Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27471: Fotogaleria do José António Sousa (1949-2025), ex-sold cond auto, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73): viagem de saudade em 2010 - Parte I: Regresso a Cabuca
quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Guiné 61/74 - P26395: (In)citações (260): Em louvor das nossas "tabancas" (ou tertúlias de antigos combatentes) (Angelino Santos Silva, escritor, natural de Paredes, ex-fur mil 'cmd', 26ª CCmds, Bula, Teixeira Pinto e Bissau, 1970/72)
Há gente, que estando um pouco afastada destes “Encontros”, estranha e se interroga, como o tema “Guerra” pode aproximar, direi, apaixonar tanta gente para, ano após ano conversarem alegremente de uma vida onde é suposto ter havido “sangue, suor e lágrimas”. E morte.
Talvez pelas condições específicas da luta na Guiné-Bissau, os camaradas Combatentes que estiveram nesta Província, ao longo dos anos foram criando grupos que designam por Tabanca. E todos se mantêm ligados, quer pelas redes sociais, quer pelos “Encontros Anuais “ e há mesmo quem se encontre todos os meses e semanas. Eu, que fiz a guerra na Guiné, percebo como é importante para nós.
Das várias Tabancas que conheço e/ou participo, no passado dia 8 estive a confraternizar na Tabanca – O Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné. Trata-se de um grupo simpático que há alguns anos se reúne religiosamente todos os meses. Como todos os grupos que conheço, este é também um grupo eclético pelo que nas conversas entre camaradas, além da vida da tropa, fala-se de outros temas, de A a Z, conforme o momento.
Boa comida nos serviram no restaurante. As “entradas” foram diversas e de boa qualidade e as tripas muito bem confecionadas e do agrado de todos. Desta vez a tertúlia teve a presença de algumas senhoras e cavalheiros da terra do Ferreira, gente simpática e alegre. Rosinha, dona do restaurante - porque coincidiu com o seu aniversário - prendou-nos com um belíssimo bolo e brindou-nos com alguns fados.
Da próxima que lá for, vou de barco até a eclusa da barragem, subo e vou a correr por lá acima até chegar à Rua da Marroca, local do restaurante da Rosinha.
Um abarço, saúde om ano para todos Combatentes e suas família.
Angelino dos Santos Silva
PS - Deixo-vos com os dois poemas :
SEXTANTE
Tracei a vida a régua e esquadro
como se fora uma quadricula
estudei ângulos, revi a deriva
e lancei as sortes no xadrez da vida
Nas contas usei a tabuada
mexi números, tracei a equação
somei pelos dedos da mão
dividi a sorte pela raiz quadrada
e fui à vida de bota fardada
Em águas turvas naveguei
por mar em tempos navegado
ao chão da selva cheguei
dormi sem cama, comi sem mesa
joguei às escondidas de arma na mão
e nesta complicada equação
pisei a linha e perdi o norte
Quis o sextante livrar-me da morte
voltei à vida sem trunfos na mão
lancei os dados em busca da sorte
ganhei ao xadrez, perdi ao gamão
nos cálculos imperfeitos da equação
Traz-me o sextante nesta aflição
realinho a quadricula a régua e esquadro
cálculo o risco, sou enganado
consulto as linhas da palma da mão
e aguardo as sortes da equação
E a vida se faz, fazendo
umas vezes parada, outras correndo
em matemáticas de contas incertas
umas vezes erradas, outras certas
e as contas desta equação
apenas se fecham nas tábuas de um caixão.
GERAÇÃO AFRICANA
Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos.
Percorremos o lado negro da vida
tropeçamos na face má da sorte
e andamos por trilhos e picadas da morte.
Talvez com sorte digo eu
muita sorte dizemos nós
quando em passos cuidados e tremidos
caminhamos sem rumo e sem norte
lutando para segurar a vida
matando para sacudir a morte.
Já lá fui e lutei
Já lá fomos e lutamos
Já lá sorrimos e penamos.
E abrimos a caixa de pandora
e antes de virmos embora
enfrentamos medos e emboscadas
carregamos sonhos e granadas
corremos perigo e aflição
bebemos água da bolanha
comemos colados ao chão
adormecemos de arma na mão
socorremos camaradas feridos
beijamos rostos estendidos
cerramos os punhos cantando
festejamos a vida chorando
deixamos os sonhos esquecidos
zangamo-nos com deus e o diabo
apertamos a raiva mordida na mão
e levamos a cabo heroica missão
deixamos áfrica
e regressamos a casa
mais leves de coração.
Já lá fui e voltei
Já lá fomos e voltamos
E pouco pedimos em troca.
Apenas… respeito e consideração.
Da vida e das mãos se faz uma nação.
Das lágrimas de um povo se faz História.
Da Geração Africana se fará Memória.
______________
Último poste da série > 25 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26311: (In)citações (259): A melhor prenda de Natal que vou ter é saber que vocês fazem parte desse exército de sonhos onde a meta é atingir a dignidade e o respeito pelos uns outros (Eduardo Estrela, Cacela Velha,. V. R. Sto António)
terça-feira, 5 de dezembro de 2023
Guiné 61/74 - P24921: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (20): 10 de Junho (Só para Patriotas)
1. Em mensagem do dia 30 de Novembro de 2023, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), reapareceu volvidos três anos, enviando-nos esta Boa memória da sua paz, intitulada "10 de Junho (Só para Patriotas)".BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 18
10 de Junho
(Só para Patriotas)
Há um grupo de ex-combatentes da Guerra do Ultramar que se vem reunindo mensalmente em alegres convívios, usufruindo de excelentes “provas” de gastronomia, enriquecidos com admiráveis programas de lazer e de cultura. Neles se cimentaram grandes laços de amizade, solidariedade e camaradagem.
Chama-se “O Bando do Café Progresso” e deve a sua formação a um pequeno grupo de jovens que frequentava assiduamente o “Café Progresso” (o mais antigo do Porto), especialmente no período anterior ao seu ingresso no serviço militar e sua consequente mobilização para a Guerra do Ultramar. Por coincidência passaram maioritariamente pelo mesmo percurso (Caldas, Mafra, Vendas Novas, Tavira, Santarém, Espinho e… Guiné).
Muito mais tarde, o Facebook promoveu a reaproximação de uns e a adesão de outros. Quem fomentou mais a afirmação do grupo foi o saudoso Jorge Portojo. Os membros do “Bando” tratam-se por tu, convivem como irmãos, sem distinção militar, social, clubística, profissional e académica. Cada um vai-se integrando ou afastando livremente, conforme a sua disposição para adaptação à camaradagem, amizade, solidariedade e tolerância. Graças a isso, e a mais de uma dúzia de anos de vivências regulares, temos um bom núcleo de base de grande confiança e amizade. Aqui, ninguém impõe nada, nem é obrigado a nada. Apenas tem de se sentir bem sem chatear ninguém.
Portugal não respeita o dia da sua Independência. Deve ser o único país do Mundo que não festeja o dia da sua independência!
Há quem diga que na “corte” da nossa Capital nunca foi nem será aceite que a fundação de Portugal tenha sido antes da conquista de Lisboa aos mouros.
Graças à grandeza do Camões (muito anterior ao Eusébio, Ronaldo, José Sócrates e Pinto da Costa), os portugueses vêm assinalando a data da sua morte como ponto alto da nossa portugalidade.
E chegou mais um 10 de Junho. Nada de novo: uma descentralizaçãozita das cerimónias para o interior do País e para junto das comunidades lusas de emigrantes no estrangeiro, garantindo assim a participação popular, mais pura e mais patriótica. Oportunidade única para se mostrar alguns adereços locais, mais políticos, mais medalhas discutíveis, mais fardas de vários tipos, incluindo algumas orientadas pela anquilosada/estatizada/Salazarenta Liga dos Combatentes. Mesmo assim, temos vindo a assistir a desfiles de figuras do poder, suas selfies e seus discursos vergonhosamente desenquadrados da importância solene que este Dia de Portugal exige.
Nós, “Bandalhos” do “Bando”, que sempre nos honramos da Pátria que defendemos, que além da Guerra, nos preocupámos e lutámos pela dignidade, honra e solidariedade dos nossos Camaradas, infelizmente pouco conseguimos e muito nos desacreditámos.
Prevalece, isso sim, o espírito “Bandalho”, que nos proporciona a boa ambiência, a amizade e a óptima camaradagem. E sempre manteremos o sentido patriótico com orgulho e muito respeito.
10 de Junho de 2023
Sem políticos, sem fardas, sem desfiles e sem medalhas, o “Bando” poisou, mais uma vez (a 10.ª), na lindíssima povoação de Crestuma,
Concentrados no Miradouro deslumbrante do Largo da Igreja, pelas 12h00 fizemos a Romagem ao Cemitério onde foi depositado um lindo ramo de flores. O Romualdo Silva complementou a Homenagem aos ex-Combatentes locais, enaltecendo a sua prestação militar, espirito de sacrifício e dever patriótico, na defesa do seu País e da sua comunidade.
Seguimos para as instalações do Clube Náutico de Crestuma, onde tivemos a oportunidade de conhecer um dos principais clubes da Canoagem Portuguesa.
Na montra de Troféus do C. N. Crestuma, deparamos com o Troféu Olímpico, que é atribuido ao clube desportivo de maior destaque no período dos 4 anos de Ciclo Olímpico
Como Fundador e Primeiro Presidente (e Honorário) desta Colectividade, “deixaram-me” fazer o papel de Guia. O Clube (propriamente dito) estava ausente, a participar em Provas de Canoagem na Catalunha.
Subimos para a Esplanada, onde prosseguiu o nosso 10 de Junho “à nossa maneira”.
Ali, quase debruçados sobre as águas do Rio Douro, envolvidos numa belíssima paisagem e acarinhados pelo aconchego das nossas queridas, resolvemos homenagear (finalmente!) as nossas Madrinhas de Guerra
Ainda entretidos a “decidir opções” perante a excelente mostra das entradas, o Ricardo Figueiredo já aproveitava para citar Camões, a referência ao dia e o expoente máximo da nossa cultura.
“Eternos moradores do Luzente
Estelífero polo e claro acento,
Se do grande valor da forte gente
De Luso não perdeis o pensamento”
E referiu:
“…Ao longo da nossa história, muitos foram os exemplos de dedicação, altruísmo e coragem de militares que, em cumprimento do dever, sublimaram as suas capacidades ao serviço de Portugal. Foram heróis que connosco partilharam o quotidiano das suas vidas. Afinal, homens simples, capazes de feitos extraordinários.
Ao percorrermos a nossa memória, lembramo-nos dos cerca de 10.000 portugueses mortos e de mais de 54.000 feridos em combate e aí revemos os nomes de familiares e amigos.
E recordamos também aqueles que, ao longo de 9 séculos, deram a vida por Portugal.
Fomos Combatentes!
Somos ex-Combatentes!
Fomos soldados de excepção. Fizemos da distância e da saudade um desafio a vencer, aceitámos a falta de recursos como razão para a iniciativa e para a adaptabilidade fizemos da juventude o tempero da camaradagem.
E é desta lembrança de uma camaradagem fortalecida em tempos difíceis de guerra que resultam os nossos sentimentos de saudade.
Lembramos os nossos camaradas que sobreviveram e os que recentemente da lei da morte se passaram para outra dimensão.
Lembramos:
Jorge Portojo,
Carlos Peixoto,
Armando Santos,
Barreto Pires,
José Valente,
António Piteira,
Francisco Alen
Henrique Azevedo
Carneiro de Miranda
Manuel Maia
…”
Após o minuto de silêncio, procedeu-se à distribuição dos Diplomas de Homenagem às Madrinhas de Guerra, entregues pelos seus próprios afilhados. A nossa geração não esquece.
E a pedido, o Ricardo também leu:
Ex.mas Madrinhas de Guerra
Camaradas Combatentes
Desde miúdos, que nos habituámos a respeitar o 10 de Junho, como Dia de Camões, Dia da Raça. Dia de Portugal.
Era neste dia que se enalteciam os maiores feitos dos Portugueses!
Dia consagrado aos nossos heróis!
Vimos jovens, robustos, firmes, inteiros ou estropiados, garbosamente fardados.
Vimos pais, mães e filhos, vestidos de negro.
Vivos ou mortos, os nossos valorosos Combatentes estavam ali, orgulhosamente, para Honra e Glória da nossa Pátria.
Eram respeitados como a expressão máxima do nosso heroísmo.
Os tempos foram mudando, os combatentes foram esquecidos e as Cruzes de Guerra foram substituídas por grandes e abundantes Comendas.
Agora, os heróis são outros. São experts da política, da economia, da vigarice, do marketing e do chico-espertismo.
Curiosa e vergonhosa a situação reinante.
É que muitos deles (nós também), aguardam da verdadeira Justiça, a desejada e demorada condenação!
Volvido meio século da nossa história, nós, a geração que tudo sofreu,
A geração que em tudo acreditou,
A geração que sempre trabalhou,
Sente-se agora algo envergonhada pela situação a que chegamos.
Sem força, física e anímica, resta-nos a razão moral que nos alimenta vida fora.
Muito fizemos!
Mas muito deixamos por fazer!
É por isso, que, volvido tanto tempo, ainda vivemos preocupados com desejados acertos da nossa História.
Hoje, mais uma vez, lembramos o 10 de Junho, através de uma singela Homenagem.
A Homenagem às nossas Madrinhas de Guerra.
Sem elas, a guerra teria sido outra.
Sem elas, não teríamos vivido a Paz e o Amor.
Sem elas, não valeria a pena viver!
Obrigado Madrinhas de Guerra!
Obrigado Madrinhas no Amor!
Vós sois a razão da nossa existência.
VIVAM ÀS NOSSAS MADRINHAS !!!
VIVA PORTUGAL !!!
Uma inédita e muito singela Homenagem que provocou momentos de grande emoção e ainda de …muito amor.
Foram Homenageadas as seguintes Madrinhas de “Bandalhos”:
Gilda Ferreira - de - José Ferreira
Virgínia Teixeira - de - Jorge Teixeira
Carminda Cancela - de - Jose Manuel Cancela
Margarida Peixoto - de - Joaquim Peixoto
Cândida Rainha - de - Ricardo Figueiredo
Almerinda Freire - de - José Freire
Constantina Silva - de - Fernando Silva
Rosário Guimarães - de - Manuel Cibrão Guimarães
Amélia Fonseca - de - Luis Bateira
Maria Inês Sá - de - Manuel David Sá
Isabel Encarnação - de - João Encarnação
Emília Silva - de - Romualdo Silva
Maria Anjos Ramalho - de - Alberto Moura
Júlia Gomes - de - Isolino Gomes
Eulália Oliveira - de - António Pimentel
Maria de Fátima Carvalho - de - Antonio Carvalho
Umbelina Carneiro - de - Joaquim Carneiro
Constança Lopes - de - António Moreira
Fátima Sousa - de - José António Sousa
Maria José Costa - de - José Sousa
Conceição Claro - de - Damião Carneiro
Fátima Anjos - de - Francisco Baptista
Ana Maria Marques - de - António Duque Marques
Quina Carmelita - de - Manuel Carmelita
Assunção Paupério - de - Rogério Paupério
Constança Maria - de - António Gonçalves
Manuela Campos - de - Eduardo Campos
Fernanda Soares - de - Alberto Godinho
Luísa Lopes - de - José Manuel Lopes
Tudo bem regado com bebidas escuras, brancas e outras e bem-humorado, com destaque para a animação da dupla “Ricardo e Carneiro” e para o grupinho das “Tecedeiras de Crestuma”
“Estes guerreiros são bons
C´o copito no punho
Clamam em vários tons
Pureza no 10 de Junho”
Silva Da Cart 1689
José Ferreira da Silva
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21260: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (19): O Sousa da Ponte… de Pedra
quinta-feira, 30 de novembro de 2023
Guiné 61/74 - P24898: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): Pequeno glossário do português... à moda do Porto
Porto > 2016 > Zona Histórica do Porto > "Pormenor do Morro de Penaventosa visto do miradouro da Vitória. Casario, Sé Catedral, Paço Episcopal e Igreja de S. Lourenço, mais conhecida como Igreja dos Grilos"...
Andar à gosma – Viver à custa dos outros, andar na moinice
Apanhador – Pá para o lixo
Besuntas – Mulher muito gorda
Bisga – Escarro
Bitaites – Palpites, dicas, bocas
Cabeça de giz – Polícia sinaleiro (figura cada vez mais rara)
Cachaço – Bofetada no pescoço
Canalha – Criançada
Carago – Caraças; forma eufemística de dizer c...alho (o falo, o orgão sexual masculino; do esanhol, "carago")
Chaço – Carro velho, também "chocolateira"
Dar corda aos sapatos – Deitar a fugir
Dar de frosques – Fugir
Encher a mula – Comer muito
Enchousadela – Bater, tareia
Engrupir – Enganar
Estar de beiços – Estar amuado
Estar de gesso – Diz-se de alguém que não trabalha
Estar com os bitorinos encharcados – Estar bêbado
Esticar o pernil – Morrer
Estrugido – Sarilho, encrenca ("Meter-se num estrugido"). mas também ligação amorosa ("Ter um estrugido")
Faneca – Gaja boa, bonita
Fino Imperial (cerveja)
Flauta – Pénis
Gabardina –Preservativo (masculino)
Guna – Ranhoso; rapaz ou rapariga de origem social baixa, de "bairro camarário" que usa roupas de marca, por vezes brincos e boné de pala virado ao contrário
Ir de saco – Ser preso
Ir medir caixotes – Morrer
Laurear / laurear a pev(b)ide – Passear, pavonear-se
Labagice – Porcaria, mistura de comida
Lázaro – Idoso, asilado
Lontra – Pessoa obesa, gorda, que come muito
Mais v (b)ale uma rua do Porto que a Gaia toda (lê-se: "cagai-a toda")
Mandar uma traulitada – Dar um murro
Mânfio – Sabidola, astuto
Manguela – Malandro, indivíduo preguiçoso
Martelar – Fazer sexo
Matrona – Mulher desmazelada
Moina – Polícia
Molete – Pão, carcaça
Mor – Termo utilizado pelas vendedeiras, abreviatura de «amor»
Morcão – Estúpido, lorpa
Negócio das carnes – Prostituição
Ouras (Ter) – Ficar atordoado, enjoado
Paiba – Cigarro de substância ilegal
Paleógrafo – Conversa fiada ( “Gajo cheio de paleógrafo”)
Pandeireta – Mulher velha
Passar a ferro – Possuir sexualmente; atropelar
Pastelão – Omeleta; patanisca; pessoa muito lenta
Pastor – Palerma
Play-mobil – Polícia; agente da autoridade
Quilhar – Usado como em “vai-te lixar”
Rópia – Vaidade
Sameira – Carica, sama,
Selo – Mancha, sujidade nas cuecas
Sêmea – Rabo de mulher
Sertã – Frigideiram da cabeça
Sostra – Pessoa preguiçosa
Tecla Três – Anormal, deficiente (por analogia da tecla 3 dos telemóveis)
Toura – Mulher jeitosa
Trengo – Atrasado, apalermado
V(b)ai-te, Afonso – Vai-te quilhar, lixar, f...der
V(b)agem – Feijão verde
V(b)ergar a mola – Trabalhar
Zaruca – O mesmo que sofrer da cuca
Fontes (além dos dicionários de português e da Net):
- Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2023. Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
- Brito, João Carlos - Dicionário de Calão do Porto. Editora Lugar da Palavra, 2016 (Tem mais de 4 mil verbetes ou entradas)
- Pacheco, Hélder - Porto: outra cidade. Porto: Campo das Letars, 1997.
- Praça, Afonso - Novo Dicionário de Calão", 2ª ed. rev. Lisboa, Editorial Notícias, 2001.
- Simões, Guilherme Augusto - Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985.
Nota do editor:
quinta-feira, 19 de maio de 2022
Guiné 61/74 - P23276: Convívios (927): A Magnífica Tabanca da Linha reabre hoje, em Algés, no Restaurante Caravela de Ouro, ao fim de mais de dois anos de pandemia... Uma luzidia representação do Porto, de "O Bando" (incluindo 3 escritores), vem animar este 48º convívio, já histórico...
Uma foto de família, já antiga, do "Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné", tirada por ocasião dos seus 10 anos de existência... Legenda: "Em 10/11/2017, o Bando em Mogadouro, a caminho de Vila For".
Na altura ainda eram vivos o Jorge Teixeira (Portojo) (o quinto da fila de trás, a contar da direita, se não erro), e o Joaquim Peixoto (o terceiro da primeira fila, a contar da direita).
Mas, já agora, aqui ficam os seus nomes, da esquerda para a direita: 1ª fila: João, Jorge Teixeira, António Tavares, Zé Manel Cancela, Xina, Valdemar, José Ferreira (o que único que usa chapéu... preto), Cibrão, Joaquim Peixoto, António Carvalho e Fernando Súcio; 2ª fila: Jorge Lobo, um elemento não identificado (por detrás do Cancela), Ricardo Figueiredo, Alberto, Eduardo Campos, Freire, Manuel, e António Pimentel...
Grande parte deles são também membros da Tabanca Grande, mas faltam aqui nomes como o Eduardo Moutinho. Não sabemos quem tirou a foto
Foto: página do Facebook do Bando (2017), com a devida vénia
1. Ao fim destes dois anos e tal de pandemia de Covid-19 que obrigaram a fechar as nossas Tabancas e a impedir os nossos convívios regulares, a Magnífica Tabanca da Linha, com sede em Algés, Oeiras, abre as portas de par em par (, do "reservado" do Restaurante Caravela d' Ouro) (*) para receber cerca de 9 dezenas de convivas, os "magníficos" do costume, os "meninos da Linha", mais uma luzidia representação do Porto, a mais famosa tertúlía literária, memorialística, cultural, recreativa, gastronómica, almocarística, jantarística e escursionista resgistada originalmente sob o nome Bando do Café Progresso, das Caldas à Guiné e, mais familiarmente conhecida nas redes sociais como os "Bandalhos", agora sem pouso certo (deixaram o Café Progresso e voltaram à vida nómada). O Bando, apesar de tudo, tem um chefe que é o Bandalho-Mor, Jorge Teixeira.
Eis a lista dos "Bandalhos" que ainda vinham há um bocado no comboio da manhã que há de chegar a Santa Apolónia, e que o António Carvalho me confirmou pelo telemóvel. Diga-se, de passagem, que não é uma simples representação dos "Bandalhos", é uma verdadeira "deputação":
- António Carvalho (escritor)
- Eduardo Campos
- Eduardo Moutinho Santos (régulo também da Tabanca de Matosinhos)
- Fernando Súcio
- Francisco Baptista (escritor)
- Jorge Teixeira (Bandalho-mor)
- José António Sousa
- José Ferreira da Silva (escritor)
- José Manuel Cancela
- José Sousa
- Ricardo Figueiredo
Estão 3 limusines em Santa Apolónia à espera dos "Bandalhos" para os levar até magnífica mesa da Tabanca da Linha. É tudo gente que vem por bem, apesar do seu indisfarçável (e às vezes truculento) "humor tripeiro": além de 3 escritores, já consagrados, o grupo incluiu dois juristas, cujos préstimos estão sempre disponíveis para as pequenas e grandes ocasiões, o Eduardo Moutinho Santos e o Ricardo Figueiredo.
Só soube há dias do evento, ao falar ao telefone com o meu vizinho Humberto Reis e depois ontem com o António Carvalho, o Manuel Resende (régulo da Magnífica Tabanca da Linha), o Jorge Ferreira e o Manuel Gonçalves (que vai lá estar com a sua companheira e a minha querida amiga Tucha, e uma neta), e ainda pelo anúncio que o Francisco Baptista aqui fez no blogue:Tal como eu dois outros camaradas (António Carvalho e José Ferreira da Silva) levaremos livros , eu já li os três e gostei muito, experiências diferentes, estilos diferentes, mas todos interessantes." (...).
(...) Tudo começou porque em 10/11 de Abril de 1967, um grupo de ex-camaradas do Porto se encontrou nas Caldas da Rainha no RI5. Seguiram a 24 de Junho para a EPA, em Vendas Novas de onde debandaram a 12 de Setembro.
Quase todos se reencontraram em Paramos/Espinho a 25 de Setembro. Laços de amizade foram-se cimentando. A partir de Fevereiro/Março de 1968 debandaram de novo: Lamego, Gaia, Tomar, Santa Margarida, Torres Novas foram alguns dos destinos.
Até que chegou a Guiné e muitos outros destinos nos separaram. Regressados todos entre Maio e Junho de 1970, alguns de nós víamo-nos por aí, até que o tenaz Fernando Jorge Teixeira, mais conhecido por Presidente JTeix.45, conseguiu ir reunindo um pequeno grupo, que hoje só faz desgraças por onde passa. O Bando não é enorme, mas tem correspondentes e muitos amigos e ex-camaradas com percursos idênticos.
___________
Notas do editor:
sábado, 23 de maio de 2020
Guiné 61/74 - P21002: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (11): O Bando festejou mais um ano
1. Em mensagem do dia 27 de Abril de 2020, o nosso
camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART
1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá,
1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada ainda ao confinamento.“Num te mexas beilho, não.
Nem gozes a bida, não.
Bais ber o que perdeste,
Ou a merda que fizeste.
Já foste, ó meu Morcão!”
(autor desconhecido)
No final de cada ano, cada individuo devia fazer uma retrospectiva e destacar quais os melhores dias que passou. Pelo que tenho observado, poucas são as pessoas que ultrapassam o registo do número dos dedos de uma mão.
Felizmente que nem eu nem os meus principais amigos pertencemos a essa multidão de morcões que espera pacientemente pela sua “boa horinha do Senhor”.
Ora aqui está uma boa razão para manifestar a minha satisfação por ter vivido mais um ano de alegrias e de bons convívios. Dentre eles, terei que destacar as oportunidades bem vividas junto do nosso Bando.
Com o Bando, saboreamos boa camaradagem, boa amizade e a boa gastronomia, cultivamos os conhecimentos e promovemos o bom-viver.
Visitámos os lugares mais lindos, os mais históricos e os mais sagrados. Apreendemos o nosso Património, revivemos as nossas raízes e recordamos as nossas tradições.
Com o Bando, tanto olhámos deslumbrados o nosso Douro (Vila Real, Régua, Mogadouro, Pocinho, etc.) como convivemos nas fraldas do Barroso, nas encostas do Alvão e do Marão, nas vinhas de Penafiel e da Sr.ª da Graça, nas escarpas da Senhora do Salto e da Serra do Pilar, nas praias do Litoral, nos jardins do Bom Jesus de Braga, de Aveiro, de Ponte de Lima ou no “presépio” de Crestuma.
Com o Bando, fomos ao Museu do Douro, Museu dos Clérigos, Museu Militar, Museu do Gramido, Museu Vivo dos Combatentes, Museu do FCP, Parque Biológico, Jardim Botânico, Museu do Infante, Museus de Vila do Conde, Museu das Conservas da Murtosa, Museu do Montesinho, Museu dos Pescadores de Espinho, Museu Souza Cardoso de Amarante, a Nau Quinhentista, o Isqueiro da Maia, etc., etc..
Com o Bando, relembrando os nossos camaradas, fomos ainda ao RAP 2, ao GACA 3, ao Dia do Combatente de Gondomar, ao 10 de Junho de Crestuma e ao 25 de Abril na Régua.
Com o Bando, percorremos os lugares mais típicos e mais simbólicos da nossa mui digna Cidade Invicta (o Porto, pois claro!), Património da Humanidade. Aqui, cabe referir que beneficiámos da companhia do Bandalho Jorge Portojo, mais que “Doutor” a falar sobre a História Tripeira. Ribeira, Banharia, Sé, S.Bento, Fontaínhas, Batalha, Aliados, Bolhão, Campo 24 de Agosto, Antas, Areosa, Carvalhido, Boavista, Campo Alegre, Palácio, Caldeireiros, Massarelos, Foz, Alfândega, Infante, etc., etc., são pontos de referência permanente e cheiinhos de Histórias. E, no que toca a nomes, ele discorria facilmente sobre as personagens mais sonantes do burgo portuense e arredores. Dava gosto ouvi-lo quando lembrava as origens do Porto e de Portugal, os seus donos na Idade Média, o Infante D. Henrique, a fauna fluvial do Rio Douro, a Ferreirinha, as guerras, as revoluções, os Bispos, o Camilo, o Eça, o Alexandre Herculano etc., etc..
E, por fim, em jeito de Almoço de Natal, já fomos contemplar o Porto, através da panorâmica disponível no Restaurante 17.º, do Hotel D. Henrique, fomos à Taberna do Rústico e à Quinta do Costa.
Também com o Bando, saboreámos os melhores petiscos da região nortenha. Seria injusto se não lembrasse:
- O Cozido Transmontano do Pires
- Os petiscos do Regula e do Ramirinho
- O Sável do Vigário de Atães
- Os Rojões do Pinto da Rua dos Polacos
- As Tripas da Rosinha da Marroca
- A Cabra Velha do Súcio
- A Paella do Ricardo de Recarei
- O Leitão da Casa do Casalinho
- O Bacalhau à Liberdade da Churrasqueira das Antas
- Bacalhau com todos no Carpa
- A Carne Estufada de Penafiel
- Chanfana no Pote Velho
- O Magusto da Campeã
- O Risoto do D. Henrique
- Lampreia de Rio de Moinhos
- Arroz de Sarrabulho de Ponte de Lima
- Feijoada da Luísa
- Bacalhau assado no Monte São Felix
- Assado do Big Beef
- Caldeirada na Casa das Enguias (Torreira)
- Posta no Lareira do Mogadouro
- Cabrito no Zeca Diabo de Brunhoso
- Sardinhas no Milho Rei de Matosinhos
- Vitela no Merendola da Maia
- Espetada no Mar à Vista da Madalena
- Lulas com Gambas em Espinho
- A Francesinha na Marisqueira do Porto
- O Polvo no Madureiras
- Caras de Bacalhau no S. Nicolau
- Cabrito refogado na Taberna do Rústico
- Self Service no Choupal dos Melros
Claro que tudo isto só se consegue graças a um excepcional núcleo de amigos ex-Combatentes que, por coincidência, já reuniam no Café Progresso antes de irem para a tropa, para Vendas Novas e, depois, para a Guiné. A eles se juntaram outros habilitados camaradas que, perante boas provas dadas, foram sendo agradavelmente admitidos. Agora, que o Progresso fechou, vão mais ao Piolho, Adega de Chaves, Badalhoca, Calhambeque, Guedes, etc. E chamam-lhe Reuniões de Trabalho.
Sentimos muito a falta dos que já partiram, especialmente a do Fundador do Bando, o Jorge Portojo e a do Bom Professor, o Carlos Peixoto.
Porém, a sua lembrança dá-nos mais força para cada vez mais nos agarrarmos à vida que nos resta.
E porque essa vida está indissociavelmente ligada às “combatentes” que nos têm acompanhado desde a maldita guerra que nos marcou, chegou a hora de lhes darmos maior atenção e maior abertura nos convívios que participamos. Afinal, elas são valentes e sabem mais da guerra que muitos condecorados da nossa Pátria.
Não vamos parar, ó meu!
Nem vamos esmorecer.
Para irmos par’o Céu,
Falta muito que fazer
Se o Covid nos levar
Sem honras, sem orações,
Nunca nos vai apagar
Das boas recordações.
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Nota do editor
Último poste da série de 16 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20980: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (10): Feliz em África (em jeito de biografia)
sábado, 18 de abril de 2020
Guiné 61/74 - P20868: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (7): Op. Confinamento, retrato do estado psicológico dos Bandalhos
1. Em mensagem do dia 9 de Abril de 2020, o nosso
camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART
1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá,
1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada à senhora
sua Mãe, uma centenária que parece ter vencido o terrível Coronavírus.Todos nós, incluindo, talvez, as nossas autoridades sanitárias, estávamos convencidos de que este novo “coronavírus” não chegaria a Portugal. Quem acreditava que esta “peste chinesa” se viesse a deslocar até cá?
Com muito respeito pelos “chinocas”, os tais que estão, pacificamente, a tomar o Mundo, só quando “il nostri fratelli italiani” foram invadidos, é que acreditámos que aquilo se poderia alargar até aqui.
Todavia, essa fatalidade era atribuída mais ao descuido dos italianos do que à sua imparável evolução. E fomos acreditando que ela não nos apoquentaria. Porém, a sua implantação foi-se alargando pela Europa e pelo Mundo.
Enquanto isto acontecia, nós, os do “Bando”, mantínhamos os nossos contactos, as rotinas e as nossas brincadeiras.
De repente, a coisa agravou-se aqui mesmo ao lado, em Espanha, e começou a invadir-nos sorrateiramente.
Foi já em plena pandemia da Covid -19 que, no final de mais um excelente convívio – Op. Sarrabulho - que o nosso Presidente assumiu, com mais rigor, a devida orientação comportamental do nosso “Bando”.
E foi na taverna do S. Tomé que, quando se apercebeu que o presunto havia sido devorado sofregamente, como causa evidente do acumulado stress e ansiedade, deu um murro na mesa e decretou:
- Vamos entrar todos de quarentena!
Desde então, são casos e casos de inadaptação caseira; de trabalhos, abusos e conflitos; de manifesta falta de calma e evidente ausência de jeito. Se, fora de portas, não valíamos grande coisa, agora, internados, mostramos que não valemos um chouriço (para não dizer: um caralho).
Mas, por outro lado, temos de louvar o esforço de alguns e, acima de tudo, enaltecer as nossas mulheres (as legítimas, claro!) que, decepcionadas com a possibilidade de segunda lua-de-mel, vêm heroicamente resistindo a tudo de mau e do pior que um velho lhes possa dar.
Para fazermos uma ideia da situação actual dos nossos “Bandalhos”, aprisionados nos seus lares, vamos referir os abandalhados casos, cujos verdadeiros nomes, como é óbvio, não vamos poder apontar (porque apontar é… feio).
- Mal chegou o primeiro fim-de-semana, uma série de “Bandalhos” procurou saber se o Zé dos Fados continuava nessa vida de pataniscas e binho berde. É que ele deixou a malta muito apreensiva devido ao seu contacto durante a Op. Sarrabulho. Só aliviámos a ansiedade depois de decorridos os tais 14 dias.
- Ao fim de 5 dias de confinamento, já havia chamadas telefónicas entre mulheres amigas que desesperavam com o comportamento de seus maridos, mais agarrados ao álcool e isolamento do que aos seus deveres do amor e do acasalamento. Um deles foi recuperado pelo INEM, de garrafão na mão, já sobre a Ponte da Régua e outro a dormir, quase em coma, num tasco perto das Termas de S. Vicente. Este justifica-se porque, como de costume, andava aos cabritos; o outro já não diz coisa com coisa (Será excesso de inspiração poética?).
- Outro, querendo mostrar as suas capacidades de eterna juventude, encheu um saco de produtos de fumeiro e uma “bag-in-box” de 20 litros de vinho barato, agarrou no gato e fugiu para a parte alta do concelho de Gondomar.
Subiu a uma árvore e lá se instalou. De tempos a tempos, dá gritos a imitar o Tarzan. É fácil localizá-lo, porque ele assumiu que agora vive nos 1.ºs Galhos da 3.ª Árvore da Rua dos Loureiros, em Medas.
- Outro Bandalho, dali dos lados do S. Domingos da Serra (já perto da China), agarrado ao instrumento, não faz outra coisa. A mulher é que já não o aguenta. Ele, muito criativo, inventa posições, mexe com as mãos, trabalha com os dedos e murmura alguns sons, mas… pouco consegue.
- O Rapaz da Foz, está tão obcecado por ver o mar a bater no farol, que não sai do muro da Foz, nem por nada. Já não usa telemóvel, não ouve ninguém, nem a mulher a chamá-lo para ir comer. Vive perto de outro “Bandalho”, o “Sorridente”, que não larga a neta, nem para a mãe lhe dar de mamar. Nos intervalos, vai ter com o primo, para emborcar digestivos, num dos bares clandestinos.
- O Senhor de Rio Tinto, também se isolou. Não comenta no facebook e não vem à janela, porque tem vergonha do bigode, já mal-amanhado. É que anda desesperado porque o barbeiro fechou e ele, que andava sempre aparadinho, tornou-se num “Bandalho” de aspecto reles.
- O Mesquita também está sem contactos. É pena, porque ouvi-lo defender a pureza das cores Azul e Branco é uma maravilha. Esperemos que não se tenha zangado com as insinuações infames lançadas pelo tresmalhado duriense, na Op Lampreia.
- O Frade, tão reservado nos seus comentários, desapareceu da malta. Há quem diga que saiu de casa e anda focado na procura de um gajo, seu conhecido, a quem demos um chapéu do Bando em troca de um porco (que ainda não entregou).
- Chocante é o caso do Bandalho que já não pode ir para Cinfães tratar das coisas do campo, e que ficou preso nas encostas de Coimbrões. Não se cansa de mandar fotos para o facebook, dizendo para onde está a olhar e o que está a fazer. Passa a vida a contar os comboios que passam. Dizem que, da janela, armado em Chefe de Estação, faz sinais com uma bandeira, sempre que um comboio passa. A mulher, coitada, de manhã cedo, leva-o, com o cão, ao relvado da rotunda do Morango, para fazerem exercício e aliviarem… as tripas.
Também já mostrou que está a pão e água. E que, mesmo assim, faz petiscos.
- O Isolino está cada vez mais isolado. Quer entregar a pasta de Presidente da Casa dos Lampiões, e ninguém aceita. Dizem que foi apanhado pela Polícia, na zona de Campanhã, a bater de porta em porta nas casas de Super Dragões a fim de lhes entregar a referida casa abandonada.
- Do Súcio ninguém sabe nada. Faz tudo em segredo. Tanto pode estar na Terra Santa a ver o que fazem ao Cristo, como na Praia Copacabana a apreciar o bamboleio das bundas gostozonas. Para mim, ele deve estar retirado em Amazonas, para onde se tem direccionado muito ultimamente. Esperemos que se cuide das perigosas coronas e das covids traiçoeiras.
- De referir também, que o nosso Presidente tem passado um mau bocado. A mulher, que sempre teve por casa alguns cães em trânsito para o abrigo da sua Associação Protectora da Póvoa de Varzim, está inactiva e acusa stress pela ausência do barulho dos habituais inquilinos. Pediu-me para eu arranjar umas cassetes de cães a ladrar, para a ajudar a acalmar e a adormecer.
Por outro lado, ele não suporta a fome (está a engordar que é uma coisa abismal). Foge de casa, procura tascos e confeitarias que ainda estejam abertos. Há dias, caiu de cama, cansado, porque tinha ido lá para junto do Quartel do Carmo, pensando que as “pastelinhas de Chaves” estavam disponíveis (abertas). Não as encontrou abertas e, desfalecido, levaram-no para casa numa carrinha de apoio aos “sem-abrigo” da zona dos Clérigos.
- O Valdemar de Paredes, que andava sempre fora, foi enjaulado num Lar. Saturado com aquele ambiente de velhotas, fugiu para casa, prometendo que passaria a acatar todas as ordens familiares.
- Quem está, também, a atravessar um mau bocado é o Mano Velho. Passados os primeiros 15 dias, já com a arca em baixo e os talhos fechados, virou-se para as “nhecas”, coelhos e gatos, que anda a tentar apanhar. Dizem que está a emagrecer mais de quilo e meio por dia. Se a DGS não mandar abrir os talhos, vai ter problemas sérios com os vizinhos, caso tenha sucesso na “apanha”.
- O João Caladinho, agora que está fechado, tornou-se numa rela insuportável. Dizem os de Massarelos que vêem, lá no alto de Gaia, uma senhora loira a fazer sinais de fumos escuros, perigosamente perceptíveis por Índios da Ribeira, Vagabundos da Foz e Pistoleiros da Afurada.
- No Zoológico da Maia, já foram vistos “Bandalhos” em fuga. Não sabemos se estarão a fugir dos humanos. O certo é que um deles foi apanhado no terraço do Isqueiro, de malas aviadas, à espera de algum Ovni. Há quem diga que isso se deve mais a uma questão de desafecto com um afim familiar.
- Lamentável foi saber que o Arturinho do Bonjardim, famoso pela sua perspicácia no “negócio das carnes”, apanhou um enxerto de porrada ao tentar levar donzelas ao domicílio.
- Ao “Bandalho” de Crestuma, muito habituado a sair ao encontro dos primos, foi-lhe escondida a chave do carro e, quando queria fugir de bicicleta, tiraram-lhe as rodas. Agora, só lhe resta comer e dormir, olhar o desleixado quintal ou sentar-se a escrever umas merdas. Sem barbeiro, mais parece um animal.
- Salve-se o caso do Zé Ricardo, que se instalou na sua mansão de férias. Anda ocupado a recriar o seu passado ligado a Cabuca. Ele reactivou a Rádio “Nô Tera”, de onde tem transmitido poesia, palestras culturais e, até, a tal missa em crioulo.
Todavia, nem tudo lhe tem corrido pelo melhor. Tem sido incansável a mostrar à enclausurada namorada as suas habilidades gastronómicas. Algumas foram transmitidas em directo nas redes sociais e hoje, já constam na “Play List” dos vídeos sobre essa matéria.
Claro que ninguém come o que ele cozinha. Nem os cães. Um deles, o famoso Orelhas, comeu, tentando agradar ao patrão, mas a diarreia que apanhou foi tal que o obrigou a uma desinfestação monumental da suite dos cães.
Este é o tal Orelhas que goza de privilégios irritantes. Desta vez, gritou comigo, escaqueirou-me o chapéu e peidou-se descaradamente à nossa frente.
- O Chico do Mogadouro, apanhado pelo Estado de Emergência, teve que ficar em Brunhoso. Está hospedado em rigoroso isolamento sanitário, na casa do Zeca Diabo. Só lá entram os habitantes de Brunhoso e os emigrantes que vão chegando. Pensa-se que esta aldeia ficou vacinada com o desmesurado consumo de vinho caseiro de alta graduação (16/17 Graus) e com a bosta do gado acumulada nas ruas ao longo dos séculos, como pavimentação. Confiamos que com essa tal imunidade local, mais as mesinhas e dietas dessa unidade hoteleira, ele venha de lá carregadinho de energia para nos motivar, que a gente bem precisa.
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Vamos acreditar que tudo correrá pelo melhor. Perante os primeiros resultados, confirma-se que os ex-Combatentes, acusados de “peste grisalha”, se estão a defender bem do coronavírus. Será das vacinas de cavalo que tomaram?
José Ferreira
(Silva da CART 1689)
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20839: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (6): Bó Coelha, uma força da natureza, com 100 anos, está a resisitir ao Coronavírus










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