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quinta-feira, 22 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26830: Álbum fotográfico do Fur Mil Cav Aníbal José da Silva - Pel Caç Nat 56 em São João

1. Mensagem do nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), com data de 18 de Maio de 2025:

Caro Carlos Vinhal
Hoje volto ao tema "Pelotão de Caçadores Nativos 56", que depois de terem estado afetos à minha Companhia (CCAV 2483), entre Março e Junho de 1969, no aquartelamento de Nova Sintra, foram continuar a sua missão no destacamento de S. João

O meu amigo José Manuel Rodrigues Cunha, ex-Fur Miliciano da rendição individual, esteve em Nova Sintra aquando da permanência da CART 2771, (Set70 a Set72, de os "Duros de Nova Sintra". No final da comissão dos DUROS, o Cunha foi destacado para S. João, para integrar o Pel Caç Nat 56, onde permaneceu até 1973. Creio ter sido contemporâneo do camarada José Câmara, colaborador deste Blogue.

O amigo Cunha, conhecedor da minha ligação àquele Pelotão, há uma década, teve a gentileza de me oferecer as fotografias que envio em anexo e que agora pretendo partilhar com o distinto Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Bom Domingo e um abraço
Aníbal Silva



S. João > 1973 > Fur Mil José Cunha


S. João > Pel Caç Nat 56


S. João > Pel Caç Nat 56


Pel Caç Nat 56 patrulhando a estrada S. João-Nova Sintra


Pel Caç Nat 56 patrulhando a estrada S. João-Nova Sintra


Pel Caç Nat 56 patrulhando a estrada S. João-Nova Sintra


Pel Caç Nat 56 na estrada S. João-Nova Sintra


Painel de aulejos no muro da Fonte de S. João, colocado em 1945


Ruina do Fontanário de S. João em 2014, sendo visível o painel de aulejos de 1945


Escola de S. João em 1972/73


(Fotos: © Fur Mil José Manuel Rodrigues Cunha)
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Nota do editor

Último post da série de 11 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26791: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte XXIV: Mais fotos de Mansabá, novembro de 1970

domingo, 4 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26762 Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte VI

Foto nº 1 > O alf mil Jorge Pinto, de oficial de dia



Foto nº 2 e 2A > A brigada de limpeza


Foto nº 3 e 3A > A equipa de manutenção e reparação da rede de arame farpado. O alf mil Jorge Pinto "fiscaliza" o trabalho.


Foto nº 4 e 4A > Uma saída para o mato


Foto nº 5 > Regresso de um patrulhamento ofensivo no subsetor de Fulacunda. O militar da frente transporta, ao ombro esquerdo, duas granadas de morteiro 60.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Mais fotos sobre o quotidiano dos militares no aquartelamento de Fulacunda: limpeza da parada, manutenção e reparação da rede de arame farpado, patrulhamentos ofensivos... Tudo isso está bem documentado nestas excelentes imagens, obtidas a partir dos "slides", digitalizados, do Armando Oliveira.

Fotos (e legendas): © Armando Oliveira (2025). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blog Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. O marcoense Armando Oliveira foi 1º cabo at inf, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), tendo pertencido ao 3º Pelotão, comandado pelo nosso amigo, camaradada e grão-tabanqueiro Jorge Pinto. Era o apontador da metralhadora pesada Breda, instalada no alto do fortim. Também exercia, no quartel, a sua profissão de barbeiro. E, como "hobby", fazia fotografia.

É membro recente da nossa Tabanca Grande (nº 901). Tem página do Facebook. Mora no Porto. Já voltou à Guiné-Bissau 4 vezes, tendo sempre passado por Fulacunda. Pretende voltar lá em 2026

Como na maior parte dos casos as fotos que ele nos disponibilizou,  não trazem legendas, temos que as tentar reconstituir, e contar com a ajuda dele como dos outros camaradas "fulacundenses" que também fazem parte da Tabanca Grande: o Jorge Pinto e o José Claudino da Silva. (Bem como do Fernando Carolino, que ainda está com um pé dentro e outro fora.)

2. Mais um apontamento sobre Fulacunda e o seu historial... Recorde-se que ainda antes do ínicio da guerra (que, segundo a "narrativa" do PAIGC, começaria com o ataque a Tite em 23 de janeiro de 1963), as regiões do sul, Quínara e Tombali, a partir de meados do ano anterior, já eram  alvo de sabotagens de linhas telefónicas, cortes de estradas e destruição de pontes, além de outras "atividades subversivas" (c0mo a propaganda, o aliciamento e a intimidação das populações). 

Fulacunda acabou por ficar isolada, perdeu o estatuto de sede de circunscrição (transferida para Tite) e a sua população ficou dispersa,  a maior parte no mato, sob controlo do PAIGC Em 3 de julho de 1963, na estrada Fulacunda-São João, o IN colocou a primeira mina A/C.

De acordo com a Directiva nº 3 do Comandante-Chefe, de 22 de maio de 1963, "as  regiões de Quinara e Fulacunda estão, na sua quase totalidade, fora do controlo das autoridades dada a intensa actividade desenvolvida pelo lN"

Mais concretamente:
  • "Grande maioria das tabancas estão abandonadas refugiando-se a população no mato, embora recolha durante a noite a algumas das não destruídas;
  • A população, em parte coagida, em parte de livre vontade, colabora com os terroristas, nomeadamente na colocação de abatizes e no racionamento de géneros alimentícios, este para fazer face às dificuldades que certamente surgirão na época das chuvas que se aproxima;
  • Tem criado dificuldades à movimentação das NT pela obstrução sistemática das vias de comunicação e montagem de emboscadas;
  • Tem atacado embarcações civis e até militares.
  • Já saquearam casas comerciais (S. João)." (...)

Os principais chefes de guerrilha referenciados na altura eram o Arafan Mané, o Gibril, o Malan Sanhá e o Quemo Mané. Em termos de armament0, o lN já dispunha "de pistolas e pistolas metralhadoras em quantidades apreciáveis e de elevado número de granadas de mão de muito boa qualidade".

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da actividade operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, 2014), pp. 100/101.
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 1 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26751: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte V

terça-feira, 15 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26692: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (7): Coluna de Reabastecimento a S. João - Coluna a S. João em 08/12/69 e Colunas de reabastecimento a Lala

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


17 - COLUNA DE REABASTECIMENTO A S. JOÃO
Saída de uma coluna
Regresso da coluna
Chegada ao quartel

Sempre que estava presente em Nova Sinta e havia colunas de reabastecimento a S. João, eu fazia todas. As localidades distam cerca de dezoito quilómetros. Era sempre necessário picar a estrada para detetar e levantar minas e foram algumas que se conseguiram. Demorava algumas horas a percorrer a distância.

Numa dessas colunas chegamos a S. João ao final da tarde. Estacionamos as viaturas em local devido e preparamo-nos para comer a ração de combate. 

O alferes do destacamento veio falar comigo e muito gentilmente propôs para não comermos a ração e ofereceu uma refeição quente, nada mais nada menos que um bacalhau com batatas, com a promessa da minha parte de lhe devolver a quantidade de géneros utilizados. Oferta irrecusável. Lá arranjei dois cozinheiros improvisados e que estiveram à altura da tarefa.

 Depois da refeição o pessoal preparava-se para ir dormir num colchão muito duro. Nada mais nada menos que o estrado das viaturas, sem cobertores e sem mosquiteiros ficando à mercê dos mosquitos. Só nesse momento me apercebi que os alferes e furriéis do pelotão, tinham ido para Bolama atravessando o rio, bastante largo, num barco de fibra de vidro.

Eu lá fiquei a dormir junto dos soldados, naquele confortável colchão. O batelão que transportava a carga, estava previsto atravessar o rio, de Bolama para S. João, ao raiar da manhã. Creio que devido a questões de maré ou de segurança, a travessia foi antecipada. O alferes do destacamento recebeu uma mensagem de Bolama a informar o facto. Procurou-me e disse o que se estava a passar e que teríamos de ir fazer a segurança ao batelão. Acabou com o nosso repouso. 

Acordei os 1.ºs Cabos e estes os restantes soldados. Lá fomos para a beira rio montar o perímetro de segurança. Mais ou menos duas horas depois começamos a ouvir o motor do barco. Chegado a S. João mantivemos o plano traçado.

Aos primeiros raios de sol começamos a tarefa de descarga e a carregar as nossas viaturas. Do alferes e dos furriéis nada. Efetuada a tarefa e enquanto esperávamos por eles, a maioria do pessoal aproveitou para se banhar no rio. Depois de ter suado na trasfega da carga, comecei a suar muito mais, desta vez com o nervoso miudinho. Numa viatura sentado em cima dos caixotes, perguntava a mim mesmo o que fazer.

 Entretanto o alferes do destacamento veio informar, que o motor do barco que os levou para Bolama tinha avariado e que o capitão daquele quartel não autorizava a cedência do barco deles. Enviar uma mensagem para Nova Sintra a informar o que se estava a passar e pedir instruções? Isso iria de certeza criar problemas disciplinares aos fugitivos.

 Aguentei mais duas horas. Suava por todos os lados, até que ouvi o barulho do motor. Eram eles. Chegados, não houve tempo para conversas e iniciamos o regresso, sem que a estrada fosse novamente picada, o que era um risco muito grande. Chegamos bem ao destino. O alferes teve o bom senso de ir informar o capitão do que se tinha passado e o assunto morreu aí, salvo eventual raspanete.

Mas a história não acabou aqui, é que dois soldados também foram para Bolama e por lá adormeceram numa qualquer tabanca e ficaram. As férias antecipadas custaram-lhes sanções disciplinares


18 - COLUNA A S. JOÃO EM 08/12/69
Estrada Nova Sintra – S. João
Regresso à saída de S. João
Cais de S. João. Do outro lado é Bolama

A determinada altura a coluna parou. Foram verificados vestígios da passagem de elementos do PAIGC, tendo sido de imediato iniciada uma incursão na mata, para ver o que se passava. Ouviu-se um rebentamento. Fora acionada uma mina antipessoal, por um soldado da CCAV 2482, cujo pelotão estava destacado, temporariamente, em Nova Sintra.

De imediato foi pedida a evacuação e iniciada a preparação para a sua efetivação e na qual participei. Foi encontrada uma clareira na mata, mas mesmo assim foi necessário desmatar à catanada, mais alguma vegetação.

O helicóptero começou a sobrevoar o local e o piloto exigiu que a clareira tinha de ser alargada e devidamente sinalizada. As catanas voltaram à ação. Como sinalização tive uma ideia que foi posta em prática. Coloquei no centro do local de aterragem, duas t-shirts brancas, uma que levava vestida e outra que levava na viatura para servir de pijama, que foram cravadas ao solo com umas pequenas estacas.

Assim o helicóptero pousou em segurança e consumada a evacuação.


19 - COLUNAS DE REABASTECIMENTO A LALA

Lala é um local situado à beira de um rio, sem qualquer tipo de cais de acostagem, onde só iam as LDM que quase encostavam à margem, tendo as descargas de ser feitas rapidamente, conjugadas com as marés, para evitar que na maré baixa ficassem assentes na terra, correndo o risco de serem flageladas.


No final do trabalho toda a malta aproveitava para dar uns mergulhos e braçadas no rio.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 8 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26664: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (6): Pelotão de Caçadores Nativos 56 - Primeira vez debaixo de fogo e Emboscada virtual

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26404: Fichas de unidade (37): BCAÇ 599 (Tite, 1963/65)

 


Cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos
da Guerra do Ultramar
Ficha de unidade : 
BCAÇ 599 (Tite, 1963/65)


Batalhão de Caçadores n.º 599

Identificação: BCaç 599

Unidade Mob: RI 15 - Tomar

Cmdt: TCor Inf Carlos Barroso Hipólito | TCor Inf Francisco António da Costa Almeida

2ª Cmdt: Maj Inf Agostinho Dias da Gama

OInfOp/Adj: Cap Inf José Jaime Pinto Monroy Garcia

Cmdt CCS: Cap Inf Júlio Carlos Matias | Cap SGE António Lopes

Divisa: -

Partida: Embarque em 120ut63; desembarque em 180ut63 | Regresso: Embarque em 28Ag065

Síntese da Actividade Operacional

Foi constituído e organizado a partir do BCaç 237, do qual transitaram os elementos de recompletamento. Era apenas composto de Comando e CCS, não dispondo de subunidades operacionais orgânicas.

Em 180ut63, sucedendo ao BCaç 237, assumiu a responsabilidade do Sector G, a partir de 11Jan65 designado por Sector SI, com a sede em Tite e abrangendo os subsectores de Tite, S.João e Fulacunda.

Desenvolveu intensa actividade operacional de patrulhamento, de reconhecimento, batidas, emboscadas e golpes de mão, em especial nas regiões de Nova Sintra, S. João, Uaná e Gampará e ainda a acção de recuperação das populações, sua segurança e protecção, contra o insistente esforço e pressão do inimigo.

Pelos efectivos envolvidos e resultados obtidos, destacam-se a operação"Alvor", de 23 a 26Abr64, na península de Gampará,  e a operação "Braçal", em 30Jan65, para ocupação de Jabadá e onde o inimigo exerceu inicialmente forte pressão.

Em 24Ag065, foi rendido pelo BCaç 1860, após substituição parcelar do seu pessoal efectuada a partir de 3Mai65 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Não tem História da Unidade. Tem "Resumo" da actividade do BCaç 237/BCaç 599 (Mai63 a Mai65) (Caixa nº  124 - 2ª Div/ 4ª Sec., do AHM). 


Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 55.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25702: Fichas de unidade (36): CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25179: Fichas de unidade (34): CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67)

 

Guião da CCÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


1. Não temos cópia da história da CCAÇ 797, uma subunidade que foi comandada pelo ex-cap inf Carlos Fabião (1930-2006) e a que pertenceu, entre outros,  o nosso "brasileiro de Cinfães", o ex-1º cabo radiolegrafista Nicolau Esteves (*). 

Isso não nos impede de saber um pouco mais das suas andanças na Guiné, entre abril de 1965 e janeiro de 1967.  Atuou sobretudo na região de Quínara (Sector Sul 1, S1, Tite).

Há algunas referências no livro da CECA (2014) sobre a atividade operacional desta companhia, sempre no Sector S1, Tite. Aqui vão:

  • 9Mai65 - Op Ivo

No dia 9Mai65, na operação "Ivo", forças da CCav 677 e CCaç 797 destruíram um acampamento com dois grupos de casas, em Aldeia Nova e em Gambinta, onde sofreram uma emboscada.

Foi capturada 1 granada de mão, várias munições e documentos. 

No dia seguinte surpreenderam um grupo lN em Flaque Intela, causando-lhe baixas não estimadas e capturando várias granadas de mão.

 As NT foram flageladas em Feninque e Biogate (CECA, 2014, pág. 312).

  • 29Mai65 - Golpe de mão a leste de Saliquinhe

(...) Em 29Mai, forças da CCaç 797 efectuaram um golpe de mão a leste de Saliquinhe, tendo destruído 5 casas que aparentavam ser local de reabastecimento do lN, pois continham grandes quantidades de arroz, "vinho" de cajú, medicamentos, camas novas, mosquiteiros, colchões de palha e almofadas

Foram detidos 61 nativos que anteriormente residiam na tabanca Gã Sene. (...)

  •  6Jun65 - Golpe de mão a norte de Jufá

(...) Em 6Jun65, forças da CCaç 797, durante um golpe de mão, destruíram um acampamento a norte de Jufá; o lN sofreu 2 mortos e foram capturadas 11 espingardas, 1 pistola metralhadora e outro material de guerra. (CECA, 2014, pág. 313).

  • 14Dez65 - Op Onça na península de Gampará

(...) Em 14Dez65, o BCaç 1860, através das CCaç 797 e CCaç 1420, realizou a operação "Onça", na península do Gampará.

O lN opôs resistência durante o desembarque das forças da CCaç 797 em Ganquecuta; emboscou por 2 vezes as mesmas forças na região de Gambachicha, causando 3 feridos e flagelou forças da CCaç 1420, perto de Tumaná, sofrendo 5 mortos.

 As NT fizeram 10 prisioneiros e capturaram 1 espingarda (CECA, 2014, pág. 324).

9-10Jan66 - Op Orfeu, golpe de mão a sul de Fulacunda

 Forças da CCaç 797(-) e da CCaç 1487(-) executaram um golpe de mão sobre o acampamento ln localizado a sul de Fulacunda.

O acampamento era constituído por 15 casas de mato que foram destruídas.

Foi feito 1 ferido ao lN e capturado 1 lança-granadas foguete, 3 espingardas e 1 pistola, além de documentos e outro material (CECA; 2014, pág, 387).

Fonte: CECA (2014, pág. 389)


  • 10Fev66 - Op  Osso em JUfá

 Esta operação foi realizada por forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487(-) e CPara(-). )

Foi destruída a tabanca de Jufa e capturada 1 pistola metralhadora, munições e material diverso.

Também aniquilado acampamento em Flaque Sunha e destruída grande quantidade de arroz; capturados documentos, munições e 1 pistola metralhadora. Destroçados acampamentos em Bissilão e Flaque Cibe. Feitos 10 prisioneiros e 6 mortos ao lN (CECQA, 2014, pág. 392)

30Mar66 - Op Narceja

(...) Forças das CCav 677(-), CCaç 797, CCaç 1487 e 2 GCmds "Os Apaches" e "Os Vampiros", realizaram uma batida na região de Gã Formoso e Ganduá Porto.

Na região de Gã Formoso, foram derrubados 3 acampamentos; causado ao l N 4 mortos e aprisionado 1. 

As NT apreenderam 10  espingardas e material diverso, tendo destruído grande quantidadede arroz. Destruído 1 acampamento em Bedeta, causado ao lN 1 morto e capturada 1 espingarda e outro material.

 As NT sofreram 7 feridos (CECA, 2014, pp. 392/393)

  • 25Mai66 - Op Quezília

(...) Esta operação teve por objectivo uma batida às matas de Aldeia Nova, Vanandim, Gã Saúde, Louvado e Bila. Foi efectuada por forças da CCaç 1549 (-), 1 GComb/CCaç 797, 1 GComb/CCaç 1487 e 1 GComb/CCaç 1499.

As forças destruíram dois acampamentos e duas tabancas lN, capturando material, munições e documentos diversos. Foram destruídas grandes quantidades de arroz, chabéu", óleo de palma,gado e vários utensílios domésticos e recuperados 20 elementos da população das tabancas de Louvado e Bila. As NT causaram ao ln 3 mortos e várias baixas prováveis. (CECA, 2014, pág. 402)

(...) O conjunto de operações mais interessantes do período foi realizadono o Sector SI e correspondeu à batida sucessiva dos compartimentos de terreno a leste do rio Louvado

Da Op Osso, em que se procedeu à destruição extensiva dos recursos lN, resultou a diminuição do número de flagelações a Jabadá e na bolanha do rio Louvado. As operações Nebri e Narceja realizadas mais a leste foram caracterizadas por incidentes que obrigaram a uma constante adaptação do planeamento à evolução da situação; os resultados da última operação foram particularmente prejudicados quando, num golpe de sorte, o lN conseguiu imobilizar um helicóptero na zona de acção.

Foram alteradas as missões das Unidades para se garantir a protecção da aeronave, verificando-se uma excelente colaboração dos elementos dos três ramos das Forças Armadas que participaram no incidente. (CECA, 2014, pág. 397)

Anexo n° 1 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1965 (CECA, 2014, pág. 347)

(...) c. Agrupamento 17 (CECA; 2014, pág. 353)

(1) Comando - Zona Sul Bolama

(2) BCAÇ 599

- Comando - Sector Sl Tite

- CArt 565 Fulacunda

- CCav 677 (-) S. João

- 1 Sec/CCav 677 Ilha das Galinhas

- CCaç 797 (-) Tite | - 1 Pel/CCaç 797 Enxudé

- C I M Bolama

- 1 Pel CIM Ilha das Cobras

- Pel Caç 955 Jabadá

- Pel Mort 912 (-) Jabadá

- 1 Sec/Pel Mort 912 no Sector do BCaç 619

- Pel AMetr "Daimler" 807 (-) Tite

- 2 AMetr do Pel AMetr "Daimler" 807 Jabadá (...) 

Anexo n° 3 - Ordem de Batalha - 1 de Julho de 1966 (CECA, 2014, pág, 463)

(...) Agrupamento 1975 - Comando Zona Sul  (CECA, 2014, pág. 472)

(...) • BCAÇ 1876 (CECA, 2014, pp. 475/476)

- Comando - Sector B Bissau

- CCaç 1488(-) Quinhámel

- 1 Pel Ilondé

- 1 Sec(+) Orne

- 1 Sec P.Vicente da Mata

- CCaç 1565 Bissau

- CCaç 728 Bissau

- CCaç 797(-) Nhacra  | - 1 Pel Safim | - 1 Sec(+) Ponte de Ensalmá | - 1 Sec(+) João Landim

- Pel Mort 1087 Bissau

- Pel AMetr "Daimler" 997(-) Bissau

- 2 AMetr na BA 12

- Comp Milícia 1O(-) Safim

- 1 Pel Nhacra (...) 

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro I. Lisboa: 2014. pp. 314/316.
______________

2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


16 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25175: Faceboook...ando (51): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - II (e última)

(**) Último poste da série > 11 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25056: Fichas de unidade (33): BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74), CCAÇ 3544 (Buruntuma), CCAÇ 3545 (Canquelifá) e CCAÇ 3546 (Piche)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25173: Faceboook...ando (50): seleção do álbum fotográfico de Nicolau Esteves, o "brasileiro de Cinfães", ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67) - Parte I

 

Foto nº 1 > Cartão de Boas Festas e Feliz Ano Novo.  Ao canto superior direito o brasão da CCAÇ 797. Na foto, o 1º caboradiotelegrafista Esteves a escrever para a famíçia e amigos. Local: tudo indica que seja Tite (onde a companhia esteve cerca de um ano, até abril de 1966). 


Foto nº 2 >  o 1º cabo radiotelegrafista Esteves lendo, na cama,um livro, cujo título não onseguimos identifiar


Foto nº 3 > O T/T Uíge que transportou o pessoal da CCAÇ 797 em abril de  1965



Foto nº 4 > O  1º cabo radiotelegrafista Esteves no regresso de saída para o mato com "banho de bolanha"... A G3 sem carregador...
 


Foto nº 5 > Na capela do quartel de Tite, sector sul,  Se  (Tite)

 A N. Sra. de Fatima também  nas matas da Guiné. . 


Foto nº 6 > Mais uma foto para a família... em Cinfães, na serra de Montemuro.


Foto nº 7 > Brindando à vida, à camaradagem, à amizade


Foto nº 8 > "A nossa equipa de futebol" (o Esteves  usa o termo "time", à brasileira)


Foto nº 9 > "Beira rio em São João" (já em 1966)... O Esteves será o camarada da  direita. 


Foto nº 10 > Quartel de Tite (c. 1965/66)

Fotos (e legendas): © Nicolau Esteves (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Nicolau Esteves, Susano, São Paulo, Brasil


1. Uma seleção do álbum fotográfico do ex-1º cabo radiotelegrafista Nicolau Esteves. A apresentação é dele, de acordo com a sua página no Facebook. As fotos (menos de 3 dezenas, de qualidade muito desigual, algumas delas riscadas), foram disponibilizadas em 20 de junho de 2016 na sua página do Facebook.  Foram selecionadas e editadas por nós. Os créditos fotográficos continuam a ser, obviamente,  do nosso camarada Esteves.

A sua publicitação nesta série ("Facebook...ando") e no nosso blogue ("Luís Graça & Camaradas da Guiné" ) permite que cheguem a um público mais vasto, e nomeadamente aos antigos combatentes da Guiné (1961/74), incluindo os seus camaradas de armas da CCAÇ 797, que passaram por Tite, São João e Nhacra. Publicaremos proximamente a II (e última) parte.

Na sua maioria as fotos não trazem legendas, e algumas estão em mau estado,  mas no essencial foram tiradas em Tite e em São João. Ficamos a  saber que o Esteves é natural de Cinfâes (portanto, vizinho da Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses; a quinta fica em contato visual com Cinfães, com o rio do Douro pelo meio, estando em frente à serra de Montemuro). 

Emigrou para o Brasil, muito provavelmente depois da "peluda". Faz anos  a 27 de janeiro. Casou com a Cilinha Esteves em 7 de setembro de 1973. O casal tem filhos e netos já criados no Brasil. Este "brasileiro de Cinfães" é pois mais um portuguès das sete partidas que foi engrossar a diáspora lusitana. Vê-se, pelo que vai postando, que tem orgulho e saudades da sua/nossa terra.

Fica convidado a integrar, de pleno direito, a nossa Tabanca Grande, juntando-se aos 884 camaradas e amigos da Guiné que já lá estão (entre vivos e mortos). Até ao momento é apenas amigo do Facebook da Tabanca Grande (temos alguns, poucos, amigos comuns).

Temos escassas 15 referências à CCAÇ 797 (Tite, São João e Nhacra, 1965/67). Não há nenhum camarada desta subuniddae reistado formalmente na Tabanca Grande. Em tempos (11 e 13 de dezembro de 2022) fomos contactdos pelo ex-furriel miliciano, da CCAÇ 797, a propósito do malogrado Julio Lemos Martins (que era de Ponte de Lima), desaparecido no rio Louvado. 
 "Sou o nº 8 da foto e fui camarada do Júlio Lemos no infortúnio do rio Louvado. Vivo desde 1976 no Canadá. Eu e o Júlio éramos os responsáveis desse grupo de combate nesse fatídico dia. A partir dai nunca mais vivi"....

Também temos referência ao ex-fur trms, Henrique A. Mendes, através de correspondência com a filha. (Ele seguiu depois a carreira militar.)

Sobre o antigo cap inf Carlos Fabião temos 60 referências. (Fez 3 comissões na Guiné.)


"Fotos do período em que estive em combate na Guiné-Bissau (1965/1967)" 

 (Nicolau Esteves)


(i) "Desembarcou em Bissau em 29/04/1965, tendo viajado no barco Uíge;

(ii) Foi "inicialmente enviado a Tite, passando por São João e finalmente Nhacra";

(iii) Em Tite pertenceu ao BCAÇ 1860 e passou a integrar a Companhia de Caçadores 797 (CCAÇ 797), "Camelos";  o lema era: "O inimigo teme sempre quem não o mostrar temer";

(iv) Exerceu "a função de 1º Cabo Radiotelegrafista do Comando da Companhia, liderada pelo Comandante Carlos Alberto Idães Soares Fabião";
 
(v) Vive em Susano, Estado de São Paulo, Brasil;

(vi) Tem página no Facebook e é amigo do Facebook da Tabanca Grande;

(vii) Há dias comentou,  num um dos nossos postes: "No meu tempo, 65/67, um soldado ganhava 450 escudos, o cabo 900 e eu ganhva maís 300 de prémios de especialidade no caso, 1º cabo radiotelegrafista. Naquele tempo, não tendo onde gastar ainda deu para juntar uns trocados" (Facebook da Tabanca Grande, 13 fev 2024, o1:48)

Em suma, à volta (ou a pretexto) de umas fotos do nossos álbuns, podemos sempre contar mais umas histórias, colmatando lacunas dos registos oficiais ou oficiosos da nossa guerra A CCAÇ 797 teve uma atividade operacional intensa. Sabemos muito pouco das suas histórias, a não a ser o que já se escreveu sobre o desastre no rio Louvado.


Guião da CCAÇ 797 (Cortesia: Coleção Carlos Coutinho, 2009)


2. Ficha de unidade > Companhia de Caçadores n.º 797


Identificação: CCaç 797
Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt: Cap Inf Carlos Alberto Idães Soares Fabião
Divisa: -
Partida: Embarque em 23Abr65; desembarque em 28Abr65 | Regresso: Embarque em 19Jan67

Síntese da Atividade Operacional

Após o desembarque, seguiu imediatamente para Tite, onde substituíu a CCaç 423, em 29Abr65, ficando com a missão de intervenção e reserva do BCaç 599 e depois do BCaç 1860 e guarnecendo com um pelotão o destacamento de Enxudé

Na função de intervenção, tomou parte em diversas operações efectuadas no sector, de que se destacam as acções nas regiões de Gã Saúde e Jufá, em que capturou 2 metralhadoras e 14 espingardas e nas regiões de Bissa0lão, Gampari e Gã Formoso.

Em 20 e 26Abr66, por troca por fracções com a CCav 677, foi colocada em S. João mantendo o pelotão de Enxudé e destacando ainda um pelotão para Jabadá, de 13Mai66 até 30Mai66. 

Em 30Mai66 e 03Jun66, foi rendida pela  CCaç 1566, por fracções, deslocando-se então para Nhacra.

Em 6Jun66, assumiu a responsabilidade do subsector de Nhacra, com destacamentos em Sanfim e João Landim, rendendo a CCav 1484 e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 1876, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Jan67, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 1487, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 94 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 339
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25070: Facebook...ando (49): O Fernando Moreira (1950-2021), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 3883 (Piche, 1972/74) terá sido o último militar do exército a falar pela rádio com o ten pilav Castro Gil (1950-1979) antes do abate do seu Fiat G-91 R/4, "5437", por um Strela, em 31/1/1974, sob os céus de Canquelifá

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24488: Historiografia da presença portuguesa em África (377): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2022:

Queridos amigos,
O rei da festa deste texto é o jornalista-cronista que acompanhou Craveiro Lopes em maio de 1955 à Guiné, é a matéria do primeiro volume que aqui se trata, o segundo volume prende-se com a continuação da viagem para Cabo Verde. Inusitadamente, o jornalista Rodrigues Matias sai do registo encomiástico, deixa Craveiro Lopes no altar e saúda a natureza, o feitiço africano entrou-lhe nas veias, como aqui se procura exemplificar. E mesmo quando tem que engalanar o ilustre visitante, a sua prosa parece assombrada, estes dias que já leva na Guiné trouxeram feitiço, ora vejam como termina um verdadeiro vendaval de dança Nalu na receção de Catió: "Um Sol de fogo chameja sobre o terreiro. Os nativos bailam, suando como esponjas espremidas. A três metros de alto, as caraças de trapo e madeira pintada esfuminham-se num turbilhão de poeira e, de cinco em cinco segundos, um rugido de dezenas de milhares de vozes grita vivas a Craveiro Lopes e a Portugal." De Catió, Craveiro Lopes irá a Cufar, regressando a Catió para pernoitar.

Um abraço do
Mário



O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (3)

Mário Beja Santos

Salazar não viajava, mas pôs os seus presidentes da República a visitar parcelas do império. Eleito em 1951, o general, a sua mulher, o ministro do Ultramar e a sua mulher, partem do aeroporto da Portela em 2 de maio de 1955, pelas 7h30 e aterram em Bissalanca pelas 15h locais. É Governador da Guiné Diogo de Melo e Alvim. O jornalista de serviço tece laudas à comitiva e ao séquito político que se vai despedir do presidente da República para esta viagem que não será curta. Fizeram-se obras em Bissalanca para haver uma pista capaz de receber uma aeronave daquele tamanho. Craveiro Lopes visitou demoradamente Bissau, percorreu a desditosa Bolama, atravessa o canal e de São João parte para Fulacunda. Continuamos a acompanhar o relato do jornalista Rodrigues Matias, verificará agora o leitor que ele nos aparece manifestamente inspirado. A ilustre comitiva partiu para São João, tinha então população predominantemente Biafada, temos agora um estirão de 42 km até Fulacunda. Diz-nos que a região é a das mais ricas de caça e, toda a Guiné, abundam aqui os búfalos, as gazelas, as cabras de mato e até os leopardos.

A prosa do narrador esmalta-se:
“A clareira por onde rolam os automóveis, remendada a vermelhões de baga-baga, foi machadada no corpo denso da floresta hidrófila, que ao Sul do Geba avança desde o mar, ladeando lalas e pântanos, através do Forreá, até ao limite das paragens montanhosas do Boé.
Vê-se neve na Guiné. Parece, mas não é. O grande poilão que se ergue no meio da neve, abre, a 40 metros de altura, a sua copa imensa sobre a vegetação que o circunda. E da mancha verde-escura da sua ramaria cerrada sacudida pela brisa, desprendem-se e caem flocos brancos de sumaúma chiada, que cobrem tudo por debaixo, vestindo a terra de brancores de neve…
Ébrios ainda da luz da manhã, que acende fulgurações tremeluzentes, na orvalheira do capim, esvoaçam, às sacudidelas bandos de rolas esmeraldinas, um solitário noitibó rabilongo, a freirinha, e a face laranja, habitantes das clareiras abertas.”


Após esta exuberância inusitada, Craveiro Lopes desembarca e recebe cumprimentos do administrador de Fulacunda, os cipaios apresentam armas, descreve Fulacunda, este nome quer dizer lugar de Fulas, é a região da Guiné mais rica de espécies florestais, estranhamente não tem serrações. Veladamente, tece uma crítica: “Fulacunda ficou sempre um produto de reforma administrativa, com autoridade, mas sem alma que a faça crescer. Deram-lhe, em 1946, um campo de aterragem, um quartel para cipaios e uma fonte pública em lugar aprazível, decorada com um painel de azulejos. Traçaram-lhe, à ilharga, na mesma altura, uma espantosa reserva de caça. No entanto, Fulacunda continua como a descrevemos.” E ficamos a saber que a estrada de Fulacunda vai até Catió. Craveiro Lopes procede à condecoração de quatro régulos, o régulo de Fulacunda ofertou duas pequenas onças, destinadas ao Jardim Zoológico de Lisboa.

Seguiu-se o habitual desfile dos povos da região, apresentando-se em grande maioria os Biafadas de Fulacunda, de São João e do Cubisseco, os Fulas de Buba, os Balantas de Tite e os representantes de grupos menos numerosos. A viagem agora continua rumo a Catió, mas o autor aproveita para fazer uma descrição detalhadíssima dos Biafadas, com base no trabalho do administrador Octávio C. Gomes Barbosa, intitulado “Breve Notícia dos Carateres Étnicos dos Indígenas da Tribo Biafada” publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, N.º 2, 1946.

Já chegámos a Catió, é sede de circunscrição. E vamos aprender com o relato do nosso jornalista. Catió nasceu da teimosia de um comerciante, de nome Abel Gil de Matos, mas a história de Catió vem de mais longe, vem do século XIX e da China. O que se segue já mereceu escritos do nosso saudoso António Estácio e do investigador Philip Havik. Vamos aos factos. Dois chineses, acusados de crime de homicídio e jogo clandestino, depois de condenados vieram para aqui desterrados. E o autor esclarece que a Guiné continuava então a ser uma verdadeira terra de degredo, bom local para desterro de assassinos. Pois bem, os dois chineses dedicaram-se à pesca, adquiriram embarcações e ganharam intimidade com os nativos, tendo-lhes pedido informações de terras que pudessem cultivar. Terão assim obtido a revelação de que no continente, subindo um grande rio até a umas terras mal conhecidas se encontravam enormes extensões de boa terra inundada, onde era abundante a produção do arrozal. Começava assim a sua aventura, cultivaram e foram bem-sucedidos. Depois, correu fama entre os Balantas de algures, no Tombali, a terra era milagrosa e produzia ouro sobre a forma de arroz.

Bissau e Bolama pasmaram com a qualidade do arroz do Tombali, cabo-verdianos e europeus pediram concessões de terrenos. Instalou-se um posto administrativo em Sugá, mas um comerciante discordou do local e assim nasceu Catió, hoje povoado de primeira, tem estação radiotelegráfica, delegação de saúde, capela e escola missionária, bem como recinto de jogos. Ponto curioso é haver povoados na circunscrição com nomes de inconfundível sabor chinês, como é o caso de Com-Hane.

Baseando-se no relato do ex-governador Carvalho Viegas, de sua obra Guiné Portuguesa, o jornalista faz-nos uma descrição do povo Nalu, dado o facto da circunscrição de Catió ser o chão característico dos Nalus. O jornalista já pôs de parte os seus enleios de prosador esmerado, agora o que pesa é o estilo noticiário. “Ao desembarcar do automóvel presidencial no topo da artéria, uma espécie de loucura coletiva se apossou daquelas dezenas de milhares de pessoas, que irromperam em vivas e palmas.” Craveiro Lopes entregou o seu retrato encaixilhado aos quatro régulos da região.

Estamos perante um jornalista que gosta da etnologia e da etnografia, a descrição que se segue é a observação das danças Nalus, é uma escrita empolgada:
“Os marinheiros tinham assentado no terreno as suas marimbas, em bataria, e percutiam-nas elevadamente, conduzindo os pés dos bailarinos em paralelo á dança das baquetas saltitantes. Lembravam executantes de ‘mssau’ zavala, acompanhando a contracanto a narração de pecados de amor que atraíssem sobre a tabanca as iras das divindades.
E dois bailarinos de exceção, os campós, metidos em saiões de monstros encimados de caraças horrendas varriam o terreno em fúrias de rodopio estonteante. Uma das caraças, vagamente sugerindo cabeça de cavalo, com cabeças amarelas de tachas luzindo ao Sol e riscos de zarcão circundando os olhos por sobre uma bocarra de alvaiade e lama, erguiam-se a mais de 3 metros, gesticulando hieróglifos macabros de ameaça, de espanto, de ataque e de fuga, de raiva e de medo.
Era a grande máscara da dança Nalu, aterrorizando os espíritos maus que vagueiam pelos matos do Tombali, para que o pavor os confunda e os afaste do trilho dos passos do Homem Grande, em cuja honra pipilavam as marimbas da tribo e dançava em festa o povo das suas tabancas.
Depois, entrou em cena a formação dos grandes tambores Nalus, presos à cintura de mais bailarinos, cuja fila executa marcações de reta, de círculo, de arco e de triângulo. As macetas batem na pele de todos os bombos ao mesmo tempo, ao ritmo lento de um comando que ninguém sabe de onde vem, e que faz a todos os dançarinos avançar a perna direita, fletir o joelho esquerdo, executar um golpe de rins, jogar a cabeça para trás, avançar ou recuar um passo. Conjuntamente, corpos e tambores executam a pancada uníssona, coletiva, lenta como o desespero. Depois, a fila faz repentinamente meia-volta e gira em sentido oposto. O ritmo das macetas acelera. Os tambores agitam-se, a golpes de rins mais frequentes.
E o cavalão-caraça, montado sob o bailarino estrela que obedece às marimbas, entra de novo em cena, faz vénias aos tambores e manda-os a anunciar aos longes, por bolanhas e matagais, que o Homem Grande chegou à terra dos Nalus e traz consigo a paz e a alegria e a fertilidade dos arrozais de Catió.”


E digam-me lá se este jornalista não estava verdadeiramente inspirado, a gravar as suas emoções para uma literatura luso-guineense.

Os dois volumes respeitantes à viagem de Craveiro Lopes à Guiné e Cabo Verde, Agência Geral do Ultramar, 1956
General Craveiro Lopes
Diário da Manhã de 11 de maio, general Craveiro Lopes junto da estátua de Nuno Tristão, imagem do Museu da Presidência, com a devida vénia
Placa evocativa da visita de Craveiro Lopes durante a construção da ponte sob o Corubal, maio de 1955, imagem de Albano Costa, com a devida vénia
1.ª página do Diário Popular de 7 de maio de 1955
De Bolama para São João
De São João para Fulacunda

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24472: Historiografia da presença portuguesa em África (376): O General Craveiro Lopes na Guiné, maio de 1955 (2) (Mário Beja Santos)