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segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22827: In Memoriam (420): Jaime Brandão, ex-Fur Mil Pil da FAP, falecido em 18 de Dezembro de 2021 - Adeus e até já, Jaime. Partiu hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida! (Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp)

1. Com a devida vénia ao nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1321 de 19 de Dezembro onde o Joaquim se despede do seu velho amigo Jaime Brandão, ex-Fur Mil Piloto da FAP, recentemente falecido por doença.


ADEUS E ATÉ JÁ, JAIME!

Partiu hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida!

As histórias com o Jaime Brandão são inúmeras desde garotos, passando pela Guiné, pela dita revolução e até aos dias de hoje.

Por causa da nossa amizade passei fins de tarde quase contínuos na BA5, mormente na Esquadra dos Falcões, e por isso mesmo me foi concedido algo único na minha vida: um voo de A7.

Claro que, embora houvesse outros “candidatos” amigos que me queriam levar, não poderia deixar de ser o Jaime a dar-me esse raro prazer, quase impossível a civis.

Foi um dia memorável.

Tal como o dia em que, envolvido na primeira Operação Militar na Guiné, no segundo mês da minha chegada, com o camuflado ainda a “cheirar a goma”, desembarco no quartel de Porto Gole e quando estou a subir a rampa para as instalações vejo o Jaime vir direito a mim a sorrir e abraçando-me com toda força.

Perguntei-lhe como era possível ao que ele me respondeu a sorrir que sabia que eu estava envolvido naquela Operação e que ia desembarcar em Porto Gole para passar a noite e como vinha de regresso a Bissau, declarou que tinha a porta aberta do DO27 e que tinha de aterrar em Porto Gole.

As histórias são inúmeras, (de dia ou de noite), e todas elas são memórias fantásticas que me trazem agora lágrimas aos olhos

O Jaime era um homem franco, honesto, sério, que não pedia licença para dizer o que pensava e sentia, mesmo que isso lhe acarretasse incompreensões ou mesmo problemas.

Amigo do seu amigo, levava a amizade muito a sério, tão a sério que não se coibia de me dizer algo que eu fizesse mal, como eu lhe dizia também a ele.

É assim a amizade verdadeira!

Mas tinha também um humor muito especial e vivemos momentos hilariantes ao longo de todo este tempo que Deus nos deu de amizade verdadeira e vivida.

Muitas vezes as nossas conversas eram quase um monólogo tal a identidade de pensamento e opinião que tínhamos os dois.

Em bom e antigo português era quase um: “se um diz mata o outro diz esfola”!

Espero, (fazendo humor), que no Céu haja cerveja, porque ele tem que ter uma esplanada onde a beber esperando por mim e por muitos mais que nos faziam companhia.

Pouco apreciador do cozido que habitualmente nos era servido nos nossos convívios, isso limitou a sua presença à mesa connosco. Mas não deixou de estar presente por várias vezes, satisfazendo-se com a sopinha do cozido ou, numa situação pontual, com uma feijoada vegetariana trazida de propósito de Lisboa pela sua camarada e amiga Giselda.

Há homens que nunca fizeram nada por Portugal e são recordados como se o tivessem feito.

O Jaime foi voluntário para a Força Aérea, serviu o seu país na Guiné e em Portugal, serviu o seu país na sua profissão como civil, lutou por um país melhor do que o “politicamente correcto”, e ninguém, com certeza desta gente que nos governa terá uma palavra para ele, o que ele, julgo eu, até agradece.

Envolvo a sua família, mulher, filhas, netos, irmãs e irmão no meu estreito e muito amigo abraço, sem palavras que as não tenho para dizer.

Estou profundamente triste, embora acredite que aos homens bons como o Jaime, Deus tem sempre junto de Si, mas isso ainda não mitiga a saudade imensa que já sinto em mim.

Como dizemos em Monte Real, pelo menos no tempo em que eramos garotos, quando as pessoas se encontram: Adeus!

Eu digo-te, Jaime meu querido amigo, adeus e até já!

Marinha Grande, 18 de Dezembro de 2021

Joaquim Mexia Alves

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Notas do editor:

À família do nosso camarada Jaime Brandão, a tertúlia e os editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresentam as suas mais sentidas condolências.

O Jaime Brandão participou no V e VI Encontros Nacionais da Tabanca Grande em Monte Real. Nesta foto em conversa com o Victor Barata, também ex-militar da Força Aérea Portuguesa e também ele recentemente falecido.

Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22749: In Memoriam (419): Tibério Paradela (1940-2021), capitão da marinha mercante, um "lobo do mar" ilhavense, que nos deixa um notável testemunho da epopeia da pesca do bacalhau, no seu romance "Neste mar é sempre inverno"

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8392: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro, manga de ronco (6): Os apanhados pela objectiva do Manuel Resende (Parte I)

Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande (*)   > O nosso assessor jurídico, o Dr Jorge Cabral, especialista em direito penal, e celebrado criador da figura do Alfero Cabral, mais o fotógrafo que tirou esta série, o Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585 do BCaç 2884, que esteve em Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, (1969/71). O Resende veio ao encontro acompanhado da esposa, Isaura Serra (o casal mora em Caxias / Oeiras).


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Da esquerda para a direita, o Eduardo Campos (Maia),o Hélder Sousa (Setúbal) e o Silvério Lobo (Matosinhos: esteve recentemente na Guiné-Bissau, ma sua 3ª viagem por terra; na ida apanhou um susto na Mauritânia..). Vieram acompanhados das suas caras metades, Manuela, Natividade e Linda...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Do lado direito, reconheço o António J. Pereira da Costa e a Isabel, que vieram de Mem Martins / Sintra, e já são habitués dos nossos encontros... O António prometeu-me mais um poste para a sua série A Minha Guerra do Petróleo... (Temos um contrato para a produção de seis episódios e ele está a cumprir com o rigor do RDM; devo acrescentar que ele é o único coronel da tropa que eu conheço, "na reserva e em efectividade de funções")...



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Aspecto parcial do início das hostilidades, os aperitivos no terraço da Sala D. Diniz, às 13h00 em ponto... Em primeiro plano, a Lígia (Espinho) e a Gina (Cascais)...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > De que estarão a falar o Jaime Brandão (Monte Real / Leiria) e o Victor Barata (Vouzela) ? Só pode ser do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 de que o Victor é o fundador e comandante... Conheço desde a Ameira, em 2006... Infelizmente, desta vez não conseguiu trazer o nosso Ruizinho, que  problemas de saúde retiveram em Viseu...



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Mais amigos/as, camaradas e camarigos, na hora e local dos aperitivos: em primeiro plano, o Jero, o Zé Martins, a Manuela Martins, a Dina Vinhal, a Isaura Serra (de perfil)...



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > O Juvenal Amado e o Carlos Silva (um dos fundadores e dirigentes da ONGD Ajuda Amiga, além de advogado e régulo... de Farim!)...

Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > De costas a Suzel (Óbidos), do lado esquerdo a Isaura Serra (Caxias / Oeiras), ao centro a Alice (Alfragide / Amadora) e do lado direito a nossa tabanqueira Felismina Costa (Agualva / Sintra) que veio acompanhada dos filhos, Cláudia e João Carlos


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Outro aspecto da sessão de aperitivos... Mais caras bonitas, simpáticas, amigas, solidárias...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Mais camarigos, uns novos como o Francisco Varela, advogado, amigo do Jorge Cabral (ao canto esquerdo), outros já nossos velhos conhecidos  da Tabanca Grande: em segundo plano, o J. L. Vacas de Carvalho, o Eduardo Moutinho (Tabanca de Matosinhos), o José Armando F. Almeida e o Benjamim Durães (de costas)... Em primeiro plano, o António Estácio (guineense do chão de papel disfarçado de tuga que viveu boa parte da vida em Macau...), o açoriano Tomás Carneiro (de costas, se não me engano) e o Henrique Matos (açoriano disfarçado de algarvio de Olhão)... O Estácio, atenção, vai lançar por estes dias um novo livro, Nha Bijagós (Fiquem atentos à nossa Agenda Cultural).

Fotos: © Manuel Resende  (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 

[ Selecção, edição e legendagem das fotos: L.G.]
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Nota do editor

(*) Vd. último poste da série > 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8387: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro,manga de ronco (5): Agradecimentos da Maria Luís / Paulo Santiago, com selecção de fotos de Miguel Pessoa


quarta-feira, 30 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6662: V Convívio da Tabanca Grande (11): Caras novas (Parte I) (Luís Graça)


Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010 > A ex-enfermeira pára-quedista Rosa Serra, novo membro da nosso blogue... Tive uma conversa interessante sobre o tema que me intriga: como é que os militares (nomeadamente os do mato) viam (ou idealizavam) as enfermeiras pára-quedistas ? como enfermeiras ?  como militares ? como anjos que vinham do céu ? como simples camaradas ? como mulheres de carne e osso ?... Conversa interessante mas inconclusiva: não é pergunta que se faça a um ex-enfermeira pára-quedista, jovem, bonita, corajosa,  e muito menos num 'ajuntamento' como este, com mais de centena e meia de convivas (de resto, com uma presença forte de mulheres: mais de um terço...).




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Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010  > O Pirata de Guileje J. Casimiro Carvalho, felicíssimo, junto da sua Ana, a mãe da Sofia e da Kika... Vivem na Maia, mas o Pirata  nunca a traz para estas coisas (Eu pessoalmente não a conhecia, a não ser talvez - e se não me engano - das cartas do corredor da morte...)




Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010 > Da esquerda para a direita: o Hugo Guerra, Cor Inf DFA Ref, o nosso camarada que foi evacuado duas vezes e meia; a Ema, sua companheira, antiga hospedeira de terra da TAP e agora aluna do curso de licenciatura em serviço social; e a Elisabete, esposa do Francisco Silva (que hoje é ortopedista no Hospital Amadora-Sintra)... Qualquer deles não esteve no encontro do ano passado, na Ortigosa. Pela foto, percebe-se que a Ema estava cansada, mas feliz... que a jornada foi longa e cheia de emoções.




Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 20 >  A Maria João, esposa do camarada Jorge Araújo, que pertenceu à CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74); é doutorada em Psicologia Clínica, trabalha no Instituto Piaget e, imaginem, vir a descobrir que eu e ela pertencemos ao CIESP - Centro de Investigação e Estudos em Saúde Pública... O casal vive em Almada... Na foto, está a ler o livro do Amadu Djaló (que infelizmente, por razões de saúde, não pôde apareecer desta vez; mesmo assim, o Virgínio Briote e o Eduardo Magalhães Ribeiro conseguiram vender quase meia centena de exemplares).

O Jorge vai seguramente "tratar dos papéis" para formalizar a sua entrada na Tabanca Grande... Quem andava radiante era o Sousa de Castro, o nosso tabanqueiro nº 2, de Viana do Castelo, que conseguiu reunir,  com ele, cinco elementos da sua companhia, incluindo um dos capitães que por lá passaram, o nosso António Costa...





Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 20 > Malta da FAP, em peso: em primeiro plano, à esquerda, o Melec Jorge Narciso (Cadaval) que é uma cara nova, o Victor Tavares (Águeda,  o homem da MG 42, ex-pára, ou Pára para Sempre, que acaba de ser operado à coluna, com todo o sucesso; pertenceu à CCP 121/BCP 12, 1972/74); em segundo o plano, outro Melec, o Vitor Barata (fundador e animador do blogue Especialistas da BA 12, Guiné, 65/74),  e outro ex-pára Manuel Rebocho, este último, também um estreante nestas andanças, e meu confrade da sociologia, área disciplina onde se doutorou, em 2005, pela Universidade de Évora, com uma tese sobre a formação das elites militares em Portugal, no Séc. XX). Há um 5º camarada, ao lado do Victor, que eu não consigo de momento identificar.





Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho  de 2010 > O ex-Cap Mil Carlos Nery Gomes Araújo, autor da nova série Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCQAÇ 2382 (Buba, 1968/70). Meu vizinho de Alfragide (bem como do Humberto Reis e do Manuel Amaro), só no sábado de manhã é que o conheci. Dei-lhe uma boleia até Monte Real.  Conversámos longamente. Disse-me que está a recolher informação sobre o famoso ataque a Buba, em 16 de Outubro de 1969, por uma força IN estimada em 5 bigrupos...




Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010 > O Jaime Brandão ficou na mesa da FAP, presidida por dois pesos pesados, da guerra aérea na Guiné, a parelha Miguel Pessoa (Cor Pilav Ref) e António Martins de Matos (Ten Gen Pil Res)... O Jaime também foi piloto, esteve na Guiné, e é amigo do nosso anfitrião Joaquim Mexia Alves. Fiz-lhe expressamente o convite parta ingressar na Tabanca Grande...





Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional da Tabanca Grande Grande > 26 de Junho de 2010 > O António Estácio, o único membro do blogue nado e criado na Guiné, que esteve presente nesta nossa bela jornada... O autor de Nha Carlota (2010) fez o serviço militar em Angola, como alferes miliciano, e  esteve depois em Macau com o nosso saudoso Zé Neto, cuja viúva, Júlia, e neta, Leonor, também participaram neste encontro da Tabanca Grande... A Júlia disse-me estar encantada. A Leonor, coitada, fez o sacrifício em homenagem ao seu querido avô. Uma menina de ouro (de quem não tenho uma foto!!!). (*)

(Continua)

Fotos e legendas: © Luís Graça (2010). Direitos reservados

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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

Monte Real > Base Aérea nº 5 > 25 de Fevereiro de 1988 > O Cap Pil Av Jaime Brandão, mais o seu amigo e conterrâneo Joaquim Mexia Alves, preparando-se para um passeio de... A7.

Foto: ©
Joaquim Mexia Alves (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves (*):

Caros Luís, Virgínio e Carlos:

Aqui deixo uma história para a série "Gloriosos Malucos...." (**)

Tenho de informar que não tenho a certeza se já a contei e se foi publicada, porque é tanta coisa que a memória já não dá.

Os meus camarigos farão o favor de verificar.

Conto então uma história na Guiné com o Fur Mil Pil Av Jaime Brandão, da minha terra de Monte Real, e de quem sou amigo desde as nossas infâncias.

Mal a minha companhia chegou ao Xitole, e ainda com os camuflados cheios de goma, foi-nos ordenada uma operação em larga escala, com desembarque, salvo o erro, no Fiofioli, Corubal, atravessando depois em direcção ao Mansambo, enquanto outros seguiriam em direcção ao Xime, se bem me lembro.

Era uma operação de três dias em que saimos do Xitole em viatura direitos ao cais do Xime, para embarcarmos numa LDG que nos levou para passarmos a noite em Portogole, de onde na manhã seguinte partimos para o desembarque no rio Corubal.

Poupo-vos os pormenores da operação, até porque a minha memória está um pouco apagada, para vos contar o episódio com o Jaime Brandão.

Quando estavamos a desembarcar no Portogole, passou por cima de nós, voando baixo, uma DO 27, que depois deixámos de ver.

Já depois do desembarque e quando ia a caminho de me mostrarem o lugar onde iríamos pernoitar, aparece-me o Jaime Brandão pela frente, que eu não via desde Monte Real, desde adolescentes, já lá iam uns anos largos.

Calculam o meu espanto!

Disse-me ele que sabia ser a minha companhia que estava ali a desembarcar e assim, declarando uma porta aberta, salvo o erro, aterrou em Portogole apenas para me dar um abraço e já agora porque não, bebermos uma cerveja, finda a qual ou as quais, ele continuou para Bissau e eu lá fiquei sem dormir, bastante à rasca, porque a coisa no outro dia não prometia nada de bom.

Mas tudo correu bem e no final da operação, calculem bem, que pouco depois de ter chegado ao Xitole, nem sei se já tinha tomado banho, aparece outra vez o Jaime Brandão para saber se eu estava bem e se tudo tinha corrido bem.

Encontrámo-nos mais umas vezes na Guiné, das quais recordo uma já contada no blogue, em que ele foi a Bambadinca buscar-me para eu ir cantar fados a Nova Lamego! (***)

Aqui fica para a posteridade!

Envio uma fotografia em que estou com o Jaime Brandão, nessa altura Cap Pil Av, preparando-nos para um passeio de A7 no dia 25 de Fevereiro de 1988, que me foi oferecido pela Força Aérea, a pedido da esquadra 302, (salvo o erro), Os Falcões, por causa da minha boa relação e amizade com todos eles.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

2. Comentário do L.G.:


Joaquim: Vejo que continuas em forma... A história é uma delícia, só possível numa guerra como a nossa, entre tugas da Guiné... No Vietname ou no Iraque, era capaz de dar tribunal militar... Em suma: um belíssima história de amizade e de camaradagem... Foste/és um sortudo. Não te conhecia (mas imaginava...) esse teu lado de "glorioso maluco das máquinas voadores"... Mais inclinado para os ares do que para os mares (Vd. foto ao lado, tu, no Niassa, a caminho do degredo)... Aliás, pergunto-me: com a base ali ao lado, ali tão perto de casa, em Monte Real, por que é que não foste para os aviões ? Ou será que não havia cockpits com as tuas medidas de basquetebolista ?

Aquele abraço, extensivo ao teu amigo Brandão. Luís

_________

Notas de L. G.:

(*) O Joaquim Mexia Alves foi alferes miliciano de operações especiais, tendo passado, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, por três unidades no TO da Guiné: (i) pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) ingressou depois no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) ; e (iii) terminou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74). O Pel Caç Nat 52 estava na altura afecto ao mesmo batalhão.

Ao seu currículo, ainda podemos acrescentar: (i) organizador do nosso III Encontro Nacional, (ii) letrista e cantor de fado, e (iii) grande, grande, grande... camarigo.



Vd. poste de 19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

(**) Vd. último poste da série: 1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3259: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (6): Alguns esclarecimentos (Jorge Félix)

(***) Vd. poste de 16 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

sábado, 16 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1078: Estórias avulsas (2): Uma boleia 'by air' até Nova Lamego para uma noite de fados (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Alouette III, a descolar do heliporto local. Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). © Humberto Reis (2006).


Texto de Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, durante o período de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, pertenceu a: (i) ; CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas); (ii) Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) ; e (iii) CCAÇ 15 (Mansoa) .


Caro Luís Graça:

Mais uma história, verdadeira, claro está (1).


A Visita Aérea às Companhias que não aconteceu.

Quando estava na Ponte de Udunduma com o Pel Caç Nat 52, fui chamado a Bambadinca, para reforçar a CCAÇ 12, numa qualquer operação de que não me lembro, mas na qual nada deve ter acontecido, pois senão até a minha fraca memória se lembraria.

A verdade é que ao fim da manhã (a operação começaria ao fim da tarde), quando já estava em Bambadinca a fim de combinar a coisa com o meu grande amigo Capitão Bordalo, comandante da CCAÇ 12, e os seus Alferes, aterra uma DO 27 na pista do quartel.

É sabido, pelo menos no meu tempo assim era, que os Comandantes de Batalhão (passo a crítica jocosa), se pelavam por uma voltinha de avião ou helicóptero, com a desculpa da visita às Companhias mais afastadas.

É curioso que as colunas de abastecimento, pelos vistos, não serviam tal propósito, vá-se lá saber porquê, o que pelo menos no caso do meu batalhão era uma realidade.

Mas, voltando aos factos, logo o Comandante do Batalhão [ BART 3873, Bambadinca, 1972/74] se deslocou à pista para tomar assento no avião e dar a sua volta aérea (1).

Foi então que o piloto, grande amigo meu de Monte Real, e que penso não se importa que aqui deixe o seu nome, Jaime Brandão, perguntou por mim, e convidou-me para ir com ele até Nova Lamego, pois iria acontecer uma noite da fados, e era muito importante a presença da minha voz. (Já perceberam que na altura eu cantava o fado e, segundo dizem, bastante bem).

Acrescentou ele que não havia problema, pois no outro dia voltava a Bissau e no caminho deixava-me em Bambadinca. (Era fácil, declaravam uma porta aberta e assim tinham de aterrar).

A cara do Comandante era indescritivel e eu disse ao Jaime que era impossível porque tinha aquela operação.

Voltamos para a messe e passadas uma hora ou duas ouve-se um helicóptero aterrar e aí o Comandante disse:
- Agora é que é!!!

Claro que fui também até à pista.

Do helicóptero sai o Pedro Melo Ribeiro, outro amigo de Lisboa, que não era piloto mas vinha a acompanhar, e me diz:
- É pá, vimos-te buscar porque esta noite há fados em Nova Lamego e o pessoal disse logo que tu eras imprescindivel!!!

A vossa imaginação está agora com certeza a ver a cara do Tenente-Coronel, com o espanto e sei lá mais o quê bem retratado na fisionomia.

Claro que dei a mesma resposta e retirei-me para a messe, sob os olhares gozões de uns e o olhar reprovador de outro, que não sabia bem o que fazer e até talvez meditando na importância da minha pessoa.

Por volta das 3 ou 4 horas da tarde, depois de uns uísques bebidos para animar as tropas, aterra outra DO 27, e o Comandante entre, incrédulo e ansioso, lá se dirigiu para a pista, comigo e já um número de camaradas a acompanhar.

Era novamente o Jaime Brandão, que com um sorriso dispara:
- Então vens ou não?

Escusado será dizer que a resposta foi a mesma e que o Comandante neste momento já não tinha cara, mas uma máscara de incredulidade, espanto, irritação, etc. etc.

Nos dias que se seguiram o gozo foi enorme, umas vezes mais descarado, outras mais disfarçado.

À noite lá fomos para a operação que, como digo acima, não teve nada de especial a reportar.

E assim aconteceu a visita aérea que... não aconteceu!!!!

Durante uns tempos foi lenitivo para as agruras e desconforto da guerra e só por isso já foi muito bom!!!

Abraço do
Joaquim Mexia Alves
____________

Nota de L.G. ;

(1) Vd. post de 7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

(2) Tenente-coronel António Tiago, já falecido: vd. post de 17 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P966: O Mexia Alves que eu conheci em Bambadinca (António Duarte, CCAÇ 12, 1973)