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quinta-feira, 18 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24325: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (5): Op Triângulo Vermelho, a três agrupamentos (CART 2715, CCAÇ 12 e CCP 123 / BCP 12), em 4 e 5 de maio de 1971: a captura de população civil que depois é levada para Bambadinca e cujo tratamento causa a piedade e provoca a indignação do alf grad capelão Arsénio Puim


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) / Escala 1/50 mil  > Posição relativa de Bambadinca  bem como do complexo de tabancas de Nhabijões, maioritariamente balantas, na margem esquerda do rio Geba, bem como o temivel Mato Cão (na margem direita) e, mais a norte, no regulado do Cuor, o destacamento de Missirá.... No princípio da década de 1970, para Norte Cuor) e Oeste (Enxalé)  não havia mais tropa (a não ser o destacamento do Enxalé, frente ao Xime, do outro lado do rio Geba). O PAIGC tinha aqui uma "base" (ou "barraca"), a "base do Enxalé", e este era um corredor fundamental para as colunas logísticas que vinham do sul... na altura em que o Senegal não permitia o trânsito de armas e munições no seu território. (Em linha reta devem ser mais de 25 km, de Bambadinca até à península de Madina / Belel.)


Guiné > Carta geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Excerto: posição relativa de Bambadinca e Xime (na margem esquerda do rio Geba), Enxalé (na margem direita do rio Geba) e Madina, Belel e Sará, a norte do Enxalé (que era território  dos regulados do Enxalé, Cuor e Oio, onde não havia tropa e que o PAIGC considerava "área libertada", controlando na península de Madina /Belel, a sudeste da base de  Sará (onde havia cubanos), uma população dispersa de cerca de duas mil almas, segundo estimativa do comando do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)


Guiné > Região do Oio > Carta de Mamboncó (1954) / Escala 1/50 mil > "Terra de ninguém"... Ou melhor: tradicionalmente o PAIGC andava por aqui com relativa à vontade, duarnte a guerra... Posição relativa do destacamennto de Cutia, na estrada Mansoa-Mansabá, tabancas (abandonadas) de Mambono, Belel e Sarauol.. E ainda o rio Malafo.

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


Sector L1 / Região de Bafatá > BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) > CART 2715, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 54, e CCP 123 / BCP > 4 e 5 de Maio de 1971 > Operação "Triângulo Vermelho": a captura de população civil que depois é levada para Bambadinca e cujo tratamento causa a piedade cristã e provoca a indignação humana do alf grad capelão Arsénio Puim (*).

1. Vale a pena transcrever este excerto da História da Unidade, o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), para se perceber melhor a situação dos prisioneiros que foram levados da península de Madina / Belel, para Bambadinca, e  ali permaneceram uns dias, em condições indignas e desumanas (recorde-se que estamos já em pleno consulado spinolista,     está em vigor a política "Por uma Guiné Melhor" que nem toda a hierarquia militar, no CTIG,  compreendia e sobretudo apreciava e  aceitava, continuando a praticar a politica da "terra queimada",.  "aniquilar o IN e destruir todos os seus meios de vida"):

Desenrolar da ação:

- Em 04.Maio, pelas 17,00 horas e durante cerca de 50 minutos o “Agrupamento  Verde ” [CART 2715] cambou o Rio Geba no Xime, utilizando um sintex que, em diversas viagens transportou o material e o pessoal, continuando em seguida em marcha apeada para o Enxalé onde chegou pelas 18,45 horas.

- Às 22,30 horas o 
“Agrupamento  Verde ” iniciou a progressão para Bissilão de onde seguiu para a estrada Enxalé - Porto Gole, seguindo por esta atingiu a margem direita da bolanha do Rio Malafo pela 1,30 horas do dia 05 de Maio.

- Pelas 2,00 horas foi atingida pelo 
“Agrupamento  Verde " o ponto de coordenadas (Mamboncó 7E6-21) de onde seguiu para Norte em direcção ao ponto de coordenadas (Mamboncó 7E3-66) que atingiu pelas 4,30 horas, montando em seguida uma linha de emboscadas no trilho que de Sinchã Madina se dirige para o ponto de coordenadas (Mamboncó 7G1-56), a fim de recolher o “Agrupamento Laranja" [CCP 123 / BCP 12].

- Entretanto o
“Agrupamento  Negro” [CCAÇ 12] que saiu de Bambadinca pelas 18,00 horas cambou o Rio Geba junto ao porto de Bambadinca por haver apenas um sintex no Xime, prosseguiu por Finete – Malandin  Mato Cão  Saliquinhé tendo atingido o ponto de coordenadas (Bambadinca 1F3-43) pelas 22,30 horas onde fez um pequeno alto para descanso do pessoal.

- Pelas 24,00 horas este Agrupamento continuou a progressão para o ponto de coordenadas (Bambadibnca 1E4-35) que foi atingido pelas 0,30 horas do dia 05 de onde prosseguiu para Norte ao longo do trilho que contorna a margem direita da bolanha do Rio Ganturandim, passando por Iaricunda.

- Pelas 04,30 horas foi atingido Madina (Bambadinca 1B2-87) de onde continuou para Norte até ao ponto de coordenadas (Bambadinca 1A9-93) alcançada pelas 5,00 horas onde foram montadas emboscadas em vários trilhos, que se reuniam num só que se dirigia para a zona onde iria decorrer a operação.

- Foi verificado nesta altura que este trilho era a única via, relativamente fácil, de passar a linha de água, pois a tentativa de o fazer noutro local seria infrutífera dado que toda a linha de água é rodeada de espessa vegetação e grandes canaviais.

- Entretanto o “Agrupamento Laranja” [CCP 123 / BCP 12], pelas 14,00 horas do dia 04, deslocou-se em meios auto de Nova Lamego para Bafatá onde chegou cerca das 15,30 horas sendo em seguida heli-transportada para Missirá.

- Pelas 17,30 horas do dia 04, já com todo o pessoal em Missirá iniciou-se a progressão apeada em direcção a Sancorlã de onde, seguindo o rumo 260 graus e a corta mato, continuou a progressão.

- Pelas 5,50 horas do dia 05 foi atingido o ponto de coordenadas (Bambadinca 2A2-30) onde o Agrupamento emboscou aguardando os bombardeamentos da FAP.

- Pelas 6,30 horas o “Agrupamento Laranja” progrediu para a margem direita da bolanha do Rio Malafo seguindo depois para Sul em direcção ao ponto de coordenadas (Mambo0mcó 7G1-56) onde o “Agrupamento Verde” emboscado, o havia de recolher.

- Durante este trajecto destruiu 12 tabancas, de 2 a 8 moranças cada, uma escola, um celeiro e outros meios de vida. Capturou um elemento armado de Mauser, 7 mulheres, 6 crianças e documentos diversos.

- Pelas 11,30 horas atingiu o ponto de coordenadas Mamboncó 7G1-56) onde foi recolhido pelo “Agrupamenmto Verde”, continuando a progressão, protegido por este o Agrupamento, para sul em direcção a estrada de Porto Gole - Enxalé.

- Entretanto o “Agrupamento Negro”, após o bombardeamento da FAP, continuou a progressão para (Bambadinca 1A4-94).

- Logo após os bombardeamentos foram ouvidos gritos humanos e ruídos de animais domésticos, assustados e em fuga.

- Pelas 6,20 horas, após passagem da linha de água, foram detectados 4 elementos IN desarmados, vestindo de calções e blusa azuis progredindo na mesma direcção mas em sentido contrário. Eram seguidos a cerca de 50 metros por mais 2 elementos IN, vestindo do mesmo modo e armados de PPSH. Estes elementos IN imediatamente retiraram para Norte fazendo fogo, tendo as NT abatido 2 elementos desarmados mais próximos.

- Continuou-se a progressão para Oeste seguindo depois par Sul, tendo-se encontrado várias moranças, bem construídas, com cerca de 3 e 4 divisões, cobertas a colmo e a ripado de bambu, muito bem camuflado sob grandes maciços de vegetação e com trilhos de acesso às mesmas.

- Foram destruídas 20 moranças, 2 celeiros com um total de 500 kg de arroz e outros meios de vida.

- Não foram detectados nem elementos da população nem elementos armados.

- Às 7,20 horas foi atingido o ponto de coordenadas de (Mamboncó 7I8-73), onde o Comandante do “Agrupamento Negro” [CCAÇ 12] decidiu atravessar a bolanha para (Bambadinca 1A2-68) e não regressar pela passagem utilizada à entrada, pois aquela era a única na linha de água, facilmente referenciável e difícil de utilizar nessa altura sem segurança.

- Pelas 7,30 horas quando os últimos elementos se encontravam a cerca de 30 / 40 metros da orla da mata, um pequeno grupo IN estimado em cerca de 10 elementos desencadeou uma pequena e rápida flagelação,  utilizando armas automáticas e LGFog, ao mesmo tempo a área de (Mamboncó 7I7-78) era batida com 3 tiros de Mort 82.

- A reacção das NT pelo fogo e movimento obrigou o grupo IN a retirar da área, fortemente batida pelas NT com armas automáticas, LGFog e, principalmente dilagramas, sofrendo 2 mortos confirmados e feridos prováveis.

- Como consequência desta flagelação as NT sofreram 11 feridos, dos quais 2 morreram antes de serem evacuados e um morreu a caminho do Hospital Militar 2
41.

[Nota do editor LG: Um dos militares que morreu, nesse dia, 5 de maio de 1971, no decurso desta operação, foi o sold at inf, da CCAÇ 12, Ussumane Sissé, nº mec. 82107669; os outros dois eram do Pel Caç Nat 54, sold at  inf Suntum Camará, nº mec. 82047766, e Adi Jop, nº mec. 821 30863; os três foram sepultados em Bambadinca.]

- Foi pedido apoio aéreo, tendo comparecido rapidamente o PCV e cerca de 5 minutos depois compareceu o Helicanhão, mas o IN já havia retirado.

- Como havia feridos no meio da bolanha, o PCV e o Helicanhão, alternando-se, fizeram a segurança das NT até final das evacuações.

- Pelas 11,00 horas terminadas as evacuações, continuou-se a progressão para Sul em direcção à estrada Porto Gole – Enxalé.

- Pelas 13,00 horas foi atingido o ponto de coordenadas (Mamboncó 7I7-31) onde o “Agrupamento Negro” [CCAÇ 12] emboscou,  a fim de fazer a segurança da travessia da bolanha do Rio Malafo, pelo “Agrupamento Verde” [CART 2715] e “Agrupamento Laranja” [CCP 123].

- Entretanto os Agrupamentos Verde  e Laranja, progredindo ao longo da margem direita do Rio Malafo, atingiram a estrada Porto Gole - Enxalé pelas 13,30 horas, de onde continuando por esta, atravessaram a bolanha do Rio Malafo, protegidos pelo PCV e recolhidas pelo “Agrupamento Negro” emboscado na margem oposta (Mamboncó 7I7-31, continuando a progressão para o Enxalé, atingido pelas 15,30 horas, seguidos pelo “Agrupamento Negro”.

- Às 18,00 horas os Agrupamentos cambaram o Rio Geba para o Xime onde ficou “Agrupamento Verde” continuando os outros dois, em meio auto, para Bambadinca onde chegaram pelas 19,30 horas.

- O “Agrupamento Laranja” imediatamente continuou para Nova Lamego, atingida pelas 21,30 horas.

Fonte: Excertos de: História do Batalhão de Artilharia nº 2917  - De 15 de novembro de 1969 a 27 de março de 1972: Capítulo II - Atividade no Terreno Operacional da Guiné (...): Atividade do Inimigo (IN) em 1971: 04 e 05.Maio.71: Operação "Triângulo Vermelho", pp. 73/74.

(Revisão / fixação de texto / negritos: LG)

(Dispomos de uma versão, em pdf,  policopiada, gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-fur mil trms inf  José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; o excerto que hoje se publica consta da versão, em suporte digital, corrigida, aumentada e melhorada pelo Benjamim Durães, igualmente membro da nossa Tabanca Grande.(***)

Provavelmente é da responsabilidade do Benjamim Durães a seguinte informação relativa ao "alferes Mil  Capelão Arsénio Chaves Puim, nº mec. 48092867" : (...) "Apresentação compulsiva no Quartel-General em Bissau em 13/05/71 para ser interrogado pela PIDE/DGS."...

Temos dúvidas sobre a data... o que próprio vai averiguar melhor no seus "papéis"... Ao telefone, o Puim disse-me que o assunto dos prisioneiros, capturados numa quarta-feira, dia 5 de maio de 1971, foi tema da sua homilia de domingo, dia 9... Desmentiu, por outro lado, que tenha sido interrogado pela PIDE (rebatizada DGS, a partir de 24/11/1969), tanto em Bissau, como depois em Lisboa e nos Açores (para onde voltou como padre). (LG)

2. Eu fui lá em 30 de março / 1 de abril de 1970 (Op Tigre Vadio)... No sector L1,  as NT iam uma vez por ano à península de Madina/ Belel,... Já agora transcreve-se alguns excertos do poste P8388 (***):

(9) Março de 1970: Op Tigre Vadio, 300 homens na península de Madina/Belel, no regulado do Cuor

(...) Esta foi seguramente a mais dramática (e talvez a mais temerária) operação conjunta que a CCAÇ 12 efectuou enquanto esteve de intervenção ao Sector L1, às ordens do Comando do BCAÇ 2852. Podia ter dado para o torto...

A missão confiada às NT era bater a  chamada península de Madina/Belel, no limite do regulado do Cuor / princípio do regulado. do Oio, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse (espalhada por locais como Madina, Quebá Jilã, Belel e Banir, esta localização já no Oio).

Em Madina, localizada em MAMBONCÓ 8G-1, havia uma população sob controlo do IN, estimada em 1500 habitantes. Mais 400, em Banir, cuja localização era em MAMBONCÓ 8H-9 (...).

Segundo as informações de que se dispunha, existiria 1 bigrupo nesta região, pertencente à base do Enxalé e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Goryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc).

Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mamboncó].

A última operação com forças terrestres realizara-se em Fevereiro de 1969, não tendo as NT atingido o objectivo devido à fuga do prisioneiro-guia e ao accionamento dum engenho explosivo que alertou o IN. Verificaram-se ainda vários casos de insolação (Op Anda Cá) [Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel ]. (...)
___________

Notas do editor:

(*) Vd,. poste de 15 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24317: Recortes de imprensa (126): O caso do capelão militar Arsénio Puim, expulso do CTIG em 1971 (tal como o Mário de Oliveira em 1968) não foi excecional: o jornalista António Marujo descobriu mais 11 padres "contestatários" (10 da diocese do Porto e 1 de Viseu)... Destaque para o trabalho de investigação publicado na Revista do Expresso, de 12/5/2023