segunda-feira, 21 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7972: Blogpoesia (119): Nada disto é fado (Luís Graça)


Lisboa > Fundação Calouste Gulbenkian > Centro de Arte Moderna (CAM) > Retrato de Fernando Pessoa (1964), da autoria de José de Almada Negreiros (1893-1970) (com a devida vénia ao CAM)... Pessoa e Almada são dois nomes maiores da nossa modernidade (e identidade), que me apeteceu evocar aqui, no Dia Mundial da Poesia...  
Foto de L.G., 23/2/2011, 12h37... 

Foto: © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados

1. O dia 21 de Março foi proclamado, em 1999, pela UNESCO como Dia Mundial da Poesia, e o seu objectivo é a promover a leitura, a escrita, a publicação e o ensino da poesia através do mundo, a par da defesa da diversidade linguística da humanidade.



Nada disto é fado
por Luís Graça

Nada disto é fado, 
é apenas história (de)vida;
Ruas do ouro e da prata, 
de outrora, querida.
Colina acima, rua abaixo, 
no metro de Lisboa;
Ou no amarelo da Carris, 
a vida,  à toa.

A vida é um assalto 
à caixa de Pandora, meu amor;Beware of pickpockets
avisa o revisor…

Alcântara, a ponte de fogo, 
suspensa
sobre a tua cabeça, 
e a nossa raiva, tensa.

Em Almada, a teus pés, 
tens o estuário do Tejo,
Mas é na solidão do Terreiro do Paço 
que eu mais te desejo.
Compro castanhas, quentes e boas, 
com ternura,
enquanto a vida segue 
pelas ruas, sujas, da amargura.

Nada disto é fado, 
é apenas história (de)vida;Ruas do ouro e da prata, 
de outrora, querida.

Lisboa, 21/3/2011

[Letra originalmente escrita para a banda musical portuguesa Melech Mechaya]

______________

Nota de L.G.:

Último poste da série > 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7971: Blogpoesia (118): A Primavera voltou (Felismina Costa)

6 comentários:

Anónimo disse...

Como julgo saberes,tenho lido muita poesia,e durante demasiadas décadas.Haverá um pouco mais(?)na vida de um Lusitano-Lapäo que IRONIZAR com a política e...mugir as suas demasiadas renas.O teu poema é,como diria Léo Ferré de "épater les bourgeois".Gostei dessa viagem por uma Lisboa nossa e de sempre!Como julgo ser Ruy Belo um favorito comum,atrëvo-me a sugerir o sueco Nils Ferlin,que creio estar traduzido em português.Vale a pena a busca. "Descobrimos mais e mais;a Terra tornou-se cada vez maior,e,maior!Continuamos a descobrir...a Terra tornou-se num pequeno ponto luminoso,um pequeníssimo baläo de brincar perdido no infinito."(Nils Ferlin) Um grande abraco amigo.

Anónimo disse...

Camarigo Luís

Uma Lisboa que cada vez mais se vai esfumando das minhas recordações, mas que brevemente retratas.
Gostei.

Abraço amigo
Jorge Picado

Torcato Mendonca disse...

Sabes Amigo li e gostei.
Cometi o erro de vir escorregando, poemas abaixo e aterrei no da nossa amiga Felismina. Aí parei e pensava trepar. Emocionei-me e só subi até aqui depois de me "desemocionar" um pouco...vidas. A Poesia, para quem dela gosta,é isso mesmo vida ou o tornar a vida mais bela, aquietar e desinquietar o espírito...desassossego...
Vês, meu caro Luís, aquele que ontem contigo falou e recordou, o outro que por lá andou em terras vermelhas e quentes, já vai desaparecendo quase...quase...

Nunca mais fui ao teu blogue de poesia...irei breve. Vale a pena...

Um AB do T

Luís Graça disse...

Meu caro Torcato:

Ainda bem que a poesia também chega à Cova da Beira e ao Fundão, onde não há só cerejas, mesmo que sejam as melhores do mundo... Há também grandes camarigos como tu e pessoas muito especiais, como a tua Ana, a quem mando um xicoração...

Para a "petite histoire" desta "letrinha": Nasceu de um pedido, do meu filho, João Graça, que me trouxe uma música original dos Melech Mechaya, que cheirava a "fado", exótico, com sabores a música klezmer... Insistiu comigo para escrever uma letra "inédita", apropriada... Eles (o grupo) estão, neste preciso momento, em estúdio, andam a gravar um novo disco, com alguns originais deles...

O meu filho gostou da "letra", mas houve algumas dificuldades de "encaixe" com a música... Pelo que acabou preterida por uma letrinha mais fácil...

Calhou bem: divulgo, neste dia, em primeira mão, o meu primeiro poema escrito para música... Mesmo que nunca venha a ser musicado, valeu pelo desafio (e pelo gozo)...

Torcato Mendonca disse...

Mas tu meu caro Luís Graça fazes poesia de que eu gosto.

Na Cova da Beira há grandes poetas. Só que eu não sou de cá. Sou como o José Belo sem - e ou i...sou migrante...viajante sem i ou e, viajante de passagem, mesmo fora do querido rectângulo...
Vim de Terras do Sul, Terra de Poetas e Cantadores...de Árabes e Moçarabes, de Reis Poetas (Al-Moutahimid de Beja e Rei em Sevilha do Al Andaluz, do meu Garbe...e das Planicies)enfim, meu caro a poesia desde sempre entrou em mim, ouvindo (na rádio em tempos que não tinha nascido TV) e posteriormente lendo. A Mãe disso se encarregou, não Sulista mas sim da cidade que falas - Lisboa.
Preteriram o poema para canção...tudo bem. As cores de Lisboa continuam lindas e as ruas, áurea ou da prata vão em direcção ao Sul. Eu já fui em quase todas as direcções,escolhendo ou não azimutes, e volto sempre á base, á quietude do ombro de uma mulher...mulher minha (diz,e bem, a canção,o poema - ninguém é de ninguém -)...mulher de quase uma mão cheia de décadas...então me acalmo em quietude aparente. Paro, neste permanente desassossego -(Leste o Livro do Desassossego??)- e irei procurar outro azimute e uma flor, um copo, uma canção dolente e...sim, sim...também...depois logo volto.Volto sempre á base. Um dia fico, talvez o faça.Why not.......
AB T.

Anónimo disse...

Prof LUÍS Graça

Gostei do seu poema e ia sugerir que fosse musicado e cantado por uma das boas vozes da nossa praça, longe de saber que tinha nascido para ser musicado.
Atrevi-me a trauteá-lo e achei que iria ser gostoso ouvi-lo numa voz bonita.
Os meus Parabéns!
O meu Amigo Torcato, fala no seu Blogue de poesia:
--As coisas que eu desconheço!

Neste dia mundial da Poesia,
gostava de felicitar todos os poetas da nossa terra, conhecidos e desconhecidos, porque em todos existe um sentimento comum...Ver mais além.

Um abraço para o chefe, que através desta Tabanca une os seus homens...e algumas mulheres.

Felismina Costa