Fotogramas > "1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Agosto de 1935 > Damas e cavalheiros dançando a rigor a morna... E trajados a rigor.
Cortesia de Cinemateca Digital, documentário "I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", realizado em 1936 por San Payo. Disponível aqui:
https://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=1378&type=Video
Falando das senhoras, o guarda-roupa para uma viagem que podia durar várias semanas ( conforme o destino), tinha de ser vasto, funcional e, acima de tudo, elegante, cobrindo diferentes momentos do dia e a transição para o clima tropical ( incluindo a praxe da travessia do Equador para os novatos). Claro que o guarda-roupa também dependia do poder de compra.
(i) O contexto: a moda de 1935
Temos de esquecer as "flappers" de 1920. Em 1935, a moda era muito mais curvilínea, feminina e elegante, influenciada pelas estrelas ou "divas" do cinema de Hollywood (como Greta Garbo ou Marlene Dietrich).
Silhueta: a cintura voltava ao seu lugar natural; as saias eram compridas (a meio da perna ou mais longas para a noite) e fluidas. O corte em viés (bias-cut) era a grande inovação, fazendo com que os tecidos (como o crepe de seda) se moldassem ao corpo de forma elegante (e, inevitavelmente, erótica).
Ombros: os ombros eram frequentemente realçados, por vezes com pequenos enchumaços, mangas com folhos ou detalhes.
(ii) O guarda-roupa a bordo (em alto mar)
A vida no navio era pautada por regras sociais rígidas. O que obrigava uma senhora a trocar de roupa várias vezes ao dia. E nisso esgotando-se a sua energia. De resto, não tinha mais nada que fazer. As diversões a bordo eram limitadas. O navio, ainda a vapor, de 57 mil toneladas e 112 metrpos de comprimento estava em fim de vida; construído na Escócia em 1908, seria desmantelado em 1939.
- De Dia (manhã e tarde no "deck")
O vestuário de dia era "prático" (para os padrões da época), mas sempre impecável.
Vestidos de dia: eram feitos de tecidos mais robustos mas elegantes, como crepe, lã leve (na saída da Europa) ou seda, tinham mangas (curtas ou a três-quartos) e saias a meio da perna; os padrões eram discretos ou de cores lisas (como azul-marinho, bege, bordeaux);
Conjuntos (fatos de saia e casaco): muito populares; um casaco cintado com uma saia a condizer; era um visual muito "arranjado" para passear no convés ou almoçar.
Acessórios essenciais:
Chapéu: absolutamente obrigatório para sair ao sol no convés; podiam ser cloches (ainda em uso) ou chapéus de aba mais larga, que se tornavam populares;
Luvas: quase sempre usadas, mesmo de dia; de couro leve ou algodão;
Sapatos: fechados, de salto baixo ou médio, frequentemente de duas cores (estilo "spectator");
Desporto (ou "sport" como então se dizia) (para atividades no convés): os navios tinham áreas de lazer (jogos de "shuffleboard", ténis de convés); para isto, existia o "traje sport", que era o mais informal que se usava em público;
Pantalonas (calças): a grande novidade, os "pijamas de praia" (calças largas e fluidas, de cintura subida) eram o auge da moda chique para relaxar no convés; eram feitas de linho ou algodão e muitas vezes com padrões náuticos (riscas, âncoras);
Vestidos-amiseiros: de algodã, mais simples, muitas vezes de riscas azuis e brancas (o estilo "riviera" ou náutico).
- Noite (jantares e bailes)
Este era o ponto alto (tal como nós cruzeiros modernos): o jantar era um evento de gala, especialmente na primeira classe, já de si reservada a uma.minoria privilegiada.
Vestidos de noite: eram longos, arrastando-se muitas vezes pelo chão;
Tecidos nobres: seda, cetim, veludo (para as noites mais frescas no Atlântico Norte) ou crepes pesados;
Corte: o "corte em viés" era rei; os vestidos eram fluidos, marcando a silhueta; as costas decotadas eram muito comuns e consideradas o cúmulo da elegância.
Acessórios:
Estolas: de pele (raposa) ou seda, para cobrir os ombros;
Joias: brincos compridos, pulseiras, colares;
Luvas compridas: de seda ou cetim, quase sempre acima do cotovelo;
Pequenas malas de mão ("pochetes"): elaboradas, de metal ou tecido bordado.
(ii) A chegada aos trópicos (Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Angola)
À medida que o navio se aproximava do Equador e o calor aumentava, o guarda-roupa mudava drasticamente; as lãs e sedas pesadas eram guardadas nas "malas" (baús de viagem).
O que predominava:
Branco e marfim: estas eram as cores dominantes; refletiam o sol e eram um símbolo de estatuto (mostravam, por exemplo, que se tinha criados para lavar a roupa, que se sujava facilmente);
Tecidos leves: o linho era o tecido de eleição, apesar de amarrotar facilmente; algodão piqué e a seda crua ("shantung") também eram muito usados;
Vestidos "safari": embora o "safari suit" fosse mais masculino, a influência era vista em vestidos-camiseiros de linho branco ou bege, muitas vezes com cintos e bolsos utilitários;
Proteção solar: esta era a maior preocupação;
Chapéus de aba larga: essenciais; de palha ou tecido leve;
Capacete colonial ("pith helmet"): embora hoje seja um símbolo controverso (associado ao colonialismo europeu e aos sangrentos safaris), em 1935 era comum tanto para homens como para mulheres em certas situações, como uma forma prática de proteção contra o sol intenso; as senhoras usavam versões mais leves e elegantes, muitas vezes forradas a seda;
Óculos de sol: tornavam-se um acessório de moda, além de funcionais;
Em suma, as senhoras (uma minoria) que em 1935 viajavam para a África, ainda negra, misteriosa, exótica, levavam um guarda-roupa que projetava elegância europeia, estatuto social e uma tentativa (nem sempre eficaz nem confortável) de adaptação ao clima tropical, mantendo sempre a máxima formalidade.
(Pesquisa: LG + Net + IA / Gemini Google)
(Condensação, revisão / fixação de texto: LG)
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(***) Último poste da série > 7 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27398: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte V: preços só para meninos ricos ou gente da classe média-alta... Hoje daria para dar a volta ao mundo em 100 dias.











































