1. Mensagem do nosso amigo Cherno Baldé [, foto à esquerda, em Kiev, Ucrânia, quando jovem estudante], com data de 21 do corrente, enviada já ao fim do dia:
Estimado amigo e irmão Luís Graça: Hoje ao entrar no blogue da Tabanca Grande, deparei-me com o vosso convite por ocasião do Dia Mundial da Poesia e nesse âmbito aproveito enviar alguns versos da minha juventude que espero ainda tenham algum sentido poético e possam interessar para publicação.
Com um grande abraço de saudação para si e aos demais editores da TG.
2. Versos de juventude (1987/1990), de Cherno Baldé
Pensar
Acontece-me pensar…Pensar…pensar…
Como aos poetas, sonhar.
No denso sepulcro da memória,
No despertar inadiável da vida,
O caminho ainda longo.
Acontece-me querer voltar ao passado longínquo da origem.
Pensar
Acontece-me pensar…Pensar…pensar…
Como aos poetas, sonhar.
No denso sepulcro da memória,
No despertar inadiável da vida,
O caminho ainda longo.
Acontece-me querer voltar ao passado longínquo da origem.
No passo das minhas pegadas, mal varridas pela erosão do tempo,
Medir a força das lianas, razões de tropeço na caminhada.
Acontece-me pensar, acontece-me querer voltar
Aos tempos primeiros da infância,
A altura daquelas montanhas agrestes, sulcadas pela corrente de suor,
Do meu corpo na luta,
Uma vista de olhos passar a Baobab que eterniza a tabanca,
Berço dos meus sonhos,
Sentir no corpo e na alma a brisa que embalou a infância,
A voz da floresta em pranto e o gosto amargo das raízes violadas.
Lá, mais para oeste …
De El-miná ou Ouida,
De Badagry ou N´goré.
O caminho do mar,
Em ondas lacrimosas da viagem sem regresso.
(Kiev, Dezembro de 1987)
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Lá, mais para oeste …
De El-miná ou Ouida,
De Badagry ou N´goré.
O caminho do mar,
Em ondas lacrimosas da viagem sem regresso.
(Kiev, Dezembro de 1987)
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Quando puder julgar
A mente que não soube amar
Na certeza divina da origem genuína,
Quando puder julgar o passo desmedido do intruso
Destruindo sonhos alheios ainda agora nascidos.
Quando puder julgar o passo desmedido do intruso
Destruindo sonhos alheios ainda agora nascidos.
Quando puder julgar o brilho feroz d´espada,
A tirania herdada e todo o sucesso da obediência forçada.
Enquanto puder lembrar-me do caminho percorrido,
O vento eterno, parte do destino ainda não esquecido.
Enquanto é tempo para as lágrimas soltas no santuário profano
A tirania herdada e todo o sucesso da obediência forçada.
Enquanto puder lembrar-me do caminho percorrido,
O vento eterno, parte do destino ainda não esquecido.
Enquanto é tempo para as lágrimas soltas no santuário profano
Que criou o mito da verdade eterna,
Enquanto é tempo para isolar,
Enquanto é tempo para (re) criar
O vírus da loucura, sentença suprema do espírito rebelde.
Enquanto houver sangue no corpo ainda escravo,
Enquanto houver razão, o olhar preso no horizonte,
Enquanto houver luz…
Enquanto houver luz…
(Bissau, Dezembro de 1990)
OBSERVADOR
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Nota do editor:
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SERÁ QUE BASTA?
Será que basta …?
Ser homem…?
O harém pedindo presença,
A liberdade do poiso perverso,
Basta o corpo e as formas
Ao sabor do tempo irreal?
Basta o preceito do olhar ausente
Pedindo prazer para não sofrer?
Basta…?
O espaço mítico criado
Para preencher o vazio ideal?
Será que basta…?
Será que basta…?
(Kiev-1989)
________________OBSERVADOR
Observador,
Espectador,
Nos parques,
O mundo a renascer
Em cada primavera.
Nas ruelas,
Em compassos lentos
Dos pares e dos sonhos floridos.
E tu desvairado, aonde vais? Ao “magazin" (1)?
Não! Eu vou para Magadan (2),
Ainda antes do Buran (3),
Antes do voo e das vozes do mundo,
Que estão por nascer.
(Kiev, Abril de 1990)
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Notas do autor:
1- Magazin – Loja, mercearia de produtos de primeira necessidade
2- Magadan – Localidade Russa situada algures na Sibéria oriental
3- Buran – Vaivém Espacial Soviético inaugurado em finais da década de 80
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7820: Memórias do Chico, menino e moço (23): O "fefé" é um instrumento utilizado só pelos povos originariamente islamizados (Cherno Baldé)
2 comentários:
Cherno, afinal a inpiração já vem de longe.
Provavelmente de onde sairam estes versos, ainda há mais.
Um abraço
Antº Rosinha
Foram tempos duros, esses, meu caro Cherno, e dos quais não falas explicitamente, por pudor ou outras razões. Mas lê-se nas entrelinhas dos teus versos. Um Alfa Bravo. Luis
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