura de nome de alguém ?
Voltou-se. Era um homem alto, com cerca de sessenta anos, que trazia pela mão uma garota de quatro ou cinco anos.
- Sim.
- E em que ano morreu ?
- Ora essa é que é a dificuldade. Ou em 67, que já vi e não está. Ou em 68 ou 69.
- E você estava lá ?
- Sim.
- Três anos ? Não pode ser. Só se você foi voluntário.
- Não. Foi do fim de 67 até princípios de 69.
- Ah ! E qual era o nome ?
- Esse é outro problema. Não me lembro do nome todo. Mamadu qualquer-coisa. Mas se o vir, lembro-me.
- Então você também esteve na Guiné ?
- Sim.
- Eu estive lá em 70 / 71. Nos páras. Mesmo agora, às vezes, ainda salto. Então você o que era? Furriel?
- Não. Alferes.
- Eh pá, o meu alferes morreu com uma rajada no peito. E eu quando o vi naquele estado, saltei para cima dele, quer dizer, com um pé de cada lado, a disparar, a disparar para a mata. Então, comecei aos berros:
- Cabrões, cabrões (era para a minha malta ), dêem aqui uma ajuda.
Vieram tês ou quatro, a rastejar, porque o fogo era muito forte e protegeram-no com o corpo. E vai nisto, vejo a ramagem do poilão a mexer, a mexer, dei um salto para trás, agachei-me e comecei a disparar de rajada. Caíu de lá um cabrão de um turra, que, quando caíu no chão, parecia que tinha molas. Levantou-se logo e desapareceu, aos zigue-zagues, no capim. Foi o cabrão que disparou lá de cima e...
- Oh homem, oiça. Todos nós tivemos as nossas guerras, todos nós tivemos as nossas histórias. Tenha calma. – disse o ex-alferes para o homem, que falava descontroladamente, com duas bolas de saliva nos cantos da boca. Ajoelhava-se, deitava-se, fazendo menção de estar a disparar e, esbracejando, berrando em várias direcções.
A garota, que o acompanhava, chorava, sentada e encostada ao muro do Monumento. Deixou cair o chapéu e foi aninhar-se nos degraus da escada de acesso a uma porta que está, mais ou menos, no centro do Monumento, chorando mais e mais.
- E vai o alferes, já a falar muito baixinho, diz-me assim:
- Vocês deixem-me e sigam… Saiam daqui. E eu disse-lhe:
- Não senhor, se formos daqui, vamos todos. Eu ainda não tinha dito isto e vai um dos meus camaradas, que estavam ali ao pé, esticou-se ao comprido, ficou de costas, que até parecia um saco de batatas, com a cabeça aberta e os miolos espalhados no chão. Os cabrões rebentaram-lhe com a caixa dos pirolitos. E vai, eu arrastei o meu alferes para uma vala que havia ali, assim de rastos e ainda lhe falei ao ouvido para lhe dar alma, mas já estava sem pinga de sangue. Foi-se. Você alguma vez...
- Oh homem, tenha calma. Olhe a a sua neta - neta, não é? – que está ali a chorar, coitadinha.
O ex-paraquedista olhou na direcção da garota sem manifestar qualquer peocupação e tentava continuar a ser ouvido, espumando da boca e com os braços hirtos e esticados para a frente, como que empunhando uma arma.
- Mas você já viu...
- Oh homem, todos nós tivemos as nossas histórias que nos marcaram...
- Mas você que...
O ex-alferes deixou-o a falar só e aproximou-se da criança, que continuava a chorar, sentada num dos degraus, tapando o rosto com as mãos. Pôs-se de cócoras e tentou tocar-lhe. Ela, chorando sempre, berrou:
- Não!
O ex-paraquedista aproximou-se, de lenço aberto nas mãos, tomou-a ao colo, limpando-lhe as lágrimas. O ex-alferes apanhou o chapéu e pô-lo na cabeça da garota. Então encaminhou-se para a listagem dos mortos do ano de 1968, mas, perturbado, não encontrava os nomes com M. Respirou fundo, olhou sobre a direita e procurou de novo:
- Mamadu... Mamadu... ». Lá estava.
O homem aproximava-se, com a neta ao colo, que berrava:
- Quero ir para casa. Vamos embora.
- Está bem, Tânia, vamos já. Você já encontrou o nome ?
- Sim, está aqui.
E colocou um dedo em cima.
- Olhe, o meu alferes está aqui... 1971... 1971... É este. Não o conhecia ?
- Não. Era miliciano ?
- Não sei.
- Era difícil eu conhecê-lo. Devia ser mais novo uns três anos.
- Já viu como o número de mortos aumentou em 71, 72 e 73 ?
A criança berrava desesperada:
- Vamos embora! Vamos!
- É verdade. Nunca tinha notado isso.
- Eu gostava de falar consigo sobre isso do meu alferes, do falecido e outras coisas.
- Pois. Todos nós passámos os nossos maus bocados, mas eu, agora, tenho que ir. Tenho que fazer.
Estendeu-lhe a mão. O outro demorou largos segundos a consumar o cumprimento de despedida.
- Adeus, Tânia.
Tentou passar-lhe com a mão na cabeça, mas a garota, chorosa, evitou-o.
Foto © Hugo Moura Ferreira (2007). Direitos reservados.
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Cerca de quinze anos mais tarde, um casal de namorados passeava em frente à Torre de Belém, quando o rapaz olhou na direcção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, que o sol de Primavera iluminava, fazendo brilhar o mármore.
- Olha. O que é aquilo ? Vamos lá ver.
- Não.
- Porquê ?
- Não. Se queres, vai tu. Eu não vou.
- Está bem. Mas porque é que não queres vir, Tânia ?
- Eu já conheço. Fui lá muitas vezes com o meu avô.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7886: Contraponto (Alberto Branquinho) (24): Fronteira portuguesa? Ainda?
Guiné 63/74 - P7993: 16 de Março de 2011, lançamento do novo livro de Beja Santos, Mulher Grande (Temas & Debates / Círculo de Leitores, 2011) (2): Vídeo com excerto da apresentação feita pela escritora Lídia Jorge
"Nasceu no Algarve, passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, formou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa, deu aulas, escreveu quinze livros editados em várias línguas, entre eles, romances, antologias de contos, uma peça de teatro.
Guiné 63/74 - P7992: Tabanca Grande (272): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72
Caro Amigo Carlos Vinhal
Conforme conversa que mantivemos há dias, e cumprindo um desejo que tardava em concretizar, aqui te envio em anexo uma foto minha, tirada no espaço territorial do Xitole em 1970/72 para que assim possas integrar-me na grande família do Blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné.
Aproveito para confirmar a minha autorização para a utilização que consideres adequada, das crónicas “Conversas à Mesa com Camaradas Ausentes” que entretanto publiquei no blogue da Tabanca Pequena de Matosinhos, bem como das que estou a escrever nesta data com o titulo “Crónicas das Minhas Viagens à Guiné – A Primeira Viagem – 1998”.
Aproveito ainda para salvaguardar o facto dos meus escritos serem baseados nos registos que guardo na memória, pelo que, qualquer falha que porventura possa existir advém desse facto e, não representar qualquer intenção de deturpação dos factos que pretendi registar.
Aceita um Cordial Abraço de Amizade
José Martins Rodrigues
1º Cabo Enf da CART 2716
XITOLE - 1970/72
2. Comentário de CV:
Caro amigo Zé Rodrigues
Quem nos nossos 11/12 anos havia de dizer que a guerra do ultramar havia de propiciar que nos nossos 63 anos estivéssemos a ter esta conversa.
Alguns acontecimentos cruzaram as nossas vidas, desde sermos da mesma turma no Ciclo Preparatório na Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, pelo facto de casarmos com duas vizinhas e amigas de infância, sermos contemporâneos na Guiné, até ao extremo de teres salvo a vida a um camarada que esteve comigo no Curso de Sargentos Milicianos de Vendas Novas.
A velha amizade mantém-se, e a Guiné ainda mais nos aproximou, assim como a outros companheiros de Escola que como nós calcorrearam aquela terra avermelhada não só pela natureza, mas também pelo sangue de muitos dos nossos camaradas e amigos de sempre. Estou a lembrar-me, assim de repente, do nosso colega Avelino Tavares, que ao serviço da Força Aérea Portuguesa, tombou na Guiné em 1971.
Cabe a nós tudo fazer para que os seus nomes jamais sejam esquecidos. No próximo dia 9 de Abril será prestada homenagem aos nossos conterrâneos caídos nos três Teatros de Operações, mas só desarmaremos quando houver reconhecimento público do esforço de todos os matosinhenses, mortos e vivos naquela maldita guerra.
Quanto a ti, Zé, não te vais baldar só porque vou ao Blogue da Tabanca de Matosinhos buscar os teus textos para publicar aqui. Tens que nos apresentar as tuas histórias e fotos, e sei que tens muitas, não só do teu tempo de Cabo Enfermeiro, mas das tuas recentes idas à Guiné, acompanhado quase sempre pela tua esposa Luísa, já tão "apanhada" quanto tu.
Recebe por meu intermédio um abraço de boas-vindas da Tertúlia e Editores, e a certeza de que a partir de hoje fazes parte desta grande família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, onde os nossos amigos Amaro Samúdio, António Maria e José Albino há muito contam.
Também te esperamos em Monte Real, como me deste a entender.
Para ti, um abraço meu do tamanho de Matosinhos.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7969: Tabanca Grande (271): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux de Enfermagem (CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73)
Guiné 63/74 - P7991: Parabéns a você (229): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Tertúlia / Editores)
Caro camarada Ibrahim a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.
Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.
Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.
Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6040: Parabéns a você (89): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7954: Parabéns a você (228): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil Trms da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72 (Tertúlia / Editores)