1. O "making of" deste livro já terá, seguramente, mais de seis anos. Em 10 de agosto de 2015, o Jorge Monteiro Alves mandou-me um mail, pedindo a indispensável colaboração do blogue:
(...) "Caro Senhor Luís Graça;
Em colaboração com a editora Verso da História, estou a finalizar um livro sobre o TC Marcelino da Mata, tendo como pano de fundo o conflito na antiga Guiné Portuguesa.
O seu blogue contém relatos muito interessantes sobre a matéria e o senhor dispõe igualmente de uma extensa lista de contactos. O trabalho que estou a elaborar, já em fase de finalização, carece de três ou quatro testemunhos de antigos combatentes que tenham privado ou combatido com o TC Marcelino.
Poderá o senhor Luís Graça fazer o favor de me fornecer alguns nomes e respectivos contactos (telefónico ou via e-mail, preferencialmente da região de Lisboa, onde resido) que me permitam atingir o que proponho? (...)"
Esta mensagem foi de novo colocada, como comentário, no poste P823, em 8/10/2015 6:03 da tarde. da I série do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
2. Para além do seu nº de telemóvel, o Jorge Monteiro Alves deu-me uma extensa lista de nomes com quem gostaria de poder falar, entre eles, alguns alguns antigos militares dos Comandos do CTIG, tais como o Virgínio Briote, o João Parreira, o Mário Dias, o Vassalo Miranda, e outros. Dissemos-lhe que gostaríamos de saber algo nais sobre o autor. Respondeu-nos logo a seguir, reproduzimos um excerto:
(...) Boa tarde, Luís Graça
Antes de mais, obrigado pela sua amável resposta.
Em relação a conhecer algo mais sobre mim, posso dizer-lhe que tenho 55 anos e, como depreende devido à minha idade, felizmente não fiz a guerra do Ultramar. Cumpri o serviço militar como alferes miliciano na EPAM (nos "padeiros" do Lumiar), mas esse, tal como muitos de vós, foi apenas de carácter obrigatório.
Profissionalmente, fui jornalista do JN durante 25 anos e fui editor de Política Internacional, tendo no desempenho dessas funções andado nove anos a cobrir as guerras da ex-Jugoslávia, da Croácia à Bósnia e ao Kosovo. Para mim, chegou-me de guerra, de angústias e medo. Posteriormente, fui jornalista do jornal Público.
Actualmente trabalho como autor e revisor para editoras como a Presença, entre outras. Sou autor dos livros "Nunca Passes Além do Drina" (basicamente sobre as guerras na ex-Jugoslávia), "Carmencita" (um pequeno romance de carácter iconoclasta do século XVIII) e "A Generala" (um romance do início do século XIX sobre as Invasões Francesas).
Relativamente ao trabalho que estou a fazer sobre o TC Marcelino, permita-me que lhe faça o seguinte enquadramento – tenho o maior respeito pelos ex-combatentes, designadamente pelo TC Marcelino. Politicamente, poderá definir-me como um livre-pensador. O facto de estar a tentar encontrar ex-combatentes que privaram com o TC Marcelino penso que demonstra o esforço em recolher depoimentos que tornem esta biografia o mais factual possível. O trabalho em si está praticamente concluído, embora faltem limar algumas arestas.
Já tentei mais do que uma vez contactar o TC Marcelino, mas este infelizmente nunca respondeu. Tentei igualmente recolher o depoimento do Cor 'Comando' Folques, mas também este não respondeu.
A Verso da História, que vai editar esta obra, já elaborou múltiplos trabalhos sobre a Guerra Colonial, tendo contado com a colaboração de múltiplos ex-combatentes para a elaboração, por exemplo, de "Os Anos da Guerra Colonial" (não participei neste trabalho).
Resta-me mais uma vez agradecer-lhe a amabilidade da sua resposta e com certeza que autorizo que coloque o tal post no seu blogue. Fico à sua inteira disposição ou de qualquer ex-combatente caso me queira conhecer para tomarmos um café na zona de Lisboa (eu moro em Santo Amaro de Oeiras) antes de prestarem qualquer declaração sobre o TC Marcelino e a guerra na ex-Guiné Portuguesa.
Mais uma vez obrigado e um abraço,
Jorge Monteiro Alves
3. Mostrei disponibilidade para ajudar o autor a completar o seu livro. No dia 15 de agosto de 2015, às 20:35, escrevi-lhe o seguinte;
Jorge:
Vi o seu mail, estou de férias, mas vou procurar responder ao seu pedido... Gostaria de saber algo mais sobre a sua pessoa, presumo que seja jornalista. Gostaria inclusive, se mo autorizar, de publicar um poste no nosso blogue de modo a poder contactar com mais ex-combatentes, que passaram pelo TO da Guiné, e que conheceram o Marcelino, como homem e como militar.
Um dos dos nomes, incontornáveis, é do ex-alf mil 'comando' Virgínio Briote, comandante do grupo Diabólicos, a que o então 1º cabo Marcelino pertenceu, por volta de 1965/66.... Vou-lhe dar conhecimento do seu pedido de colaboração, Ele é um dos nossos colaboradores mais ativos. Outros camaradas desse tempo a que envio esta mensagem são o Mário Dias e o João Parreira... Os três moram na região de Lisboa...
Mas há mais camaradas e amigos do Marcelino, por exemplo os camaradas da Tabanca da Linha que o Marcelino costuma frequentar: cito três, os animadores da Tabanca da Linha, Jorge Rosales, José Manuel Matos Dinis, Manuel Resende...
Outros nomes que referiu, nomeadamente guineenses, já não estão infelizmenetentre nós...Casos do João Bacar Jaló e do Saiegh (que eu conheci pessoalmente na Guiné, na 1ª Companhia de Comandos, em Fá Mandinga e em Bambadinca)...
Antes de mais, obrigado pela sua amável resposta.
Em relação a conhecer algo mais sobre mim, posso dizer-lhe que tenho 55 anos e, como depreende devido à minha idade, felizmente não fiz a guerra do Ultramar. Cumpri o serviço militar como alferes miliciano na EPAM (nos "padeiros" do Lumiar), mas esse, tal como muitos de vós, foi apenas de carácter obrigatório.
Profissionalmente, fui jornalista do JN durante 25 anos e fui editor de Política Internacional, tendo no desempenho dessas funções andado nove anos a cobrir as guerras da ex-Jugoslávia, da Croácia à Bósnia e ao Kosovo. Para mim, chegou-me de guerra, de angústias e medo. Posteriormente, fui jornalista do jornal Público.
Actualmente trabalho como autor e revisor para editoras como a Presença, entre outras. Sou autor dos livros "Nunca Passes Além do Drina" (basicamente sobre as guerras na ex-Jugoslávia), "Carmencita" (um pequeno romance de carácter iconoclasta do século XVIII) e "A Generala" (um romance do início do século XIX sobre as Invasões Francesas).
Relativamente ao trabalho que estou a fazer sobre o TC Marcelino, permita-me que lhe faça o seguinte enquadramento – tenho o maior respeito pelos ex-combatentes, designadamente pelo TC Marcelino. Politicamente, poderá definir-me como um livre-pensador. O facto de estar a tentar encontrar ex-combatentes que privaram com o TC Marcelino penso que demonstra o esforço em recolher depoimentos que tornem esta biografia o mais factual possível. O trabalho em si está praticamente concluído, embora faltem limar algumas arestas.
Já tentei mais do que uma vez contactar o TC Marcelino, mas este infelizmente nunca respondeu. Tentei igualmente recolher o depoimento do Cor 'Comando' Folques, mas também este não respondeu.
A Verso da História, que vai editar esta obra, já elaborou múltiplos trabalhos sobre a Guerra Colonial, tendo contado com a colaboração de múltiplos ex-combatentes para a elaboração, por exemplo, de "Os Anos da Guerra Colonial" (não participei neste trabalho).
Resta-me mais uma vez agradecer-lhe a amabilidade da sua resposta e com certeza que autorizo que coloque o tal post no seu blogue. Fico à sua inteira disposição ou de qualquer ex-combatente caso me queira conhecer para tomarmos um café na zona de Lisboa (eu moro em Santo Amaro de Oeiras) antes de prestarem qualquer declaração sobre o TC Marcelino e a guerra na ex-Guiné Portuguesa.
Mais uma vez obrigado e um abraço,
Jorge Monteiro Alves
3. Mostrei disponibilidade para ajudar o autor a completar o seu livro. No dia 15 de agosto de 2015, às 20:35, escrevi-lhe o seguinte;
Jorge:
Vi o seu mail, estou de férias, mas vou procurar responder ao seu pedido... Gostaria de saber algo mais sobre a sua pessoa, presumo que seja jornalista. Gostaria inclusive, se mo autorizar, de publicar um poste no nosso blogue de modo a poder contactar com mais ex-combatentes, que passaram pelo TO da Guiné, e que conheceram o Marcelino, como homem e como militar.
Um dos dos nomes, incontornáveis, é do ex-alf mil 'comando' Virgínio Briote, comandante do grupo Diabólicos, a que o então 1º cabo Marcelino pertenceu, por volta de 1965/66.... Vou-lhe dar conhecimento do seu pedido de colaboração, Ele é um dos nossos colaboradores mais ativos. Outros camaradas desse tempo a que envio esta mensagem são o Mário Dias e o João Parreira... Os três moram na região de Lisboa...
Mas há mais camaradas e amigos do Marcelino, por exemplo os camaradas da Tabanca da Linha que o Marcelino costuma frequentar: cito três, os animadores da Tabanca da Linha, Jorge Rosales, José Manuel Matos Dinis, Manuel Resende...
Outros nomes que referiu, nomeadamente guineenses, já não estão infelizmenetentre nós...Casos do João Bacar Jaló e do Saiegh (que eu conheci pessoalmente na Guiné, na 1ª Companhia de Comandos, em Fá Mandinga e em Bambadinca)...
Sobre o Marcelino, não tenho qualquer informação relevante a dar-lhe, já que nunca o conheci na época em que estive no TO da Guiné (1969/71)... Só o conheço, e mal, de dois ou três convívios na Tabanca da Linha. Em todo o caso, há mais de 3 dezenas de referências ao Marcelino da Mata, no nosso blogue (que já existe há 11 anos).
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Marcelino%20da%20Mata
Desejo-lhe boa sorte na elaboração e publicação do seu trabalho. Espero que contribua, tal como o nosso blogue, para preservar e partilhar as memórias de uma época complexa mas historiograficamente rica como foi aquela em se desenrolou a guerra, na Guiné, entre 1961 e 1974.
Sabia, por alto, que havia alguém a trabalhar numa biografia do Marcelino, por informação do próprio. Espero que a obra, a publicar, nos honre a todos, e não seja uma mera hagiografia. O Marcelino merece um trabalho isento, bem documentado e intelectualmente honesto. O desafio é grande, mas os riscos também, e o maior deles é sempre a "ideologia" (qualquer que seja o seu quadrante ou matriz) que enviesa a recolha, o tratamento e a interpretação dos dados. Desejo boa sorte e ofereço-lhe as páginas do blogue para levar a bom porto o seu projeto.
Dou ainda conhecimento deste mail aos meus camaradas Mário Beja Santos, Jorge Cabral e Miguel Pessoa (outra fonte privilegiada que deve procurar contactar).
Saudações bloguísticas. Luís Graça
4. Em 25 de junho de 2020 começou a
circular pelas redes sociais um texto, em pdf, com 171 pp., da autoria de Jorge Monteiro Alves, com o título "O último soldado do Império". O José Torres fez-mo-lo chegar por email com a seguinte nota: "Aqui vai a história do combatente Marcelino da Mata".
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Marcelino%20da%20Mata
Desejo-lhe boa sorte na elaboração e publicação do seu trabalho. Espero que contribua, tal como o nosso blogue, para preservar e partilhar as memórias de uma época complexa mas historiograficamente rica como foi aquela em se desenrolou a guerra, na Guiné, entre 1961 e 1974.
Sabia, por alto, que havia alguém a trabalhar numa biografia do Marcelino, por informação do próprio. Espero que a obra, a publicar, nos honre a todos, e não seja uma mera hagiografia. O Marcelino merece um trabalho isento, bem documentado e intelectualmente honesto. O desafio é grande, mas os riscos também, e o maior deles é sempre a "ideologia" (qualquer que seja o seu quadrante ou matriz) que enviesa a recolha, o tratamento e a interpretação dos dados. Desejo boa sorte e ofereço-lhe as páginas do blogue para levar a bom porto o seu projeto.
Dou ainda conhecimento deste mail aos meus camaradas Mário Beja Santos, Jorge Cabral e Miguel Pessoa (outra fonte privilegiada que deve procurar contactar).
Saudações bloguísticas. Luís Graça
4. Em 25 de junho de 2020 começou a
Marcelino da Mata (Ponta Nova, Guiné, 1940 - Amadora, 2021) |
O texto começava assim:
(...) O tenente-coronel comando Marcelino da Mata fez mais de mil missões
de combate na Guiné. Das matas do Morés ao Corredor da Morte,
passando pelo Senegal e por Conacri
Apesar de este livro pretender ser uma singela homenagem ao tenentecoronel Marcelino da Mata e, por inerência, aos Comandos e a todos os
soldados Portugueses obrigados a abandonar as suas aldeias, vilas e cidades
para irem perder lá longe a inocência, quantas vezes a vida, o autor não
pretende, de forma alguma, fazer a apologia da guerra, mas tão-só traçar o
retrato possível de uma página da História de Portugal. (...)
E terminava assim:
(...) Hoje, tantos anos volvidos, o tenente-coronel Marcelino da Mata olha com
alguma amargura para o presente. Sente-se esquecido e injustiçado.
Também ele perdeu duas pátrias. Mas daquilo que sente mais saudades é
dos seus companheiros, traídos pela bandeira verde-rubra à qual tanto
deram e que jazem hoje esquecidos numa vala qualquer nas matas da
Guiné. (...)
Eu descomhecia esta versão. Depois da morte do Marcelino (em 11 de fevereiro de 2021), falámos ao telefone uns tempos depois. O Jorge Alves falou-me do seu projecto literário, em "stand by", e das suas dúvidas sobre a oportunidade da publicação do livro em cima do luto.
Incentivei-o a não desistir, sugerindo-lhe que desse mais atenção ao contexto histórico em que viveu o nosso camarada luso-guineense. Foi o que ele fez, aumentando e melhorando o texto que, entretanto, saiu publicado, sob a chancela de outra editora, a Livros Horizonte, em julho passado, com outro título, mas com os mesmos 15 capítulos e mais duas dezenas de páginas.(*)
A nova versão começa assim (cap I, pág. 17):
(...) Portugal teve o seu Vietname na Guiné. li, ao longo de 11 anos, num território do tamanho do Alentejo, morreram mais de três mil soldados portugueses, vítimas de um adversário temível e de um clima impiedoso. Muitos mais ficaram estropiados e com feridas na alma para toda a vida. Lutaram em condições pavorosas e, apesar de tudo, muitos foram além do que exigia o dever. De entre estes, um distinguiu-se dos demais, Foi, como quase todos, para a tropa porque a isso o obrigaram. Ali aprendeu o ifício da guerra. Depois ficou porque goatou do que fazia. O seu nome ? Marcelino da Mata. (...)
E termina assim (cap XV, pág.191):
(...) Muitos anos volvidos, já no fim da vida, o tenente-coronel Marcelino da Mata olhava com alguma amargura para o que o rodeava. Sentia-se injustiçado. Havia até quem o acusasse de não passar de um criminoso de guerra. Também ele perdera duas pátrias. Mas daquilo que sentia mais saudades era do mato e dos seus companheiros, traídos pela bandeira verde-rubra à qual tanto deram e que jaziam esquecidos numa vala qualquer nas matas da Guiné. (...)
(Continua) (**)
___________
Notas do editor:
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22481: Notas de leitura (1374): Jorge Monteiro Alves: “No mato ninguém morre em versão John Wayne: Guiné, o Vietname português” (Lisboa, Livros Horizonte, 2021, 191 pp.) – Parte I (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 3 de setembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22507: Notas e leitura (1376): "Posfácio" ao livro "Um caminho a quatro passos", de António Carvalho. Apresentação da obra na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, sábado, 11 de setembro, às 11 horas